Arede 027

Apresenta
A Rede
Novela de:
Evana Ribeiro
CAPÍTULO 27
Obra licenciada pela Creative Commons Brasil. Você pode copiar,

distribuir, exibir e executar; sob as seguintes condições:
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especificada pelo autor ou licenciante;
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finalidades comerciais;
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nesta.
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TV DESTINO . A REDE . CAPITULO 27 2
CENA 01 – SHOPPING/PAVILHÃO DE EVENTOS – INT – TARDE

Continuação imediata da cena final do capítulo
anterior. Felícia e Walter continuam deitados um sobre o
outro. Os lábios se tocam levemente. Felícia começa a se
mexer, tentando sair.
FELÍCIA – Eu... Eu vou continuar trabalhando.
Walter deixa que Felícia saia e ela se afasta

correndo. Walter continua sentado na cama, um pouco
perturbado. Sonoplastia: Pode ser – Pedro Mariano.
Corta para Felícia, que anda a passos muito rápidos,
atordoada. Não sabe se ri ou chora. Ela pára de andar, se
apóia em uma coluna e respira fundo, de olhos fechados.
CORTA PARA
CENA 02 – SHOPPING/ESTACIONAMENTO – EXT – TARDE

O movimento de entrada e saída de veículos continua
intenso. Bruno, o dono do blog de fofocas, está encostado
em um carro qualquer. Guarda a câmera digital em uma
mochila e tira dela o celular. Liga para Geysa e espera a
chamada ser completada.
BRUNO – Alô, Geysa, sou eu. (pausa) Dá pra eu ir

te ver aí na sua casa daqui a pouco? Tenho uma
coisinha pra te mostrar. (pausa) Chego em meia
hora. Beijo.
Bruno desliga o telefone e o guarda na mochila. Vai

andando despreocupado por entre os carros até chegar ao
ponto de ônibus, que está cheio.
CORTA PARA
CENA 03
Tomada do bairro da Torre. Transição tarde-noite.
Sonoplastia: Bob – Otto.
CORTA PARA
CENA 04 – AP. DE GEYSA/SALA – INT – NOITE

Geysa está sozinha na sala, vendo televisão. A
campainha toca e ela vai abrir. É Bruno.
GEYSA – Opa, vai entrando!
BRUNO – Desculpa a demora aí, mas o ônibus

demorou, passaram uns três lotados...
GEYSA – Tá bom, não precisa de tanta

explicação... Diz aí, o que tem pra me mostrar?
BRUNO – Deixa eu sentar aí que já te mostro.
GEYSA – À vontade... Só não coloca os pés no

sofá, minha mãe odeia.
Bruno senta no sofá de dois lugares e Geysa se move

para perto dele enquanto ele tira a câmera digital do bolso
e a liga. Dá alguns comandos e mostra a máquina a Geysa.
BRUNO – Dá uma olhada nisso aqui. Com quem se

parece esse cara?
GEYSA – Assim, de longe, parece o... Professor

Walter.
BRUNO – Não parece, é o próprio.
GEYSA – Onde foi que você viu isso?
BRUNO – Juro que eu não tava procurando, tava lá

no shopping, naquela feira de decoração não sei
das quantas com a minha mãe e ele tava lá, no
maior climão com essa outra moça que eu não sei
quem é.
GEYSA (olha de novo a foto no visor) – Não é a

senhora Tavares. Não mesmo...
BRUNO – Então quer dizer que como eu suspeitava,

ele tava pulando a cerca em público? Essa vai ser
boa pro blog...
GEYSA – Opa, peraí. (pausa) Esqueci de te falar,

mas é melhor esquecer essa história, pelo menos
por enquanto. A Helena veio pra cima de mim
depois daquela historinha... Mais uma daquelas e
estamos todos encrencados, tá ligado?
BRUNO – Tu delatou a gente?
GEYSA – Não citei nome de ninguém. Mas com ou sem

mim, não é nada difícil de chegar no responsável
pelas fofocas, então é melhor sair de circulação
um pouco, tá legal? Pelo menos até todo mundo
esquecer.
BRUNO – Tá bom, mas essa aqui vai ficar guardada

pra primeira oportunidade.
GEYSA – Tá bom. (pausa) E vê se arranja um

equipamento melhorzinho, né? Um paparazzo não
andaria com uma câmera tão fuleira.
BRUNO – Me arranja uma!
GEYSA – Tá achando que eu vou resolver todos os

