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Prefácio
Possuímos amigo leitor, diversos historiadores dentro de nosso estado, outros
estados e até em muito outros países. Uns transformam os jagunços do contestado em
marginais, outros em infelizes miseráveis, e tantos outros, levam os acontecimentos às
suas regiões. Os historiadores não escrevem que, a “Guerra do Século” não é um fato
centralizado numa só cidade ou região.
Simplesmente, foi à rebeldia jagunça contra todo sentido de injustiça, detonado
pelo corrupto poder republicano, onde cada cidade, cada região, se manteve juntas,
unidas nos ideais e pensamento, umas transparentes e outras ocultamente.
Os jagunços do contestado diante desse imenso Brasil foram os únicos que
tiveram a coragem de assumir as suas contrariedades com a política na época. Os fatos
históricos eram para nos encher de orgulho, e envaidecer a alma, mas não meus amigos,
com certeza muitos sentem vergonha de seus antepassados.
O mundo republicano jogou-os há dezenas de anos à beira da marginalidade,
empurrando em nossa garganta abaixo a grande mentira do século. As cidades como,
Curitibanos, Irani, Palmas, Campos Novos, Lebom Régis, Canoinhas, Porto União,
Caçador, Joaçaba, Lages, Santa Cecília, Rio Negro, Mafra, União da Vitória, General
Carneiro e dezenas de outras cidades entre as divisas Rio Grande do Sul, Paraná e
Argentina, foram por décadas discriminadas pelo governo estadual e federal.
As cidades onde nasceu à revolta foram sempre vigiadas de perto pelo poder
federal, chegando ao ponto de serem ceifados os seus direitos políticos estaduais e
federais. O medo do poder republicano era constante e nos ordenaram, assim como gado
em direção a um matadouro, não sendo possível dar asas aos humildes rebeldes porque
tinham receio em querer voar... Com liberdade novamente.
A lição que os jagunços nos deixaram, com certeza foi que, não importa se
você é um cordeiro diante de inúmeros leões, o sentido de liberdade, verdade e justiça
esta acima até da própria morte, porque se você não lutar à frente de tudo isso, já estará
morto por dentro. Nunca deveremos sentir vergonha de nossos Jagunços, mas nos
orgulhar de seus feitos heróicos.
Logicamente os jagunços tiveram muitas falhas e erros, mas se comparar as
inúmeras causas da “Guerra do Século” verá com toda certeza que, foram levados a uma
guerra impossível de vencer, ou que os levaria a seu completo genocídio. Existe uma
antiga filosofia que diz: “Os fins justificam os meios” ou “Não importa quantos
morrerão sem razão, o importante é razão em estar sempre com os vitoriosos” ou
também, “A razão do capitalismo selvagem e o poder neurótico, é sempre jogar na
mentira todos os que se opuserem em seu caminho ambicioso”.
estratégicos do Rio de Janeiro. Convoca todos os poderes na época a lutar por novas
eleições republicanas, sob a ameaça de detonar os seus canhões contra tudo e todos. A
revolta armada força o Presidente Marechal Floriano Peixoto e parlamentares, a
convocarem eleições urgentemente, contendo no ambiente à podridão da manipulação
de conveniência e o cheiro podre de corrupção.
Os Estados Unidos fazem a sua parte no acordo, faltando somente que o poder
republicano do país fazer agora a sua parte. Nesse momento histórico se inicia o maior
de todos os pecados capitais: empresas públicas e empresas privadas que comandavam a
economia são vendidas aos empresários americanos. O país, que já estava naufragado na
completa miséria econômica e social, acaba se transformando praticamente numa sucata
ambulante e quase sem nenhum valor comercial. Os empresários americanos como
sempre, são filantrópicos e humanitários com o resto do mundo, assim como as nuvens
de gafanhotos são com as plantações, firmam um contrato com o poder republicano na
construção de uma ferrovia do estado de São Paulo ao estado do Rio Grande do Sul,
cobrando a simples bagatela de vinte contos de réis por quilômetro construído, depois
reajustado por quarenta contos de réis, além de terem a posse de quinze quilômetros em
ambos os lados da ferrovia, onde poderiam explorar todos os recursos naturais e povoar
com emigrantes europeus.
Só que o governo republicano brasileiro se esquece que, dentro dos limites da
ferrovia construída, e nesses trinta quilômetros, já moravam famílias que herdaram as
propriedades de seus antepassados, pela própria lei natural e verdadeira eram os donos,
não precisando de nenhum papel para provar que aquelas terras eram suas.
Na época da construção, chegam uma autoridade do governo, representante do
grupo Farquhar e os seus pistoleiros, dizendo que a terra onde nasceu o seu bisavô, seu
avô, seu pai, ele e todos os seus filhos não era mais sua, porque tinham comprado do
governo e teria de sair das terras, porque já tinham vendido aos emigrantes estrangeiros.
