Sunteți pe pagina 1din 8

A valorização do treinamento muscular excêntrico na fisioterapia desportiva

A VALORIZAÇÃO DO TREINAMENTO MUSCULAR


EXCÊNTRICO NA FISIOTERAPIA DESPORTIVA

The valorization ofthe eccentric muscular training


on the sports physiotherapy
Anselmo Grego Neto 1
Cássio Preis 2

Resumo
A Fisioterapia Desportiva certamente configura uma das mais promissoras áreas de atuação do profissional
fisioterapeuta na atualidade. No entanto, é sabido que o profissional que envereda pela área da reabilitação
desportiva estará inevitavelmente sujeito a inúmeras e constantes pressões e cobranças em termos dos
resultados de seu tratamento mediante um retorno funcional e no menor tempo possível do atleta à sua prática
desportiva.Em função desta constatação, este artigo tentará demonstrar, por meio de revisão de literatura,
como o adequado condicionamento muscular excêntrico pode caracterizar-se como uma ferramenta de
primeira grandeza para o fisioterapeuta durante o processo de reabilitação otimizada do sistema
musculoesquelético na maioria das lesões desportivas.
Palavras-chave: Fisioterapia; Contração muscular excêntrica; Esportes; Reabilitação.

Abstract
The Sports Physiotherapy is certainly one of the most important areas of Physiotherapy nowadays. However,
it is knew that the professional that choose to work on the field of the sports rehabilitation will be extremely
exposed to a great number of pressions mainly about the results of your treatment and mostly based on the
fact that the athlete must return to his sport as soon as possible and in an absolutely functional way. Because
of that, this article will try to demonstrate, based on literary review, how import is the appropriate eccentric
muscular conditioning as a primary tool for the physiotherapist during the optimal process of rehabilitation
of the muscle - skeletal system especially related with the majority kind of sports injuries.
Keywords: Physiotherapy; Eccentric muscular contraction; Sports; Rehabilitation.

1
Fisioterapeuta graduado pela PUCPR
Acadêmico de Educação Física da UFPR
Pós-graduando em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica - CBES (Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos)
Pós-graduando em Fisiologia do Exercício – UFPR (Universidade Federal do Paraná)
Endereço: R. Sanito Rocha, 225, Cristo Rei – Curitiba / PR (CEP: 80050-380)
Fone: (41) 9194-8293
E-mail: paulistasbc@msn.com

2
Fisioterapeuta graduado pela PUCPR
Responsável pelo Centro de Dinamometria Isocinética da PUCPR e Centro de Baropodometria da PUCPR
Pós-graduando em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica - CBES (Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos)
Mestrando em Tecnologia em Saúde - PUCPR
Endereço: R. David Carneiro, 328 ap. 902, São Francisco – Curitiba / PR (CEP: 80530-070)
Fone: (41) 9123-8155
E-mail: cassio.preis@pucpr.br