seus problemas? Espera sentado que o máximo que
você consegue é um cafezinho e um pedaço de bolo.
Quer?
BRUNO – O café eu aceito.
GEYSA – Vai buscar. A garrafa tá em cima da mesa.
BRUNO – Mas...
GEYSA – Deixa de cerimônia e vai lá!
Bruno levanta do sofá, contra a vontade, e vai á

cozinha.
CORTA PARA
CENA 05 – SHOPPING CENTER/PAVILHÃO DE EVENTOS – INT – NOITE

Danilo está no stand do antiquário. Beth passa por
ele, sem vê-lo.
DANILO – Beth!
Ela se vira para olhar.

DANILO (faz sinal para que ela se aproxime) – Vem

aqui.
BETH – O que você quer?
DANILO – Nada, só bater um papinho. Se não se

importa, é claro.
BETH – Eu ia atrás do Walter pra gente ir embora.
DANILO – Sabe que eu gosto muito de você, apesar

de você me odiar?
BETH – É? Que coisa!
DANILO – Tu não merece, mas eu te amo.
BETH – Pena que a recíproca não é verdadeira... É

o seu irmão que eu quero pra mim, e já tenho.
DANILO – Cuidado pra não perder por aí.
BETH – Como?
DANILO – Eu só tô te dando um toque pra você

tomar cuidado com o seu casamento. Apesar de você
achar que eu quero ver vocês dois separados, eu
penso nos meus sobrinhos, no meu irmão, em
você... Enfim, na família toda. E...
BETH – Tá, já entendi! E fique sabendo que não

preciso de conselho de ninguém, muito menos seu.
Sei muito bem do que meu casamento precisa.
Beth sai apressada.
DANILO – Sim, senhora! Espero que saiba mesmo...
Danilo começa a conversar com outras pessoas, fora de

áudio. Sonoplastia: Sujeito de sorte – Belchior.
CORTA PARA
CENA 06
Tomada aérea de Canhotinho.
CORTA PARA
CENA 07 – LAN HOUSE – INT – NOITE

O lugar é basicamente freqüentado por adolescentes do
sexo masculino. Há apenas uma ou duas meninas e Ed é o
único cliente adulto. Ele lê um jornal virtual.
ED (off) – Engraçado... Aqui todo mundo tem a

informação fácil e mesmo assim continua tão
ignorante, tão inocente...
Ed dá uma olhada de relance para o computador vizinho.

Está aberto em uma página do Minerva.net, um álbum de fotos
de uma garota em diversas poses. Dois garotos observam as
fotos e fazem comentários em voz baixa.
ED (baixinho) – Gosto disso.
Ele se volta para seu computador e lê a notícia com o

seguinte título “‘Minerva.net tem potencial para ser
investimento milionário, diz presidência da Bubble’”. Ele
fica lendo em silêncio, com ar de interesse. Sonoplastia:

Pnevmatika.
CORTA PARA
CENA 08
Tomada do trânsito de Recife à noite.
CORTA PARA
CENA 09 – CARRO DE WALTER – INT – NOITE

Walter dirige rumo á casa. Ele está um pouco
distraído, apesar de manter os olhos fixos na rua.
WALTER – Vocês se divertiram?
JÉSSICA – Um monte! Aqueles computadores pra

montar a casa foram a melhor parte.
BETH – Vocês praticamente não arredaram o pé de

lá...
JÚNIOR – É mais legal que The Sims, mãe.
BETH – Meus amores, fiquei na mesma. (pausa) E

você, Walter, se divertiu?
WALTER – Deu pra ver umas coisas legais por aí.
Walter freia bruscamente, quase atingindo um carro a

sua frente.
BETH – Walter, o que é isso?

WALTER – Calma, eu só me distraí um pouco.
Beth olha para Walter, assustada. Ele retoma o

caminho.
CORTA PARA
CENA 10 – RUA – EXT – NOITE

Um táxi estaciona na frente do prédio de Catarina.
Teresa desce dele e em vez de entrar no prédio, vai a uma
banca de revistas próxima dali. Frederico chega por trás
dela.
FREDERICO – Maria Teresa?
Teresa se vira e olha para Frederico, sem surpresa.
FREDERICO – Até parece que estava me esperando.

