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Ilustração: Rubem Grilo

4 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


TRABALHO:
SENTIDO DA VIDA!
Pedro Demo*

Abstract
This article discusses the importance of work in people’s lives, assuming there is no end
to this controversy. Contrary to presumptions, work is not a receding social category. In
the framework of a knowledge-intensive society (relative surplus value), beyond the old
society in which physical labor prevailed (absolute surplus value), it would seem that pe-
ople work less, increasingly less. This is true only in a certain sense – for high-level work.
For the vast majority, work is an inescapable desideratum; in such a way that the more
time available, the more work is done – and generally only to survive. Work is not the
meaning of life, but it is an integral part of it. Hence, it is still key to take into account
that a life of alienation, such as Marx would put it, is a life of alienated labor.
Keywords: Work; Labor; Immaterial Work; Knowledge; Value; Concept; Self-realization;
Political Theory.

Coloquei um ponto de exclamação como única atividade que produz condição – de dirimir a polêmica. Meu
no título para indicar que se trata de valor, naquele sentido próprio da intento é apenas repor a discussão
uma hipótese polêmica de trabalho, metade do século XIX (Negri/Hardt, com outro contexto, tendo como
não de pretensa certeza. Não 2004)3. O trabalho produtivo é um um dos objetivos fundamentais a
recupero aqui a “ética do trabalho”, tipo de trabalho, ademais de não ser valorização do trabalho na vida
de sentido nórdico, como imaginava correto identificar trabalho produtivo humana (Antunes, 2000; 2005)4. Ao
Weber (2004)1, por exemplo, mas com trabalho capitalista. Quando contrário do que se propala, numa
retomo a noção original marxista do o ser humano descansa, pensa, se visão eurocêntrica desabrida, trabalho
trabalho como categoria fundante da diverte, também trabalha... Aquela não vai desaparecendo na vida das
sociedade, no sentido de que poderia célebre metáfora da abelha que pessoas hoje, por mais que ciência
ser, pelo menos até certo ponto, a trabalha incansavelmente, mas sem e tecnologia permitam reduzir horas
categoria que mais poderia unificar previsão e planejamento, comparada de trabalho produtivo mercantilizado,
a sociedade em torno de objetivos ao trabalho humano consciente, não só porque, saindo do local de
comuns (Gorz, 2005)2. As razões sinaliza horizontes pertinentes de trabalho, continuamos trabalhando,
marxistas precisam ser revistas, até análise, mas seria esdrúxulo assumir muitos de modo forçado sob o peso
porque o trabalho não pode ser visto que trabalho é apenas atividade do assim dito trabalho precário,
consciente, planejada, organizada. como também porque, se respirar
As oito horas de sono por dia são também é trabalhar, quando cessa esta
trabalho, o trabalho que o corpo, de habilidade, cessamos! Ainda assim,
* PhD em Sociologia pela Universidade de
Saarbrücken, Alemanha, 1967-1971, e pós- modo inconsciente ou subconsciente, não se quer consagrar o trabalho
doutor pela University of California at Los realiza para manter-se. Talvez a como tudo na vida, porque vida é
Angeles (UCLA), 1999 - 2000. Prof. Titular da noção de “valor” pudesse ser refeita: muito mais. Quando uma categoria
Universidade de Brasília (UnB), Departamen- trabalho é toda atividade humana analítica pretende explicar tudo, tende
to de Sociologia (Mestrado e Doutorado em
que gera algum valor, não apenas a não explicar nada. Defendo apenas,
Sociologia). Site: http://pedrodemo.sites.uol.
com.br/. E-mail: pedrodemo@uol.com.br. monetário, mercantil, mas vital, como já fiz uma vez (Demo, 1999)5,
material ou imaterial. Muita polêmica! que é preferível ver o trabalho com
Não tenho qualquer pretensão – nem bons olhos...
Recebido para publicação em 08/02/2006.

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produção e reprodução da sociedade,
1. DELIMITANDO TRABALHO que corre dentro e fora do tempo
imposto pelo capital” (Id.)12. Por
O esforço de definição que conta desta percepção da criatividade
aqui faço insere-se na discussão ... trabalho indomável do trabalho humano, o
metodológica que ofereço no texto
sobre “metodologia do conhecimento
expressa a capital não só se dedica a explorá-lo
como fonte (para Marx, única) de
científico” (Demo, 2000)6, quando
discorro sobre o que seria “definir”.
capacidade valor, mas preocupa-se em discipliná-
lo sob a forma do assalariamento.
Definir significa delimitar, colocar humana de Tamanha criatividade tem que ser
limites, levantar uma cerca em torno mantida com rédea curta, o que se
de algo que, de si, nunca cabe bem fazer coisas e de percebe atualmente com as táticas de
num cercado. Precisamos definir os desregulação do trabalho – enquanto
conceitos, porque eles vazam por fazer-se sujeito, o capital ganha liberdade total,
todos os lados, mas é crucial perceber
que realidades complexas, não
num processo de o trabalho é manietado a praças
circunscritas onde pode ser visto e
lineares, dialéticas não se reduzem a
padronizações lineares (Demo, 2002)7.
autovalorização controlado (Matias, 2005)13.

Assim como definir “vida” é pretensão O trabalho vivo é a força que, de


perdida até hoje (Schrödinger, 1997; dentro, determina constantemente não
apenas a subversão do processo de
Davies, 1999)8, não é menos definir
produção capitalista, mas também a
trabalho. Predominam estereótipos, construção de uma alternativa. Em outras
e deles é mister livrar-se, ainda que palavras, o trabalho vivo não apenas
isto nos leve a um terreno movediço, à incapacidade ou má vontade de
trabalhar (O’Connor, 2001; Goode/ nega a sua abstração no processo de
mas que é o terreno onde crescem valorização capitalista e de produção
boas categorias analíticas. Para Maskovsky, 2001)9. Não é muito
de mais-valia, mas apresenta um
simplificar, aponto dois estereótipos diferente da querela surda entre esquema alternativo de valorização: a
comuns, um mais latino, outro mais sulistas e nordestinos no Brasil. Mais autovalorização do trabalho. Dessa
nórdico. Neste, reluz o trabalho como ao sul, lá de São Paulo para baixo, forma, o trabalho é uma força ativa não
sentido maior da vida, o que leva a trabalha-se duro; mais ao norte, é apenas de negociação, mas também de
sinalizar sua face positiva acima de carnaval o ano todo! Dispensável dizer afirmação. As subjetividades produzidas
tudo. A vontade de trabalhar e de o quanto tais estereótipos empanam no processo de autovalorização do
uma realidade extremamente mais trabalho vivo são os agentes que criam
realizar-se no trabalho, entendido uma sociedade alternativa, um conjunto
sempre como trabalho produtivo e complexa, sem falar nos preconceitos
de ‘pré-requisitos do comunismo’, já
que, no capitalismo, foi tornando-se injustos.
em ação na sociedade contemporânea.
trabalho rentável, estaria por trás da Negri e Hardt (2004)10 relembram
(Negri/Hardt, 2004)14.
habilidade de desenvolvimento, como que, para Marx (nos Grundrisse), o
se cristalizou no dito americanista trabalho era fogo que dá a vida e
Na percepção de Marx, entretanto,
do American way of life, ou do self forma. Referia-se ao “trabalho vivo”,
a superação do capitalismo não adviria
made man. Não importaria nascer do trabalhador em pessoa, não das
pela via política da organização do
pobre, pois, trabalhando duro, máquinas e ferramentas. “A afirmação
trabalho, em primeiro lugar, mas
vence-se facilmente na vida. Este do trabalho é a afirmação da própria
pelas contradições internas objetivas
sempre foi o American dream, vida” (Negri/Hardt, 2004)11. Esta frase,
do próprio sistema produtivo (Demo,
hoje possivelmente um dos maiores isolada, é excessiva, mas no contexto
1995)15. Esta dialética “objetivista”
pesadelos do sistema neoliberal. No sugere que, por trás da constituição
sempre foi muito questionada,
estereótipo latino, privilegia-se o das sociedades, está o esforço coletivo
em especial na obra de Althusser
trabalho como castigo, seguindo uma das pessoas, para além dos estigmas
(Althusser/Balibar, 1970; Althusser,
leitura da Bíblia (comer o pão com o capitalistas e do tempo picado.
1971)16, mas, nos escritos centrais (em
suor do rosto). Na própria etimologia O capital, desde cedo, percebeu
torno da obra O Capital), ele acentua,
do trabalho aparece a sugestão de que o trabalho não se esvaía na
com positivismo indisfarçável comum
tortura. Ironicamente, o mundo idéia da produtividade mensurada
à época, as condições objetivas. Em
nórdico tende a ser mais desenvolvido pelas horas de esforço manual ou
outros escritos (em especial em A
que o sulista latino, também dentro mesmo mental. No trabalho havia
Comuna de Paris) (Demo, 1985)17,
da Europa. Há aí diálogo de surdos, “uma semente que repousa sob a
condições subjetivas assomam como
quando um lado assaca contra o outro neve, esperando a maturação, uma
importantes também. Como é sabido,
preconceitos culturais, em particular força vital ativa desde sempre nas
o conceito de trabalho ultimamente
quando pobreza é remetida tout court redes dinâmicas de cooperação, na
desgastou-se, confinado em geral na