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005 19


Anselmo Grego Neto ; Cássio Preis

Introdução tigos publicados no período de 1991 a 2003 por


algumas das maiores autoridades mundiais sobre
Segundo Albert (2002), nos últimos anos o referido tema. Houve a necessidade de inclusão
nenhum outro aspecto de carga muscular (tensão de duas obras mais antigas que estavam presentes
específica aplicada à unidade músculo-tendínea) em citações, sendo consideradas indispensáveis ao
tem sido mais descrito, discutido ou investigado contexto criado. No que concerne aos dados e in-
na literatura científica e prática clínica do que o formações extraídas de livros, estes em sua maio-
movimento excêntrico. ria foram concernentes a obras integrantes do acer-
O mesmo autor ainda define o termo ex- vo da Biblioteca Central da Pontifícia Universida-
cêntrico como sendo “uma carga muscular que de Católica do Paraná (PUCPR) campus Curitiba,
envolve a aplicação de uma força externa com setor de periódicos e também do acervo destinado
aumento de tensão durante o alongamento físico aos cursos da área da Saúde, além das obras perti-
da unidade músculo-tendínea”. nentes ao acervo da Clínica de Fisioterapia da re-
Kandel et al. (1991) citam que a força ferida universidade. A coleta de dados e revisão
gerada pelo músculo em contração e a alteração de literatura ocorreu no período de março a agos-
resultante de seu comprimento são dependentes to de 2004. Com relação à busca de artigos, utili-
de três fatores: do comprimento inicial; da veloci- zou-se o Medline, onde foram digitadas as pala-
dade com que ocorre a alteração do comprimen- vras: eccentric and physiotherapy. Os artigos sele-
to; e das cargas externas atuando em oposição ao cionados serviram para complementar as informa-
movimento. ções retiradas de livros.
Evidentemente, com o crescente número
de pesquisas e trabalhos científicos envolvendo o
trabalho muscular excêntrico, alterou-se definiti- Fisiologia da contração muscular
vamente a concepção equivocada e simplista de excêntrica
que a contração muscular excêntrica seria única e
meramente o retorno, ou a segunda fase dos mo- Segundo SIMÃO (2003), a atividade mus-
vimentos isotônicos. cular excêntrica é mais adequadamente chamada
Quando se leva em consideração a fase de resposta muscular devido ao estiramento mus-
excêntrica do movimento, sobretudo aplicada aos cular durante a produção da tensão. O autor de-
programas de treinamento humano (de caráter fende que o efeito diferencial dos exercícios ex-
reabilitativo ou não), devem-se avaliar os benefí- cêntricos consistiria no envolvimento de uma
cios, vantagens e principalmente as precauções que interação circular de três determinantes primários:
são excepcionalmente distintas quando relaciona- 1. Força muscular produzida pela con-
das à fase concêntrica dos exercícios isotônicos. tração excêntrica;
O treinamento excêntrico certamente apli- 2. Velocidade angular de movimento;
ca-se de forma bastante eficiente a várias popula- 3. Grau de estiramento músculo-tendíneo
ções, podendo ser útil desde disfunções geriátri- durante a contração muscular de natureza excêntrica.
cas articulares até programas de treinamento atlé- Essa tríade, denominada pelo autor como
tico de elite. “triunvirato dos efeitos excêntricos interativos”,
Fundamentalmente, o escopo deste tra- constitui-se de elementos indissociáveis, mas que,
balho concentrar-se-á em propor diretrizes bási- no entanto, permitem grande versatilidade ao fisi-
cas para a adequada utilização da excentricidade oterapeuta no que diz respeito à modificação dos
muscular como recurso de primeira grandeza no efeitos e resultados obtidos durante a reabilitação
arsenal fisioterapêutico do profissional que traba- do atleta lesionado.
lha no âmbito desportivo. Albert (2002) faz referência ao denomi-
nado retardo eletromecânico em relação ao tem-
po transcorrido da resposta bioquímica até o iní-
Metodologia cio efetivo da tensão muscular, que segundo ele,
Para a realização do presente estudo, foi seria significativamente menor nas atividades ex-
efetuado extensa revisão bibliográfica por parte cêntricas (em franca comparação com as ativida-
dos autores, que contou com obras literárias e ar- des concêntricas e isométricas) e que, portanto,