Nem ficou surpresa, né? (aperta uma das bochechas
de Teresa)
TERESA – Não... É que o senhor é o único que me

chama pelos dois nomes, né? Tá fazendo o que por
aqui?
FREDERICO – Vim falar com você. Fiquei aqui

esperando por horas!
TERESA – Então manda logo o que é.
FREDERICO – Já que você quer, vou ser bem curto e

grosso. (pausa) Quero dinheiro.
TERESA – Hã? Repete que eu acho que não captei

bem...
FREDERICO – É isso, eu tô precisando de grana. E

como você voltou dos Estados Unidos há pouco
tempo, deve ter algumas verdinhas pra emprestar
ao seu querido papai.
TERESA – Emprestar a Deus, só se for.
FREDERICO – Vamos, Teresa, não se faça de

difícil. Tô precisando do dinheiro e você com
certeza tem.
Teresa fica calada por um instante, olhando o pai,

muito séria.
TERESA – É, tem razão. Eu estou rica. (pausa)

Muito rica. Riquíssima!
Frederico sorri. Teresa abre a bolsa e tira sua

carteira. Dela retira um papel, que não dá para identificar
a princípio.
TERESA – Rica de saúde, rica de amor... Olha só.

(mostra o retrato de Maria, Olga e Irina com ela)
Esse aqui é o meu tesouro. As filhas que Deus me
confiou.
Frederico volta a ficar sério. Depois dá uma sonora

gargalhada.
FREDERICO – Ah, Maria Teresa, você só pode estar

brincando!
TERESA – Não, é sério. Não tenho nem meio centavo

de dólar que possa chamar de meu. Tá satisfeito
agora que sabe a verdade? Que a sua ‘amada filha
única’ continua tão lisa quanto sempre foi? Posso
subir agora?
FREDERICO – Não. Antes eu só quero dizer mais uma

coisa. (pausa) Eu sempre achei que você foi o
maior fracasso da minha vida. Uma perfeita
incompetente. Nem pra casar com um americano rico
serviu! O que você fez com essa beleza toda? (a
aperta violentamente e a puxa contra si) Vários
homens dariam milhões pra se deitar com você,
garota. Eu daria, se tivesse esse dinheiro. Mas
em vez de usar esse corpo que a natureza te
deu... Que eu fiz... (percorre o corpo de Teresa
com uma das mãos, o olhar ligeiramente malicioso)
Fica aí, fazendo desenhos ridículos que não vão
te levar a porcaria de lugar nenhum. (pausa) Você
é uma fracassada... O único talento que tem é o
mesmo que têm todas as outras mulheres que já
tive. Use-o se quiser ter algo!
Até este momento, Teresa permanece parada como uma

estátua, olhando fixamente para Frederico sem esboçar
qualquer reação. Ele a solta.
FREDERICO – Agora sim, vou embora satisfeito.
Sonoplastia: Confessions of a broken heart (daughter

to father) – Lindsay Lohan.
Frederico dá as costas e vai embora. Teresa continua
paralisada, como se estivesse em estado de choque.
CORTA PARA
CENA 11 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – NOITE

Sonoplastia: música continua.
Catarina e Joyce estudam. Teresa entra repentinamente,
com lágrimas nos olhos.
JOYCE – Teresa, tá tudo bem?
Teresa não responde e sai correndo.
JOYCE – Meu Deus... O que foi que eu fiz?
CATARINA – Eu vou lá atrás dela.
Catarina sai.
CORTA PARA
CENA 12 – AP. DE CATARINA/QUARTO – INT – NOITE
Teresa fecha a porta do quarto, se joga na cama e
começa a chorar convulsivamente. Catarina entra logo depois
e se aproxima dela.
CATARINA – Ei, o que foi, menina? O encontro deu

errado?
Teresa não consegue falar.
CATARINA – Calma, Teresa, tenta ficar calma.
Catarina abraça Teresa, que não pára de chorar.
CORTA PARA
CENA 12
Tomada da casa de Emílio.
CORTA PARA
CENA 13 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MICK – INT – NOITE

