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ACESSO À JUSTIÇA
GARANTIAS DO PROCESSO JUSTO
NOVO MODELO PROCESSUAL
ACESSO À JUSTIÇA
1. Direito à jurisdição
O art. 10º Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece que “toda a pessoa
tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada
por um Tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das
razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida”.
Este direito à justiça sem qualquer discriminação por motivos económicos é uma
consequência do Estado social de direito que se encontra consagrado no art. 2º CRP. O
acesso à justiça não é, aliás, o único direito fundamental assegurado ao cidadão na área da
protecção dos direitos: adequadamente, o art. 20º/1 CRP atribui, a par da garantia de acesso
aos Tribunais, uma garantia de acesso ao próprio direito. Sem este “direito ao direito”, a
garantia do acesso aos Tribunais poderia tornar-se vazia e ilusória, dado que não importa
criar as condições para aceder aos Tribunais se, simultaneamente, não se possibilitar o
conhecimento dos direitos que se podem defender através desses órgãos. Nesta perspectiva,
percebe-se que, nos termos do art. 20º/2 CRP, a garantia do acesso ao direito envolva o
direito à informação e consultas jurídicas e, em caso de necessidade, ao patrocínio judiciário e
que o art. 6º DL 387-B/87, de 29/12, englobe o direito à consulta jurídica e ao patrocínio
judiciário num mais vasto direito à protecção jurídica.
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GARANTIAS DO PROCESSO JUSTO
4. Imparcialidade do Tribunal
A administração da justiça não é possível sem um Tribunal independente e imparcial: a
imparcialidade do Tribunal constitui um requisito fundamental do processo justo. As garantias
de imparcialidade do Tribunal podem ser vistas, quer como garantias do Tribunal perante
terceiros, quer como garantias das partes perante o Tribunal. Naquela primeira perspectiva,
as garantias de imparcialidade costumam classificar-se em materiais e pessoais: as
garantias materiais respeitam à liberdade do Tribunal perante instruções ou quaisquer
intromissões de outro órgão do estado (art. 206º CRP, art. 4º/1 EMJ – Estatuto dos Magistrados
Judiciais, Lei n.º 21/85, de 30/7, alterada pelo DL n.º 342/88, de 28/9, e pelas Leis n.º 2/90, de
20/1, e 10/94, de 5/5); as garantias pessoais protegem o juiz em concreto: são elas a
irresponsabilidade (art. 5º EMJ) e a inamovibilidade (art. 6º EMJ).
Na perspectiva das partes, as garantias de imparcialidade referem-se à independência do
juiz e à sua neutralidade perante o objecto em causa.
Constitui ainda uma garantia das partes a chamada independência interna do juiz. Refere-
se esta às influências a que o juiz está sujeito pela sua origem, educação ou processo de
socialização. É este aspecto da independência interna que justifica a proibição da prática de
actividade político-partidárias de carácter público e de ocupação de cargos políticos pelos
magistrados judiciais em exercício de funções (art. 11º EMJ), bem como a proibição do
desempenho pelos mesmos de qualquer outra função pública ou privada, salvo as funções
docentes ou de investigação jurídica, desde que não remuneradas (art. 218º/3 CRP, art. 13º
EMJ).
6. Garantia do contraditório
O direito do contraditório – que é, em si mesmo, uma decorrência do princípio da igualdade
das partes estabelecido no art. 3º-A – possui um conteúdo multifacetado: ele atribui à parte
não só o direito ao conhecimento de que contra ele foi proposta uma acção ou requerida uma
providência e, portanto, um direito à audição antes de ser tomada qualquer decisão, mas
também um direito a conhecer todas as condutas assumidas pela contraparte e a tomar
posição sobre elas, ou seja um direito de resposta.
a) Direito à audição prévia:
O direito à audição prévia encontra-se consagrado no art. 3º/1 (o Tribunal não pode
resolver o conflito de interesses que a acção pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida
por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para deduzir oposição) CPC in fine,
embora possa sofrer as excepções genericamente previstas no art. 3º/2 (só nos casos
excepcionais previstos na lei se podem tomar providências contra determinada pessoa sem
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que esta seja previamente ouvida) CPC: assim, num procedimento cautelar comum, o
Tribunal só ouvirá o requerido se a audiência não puser em risco sério o fim ou a eficácia da
providência (art. 385º/1 CPC); a restituição provisória da posse e o arresto são decretados
sem a audiência da parte requerida (arts. 394º e 408º/1 CPC). É ainda o direito à audição
prévia que justifica todos os cuidados de que há que revestir a citação do réu e a tipificação
dos casos em que se considera que ela falta (art. 195º CPC) ou é nula (art. 198º/1 CPC) e que
está subjacente à possibilidade de interposição do recurso extraordinário de revisão contra
uma sentença proferida num processo em que tenha faltado a citação ou esta seja nula (art.
771º-f CPC) e de oposição e anulação da execução com base nos mesmos vícios (arts. 813º-d
e 921º CPC).
b) Direito de resposta:
O contraditório não pode ser exercido e o direito de resposta não pode ser efectivado se a
parte não tiver conhecimento da conduta processual da contraparte. Quanto a este aspecto,
vale a regra de que cumpre à secretaria notificar oficiosamente as partes quando, por virtude
de disposição legal, elas possam responder a requerimentos, oferecer provas ou, de um modo
geral, exercer algum direito processual que não dependa de prazo a fixar pelo juiz, nem de
prévia citação (art. 229º/2 CPC). Concretizações desta regra constam dos arts. 146º/5, 174º/1,
234º/1, 542º e 670º/1 CPC.
O direito de resposta consiste na faculdade, concedida a qualquer das partes, de
responder a um acto processual (articulado, requerimento, alegação ou acto probatório) da
contraparte. Este direito tem expressão legal, por exemplo, no princípio da audiência
contraditória das provas constante do art. 517º CPC.
O art. 3º/3 1ª parte CPC, impõe ao juiz, de modo programático, o dever de observar e
fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do contraditório. Significativa é
também, quanto a este aspecto, a supressão dos processos sumários e sumaríssimos como
processos cominatórios plenos (arts. 784º e 794º/1 CPC): neste caso, não é o contraditório
que se garante, mas as consequências do seu exercício que se atenuam.
A violação do contraditório inclui-se na cláusula geral sobre as nulidades processuais
constante do art. 201º/1 (fora dos casos previstos nos artigos anteriores, a prática de um acto
que a lei não admita, bem como a omissão de um acto ou de uma formalidade que a lei
prescreva, só produzem nulidade quando a lei o declare ou quando a irregularidade cometida
possa influir no exame ou na decisão da causa) CPC: dada a importância do contraditório, é
indiscutível que a sua inobservância pelo Tribunal é susceptível de influir no exame ou
decisão da causa. Uma concretização desta regra encontra-se no art. 277º/3 (são nulos os
actos praticados no processo posteriormente à data em que ocorreu o falecimento ou
extinção que, nos termos do n.º 1, devia determinar a suspensão da instância, em relação aos
quais fosse admissível o exercício do contraditório pela parte que faleceu ou se extinguiu)
CPC.
8. Publicidade do processo
O Processo Civil é – diz enfaticamente o art. 167º/1 CPC – público. A publicidade do
processo tornou-se possível com a introdução da oralidade e contínua a possuir a justificação
tradicional: ela é um meio para combater o arbítrio e assegurar a verdade e a justiça das
decisões judiciais. A essa publicidade estão subjacentes os princípios fundamentais do Estado
de direito, nomeadamente a possibilidade de um controlo popular dos órgãos que – como
sucede com os Tribunais – exercem poderes de soberania (art. 110º/1 CRP). É nesta
perspectiva que se deve entender a garantia da publicidade das audiências dos Tribunais,
que se encontra consagrada no art. 206º CRP e no art. 656º/1 CPC, bem como a garantia do
acesso aos autos por todos os interessados estabelecida no art. 167º/2 CPC.
A publicidade das audiências dos Tribunais constitui uma importante garantia numa dupla
dimensão: em relação às partes, ela assegura a possibilidade de um controlo popular sobre as
decisões que as afectam directamente; relativamente à opinião pública, essa publicidade
permite combater a desconfiança na administração da justiça.
A publicidade das audiências é, no entanto, excluída quando circunstâncias ponderosas o
aconselham. Esses motivos encontram-se constitucionalmente tipificados (art. 206º CRP) e
são repetidos no respectivo preceito da lei ordinária (art. 656º/1 CPC): são eles a salvaguarda
da dignidade das pessoas e da moral pública e a garantia do normal funcionamento da
audiência (art. 9º lei 3/99).
A publicidade do processo implica o direito, reconhecido a qualquer pessoa capaz de
exercer o mandato judicial ou a quem nisso revele um interesse atendível, de exame e
consulta dos autos na secretaria do Tribunal e de obtenção de cópias ou certidões de
quaisquer peças nele incorporadas pelas partes (art. 167º/2 CPC). Este acesso aos autos é,
porém, limitado nos casos em que a divulgação do seu conteúdo possa causar dano à
dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública ou pôr em
causa a eficácia da decisão a proferir (art. 168º/1 CPC).
9. Direito à prova
A prova é a actividade destinada à formação da convicção do Tribunal sobre a realidade
dos factos controvertidos (art. 341º CC), isto é, dos factos que constituem a chamada base
instrutória (art. 508º-A/1-e, 508º-B/2, e 511º/1 CPC). Essa actividade incumbe à parte onerada
(art. 342º CC), que não obstará uma decisão favorável se não satisfazer esse ónus (art. 516º;
art. 346º CC).
Para cumprir o ónus da prova, a parte tem de utilizar um dos meios de prova legal ou
contratualmente admitidos ou não excluídos por convenção das partes (art. 345º CC). Dada a
importância do cumprimento do ónus para a contraparte e para terceiros, costuma falar-se de
um direito à prova. Este direito é habitualmente deduzido, para a generalidade dos processos
jurisdicionais, do disposto no art. 6º/3-d Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que
garante ao acusado o direito de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e
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obter a convocação e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições
daquelas.
O direito à prova contém limites impostos pela protecção de direitos de terceiros: aquele
direito cede perante direitos de terceiros que mereçam do ordenamento jurídico uma tutela
mais forte. Em geral, os limites do direito à prova consubstanciam-se nas chamadas provas
proibidas, que podem ser tanto provas que são materialmente lícitas mas processualmente
proibidas, como provas que são materialmente e processualmente proibidas.
Algumas provas são materialmente lícitas, mas, apesar disso, não são processualmente
admissíveis. Estas provas podem conduzir a uma proibição de produção ou de valoração.
Noutros casos, a prova pode ser produzida num processo, mas não pode ser valorada numa
outra acção.
Outras provas são materialmente proibidas e, portanto, ilícitas. São exemplo de provas
ilícitas todas aquelas que são obtidas através dos métodos previstos no art. 32º/8 CRP ou no
art. 519º/3 CPC.
As provas ilícitas são, em regra, insusceptíveis de ser valoradas pelo Tribunal, isto é, não
podem servir de fundamento a qualquer decisão judicial. Mas, quanto ao real âmbito destas
provas insusceptíveis de valoração, parece haver que distinguir entre aqueles meios de prova
cuja produção é, ela própria, um acto ilícito (é o caso das provas previstas no art. 32º/8 CRP e
no art. 519º/3 CPC) e aquelas provas cuja produção não representa, em si mesma, qualquer
ilicitude.
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Tribunal pode determinar que este preste todas as informações indispensáveis à realização
da penhora, sob a comunicação de ser considerado litigante de má fé (art. 837º-A/2 CPC).
b) Posição das partes
Existe um dever de cooperação das partes com o Tribunal, mas também há um idêntico
dever de colaboração deste órgão com aquelas. Este dever desdobra-se, para esse órgão, em
quatro deveres essenciais:
1) Um é o dever de esclarecimento, isto é, o dever de o Tribunal se esclarecer junto
das partes quanto às dúvidas que tenha sobre as suas alegações, pedidos ou posições
em juízo (art. 266º/2 CPC), de molde a evitar que a sua decisão tenha por base a falta
de informação e não a verdade apurada;
2) Um outro é o dever de prevenção, ou seja, o dever de o Tribunal prevenir as partes
sobre eventuais deficiências ou insuficiências das suas alegações ou pedidos (art.