20 Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005


A valorização do treinamento muscular excêntrico na fisioterapia desportiva

constituiria-se em um benefício adicional no trei- Safran et al. (2002) descobriram que me-
namento potencial referente à produção de força didas de EMG após trabalho excêntrico demons-
muscular e velocidade articular. travam uma resposta menos expressiva (descrita
De acordo com estudos propostos por como uma resposta enfraquecida), ou fadiga, do
Lillegard et al. (2002) sobre os flexores e extensores sistema neuromuscular por dois dias após a ses-
do cotovelo, o modo excêntrico agiu 4,4 ms são de treinamento.
(milisegundos) mais rapidamente do que o modo Uma variação interessante em relação aos
isométrico e 6,0 ms mais rápido do que a contra- estudos eletromiográficos anteriores envolvendo
ção concêntrica, fato estatisticamente significante os exercícios excêntricos e concêntricos foi a cons-
para ambas as diferenças, segundo defendem os tatação do aumento progressivo da atividade
autores do estudo. eletroneuromiográfica durante a continuação das
atividades excêntricas, sem que, no entanto, fosse
O ciclo estiramento-encurtamento des-
constatado nenhum aumento significativo nas
crito por Enoka (2000) é relevante para os efeitos
mesmas condições de trabalho concêntrico. E,
dos exercícios excêntricos tendo em vista o seu
portanto, infere-se que o nível de atividade
potencial para armazenagem e uso de energia elás- eletromiográfica mediante uma dada resposta mus-
tica. Nesse ciclo, o movimento voluntário primá- cular parece ser mais diretamente dependente do
rio é precedido pelo movimento oposto ou anta- esforço do indivíduo do que propriamente do ní-
gonista de forma abrupta. Assim, a transferência vel de tensão muscular gerado durante as ativida-
da energia potencial do componente elástico em des avaliadas nos estudos.
série (CES) estirado produz uma magnitude de
capacidade de força contrátil subseqüente ainda
maior. Vale ressaltar que este efeito de Considerações neuromusculares dos
potencialização, defendido pelos autores, é exercícios excêntricos de relevância para
freqüentemente utilizado em atividades funcio- a Fisioterapia
nais quando um pré-estiramento é aplicado a uma
dada unidade músculo-tendínea pela resposta Segundo Garret et al. (2003), os mecanis-
excêntrica e seguida imediatamente pela contra- mos neuromotores têm suma importância para a
ção anticoncêntrica. Em outras palavras, pode-se compreensão dos efeitos do treinamento excêntrico
dizer que a contração muscular excêntrica durante as diferentes fases da reabilitação física do
potencializa sensivelmente a força da contração atleta lesado, e realmente, podem servir para expli-
muscular concêntrica subseqüente, fato facilmente car as diferenças verificadas cientificamente entre os
exemplificado em inúmeras atividades desportivas estudos comparativos envolvendo os trabalhos mus-
que exigem do atleta uma velocidade angular culares com tendências excêntricas e concêntricas.
muito elevada em relação à biodinâmica do ges- Knudson e Morrison (1997) descrevem
to desportivo perfeito do ponto de vista funcio- que os mecanismos de controle neuromuscular
nal e biomecânico. excêntrico estão fundamentados em três fatores
distintos, porém interdependentes.
1. A atividade mecanoceptora alterada
Características fisiológicas, nos trabalhos excêntricos (isto é, os re-
biomecânicas e clínicas específicas da flexos tendinosos). Com relação aos
carga muscular excêntrica reflexos tendinosos, importância extre-
ma é a dos fusos musculares. Estes
Considerações sobre a resposta eletromiográfica ficam localizados em fibras muscula-
muscular durante atividades musculares res especializadas (fibras intrafusais)
excêntricas posicionadas em paralelo com as de-
mais fibras musculares (fibras
Robinson e Mackler (2001) reportaram extrafusais). As fibras intrafusais são
atividade eletromiográfica (EMG) mais alta para menores que as extrafusais e não con-
trabalhos concêntricos de uma dada carga em com- tribuem de modo significativo para a
paração com exercícios excêntricos, fato corrobo- contração muscular, sendo que as al-
rado por estudos posteriores. terações de seu comprimento são de-

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005 21


Anselmo Grego Neto ; Cássio Preis

tectadas pelos fusos musculares De forma curiosa, Lillegard et al. (2002)