Mick está jogando no computador. Depois de um tempo
jogando, pára e vai acessar o Minerva.net. Na primeira
página aparecem os novos usuários, e entre eles, uma foto
de Teresa. Ele se espanta ao ver a foto.
MICK – Não acredito! Não pode ser a mesma

pessoa...
Ele clica sobre a foto de Teresa e acessa o perfil. Lê

todas as informações e sorri.
MICK – É ela mesma, Teresa! (pausa) E tá

solteira! Será que ela ainda lembra de mim?
Mick começa a escrever uma mensagem para Teresa.
CORTA PARA
CENA 14 – CASA DE IAN/QUARTO DE ELISSA – INT – NOITE

Elissa acaba de sair do banho e passa hidratante pelo
corpo. Joséphine entra.
JOSÉPHINE – Elissinha?
ELISSA – Oi, mãe.

JOSÉPHINE – Nossa, que cara é essa? Pobrezinha...

Brigou com o namoradinho?
ELISSA – Não, é pior. Nem o vi hoje. (pausa) Será

que ele tá me chifrando com aquela tal de Felícia
ou com outra ‘zinha’ lá do jornal? Ele nem
trabalhou hoje, por que não me ligou ainda?
JOSÉPHINE – Como você sabe que ele não trabalhou

hoje se nem se falaram?
ELISSA – Porque eu tratei de inventar uma

história pra evitar que ele fosse trabalhar.
JOSÉPHINE – Menina, e se ele descobre?
ELISSA – Eu dou um jeito.
JOSÉPHINE – Agora eu dou razão pro seu pai. Tem

que ir trabalhar!
ELISSA (irritada) – Vai começar também, é?
JOSÉPHINE – Elissa, você é esperta, pense aqui

com a mamãe. (pausa) Jogando na defesa você não
vai conseguir lá grandes progressos. Tem que
colar no moço. Vá trabalhar no jornal! Aí eu
quero ver qual é a ‘zinha’ que vai dar em cima
dele.
Elissa fica um tempo calada, pensando.
ELISSA – É, tem razão. Trabalhando junto fica

mais fácil de ele se apegar a mim!
JOSÉPHINE – Muito bom!
ELISSA – Papai tá na sala? Vou lá falar com ele.
JOSÉPHINE – Vai...
Elissa veste o robe e sai correndo.
CORTA PARA
CENA 15 – CASA DE IAN/SALA – INT – NOITE

Ian assiste a um documentário na televisão. Elissa
entra correndo e senta ao lado dele.
ELISSA (meiga) – Papai, podemos conversar um

pouquinho?
IAN – Sim, claro. O que quer?
ELISSA – Ainda tem vaga pra fotógrafa lá no

jornal?
IAN – Pra quem?
ELISSA – Pra mim, ora essa! O senhor não vivia

dizendo que eu tinha que trabalhar pra ocupar
minha mente? Então, agora eu quero trabalhar!
IAN – Meu Deus, é um milagre acontecendo! Esse

seu namoro te transformou mesmo, né?
ELISSA – Se transformou! (pausa) Então, posso

trabalhar ou não?
IAN – Claro que pode, meu amor! Amanhã mesmo, se

estiver disposta.
ELISSA – Iupi! Prometo que não vou decepcionar o

senhor, papi!
Elissa dá um beijo em Ian e volta correndo e pulando

para o quarto. Ian fica rindo enquanto vê televisão.
Sonoplastia: História de amor – Francis Hime.
IAN – Ah, essa Elissa é uma figura!
CORTA PARA

Catarina está na sala, vendo televisão. Joyce vem da
cozinha trazendo dois copos de suco. Teresa entra logo
depois, vinda do quarto. Está menos abatida, embora os
olhos ainda estejam um pouco inchados pelo tempo que passou
chorando.
JOYCE – Teresa, tá melhor?
TERESA – Tô.
CATARINA – Se não quiser responder, não precisa,

mas... Por que você tava chorando mesmo?
TERESA – Tava chorando de raiva do meu pai. A

gente nunca se deu bem, sabe? Mas eu fui educada
sob os princípios de honrar pai e mãe, aí
enfiaram um treco chamado ‘consideração filial’
na minha consciência e acho que não sai mais,

sabe?
JOYCE – Que coisa...
TERESA – Se eu fosse filha do Walter, talvez

fosse mais feliz... Até porque apesar de ser só
meu meio irmão e a gente ter convivido muito
pouco quando eu era criancinha, ele foi muito
mais meu pai do que o fornecedor do
espermatozóide feliz lá. (pausa) Ah, esqueçam,
acabou o momento órfã de pai vivo. Vou dar uma
navegadinha que é melhor.
Teresa vai até onde está o laptop e o liga. Joyce e