Caros leitores imaginem só como fica a cabeça de um simples caboclo, nascido
e criado no sertão brasileiro. Com toda certeza, deixaria qualquer um que não tem
sangue de barata, furioso e perderia a sua própria razão e até poderia levar o
acontecimento às últimas conseqüências. E foi o que realmente aconteceu,
desencadeando a “Guerra do Século”.
Veremos agora o outro lado da questão, a emigração de europeus no sul do
país. O grupo Farquhar tinha feito um negócio da China, cria na Europa uma grande
propaganda enganosa na venda de acres de terra num país de futuro. Os acres são
comercializados a peso de ouro aos emigrantes, sendo que já estavam desanimados com
a crise e a guerra em seu continente, havendo diversas nações falidas ou a beira da
falência social e econômica.
Os emigrantes chegam ao sul do país em banheiras flutuantes, que o grupo
chamava-o de navio, viajando na mesma situação deplorável dos navios negreiros que
trouxeram escravos do continente africano. E quando os emigrantes chegam ao sul do
país, dão de cara com a dura realidade, vendo à sua frente uma terra praticamente
despida de recursos naturais, logicamente com um solo de grande riqueza em recursos
agropecuários. Mas mesmo assim, uma terra virgem, que com certeza teria muito
trabalho à frente para deixá-la igual à terra dos sonhos. E no decorrer de sua árdua
batalha diária, em tornar a terra produtiva, surgem caboclos revoltados, dizendo que
aquela propriedade era sua e a queriam de volta, e que se fosse preciso iriam até as
últimas conseqüências.
LUIZ ALVES Página 3
GUERRA DO CONTESTADO
por terem enviado tropas de soldados estaduais para exterminar, a até então fanática
irmandade pacífica. Outro ponto crucial foi à cobrança tributária, que gerou mais revolta
entre os pequenos fazendeiros e comerciantes, ocasionados pelo desleixo de ambos os
governos na demarcação de limites entre os dois estados sulistas. À frente dessa
ociosidade dos governos paranaense e catarinense, acaba se transformado numa terra de
ninguém, onde os pequenos fazendeiros e comerciantes teriam de pagar os seus
impostos duas vezes.
Maria foi um mal necessário no instante e que marcou o tempo de um povo esquecido
pela Igreja e pelo poder republicano.
Meus amigos, para que vocês tenham uma explícita idéia dos fatos, a imprensa
dos Estados Unidos e os países da Europa deram muitas manchetes em seus jornais,
como uma injustiça imperdoável ao que se estava fazendo com o povo humilde do
sertão. Eram políticos corruptos e empresários desumanos que jogavam na lama o
verdadeiro sentimento humano. Uns poucos historiadores são merecedores de créditos,
se esforçaram ao máximo para reverter à situação, e hoje o Brasil e todo o mundo
conhecem a história que anteriormente era: “Os errantes do século” e agora conhecida
como: “Os injustiçados do século”.
pacífica. A comitiva era composta pelo deputado federal Manoel Correia de Freitas, os
capitães Adalberto, Lebon Régis e Matos Costa. Outra vez, a comitiva retira-se
decepcionada com a missão de paz, pois não chegam a um acordo.
10-Intendência de Curitibanos
Incendiada em 1914
irmandade no sentido norte. Tempo depois, ele chega ao novo reduto Piedade de
Bonifácio Papudo e é recebido com hostilidade. Explica a sua história em detalhes, a
real situação e as conseqüências se continuassem com os seus planos. Foi convicto que
seriam todos exterminados da face da terra, porque as quatro colunas do general
Setembrino tinham sete mil soldados e quase cinco mil vaqueanos legalistas. Após
segue para os novos redutos de Francisco Salvador, Estanislau Schumann, Conrado
Glober, Reinchardt, seguindo na direção aos demais no sul do estado.
Março de 1915 - Coluna sul - A frente do coronel Estillac Leal no comando de
quinhentos soldados, seis oficiais e o piquete do lendário Lau Fernandes, seguem em
direção ao vale de Santa Maria. Alemãozinho e Carneirinho tentam convencê-los a
depor as armas, pedem que todos os confinados retornem as suas casas, assim evitaria
milhares de mortes desnecessárias. Alemãozinho conta que tinha recebido a missão do
próprio São João Maria. Maria Rosa confirma a veracidade de suas palavras. Apesar de
saber do fato, insistem no confronto com as tropas republicanas. Elias de Moraes
coordena o plano no confronto com a frente do coronel Estillac Leal, enquanto ele e a
sua tropa se encontravam a caminho do reduto. Houve o confronto dos jagunços com as
tropas do coronel Estillac Leal, obrigando-os a recuar até a vila de Butiá Verde. Dias
depois, decide formar o cerco na única entrada do reduto, assim forçando-os a se
entregar quando houvesse escassez de alimentos, o que aconteceria dias depois.