(KANDEL et al.,1991); constataram que embora o tríceps braquial seja
2. As mudanças na atividade mioelétrica usualmente aceito como sendo um músculo com
e mioneural e na mobilização muscu- maior prevalência de fibras de contração rápida
lar durante as contrações excêntricas; do que em relação ao bíceps, os autores observa-
3. Respostas viscoelásticas alteradas em ram mediante análise eletroneuromiográfica um
relação às cargas concêntricas. tempo bastante similar de ativação das unidades
motoras em ambos os grupos musculares (por volta
Um papel importante do treinamento ex- de 30 milisegundos de atraso eletromecânico).
cêntrico no sistema neuromuscular é sustentado por
Lillegard et al. (2002) mediante dois mecanismos:
1. A supressão do torque foi evidente so- Relação entre o condicionamento
mente durante cargas excêntricas, sem muscular excêntrico e a dor muscular
levar em consideração a disfunção de início tardio (DMT)
biomecânica ou dor;
2. Sucesso obtido na resposta ao treina- Etiologia da Dor Muscular de Início Tar-
mento excêntrico em apenas duas a dio
quatro semanas, o que, segundo o au- Existem cinco teorias gerais que tentam
tor, corresponde ao ajuste de tempo explicar fisiologicamente a etiologia da dor mus-
para a adaptação neuromuscular, ao cular de início tardio (pós-atividade física), segun-
contrário da hipertrofia ou mudança do preconiza Mcardle et al. (2002).
morfológica na estrutura muscular que 1. Teoria do ácido lático;
seguramente demandariam mais tem- 2. Teoria do tecido rompido;
po de treinamento para ocorrerem. 3. Espasmos musculares tônicos;
4. Dano ao tecido conectivo;
Como último fator relevante ao controle 5. Teoria do fluído tecidual.
neuromuscular durante os trabalhos excêntricos, a Evidentemente, a descrição detalhada a
viscoelasticidade muscular pode ser sensivelmente cerca das inúmeras teorias fisiológicas que justificam
alterada por meio de mudanças no limite da tensão as mialgias que acometem grande número de indiví-
tolerado pelo OTG (órgão tendinoso de golgi), duos praticantes de atividades físicas (atletas ou não)
mediante as atividades musculares excêntricas. não configura o objetivo crucial deste trabalho.
Dvir (2002) define a rigidez viscoelástica Entretanto, quando abordamos a questão
do músculo como sendo o nível resultante da ten- do treinamento muscular excêntrico sistemático
são muscular por unidade de estiramento imposta visando a melhoria da performance e do desem-
ao músculo. penho muscular geral do atleta, é absolutamente
Prentice (2002), descreve a velocidade de imprescindível que saibamos a relação direta que
estiramento do músculo como sendo o fator existe entre a excentricidade muscular e o apare-
determinante no atraso eletromecânico também ci- cimento do desconforto muscular tardio, segundo
tado por Albert (2002), como sendo uma das caracte- preconizam Powers e Howley (2000).
rísticas mais peculiares da contração muscular excên- Certamente, do ponto de vista do condi-
trica relativamente à produção de torque quando em cionamento muscular excêntrico, e levando em
comparação com atividades similares concêntricas. consideração que este cause um ciclo contínuo de
Trabalho publicado por Dvir (2002) reve- micro-lesões musculares e cicatrização, é possível
la que o aumento da velocidade de contração mus- inferir-se que o surgimento da dor muscular de
cular do bíceps braquial em atividade excêntrica início retardado pós-atividades de prevalência ex-
causou uma diminuição no atraso eletromecânico cêntrica, possa ser justificado de forma mais acei-
da ordem de 38 ms (milisegundos) pertinente à tável pela Teoria do Tecido Rompido supracitada.
contração concêntrica do bíceps, para apenas 28 Esta teoria especificamente é corroborada por inú-
ms em relação ao tempo transcorrido da resposta meros estudos científicos (conforme citado por
bioquímica até o início efetivo da tensão muscular ZULUAGA et al., 2000) que investigaram os
localizada. marcadores bioquímicos do dano muscular pós-