Catarina ficam bebendo o suco.
CATARINA – A Felícia tá demorando, hein? Será que

aconteceu alguma coisa?
JOYCE – Não deve ter sido nada. Esse povo de

jornal deve virar a madruga trabalhando de vez em
quando, né?
CATARINA – É... Mas eu fico preocupada com ela aí

pela noite. Do jeito que essa cidade tá...
JOYCE – Calma, Cacá, deixa pra ela se preocupar

com você, tá bom?
A campainha toca. Catarina vai abrir e é Felícia.
FELÍCIA – Esqueci minha chave na bolsa da Tetê,

acreditam?
CATARINA – Ô, cabecinha... E como foi lá na

feira, e na redação?
FELÍCIA – Depois eu conto tudo, com detalhes.

Agora tô precisando muito de um banho, tô
moída...
CATARINA – Vai lá.
Felícia vai para o banheiro e Catarina volta para o

sofá.
CORTA PARA
CENA 17
Tomada do prédio de Walter.
CORTA PARA
CENA 18 – AP. DE WALTER/QUARTO – INT – NOITE

Sonoplastia: Pode ser – Pedro Mariano.
Walter está deitado na cama, sozinho, muito pensativo.
Entra o flashback da cena final do capítulo anterior
mais a primeira deste capítulo.
O flashback termina, mostrando Walter sorridente. Beth
entra no quarto. Ela tira o robe e vai para a cama.
BETH – Sabe, Walter, o teu irmão veio com um papo

super esquisito pro meu lado hoje. Ele disse pra
eu tomar cuidado com o nosso casamento. (pausa)
Ele tá sabendo de algo que eu não sei? Se for,
fala logo.
Walter não responde, está aéreo.
BETH – Walter, tô falando com você. Responde!

(ela dá uns tapas no rosto dele)
WALTER – O que foi?
BETH – Só assim pra me responder, né?
WALTER – Nem vi que você tinha entrado.
BETH – Percebi! Anda pensando em quê? Ou seria

melhor perguntar... Em quem?
WALTER – Hã?
BETH – Você tá pensando em outra mulher, né? Por

isso que o Danilo me disse pra tomar cuidado, não
foi? Diz logo quem é a vadia!
WALTER – Do que você tá falando?
BETH – É a Helena, não é? Ela sempre deu em cima

de você, tava na cara que um dia você ia sucumbir
aos encantos dela. Trabalham no mesmo lugar, se
vêem todo dia, têm interesses comuns... Era quase
óbvio que você fosse se apaixonar por ela um dia!
Aquela oferecida roubou você de mim...
WALTER (irritado, levanta o tom de voz) – Cala a

boca, Beth! Já chega, eu quero descansar e você
fica com essa conversa, indo e voltando, indo e
voltando... Pra mim já chega! (pausa) Eu não sei
o que foi que o Danilo te falou, mas eu vou te
dizer uma coisa muito séria. Tô cansado de você e

suas desconfianças. Eu não vou te dar mais
nenhuma explicação porque é a mesma que eu já tô
cansado de dar, não vou repetir.
BETH – Mas...
WALTER – Espera que eu ainda não acabei. (pausa)

Do jeito que a nossa vida tá, eu não vejo outra
solução a não ser o divórcio.
BETH (chocada) – Divórcio?
Eles ficam em silêncio por um instante. Sonoplastia:

tensão. Beth levanta da cama, dá alguns passos para trás,
seu rosto demonstra o quanto está perturbada com o que
acaba de ouvir.
BETH – Não, divórcio não. Tudo menos isso, eu não

quero divórcio, Walter, pensa nos nossos filhos,
na vida que a gente construiu junto, a nossa
família... Eu não posso viver sem você, eu não
quero viver sem você, eu preciso do nosso
casamento pra viver, entende? (pausa) Eu não sei
o que vou fazer sem você do meu lado! (grita) Eu
não sei!
WALTER – Pára, Beth, fica quieta!
BETH – Os teus irmãos querem me ver bem longe

