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Escola Secundária / 3 de Alfena

Português – 12º Ano

A MITIFICAÇÃO DO HERÓI E AS REFLEXÕES DO POETA EM OS LUSÍADAS

MITIFICAÇÃO DO HERÓI - I

A epopeia Os Lusíadas relata a viagem à Índia e, entrecortando-a com episódios do passado e profecias
do futuro, mostra a história do povo que teve a ousadia da aventura marítima. A intenção em exaltar os
heróis que construíram e alargaram o Império levou Camões a torná-los verdadeiros símbolos da
capacidade de ultrapassar "a força humana" e de merecerem um lugar entre os seres imortais.
Os navegantes e, em especial, o comandante das naus, Vasco da Gama, ultrapassam a sua
individualidade ou a particularização do herói colectivo, que é o povo português. São símbolo do
heroísmo lusíada, do seu espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita.
Numa leitura simbólica, a viagem, mais do que a exploração dos mares, exprime a passagem do
desconhecido para o conhecimento, da realidade do Velho Continente e dos seus mitos indefinidos ou
sem explicação para novas realidades de um planeta a descobrir.
Nos vários episódios e no recurso à mitologia, há elementos simbólicos importantes que podem ajudar
na interpretação dessa mensagem humanista e de exaltação lusíada que Camões nos deixou.
Ao contrário dos épicos anteriores (Homero ou Virgílio), Luís de Camões não escolheu um herói
individual que motivasse o título da sua obra, mas procurou que a sua epopeia anunciasse a história de
todo o povo da "geração de Luso", "invicto e forte (...) /a quem nenhum trabalho pesa e agrava". Os
navegantes, que chegaram à Índia, e todos os heróis lusíadas merecem realmente a mitificação. Os
deuses não são mais do que seres da fábula ou da lenda, criados pelos homens para justificarem o que
lhes parecia de difícil explicação.

Aqui, só verdadeiros, gloriosos


Divos estão, porque eu1, Saturno2 e Jano3,
Júpiter, Juno4, fomos fabulosos,
Fingidos de mortal e cego engano.
Só pera fazer versos deleitosos
Servimos; e, se mais o trato humano
Nos pode dar, é só que o nome nosso
Nestas estrelas pôs o engenho vosso.

(Canto X, est. 82)

1
É Tethys que está a falar com Vasco da Gama.
2
Saturno é um deus romano muito antigo: ensinou aos homens a cultura da terra.
3
Jano (de onde vem a palavra Janeiro) é o mais antigo dos deuses romanos.
4
Deusa do casamento (esposa de Júpiter e filha de Saturno).
1
A MITIFICAÇÃO DO HERÓI - II

Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. Para isso, o poeta desenvolve uma
história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado
heróico e exemplar da História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende à universalidade, louva não só os
Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas
é a grande prova dessas capacidades: a de se impor à natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de
ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que
estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar
o saber; a realização do homem no que respeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de
edificar a vida face ao destino. De não ser vítima da fatalidade. De se libertar e de ser sujeito do seu próprio
destino. Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com os modelos antigos, com o
apogeu na divinização dos heróis.

Maria Vitalina leal de Matos, Tópicos para Uma Leitura de Os lusíadas, Editorial Verbo, Lisboa, 2003

O Homem, «bicho da terra» tão pequeno, conseguiu conquistar o mar que o transcendia -
espaço de transgressão -, vencendo as forças, personificadas pelos Deuses. Conseguiu isso pela
ousadia, pelo estudo, pelo sacrifício, por querer superar-se a si próprio e ser «mais alto» e ir «mais
longe». Os homens tornam-se deuses, fazendo cair do pedestal as antigas divindades. A recepção dos
nautas pelas ninfas significa a confirmação dos receios de Baco: de facto, os navegantes cometeram
actos tão grandiosos que se tornam amados pelos deuses; e, de certo modo, divinizam-se também.
Temos aqui um mito construído com elementos da cultura greco- latina, mas elaborado para o efeito
específico que o autor visa. Oue diz esse mito? Reconhece a importância excepcional do acontecimento
nuclear do poema -a Viagem de Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. A viagem é física,
humanista, geográfica e poética. A euforia leva à epopeia como forma elevada de imortalizar os heróis
da aventura.

