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40 HSMManagement 85 • març0-Abril 2011 hsmmanagement.com.br


a economia NSL
Em entrevista exclusiva, o britânico Alan Moore, especialista
em marketing antecipa seu novo livro, em que esboça o que
crê serem os elementos fundamentais da era atual, entre os
quais a mentalidade shuffle e a sociabilidade, e explica, com
exemplos, “enigmas” como as mídias sociais e a freeconomics

R
upert Murdoch que tantos nomes que os mais diversos Você é um grande defensor dessa nova
o perdoe, mas Alan especialistas têm dado à nova tran- economia em rede e digital. Então, co-
Moore é contunden- sição socioeconômica, talvez mais meço nossa conversa pelo ponto mais
te: quando o “furioso” extravagante do que a média, mas delicado desse novo paradigma e que
magnata da mídia, carrega um diferencial conceitual deixa nervosos empresários e exe-
controlador de um respeitável. Enquanto os outros cutivos, que é a expectativa de certos
império que abarca desde o inglês batizam esta era pelos fenômenos consumidores de que lhes sejam en-
The Times ao norte-americano The sociais e econômicos mais pal- tregues produtos e serviços sem que
Wall Street Journal, afirma que a jo- páveis, como economia em rede recebam remuneração em troca. Você
vem geração de consumidores quer (pelas redes sociais) e sociedade acha isso justo, exequível e, acima de
tudo de graça e que isso é insusten- digital (pela tecnologia), Moore se tudo, sustentável?
tável, ele está fazendo uma cortina refere a algo maior: a mudança é Em minha opinião, o que realmente
de fumaça para esconder seu verda- de mentalidade. deixa algumas pessoas nervosas –o
deiro incômodo: o de que, na nova Em entrevista exclusiva a Patrícia magnata da mídia Rupert Murdoch
economia, o poder está mudando Timoner, brasileira que foi por mui- é um dos que compartilham esse
de dono e saindo das mãos dos que to tempo acadêmica na Austrália nervosismo, irritação e fúria, por
muitos descrevem como cidadãos na área de mobile, Moore discorre exemplo– é a perda de controle que
Kane contemporâneos. sobre o mundo NSL, em que a so- elas têm da sociedade conectada
O britânico Alan Moore vem des- ciabilidade, como habilidade de se que emerge das tecnologias digitais.
pontando como o arauto da econo- socializar, passa a ser uma vanta- Essa conectividade está minando o
mia e da sociedade não linear (não gem competitiva fundamental para poder de Murdoch e outros e, assim,
em linha reta, na tradução ao pé profissionais e empresas. lhes é frustrante.
da letra de “no straight lines”), ou Agora, de acordo com Moore, o ra- Acho que é um erro presumir que
NSL, como ele chama informal e ciocínio e as ações no modo shuffle os consumidores esperam tudo de
sonoramente, e está escrevendo –alusão ao modo de tocar músicas graça. Apesar da abundância de in-
um livro sobre o tema, que deve em uma sequência aleatória e im- formações que você pode acessar
ser lançado este ano. “Não linear” prevista em mp3 ou CD players– vão digitalmente sem pagar, a maioria
poderia ser apenas mais um dos substituindo o paradigma linear do- entende perfeitamente que, se deseja
minante até agora, baseado em uma algo, tem de pagar por isso. Vejo por
progressão razoavelmente lógica, meus filhos, de 27, 21 e 12 anos de
A entrevista é de Patrícia Timoner, com causas e consequências. Moore idade.
Ph.D., consultora em estratégia digital, cita diversas empresas que podem Em sites como ebay.com ou itsy.
mobile  e marketing interativo.  Retor- ser consideradas exemplares, entre com [especializado em artigos para
nou ao Brasil em 2009, depois de por 12 as quais a Local Motors e a Grow VC artesanato], fica evidente que as pes-
anos coordenar e lecionar em cursos de (veja quadros das páginas 45 e 47, soas transacionam e criam valor de
graduação e MBA na Austrália. respectivamente). diversas maneiras, nada é gratuito. A

