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CRITÉRIOS de NOTICIABILIDADE:
O Factor Proximidade!
Eduardo Lino
Nicole Francisco
Uma informação para ser notícia tem de ser recente, imediata e que circule
(Fontcuberta, 1999, pg 18). Só que até se tornar notícia o acontecimento tem de passar
por diversos crivos de classificação. O mais apertado será sempre o da selecção. Seja do
jornalista ou do editor, o factor selectivo determinará sempre o destino da informação.
Na cadeira de Teorias da Notícia observámos vários factores que influenciam os
critérios de selecção da linha editorial. Com esta reflexão, avaliaremos o impacto do
factor Proximidade na construção da informação nos Media Regionais e Locais. No
presente momento de evolução tecnológica, com novos canais de distribuição de
conteúdos e acesso a públicos mais variados, é importante saber se a notícia local
continua a ter espaço no espectro informativo.
Para obter um resultado mais concreto e abrangente procurámos a opinião e a prática de
jornais, rádios e agências. As conclusões deste trabalho assentam na investigação da
teoria de vários autores e especialistas internacionais, mas reflectem essencialmente a
realidade no distrito de Leiria, Portugal.
Critérios de Noticiabilidade
1
forma mais aprofundada por jornalistas, proporcionando aos leitores o relato dos
acontecimentos vividos no dia-a-dia, de um país ou de uma localidade. Mas para isso, o
jornalista tem de tratar a sua matéria-prima, ou seja, os acontecimentos. Tem de os
trabalhar de forma a criar um produto de fácil compreensão e de interesse para o leitor.
Aqui entra a relação amor/ódio da objectividade e da subjectividade. O jornalista tem de
fazer uma escolha subjectiva do ângulo com que vai retratar a realidade, de maneira a
representá-la com a maior objectividade possível. Essa escolha será sempre
condicionada. Seja por elementos socioculturais ou por limitações de percepção, o
modo como cada indivíduo assiste a um acontecimento é e será sempre único.
A explicação sobre este conceito, valor-notícia, é-nos dada por Galtung1 e Ruge2 („The
Structure of Foreign News‟,1965) quando afirmam que os factores contextuais dos
factos influenciam a selecção, ou seja, que os acontecimentos se tornam mais notícia
quanto mais se ajustarem a critérios culturais, organizacionais ou ideológicos.
Os factores ideológicos das notícias focados por Galtung e Ruge inserem-se nos valores
tradicionais da sociedade ocidental e essencialmente nos que derivam de uma filosofia
materialista e individualista. Os mentores do estudo também defendem que as
influências socioculturais derivantes da cultura do Norte da Europa, se baseiam numa
1
Johan Galtung, matemático e sociólogo norueguês.
2
Mari Holmboe Ruge, co-fundadora do Instituto Norueguês da Pesquisa pela Paz (PRIO).
2
perspectiva de que os valores-notícia tendem a favorecer acontecimentos que incidem
sobre pessoas de elite, nações de elite e ocorrências negativas.
Assim sendo, é natural que determinados acontecimentos sejam mais notícia do que
outros, por terem mais procedimentos de recolha e de processamento. Por isso, noticias
que obedecem a um conjunto de critérios relacionados com o tempo, lugar e interesse,
são preferidos pelas agências noticiosas.
Galtung e Ruge escrevem que “um acontecimento será tanto mais noticiável quanto
maior número de valores possuir, embora não seja uma regra absoluta.” Ou seja, eles
admitem que “um único valor pode compensar a inexistência de outros valores”.
Os critérios de noticiabilidade não são rígidos nem universais e por vezes são
contraditórios e mudam ao longo do tempo, alterando também consoante o contexto
onde estão inseridos e a sua abrangência, público, etc.
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De acordo com diferentes estudiosos, eis um quadro com as diferentes categorias de
noticiabilidade:
Fraser Bond (1962) justifica que o factor proximidade é informação local e a base com
que os jornais americanos constroem as suas tiragens.
Natalício Norberto (1969) refere que os leitores preferem uma noticia que relata um
acontecimento próximo do que um outro que tenha ocorrido a quilómetros de distância.
4
Van Dijk (1990) diz que o facto de o acontecimento ser num determinado local cria
interacção do leitor com a cidade onde vive.
Tabela 4
5
O Factor Proximidade na Imprensa Regional
Nesta Era da comunicação global, fomos investigar se o espaço editorial dos órgãos de
comunicação social regional ainda continua a ter lugar para a notícia local.
A orientação de qualquer projecto noticioso está assente na linha vital da sobrevivência.