Mais do que explorar os mares, a viagem traduz em si mesma a contínua procura de verdade,
pois é sempre mais belo viajar do que chegar. Desta viagem resulta a passagem do conhecido para o
desconhecido, das trevas para a luz, de uma ideologia confinada para outras e diversas
realidades. Os olhos dos eleitos que viram o raiar da aurora e a água pura das fontes ou que tiveram o
privilégio de contemplar a «máquina do Mundo» exprimem a metáfora da luz numa nova época do
conhecimento. O deslumbramento dos nautas pelo erotismo da «ilha» simbolizará também a
necessidade de uma comunhão dos homens com o divino na procura da suprema harmonia.

Assim se consubstancia a narrativa que na Ilha dos Amores revelará ao mundo que a única via
para o Futuro é o Amor e o Conhecimento. A superação advém dessa interiorização, dos perigos
e contrariedades. «Vede» -depois de tantos e tantos perigos, chegámos aqui para voltar com o
conhecimento. A descoberta verdadeira foi que o caminho marítimo (ou terreno) é através do Amor e
do Conhecimento. O desconhecido torna-se conhecido e o mistério é desvendado, os nautas
divinizados.
in Interacções da Texto Editora

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REFLEXÕES DO POETA: CRÍTICAS E CONSELHOS AOS PORTUGUESES

O Poeta faz diversas considerações, no início e no fim dos cantos de Os Lusíadas, criticando e
aconselhando os Portugueses.
Por um lado, refere os "grandes e gravíssimos perigos", a tormenta e o dano no mar, a guerra e o
engano em terra; por outro lado, faz a apologia da expansão territorial para divulgar a Fé cristã,
manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo
português (I, 9-12; X, 147-152).
Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Se realça o valor das honras e
da glória alcançadas por mérito próprio, lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam
aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, destacando a importância das letras. Se critica os
povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos
do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem atingir a imortalidade, dizendo-
lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem. Daí,
também, lamentar a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupções e de traições.
Lembrando o seu "honesto estudo, "longa experiência" e "engenho", "Cousas que juntas se acham
raramente" (X, 154), confessa estar cansado de "cantar a gente surda e endurecida" (X,145 que não
reconhecia nem incentivava as suas qualidades artísticas.

De entre as reflexões feitas em Os Lusíadas, merecem destaque os momentos em que o Poeta:

. refere aquilo que o homem tem de enfrentar: "Os grandes e gravíssimos perigos", a tormenta e o dano
no mar, a guerra e o engano em terra (Canto I, estâncias 105-106);
. põe em destaque a importância das letras e lamenta que os Portugueses nem sempre
saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência (Canto V, estâncias 92-100);
. realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio (Canto VI, estâncias 95-99);
. faz a apologia da expansão territorial para divulgar a Fé cristã; critica os povos que não seguem o
exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo "e, se mais
mundos houvera, lá chegara" (Canto VII, estâncias 2-14);
. lamenta a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupções e de traições (Canto VII, estâncias
96-99);
. explica o significado da Ilha dos Amores (Canto IX, estâncias 89-92);
. dirige-se a todos aqueles que pretendem atingir a imortalidade, dizendo-lhes que a
cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem (Canto IX,
estâncias 93-95);
. confessa estar cansado de "cantar a gente surda e endurecida" que não reconhecia nem incentivava as
suas qualidades artísticas. Mesmo assim reafirma-o nos últimos quatro versos da estância 154 do Canto
X ao referir-se ao seu "honesto estudo", à "longa expe- riência" e ao "engenho", "Cousas que juntas se
acham raramente";
. reforça a apologia das Letras (cf. Canto V, estâncias 92-100);
. manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa
do povo português (Canto X, estâncias 145-156).

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Geralmente no final de cada canto, o poeta interrompe a narrativa para apresentar
as suas reflexões sobre assuntos diversos, a propósito dos factos narrados.
Estas considerações/reflexões/excursos contêm uma vertente didáctica, cumprindo
um dos objectivos da epopeia.