508º/1-b, 508º-A/1-c, 690º/4 e 701º/1 CPC);
3) O Tribunal tem também o dever de consultar as partes, sempre que pretenda
conhecer de matéria de facto ou de direito sobre a qual aquelas não tenham tido a
possibilidade de se pronunciarem (art. 3º/3 CPC), porque, por exemplo, o Tribunal
enquadra juridicamente a situação de forma diferente daquela que é a perspectiva das
partes ou porque esse órgão pretende conhecer oficiosamente certo facto relevante
para a decisão da causa;
4) Finalmente, o Tribunal tem o dever de auxiliar as partes na remoção das
dificuldades ao exercício dos seus direitos ou faculdades ou no cumprimento de ónus ou
deveres processuais (art. 266º/4 CPC).
O dever de esclarecimento implica um dever recíproco do Tribunal perante as partes e
destas perante aquele órgão: o Tribunal tem o dever de se esclarecer junto das partes e estas
têm o dever de o esclarecer (art. 266º-A CPC). Encontra-se consagrado, quanto ao primeiro
aspecto, no art. 266º/2 CPC: o juiz pode, em qualquer altura do processo, ouvir qualquer das
partes, seus representantes ou mandatários judiciais, convidando-os a fornecer os
esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito que se afigurem pertinentes e dando-
se conhecimento à outra parte dos resultados da diligência. O segundo dos referidos aspectos
(dever de esclarecimento do Tribunal pelas partes) está previsto no art. 266º/3 CPC: as
pessoas às quais o juiz solicita o esclarecimento são obrigadas a comparecer e a prestar os
esclarecimentos que lhe forem pedidos, salvo se tiverem uma causa legítima para recusar a
colaboração requerida. Deve considerar-se legítima a recusa baseada em qualquer das
circunstâncias referidas no art. 519º/3 CPC.
O dever de prevenção, é um dever do Tribunal perante as partes com uma finalidade
assistencial, pelo que não implica qualquer dever recíproco das partes perante o Tribunal. O
dever de prevenção tem uma consagração no convite ao aperfeiçoamento pelas partes dos
seus articulados (arts. 508º/1-b, e 508º-A/1-c CPC) ou das conclusões das suas alegações de
recurso (arts. 690º/4, e 701º/1 CPC). Aquele primeiro convite deve ser promovido pelo
Tribunal sempre que o articulado enferme de irregularidades (art. 508º/2 CPC) ou mostre
insuficiências ou imprecisões na matéria de facto alegada (art. 508º/3 CPC).
Mas o dever de prevenção têm um âmbito mais amplo: ele vale genericamente para todas
as situações em que o êxito da acção a favor de qualquer das partes possa ser frustrado pelo
uso inadequado do processo. São quatro as áreas fundamentais em que a chamada de
atenção decorrente do dever de prevenção se justifica: a explicitação de pedidos pouco
claros, o carácter lacunar da exposição dos factos relevantes, a necessidade de adequar o
pedido formulado à situação concreta e a sugestão de uma certa actuação.
O dever de consulta, é um dever de carácter assistencial do Tribunal perante as partes.
Este dever encontra-se estabelecido no art. 3º/3 CPC: salvo no caso de manifesta
desnecessidade, o Tribunal não pode decidir uma questão de direito ou de facto, mesmo que
seja de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de se
pronunciarem sobre ela. O escopo deste preceito é evitar as chamadas “decisões surpresa”,
isto é, as decisões proferidas sobre matéria de conhecimento oficioso sem a sua prévia
discussão pelas partes.
O dever de auxílio, o Tribunal tem o dever de auxiliar as partes na supressão das
eventuais dificuldades que impeçam o exercício de direitos ou faculdades ou o cumprimento
de ónus ou deveres processuais.
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O princípio da cooperação determina, a imposição ao Tribunal, além de um dever de
auxílio, dos deveres de esclarecimento, de prevenção e de consulta. Coloca-se então a
questão de saber quais as consequências que resultam da omissão pelo Tribunal de qualquer
destes deveres. O problema é particularmente complexo, porque a previsão destes deveres
nem sempre é uma situação completamente definida por lei, antes faz apelo, em muitos
casos, a uma ponderação do Tribunal.
Alguns desses deveres de cooperação assentam numa previsão “fechada”, que não deixa
ao Tribunal qualquer margem de apreciação quanto à sua verificação; outros, pelo contrário,
decorrem de uma previsão “aberta”, que necessita de ser preenchida pelo Tribunal de acordo
com a sua ponderação. Esta distinção é importante quanto aos efeitos do não cumprimento
dos referidos deveres. Se o dever for estabelecido por uma revisão “fechada” – isto é, se a
situação em que ele tem de ser observado não deixar ao Tribunal qualquer margem de
apreciação –, a sua omissão constitui uma nulidade processual, se, como em regra sucederá,
essa irregularidade puder influir ou exame ou decisão da causa (art. 201º/1 CPC).
A violação do dever de cooperação pela parte constitui, quando seja grave, uma das
situações que a lei tipifica com má fé processual (art. 456º/2-c CPC). Aquela gravidade da
omissão do dever de cooperação pressupõe o dolo ou a negligência grave da parte (art.
456º/2 proémio CPC).
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12. Objecto do processo
O processo civil é regido, quanto à relevância da vontade das partes, pelo princípio
dispositivo e da disponibilidade privada: aquele primeiro assegura a autonomia das partes na
definição dos fins que elas procuram obter através da acção pendente; este último determina
o domínio das partes sobre os factos a alegar e os meios de prova a utilizar para conseguir
aqueles objectivos. Pode dizer-se que o princípio dispositivo representa a autonomia na
definição dos fins prosseguidos no processo e que o princípio da disponibilidade objectiva
assegura o domínio das partes sobre os meios de os alcançar.
O âmbito dos poderes do Tribunal e das partes relativamente à matéria de facto relevante
para a apreciação da causa constitui um dos aspectos essenciais de qualquer regime
processual.
a) Factos relevantes:
Como resulta do estabelecido no art. 264º CPC, a solução legal baseia-se numa distinção,
talvez demasiado esquemática, entre factos essenciais, instrumentais e complementares ou
concretizadores:
- Os factos essenciais: são aqueles que integram a causa de pedir ou o fundamento
da excepção e cuja falta determina a inviabilidade da acção ou da excepção;
- Os factos instrumentais, probatórios ou acessórios: são aqueles que indicam
os factos essenciais e que podem ser utilizados para a prova indiciária destes últimos;
- Os factos complementares ou concretizadores: são aqueles cuja falta não
constitui motivo de inviabilidade da acção ou da excepção complexa e que, por isso, são
indispensáveis à procedência dessa acção ou excepção.
A cada um destes factos corresponde uma função distinta:
- Os factos essenciais realizam uma função constitutiva do direito invocado pelo autor
ou da excepção deduzida pelo réu: sem eles não se encontra individualizado esse direito
ou excepção, pelo qual a falta da sua alegação pelo autor determina a ineptidão inicial
por inexistência de causa a pedir (art. 193º/2-a CPC);
- Os factos complementares possibilitam, em conjugação com os factos essenciais de
que são complemento, a procedência da acção ou da excepção: sem eles a acção era
julgada improcedente;
- Os factos instrumentais destinam-se a ser utilizados numa função probatória dos
factos essenciais ou complementares.
Importa acentuar que esta classificação não assenta num critério absoluto, mas relativo:
um mesmo facto pode ser essencial em relação a um certo objecto e complementar ou
instrumental perante outro objecto; por seu turno, um facto é sempre complementar ou
instrumental em relação a um certo facto essencial.
· Factos principais:
A procedência da acção ou da execução pressupõe certos factos: os factos necessários a
essa procedência podem ser designados por factos principais. Estes factos englobam, na
terminologia do art. 264º CPC, os factos essenciais e os factos complementares, cuja
distinção se traça do seguinte modo: os factos essenciais são aqueles que permitem
individualizar a situação jurídica alegada na acção ou na excepção; os factos
complementares são aqueles que são indispensáveis à procedência dessa acção ou
excepção, mas não integram o núcleo essencial da situação jurídica alegada pela parte.
Os factos essenciais são necessários à identificação da situação jurídica invocada pela
parte e, por isso, relevam, desde logo, na viabilidade da acção ou da excepção.
· Factos instrumentais:
São utilizados para realizar a prova indiciária dos factos principiais, isto é, esses factos
são aqueles de cuja a prova se pode inferir a demonstração dos correspondentes factos
principais. Portanto, o âmbito de aplicação dos factos instrumentais coincide com a prova
indiciária, pelo que esses factos não possuem qualquer relevância na prova histórica ou
representativa.
As presunções judiciais são aquelas em que a inferência do facto presumido assenta em
regras de experiência, isto é, são aquelas em que o Tribunal deduz, com base nessas regras,
o facto presumido. Podem ser qualificados como factos instrumentais aqueles que constituem
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a base das presunções judiciais, ou seja, aqueles que permitem inferir, através de regras de
experiência, o facto principal constante da base instrutória (arts. 508º-A/1-e, e 508º-B/2 CPC).
b) Disponibilidade e oficiosidade:
- Factos principais:
Assente a distinção entre factos essenciais, complementares e instrumentais, o regime
legal é o seguinte:
· Incumbe às partes alegar os factos essenciais que integram a causa de pedir ou que
fundamentam a excepção (art. 264º/1 CPC);
· O Tribunal pode considerar os factos complementares que resultem da instrução e
discussão da causa, desde que a parte interessada manifeste vontade de deles se
aproveitar e à parte contrária tenha sido facultado, quanto a eles, o exercício do
contraditório (art. 264º/3 CPC);
· O Tribunal pode considerar, mesmo oficiosamente, os factos instrumentais que
resultem da instrução e julgamento da causa (art. 264º/2 CPC).
Deste enunciado resulta claramente que a disponibilidade objectiva vale quanto aos
factos essenciais e aos factos complementares, pois que o Tribunal não os pode considerar,
quanto àqueles primeiros, se eles não forem alegados pelas partes e, quanto a estes últimos,
se a parte interessada não manifestar vontade de se aproveitar deles. Portanto, os factos
principais estão sujeitos à disponibilidade das partes.
- Factos instrumentais:
Há que reconhecer que não é totalmente claro o âmbito dos poderes que são conhecidos
ao Tribunal pelo art. 264º/2 CPC. É certo que este preceito estipula que o Tribunal pode
considerar oficiosamente os factos instrumentais; mas isto pode significar que, se os factos
surgirem na instrução e discussão da causa, o Tribunal pode considerá-los na sua decisão
ainda que nenhuma das partes o requeira, como querer dizer que o Tribunal pode promover,
por iniciativa própria, a investigação desses factos durante a instrução e discussão da causa.
A favor do reconhecimento de poderes inquisitórios do Tribunal sobre os factos
instrumentais pode invocar-se, antes de mais, a comparação entre os ns.º 2 e 3 do art. 264º
CPC: neste último concede-se ao Tribunal o poder de considerar os factos complementares,
mas sujeita-se esse poder à condição de a parte interessada desejar o seu aproveitamento na
acção pendente; naquele primeiro, atribui-se ao Tribunal o poder de considerar os factos
instrumentais e não se submete o uso desse poder a qualquer condição. É, no entanto, na
conjugação entre os arts. 264º/2 e 265º/3 CPC, que se encontra o apoio mais firme para
entender que o Tribunal possui poderes inquisitórios sobre os factos instrumentais.
Os factos sobre os quais o Tribunal pode exercer estes poderes inquisitórios com a
finalidade de apurar a verdade ou de obter a justa composição do litígio são precisamente os
factos instrumentais.
