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R ESUMO
INTRODUÇÃO
Assim, é interessante considerar uma classe de experimentos que aproveitam a troca de calor entre o
sistema e o ambiente, dispensando, portanto, o isolamento térmico. Um exemplo clássico é a
determinação do calor específico de um sólido ou líquido por meio da lei de resfriamento de
Newton. O experimento para a determinação do calor específico de um sólido consiste na análise e
comparação das curvas de resfriamento obtidas antes e após a inserção do material cujo calor
específico se quer determinar, em um recipiente contendo água quente (SILVA, 2003; MATTOS,
2003). A medida do calor específico de um líquido é feita mediante a comparação do tempo de
resfriamento de dois líquidos aquecidos em recipientes idênticos, mesmo material e geometria. Um
dos líquidos é o líquido-problema, cujo calor específico será determinado e o outro é a água
destilada, usada para calibração (NETTO, 2006). Experimento similar envolve a análise do tempo
de resfriamento de líquidos como a glicerina e o mercúrio em contato com um reservatório térmico
(a vizinhança), onde se supõe que a troca de calor predominante é a condução, desprezando-se a
radiação e convecção (SARTORELLI, 1999).
Neste trabalho utilizamos o experimento projetado para medir o calor específico de um líquido, por
meio da lei de resfriamento de Newton, para mostrar quais os principais mecanismos de troca de
calor entre o sistema e o ambiente. Assim, analisamos a curva de resfriamento da água destilada
aquecida em dois copos de alumínio do mesmo tamanho e formato, sendo um deles polido e o outro
pintado de preto. Identificamos dois aspectos desse experimento que permitem ao professor
aprofundar a discussão da troca de calor: (1) o copo pintado de preto apresenta uma variação mais
rápida de temperatura, implicando a radiação como processo importante; (2) a curva de
resfriamento difere sensivelmente de uma exponencial simples, levantando a possibilidade da
convecção e/ou a dependência dos parâmetros – condutividade e emissividade, com a temperatura
desempenhar um papel relevante no processo de resfriamento.
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Caderno Brasileiro de Ensino de Física e Revista Brasileira de Ensino de Física.
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D ESENVOLVIMENTO TEÓRICO
A transferência de energia térmica ocorre por meio de três mecanismos: condução, convecção e
radiação. Na condução, a energia térmica é transferida diretamente por meio das interações entre
átomos ou moléculas de um meio material. A convecção ocorre somente em fluidos, e a energia
térmica é transferida por meio do transporte direto de massa. Ao aquecer um líquido forma-se uma
corrente de convecção, pois a massa mais próxima da fonte de calor se expande ficando menos
densa, dando lugar a uma massa mais fria. Na radiação, a energia térmica é transferida na forma de
ondas eletromagnéticas, cujos comprimentos de onda dependem da temperatura da fonte de
radiação. No nosso experimento a radiação está concentrada na faixa infravermelha do espectro
eletromagnético.
Radiação
Um corpo a uma temperatura absoluta T e com uma área superficial A, perde energia por radiação a
uma taxa descrita pela Lei de Stefan-Boltzmann:
Prad = eAσ T 4
onde e é a emissividade da superfície, e s = 5,67 x 10-8 Wm-2 K-4 é a constante de Stefan-
Boltzmann. Ao mesmo tempo, o corpo ganha energia do ambiente numa taxa dada por
Pabs = eAσTamb4
, tal que, quando T = Tamb, as taxas de ganho e perda são iguais e o corpo está em
equilíbrio térmico com a vizinhança.
Um corpo negro é uma idealização para um objeto cujo comportamento é caracterizado por uma
emissividade igual a um, valor máximo possível. Sabe-se que objetos de cores escuras absorvem e,
portanto, emitem radiação mais eficientemente do que objetos claros2 .
Um objeto quando colocado em um ambiente com uma temperatura diferente da sua, tende a entrar
em equilíbrio térmico com a sua vizinhança. Assim, se este objeto estiver a uma temperatura mais
alta do que a sua vizinhança perderá calor para o ambiente e esfriará. A taxa de resfriamento de um
objeto depende da diferença de temperatura entre este e o ambiente. A lei do resfriamento de
Newton afirma que, para pequenas diferenças de temperaturas, a taxa de resfriamento é
aproximadamente proporcional a diferença de temperatura.
Para um sistema constituído por um recipiente contendo um líquido aquecido, podemos obter a taxa
de resfriamento como mostramos a seguir. Considerando dQ como a quantidade de calor perdida
durante um intervalo de tempo dt, através da superfície externa do recipiente, podemos escrever que
dQ = B (T − Tamb ) dt (1)
2
Neste ponto cabe antecipar uma dúvida comum dos alunos: um objeto de cor clara não teria emissividade maior? Na
verdade, a cor clara indica uma maior refletividade, e não emissividade.