daqui, eu sei. Mas eu não vou dar esse gostinho
pra eles. Eles não vão estragar a nossa
felicidade, não vão.
WALTER – Que felicidade, mulher? (pausa) Nós não

somos felizes.
BETH – Eu sou! Eu sou feliz porque tenho você,

porque eu te amo, porque tenho dois filhos
maravilhosos... Você é minha felicidade, Walter,
você!
WALTER – Já chega, Beth. Já chega. Eu quero

dormir!
BETH – Antes diga que você também me ama.
Walter fica calado.
BETH – Diz que me ama! Diz logo!
WALTER – Boa noite, Beth.
Walter pega o travesseiro e sai. Beth fica parada no

meio do quarto, desorientada.
BETH – Meu Deus, me diz... O que eu fiz de

errado? Eu ocultei todos os meus erros pra esse
homem não me largar e agora ele não liga mais pra
mim. O que foi que eu fiz? (pausa) Deus, não me
deixa perder a minha vida, não deixa...
Beth ajoelha no chão e depois se deita, ficando em

posição fetal. Logo começa a chorar. Sonoplastia: Falta de
Ar - Joyce.
CORTA PARA
CENA 19 – AP. DE WALTER/SALA – INT – NOITE

O cômodo está iluminado por luz baixa. Walter está
deitado no sofá, mas não dorme. Está com o mesmo ar
pensativo da cena anterior, mas agora um pouco mais triste.
WALTER – O que tá acontecendo com a minha vida,

hein? Eu amava a Beth e agora ela é completamente
estranha pra mim. Depois aparece a Felícia e mexe
comigo de um jeito que... Não, acho que não amo
mais ninguém.
Walter fica calado, pensando.

Entra outra vez a mesma cena em flashback.
Sonoplastia: Pode ser – Pedro Mariano.
CORTA PARA
CENA 20 – AP. DE CATARINA/BANHEIRO – INT – NOITE

Felícia está no banho, de olhos fechados, deixando a
água correr. Ela também pensa na mesma cena e sorri. Leva
os dedos delicadamente aos lábios. Fica assim por alguns
instantes até ouvir um grito de Teresa, em off. A música
cessa no mesmo instante. Quando ouve o grito, Felícia
desliga o chuveiro imediatamente, abre o box, pega uma
toalha, se enrola e sai correndo.
CORTA PARA

Felícia entra correndo na sala e quase escorrega, mas
se apóia na parede.
FELÍCIA – O que aconteceu? Alguém se machucou

aqui?
TERESA – Felícia... Ele falou comigo!
FELÍCIA – Ele quem?
JOYCE – Adivinha...
TERESA – Ele, Felícia... Mick acabou de me deixar

um recado! Meu Deus, ele é tão fofo... Preciso
vê-lo, preciso!
FELÍCIA – Esse escândalo todo foi só por isso?
TERESA – Ai, desculpa, não deu pra segurar... Mas

é a coisa mais feliz que podia ter me acontecido
hoje!
FELÍCIA – Bom, agora que já vi a prova viva de

que felicidade existe, vou voltar pro meu banho.
Felícia não se move. As outras garotas ficam olhando

para ela.
JOYCE – Felícia?
FELÍCIA – Oi?
JOYCE – Pra onde você disse que tava indo mesmo?
FELÍCIA – Disse que ia terminar de tomar banho.
CATARINA – E por que não foi ainda?
FELÍCIA – Eita, é...

Felícia vai saindo. Teresa corre até ela e a faz

parar.
TERESA – Espera um pouco deixa eu te ver. (se

detém por alguns instantes ‘examinando’ Felícia)
Aham... Como eu suspeitava.
FELÍCIA – Suspeitava do quê, criatura?
TERESA – Paixonite detected! O amor reina nesse

lugar, minha gente!
JOYCE – E só agora que você notou? (risos)
FELÍCIA – Que besteira!
TERESA – Besteira nada, é muito importante. Mas

vou deixar a senhorita ia pro seu banho, sonhar à
vontade... Só não desperdice água, tá bom?
Felícia não responde, só ri e volta para o banho.
TERESA – Ê, lelê! Todo mundo apaixonado e feliz!
CATARINA – Ou não!
TERESA – Ops, abafa... Todo mundo apaixonado e

ponto! (pausa) Só tu que não fala de ninguém, né,
Joyce?
CATARINA – É mesmo, Jô. Tu não comenta de nenhum

cara, a gente nunca fica sabendo de nenhuma
paixonite tua... Não tem ninguém!
JOYCE – Quem disse que não tenho ninguém?
TERESA – Então quer dizer que tem, né, danadinha?