- Factos instrutórios:
O art. 265º/3 CPC, dispõe que incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo oficiosamente,
todas as diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição do litígio,
quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer. Os factos sobre os quais o Tribunal possui
poderes instrutórios são não só os factos instrumentais alegados pelas partes ou investigados
pelo Tribunal, como os factos principais alegados pelas partes.
Da conjugação entre os poderes inquisitórios atribuídos pelo art. 264º/2 CPC, e os poderes
instrutórios estabelecidos no art. 265º/3 CPC, resulta o seguinte regime legal: os poderes
inquisitórios respeitam exclusivamente aos factos instrumentais (art. 264º/2 CPC); os poderes
de instrução referem-se tanto aos factos principais, como aos factos instrumentais, o Tribunal
pode não só investigá-los, com ordenar quanto a eles as actividades instrutórias que sejam da
sua iniciativa; pelo contrário, quanto aos factos principais, o Tribunal não possui poderes
inquisitórios, pelo que, relativamente a eles, só pode ordenar as actividades oficiosas de
instrução legalmente permitidas.
c) Ónus de alegação:
Segundo o estabelecido no art. 264º/1 CPC, cabe às partes alegar os factos que integram
a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as excepções: estes factos devem ser
alegados nos articulados das partes (arts. 467º/1-c, 489º/1, 502º/1, 503º/1, 785º, 793º e
794º/1 CPC). Todavia, o art. 264º/1 CPC, não abarca a totalidade do ónus de alegações que
deve ser cumprido nos articulados. Este ónus não se restringe à indicação da causa de pedir
ou do fundamento da excepção, ou seja, aos factos essenciais: ele recai sobre todos os factos
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necessários à procedência da acção ou da excepção, ou seja, sobre os factos principais.
Portanto, o art. 264º/1 CPC, refere-se apenas a uma fracção do ónus de alegação que as
partes devem cumprir nos seus articulados.
Ao contrário dos factos principais – que são submetidos ao ónus de alegação nos
articulados –, os factos instrumentais destinam-se a ser utilizados numa função probatória e,
por essa razão, não estão sujeitos a esse ónus.
Os factos instrumentais não estão submetidos a qualquer ónus de alegação nos
articulados. Aliás, como a alegação dos factos instrumentais é uma actividade instrutória,
esses factos, mesmo que sejam invocados nos articulados, podem sempre ser alterados
enquanto for possível requerer os meios de prova (arts. 508º-A/2-a, 512º/1 e 787º CPC) ou
alterar ou aditar o rol de testemunhas (arts. 512º-A/1 e 787º CPC). Portanto, mesmo que a
parte invoque um facto instrumental no seu articulado, ela não está impedida de usar
qualquer outro facto na demonstração do respectivo facto principal.
- Preclusão:
A distinção entre factos essenciais, complementares e instrumentais é relevante quanto a
vários aspectos do tratamento da matéria de facto em processo. É o que sucede quanto ao
regime da sua preclusão: o art. 264º/2 CPC, mostra que podem ser considerados factos
instrumentais não alegados e, quanto aos factos complementares, é nítido que não existe em
relação a eles qualquer preclusão quando não sejam alegados nos articulados, precisamente
porque o art. 264º/3 CPC, permite a sua consideração quando eles só sejam adquiridos
durante a instrução e discussão da causa.
Os factos essenciais devem ser invocados nos articulados (art. 264º/1 CPC), mas importa
referir que a sua omissão não implica necessariamente a preclusão da sua alegação posterior.
Mais discutível é saber se a alegação de um facto essencial depois dos articulados é
possível mesmo que a parte tenha agido de má fé, ou seja, ainda que a omissão da invocação
desse facto tenha resultado de negligência grave ou dolo da parte (art. 456º/2-b CPC). Parece
impor-se uma resposta negativa da questão, dado o disposto no lugar paralelo da alegação
dos factos supervenientes. Com efeito, se esses factos podem ser considerados se a sua
alegação não atempada não for culposa (art. 506º/4 CPC), isto é, se, quanto a esses factos, só
se admite uma invocação extemporânea desde que ela não seja culposa, o mesmo há que
concluir, por maioria de razão, quanto aos factos essenciais. Assim, a alegação destes factos
fora dos articulados só deve ser aceite quando a parte não tenha agido com negligência
grave ou dolo.
Portanto, a má fé da parte na omissão do facto essencial nos seus articulados tem como
consequência, além da sua condenação no pagamento de uma multa e de uma indemnização
à contraparte (art. 456º/1 CPC), a inadmissibilidade da sua alegação posterior do facto. Neste
caso, verifica-se uma preclusão decorrente da má fé processual.
O art. 264º/3 CPC, demonstra que os factos complementares podem ser adquiridos
durante a instrução e discussão da causa, pelo que a omissão da alegação desses factos nos
articulados não implica qualquer preclusão. Importa acentuar, no entanto, que o art. 264º/3
CPC, não concede qualquer opção quanto ao momento da alegação desses factos, mas
apenas a oportunidade de sanar uma insuficiência na alegação da matéria de facto que só foi
detectada na instrução e discussão da causa.
Relativamente aos factos instrumentais, o problema da preclusão equaciona-se de modo
diverso. Estes factos não são nem constitutivos da situação jurídica alegada pela parte, nem
indispensáveis à procedência da acção ou da excepção. A sua função é apenas a de servir de
prova indiciária dos factos principais, pelo que o momento da sua relevância processual não é
o da alegação da matéria de facto, mas o da apresentação ou requerimento dos meios de
prova: é neste momento que devem ser invocados os factos instrumentais que se pretende
demonstrar com esses meios de prova (arts. 552º/2, 577º/1, 612º, 633º e 789º CPC).
Portanto, a preclusão da sua alegação só ocorre quando não for possível indicar ou requerer
os meios de prova (quanto ao processo ordinário e sumário, arts. 508º-A/2-a, 512º/1 e 787º
CPC) ou alterar os que anteriormente foram apresentados ou requeridos (quanto aos mesmos
processos, arts. 512º-A/1 e 787º CPC).
13
13. Prevalência da decisão de mérito
O art. 265º/2 CPC, estabelece que o juiz providenciará, mesmo oficiosamente, pelo
suprimento da falta de pressupostos processuais susceptíveis de sanação, determinando a
realização dos actos necessários à regularização da instância ou, quando estiver em causa
alguma modificação subjectiva da instância, convidando as partes a praticá-los. Esta sanação
oficiosa das excepções dilatórias visa diminuir, tanto quanto possível, os casos de absolvição
da instância e favorecer, sempre que isso seja viável, a apreciação do mérito. Segundo a
doutrina tradicional, os pressupostos processuais devem ser apreciados antes do julgamento
do mérito da causa. Ou seja, segundo esta orientação nunca é possível o proferimento de
uma decisão de mérito antes da averiguação do preenchimento de todos os pressupostos
processuais. Essa posição redunda, assim, num dogma da prioridade da apreciação dos
pressupostos processuais. Na valoração crítica deste dogma devem ser consideradas duas
situações. Uma primeira refere-se aos casos em que o Tribunal, no momento em que conclui
pelo não preenchimento de um pressuposto processual, ainda não pode proferir qualquer
decisão sobre o mérito da causa por falta de elementos suficientes. Uma segunda situação
engloba aquelas hipóteses em que o Tribunal, no próprio momento em que aprecia a falta de
um pressuposto processual, está em condições de julgar a acção procedente ou
improcedente. Em geral, os pressupostos processuais podem realizar uma de duas funções:
esses pressupostos podem destinar-se quer a assegurar o interesse público da boa
administração da justiça, quer a garantir o interesse público na boa administração de uma
tutela adequada e útil. A generalidade dos pressupostos processuais visa acautelar os
interesses das partes, ou seja, assegurar que a parte possa defender convenientemente os
seus interesses em juízo e não seja indevidamente incomodada com a propositura de acções
inúteis ou destituídas de objecto. É para estas situações que o art. 288º/3, 2ª parte CPC,
estipula que, ainda que a excepção dilatória subsista, não deverá ser proferida a absolvição
da instância quando, destinando-se o pressuposto em falta a tutelar o interesse de uma das
partes, nenhum outro motivo obste, no momento da sua apreciação, a que se conheça do
mérito da causa e a decisão possa ser integralmente favorável a essa parte. Segundo o
disposto no art. 288º/3 (as excepções dilatórias só subsistem enquanto a respectiva falta ou
irregularidade não for sanada, nos termos do n.º 2 do artigo 265.º; ainda que subsistam, não
terá lugar a absolvição da instância quando, destinando-se a tutelar o interesse de uma das
partes, nenhum outro motivo obste, no momento da apreciação da excepção, a que se
conheça do mérito da causa e a decisão deva ser integralmente favorável a essa parte) CPC,
o Tribunal pode pronunciar-se sobre o mérito da causa, ainda que se verifique uma excepção
dilatória sanável ou não sanável. A aplicação do art. 288º/3, 2ª parte CPC, pressupõe uma
distinção entre pressupostos processuais dispensáveis e não dispensáveis. O art. 288º/3 CPC,
refere-se aos pressupostos processuais e às excepções dilatórias, pelo que se pode perguntar
se um idêntico regime deve valer quanto aos pressupostos de actos processuais. A resposta
deve ser negativa, porque a consequência da falta do pressuposto do acto processual é a
ineficácia do acto e o Tribunal nunca pode decidir como se o acto não fosse ineficaz.
MODALIDADES DE INCOMPETÊNCIA
14
COMPETÊNCIA INTERNACIONAL: DIREITO INTERNO
18
COMPETÊNCIA CONVENCIONAL: DIREITO INTERNO
19
negócio o requisito respeitante à observância da competência exclusiva dos Tribunais
portugueses (art. 99º/3-d CPC).
O pacto deve mencionar expressamente a jurisdição competente (art. 99º/3-e in fine
CPC). A designação do Tribunal competente (pertencente à ordem jurídica de uma das partes,
de ambas ou de nenhuma delas) pode ser feita directamente: nesta eventualidade, as partes
indicam um Tribunal específico. Mas essa indicação também pode ser realizada
indirectamente através de uma remissão para o Tribunal que for competente segundo as
regras de competência vigentes na jurisdição designada: nessa hipótese, as partes designam
globalmente os Tribunais de uma jurisdição.
O pacto de jurisdição só é válido se constar de acordo escrito ou confirmado por escrito
(art. 9º/3-c CPC). Para este efeito, considera-se reduzido a escrito o acordo que consta de
documentos assinados pelas partes ou que resulta de troca de cartas, telex, telegramas ou
outros meios de comunicação de que fique prova escrita, quer tais instrumentos contenham
directamente o acordo, quer deles conste uma cláusula que remeta para algum documento
que o contenha (art. 99º/4 CPC).
Como a incompetência absoluta decorrente da infracção das regras da competência
internacional é uma excepção dilatória que o Tribunal aprecia oficiosamente (arts. 102º/1,
494º-a, 495º CPC), não é configurável a celebração tácita de um pacto atributivo de jurisdição
pela preclusão da invocação daquela excepção num processo pendente.
MODALIDADES DE INCOMPETÊNCIA
24. Enunciado
A incompetência é a insusceptibilidade de um Tribunal apreciar determinada causa que
decorre da circunstância de os critérios determinativos da competência não lhe concederem a
medida de jurisdição suficiente para essa apreciação. Infere-se da lei a existência de três
tipos de incompetência jurisdicional: a incompetência absoluta, a incompetência relativa e a
preterição de Tribunal Arbitral.
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
CAPACIDADE JUDICIÁRIA
REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA
INCAPACIDADE JUDICIÁRIA E VÍCIOS DA REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA
LITISCONSÓRCIO INICIAL: MODALIDADES
LITISCONSÓRCIO INICIAL: CONSEQUÊNCIAS
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
28. Noção
A personalidade judiciária é a susceptibilidade de ser parte processual (art. 5º/1 CPC). Só
pode ser parte processual quem tiver personalidade jurídica.