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gratuidade recebeu atenção excessiva glesa, que passou achar o pedágio capital de risco com modelo de API
na economia em rede porque muita desnecessário duas décadas atrás, e [interface de programação de aplica-
gente a usou para ganhar visibilidade está mudando a percepção de valor tivo, na sigla em inglês] aberto.
e momentum no mundo digital. na nossa sociedade conectada, onde Essas empresas entenderam que,
O conceito de freeconomics é uma somos todos comerciantes. ao criar um modelo aberto que pos-
forma 1.0 de pensar sobre o mundo e sibilite a qualquer um entrar e fa-
a sociedade conectada, de olhar esse Eu também sou comerciante? Como zer parte daquela economia, estão
novo paradigma com lentes ajustadas assim? criando valor. Isso incita a pessoa a
pelo velho paradigma da sociedade Comercializamos nosso tempo, aten- dar o melhor de si. O que está em
industrial. ção, habilidades e misturamos tudo jogo é a possibilidade de redese-
Eu lhe garanto: o fato de os consu- isso de maneiras distintas e por ra- nhar todo o processo de criação de
midores quererem tudo de graça é só zões diferentes. Dez anos atrás, Doc valor, como o dinheiro entra e sai
fumaça; o xis da questão é o poder e o Searls [coautor de O manifesto da da plataforma de negócios.
controle mudando de mãos. economia digital, ed. Campus/Else-
vier] disse que mercados são conver- Por que as mídias digitais-sociais são
Esse barulho é principalmente por sações, e eu concordo. Pense no que tão mal compreendidas?
defesa de interesses? as pessoas fazem em um mercado: Porque muitos ainda não entende-
Sim, natural. Aquelas casinhas ao trocam conhecimento e informações, ram o que está na raiz de seu sucesso.
lado de pequenas pontes sobre ria- transacionam, divertem-se. É tudo Acredito que a espécie humana quer
chos e córregos que vemos quando conversa. As redes sociais online am- renegociar os relacionamentos de
viajamos pela Inglaterra costuma- plificaram isso. poder no modo como trabalhamos,
vam ser postos de pedágio há 20 como vivemos, como nos educamos,
anos; pagávamos uma taxa para Mas como se ganha dinheiro agora? como somos governados e como ne-
atravessar pontes. Quando não pu- A ordem é criar valor dentro de sua gociamos. Queremos recuperar nos-
deram mais cobrar, você acha que rede, como faz a Local Motors, mon- sa essência de ser humano e o mundo
seus donos não fizeram barulho? tadora automobilística que usa um 2.0, conectado, a viabiliza: cooperar e
Fizeram. Acontece que mudou a modelo de negócio do tipo código colaborar com os outros, atuar em to-
percepção de valor na sociedade in- aberto, ou a Grow VC, companhia de das as pontas.

ALAN MOORE por Patrícia Timoner

Conheci Alan Moore por intermédio de Tomi Ahonen, especialista finlandês no universo
mobile. Alan talvez ainda não seja tão conhecido no Brasil, mas tem ótima repercussão
internacional. É tido como grande destilador de problemas complexos, um privilegiado
capaz de observar conceitos distintos, das mais variadas fontes, e encontrar a relação
oculta entre eles. Não à toa, a Microsoft lhe encomendou, há pouco mais de dois anos,
um artigo sobre o potencial e as possibilidades da sociedade mobile.
Alan também é famoso por lidar com o marketing construído em comunidades e
com conceitos como marketing de engajamento e de cultura participativa. Quando
trabalhava como VP internacional de criação de uma grande agência de publici-
dade, começou a perceber que a comunicação nas mídias tradicionais deixava de
fazer sentido, porque as pessoas do novo milênio querem estabelecer diálogos,
participar, relacionar-se, em vez de se manter mais passivamente no final da ca-
deia de distribuição. Seu mundo não linear, sobre o qual discorre nesta entrevista,
será o tema de seu próximo livro, No straight lines, com publicação prevista em 2011.
Britânico, Alan é diretor-executivo do Nicho Mass Media, firma de consultoria empre-
sarial especializada em engajamento e comunicação, sediada no Reino Unido, e profes-
sor visitante das escolas de negócios da University of Cambridge e da Oxford Univer-
sity, também nesse país. Entre outros livros, escreveu Communities dominate brands
(ed. Futuretext), com Tomi Ahonen, uma das maiores autoridades em mobile.