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trabalho o que lhe dá valor, o trabalho primeiras leis do valor-trabalho, que
está aí aprisionado e desfigurado. tentavam tornar compreensível o
Para além disso, trabalho expressa a sentido da nossa história em nome da
centralidade do trabalho proletário e
capacidade humana de fazer coisas
da sua redução quantitativa à norma
e de fazer-se sujeito, num processo do desenvolvimento capitalista, não
de autovalorização. Sua função é de se pode negar uma série de fatos,
ruptura, aparecendo, então, o papel determinações e consistências históricas:
histórico das condições subjetivas por exemplo, a organização do Estado
também: as lutas operárias contra o e da sua lei está, em grande parte,
trabalho assalariado para transformar ligada à necessidade de construir uma
o próprio trabalho. As práticas ordem de reprodução social baseada no
sociais que criam valores vitais para trabalho, e a forma do Estado e da sua
a sociedade são, também, trabalho. lei é transformada de acordo com as
modificações da natureza do trabalho.
É fundamental superar a sociedade-
Os horizontes monetários, simbólicos
fábrica, na qual o trabalho é aviltado, e políticos que sistematicamente são
para imaginar uma sociedade aberta apresentados no lugar da lei do valor
e criativa, em que trabalhar é viver, como elementos constitutivos do liame
conviver. É preciso também incluir social servem para retirar o trabalho do
no trabalho dimensões novas que âmbito da teoria, mas certamente não
surgem agora, como o ciberespaço, podem retirá-lo da realidade. De fato,
a presença virtual, a formatação na era pós-industrial, na qual assistimos
multidimensional das expressões à globalização do sistema capitalista
enquanto sociedade-fábrica e ao
humanas. A visão de Marx, neste
triunfo da produção computadorizada,
contexto, não é mais suficiente, como
a presença do trabalho no centro da
apontam Negri e Hardt. vida e a extensão da cooperação social
através da sociedade tornam-se totais...
As redes de cooperação de trabalho O esvaziamento histórico do problema
cada vez mais complexas, a integração do trabalho corresponde à sua máxima
do trabalho afetivo no espectro da plenitude como substância da ação
produção, a informatização de uma humana... O mundo é trabalho. Quando
vasta gama de processos de trabalho Marx reconheceu o trabalho como
caracterizaram a atual mudança da substância da história humana, talvez
natureza do trabalho. Marx tentava tenha cometido um erro, não por ter
entender essas transformações através avançado demais, mas por não ter ido
do conceito de General Intellekt, longe o bastante. (2004)18.
no qual fica claro, porém, que o
trabalho do General Intellekt, mesmo
Tomando essa discussão
tendendo à imaterialidade, não é menos
corpóreo do que intelectual. Apêndices
preliminar como pano de fundo,
cibernéticos são integrados ao corpo poderíamos sugerir que o conceito
‘tecnologizado’, tornando-se parte da de trabalho vai muito além de sua
sua natureza. Essas novas formas de versão capitalista. Gostaria, porém, de
assim dita ética capitalista e destituído trabalho são imediatamente sociais, aventar que o problema central não é
de desejos e prazeres. Produzindo-se pois determinam diretamente as redes o capital, mas o capitalismo, no que
da cooperação produtiva que criam divergiria de Mészáros (2002)19. Toda
valor com o trabalho, desbordamos e recriam a sociedade. Parece, então,
a esfera da mais-valia, em que é sociedade tem capitais (materiais
que, justamente quando o conceito de
marcado pela lógica abstrata da e imateriais, recursos de toda
trabalho é marginalizado do discurso
mercadoria. Não é menos valor dominante, ele, na verdade, ocupa o
ordem, uns abundantes, a maioria
a produção da sociedade e das centro do palco. É óbvio que a classe escassos), não estando aí o problema
subjetividades, dos desejos e prazeres, operária industrial perdeu sua posição propriamente dito. O problema está na
das alternativas. Nesse sentido, central na sociedade, que a natureza versão capitalista do capital. Embora
trabalho não é só constitutivo da e as condições de trabalho foram a interpretação de Mészáros tenha
sociedade capitalista; é igualmente profundamente modificadas e também base na obra de Marx, acredito ser
que o que era reconhecido como um olhar unilateral, porque postula
negação do capitalismo, à medida
trabalho mudou radicalmente: mas são uma sociedade sem capital, o que, no
que trabalho, tomado em sentido exatamente essas transformações que,
vital amplo, não se reduz, jamais, à mínimo, seria estranho. Trabalho é
em vez de marginalizar o conceito de
condição de mercadoria. Embora em capital, mas não precisa ser capitalista.
trabalho, repropõem sua centralidade
toda mercadoria haja trabalho e seja acentuada. Apesar da falência das
Primeiro, não cabe fechar o trabalho