23
CAPACIDADE JUDICIÁRIA
31. Noção
A capacidade judiciária é a susceptibilidade de a parte estar pessoal e livremente em juízo
ou de se fazer representar por representante voluntário (art. 9º/1 – a capacidade judiciária
consiste na susceptibilidade de estar, por si, em juízo – CPC). Assim, não possuem capacidade
judiciária quer os que podem intervir pessoal mas não livremente (os inabilitados), quer os
que não podem actuar nem pessoal, nem livremente (os menores e os inabilitados).
32. Aferição
A capacidade judiciária é aferida pela capacidade de exercício para a produção dos efeitos
decorrentes da acção pendente (art. 9º/2 – a capacidade judiciária tem por base e por medida
a capacidade do exercício de direitos – CPC). O que revela para essa aferição é a capacidade
de exercício quanto a esses efeitos e não quanto à prática do acto que constitui ou integra o
objecto do processo.
Exceptuam-se do âmbito da incapacidade judiciária os actos que o incapaz pode
excepcionalmente praticar pessoal e livremente (art. 10º/1 in fine – os incapazes só podem
estar em juízo por intermédio dos seus representantes, ou autorizados pelo seu curador,
excepto quanto aos actos que possam exercer pessoal e livremente – CPC).
A capacidade judiciária dos estrangeiros e apátridas (que depende, da sua capacidade de
exercício, art. 9º/2 CPC) determina-se pela sua lei pessoal (art. 25º CC). Essa lei é a da sua
nacionalidade (art. 31º/1 CC) ou, no caso dos apátridas, a do lugar onde tiverem a residência
habitual ou, na hipótese da sua menoridade ou interdição, a do domicílio legal (art. 32º/1 CC).
24
- Quando os interesses do incapaz se opõem aos interesses do seu representante ou aos
interesses de outro representado pelo mesmo representante (art. 1329º/1 CPC; arts.
1846º/3, 1881º/2, 1956º-c CC);
- Quando o representante for parte conjuntamente com o representado (art. 1846º/1 e 3
CC)
Em ambos os casos, a nomeação do curador provisório pode ser requerida pelo Ministério
Público ou por qualquer parente sucessível, se incapaz for autor, ou por esta parte, se incapaz
for réu (art. 11º/4 CPC). O Ministério Público deve ser ouvido, sempre que não seja o
requerente (art. 11º/5 CPC) e a nomeação do curador ad litem compete ao juiz da causa (art.
11º/1 e 3 CPC).
Se o incapaz não deduzir oposição, a defesa incumbe ao Ministério Público ou, se ele
representar o autor, a um defensor oficioso (art. 15º/1/2 CPC): é a chamada sub-
representação. Assim, antes de o réu incapaz se considerar na situação de revelia por falta
de contestação do seu representante legal, deve ser facultada ao Ministério Público a
possibilidade de deduzir oposição.
Como a sub-representação pelo Ministério Público ou pelo defensor oficioso cessa logo
que seja constituído mandatário judicial ao incapaz (art. 15º/3 CPC), pode concluir-se que o
seu regime nunca é instituído se o incapaz tiver mandatário judicial.
26
REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA
35. Noção
A representação judiciária é a representação de entes que estão submetidos a uma
representação orgânica ou que podem ser representados pelo Ministério Público.
36. Regime
a) Estado:
O Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que seja
permitida a representação por mandatário judicial próprio (art. 20º/1 CPC) ou em que as
entidades autónomas possam constituir advogado que intervenha no processo conjuntamente
com o Ministério Público (art. 20º/2 CPC). Segundo o disposto no art. 4º/1 LOMP, o Ministério
Público é representado no Supremo Tribunal de Justiça pelo Procurador-geral da República,
nas Relações por Procuradores-Gerais-Adjuntos e nos Tribunais de 1ª instância por
Procuradores da República e Delegados do Procurador da República.
b) Pessoas colectivas e sociedades:
Sobre a representação das pessoas colectivas e das sociedades, há que distinguir entre
as acções dessas entidades com terceiros e as causas entre elas e o seu representante. Nas
acções com terceiros, as pessoas colectivas e as sociedades são representadas por quem a
lei, os estatutos ou o pacto social designarem (art. 21º/1 CPC). As sociedades em nome
colectivo e as sociedades por quotas são representadas pelos gerentes, as sociedades
anónimas pelo conselho de administração e as sociedades em comandita pelos sócios
comanditados gerentes.
Nas acções entre pessoa colectiva ou a sociedade e o seu representante, aquelas
entidades são representadas por um curador ad litem (art. 21º/2 CPC). Este regime justifica-
se pela impossibilidade de o representante assumir, nesse caso, as suas funções de
representação.
c) Incapazes e ausentes:
Os incapazes e ausentes são representados pelo Ministério Público em todas as acções
que se mostrem necessárias à tutela dos seus direitos e interesses (art. 17º/1 CPC; art. 5º/1-c
LOMP). A representação pelo Ministério Público cessa se for constituído mandatário judicial do
incapaz ou ausente ou se, tendo o respectivo representante legal deduzido oposição a essa
representação, o juiz, ponderado interesse do representado, a considerar procedente (art.
17º/2 CPC; art. 5º/3 LOMP).
d) Incertos:
Quando a acção seja proposta contra incertos, por o autor não ter a possibilidade de
identificar os interessados directos em contradizer, eles são representados pelo Ministério
Público (art. 16º/1 CPC; art. 5º/1-c LOMP), excepto se este representar o autor, caso em que é
nomeado um defensor oficioso para servir como agente especial do Ministério Público naquela
representação (art. 16º/2 CPC). Esta representação cessa quando os citados como incertos se
apresentam para intervir como réus e a sua legitimidade se encontrar reconhecida (art. 16º/3
CPC).
e) Pessoas judiciárias:
As pessoas judiciárias – isto é, as entidades que só possuem personalidade judiciária – são
representadas da seguinte forma:
- A herança jacente, por um curador (art. 22º CPC; art. 2048º/1 CC);
- As associações sem personalidade judiciária, pelo órgão da administração (art. 22º
CPC; art. 195º/1 CC);
- As comissões especiais pelos administradores (art. 22º CPC; art. 996º/1 CC);
- As sociedades comerciais não registadas, pelas pessoas a que as cláusulas do contrato
atribuam a representação (art. 22º CPC);
- O condomínio, pelo administrador (art. 22º CPC; art. 1437º/2 CC);
- As sucursais ou equivalentes, pelos directores, gerentes ou administradores (art. 22
CPC).
27
INCAPACIDADE JUDICIÁRIA E VÍCIOS DA REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA
29
LITISCONSÓRCIO INICIAL: MODALIDADES
42. Classificações
O litisconsórcio é susceptível de várias classificações: pode-se classificá-lo quanto à
origem, ao reflexo na acção e ao conteúdo da decisão, ou seja, pode-se atender, nessa
classificação, ao momento da propositura da acção, às consequências da sua verificação na
acção, ao momento do proferimento da decisão e ainda à posição dos litisconsortes. Dado
que se referem a realidades distintas, essas classificações podem classificar-se entre si.
a) Origem do litisconsórcio:
Quanto à sua origem, o litisconsórcio pode ser: voluntário, todos os interessados podem
demandar ou ser demandados, mas não se verifica qualquer ilegitimidade se não estiverem
todos presentes em juízo ou; necessário, todos os interessados devem demandar ou ser
demandados, originando a falta de qualquer deles uma situação de ilegitimidade. Assim,
enquanto o litisconsórcio voluntário decorre exclusivamente da vontade dos interessados, o
litisconsórcio necessário é imposto ao autor ou autores da acção.
b) Reflexo na acção:
Atendendo aos reflexos na acção, o litisconsórcio pode ser: simples, é aquele em que a
pluralidade de partes não implica um aumento do número de oposições entre as partes; ou
recíproco, é aquele em que a pluralidade de partes determina um aumento do número de
oposições entre elas.
c) Conteúdo da decisão:
Atendendo ao conteúdo da decisão, o litisconsórcio pode ser: unitário, é aquele em que
a decisão tem de ser uniforme para todos os litisconsortes; ou simples, pelo contrário, a
decisão pode ser distinta para cada um dos litisconsortes.
d) Posição das partes:
Atendendo à posição das partes, o litisconsórcio pode ser: conjunto, verifica-se quando
todos os litisconsortes activos formulam conjuntamente o pedido contra o demandado ou
quando o autor formula o pedido conjuntamente contra todos os litisconsortes demandados;
ou subsidiário, pressupõe que o objecto da causa só é apreciado em relação a um
litisconsorte activo ou passivo se um outro autor ou réu não for considerado titular, activo ou
passivo, desse mesmo objecto.
30
43. Litisconsórcio voluntário
Sempre que existe uma pluralidade de interessados, activos ou passivos, opera, quanto à
constituição do litisconsórcio, uma regra de coincidência, pois que a acção pode ser proposta
por todos esses titulares ou contra eles (art. 27º/1, 1ª parte CPC). O litisconsórcio voluntário
verifica-se por iniciativa da parte ou partes em causa: são os vários interessados que decidem
instaurar a acção conjuntamente, é o autor da acção que resolve propor a acção contra vários
réus e é esse autor ou o réu que opta por promover a intervenção de outras partes durante a
pendência da acção.
Apesar de o litisconsórcio voluntário se encontrar na disponibilidade das partes, que o
podem constituir ou não, isso não significa que a sua constituição seja irrelevante, isto é, que
a parte que o pode conformar possa conseguir os mesmos benefícios e vantagens com ou
sem a sua conformação.
a) Litisconsórcio comum:
A parte que o conforma pretende apenas integrar determinados sujeitos no âmbito
subjectivo do caso julgado, numa situação em que, sem a sua participação na acção, eles não
ficariam abrangidos por ele.
b) Litisconsórcio conveniente:
A parte que o constitui visa alcançar uma vantagem que não poderia obter sem essa
pluralidade de partes, activas ou passivas. Quer dizer: a constituição do litisconsórcio é uma
condição indispensável para alcançar um certo resultado ou efeito.
São vários os motivos que podem determinar o litisconsórcio conveniente. Este
litisconsórcio verifica-se em relação a obrigações conjuntas, pois que, sem a participação de
todos os credores ou devedores, a acção só pode ser procedente na quota-parte respeitante
ao sujeito presente em juízo (art. 27º/1, 2ª parte CPC).
31
que apenas pode ser exercido por ambos os cônjuges ou um bem que só por eles pode ser
administrado ou alienado, incluindo a casa de morada de família (art. 28º-A/3 CPC).
O litisconsórcio necessário definido pelo art. 28º-A/3 CPC, também pode operar depois da
dissolução, declaração de nulidade ou anulação do casamento.
b) Litisconsórcio convencional:
O litisconsórcio necessário convencional, é aquele que é imposto pela estipulação
das partes de um negócio jurídico (art. 28º/1 CPC). Para a determinação do âmbito deste
litisconsórcio convencional há que analisar o regime das obrigações divisíveis e indivisíveis.
Se a obrigação for divisível, o litisconsórcio é, em princípio voluntário, porque, se não
estiverem presentes todos os interessados activos e passivos, o Tribunal conhece apenas da
quota-parte do interesse ou da responsabilidade dos sujeitos presentes em juízo (art. 27º/1,
2ª parte). Assim, quanto a uma obrigação divisível, o litisconsórcio só é necessário se as
partes estipulam que o seu cumprimento apenas é exigível por todos os credores ou a todos
os devedores.