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dQ = −KdT , (2)
Observe, entretanto, que o fator B pode incluir contribuições devido à radiação e convecção, além
da condução. No caso da radiação, temos
dQ = eAσ (T 4 − Tamb
4
) (5)
D ESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL
Material
São necessários dois copos de alumínio (mesmo tamanho e formato), sendo um deles polido e o
outro pintado de preto. Duas tampas isolantes, furadas para inserir o termômetro, um aquecedor, um
cronômetro, dois termômetros, balança e 100 ml de água destilada.
Procedimento
temperaturas, no início a cada 30 segundos, depois de quatro minutos a cada dois minutos
preenchendo a tabela abaixo:
Dados
Massa dos copos vazios: mpreto =11,09 g e mpolido = 9,23g. Massa dos copos com água destilada
Mpreto =60,08g e Mpolido =58,05g. A capacidade térmica dos copos é dada por Kpreto = mpreto cAl = 2,33
cal/o C e Kpolido = mpolido cAl = 1,94 cal/o C, o calor específico do alumínio é 0,21 cal/(g. 0 C). As massas
de água no copo de alumínio polido foi 48,8 g, enquanto que no copo preto foi 49,0 g. A
temperatura ambiente medida no laboratório foi Tamb= 22oC.
Na figura 1 mostramos o gráfico da razão entre as variações de temperatura, que denotamos por
T − Tamb
D = ln versus t. A taxa de resfriamento do copo preto é aproximadamente 40% maior que
T0 − Tamb
a do polido, fato que pode ser visualizado no gráfico pela diferença no decaimento das curvas,
mostrando que a radiação é um processo importante neste experimento. A diferença entre as curvas
de resfriamento dos copos de alumínio polido e pintado de preto é explicada qualitativamente pela
diferença de emissividade dos copos. O copo de alumínio polido possui uma emissividade igual a
0,1 enquanto que para o copo de alumínio pintado de preto e = 0,95 (UNIFUS ALUMINUM,
2004). Comprovando assim, que objetos de cor escura são mais eficientes para absorver e emitir
radiação.
Sugerimos algumas perguntas que podem ser utilizadas pelo professor durante a análise dos
resultados: (1) Com base em suas observações a água perde mais calor por minuto no início do
processo ou no final? O seu resultado é consistente com a lei de resfriamento de Newton? (2)
Suponha que você tenha que projetar um coletor solar no qual a água contida nos canos absorve
energia do Sol. Qual a cor que você escolheria para os canos: branco, amarelo ou preto? Justifique.
(3) Suponha que o experimento fosse repetido usando álcool etílico ao invés de água destilada.
Dado que o calor específico do álcool é menor do que o da água, qual mudança seria observada nas
curvas de resfriamento?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho sugerimos uma adaptação do tradicional experimento usado para a determinação do
calor específico de um líquido, por meio da lei do resfriamento de Newton, que permite um estudo
dos mecanismos de troca de calor inerentes ao processo de resfriamento do sistema.
Com base nos nossos resultados podemos afirmar que a radiação é um processo importante na troca
de calor entre o sistema e as vizinhanças, confirmando que a emissão de radiação por objetos
escuros é mais eficiente do que por objetos claros. Esse fato é verificado também durante o
aquecimento dos copos de alumínio, onde a variação de temperatura do copo pintado de preto é
significativamente maior. (O aquecedor usado funciona por condução e radiação).
O fato de não obtermos uma exponencial simples indica a possibilidade da convecção e variação da
emissividade com a temperatura desempenharem um papel relevante no processo. Experimentos
mais cuidadosos são necessários para uma comprovação acurada desse fato.
APÊNDICE
Nesta seção listamos o material utilizado e apresentamos uma adaptação do roteiro 3 experimental
que é adotado no laboratório de Física do Departamento de Física e Química da PUC Minas para
estudantes do curso de Licenciatura em Física.
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Este roteiro está disponível no site www.dfq.pucminas.br/~licenciaturaemfísica.
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Material
Procedimento
R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, M.S.T. e ABIB, M.L.V. dos S. Atividades experimentais no ensino de física: diferentes
enfoques, diferentes finalidades. Revista Brasileira de Ensino de Física, v.25, n.2, p.176-194,
2003.
MATTOS, C. e GASPAR, A. Uma medida de calor específico sem calorímetro. Revista Brasileira
de Ensino de Física, v.25, n.1, p.45-48, 2003.
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SEARS, F.W.; ZEMANSKY, M.W. Física – v.2. Brasília: Universidade de Brasília, 1973.
SILVA, W.P.; PRECKER, J.W.; SILVA, C.M.D.P.S; SILVA, D.D.P.S. e SILVA, C.D.P.S. Medida
de calor específico e lei de resfriamento de Newton: um refinamento na análise dos dados
experimentais. Revista Brasileira de Ensino de Física, v.25, n.4, p.392-398, 2003.
TIPLER, P.A., MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros - vol. 1: mecânica, oscilações e
ondas, termodinâmica. (5a edição). Rio de Janeiro: LTC, 2006.
UNIFUS ALUMINUM, Marketing Dept. High heat-radiation pre-coated aluminum sheet, FUSCO
AT Hs Series. Furukawa Review, n.26, p.58-59, 2004.