Textos de Apoio
Uma epopeia é basicamente uma narrativa, e como tal importa o que nela se narra: o contexto, a matéria
épica. Se, porém, ela atinge um nível de literariedade que a torna digna de permanecer, é porque o acento
foi posto na mensagem propriamente dita.
O "acento na mensagem" vê-se na frequente intervenção das reflexões, exortações, queixas -
explícita ou implicitamente expressos na primeira pessoa pelo Poeta . Mais ainda, na mutabilidade - ou na
duplicidade - de pontos de vista expressos através dessas reflexões. Lendo Os Lusíadas como um texto "não
uno", que repousa "sobre uma ideologia dupla", vê-se a "ambiguidade que enriquece o poema".
A matéria épica, apesar da visão crítica do poeta, apesar das tremendas acusações do Velho do Restelo,
permanece válida, mas não indiscutida: há pelo menos duas verdades possíveis. Os Lusíadas são,
exactamente por isso, a epopeia de novos tempos, tempos esses contraditórios. Alimentado de tais
contradições o poema adquire modernidade e afirma-se como a única epopeia representativa do Renascimento
europeu.
A grande inovação da epopeia camoniana está exactamente nos excursos, nas reflexões sobre a
história, o poema e a própria vida e missão do poeta, que "questiona até mesmo os heróis que canta".
São esses excursos que tornam o poema "portador de uma 'bissemia' altamente significativa".
Ao percorrermos os versos d'Os Lusíadas, encontramos a pequena mesquinhez e a grandeza heróica,
o peito assinalado e o seio ferido, o sonho pragmático de D. Manuel e a viagem ideal dos segundos
argonautas, a conquista do comércio e a dilatação da fé, a ambição desenfreada e a humildade religiosa,
a missão cristã e a assistência dos deuses pagãos, a coragem e a debilidade de reis e guerreiros lusos,
a contingência histórica e o desígnio divino.
Falam também n'Os Lusíadas as vozes que faziam a exaltação e a condenação da conquista; ocupavam-
se tanto da adesão entusiasta à causa e à casa portuguesa, como da crítica dura e sofrida à mediocridade
dos espíritos e à corrupção desenfreada da sociedade; enalteciam a aventura e a audácia dos homens
jovens, ao mesmo tempo que valorizavam a experiência sedentária e a sabedoria do homem velho; por
fim, vozes que transitavam desde a euforia do canto até ao desencanto das últimas estrofes do poema.

adaptado de : http://www.letras.puc-rio.br/catedra/livropub/lusofonia16.html

Nem só de exaltação e glorificação vivem os Lusíadas. Camões é também a consciência crítica que faz o
diagnóstico lúcido e sombrio de uma decadência que se aproxima. Não desconhece nem esconde os
erros, os defeitos e os crimes de tantos portugueses. No final do canto VII denuncia com mágoa a
hipocrisia, o espírito de adulação, o abuso do poder, a exploração dos humildes; e queixa-se com ironia amarga
da ingratidão dos contemporâneos. Camões lembra que a Cristandade atravessa um momento crítico abalada
no seu interior pelas divisões religiosas motivadas pela Reforma, e ameaçada do exterior pelo poder turco que
alastra da índia até à Europa Central. É justamente esta situação de enfraquecimento que a gesta dos
descobrimentos vem compensar. Mas entretanto, sentimos o poeta tremer perante o perigo e perguntar:
Vencemos I Somos derrotados? Nesta obra que canta a ousadia e a coragem, o medo também se diz na fala
do Velho do Restelo, onde se ouve a voz do passado inquieto perante o futuro. Os Portugueses vão abandonar
a segurança da Terra, a estabilidade, e lançar-se na aventura marítima, no risco do desconhecido. É esse
momento que simboliza toda a despedida, o cortar das amarras.

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Mas pior do que a fala do Velho do Restelo é a conclusão da obra, terminando o canto que se reclama de
«puras verdades» com uma recompensa imaginária. Enquanto toda a acção narrada se passa no plano real
histórico, o prémio consiste num sonho. Um sonho maravilhoso... mas um sonho. ..

Afinal a apoteose encerra um fundo pessimista, confessa que o poeta não acredita na recompensa real dos
heróis, não confia na justiça divina. Celebra um povo, mas ao mesmo tempo revela a incapacidade que esse
povo tem em saber reconhecer os seus filhos mais dignos. É esta bipolaridade, esta distância entre o épico e o
anti-épico, entre o ser e o parecer que atinge o cerne da obra ou o seu equilíbrio, pondo em causa a sua
finalidade épica que lhe esteve na origem.

Tudo isto é a expressão de um mundo em crise. No renascimento português, os valores medievais, que se
mantêm até muito tarde, encontram-se com os da Contra-Reforma, assumida de forma rigorosa e severa,
construindo-se o poema neste universo oscilante, entre valores contraditórios.

Maria Vitalina leal de Matos, Tópicos para Uma Leitura de Os lusíadas, Editorial Verbo, Lisboa, 2003

Reflexões presentes na obra:

. a insegurança e as falsidades da vida;


. o desânimo do poeta face ao desprezo dos portugueses pelas letras, e em especial pela poesia;
. o valor da honra e da glória;
. o elogio à tenacidade portuguesa;
. a sua infelicidade;
. a crítica aos seus opressores;
. o poder do "vil metal" - ouro;
. o significado e o valor da imortalidade.

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