Quanto à obrigação indivisível (por natureza, estipulação legal ou convenção das partes),
há que distinguir entre a pluralidade de devedores e a de credores. Se forem vários os
devedores, o art. 535º/1 CC, estipula que o cumprimento só pode ser exigido de todos eles,
pelo que, quanto a esta hipótese, vale um litisconsórcio necessário legal e, por isso, o caso
não se pode enquadrar no litisconsórcio convencional. Pelo contrário, se houver uma
pluralidade de credores, o art. 538º/1 CC, dispõe que qualquer deles pode exigir a prestação
por inteiro, resultando daí que, na falta de estipulação das partes, o litisconsórcio de vários
credores de uma obrigação indivisível é meramente voluntário. Por isso, relativamente a uma
obrigação indivisível, o litisconsórcio necessário convencional só se verifica se for estipulado
que essa obrigação apenas pode ser exigida por todos os credores.
c) Litisconsórcio natural:
O litisconsórcio necessário natural, é aquele que é imposto pela realização do efeito
útil normal da decisão do Tribunal (art. 28º/2 CPC). A concretização deste referido efeito útil
normal suscita muitas dificuldades.
Pode entender-se que o litisconsórcio natural só existe quando a repartição dos vários
interessados por acções distintas impeça uma composição definitiva entre as partes da
causa.
Mas também pode defender-se que o litisconsórcio é natural não só quando a repartição
dos interessados por acções diferentes impeça a composição definitiva entre as partes, mas
também quando a repartição dos interessados por acções distintas possa obstar a uma
solução uniforme entre todos os interessados.
Segundo a definição legal do art. 28º/2, 2ª parte CPC, o efeito útil normal é atingido
quando sobrevem uma regulação definitiva da situação concreta das partes (e só delas)
quanto ao objecto do processo. De acordo com a mesma definição, o efeito útil normal pode
ser conseguido ainda que não estejam presentes todos os interessados ou, dito de outra
forma a ausência de um deles nem sempre constitui um obstáculo a que esse efeito possa ser
atingido: é o que resulta do facto de nessa definição se admitir expressamente a não
vinculação de todos os interessados.
Assim, deve concluir-se que decorre do art. 28º/2, 2ª parte CPC, que, na determinação do
litisconsórcio, releva apenas a eventualidade de a sentença não compor definitivamente a
situação jurídica das partes, por esta poder ser afectada pela solução dada numa outra acção
entre outras partes.
51. Pressupostos
A necessidade da composição provisória decorre do prejuízo que a demora na decisão da
causa e na composição definitiva provocaria na parte cuja situação jurídica merece ser
acautelada ou tutelada. A finalidade específica das providências cautelares é, por isso, a de
evitar a lesão grave e dificilmente reparável (art. 381º/1 CPC) proveniente da demora na
tutela da situação jurídica, isto é, obviar ao chamado periculum in mora. Esse dano é aquele
que seria provocado quer por uma lesão iminente quer pela continuação de uma lesão em
curso, ou seja, de uma lesão não totalmente consumada.
Se faltar o periculum in mora, ou seja, se o requerente da providência não se encontrar,
pelo menos, na iminência de sofrer qualquer lesão ou dano, falta a necessidade da
composição provisória e a providência não pode ser decretada. Quer dizer: esse periculum é
um elemento constitutivo da providência requerida, pelo que a sua inexistência obsta ao
decretamento daquela.
Nas providências cautelares existem apenas a prova sumária do direito ameaçado, ou
seja, a demonstração da probabilidade séria da existência do direito alegado (arts. 403º/2,
407º/1 e 423º/ CPC), bem como do receio da lesão (arts. 381º/1, 384º/1, 387º/1, 406º/1,
407º/1, 421º/1 e 423º/1 CPC). As providências só requerem, quanto ao grau de prova, uma
mera justificação, embora a repartição do ónus da prova entre o requerido e o requerente
observe as regras gerais (art. 342º/1/2 CC).
Assim, para o decretamento da providência cautelar exige-se apenas a prova de que a
situação jurídica alegada é provável ou verosímil, pelo que é suficiente a aparência desse
direito, ou seja, basta um fumus boni iuris.
O fumus boni iuris decorre da suficiência da mera justificação, mas não tem qualquer
tradução numa discricionaridade do Tribunal quanto aos fundamentos da providência; se isso
não suceder, o Tribunal não a pode decretar, ainda que isso se pudesse justificar por outros
factores.
As providências cautelares exigem todos os pressupostos processuais gerais.
Especificamente quanto ao interesse processual, importa referir que ele falta sempre que o
requerente possa atingir a garantia do direito, a regulação provisória ou a antecipação da
tutela através de um meio mais adequado que o procedimento cautelar, ou seja, quando, em
função das circunstâncias, aquele procedimento não for meio mais célere e económico para
obter a tutela dos interesses do requerente.
52. Providências especificadas
A regulamentação legal das providências cautelares assenta na seguinte dicotomia: a lei
define várias providências nominadas e admite, sempre que nenhuma delas seja aplicável,
uma providência comum de âmbito residual (art. 381º/3 CPC). As providências nominadas são
a restituição provisória da posse (arts. 393º a 395º CPC), a suspensão de deliberações sociais
(arts. 396º a 398º CPC), os alimentos provisórios (arts. 399º a 402º CPC), o arbitramento de
reparação provisória (arts. 403º a 405º CPC), o arresto (arts. 406º a 411º CPC), o embargo de
obra nova (arts. 412º a 420º CPC) e o arrolamento (arts. 421º a 427º CPC).
No grupo das providências nominadas, algumas visam garantir a realização de um direito,
outras destinam-se a regular provisoriamente uma situação e outras ainda procuram
antecipar a tutela jurisdicional que se pretende obter através da acção principal.
a) Providências de garantia
· Arresto
O arresto e o arrolamento são providências cautelares cuja finalidade específica é garantir
a realização de uma pretensão e assegurar a sua execução. O arresto pode ser requerido pelo
credor que demonstre a probabilidade da existência do seu crédito e tenha justo receio de
perda da sua garantia patrimonial (arts. 406º/1 CPC; 601º e 619º/1 CC). O arresto consiste na
apreensão judicial de bens do devedor (arts. 406º/2 CPC; 619º/1 CC) ou de bens transmitidos
pelo devedor a um terceiro (arts. 407º/2 CPC; 619º/2 CC)
· Arrolamento
Enquanto o arresto visa assegurar a garantia patrimonial do credor, o arrolamento
destina-se a evitar o extravio ou a dissipação de bens, móveis ou imóveis, ou de documentos
(art. 421º/1 CPC), que, para esse efeito, são descritos, avaliados e depositados (art. 424º/1
36
CPC). Essa providência visa a conservação de bens ou documentos determinados (art. 422º/1
CPC), sendo por isso que os credores só a podem requerer quando haja necessidade de
proceder à arrecadação de herança ou dos próprios bens (arts. 422º/2 e 427º/2 CPC; 90º e
2048º/2 CC).
b) Providências de regulação
· Restituição provisória da posse
O possuidor que for esbulhado com violência, isto é, que for violentamente privado do
exercício, da retenção ou da fruição do objecto possuído, tem o direito de ser restituído
provisoriamente à sua posse, desde que alegue e prove os factos que constituem posse, o
esbulho e a violência (arts. 393º CPC; 1279º CC). A reconstituição provisória da posse é
justificada não só pela violência ou ameaças contra as pessoas, mas também por aquela que
é dirigida contra coisas, como muros e vedações.
· Embargo de obra nova
O embargo de obra nova pode ser judicial ou extrajudicial. O embargo judicial pode ser
requerido por quem se sentir ofendido no seu direito de propriedade (ou de compropriedade),
num outro direito real ou pessoal de gozo ou na sua posse, em consequência de obra,
trabalho ou serviço que lhe cause ou ameace causar prejuízo (art. 412º/1 CPC).
· Suspensão de deliberações sociais
Se alguma associação ou sociedade tomar, em assembleia-geral, deliberações contrárias
à lei, aos estatutos ou ao contrato, qualquer sócio pode requerer, no prazo de 10 dias, que a
execução dessas deliberações seja suspensa, desde que, além de provar a sua qualidade de
sócio, mostre que essa execução pode causar dano apreciável (art. 396º/1 CPC).
O dano causado deve ser apreciável, mas não tem de ser irreparável ou de difícil
reparação. Assim, por não poder causar qualquer dano considerável, não pode ser requerida
a suspensão da deliberação respeitante ao recebimento de dividendos.
c) Providências de antecipação
· Alimentos provisórios
A providência de alimentos provisórios pode ser requerida como dependência da acção
em que, principal ou acessoriamente, seja pedida uma prestação de alimentos (arts. 399º/1
CPC; 2007º/1 CC). Essa causa pode ser, por exemplo, uma acção de reconhecimento da
maternidade ou paternidade (arts. 1821º, 1873º e 1884º/1 CC). Os alimentos provisórios são
fixados numa quantia mensal (art. 399º/1 CPC), tomando em consideração o que for
estritamente necessário para o sustento, a habitação e o vestuário do requerente e ainda
para as despesas da acção, se o autor não puder beneficiar de apoio judiciário (art. 399º/2
CPC).
· Arbitramento de reparação
Como dependência da acção de indemnização fundada em morte ou lesão corporal, pode
o lesado, bem como aqueles que lhe podiam exigir alimentos ou aqueles a quem o lesado os
prestava no cumprimento de uma obrigação natural, requerer o arbitramento de uma quantia
certa, sob a forma de renda mensal, como reparação provisória do dano (art. 403º/1 CPC). O
mesmo pode ser requerido nos casos em que a pretensão indemnizatória se funda em dano
susceptível de pôr seriamente em causa o sustento ou habitação do lesado (art. 403º/4 CPC).
A providência requerida é decretada se se verificar uma situação de necessidade em
consequência das lesões sofridas e se estiver indiciada a existência da obrigação de
indemnizar a cargo do requerido (art. 403º/2 CPC). O montante da reparação provisória é
fixado equitativamente e é subtraído ao quantitativo indemnizatório que vier a ser apurado
na acção principal (art. 403º/3 CPC).
37
Para que uma providência cautelar não especificada possa ser decretada são necessários,
além do preenchimento das condições relativas à referida subsidiariedade (art. 381º/3 CPC),
vários pressupostos específicos:
- O fundado receio de que outrem, antes de a acção ser proposta ou na pendência
dela, cause lesão grave e dificilmente reparável ao direito do requerente (arts. 381º/1 e
387º/1 CPC);
- A adequação da providência concretamente requerida à efectividade do direito
ameaçado (art. 381º/1 CPC);
- O excesso considerável do dano que se pretende evitar com a providência sobre o
prejuízo resultante do seu decretamento (art. 387º/2 CPC).
As providências cautelares comuns destinar-se-ão primordialmente a regular
provisoriamente uma situação e a antecipar a tutela definitiva. O art. 381º/1 CPC, refere
explicitamente providências com eficácia conservatória e antecipatória do efeito da decisão
principal, mas isso não parece revestir-se de qualquer significado limitativo.
As providências cautelares não especificadas também podem ser utilizadas para obter a
antecipação da tutela de uma situação jurídica.
54. Características
a) Dependência
As providências cautelares têm por função obter uma composição provisória. Essas
providências são decretadas em processos especiais próprios (os procedimentos cautelares,
arts. 381º a 427º CPC) e, porque visam compor provisoriamente a situação das partes, são
dependência de uma acção cujo objecto é a própria situação acautelada ou tutelada (arts.
383º/1, 399º/1, 403º/1 e 421º/2 CPC). Essa acção pode ser declarativa ou executiva (art.
383º/1 in fine CPC), embora, nesta última, não sejam frequentes as hipóteses em que está
assegurado o interesse processual no decretamento da providência. A acção principal pode
decorrer perante um Tribunal estadual ou Arbitral.
Dada esse dependência, as providências caducam se a acção principal vier a ser julgada
improcedente (art. 389º/1-c CPC) ou se o réu for nela absolvido da instância e o autor não
propuser, dentro do prazo legal, uma nova acção (art. 389º/1-d; sobre esse prazo art. 289º/2
CPC). Se a acção principal for julgada procedente, verifica-se, em regra a substituição da
composição provisória pela definitiva resultante dessa decisão.