E fica aí, escondendo o ouro! Vai, diga aí quem
é.
JOYCE – Chomsky, Saussure, Labov, Marcuschi! Os

homens da minha vida!
CATARINA – Sem graça!
Elas continuam conversando, sem áudio. Sonoplastia:

Mama palavra – João Bosco e Ana Carolina.
CORTA PARA
CENA 22
Tomada de vários locais de Recife. Transição noite-
dia.
CORTA PARA
CENA 23 – ANTIQUÁRIO – INT – DIA

Danilo acaba de abrir a loja, não muito bem humorado.
Teresa chega correndo com Olga e Maria e dá um beijo nele.
TERESA – Bom dia, maninho!
DANILO – Pra você.
TERESA – Credo, isso é jeito de começar o dia?

Põe um sorriso nessa cara e talvez alguém até
entre pra comprar uma besteirinha.
DANILO – Eu tô com essa cara justamente porque eu

abro cedo todo dia e não aparece ninguém pra
comprar nem uma dessas antiguidades que você
chama de besteirinhas!
TERESA – Tá bom, tá bom! Se não quiser que eu dê

uma boa nova, avise logo que eu tenho mais o que
fazer. Vou matricular as meninas no colégio e...
DANILO – Arrasta uma cadeira aí.
Teresa puxa uma cadeira e se senta. Danilo faz o

mesmo, ficando de frente para ela. As crianças ficam
andando pela loja.
DANILO – Qual é a boa nova?
TERESA – Acho que uma certa jornalista está a fim

de você.
DANILO – Jornalista? Quem?
TERESA – Uma dica: é a única jornalista que você

conhece. Outra dica: é minha amiga e mora comigo.
Mais alguma? Porque se quiser, digo que começa
com ‘F’ e...
DANILO – Pode parar, eu não sou tão idiota assim!

(baixinho) Mas isso é sério? Felícia tá a fim de
mim?
TERESA – Bom... A cara de avoada e os suspirinhos

são sintomas de uma pessoa apaixonada, a não ser
que ela seja lesa de nascimento. E tu é meu único

irmão solteiro, deu uma investida massa nela no
dia da festa, que eu vi... Ela deve ter ficado
impressionada com esse poço de atitude que é meu
irmão do meio, né?
DANILO – Caramba... Mas ela disse com todas as

letras?
TERESA – Não, tô indo por dedução mesmo. Quer que

eu faça a frente pra aproximar? Ela é meio
difícil, digo logo.
DANILO – Quero! Quero muito! (pausa) Meu Deus...

Com uma mulher como a Felícia eu até cogitava a
possibilidade de me casar.
TERESA – Olha que eu tô gravando, hein?
Teresa ri. Danilo continua falando, sem áudio.

Sonoplastia: Sujeito de sorte – Belchior.
CORTA PARA
CENA 24 – AP DE CATARINA/SALA – INT – DIA

Felícia está sozinha, brincando com Irina, que está no
carrinho de bebê. Alguns jornais estão espalhados por
perto, como se já tivessem sido lidos. A campainha toca.
Ela vai atender, é Walter com Júnior e Jéssica. No momento
em que se vêem, não falam nada, ficam apenas se olhando.
Sonoplastia: I found a reason – Cat Power. O clima é
quebrado pelas crianças.
JÚNIOR – Oi, Felícia, a tia Tetê tá aí?

FELÍCIA – A... Teresa? Ela...
JÉSSICA – Pode deixar, a gente vai ver lá dentro.
Jéssica e Júnior entram correndo.
WALTER – Ela tá, né?
FELÍCIA – Deu uma saidinha com Maria e Olga, mas

voltam logo.
WALTER – É que hoje os meninos não tiveram aula,

aí insistiram tanto pra passar o dia com a
Tetê... Espero que eles não dêem muito trabalho!
FELÍCIA – Não vão dar trabalho nenhum. E hoje eu

tô de folga, vou adorar passar o dia com eles
também.
Felícia sorri. Walter corresponde.
WALTER – Li sua matéria. Ficou ótima...
FELÍCIA – Ah, obrigada... Só teve um errinho de

nada de digitação, mas passa batido.
WALTER – Passa mesmo, eu nem vi! E olhe que eu

sou um caçador de erro de jornal.
FELÍCIA – Vem ver aqui.