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na dimensão produtiva, muito menos O trabalho, encurralado na dinâmica reconhecendo-se que não trabalhamos
produtiva capitalista, nem há que da mais-valia, é desgastante, porque, com a realidade diretamente, mas com
sugerir que o trabalho mais comum tratado como mercadoria, solapa as uma construção mental dela, do ponto
seja aquele da mais-valia absoluta expectativas de auto-realização e de de vista do observador. Maturana
(braçal, físico, com esgotamento do realização coletiva, sucumbindo à é questionado, em geral, por ser
corpo através de muitas horas). Marx lógica abstrata da mercadoria (Kurz, exagerado em seu construcionismo,
imaginava que a época da mais-valia 1996)22. Mesmo assim, haveria que corrigido, em parte pelo menos, por
relativa – produtividade com base em fazer uma ressalva: há trabalhos Varela (Varela/Thompson/Rosch,
ciência e tecnologia – surgiria ainda desgastantes, e, apesar disso, 1997)25, com o conceito de “enação”:
em sua vida na Inglaterra, onde se compensadores, como seria, por esta leva em conta também a pressão
encontrava à época, porque, segundo exemplo, cuidar de criança pequena. do meio ambiente (o que vem de
sua expectativa teórica, o socialismo Pode-se chegar à extenuação, mas fora), ainda que predomine o gesto
só seria viável no capitalismo alegaríamos, como regra, que vale autopoiético. Como a aprendizagem
avançado, e o mais avançado era o a pena. O que seria inapropriado (Demo, 2004)26, trabalho é dinâmica
inglês. Essa visão não se efetivou e é um tipo irreversível de desgaste humana própria de sua natureza, e,
somente apontou, em sentido mais que já seria motivo para não poder assim como aprende a vida toda,
concreto, um século depois, quando trabalhar mais. porque num sentido forte, vida é
se delineou mais claramente o que se Terceiro, não cabe entender aprendizagem, também trabalha a
tem chamado de economia intensiva trabalho como atividade imposta vida toda, porque, sendo trabalho
de conhecimento. Conforme tese de fora, interna ou externa ao dinâmica vital, se esta cessa, cessa
comum hoje, conhecimento é a capitalismo, porque, de si, trabalho a vida.
principal força produtiva. De um lado, é dinâmica autopoiética, como dizem Quarto, caberia ver trabalho
a “força de trabalho”, no sentido do alguns biólogos (Maturana/Varela, como produção e uso da energia
desgaste corporal, perde espaço; de 1997; Maturana, 2001)23. Significa vital humana, desde a necessária para
outro, a produtividade pende para que todo ser vivo é máquina que manter-se vivo, quanto para produzir
atividades imateriais dependentes funciona de dentro para fora, na todo e qualquer perspectiva de valor.
de habilidades formativas humanas, condição de sujeito relativamente Para manter-se vivo, o corpo trabalha
como se observa nitidamente na autônomo, ao contrário das máquinas ininterruptamente, em especial
sociedade informacional em rede tecnológicas atuais: estas, como o para manter o cérebro em bom
(Castells, 1997)20. Torna-se bem computador, funcionam de fora para funcionamento. Quando dormimos,
possível produzir mais e melhor com dentro, precisam de tomada, teclado, dizemos que estamos descansando e
menor tempo de trabalho, porque softwares e hardwares. Por isso, tais isto é, em grande parte, verdade. Mas
esta medida já não é central. Saber autores rejeitam o instrucionismo em o corpo não pára, continua respirando,
pensar é muito menos uma questão educação, porque o cérebro humano bombeando sangue para todo o
de investimento temporal do que de não é como xérox que copia, reproduz, corpo, mantendo a temperatura.
habilidade e inteligência (Lewis, 2000; mas como dinâmica reconstrutiva, Para produzir, é imprescindível
Schiller, 2000)21. interpretativa. Essa percepção despender energia, desde produções
Segundo, não cabe encerrar deu azo ao “construcionismo”, extenuantes, até aquelas mais suaves,
o trabalho em atividades que que, em metodologia, se chama como pensar, poetar, conversar. Entre
pressupõem cansaço, esgotamento “objeto construído” nós, não consta como trabalho o
físico, desgaste (Demo, 1995) 24 , estudo, razão pela qual proibimos
corporal, lembrando as crianças e adolescentes de
a maldição bíblica. trabalhar, mas não de estudar. Há
Essa idéia aparece aí confusão desnecessária: há que
com força no conceito proibir trabalho estranho, forçado,
de mais-valia absoluta, aviltante. Há, porém, trabalhos
mas, como o próprio próprios de crianças e adolescentes,
Marx previa, seria como estudar, brincar, praticar
suplantada pela mais- esporte, fazer exercícios físicos. Na
valia relativa: nesta, prática, queremos impedir o trabalho
não é caso trabalhar produtivo capitalista espoliador,
muito,, mas trabalhar e, numa penada, colocamos tudo
bem.. No entanto, no mesmo saco, como, de certa
embora a maldição forma, faz o Estatuto da Criança
bíblica não seja fatal, e do Adolescente (ECA) (Demo,
surge outra maldição, 1999)27. Preocupado em preservar as
a do capitalismo. crianças e adolescentes para que se

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desenvolvam adequadamente, o ECA nos animais também (Waal, 2000; Se olhássemos mais atentamente
esquece que, para desenvolverem- Boehm, 1999) 29 – de construir as disputas milenares, por vezes
se bem, há que trabalhar muito e espaços ampliados de autonomia, muito sangrentas, em torno do
bem, como, por exemplo, estudar tomando, até certo ponto, o destino conhecimento criativo, alternativo,
como afinco. O resultado é um em suas mãos. Esta autonomia é disruptivo (a Inquisição, por exemplo)
conceito pífio de trabalho, colocado claramente relativa, porque só pode (Burke, 2003) 32 , perceberíamos
sempre sob suspeita, e que, realizar-se em convivência com mais facilmente quanta energia se
pedagogicamente, torna-se trabalho outras autonomias (Demo, 2005)30, despende, desperdiça e gira em
de “mentirinha”, uma proposta mas pode ser alargada, dependendo torno dessa atividade considerada
muito pouco pedagógica. Imagina- de colocar em marcha estratégias uma das mais fundamentais da
se dar conta de uma problemática e habilidades de sua construção existência humana. Por vezes,
drástica e dramática como essa com incessante, entre elas aprender, escutamos a alegação de que saber
pedagogias e assistências tipo “água pensar cansa, sugerindo que, na
benta”, deixando de lado o desafio escola e na universidade, evita-se
da sobrevivência e, principalmente, pensar, para evitar cansaço. Em vez
o valor educativo que o trabalho ... será trabalho de ler um livro inteiro, prefere-se
pode ter. um resumo ou o que consta da
Quinto, no eco da expectativa
marxista do trabalho como gerador
também o não- orelha do livro. Quem se decide a
fazer mestrado e/ou doutorado tem
de valor, pode-se manter a idéia de
que trabalho é toda atividade que
trabalho, porque se idéia do cansaço implicado, sem
falar em conhecimento proibido,
gere valor vital, existencial humano.
Por certo, o conceito de valor
viver é trabalhar, tutelado, imposto (Shattuck, 1996;
Rescher, 1987)33. Mas, focando no
pode aguar-se irremediavelmente,
porque já pode ser qualquer coisa.
deixar de lado positivo, saber pensar é um dos
trabalhos mais pertinentes humanos,
Entretanto, é possível ser mais
preciso, se definirmos valor como
trabalhar ainda é fundamento essencial das tecnologias
e, em especial da cidadania, quando se
todo processo e produto de atividade consegue, em condições apropriadas,
humana que seja capaz de auto- viver e, portanto, preferir a autoridade do argumento
realização e de realização coletiva, ao argumento de autoridade (Demo,
material ou imaterial. Está em jogo trabalhar. 2005a)34.
aí toda produção e uso de energia Sétimo, será trabalho também
humana com sentido realizador o não-trabalho, porque se viver é
e auto-realizador. Valor pode ser trabalhar, deixar de trabalhar ainda
aproximado a esta noção de realização é viver e, portanto, trabalhar. Por
e auto-realização. Nesta ótica, estudar uma confusão apressada, tendemos
pode ser trabalho extraordinariamente a não ver trabalho no lazer, na
decisivo, mesmo sendo, por vezes diversão, no esporte. Os atletas
extenuante, e até mesmo forçado conhecer, formar-se, organizar-se profissionais, por vezes, trabalham
(vestibular, por exemplo). Em politicamente. Referência central até morrer (literalmente). Ver televisão
certa idade, esse tipo de trabalho é da politicidade humana é trabalho, também cansa. Rir demais enjoa. Esta
obrigatório (ensino fundamental). através do qual pode construir perspectiva é hoje melhor visualizada
Estipula-se isso por conta do valor espaços e principalmente construir-se em momentos em que, deixando de
que representa, tanto para realizar em sociedade. A discussão atual em trabalhar, as pessoas, em vez de se
expectativas de sobrevivência e torno da construção de subjetividades sentirem mais realizadas, perdem o
qualificação profissional, quanto pelo trabalho é emblemática (Negri/ sentido da vida. É o caso precípuo
principalmente para a auto-realização Hardt, 2004)31. da aposentadoria. Aqui aparece o
pessoal e coletiva. Nascer, viver e Sexto, não poderia ficar de fora desvirtuamento capitalista: cessa o
morrer é trabalho – nesse percurso do trabalho o desafio de saber trabalho capitalista, e, por cessar este,
fazemos muitas coisas e, sobretudo, pensar, não só no sentido físico imaginamos que já não o que trabalhar.
nos fazemos. Caberia inserir trabalho de que o cérebro consome energia A aposentadoria é, a rigor, outro modo
no conceito de “politicidade” humana incessantemente para manter-se em de trabalhar, quando seria possível
(Demo, 2002)28, no sentido mais denso funcionamento, crescer, ampliar dedicar-se melhor à auto-realização.
de atividade própria da natureza sua abrangência interpretativa, mas Por vício e submissão capitalista,
humana na sua dimensão existencial principalmente no sentido imaterial sentimos falta da exploração, ainda
social. Entende-se por politicidade a de constituir-se sujeito capaz de que haja, na esfera capitalista,
habilidade humana – hoje reconhecida história própria, individual e coletiva. trabalhos certamente compensadores,