As providências cautelares podem ser requeridas antes da propositura da acção principal
ou durante a pendência desta última (art. 383º/1, 2ª parte CPC), mas nunca após o trânsito
em julgado da decisão dessa acção. Como dependência da mesma causa não pode ser
requerida mais do que uma providência relativa ao mesmo objecto, ainda que uma delas seja
julgada injustificada ou tenha caducado (art. 381º/4 CPC).
As providências cautelares podem ser solicitadas mesmo quando não esteja pendente
nenhuma acção (art. 383º/1, 2ª parte CPC). Isso possibilita a situação em que a providência é
requerida, mas a acção principal nunca chega a ser proposta pelo requerente.
b) Celeridade
As providências cautelares são apreciadas e decretadas nos procedimentos cautelares.
Dada a celeridade indispensável a essas providências, estes procedimentos revestem sempre
carácter urgente e os respectivos actos precedem qualquer outro serviço judicial não urgente
(art. 382º/1 CPC); como consequência desta urgência, os prazos processuais neles previstos
não se suspendem sequer durante as férias judiciais (art. 144º/1 CPC).
c) Modificação
O Tribunal não está adstrito à providência requerida (art. 392º/3, 1ª parte CPC), isto é,
pode decretar uma providência distinta daquela que foi solicitada (art. 661º/3 CPC). Esta
faculdade concedida ao Tribunal decorre da não vinculação deste órgão à indagação,
interpretação e aplicação das regras de direito (art. 664º, 1ª parte CPC) e pressupõe,
naturalmente, que os factos alegados pelo requerente possibilitem essa conversão. Desse
regime também decorre que uma idêntica modificação da providência pelo próprio
requerente não é condicionada pelo disposto no art. 273º/1/2 CPC.
d) Cumulação
O requerente pode solicitar o decretamento de várias providências cautelares num
mesmo procedimento cautelar, desde que a tramitação para cada uma delas não seja
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absolutamente incompatível e essa cumulação corresponda a um interesse relevante ou seja
indispensável para a justa composição do litígio (art. 392º/3, 2ª parte CPC). Isso significa que
se podem cumular tanto diferentes providências especificadas, como providências nominadas
e providências comuns.
Podem cumular-se duas ou mais providências cautelares se, na acção de que são
dependentes (art. 383º/1 CPC), for admissível a cumulação dos respectivos pedidos.
e) Proporcionalidade
A provisoriedade cautelares e a sua finalidade de garantia, de regulação ou de
antecipação justificam que as medidas tomadas ou impostas devam ser as adequadas às
situações que se pretende acautelar ou tutelar. As relações entre aquelas medidas e estas
situações devem orientar-se por uma regra de proporcionalidade: as medidas provisórias não
podem impor ao requerido um sacrifício desproporcionado relativamente aos interesses que o
requerente deseja acautelar ou tutelar provisoriamente (arts. 387º/2; 397º/2, 408º/2/3 e 419º
CPC).
f) Eficácia relativa
Uma das consequências da summaria cognitio e da suficiência da mera justificação no
julgamento da providência é a insusceptibilidade de a decisão proferida na procedimento
cautelar produzir qualquer efeito de caso julgado na respectiva acção principal: o julgamento
da matéria de facto e a decisão final proferida no procedimento cautelar não têm qualquer
influência no julgamento da acção principal (art. 383º/4 CPC). Como a providência decretada
caduca se a acção vier a ser julgada improcedente por sentença transitada em julgado (art.
389º/1-c CPC), também isso demonstra que o seu decretamento, não é vinculativo na acção
principal (que, apesar desse decretamento, vem a ser julgada improcedente).
Pela mesma razão, a desistência da providência e a confissão do pedido (art. 293º/1 CPC)
realizadas no procedimento cautelar não podem condicionar a apreciação da acção principal.
g) Substituição por caução
As providências cautelares destinam-se a obter uma composição provisória que tutela ou
acautela o interesse na efectividade da tutela jurisdicional. Isso não impede, contudo, que
esse interesse possa ser acautelado de outra forma. Uma delas consiste na prestação de uma
caução pelo requerido em substituição do decretamento da providência: é o que é admissível
nas providências cautelares não especificadas (art. 387º/3 CPC) e no embargo de obra nova
(art. 419º/1 CPC).
A substituição da providência cautelar pela prestação de caução pelo requerido
pressupõe, no entanto, que através desta se pode obter o mesmo efeito a que se destina
aquela providência. Normalmente, a providência cautelar pode ser substituída por caução,
sempre que ela vise evitar um prejuízo patrimonial.
h) Garantia e execução
De molde a assegurar a efectividade da providência cautelar decretada, é admissível a
fixação de uma sanção pecuniária compulsória, se a providência impuser uma prestação de
facto infungível e esta não exigir especiais qualidades científicas ou artísticas do requerido
(arts. 384º/2 CPC; 829º-A/1 CC).
55. Caducidade
As providências cautelares fornecem, uma composição provisória, pelo que elas caducam
se a decisão que vier a ser proferida na acção principal não for compatível com a medida
provisória decretada. É o que acontece quando essa acção for julgada improcedente por uma
sentença transitada em julgado (art. 389º/1-c CPC).
A caducidade da providência cautelar decorrente da extinção do direito acautelado (art.
389º/1-e CPC) é apenas uma das situações possíveis de inutilidade superveniente dessa
providência (art. 287º-e CPC), pelo que essa inutilidade pode decorrer de outros fundamentos.
Normalmente a caducidade da providência abrange-a na totalidade, mas também são
pensáveis situações de caducidade parcial da providência. Se, por exemplo, a acção for
julgada parcialmente improcedente no despacho saneador (art. 510º/1-b CPC), a providência
decretada só caduca na parte respectiva (art. 389º/1-c CPC); o mesmo sucede se o direito
acautelado se extinguir apenas em parte (art. 289º/1-e CPC).
A caducidade da providência não opera automaticamente e nem sequer é de
conhecimento oficioso. O levantamento da providência com fundamento na sua caducidade
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depende de solicitação do requerido, que é apreciada após a audição do requerente (art.
389º/4 CPC).
57. Noção
A composição da acção pode ser decisivamente influenciada pela omissão de um acto
processual: trata-se da revelia do réu, que consiste na abstenção definitiva da contestação.
A contestação – na qual o réu pode impugnar as afirmações do autor ou deduzir uma
excepção (art. 487º/1 CPC) – constitui um ónus da parte, não existindo, assim, qualquer dever
de contestar. Daí decorre que a revelia não determina a aplicação ao réu de qualquer sanção
(pecuniária, nomeadamente), mas antes certas desvantagens quanto à decisão da acção.
58. Modalidades
a) Revelia absoluta e relativa
A revelia é absoluta quando o réu não pratica qualquer acto na acção pendente; é
relativa se o réu não contesta, mas pratica em juízo qualquer outro acto processual,
designadamente a constituição de mandatário judicial.
b) Revelia operante e inoperante
A revelia – quer a relativa, quer a absoluta – pode ser operante ou inoperante. É
operante quando produz efeitos quanto à composição da acção; é inoperante quando esses
efeitos não se realizam, isto é, quando a falta de contestação nada implica quanto à decisão
da causa (arts. 233º/1; 484º/1; 485º-b, 2ª parte; 233º/6 e 248º; 485º-a; 485º-c CPC; art. 354º-
b CC; art. 485º-d CPC; art. 364º CC). As situações que conduzem à inoperância da revelia são
comuns ao processo ordinário, sumário e sumaríssimo, pois, na falta de uma regulamentação
específica, vale para estes últimos o que se encontra estipulado para o processo ordinário
(arts. 463º/1 e 464º CPC).
59. Efeitos
A revelia operante implica uma importante consequência quanto à decisão da acção. Essa
consequência, que se produz ex lege e não ex voluntate, consiste no seguinte: a revelia
operante implica a confissão dos factos articulados pelo autor (art. 484º/1 CPC; quanto à
aplicação dessa regra ao processo sumário e sumaríssimo, arts. 463º/1 e 464º CPC).
O efeito cominatório realizado pela revelia não prevalece sobre a matéria de
conhecimento oficioso, nomeadamente as excepções dilatórias de que o Tribunal deva
conhecer ex officio (art. 495º CPC) e que obstem à apreciação do mérito da causa (art. 288º/3
CPC).
O efeito cominatório da revelia operante também não pode prevalecer sobre os efeitos
ilegais pretendidos pelo autor. Se a confissão ficta ou presumida que resulta da revelia
respeitar a factos impossíveis ou notoriamente inexistentes ou se o autor tiver formulado um
pedido ilegal ou juridicamente impossível, essa confissão não é admissível (art. 354º-c CC) e o
Tribunal não os deve considerar admitidos por um acordo e deve abster-se de apreciar esse
pedido.
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COMPOSIÇÃO PELO TRIBUNAL
61. Modalidades
A principal diferenciação nas decisões judiciais distingue-as em sentenças e despachos
(art. 156º/1 CPC). As sentenças são, em regra, as decisões sobre o mérito da causa ou sobre
um incidente com a estrutura de uma causa (art. 156º/2 CPC), mas também podem conhecer
de aspectos processuais (art. 660º/1 CPC); das sentenças que conhecem do mérito da causa
pode interpor-se recurso de apelação (art. 691º/1 CPC). Os despachos são, em princípio,
decisões sobre aspectos processuais e, por isso, são, em regra, decisões interlocutórias,
embora também possam incidir sobre o mérito (art. 510º/1-b CPC) e, mesmo fora destes
casos, possam ser decisões finais (art. 510º/1-a CPC); dos despachos que não conhecem do
mérito da causa cabe recurso de agravo (art. 733º CPC) e daqueles que apreciam esse mérito
pode apelar-se (art. 691º CPC).
Às decisões dos Tribunais colectivos atribui-se a designação especial de acórdãos (art.
156º/3 CPC). Quando o acórdão da Relação conhece do mérito da causa, dele cabe revista
(art. 721º/2 CPC); quando isso não sucede, cabe agravo (art. 754º/1 CPC).
Alguns despachos incidem somente sobre aspectos burocráticos do processo e da sua
tramitação e, por isso, não possuem um conteúdo característico do exercício da função
jurisdicional, nem afectam a posição processual das partes ou de terceiros. São os chamados
despachos de mero expediente, que são aqueles que se destinam a prover ao andamento
regular do processo e nada decidem quanto ao conflito de interesses entre as partes (art.
156º/4, 1ª parte CPC)
Os despachos discricionários são aqueles cujo conteúdo é determinado pelo prudente
arbítrio do julgador (art. 156º/4, 2ª parte CPC), ou seja, por critérios de conveniência e
oportunidade. Assim, são despachos discricionários todos aqueles que estabelecem prazos
judiciais (art. 144º/1 CPC), com ou sem limites legais (arts. 24º/2; 25º/1; 33º 40º/2; 486º/4 e
5; 508º/2 e 3 CPC).
Os despachos de mero expediente e os despachos discricionários não admitem recurso
(art. 679º CPC), nem reclamação (art. 700º/3 CPC)
DINÂMICA DA INSTÂNCIA
VICISSITUDES
FASES DO PROCESSO
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VICISSITUDES
62. Início
A instância inicia-se com a propositura da acção, entendendo-se que esta se considera
proposta, intentada ou pendente quando for recebida na secretaria (art. 150º/3 CPC) a
respectiva petição inicial ou, se esta tiver sido enviada pelo correio, na data do seu registo
postal (arts. 267º/1; 150º/1 CPC). No entanto, em relação ao réu, os efeitos decorrentes da
pendência da causa só se produzem, em regra, após a sua citação (art. 267º/2 CPC; sobre
uma excepção a esta regra, art. 385º/6 CPC).