Só será viável se conseguir manter audiência que o sustente. É fundamental perceber o
que deseja o leitor e oferecer-lho. E os leitores continuam a valorizar a proximidade,
aquilo que conhecem. O Jornal de Leiria sabe que “uma notícia no jornal sobre um
acontecimento que ocorreu na nossa rua é a primeira que iremos ler”. Assim, se este
espaço, do local, desaparecesse da imprensa regional “corria-se o risco de formatar a
informação e, mais grave, de ignorar acontecimentos importantes”. A certeza é
partilhada pelo Região de Leiria, para quem “ na Era da comunicação global, o local
ganhou uma nova dimensão. Fez-nos compreender e valorizar a especificidade local”.
A Rádio Liz não hesita em afirmar que “a notícia local tem um interesse ainda maior
que noutros tempos”. As pessoas têm acesso ao que se passa no mundo, quase na hora.
Só que para saberem o que se passa ao pé de si socorrem-se dos meios locais de
informação. É essa globalização e o desenvolvimento das tecnologias de informação
que, para o Jornal da Marinha, pode eventualmente alterar hábitos futuros no
comportamento da audiência, “a notícia local pode vir a perder importância numa lógica
global, com o aumento alucinante da oferta de serviços e produtos”.
É sabido que Portugal não dinamiza convenientemente hábitos de leitura,
principalmente de jornais. A nova geração de indivíduos já nasce com o “Magalhães”, a
internet e dois ou três telemóveis no bolso. Todos esses equipamentos têm acesso de
forma livre, abundante e gratuita a conteúdos globais e formatados. Será que num país
com dez milhões de habitantes3, em que apenas um diário nacional pago ultrapassa a
circulação média de 100 mil exemplares4, conseguirá manter ou aumentar a circulação
de jornais impressos em papel? A Agência Lusa acredita que sim, principalmente nas
edições locais e regionais. Reforça a ideia que “os cidadãos necessitam de, cada vez
mais, se sentirem parte de um mundo seu, que conhecem, com o qual convivem
diariamente e que só lhes é dado pelo noticiário de proximidade”.
3
Dados do Instituto Nacional de Estatística 2009.
4
Dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação em 2009.
6
A selecção das notícias no jornal local é hierarquizada com fundamentos nos critérios
de proximidade. A notícia local é a grande preocupação. A notícia de fora só interessa
no caso de sofrer alguma influência local, caso contrário, deixam que outros meios a
divulguem. Atitude que elege o que é local como critério principal de selecção
noticiosa.
Quanto aos jornais de âmbito regional há outro nível de preocupação nos critérios de
noticiabilidade, o perfil do leitor. Certos de que a maioria da audiência é urbana, abrem
o espectro da informação principal ao nível do concelho, deixando o nível da freguesia
para um plano mais secundário. No entanto, a proximidade é a regra de ouro. O media
procura criar uma relação de cumplicidade, sabendo que quanto mais relevante for o
tema para o leitor, mais o leitor se identificará com o título.
As medições de audiência5 mostram claramente que as questões inseridas na
proximidade psico-afectiva são aquelas que mais interessam às pessoas, com a
circulação média de jornais no distrito de Leiria a ser liderada por jornais Regionais:
Tabela 1
A imprensa Regional no distrito de Leiria não tem dúvidas que o factor proximidade é o
seu sustento. Comparando as linhas editoriais, atrás referidas, com os dados estatísticos
de tiragem e audiência (Tabela 2), regista-se a influência exercida sobre o público.
5
Dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação. (Tabela 1)
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Tabela 26
6
(+) Fonte Bareme Imprensa Regional 2010 – Base (000) Milhares de Leitores.
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Naturalmente que nenhum dos factores se pode dissociar dos outros. Não trabalham a
influência de modo isolado, pelo contrário, completam-se. Um facto para ser notícia tem
de ser novidade, mas pode ser intenso sem ser surpresa e vice-versa.
Durante o período de dois meses, de Outubro a Dezembro, analisámos as capas das
publicações inquiridas e concluímos que a proximidade dominou a 100%. Já a selecção
do tema alternou entre a intensidade, os actores e a surpresa.
Conclusão
Bibliografia:
FONTCUBERTA, Mar de (1999) A Noticia, Editorial Notícias
Webgrafia:
http://teoriadanoticia.blogspot.com/2009/05/os-criterios-de-noticiabilidade.html, consultado em 10-
12-2010(19h)
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:-AGOBXeohUEJ:www.sc.es, consultado em 2-
12-2010(17h)
http://utad0708epm.wikispaces.com/Crit%C3%rios+de+Noticiabilidade, consultado em 20-11-2010(11h)
http://www.meioregional.pt/index.php?content=32&concelho=0&distrito=10, consultado em 15-12-
2010(10h)
http://www.apct.pt/analisesimples_00.aspx?publicacaosegmentoid=2&segselecionado=13, consultado
em 15-12-2010(10h)
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000611&contexto=
pi&selTab=tab0, consultado em 15-12-2010(11h)