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como aqueles de altos salários. Disso que precisa trabalhar para
ninguém reclama, porque a “mais- formar-se, fazer-se. Abarca
valia” aí embutida vale a pena! De um mundo sem fim de
certa maneira, a relação capitalista potencialidades que vão
do trabalho incute no trabalhador desde a arte, a religião,
o trabalho como único sentido da a convivência possível
vida, muitas vezes roubando-lhe as até à lógica abstrata da
melhores horas da vida, todo dia. mercadoria. Trabalho não
Cessando o trabalho, não sabe o é apenas sina, tortura, é
quê fazer e, em vez de, por isso, realização e auto-realização,
viver mais e melhor, morre antes. É quando conseguimos trabalhar
por isso fundamental saber entender com prazer, por prazer, quando
ócio, lazer, aposentadoria como desabrochamos a subjetividade
horizontes alternativos de trabalho, em experiências de sociabilidade criativa de novas condições do
possivelmente mais realizadores e alternativa, quando, para além trabalho na sociedade atual, na
auto-realizadores. No marxismo, das disputas e competitividades, qual conhecimento tornou-se a
é comum a expectativa de que o nos perdemos em solidariedades “principal força produtiva” (2005)35,
“homem novo” não trabalha, o que abrangentes. Daí a injustiça flagrante rumo a um tipo de sociedade
é absurdo, não só porque, sendo que desconhece como trabalho o alternativa, resultante da própria
trabalho a categoria fundante da trabalho das mulheres em casa, como dinâmica produtiva inovadora da
sociedade em Marx, não haveria como se cuidar da família fosse coisa apenas ciência e tecnologia. A economia
não trabalhar, mas principalmente de mulheres ou coisa irrelevante do conhecimento é “uma forma de
porque os “trabalhadores que não geraria valor vital para a capitalismo que procura definir suas
livres associados” continuam sociedade. Assim como todo ser vivo categorias principais – trabalho, valor
“trabalhadores”, certamente livres luta para aprender, existir, sobreviver, e capital”, afastando-se de paradigmas
da lógica abstrata da mercadoria, mas manter-se vivo, disputar lugar próprio, anteriores fundados em unidades de
sempre trabalhadores. Quem condena assim os seres humanos não podem produção, em especial no tempo de
ou desprestigia trabalho quase sempre evitar trabalhar como condição de trabalho. De fato, na economia do
não precisa “trabalhar”, ou explora existência. Se assim é, melhor será conhecimento, todo trabalho, seja
trabalho alheio. ver o trabalho com bons olhos, sem industrial ou de serviços, contém
Oitavo, trabalho sinaliza o pulsar perder de vista suas faces negativas. “um componente de saber cuja
profundo da natureza que precisa Não trabalhar é morrer, disso sabem importância é crescente”. Não se trata
trabalhar para evoluir, do ser humano os idosos que, desiludidos com a do tipo de conhecimento formalizado,
aposentadoria, gostariam de trabalhar, padronizável, informatizável, da ordem
... trabalho não aquele trabalho fastidioso e vazio sintática, por isso substituíveis pela
máquina, mas daquele insubstituível,
da fábrica, mas aquele que realiza
sinaliza o pulsar valores e sobretudo auto-realiza propriamente criativo, surpreendente,
as pessoas e comunidades. Disso semântico, que apreendemos no “saber
profundo da sabem as crianças que precisam da experiência, no discernimento, na
estudar firme para divisar um futuro capacidade de coordenação, de auto-
natureza que melhor. Disso sabem as mulheres organização e de comunicação”36,
que precisam dividir as energias numa palavra, no “saber pensar”
precisa trabalhar entre maternidade e profissão. Disso (Demo, 2000a; 2005a)37 complexo,
sabem os trabalhadores, mesmo não linear, crítico e autocrítico.
para evoluir, do quando espoliados ignobilmente Por ser tipicamente conhecimento
criativo, surpreendente, os traba-
ser humano que pelo capitalismo. Disso sabem os
voluntários que querem trabalhar lhadores aprendem de maneira
não predeterminada, nem ditada.
precisa trabalhar para os outros.
Exige envolver-se com a dinâmica
para formar-se, 2. TRABALHO IMATERIAL
mais genuína da aprendizagem
reconstrutiva e desconstrutiva,
fazer-se. interpretativa e hermenêutica, uma
espécie de investimento em e de si
Valho-me da análise do trabalho
imaterial de Gorz, menos orientado mesmo, muitas vezes acolhido pelos
por suas promessas altissonantes empresários como “motivação”. Todo
de uma sociedade mais igualitária, especialista bem formado também o
mas interessado na percepção gera, mas é próprio da comunicação

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despadronizadora, daquela que o máquinas, instalações e processos se conhecimento à lógica abstrata da
computador até o momento não padronizáveis. A capitalização do mercadoria. Na prática, porém
conseguiu digitalizar, porque seus conhecimento chegou a uma fronteira a criação de valor e a criação de riqueza
padrões são fluidos como toda nova, pois todo conhecimento se afastam uma da outra de modo
interpretação semântica. A qualidade formalizável, padronizável pode ser cada vez mais visível, sem que com
isso sejam solucionados os problemas
da produção, aquela produtividade abstraído de seu suporte material e
fundamentais de um capitalismo que
competitiva que garante a dianteira humano, passando a uma condição
aproveita cada vez menos trabalho,
de empresas criativas, depende de multiplicação quase sem custos, distribui cada vez menos moedas, com
desse comprometimento, a saber, como ocorre sob a forma de software, um excedente de capital sobre uma
da aprendizagem ao mesmo tempo podendo ser utilizado ilimitadamente carência de demanda solvente e a subtrai
criativa e comprometida, cujos por máquinas de padrão universal. às bases de uma sociedade, cujos custos
critérios de medida não são usuais. Quanto mais se espraia, dissemina, de estruturação e reprodução ele procura
No fundo, sua valoração depende mais é útil à sociedade, embora seu economizar mediante a privatização dos
do julgamento dos chefes ou dos valor mercantil, ao contrário, decaia serviços públicos, do ensino, da saúde
clientes. Nesse sentido, o trabalho, na mesma proporção, tendendo e da previdência social40.
como era comumente visto na a zero, quando for de domínio
condição de valor produzido em cada público. O fenômeno fundamental Insinua-se uma redefinição da
mercadoria, mensurado por horas de riqueza. O crescimento econômico,

Riqueza
trabalho acumuladas, deixa de ser como regra, funda-se na pilhagem
mensurável, tornando-se cada vez do bem comum e no desmonte da
mais imaterial. A criação do valor coletividade, produzindo miséria
em vez de prosperidade e impondo
das mercadorias passa a depender
muito mais deste componente
deveria ser o como riqueza a concentração
comportamental e motivacional,
exercitado permanentemente por
bem comum mercantilizada de bens privadamente
apropriados. Riqueza deveria ser
processos sempre reavivados de enriquecido em o bem comum enriquecido em
nome de todos, com base no saber
aprendizagem reconstrutiva, em vez
do tirocínio aí despendido. Em geral, nome de todos, pensar coletivo. É isso que buscam
tais fatores são compreendidos como os movimentos antiglobalização,
“capital humano” das empresas. com base no quando reagem, já violentamente,
Segundo Gorz38, uma vez desfeitas ao desmonte da coletividade, à
as relações salariais convencionais, o saber pensar modernização predatória dos países
em desenvolvimento, à privatização
modo como o capital regula os seres
humanos tomou outra configuração:
coletivo. do saber, do conhecimento e do bem
os empregados são forçados a se comum. Entre seus ativistas, Gorz
conceberem como empresários destaca os hackers, por atuarem na
de si mesmos, dando conta, por “esfera mais importante para o capital :
iniciativa própria de aprendizagem a esfera da produção, disseminação,
é que o conhecimento se torna socialização e organização do saber”41.
ilimitada, da concorrência. A pressão
bem comum acessível a todos. São os dissidentes do capitalismo
da concorrência é respondida
Assim, uma economia autêntica do digital, oferecendo à coletividade, com
pela habilidade potencializada ad
conhecimento poderia corresponder freqüência, softwares mais criativos e
infinitum de cada empregado, na
a um tipo de comunismo do saber, nisto confrontando-se abertamente
condição de capital humano da
no qual relações monetárias e de com o monopólio capitalista. Aparece
empresa, o capital propriamente
troca seriam dispensáveis. Para evitar neles a criatividade desimpedida
criativo e alternativo. Em vez do
esse efeito igualitário, o capitalismo capaz de sinalizar, pelo menos numa
trabalhador que depende do salário,
impõe a apropriação privada do parte deles, um estilo alternativo de
entra em cena o empresário de sua
conhecimento, tornando-o escasso, sociedade mais livre e cooperativa.
própria força de trabalho, garantindo
à revelia do fato de não poder ser Uma verdadeira sociedade do saber
ele mesmo sua formação permanente.
manipulado como mercadoria. Seus seria igualitária. “Em contraste com as
No lugar da exploração, entra a “auto-
custos de produção, freqüentemente, concepções correntes, o saber aí não
exploração e a autocomercialização
não podem ser determinados, seu aparece como um saber objetivado,
do ‘Eu S/A’, que rendem lucros às
valor mercantil não coincide com composto de conhecimentos e in-
grandes empresas clientes do auto-
tempo de trabalho gasto em sua formações, mas sim como ativi-
empresário”39.
criação. Monopolizar o conhecimento dade social que constrói relações
O aproveitamento capitalista
é a saída do capitalismo, criando comunicativas, não submetidas a
do conhecimento se faz pela via
artificialmente a escassez, subsumindo- um comando”42. Embora me pareça
do saber “morto”, objetivada em