63. Suspensão
São várias as circunstâncias que determinam a suspensão da instância:
· Quando falecer ou se extinguir alguma das partes (arts. 276º/1-a; 277º/1 CPC), salvo se
já tiver começado a audiência final ou se o processo já tiver inscrito em tabela para
julgamento, hipótese em que a instância só se suspende depois de ser proferida a
sentença ou o acórdão (art. 277º/1 CPC);
· Nos processos em que for obrigatória a constituição de advogado (arts. 32º/1 e 3;
276º/1-b; 278º; 284º/1-b CPC);
· Sempre que o Tribunal a ordene (arts. 276º/1-c; 279º/1; 97º/1; 284º/1-c CPC);
· Sempre que a lei o determine (arts. 276º/1-d – 12º/2 e 5; 24º/2; 25º/1; 39º/3; 356º;
549º/3; 550º/3; e 551º-A/4; no art. 1940º/3 CC; no art. 14º/3 DL 329-A/95, de 12/12; no art.
24º/1-b, DL 387-B/87, de 29/12, e ainda no art. 3º/2, CRegP.);
· A vontade das partes também constitui uma causa de suspensão da instância: as partes
podem acordar nessa suspensão por um prazo não superior a seis meses (art. 279º/4 CPC).
Durante a suspensão da instância só se podem praticar os actos urgentes destinados a
evitar o dano irreparável (art. 283º/1, 1ª parte CPC) e os prazos judiciais não correm enquanto
ela se mantiver (art. 283º/2, 1ª parte CPC). Mas a suspensão não impede a desistência,
confissão ou transacção, desde que estas não se tornem impossíveis ou não sejam afectadas
pelo fundamento da suspensão (art. 283º/3 CPC).
64. Interrupção
A instância interrompe-se quando o processo estiver parado durante mais de um ano por
negligência das partes em promover os seus termos ou os de algum incidente do qual
dependa o seu andamento (art. 285º CPC). A interrupção da instância é, assim, consequência
do incumprimento do ónus de impulso subsequente das partes (art. 265º/1 CPC). A
interrupção cessa se o autor requerer algum acto do processo ou do incidente de que
dependa o andamento dele (art. 286º CPC).
A interrupção da instância provoca um importante efeito substantivo – é ele, aliás, que
justifica a ressalva feita no art. 286º in fine CPC. Quando a caducidade se refere ao exercício
jurisdicional de um direito potestativo, a interrupção da instância implica que não se conta,
para efeitos dessa caducidade, o prazo decorrido entre a propositura da acção e aquela
interrupção (art. 332º/2 CC). Isto é, o prazo de caducidade começa a correr de novo com a
interrupção da instância, pelo que pode suceder que ele se esgote antes de cessar essa
interrupção.
65. Extinção
O meio normal de extinção da instância na acção declarativa é o julgamento (art. 287º-a
CPC), que, aliás, pode decorrer de uma sentença de mérito ou de absolvição da instância
(arts. 288º e 289º CPC). Mas existem outras causas de extinção da instância. São elas:
- A celebração de um compromisso Arbitral (arts. 287º-b; 290º CPC; art. 1º/1 e 2 LAV), ou
seja, a atribuição da competência para o julgamento da acção pendente a um Tribunal
Arbitral;
- A deserção da instância (art. 287º-c CPC), isto é, a interrupção da instância durante
dois anos (art. 291º/1 CPC);
- A desistência, confissão ou transacção (art. 287º-d; 293º a 295º CPC);
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- A impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide (art. 287º-e CPC).
Com a extinção da instância terminam todos os efeitos processuais e substantivos da
pendência da acção (art. 481º CPC; arts. 323º/1 e 2; 805º/1; e 1292º CC). A desistência,
absolvição e deserção da instância, bem como a caducidade do compromisso Arbitral (art. 4º
LAV), implicam que o prazo prescricional – cujo decurso fora interrompido pela citação do réu
(art. 323º/1 CC) ou passados 5 dias depois de esta ter sido requerida (art. 323º/2 CC) –
começa a correr de novo (e desde o início) a partir desse acto interruptivo (arts. 327º/2 e
326º/1 CC).
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FASES DO PROCESSO
66. Noção
A tramitação da acção comporta uma sequência de actos que pode ser decomposta em
várias fases. A fase processual pode ser construída através de um critério cronológico ou
lógico: naquela primeira acepção, a fase engloba os actos temporalmente contíguos na
marcha do processo, mesmo que realizem finalidades distintas; em sentido lógico, a fase
abrange todos os actos, qualquer que seja o momento em que sejam praticados, que
prossigam uma mesma finalidade.
Assim, a fase do processo integra todos os actos que realizam uma mesma função, ainda
que eles sejam praticados antes do início ou depois do termo da respectiva fase em sentido
cronológico.
PROCESSO ORDINÁRIO
FASE DA CONDENSAÇÃO
FASE DA INSTRUÇÃO
FASE DA SENTENÇA
68. Articulados
São as peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e formulam
os pedidos correspondentes (art. 151º/1 CPC). Essas peças recebem o nome de articulados,
porque, em princípio, nas acções, nos incidentes e nos procedimentos cautelares é
obrigatória a dedução por artigos dos factos que interessam à fundamentação do pedido ou
da defesa (art. 151º/2 CPC), isto é, cada facto deve ser alegado separadamente num artigo
numerado. O processo ordinário comporta, na tramitação normal, quatro articulados: a
petição inicial (art. 467º CPC), a contestação (art. 486º CPC), a réplica (art. 502º CPC) e a
tréplica (art. 503º CPC); em determinadas situações, podem ainda ser apresentados
articulados supervenientes (art. 506º CPC).
72. Contestação
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A contestação é a resposta do réu à petição inicial do autor, ou seja, é a manifestação da
posição do réu perante aquele articulado do autor. Pode ser entendida num sentido material
ou formal. A contestação em sentido material é qualquer acto praticado pelo réu, no qual
essa parte mostre a sua oposição ao autor e ao pedido formulado por esta parte (arts. 486º/2
e 487º/1 CPC).
A contestação em sentido formal é o articulado de resposta do réu à petição inicial do
autor: à contestação em sentido formal referem-se por exemplo os arts. 488º e 489º/1 CPC.
O réu pode tomar uma de duas atitudes fundamentais perante a petição inicial: opor-se
ao pedido do autor ou não se opor a ele. A opção por uma destas condutas depende dos
factos indagados pelo mandatário do réu e das provas de que esta parte possa dispor,
havendo, naturalmente, que observar o dever de verdade que recai sobre essa parte (art.
456º/2-a, b CPC) e o dever de não advogar contra a lei expressa e de não usar meios ou
expedientes ilegais que obriga o mandatário (art. 78º-b EOA).
A contestação do réu marca a sua oposição relativamente ao pedido do autor. A
contestação pode consistir na impugnação dos factos articulados pelo autor ou na invocação
de uma ou várias excepções dilatórias ou peremptórias (art. 487º CPC). A escolha da
modalidade da defesa (por impugnação ou por excepção) é condicionada pela posição que o
réu pretende assumir na acção (arts. 487º/2 e 493º/2 e 3 CPC).
Em conjunto com a contestação ou independente dela, o réu pode formular um pedido
reconvencional contra o autor (art. 501º CPC). Sempre que o pedido reconvencional não
esteja sujeito a qualquer preclusão se não for formulado na acção pendente, a opção pela sua
formulação nessa acção só deve ser tomada quando for possível coligir, no prazo de
contestação, todos os elementos necessários para a sua procedência.
A reconvenção deve ser deduzida separadamente na contestação, na qual devem ser
expostos os seus fundamentos, formulado o correspondente pedido e indicado o seu valor
(art. 501º/1 e 2 CPC).
O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da sua citação (art. 486º CPC). A esse
prazo acresce uma dilação de 5 dias quando a citação não tenha sido realizada na própria
pessoa do réu (arts. 236º/2 e 240º/2 e 3 CPC) e quando o réu tenha sido citado fora da
comarca sede do Tribunal onde pende a acção (art. 252º-A/1 CPC).
O articulado de contestação apresenta o mesmo conteúdo formal da petição inicial (art.
488º CPC).
A contestação (em sentido material) está submetida a uma regra de concentração ou de
preclusão: toda a defesa deve ser deduzida na contestação (art. 489º/1 CPC), ou melhor, no
prazo da sua apresentação (art. 486º/1 CPC), pelo que fica precludida quer a invocação dos
factos que, devendo ter sido alegados nesse momento, não o foram, quer a impugnação, num
momento posterior, dos factos invocados pelo autor. Se aqueles factos forem invocados fora
do prazo determinado para a contestação, o Tribunal não pode considerá-los na decisão da
causa; se o fizer, incorre em excesso de pronúncia, o que determina a nulidade daquela
decisão (art. 668º/1-d, 2ª parte CPC).
Para determinar a incidência desta regra de concentração ou de preclusão, importa ter
presente que, na contestação, o réu tanto pode alegar factos novos que fundamentam uma
excepção dilatória ou peremptória, como limitar-se a impugnar os factos invocados pelo autor
na petição inicial (art. 487º/2 CPC).
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factos alegados por esta parte. A delimitação entre a impugnação indirecta e a excepção
peremptória faz-se, por isso, através do seguinte critério:
- Se o réu se limita a negar o efeito jurídico pretendido pelo autor, isto é, a atribuir
uma diferente versão jurídica dos factos invocados pelo autor, há impugnação indirecta;
- Se, pelo contrário, o réu opõe a esse efeito a alegação de um facto impeditivo,
modificativo ou extintivo, verifica-se a dedução de uma excepção peremptória.
a) Defesa por excepção:
Consiste na invocação de factos que obstam à apreciação do mérito da acção ou que,
servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo autor,
importam a improcedência total ou parcial do pedido (art. 487º/2, 2ª parte CPC). No primeiro
caso, o réu alega a falta de um pressuposto processual e invoca uma excepção dilatória (art.
493º/2 CPC); no segundo, o réu opõe uma excepção peremptória (art. 493º/3 CPC).
b) Defesa por impugnação:
A impugnação directa deve abranger os factos principais articulados pelo autor na petição
inicial (art. 490º/1 CPC); se assim não suceder, consideram-se admitidos por acordo os factos
que não forem impugnados (art. 490º/2, 1ª parte CPC).
A contestação produz efeitos processuais, inclui-se a possibilidade, admitida em certos
casos, de réplica do autor (art. 502º/1 e 2 CPC). E substantivos, importa referir que a
contestação torna litigioso o direito afirmado ou a coisa discutida em juízo, o que revela, por
exemplo, para a proibição da cessação daquele direito (art. 579º CC) e da venda desse direito
ou coisa (art. 876º CC).
74. Réplica
É a resposta do autor à contestação do réu. A réplica pode ser entendida num sentido
formal ou material: naquela primeira acepção, a réplica é o articulado que o autor apresenta
em resposta à contestação do réu; em sentido material, a réplica consiste na contestação de
uma excepção oposta pelo réu ou na dedução de uma excepção contra o pedido
reconvencional formulado pelo réu (art. 502º/1 e 2 CPC). Se aquele articulado contiver aquela
impugnação ou a dedução daquela excepção, a réplica em sentido formal é-o também em
sentido material.
A réplica é admissível sempre que o réu deduza alguma excepção ou formule um pedido
reconvencional (art. 502º/1 CPC): naquele primeiro caso, a réplica destina-se a possibilitar a
impugnação pelo autor da excepção invocada pelo réu ou a alegação de uma contra-
excepção; no segundo, a réplica permite a apresentação pelo autor de qualquer contestação,
por impugnação ou por excepção (art. 487º/1 CPC), do pedido reconvencional. A réplica
encontra a sua justificação nos princípios da igualdade das partes (art. 3º-A CPC) e do
contraditório (art. 3º/1 e 3 CPC).