22 Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005


A valorização do treinamento muscular excêntrico na fisioterapia desportiva

atividades excêntricas, como a mioglobina e des- está agindo durante um exercício de natureza ex-
crevem o rompimento de componentes cêntrica de resistência a uma dada força.
subcelulares, tais como a linha Z da microestrutura De acordo com resultados de pesquisas
muscular. Esta, aliás, é descrita por Foss e Keteyian sobre o nível de fadiga durante a atividade excên-
(2000), como sendo o elo mecânico mais fraco no trica isocinética em atletas de elite, o risco de DMIT
maquinário contrátil e caracteriza os danos (dor muscular de início tardio) prolongada parece
miofibrilares como sendo mais dependentes da ter relação direta com a velocidade de treinamen-
tensão de pico do que das forcas médias totais to imposta ao atleta, aumentando proporcional-
durante o processo de contração muscular. mente com a redução das velocidades angulares
Croisier et al. (2003) apresenta em um tra- de treinamento isocinético. A alta velocidade e curta
balho a relação da DMIT entre um grupo que rece- duração da atividade excêntrica podem resultar em
berá treinamento excêntrico por três semanas e outro menor carga mecânica imposta ao tecido conjunti-
que não. Utiliza para demonstrar os efeitos da vo (STARKEY; RYAN, 2002).
treinabilidade (conseqüência direita - redução da
DMIT), escala analógica visual de dor (EVAD) e
marcadores de lesão muscular [creatina kinase (SCK) Diferenças relativas ao nível de
e mioglobina]. Como resultado principal mostra que consumo de oxigênio durante trabalhos
houve uma redução expressiva (de 35.000 UI/l para concêntrico e excêntricos
716 ± 274 UI/l) nas concentrações de SCK no grupo
treinado. E ainda, as concentrações maiores, em Pahud et. al (1980) determinaram que a
ambos grupos, relacionam-se com a EVAD, mos- produção de dióxido de carbono e consumo de
trando seu pico após 48h do exercício. oxigênio estava em torno de 20% menor para exer-
A maior parte do dano ultra-estrutural às cícios excêntricos que para concêntricos. Powers
células musculares pós-sessões de treinamento e Howley (2000), reportaram que exercícios ex-
excêntrico, parece concentrar-se seletivamente, cêntricos realizados por meio de caminhadas des-
segundo descrito por Garret et al. (2003), nas fi- cendentes requeriam apenas 20% do consumo de
bras do tipo IIb que apresentam as bandas Z mais oxigênio quando comparados com exercícios con-
estreitas e fracas, segundo análises histoquímicas cêntricos nos mesmos níveis de intensidade.
nas fibras musculares de atletas de elite em estudo Uma perspectiva em separado descreve
referendado pelo autor. a captação de oxigênio por unidade de atividade
Garret et al. (2003) ainda citam que os muscular como sendo três vezes maior para ativi-
eventos que compreendem a teoria do tecido rom- dade concêntrica.
pido também incluem dano ao retículo Segundo Foss e Keteyian (2000), a capta-
sarcoplasmático celular e aos túbulos T, ambos ção de oxigênio por unidade muscular tem
interferem com o metabolismo normal do cálcio comprovadamente se mostrado reduzida, como
durante o processo de contração muscular. Conse- resultado da adaptação crônica dos atletas ao trei-
qüentemente, defende o autor que a menor libe- namento com exercícios excêntricos.
ração do cálcio por potencial de ação que atinja a Estudos recentes citados por Tritschler
célula muscular seria diretamente responsável pela (2003) têm demonstrado que durante sessões
fadiga nesses grupos musculares observada medi- exaustivas e prolongadas de trabalho excêntrico, a
ante eletroestimulação de baixa freqüência reali- freqüência cardíaca chega perto do nível máximo
zada laboratorialmente. enquanto o individuo está desempenhando ape-
Albert (2002) defende que uma quanti- nas 60% da sua potência aeróbica total.
dade menor de unidades motoras seja solicitada Garret et al. (2003) determinaram que,
durante contrações excêntricas do que em relação durante o estado de equilíbrio de captação de oxi-
às contrações concêntricas para produzir o mes- gênio para uma sessão de 4 (quatro) minutos, o
mo torque. O autor acredita que a dor muscular trabalho excêntrico de alta intensidade era quase
induzida pelos exercícios excêntricos deva-se à equivalente ao trabalho concêntrico de baixa in-
lesão do músculo ou tecido conjuntivo (ou am- tensidade, evidenciando, portanto, que o treina-
bos), causada pela sobrecarga destes tecidos, por- mento excêntrico não é limitado pelos fatores res-
que uma menor quantidade de tecido muscular piratórios ou circulatórios e que o trabalho

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005 23


Anselmo Grego Neto ; Cássio Preis

marcadamente com tendências excêntricas não pro- microrupturas, desenvolvendo reagudização do