B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006. 11


um pouco romântica essa visão dos biotecnologia que poderia reinventar necessário para produzir algo se torna
hackers, porque há muitos que apenas o ser humano como máquina artificial incerto, a incerteza invade o valor
confirmam o caráter predatório do (Hayles, 1999)44. Mas isso é um lado da de troca. Saber pensar não se presta
capitalismo de mercado, é possível questão, havendo outros horizontes à apropriação privada, nem à troca
divisar neles um tipo de reação crítica mais alternativos e que, por exemplo, comercial, pois não se reduz a uma
criativa. são os dos hackers bem intencionados. substância materializada cambiável.
O fato de a globalização competitiva Para o capital, é crucial restringir
saber aproveitar-se das novas mídias conhecimento a uma mercadoria

Saber pensar não faz dessas vilões inevitáveis da


história. A crítica mais pertinente,
parece-me, é aquela voltada contra
privatizável. Este é o problema
do capital agora: apropriar-se de,
valorizar e subsumir uma dinâmica
não se presta uma ciência subordinada ao capital produtiva imaterial que já não
(Aronowitz, 2000. Santos, Laymert se prende ao estilo de produção
à apropriação G., 2003) 45 . Vários modos de anterior. O capital quer capitalizar o
produção coexistem hoje, mas, aquele conhecimento, para manter-se nos
privada, nem à capitalismo amparado na valorização padrões de acumulação física para
troca comercial, de grandes massas de capital fixo
material é, cada vez mais, substituído
economizar mais trabalho do que
originalmente custou, controlar o
pois não se reduz por uma dinâmica pós-moderna processo para extrair mais-valia, e, por
que valoriza o capital imaterial, fim, tornar-se propriedade privada,
a uma substância “qualificado também de ‘capital monopolizada.
materializada humano’, ‘capital conhecimento’
ou ‘capital inteligência’” (Gorz,
Ao transformar conhecimento
em capital imaterial, o capitalismo
cambiável. 2005)46. Tais transformações implicam opera um milagre que vira logo
metamorfoses do trabalho, entre uma miragem. O milagre está na
elas a de que o trabalho abstrato abundância à vista; a miragem está
simples tido como fonte do valor é na apropriação privada do que é, de
substituído por trabalho complexo. si, gratuito, para todos e de todos,
Cumpre questionar a racionalidade Trabalho material, mensurável em tornando o trabalhador cada vez
cognitiva experimental, já que, ao unidades de produto por unidade de mais supérfluo. Gorz enfatiza o que
contestarmos a instrumentalização tempo, vira trabalho imaterial, não dá, hoje, valor aos produtos, para
do humano e do vivo, implicamos mensurável. Conhecimento aparece vendê-los com lucro máximo: é a
contestar igualmente a orientação como força produtiva principal. Gorz capacidade que uma empresa tem
da ciência e do modo como vem lembra que o próprio Marx já notara de se ligar a uma clientela, fidelizá-la,
sendo construída. O parentesco que o conhecimento se tornaria “die fazê-la comprar, sem grandes custos,
entre ciência e capital é flagrante. grösste Produktivkraft” (a maior força as últimas novidades, persuadi-la do
Redefinindo o conceito de riqueza produtiva)47. A medida da riqueza valor incomparável do que se oferece.
cultural e economicamente, segue a transfere-se para o “nível geral da A dimensão imaterial dos produtos
redefinição da ciência. Esta sempre ciência e do progresso da tecnologia” passa a levar vantagem sobre sua
esteve vinculada/subordinada ao (Marx, 1953)48. realidade material. O valor simbólico,
capital, preparou o caminho para Esta inteligência geral, diferente estético, social se sobrepõe ao uso
ele, isolando o mundo sensível e do conhecimento padronizável prático e o valor de troca. Na Bolsa,
concebendo a realidade como sistema e objetivado, não se reduz a isso ocorre com freqüência cada
de relações encaixado na lógica quantidades seqüenciais abstratas vez maior:
do cálculo matematizado da razão ou a produtos mensuráveis49. Ela enquanto o
instrumental. Haveria uma espécie designa uma variedade de habilidades capital fixo
de conluio entre esta quantificação heterogêneas, sem medida comum, material é
obsessiva da realidade e a inteligência por exemplo, julgamento, intuição,
artificial, apercebida esta como senso estético, nível de formação e
tentativa de emancipar o capital do informação, capacidade de aprender
planeta e de seus habitantes, para e de se adaptar a novas situações
reduzir tudo à lógica abstrata da imprevistas; vão do cálculo matemático
mercadoria. De fato, no debate sobre à retórica e à arte de convencer, da
ciberespaço não faltam tendências de pesquisa técnico-científica à invenção
combate ao corpo e à subjetividade de normas estéticas. Entra em cena
(Silva, 2001; 2002)43, sem falar no a crise da mensuração do valor,
apreço a um tipo exacerbado de pois, quando o tempo socialmente