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Essa essência foi reprimida pelas os funcionários estejam no Twitter. E Desafiar investidor não é agradável...
empresas nos últimos 150 anos, que então você compara essas empresas Não é. Um CEO tem de ser extrema-
nos impuseram o modelo separatis- com outras que proíbem o acesso a mente corajoso para se levantar e di-
ta de produtores e consumidores, redes sociais internamente, até mo- zer: “O modo como fizemos negócios
algo não natural, pois somos multi- nitoram, censurando, o uso delas pe- até hoje não faz mais sentido e é pre-
dimensionais. los funcionários em sua vida pessoal ciso repensar a estrutura que utiliza-
Acontece que, como diz Charles e deixam as mídias digitais alocadas mos”. Os investidores institucionais
Handy em Além do capitalismo [ed. marginalmente como mais um entre vão lhe perguntar: “Quer dizer que o
Makron Books], corporações são tantos processos de negócio. Acabam modo como você tem trabalhado não
extremamente jovens se compara- mantendo um perfil de funcionário funciona?”. Ele terá de responder que
das com nossas aldeias ancestrais. condizente com tudo isso. sim e poderá perder o emprego, além
Eu me refiro às que têm apoiado a do fato de que as ações da empresa
humanidade por milênios e que têm E qual é o risco de não mudar a men- patinarão por um tempo...
essa essência. talidade? Há questões bastante complexas
No curto prazo, ocorrem todos os ti- para as empresas, principalmente
Por que tantas empresas enxergam pos de problema, como a comunica- quando pertencem a investidores
a situação atual quase como um beco ção com os consumidores e a perda institucionais e estes influenciam
sem saída? de receita. Você não pode ficar ven- sua gestão. No entanto, em minha
Não sei se elas a enxergam assim de do seu modelo de distribuição ser opinião, um CEO responsável não
fato, mas não faltam excelentes exem- destruído pelas tecnologias digitais pode deixar de pelo menos levan-
plos de outras companhias que estão sentado e de braços cruzados; tam- tar essa questão, mesmo que a con-
encontrando as saídas na sociedade bém não adianta tentar empurrar o clusão seja a de que ainda não é o
momento oportuno para mudar o
modelo de negócio.
“um ceo tem de ser extremamente corajoso O que quero dizer é que essa nova
para se levantar e dizer: ‘o modo como maneira de fazer negócios da socie-
dade conectada pode não ser funda-
fizemos negócios até hoje não faz mais mental para o processo de negócio
hoje, mas, em algum momento, terá
sentido e é preciso repensar a estrutura’” de se tornar parte do dia a dia e isso
não acontecerá espontaneamente.
conectada, como a varejista norte- gênio de volta para dentro da garra-
-americana BestBuy. Observando ou- fa, porque infelizmente ele está fora O que as empresas mais cautelosas
tras empresas, eles perceberam que e não há como voltar atrás. Você devem fazer?
muitas delas não estavam acertando precisa se levantar e abordar isso. Em primeiro lugar, elas devem en-
o jeito de fazer negócios no mundo tender que ter uma estratégia digi-
conectado e criaram uma figura cha- A Zappos, a Local Motors e a Grow VC tal –de banners, links patrocinados
mada twelper, ou Twitter helper [au- são crias da era digital e a BestBuy é etc.– ou de mídia social –presença no
xiliar de Twitter]. Seus funcionários muito agressiva em seu marketing. Facebook, no Twitter e por aí vai– é
competem para ver quem responde Você não teria uma empresa mais pouco. Agora é necessário que come-
mais rápido às questões dos clientes “normal” para dar como exemplo de cem a incorporar sociabilidade.
enviadas por essa rede social. alinhamento digital? Isso significa que têm de promover
Muda a mentalidade, percebe? Para Sim, a Lego. Ela elevou o conceito e incentivar as pessoas, de dentro e de
pôr todos seus funcionários livres no de sociabilidade e cocriação com fora da organização, a ser sociais por
Twitter, você precisa acreditar re- seus clientes a um patamar que lhe compreenderem que isso realmente
almente em competitividade. Todo permite entregar valor real de di- adiciona valor ao negócio. Esse “agir
mundo fala em competitividade, mas versas maneiras. socialmente” pode funcionar na área
um DNA competitivo para valer pres- A realidade, porém, é que muitas de pesquisa e desenvolvimento, como
supõe que você, quando trabalha com empresas continuam sendo con- cocriação, ou em uma recomendação
uma pessoa, queira que ela tenha tan- cebidas e construídas em torno da de serviços online.
to sucesso quanto você. Os executivos mentalidade vigente nos últimos
da BestBuy entenderam muito bem 150 anos, porque é preciso enfren- Por que a capacidade de se socializar
a nova mentalidade, assim como a tar os investidores para romper com é tão importante? Será porque, como
Zappos, onde é obrigatório que todos o velho paradigma. diz Ted Shelton, é preciso que ideias