duz efeitos pronunciados de condicionamento ou processo crônico, fazendo com que haja a
melhora da função cardio-respiratória dos atletas. neovascularização e melhoras nos aspectos macro
e microscópico do tendão.
Considerações básicas sobre exercícios Andrews et al. (2000) preconizam que a
excêntricos isocinéticos aplicados a capacidade de oferecer atividades isocinéticas ex-
fisioterapia do esporte cêntricas ao atleta (normalmente já em fase avan-
çada de reabilitação) contribui significativamente
Avanços tecnológicos têm levado ao de- para a reabilitação geral do atleta, haja vista que as
senvolvimento de equipamentos de testes muscu- contrações musculares excêntricas exercem um
lares isocinéticos que permitem a execução de importante papel também em suas atividades fun-
exercícios excêntricos em associação à atividade cionais de vida diária. Sirota et al. (1997) afirmam
concêntrica. O uso deste tipo de equipamento vem que especialmente as contrações excêntricas, no
se popularizando no Brasil, por meio dos conhe- movimento de rotação externa de ombro de
cidos dinamômetros isocinéticos que têm viabili- arremessadores, podem ser as mais importantes
zado a execução de pesquisas e avanços impor- na prevenção de lesões durante a fase de
tantes na área da reabilitação desportiva, sobretu- desaceleração do arremesso.
do usando e valorizando o treinamento muscular Hillman (2002) relata que o torque mus-
excêntrico. cular produzido excentricamente durante sessões
Em linhas gerais pode-se dizer que uma de treinamento isocinético aumenta à medida que
vantagem do exercício isocinético, segundo a velocidade cresce e que inúmeras evidências
Zuluaga et al. (2000), é fornecer um método de sugerem que há uma tendência para o aumento
carregar dinamicamente os músculos em contra- na geração de força durante os exercícios excên-
ção a uma velocidade que pode ser facilmente tricos isocinéticos entre 60 e 200 graus por segun-
manipulada. O músculo é, portanto, capaz de do de velocidade angular. No entanto, o
manter um estado de máxima contração em toda a posicionamento do atleta durante a realização da
sua amplitude, permitindo uma demanda máxima avaliação ou do treinamento isocinético revelou-
da sua capacidade de trabalho. As velocidades se um fator fundamental tanto para a realização
angulares podem ser ajustadas para permitir que o de atividades concêntricas quanto excêntricas.
músculo funcione em relação às condições dinâ- Portanto, durante a prática isocinética é de cabal
micas simulando as demandas impostas pelas ati- importância que o fisioterapeuta considere devi-
vidades funcionais do atleta (em relação à damente a artrocinemática da articulação envolvi-
biomecânica dos gestos motores do esporte). da bem como a patologia do paciente antes de
Importante ressaltar, ainda, que o exercí- selecionar a posição do treinamento isocinético,
cio isocinético excêntrico tem aplicabilidade em visando tanto a segurança do atleta quanto a
esforços controlados e determinados. Isso signifi- otimização do processo reabilitacional.
ca dizer que sistemas de dinamometria isocinética
que possuem a interação de biofeedback visual
fazem pacientes com tendinites/epicondilites crô- Benefícios do treinamento muscular nos
nicas (tendinite patelar, de tríceps surral, cotovelo programas de fisioterapia desportiva
de tenista) se proverem de tal recurso, conforme
estudo de Croisier et al. (2001). Nesse estudo, faz- Segundo Prentice (2002), o benefício do
se a aplicação de protocolos que consistem em treinamento muscular multimodal durante a reabili-
descobrir o pico de torque (força máxima) do tação tem sido amplamente aceito, e a carga excên-
membro não lesado; determinam-se, então, por- trica fornece um elemento especializado durante a
centagens de carga e velocidade, de maneira pro- reabilitação do atleta lesionado, haja vista que o
gressiva, aplicada no membro lesado. Por meio de uso do treinamento excêntrico irá preparar o atleta
estudos de ressonância nuclear magnética, com- de forma mais eficiente durante momentos em que
prova-se o efeito benéfico de redução do uma ação excêntrica for requerida para a prática
espessamento (patológico) de tendão. Referenda esportiva eficiente e segura ou mesmo para as de-
que os benefícios são provenientes de mandas funcionais impostas pelo cotidiano.