12 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


desvalorizado ou ignorado, o capital circular sob a forma valor, ao contrário:
imaterial é estimado sem base
mensurável. A resposta predatória
do capitalismo vigente é tentar
é ao se difundir como bem acessível a
todos que ela engendra conhecimentos
suplementares. Suas propriedades, em
suma, se opõem ponto por ponto àquelas
Alienação do
monopolizar o conhecimento, mas
quase sempre a custos proibitivos,
do capital em sentido econômico. trabalho coincidia
O ‘capital conhecimento’ não pode
porque vaza por todas as partes. Por funcionar como capital senão no quadro, com alienação da
ser imaterial, esse processo produtivo ou melhor, no interior do capitalismo,
permite que se produza o consumidor, quando ele é alterado por sua associação
com as formas tradicionais, financeiras
essência humana.
no sentido de atiçar seus desejos
e vontades, invadindo sua vida
e materiais do capital. Ele não é
capital, no sentido usual, e não tem
O ser humano
privada sem peias, transformando
tudo em mercadoria. A intimidade
como destinação primária a de servir à
produção de sobrevalor, nem mesmo de
perde sua essência
é devassada e vendida a público na
mídia. É tarefa difícil para o capital
valor, no sentido usual. Ele não significa
o advento de um hipercapitalismo ou de
ao encontrar-se
apropriar-se da imaginação coletiva, pancapitalismo, como sua denominação
poderia fazer acreditar, mas, ao contrário, alienado.
da linguagem, da semântica social. contém os germes de uma negação e
A manipulação da linguagem torna- de uma superação do capitalismo, do
se estratégia frontal, tanto para trabalho como mercadoria e das trocas
produzir esferas de consumo, quanto comerciais (Gorz, 2005)50.
para criar símbolos irresistíveis,
combinando tudo com o caráter Daí a pergunta que Gorz quer 3. TRABALHO COMO
imaterial desse processo produtivo. apresentar: estaríamos rumo a um REALIZAÇÃO E AUTO-
Gorz cita a inflação do conceito de comunismo do saber? O que seria, aí, REALIZAÇÃO
capital: cultural, de inteligência, de riqueza? Não sendo saber mercadoria
educação, de experiência, social, qualquer, o valor monetário não se Quando Marx falava de
natural, simbólico, humano, de fixa e prende. Uma vez digitalizado, alienação, estranhamento, referia-
conhecimento ou cognitivo. Esse pode multiplicar-se sem fim e sem se, bem concretamente, ao trabalho,
tipo de capital, entretanto, não é custos. A propagação não o gasta, entendido como essência humana.
mais aquele econômico, porque aumenta a fecundidade, enquanto a Esta expressão é exagerada, mas
não é produzido ou adquirido como privatização o depreda. A autêntica
ele assim pensava. Alienação do
propriedade privada. Torna-se mais economia do saber evoluiria para
a economia comunitária, na qual trabalho coincidia com alienação
rico enquanto se partilha. da essência humana. O ser humano
categorias centrais da economia
política perderiam seu valor e a perde sua essência ao encontrar-
Essa nova forma de capital não é se alienado. Entretanto, marca o
originalmente acumulada para servir de
força produtiva mais importante
ficaria disponível sob custo zero. trabalho sua intensa ambigüidade,
meio de produção, mas para satisfazer
a necessidade, a paixão de conhecer, O capitalismo, para afirmar-se que vai desde a maior dignidade e
ou seja, para penetrar a verdade do como capitalismo do saber, precisa a própria construção da dignidade,
que está além das aparências e das usar recurso farto – a inteligência até o vilipêndio mais deletério, como
utilizações. Ela não resulta do sobrevalor humana –, transformando essa ocorre na relação mercantilizada
tirado da exploração do trabalho; ela fartura em escassez. Emerge outra laboral. Um dos horizontes mais
é riqueza e fonte de riqueza mesmo noção de riqueza, não mais na rota ambíguos vemos hoje no anseio
quando dela não nasce nada que possa da mercantilização de tudo e que a
ser vendido. Ela não pode aumentar ao
desesperado de desempregados que
tudo degrada, mas como confluência querem entrar no mercado a qualquer
da afluência custo, aceitando qualquer condição
comum. de trabalho. Quando escutamos
empregados recentes, também de
salário mínimo, manifestando visível
satisfação por, finalmente, terem
conseguido um lugar, é difícil saber
se é o caso aplaudir ou condenar.
Qualquer trabalho é melhor que
trabalho nenhum, um horizonte
totalmente divorciado da idéia da
OIT de “emprego decente” (UNDP,
2005)51. Com isso alastra-se o trabalho
precário, avolumando como nunca

B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006. 13


o assim chamado setor informal, enorme potencialidade, porque é qual se reconhece a criatividade
atingindo já dois terços da população instrumento crucial de formação própria. Não se trata apenas de
economicamente ativa no Brasil. humana. Como vimos, estudar é trabalho produtivo, mas da produção
Ou seja, trabalho legalizado é coisa trabalhar, um dos trabalhos mais da existência como empreitada
minoritária. Mesmo assim, para muitos edificantes do ser humano, porque comum, desde cultivar a terra até fazer
não existe coisa mais importante na é caminho possível de construção poesia ou discutir política em praça
vida do que trabalhar, seja lá o que da autonomia. Muitas faces podem pública. Obviamente, trabalho pode
for, tamanha é a premência social. ser valorizadas: i) auto-sustentar- ter valor produtivo, o foco mais
Este sarcasmo penetra o tecido social se, evitando depender dos outros; observado em nossa sociedade, já
inteiro, chegando a invadir espaços ii) agregar aportes próprios a obsessivo. De certo modo, o sistema
dos direitos mais fundamentais como esforços coletivos; iii) saber ocupar- educacional é subserviente a esta
trabalho infantil ou escravo. De pouco se produtivamente; iv) construir idéia: por mais que jure dedicar-se à
valem leis que se postam contra tais personalidade suficientemente formação humana (Demo, 2004a)53,
vilipêndios se as pessoas precisam disciplinada, sistemática, como o que está em xeque, como regra,
desesperadamente trabalhar. Aqui a requer trabalho bem feito; v) é um lugar eminente no mercado
importância do trabalho manifesta- focar atividades de reconhecimento (Ioschpe, 2004)54. Entretanto, fazem
se na sua revelia, no outro lado da social, como aparece na expressão mal os educadores que resistem
medalha. Preocupados com o abuso vulgar da “pessoa trabalhadora”, a tomar em conta a importância
do trabalho, facilmente fixamos o para designar que não é ociosa, do trabalho produtivo na vida das
olhar nisso e vamos, aos poucos, sub- dada a vícios e a malefícios, não pessoas. Educação não tem como
repticiamente, elaborando a ojeriza confiável. Trabalho pode ter valor orientação maior o mercado, mas
do trabalho, facilmente encontrada cultural, se soubermos entender perde o chão se ignorar o mercado.
em ambientes assistencialistas. a construção histórica da cultura É equívoco de políticas sociais excluir
Parece, então, assomar a expectativa comum como trabalho coletivo, no o trabalho produtivo de processos
de que trabalho seria algo a ser de ressocialização de jovens, por
evitado, acenando para modos exemplo, como se trabalho de
de sobrevivência marcados pela mentirinha fosse preferível. Trabalho
dependência assistencialista. Coisa pode ter também valor terapêutico,
pobre para o pobre (Demo, 2003)52. É não só para esquecer outros problemas
comum essa noção em certa esquerda da vida (ocupar a cabeça), mas
que busca interpretar o “homem novo” principalmente como componente de
como alguém liberto do trabalho, algo um projeto auto-realizador de vida.
que considero totalmente estranho Ficar sem fazer nada pode ser desgraça
em Marx. A libertação preconizada insuportável, ainda que isso não
por Marx é a libertação do trabalho possa acobertar o apego obsessivo
espoliado no modo de produção ao trabalho (workalcoholic). É
capitalista. O comunismo não é uma assunto decisivo para aposentados
sociedade em que não se trabalha, já que precisam ocupar-se, não apenas
que é a sociedade dos “trabalhadores para passar o tempo, mas para dar
livres associados”. Para Marx, não sentido ao tempo. Mais do que
existe realização humana, bem como nunca, aí trabalhar faz bem. Trabalho
auto-realização, sem trabalho, porque pode ter enorme valor pessoal,
trabalho é a energia fundamental deste expresso em atividades que implicam
processo histórico. doses intensas de energia positiva
Urge, pois, ver também o lado (Seligman, 2002)55, fazendo parte
alvissareiro do trabalho, sem produzir da noção e da prática da felicidade
alienações apressadas. Apesar de pessoal. Muitas vezes, entende-se esse
sua tremenda ambigüidade, trabalho horizonte como “hobby”, coisa em
pode, num primeiro momento, ter geral fútil, superficial, mas que pode,
valor educativo eminente, como em determinadas circunstâncias,
sabem todos os pais e educadores. perfazer o sentido da vida. Neste
Em geral, essa expectativa decai caso, pessoas que sabem trabalhar
para moralismos fúteis, como a aquilo que lhes proporciona profundo
estigmatização unilateral da prazer possuem chances muito mais
ociosidade, tomando trabalho como elevadas de auto-realização. Não há
“qualquer coisa” só para não ficar nada mais triste do que todo dia ir
desocupado, mas, afora isso, possui trabalhar o que se detesta. Trabalho