Walter entra enquanto Felícia pega o jornal e começa a

procurar sua matéria. A encontra e mostra para Walter, que
começa a ler em silêncio.
WALTER – Hm... Não tô achando erro nenhum.
Eles se olham, bem perto um do outro. Depois de um

breve instante, acabam se beijando.
FIM DO CAPITULO 27

Arede 027

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CENA 01 – SHOPPING/PAVILHÃO DE EVENTOS – INT – TARDE

FELÍCIA – Eu... Eu vou continuar trabalhando.

Walter deixa que Felícia saia e ela se afasta

CENA 02 – SHOPPING/ESTACIONAMENTO – EXT – TARDE

BRUNO – Alô, Geysa, sou eu. (pausa) Dá pra eu ir

Bruno desliga o telefone e o guarda na mochila. Vai

CENA 04 – AP. DE GEYSA/SALA – INT – NOITE

GEYSA – Opa, vai entrando!

BRUNO – Desculpa a demora aí, mas o ônibus

GEYSA – Tá bom, não precisa de tanta

BRUNO – Deixa eu sentar aí que já te mostro.

GEYSA – À vontade... Só não coloca os pés no

Bruno senta no sofá de dois lugares e Geysa se move

BRUNO – Dá uma olhada nisso aqui. Com quem se

GEYSA – Assim, de longe, parece o... Professor

BRUNO – Não parece, é o próprio.

GEYSA – Onde foi que você viu isso?

BRUNO – Juro que eu não tava procurando, tava lá

GEYSA (olha de novo a foto no visor) – Não é a

BRUNO – Então quer dizer que como eu suspeitava,

GEYSA – Opa, peraí. (pausa) Esqueci de te falar,

BRUNO – Tu delatou a gente?

GEYSA – Não citei nome de ninguém. Mas com ou sem

BRUNO – Tá bom, mas essa aqui vai ficar guardada

GEYSA – Tá bom. (pausa) E vê se arranja um

BRUNO – Me arranja uma!

GEYSA – Tá achando que eu vou resolver todos os

BRUNO – O café eu aceito.

GEYSA – Vai buscar. A garrafa tá em cima da mesa.

GEYSA – Deixa de cerimônia e vai lá!

Bruno levanta do sofá, contra a vontade, e vai á

CENA 05 – SHOPPING CENTER/PAVILHÃO DE EVENTOS – INT – NOITE

Ela se vira para olhar.

DANILO (faz sinal para que ela se aproxime) – Vem

BETH – O que você quer?

DANILO – Nada, só bater um papinho. Se não se

BETH – Eu ia atrás do Walter pra gente ir embora.

DANILO – Sabe que eu gosto muito de você, apesar

BETH – É? Que coisa!

DANILO – Tu não merece, mas eu te amo.

BETH – Pena que a recíproca não é verdadeira... É

DANILO – Cuidado pra não perder por aí.

DANILO – Eu só tô te dando um toque pra você

BETH – Tá, já entendi! E fique sabendo que não

Beth sai apressada.

DANILO – Sim, senhora! Espero que saiba mesmo...

Danilo começa a conversar com outras pessoas, fora de

CENA 07 – LAN HOUSE – INT – NOITE

ED (off) – Engraçado... Aqui todo mundo tem a

Ed dá uma olhada de relance para o computador vizinho.

ED (baixinho) – Gosto disso.

Ele se volta para seu computador e lê a notícia com o

fica lendo em silêncio, com ar de interesse. Sonoplastia:

CENA 09 – CARRO DE WALTER – INT – NOITE

WALTER – Vocês se divertiram?

JÉSSICA – Um monte! Aqueles computadores pra

BETH – Vocês praticamente não arredaram o pé de

JÚNIOR – É mais legal que The Sims, mãe.

BETH – Meus amores, fiquei na mesma. (pausa) E

WALTER – Deu pra ver umas coisas legais por aí.

Walter freia bruscamente, quase atingindo um carro a