24 Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005


A valorização do treinamento muscular excêntrico na fisioterapia desportiva

Portanto, torna-se notório que o condici- Considerações finais


onamento muscular excêntrico reproduz as exi-
gências biodinâmicas que serão impostas aos atle- O objetivo essencial deste trabalho foi
tas ao retornarem à prática desportiva. chamar a atenção dos fisioterapeutas que atuam
Segundo Mcardle et al. (2002), muitas ati- na área da reabilitação musculoesquelética, prin-
vidades esportivas requerem ação muscular excên- cipalmente aplicada à Fisioterapia Desportiva, em
trica de alto nível (em termos de velocidade, repe- relação a uma inelutável tendência da Fisioterapia
tição e intensidade) tanto para desempenho máxi- atual: a necessidade premente da consolidação da
mo quanto para proteção das articulações sinoviais Fisioterapia como uma ciência baseada em evi-
e tecidos moles adjacentes. dências e respaldada fortemente em referenciais
Outra função extremamente relevante científicos validados. Para tanto, nota-se que espe-
para a Fisioterapia acerca do condicionamento cificamente a área das ciências do esporte (na qual
muscular excêntrico reside no fato deste poder a Fisioterapia hoje ostenta inegável posição de
atuar de forma preventiva em relação às lesões destaque), nos últimos anos foram responsáveis
musculares induzidas pelo over-training, ou por uma intensa produção científica na qual o Trei-
síndrome do super treinamento em atletas de alto namento e a Reabilitação Excêntrica aplicados à
nível. Albert (2002) considera que embora uma maioria das modalidades esportivas foram temas
simples sessão de exercício excêntrico possa in- amplamente pesquisados e esmiuçados, atualmente
duzir a uma lesão muscular significativa, ela tam- sendo concebidos como peças fundamentais e
bém confere ao músculo uma proteção considerá- imprescindíveis a qualquer programa otimizado de
vel contra lesões similares resultantes de sessões reabilitação e recondicionamento muscular cienti-
subseqüentes de exercícios de alta intensidade que ficamente embasado.
constituem prática corrente nos programas de trei- Obviamente, algumas das maiores auto-
namento desportivo de alto nível. ridades internacionais em relação ao tema
Clarkson et al. (2001) demonstraram que (supracitadas no trabalho) têm defendido a sua
a perda de força, liberação de creatina quinase e ampla valorização e emprego há já algum tempo,
outros indicadores de lesões induzidas por exercí- entretanto, lamentavelmente essa ainda não pare-
cios são reduzidos significativamente em uma se- ce ser a realidade da maioria dos centros de reabi-
gunda sessão de exercício excêntrico dos flexores litação e academias no Brasil.
do cotovelo. Portanto, tendo em vista essa problemá-
Prentice e Arnheim (2002) lembram que tica, torna-se imperativo que mais pesquisas acer-
as contrações musculares excêntricas, particular- ca do Treinamento Excêntrico sejam produzidas e
mente empregadas na reabilitação de várias lesões divulgadas nacionalmente tanto pelos fisioterapeu-
relacionadas ao desporto, são fundamentais para tas quanto pelos educadores físicos para que cada
desacelerar o movimento de um membro, sobre- vez mais pessoas (atletas profissionais ou não)
tudo durante as atividades dinâmicas de alta velo- possam se beneficiar amplamente do treinamento
cidade inevitavelmente requeridas durante a práti- muscular multimodal, criativo e eficiente e que
ca esportiva. fundamentalmente não negligencie a devida im-
Os autores defendem que os déficits de portância que deve ser atribuída à fase excêntrica
força ou a incapacidade dos músculos em tolerar dos movimentos isodinâmicos durante o processo
as cargas excêntricas a eles impostas (ressaltando reabilitacional e de preparação física funcional do
que determinados gestos desportivos podem atin- atleta, oportunizando-lhe um retorno mais seguro
gir uma velocidade angular de até 8000º/s - graus e precoce à sua prática desportiva.
por segundo) podem predispor o atleta
descondicionado excentricamente a inúmeras le-
sões. Alguns estudos de Jonhansen, Nemeth e Referências
Eriksson (1994); Stanton e Purdam (1989) suge-
rem que lesões na musculatura isquiotibial, em atle- ALBERT, M. Treinamento excêntrico em espor-
tas de corridas de curta distância, estão, dentro de tes e reabilitação. São Paulo,SP: Manole, 2002
outros fatores, relacionados a pouca força excên-
ANDREWS, J.R.; HARRELSON, G; WILK, K. Reabi-
trica dessa musculatura.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005 25