14 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


pode ter valor coletivo, no sentido Mendigar por trabalho, qualquer importantes, em especial a habilidade
de ser contribuição própria para trabalho, é a sorte que resta a muitos. de saber pensar. Também ambígua
projetos ligados ao bem comum. Une- Nisto Marx mantém sua razão: poucas (nem sempre quem sabe pensar
se a auto-realização com a realização coisas aviltam mais o ser humano do aprecia que outros também saibam),
comum. que roubar-lhe o trabalho. O exército aponta para a capacidade humana
É preciso estar atento às meta- de reserva está hoje mais avolumado, de construção da autonomia relativa
morfoses do trabalho (Castel, 1998)56, burilado, qualificado, maquiado, e inovação incessante. Como previu
também à sua inserção no mundo perfazendo a reserva necessária Marx, a mais-valia relativa significaria
virtual, onde se desenha já um para rebaixar salários. A resposta enorme mudança na produtividade
“cibertariado”, ou seja, um proletariado conhecida é assistência, porque, ao que ele sequer conseguia antever.
cibernético (Huws, 2003)57. Ocorre propor coisa pobre para o pobre, Um dos traços mais marcantes
degradação do trabalho também na o acalma e o sistema gasta pouco. dessa mudança está na passagem
“gestão do conhecimento”, Cabe nas sobras orçamentárias. do trabalho braçal, corporal, para o
Inserir no mercado parece conto da trabalho imaterial. O trabalho imaterial
(..) porque a gestão do ‘conhecimento carochinha. O combate à pobreza supõe, naturalmente, a base material
e da competência’ está inteiramente torna-se farsante quando esquece a corporal, porque não há pensamento
conformada pelo receituário e pela dimensão do trabalho. Não se trata sem massa cinzenta. Mas o horizonte
pragmática presente na ‘empresa do trabalho imaterial é muito mais
enxuta’, na empresa liofilizada, que, para

O
incomensurável, embalado hoje pelas
ser competitiva, deve reduzir ainda mais
o trabalho vivo e ampliar sua dimensão novas tecnologias representadas pelo
tecnocientífica, o trabalho morto, cujo computador e a nova mídia. Mudam
resultado não é outro senão o aumento
da informalidade, da terceirização,
trabalho mais fortemente as condições de trabalho,
em especial por conta do trabalho
da precarização do trabalho e do
desemprego estrutural em escala global.
profundo do virtual. O que está em jogo é a
inovação criativa permanente, aquela
E, ao apropriar-se da dimensão
cognitiva do trabalho, ao apoderar-se
ser humano é a de teor semântico interpretativo,
autopoiético. Força bruta é bem
de sua dimensão intelectual, os capitais habilidade de menos importante do que habilidades
ampliam as formas e os mecanismos da
geração do valor, aumentando também fazer-se sujeito de mentais. Inovar, sobretudo inovar-se,
é condição crucial de realização e de
os modos de controle e de subordinação
dos sujeitos do trabalho, uma vez que história própria, auto-realização. Se daí poderia surgir
se utilizam de mecanismos ainda ‘mais uma sociedade alternativa, tipicamente
coativos, renovando as formas primitivas construir sua igualitária, é promessa a ser verificada.
de violência na acumulação, uma vez
que – paradoxalmente –, ao mesmo autonomia relativa, De todos os modos, o saber pensar,
advindo de um equipamento comum
tempo, as empresas necessitam cada vez
mais da cooperação ou ‘envolvimento’
arquitetar mundos que todo ser humano possui (cérebro
e sentidos), poderia ser assumido
subjetivo e social do trabalhador'
(Antunes, 2005)58.
alternativos. como patrimônio comum, fora da
lógica abstrata da mercadoria. O
mercado capitalista tenta aprisionar
A classe trabalhadora se expande, esta energia indomável, disruptiva
embora reestruturada. “Ao contrário, para lucro próprio e também porque
portanto, do fim ou da redução de teme o questionamento (Collins/
relevância da teoria do valor-trabalho, de recuperar o liberalismo americano Pinch, 2003; Gandelman, 2004)61. Por
há uma qualitativa alteração e de empurrar, a ferro e fogo, os isso parte o saber pensar em duas
ampliação das formas e mecanismos pobres para o mercado, até porque metades esquizofrênicas: fica com a
de extração do trabalho” 59 . O esta pressão supõe o que não existe: qualidade formal, reprime a qualidade
neoliberalismo perdeu toda condição emprego decente à vontade. Trata-se política.
de dar conta da inserção maciça da de alcançar que as pessoas consigam Quem
população ativa no mercado, porque auto-sustentar-se como proposta mais inventar
sua lógica competitiva globalizada digna de vida. um traba-
se posta avessa completamente. Os Ao mesmo tempo, há que alargar lhador crí-
empregos escasseiam. Trabalhar mal os horizontes positivos do trabalho, tico, mas não
vai se tornando a tônica, em especial em especial do trabalho imaterial. autocrítico.
para a multidão desqualificada. Pleno Embora as idéias de Gorz (2005)60 O trabalho
emprego é balela. Mas é desta balela pareçam, por vezes, mirabolantes, mais profundo
que imensas populações correm atrás. sinalizam outros questionamentos do ser humano é

B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006. 15


a habilidade de fazer-se sujeito Paulo : Atlas, 2002. Médicas, 1997; MATURANA, H. Cognição,
de história própria, construir sua ciência e vida cotidiana. Org. de C.
8SCHRÖDINGER, E. O que é vida? O aspecto Magro e V. Paredes. Belo Horizonte : Ed.
autonomia relativa, arquitetar mundos físico da célula viva. São Paulo: Ed. Unesp, Humanitas/UFMG, 2001.
alternativos. Formar-se é seu trabalho. 1997; DAVIES, P. The fifth miracle: the
Não cessa nunca, a não ser quando search for the origin and meaning of life. 24DEMO, P. Metodologia científica em
cessamos de vez. É vício capitalista New York : Simon & Schuster, 1999. ciências sociais. São Paulo : Atlas, 1995.
reduzir trabalho à expressão produtiva 9O’CONNOR, A. Poverty knowledge: social 25VARELA, F. J., THOMPSON, E.; ROSCH, E.
mercantilizada, desprezando todas science, social policy, and the poor in The embodied mind: cognitive science and
as outras dimensões infinitas das twentieth-century U.S. History. Princeton: human experience. Massachusetts: The MIT
expressões de desenvolvimento. Princeton University Press, 2001; GOODE, Press, Cambridge, 1997.
Não trabalhar também é trabalho, J.; MASKOVSKY, J. 2001. The new poverty
studies: the ethnography of power, politics, 26DEMO, P. Ser professor é cuidar que o
porque o corpo, quando descansa, and impoverished people in the United aluno aprenda. Porto Alegre : Mediação,
trabalha para se manter. O corpo States. New York : New York University 2004.
não é massa inerte que, por vezes, Press, 2001.
27Id. Educação e trabalho: uma tentativa
intermitentemente, trabalha. Sendo 10NEGRI, A.; HARDT, M. (2004) op. cit. de ver o trabalho com bons olhos. Editora
uma entidade energética incessante, Companhia, 1999. Disponível em: <www.
trabalha como condição de existência. 11Id. ibid., p. 9. cultvox.com.br>.
Por isso, trabalhar pode ser prazer.
12Id. 28Id.
Essa imagem forte do trabalho ibid., p. 10. Complexidade e aprendizagem: a
formativo, criativo, disruptivo pode dinâmica não linear do conhecimento. São
13MATIAS, E. F. P. A humanidade e suas Paulo : Atlas, 2002.
ser visualizada na evolução em geral fronteiras: do Estado soberano à sociedade
silenciosa, por vezes explosiva, da global. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 2005. 29WAAL, Frans de. Chimpanzee politics:
natureza. Criativa ao extremo em power and sex among apes. Baltimore:
14NEGRI, A.; HARDT, M. (2004) op. cit., p. 16. The John Hopkins University Press,
sua biodiversidade, até à geração do
2000; BOEHM, C. Hierarchy in the forest:
ser humano, trabalha em silêncio, 15DEMO, P. Éticas multiculturais: sobre the evolution of egalitarian behavior.
trabalha explodindo, não cessa de convivência humana possível. Petrópolis, Massachusetts : Harvard University Press,
trabalhar. Trabalho, usando expressão RJ : Vozes, 2005. 1999.
de Prigogine (1996)62, é a dialética
16ALTHUSSER, L.; BALIBAR, E. Para leer 30DEMO, P. (2005) op. cit.
da natureza. Também é do ser
el capital. México : Siglo XXI, 1970;
humano. ALTHUSSER, L. La revolución teórica de 31NEGRI, A ; HARDT, M. (2004) op. cit.
Marx. México : Siglo XXI, 1971.
32 BURKE, P. Uma história social do
17DEMO, P. Participação é conquista: noções
NOTAS: conhecimento: de Gutenberg a Diderot.
de política social participativa. São Paulo : Rio de Janeiro : Zahar, 2003.
1WEBER, Cortez, 1985.
M. Ética protestante e o espírito 33SHATTUCK, R. Forbidden knowledge:
do capitalismo. São Paulo : Cia das Letras, 18NEGRI, A.; HARDT, M. (2004) op. cit., from Prometheus to pornography. New
2004.
p. 24. York : St. Martin’s Press, 1996; RESCHER, N.
2GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e Forbidden knowledge: and other essays
19MÉSZÁROS, I. Para além do capital. São of the philosophy of cognition Dordrecht:
capital. São Paulo : Annablume, 2005.
Paulo : Boitempo, 2002. D. Reidl Publisher Co., 1987. (Episteme,
3NEGRI, v. 13).
A.; HARDT, M. O trabalho de 20CASTELLS, M. The rise of the network
Dionísio: para a crítica ao Estado pós- 34DEMO,
society: the information age – economy, P. Argumento de autoridade X
moderno. Juiz de Fora : UFJF, 2004.
society and culture. Oxford: Blackwell, autoridade do argumento. Rio de Janeiro:
4ANTUNES, 1997. v. 1. Tempo Brasileiro, 2005a.
R. Os sentidos do trabalho:
ensaio sobre a afirmação e a negação do 21LEWIS, 35GORZ,
M. The new new thing: a silicon A. (2005) op. cit., p. 9.
trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial,
valley story. New York : W.W. Norton &
2000: Id. O caracol e sua concha: ensaios 36Id.
Company, 2000; SCHILLER, D. Digital ibid.
sobre a nova morfologia do trabalho. São
capitalism: networking the global market
Paulo : Boitempo Editorial, 2005. 37DEMO,
system. Massachusetts: The MIT Press, P. (2000a) op. cit.; Id. (2005a) op. cit.
5Veja 2000.
texto eletrônico: www.cultvox.com. 38GORZ, A. (2005) op. cit., p. 10.
br – Demo, P. Educação e trabalho: uma 22 KURZ, R. O colapso da modernização: da
tentativa de ver o trabalho com bons olhos, 39Id.
derrocada do socialismo de caserna à crise ibid.
Editora Companhia.
da economia mundial. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1996. 40Id. ibid., p. 11.
6DEMO, P. Metodologia do conhecimento
científico. São Paulo : Atlas, 2000. p. 13 ss. 23 MATURANA 41Id.
R., H; VARELA G.F.J. De ibid., p. 12.
7Id. máquinas e seres vivos: autopoiese – a
Complexidade e aprendizagem: a 42Id.
organização do vivo. Porto Alegre : Artes ibid.
dinâmica não linear do conhecimento. São