A falta da réplica ou a não impugnação dos factos novos alegados pelo réu implica, em
regra, a admissão por acordo dos factos não impugnados (art. 505º CPC). Esta admissão não
se verifica nas situações previstas do art. 490º/2 CPC, e, além disso, há que conjugar o
conteúdo da réplica com o da petição inicial, pelo que devem considerar-se impugnados os
factos alegados pelo réu que forem incompatíveis com aqueles que constarem de qualquer
desses articulados do autor.
Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional, a falta de réplica implica a revelia do
reconvindo quanto a esse pedido (art. 484º/1 CPC). Essa revelia é inoperante nas condições
referidas no art. 485º CPC, mas, se for operante, determina a confissão dos factos articulados
pelo réu como fundamento do seu pedido reconvencional (art. 484º/1 CPC).
Acessoriamente a estas funções, a réplica pode ser utilizada para o autor alterar
unilateralmente o pedido ou a causa de pedir (art. 273º/1 e 2 CPC)
75. Tréplica
É a resposta do réu à réplica do autor. Também a tréplica pode ser referida numa acepção
formal ou material: em sentido formal, a tréplica é o articulado de resposta do réu à réplica
do autor; a tréplica em sentido material é a contestação pelo réu das excepções opostas à
reconvenção na réplica, a impugnação da admissibilidade da modificação do pedido ou da
causa de pedir realizada pelo autor na réplica (art. 273º/1 e 2 CPC) ou a contestação da nova
causa de pedir ou do novo pedido apresentado pelo autor na réplica (art. 503º/1 CPC).
A tréplica só é admissível em duas situações (art. 503º/1 CPC):
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- Quando o autor tiver modificado na réplica o pedido ou a causa de pedir (art. 273º/1 e
2 CPC) e o réu pretender contestar quer a admissibilidade dessa modificação, quer o novo
pedido formulado ou a nova causa de pedir invocada;
- Quando o réu tiver deduzido um pedido reconvencional, o autor tiver alegado contra
esse pedido uma excepção e o réu desejar contestá-la por impugnação ou pela invocação
de uma contra-excepção. A tréplica destina-se, por isso, a assegurar o contraditório do réu
a essas matérias.
O ónus de impugnação também vale na tréplica. Assim, a falta da tréplica, a não
impugnação da nova causa de pedir e a não contestação da excepção alegada pelo autor na
réplica determinam, em regra, a admissibilidade por acordo desses factos e dessa excepção
(art. 505º CPC).
Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional (art. 501º/1 CPC), o autor pode
contestar na réplica esse pedido através da dedução de uma excepção, à qual o réu pode
responder na tréplica com a alegação de uma contra-excepção.
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FASE DA CONDENSAÇÃO
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- A indicação pelas partes dos meios de prova e a decisão sobre a admissão e
preparação das diligências probatórias, salvo se alguma das partes requerer a sua
apresentação posterior (art. 508º-A/2-a CPC);
- Se o processo estiver em condições de prosseguir para julgamento (se o processo não
dever terminar no despacho saneador, art. 510º/1 CPC), a designação da data de
realização da audiência final (art. 508º-A/2-b CPC) e, em certas acções não contestadas, a
solicitação da intervenção do Tribunal colectivo (art. 646º/2-a CPC);
- Finalmente, a apresentação do requerimento da gravação da audiência final (art. 508º-
A/2-c; arts. 522º-B e 522º-C CPC).
Conjuntamente com a indicação dos meios de prova (art. 508º-A/2-a CPC), as partes,
quando não pretenderem provar os próprio facto principal seleccionado na base instrutória,
têm o ónus de indicar os factos instrumentais que desejam utilizar para a prova desse facto.
Isto é, como todas as provas constituendas exigem a preferência do facto com que se
pretende provar com elas (arts. 552º/2; 577º/1; 612º e 633º CPC), a parte, se não quiser
demonstrar com essas provas o próprio facto principal seleccionado, tem o ónus de alegar os
factos instrumentais que pretende demonstrar com a prova requerida.
Uma outra finalidade acessória da audiência preliminar é o exercício do contraditório. Se,
em virtude da limitação legal do número de articulados, alguma das partes não puder
responder a uma excepção deduzida no último articulado admissível, ela pode responder à
matéria desta na audiência preliminar (art. 3º/4 CPC).
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84. Despacho saneador
O despacho saneador pode apreciar tanto os aspectos jurídico-processuais da acção,
como o mérito desta (art. 510º/1 CPC). Nestas funções atribuídas ao despacho saneador, a
apreciação daqueles aspectos constitui a sua finalidade primária e o seu conteúdo essencial,
enquanto o conhecimento do mérito é uma finalidade eventual. O julgamento do mérito
realiza-se normalmente na sentença final (art. 658º CPC), pelo que quando o estado da causa
o permitir (art. 510º/1-b CPC), ele pode ser antecipado para o despacho saneador.
O despacho saneador destina-se, antes de mais, a verificar a admissibilidade da
apreciação do mérito e a regularidade do processo (art. 510º/1-a CPC); havendo toda a
vantagem em que o controlo dessa admissibilidade não seja relegada para uma fase
adiantada da tramitação da acção, é ela que justifica a atribuição daquela função de
saneamento àquele despacho.
O momento do proferimento do despacho saneador depende da tramitação da causa em
concreto. Se não houver que proceder à convocação da audiência preliminar (art. 508º-B/1
CPC), o despacho saneador é proferido no prazo de 20 dias a contar do termo da fase dos
articulados (art. 510º/1 proémio CPC).
No despacho saneador, o Tribunal deve conhecer das excepções dilatórias e das
nulidades processuais que haja sido suscitadas pelas partes ou que, face aos elementos
constantes dos autos, deva apreciar oficiosamente (art. 510º/1-a CPC). Quanto àquelas
nulidades, o Tribunal pode apreciar oficiosamente a ineptidão da petição inicial, a falta de
citação, o erro na forma do processo e a falta de vista ou exame ao Ministério Público como
parte acessória (art. 202º CPC). mas estas nulidades só são apreciadas no despacho saneador
se o Tribunal ainda não tiver conhecido delas (art. 206º/1 e 2, 1ª parte CPC). Também as
nulidades que não são de conhecimento oficioso deverão ser julgadas logo que sejam
reclamadas (art. 206º/3 CPC), pelo que a sua apreciação não se realizará, em regra, no
despacho saneador.
Quando o despacho saneador conheça de uma excepção dilatória ou de uma nulidade
processual, ele só adquire força de caso julgado formal quanto às questões concretamente
apreciadas (art. 510º/3 1ª parte CPC). Assim, apenas o julgamento concreto sobre a
inexistência de uma excepção ou nulidade impede que essa matéria possa voltar a ser
apreciada no processo pendente (art. 660º/1 CPC).
Pelo contrário, a referência genérica no despacho saneador à inexistência de qualquer
excepção dilatória ou nulidade processual não adquire força de caso julgado (art. 510º/3, 1ª
parte CPC) e, por isso, não impede que o Tribunal venha a apreciar, na sentença final, uma
dessas excepções ou nulidades (art. 660º/1 CPC).
A apreciação do mérito e o proferimento da decisão sobre a sua pendência ou
improcedência é realizada, em regra, na sentença final (art. 658º CPC). Mas, em certas
condições, essa apreciação pode ser antecipada para o despacho saneador: Tribunal pode
conhecer do mérito da acção nesse despacho sempre que o estado do processo permita, sem
necessidade de mais provas, a apreciação do pedido, de algum dos pedidos cumulados, do
pedido reconvencional ou ainda da procedência ou improcedência de alguma excepção
peremptória (art. 510º/1-b CPC). Neste caso, o despacho saneador fica tendo, para todos os
efeitos, o valor de sentença (art. 510º/3, 2ª parte CPC) e dele cabe recurso de apelação (art.
691º/1 CPC).
Nas condições referidas no art. 288º/3 CPC, o Tribunal pode conhecer do mérito ainda que
verifique que falta um pressuposto processual. Esta situação será certamente mais frequente
no despacho saneador do que na sentença final, dado que são raras as situações em que a
falta do pressuposto se detecta apenas na fase da sentença ou em que a sua apreciação é
relegada para esse momento (art. 510º/4 CPC).
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FASE DA INSTRUÇÃO
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Os meios de prova podem ser indicados ou requeridos na petição inicial (art. 467º/2 CPC)
e, por analogia, em qualquer outro articulado. Se isso não tiver acontecido, esses meios
devem ser apresentados ou requeridos na audiência preliminar, salvo se alguma das partes
requerer, com motivos justificados, a sua apresentação ulterior (art. 508º-A/2-a CPC); se essa
audiência não se realizar, os meios de prova devem ser apresentados ou requeridos nos 15
dias subsequentes à notificação do despacho saneador (art. 512º/1 CPC). Neste mesmo prazo,
as partes podem alterar os requerimentos probatórios que hajam feito nos articulados (art.
512º/1, 2ª parte CPC).
Depois deste prazo, o rol de testemunhas ainda pode ser alterado ou aditado até 20 dias
antes da data da realização da audiência final (art. 512º-A/1 CPC), sendo a parte contrária
notificada para usar, se quiser, de igual faculdade no prazo de 5 dias (art. 512º-A/1 in fine
CPC). A apresentação das novas testemunhas incumbe às partes (art. 512º-A/2 CPC), isto é, o
Tribunal não procede à sua notificação. Meios de prova:
a) Prova por confissão (arts. 552º segs. CPC);
b) Prova documental (arts. 523º segs. CPC)
c) Prova pericial (arts. 568º segs. CPC);
d) Prova testemunhal (arts. 616º segs. CPC);
e) Inspecção judicial (arts. 612º segs. CPC);
f) Apresentação de coisas.
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FASE DA AUDIÊNCIA FINAL
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c) Prova pericial, o resultado da perícia consta de um relatório (art. 596º/1 CPC), pelo
que, em regra, os peritos não são chamados a depor na audiência final. Mas a presença
dos peritos nesta audiência pode ser ordenada oficiosamente pelo Tribunal ou requerida
por qualquer das partes, para que eles possam prestar os esclarecimentos verbais que
lhes forem solicitados (art. 652º/3-c CPC).
d) Prova testemunhal, as testemunhas são inquiridas na audiência final (arts. 621º
proémio e 652º/3-d CPC), excepto se for requerida a sua inquirição antecipada (arts. 621º-
a e 520º CPC) ou por carta (art. 621º-b CPC). A parte pode requerer a inquirição da
testemunha por carta quando ela resida fora da área do círculo judicial ou da ilha (art.
623º/1 CPC) ou da área metropolitana da sede do Tribunal (art. 623º/4 CPC). Contra a
prova testemunhal pode reagir-se por impugnação, contradita ou acareação:
- A impugnação questiona a admissibilidade do depoimento (arts. 636º; 637º CPC),
ou seja, tem por fundamento a incapacidade natural ou a inabilidade legal da
testemunha (arts. 616º e 617º CPC);
- A contradita baseia-se na alegação de qualquer circunstância capaz de abalar a
credibilidade do depoimento, quer por efectuar a razão da ciência invocada pela
testemunha, quer por diminuir a fé que ela possa merecer (arts. 640º; 641º CPC);
- A acareação consiste no confronto das testemunhas, ou das testemunhas e das
partes, cujos depoimentos mostrem uma oposição directa acerca de determinado facto
(arts. 642º; 643º CPC).
e) Debates, após a produção da prova, realizam-se os debates sobre a matéria de facto
(art. 652º/3-e CPC). Estes debates definem um importante momento na tramitação da
acção. Eles marcam o termo ou encerramento da discussão, o qual determina o limite
temporal da alteração do pedido (art. 273º/2 CPC), da apresentação dos articulados
supervenientes (art. 506º/2 CPC), da junção de documentos (art. 523º/2 CPC), da
ampliação da base instrutória pelo presidente do Tribunal colectivo (art. 650º/2-f CPC) e da
consideração pelo Tribunal dos factos constitutivos, modificativos e extintivos (art. 663º/1
CPC).
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FASE DA SENTENÇA
PROCESSO SUMÁRIO
PROCESSO SUMARÍSSIMO
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