O coronel Fabrício Vieira das Neves manda que Pedro Ruivo e os seus
vaqueanos, montem uma tocaia na estrada principal de Lages a Vacaria. Pedro Ruivo
cumpre as ordens, chacina covardemente o lendário Elias de Moraes e toda a sua
família.
Outubro de 1916 - O governador coronel Felippe Schimidt de Santa Catarina, o
governador Afonso Alves de Camargo do Paraná, ministros, parlamentares e o
presidente Venceslau Brás chegam a um acordo sobre as divisas dos dois estados. Mas
para que isso se tornasse uma realidade, foi necessário morrerem mais de dez mil
caboclos, quase dois mil soldados republicanos, aproximadamente mil e quinhentos
vaqueanos legalistas e quase três mil civis que habitavam a região contestada. Coronel
Fabrício Vieira das Neves e Pedro Ruivo são presos no quartel na Lapa, soltos tempos
depois, devido à falta de provas.
Agosto de 1916 - O lendário Adeodato Ramos é encurralado num capão de
mato no vale de Santa Maria, vendo que era impossível romper o bloqueio dos
vaqueanos, acaba se entregando. Ele é encaminhado para cadeia de Curitibanos.
matando-o instantaneamente. Major Euclides ao ver o seu pai cair ferido, corre
desesperadamente para Curitibanos, visando buscar ajuda. Nesse histórico dia, morre
um dos principais culpados na chacina dos miseráveis da região do contestado.
No mesmo mês, Adeodato Ramos consegue fugir da prisão, aproveitando a
chuva torrencial que caía à noite. Sendo capturado num boliche à beira de estrada,
completamente bêbado. Devido à pressão dos coronéis locais, é transferido para a prisão
em Florianópolis.
Novembro de 1918 - À frente de sucessivas derrotas dos austríacos e alemães
para os aliados, assinam o Tratado de Armistício de Compiegne, deixando um saldo de
treze milhões de mortos e vinte milhões de feridos. Além de fazer um enorme rastro de
destruição em diversos países. Os alemães são obrigados a pagarem pesadas dívidas de
guerra, inclusive acabam perdendo parte de seu território.
Janeiro de 1923 - Adeodato Ramos aos poucos tenta ganhar a confiança dos
carcereiros, aproveitando o descuido da sentinela, ataca-o e toma o seu fuzil. O fato não
passou despercebido, o major Trujilo de Mello ordena que pare. Adeodato
instintivamente aponta o seu fuzil em direção ao major, mas estava vazio e o mesmo
não acontece com o fuzil do major. Sem saber, Adeodato tinha caído numa armadilha
republicana, sendo exterminado o último jagunço de José Maria. Ele ainda é levado para
a enfermaria, mas não agüenta o ferimento, morrendo minutos depois, sendo enterrado
numa simples cova como indigente. Nesse dia histórico, morre o flagelo de Deus e
nasce a lenda no contestado.
Sebastião Basílio Pirro. São usados pela primeira vez no mundo, os aviões Parrascal
Morone de 50 cavalos e um Morane Saulnier de 90 cavalos no reconhecimento aéreo,
com o Coronel alemão Ricardo Kirk, o Tenente italiano Ernesto Dariolli. Os outros três
aviões, um Bleriot de 80 cavalos e dois Parrascal Morane de 50 cavalos é destruído
pelas fagulhas da locomotiva a vapor.
Região Contestada
Redutos dos Fanáticos: Arraial do Taquaruçú I - II e III - São José -
Caraguatá - Santo Antônio - Perdizinhas - Campos do Irani - Perdiz Grande - Santa
Maria - Pedras Brancas - Paciência - Pinheiros - Pinhalzinho - Timbózinho - Bom
Sossego - Tamanduá - Caçador - Caçadorzinho - Poço Preto - Reinchardt - Raiz da
Serra - Coruja - Traição - Cemitério - Conrado Glober - Aleixo - Ignácio - Tapera -
Perdizes - Butiá Verde - São Pedro - Ferreiros - Colônia Vieira - São Sebastião -
Piedade - Passo de João Vargeano - Boliche de João Santos - Sebastião Campos -
Estanislau Schumann - Francisco Salvador - Guilherme Helmich - Negro Olegário -
Tomazinho - Guarda dos Crespos - São Miguel - São Pedro - Guarda dos Quadros - Rio
das Pedras - Irmãos Sampaio - Campos de Palmas - Campos de Monte Alegre - Faxinal
e também nas proximidades dos Rios Canoas, Iguaçu e barrancas do Uruguai.
Bibliografia
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Revolução Federalista - diversos autores - Site Internet 2006 - Porto Alegre - RS.
Revolta das Chibatas – H. Acker – Site Internet 2006 – Fundação Carioca de Cultura – Rio de
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Stulzer, Frei Aurélio – A Guerra dos Fanáticos – Editora Vozes 1982 – Petrópolis – RJ.
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Zumblick, Walter – Aninha do Bentão – Edição Prefeitura de Tubarão 1980 – Tubarão – SC.