16 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


dinâmica desconstrutiva e reconstrutiva,
43SILVA,T. T. Nunca fomos humanos. Belo detendo também a propriedade do saber
Horizonte : Autêntica, 2001; Id. Antropologia pensar de cariz semântico, intransmissível,
do Ciborgue: as vertigens do pós-humano. irreprodutível. DEMO, P. (2005a), op. cit. RESUMEN
Belo Horizonte : Autêntica, 2002.
50GORZ, A. (2005) op. cit., p. 53.
44HAYLES, N.K. How We became posthuman: Pedro Demo. Trabajo: ¡sen-
virtual bodies in cybernetics, literature, and 51UNDP. Human Development Report. New
tido de la vida!
informatics. Chicago : University of Chicago York : UN, 2005.
Press, 1999.
52DEMO, P. Pobreza da pobreza. Petrópolis,
Este texto discute la importan-
RJ : Vozes, 2003. cia del trabajo en la vida de las
45ARONOWITZ, S. The knowledge factory: personas, considerando que se
dismantling the corporate university and 53Id. Sociologia da educação: sociedade e suas
trata de una controversia in-
creating true higher learning. Boston : Beacon oportunidades. Brasília : Plano, 2004a.
Press, 2000; SANTOS, Laymert G. Politizar as terminable. Contrariamente
novas tecnologias: o impacto sócio-técnico 54IOSCHPE, G. A ignorância custa um mundo: a lo que se supone, el trabajo
da informação digital e genética. São Paulo o valor da educação no desenvolvimento do no es una categoría social
: Editora 34, 2003. Brasil. São Paulo : Francis, 2004. en retroceso. En el contexto
46GORZ, A. (2005) op. cit., p. 16. 55SELIGMAN, M.E.P. Authentic happiness: de una sociedad en la cual
using the new positive psychology to realize el conocimiento es intensivo
47Expressão encontrada nos Grundrisse. MARX, your potential for lasting fulfillment. New (plusvalía relativa) y que re-
K. (1953) op.cit., p. 593. York : Free Press, 2002.
basa aquella otra, antigua, del
48MARX, K. (1953) op. cit., p. 592. Gorz 56CASTEL, R. As metamorfoses da questão trabajo predominantemente
interpreta passagens surpreendentes dos social: uma crônica do salário. Petrópolis, manual (plusvalía absoluta),
Grundrisse: “‘O trabalho imediato e sua RJ : Vozes, 1998. pareciera que ya se trabaja
quantidade não mais aparecem como
o principal determinante da produção’, 57HUWS, U. The Making of a cybertariat:
menos, cada vez menos. Pero
mas então apenas ‘como um momento virtual work in a real world. New York : eso sólo tiene validad en un
indispensável, porém subalterno em relação Monthly Review, 2003. cierto sentido, con relación
à atividade científica geral’ (p. 587 dos al trabajo más noble. Para
Grundrisse). O ‘processo de produção’ 58ANTUNES, R. (2005) op. cit., p. 18.
não poderá mais ser confundido com um
la gran mayoría de la po-
‘processo de trabalho’. É interessante notar 59Id, ibid., p. 19. blación, trabajar es un fatal
a hesitação na terminologia marxiana. desiderátum y tanto es así que
Trata-se tanto do ‘nível geral da ciência’ 60GORZ, A. (2005) op. cit. más tiempo hubiera, más se
(der allgemeine Stand der Wissenschaft),
quanto dos ‘conhecimentos gerais da 61COLLINS, H. ; PINCH, T. O Golem: o que trabajaría y eso, por lo general,
sociedade’ (das allgemeine gesellschaftliche você deveria saber sobre ciência. São Paulo: únicamente para sobrevivir. El
Wissen, knowledge) (p. 594 dos Grundrisse); Ed. Unesp, 2003; GANDELMAN, M. Poder trabajo no es el sentido de la
ora se trata do general intellect, ora das e conhecimento na economia global: vida, pero es parte de ella. Por
‘potencialidades gerais do cérebro humano’ o regime internacional da propriedade
(die allgemeinen Mächte des menschlichen intelectual: da sua formação às regras de eso sigue siendo fundamental
Kopfes), ora da ‘formação artística, científica, comércio atuais. Rio de Janeiro : Civilização tomar en cuenta que – como
etc.’, que o indivíduo poderá adquirir graças Brasileira, 2004. decía Marx – una vida enaje-
ao ‘acréscimo do tempo livre’, e que ‘retroage
62PRIGOGINE, nada es una vida de trabajo
sobre a força produtiva do trabalho’. O I. O fim das certezas: tempo,
que faz a liberação do tempo ‘para o pleno caos e as leis da natureza. São Paulo : Ed. enajenado.
desenvolvimento do indivíduo’ pode ser Unesp, 1996.
considerada, ‘do ponto de vista do processo Palabras clave: Trabajo;
de produção imediata, como produção de
capital fixo, esse capital fixo being man
Trabajo inmaterial; Cono-
himself’ (p. 599 do Grundrisse). A idéia de cimiento; Valor; Concepto;
‘capital humano’ se encontra, pois, já nos Autorrealización; Teoría
manuscritos de 1857-1858. GORZ, A. (2005) política.
op. cit., p. 16-17.

49Gorz usa “conhecimento” na acepção do


saber de estilo científico formalizado,
lógico, seqüencial, capaz de ser armazenado
em computador dentro da lógica digital.
Nesta acepção, talvez o conceito mais
apropriado seria o de “informação”, na
condição de conhecimento congelado,
cristalizado, apanhado em sua estrutura
sintática reprodutiva. Conhecimento, em
sua potencialidade disruptiva, é uma

B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006. 17

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