Anselmo Grego Neto ; Cássio Preis

litação física das lesões esportivas. 2. ed. Rio de PAHUD, P. energy expenditure during oxygen
Janeiro,RJ: Guanabara Koogan, 2000 deficit of sub-maximal concentric and eccentric
exercise. J Appl Physiol. v. 49. p.16-21, 1980.
CROISIER, J.L. Exploration fondamentale et
clinique de l’exercice isocinetique excentrique. POWERS, S.K.; HOWLEY, E.T. Fisiologia do exer-
Docteur en Kinésithérapie, Faculté de Médecine, cício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao
Universite de Liege, Liège, 2002 desempenho. São Paulo,SP: Manole, 2000.
CROISIER, J.L.; CAMUS, G.; CRIELAARD, J.M. Interest PRENTICE, W. E. Técnicas de reabilitação em
of a Specific Training to Reduce DOMS. Isokinetics medicina esportiva. São Paulo,SP: Manole, 2002.
and Exercise Science, v. 8, p. 40, 2000.
PRENTICE, W.E.; ARNHEIM, D. D. Princípios de
CROISIER, Jean Louis. et al. Treatment of recurrent treinamento atlético. 10. ed. Rio de Janeiro,RJ:
tendinitis by isokinetic eccentric exercises. Guanabara Koogan, 2002.
Isokinetics and Exercise Science, v. 9, p. 133-
PRENTICE, W. E.; VOIGHT, M. L. Técnicas em
141, 2001.
reabilitação musculoesquelética.Porto Alegre:
DVIR, Z. Isocinética: avaliações musculares, inter- Artmed, 2003.
pretações e aplicações clínicas. 2. ed. São Paulo,SP:
ROBINSON, A. J.; MACKLER, L. Eletrofisiologia
Manole, 2002.
clínica. 2. ed.Porto Alegre: Artmed, 2001.
ENOKA, Roger M. Bases neuromecânicas da
SAFRAM, M; McKEAG, D. Manual de medicina
cinesiologia. São Paulo,SP: Manole, 2000.
esportiva. São Paulo,SP: Manole, 2002.
FOSS, M.L.; KETEYIAN, S.J. Bases fisiológicas do
STANTON P; PURDAM C. Hamstring injuries in
exercício e do esporte. 6. ed. Rio de Janeiro,RJ:
sprinting: the role of eccentric exercise. J Orthop
Guanabara Koogan, 2000.
Phys Ther. v. 10, p. 343-49, 1989.
GARRET, W.E.; KIRKENDALL, D.T. A ciência do
STARKEY, C; RYAN, J. Avaliação de lesões orto-
exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed,
pédicas e esportivas. São Paulo,SP: Manole, 2002.
2003.
SIMÃO, R. Fundamentos fisiológicos para o
HILLMAN, S. K. Avaliação, prevenção e trata-
treinamento de força e potência. São Paulo,SP:
mento imediato das lesões esportivas. São
Phorte, 2003.
Paulo,SP: Manole, 2002.
SIROTA, S. C; et al. An eccentric- and concentric-
JONHAGEN, S; NEMETH, G; ERIKSSON, E.
strength profile of shoulder external and internal
Hamstring injuries in sprinters: the role of concentric
rotator muscles in professional baseball pitchers.
and eccentric hamstring muscle strength and
American Journal of Sports Medicine, v.25, n.1,
flexibility. Am J Sports Med. v. 22, p. 262-266,
p. 59-64, 1997.
1994.
TRITSCHER, K. Medida e avaliação em educação
KANDEL, E, SCHWARTZ, J, JESSELL, T. Principles
física e esportes. São Paulo,SP: Manole, 2003.
of neural science. New York: Elsevier Science,
1991. WILMORE, J; COSTILL, D. L. Fisiologia do espor-
te e do exercício. São Paulo,SP: Manole, 2001.
KNUDSON, D.V.; MORRISON, C.S. Qualitative
analysis of human movement. Califórnia (USA): ZULUAGA, M. Sports Physiotherapy: applied
Human Kinetics, 1997. science and practice. 3. ed. Melbourne (Austrália):
Churchill Livingstone, 2000.
LILLEGARD, W.A; BUTCHER, J.D; RUCHER, K.S.
Manual de medicina desportiva. 2.ed. São
Paulo,SP: Manole, 2002.
Recebido em/ received in: 15/09/2003
McARDLE, W.D.; KATCH, F; KATCH, V. Funda-
Aprovado em/approved in: 03/12/2004
mentos de fisiologia do exercício. 2.ed. Rio de
Janeiro,RJ: Guanabara Koogan, 2002.

26 Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005

S-ar putea să vă placă și