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“Richard Sennett afirma que, se a


habilidade artesanal existir dentro
de um sistema de conhecimento
fechado, esse ofício tende a morrer
de fome, porque, sem diversidade de
informações, não há alimentação”

diferentes façam sexo para que pro- tems, diz que os mil blogueiros da nem sempre seu amigo pode lhe dar
criem? [risos] empresa fizeram mais para a Sun o melhor conselho.
Richard Sennett, no livro O artífice do que uma campanha publicitária
[ed. Record], afirma que, se a habili- de US$ 1 bilhão. No Brasil, um estudo do professor
dade artesanal existir dentro de um Então, sua empresa prefere pos- Sérgio Lazzarini, do Insper, mostra
sistema de conhecimento fechado, suir um departamento de marketing que a maioria das grandes empresas
esse ofício tende a morrer de fome, de cinco pessoas ou quer contar com tem acionistas comuns, que se rela-
porque, sem diversidade de informa- 500 funcionários dedicados à ativi- cionam diretamente, no que é chama-
ções, não há alimentação. dade e todos eles estão no Twitter, do de mundo pequeno –os lendários
escrevendo blogs ou usando alguma seis graus de separação na prática. É
Então, as pessoas –os funcionários– ferramenta de comunicação social? uma sociabilidade off-line, entre acio-
adquirem um novo status de fato, e nistas. O que você está dizendo é que
não de discurso, mediante seus em- Sociabilidade impacta a gestão? agora o principal requisito é uma so-
pregadores... Sem dúvida! Na internet, por exem- ciabilidade online e de todas as pes-
Sim! Digo sempre a empresas e plo, as empresas são realmente bem- soas da empresa?
gestores: em vez de ficarem só -sucedidas quando estão conectadas É uma sociabilidade de todo mundo,
no balanço de perdas e ganhos, a outras e compartilham dados e mas tanto off como online. Muitas
investiguem quais são os recur- informações. Isso pode ser ilustrado companhias já estão misturando a
sos que têm que podem se tornar pela Rummble, que oferece um servi- sociabilidade do mundo off-line com
seus verdadeiros trunfos. Jonathan ço móvel que essencialmente se resu- a do online. É um erro fazer como
Schwartz, CEO da Sun Microsys- me a dar conselhos. Todos sabem que uma empresa que conheço, que usará

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A comunidade Local Motors


Depois de ler o livro Winning the oil endgame (ed. Rocky cial e criativa. Tudo o que faz, incluindo eventos ao vivo, road-
Mountain Institute), do físico e ambientalista Amory Lovins, shows e festas, é gravado e twittado, postado no Facebook
o ex-fuzileiro naval norte-americano John Jay Rodgers, etc., embora essa comunicação online seja apenas a cereja
neto de um diretor da fabricante de motocicletas Indian, do bolo, já que a sociabilidade integra a empresa de A a Z.
decidiu criar, com o cofundador Jeff Jones, uma monta- Resultado: ela é capaz de fabricar um carro cinco vezes mais
dora de carros diferente. Os veículos deveriam ser susten- rápido que o usual com custo cem vezes menor.
táveis, o que implicava que fossem verdes (não na cor) e Quando a empresa levou 18 meses para projetar o primeiro
locais (criando empregos locais). Com isso em mente e um carro, alguém perguntou a Jay Rodgers quando começaria a
MBA por Harvard, Rodgers promoveu um concurso online fazer o marketing. Ele respondeu: “Já venho fazendo marke-
de design de automóveis, que previa diversos tipos de ce- ting há 18 meses, no mundo inteiro!”.
nários, atraindo participantes do mundo inteiro. O prêmio? Como lembra Alan, para você comprar um carro da Local
Apenas US$ 10 mil. Motors, precisa obrigatoriamente participar do processo de
Hoje, menos de quatro anos depois, a Local Motors é uma criação. A lógica é que, assim, há menor probabilidade de
comunidade global em que 44 mil pessoas trabalham na deixar de pagá-lo, porque você colocou algo de si mesmo no
cocriação e especificação de distintos projetos. A empresa veículo. Seus carros não são absurdamente mais caros que
e todo o processo de negócio são muito transparentes, por outros voltados a mercados especializados. O Rally Fighter,
meio de modelos de código aberto nas áreas legal, comer- seu primeiro modelo, está preficificado em US$ 50 mil. (P.T.)

50% da verba mundial de marketing Explique como você define os pensa- para o 20, os indivíduos já estavam se
anual em estratégias digitais, tirando mentos linear e não linear nos negó- sentindo desconectados uns dos ou-
isso de potenciais iniciativas off-line. cios, por favor... tros pela escala de mudanças trazidas
Eu a alertei de que está cortando a Sempre que está pensando em uma pela Revolução Industrial.
eficácia de seu orçamento mundial forma linear, você pensa em pa- As pessoas perderam a identidade
de marketing pela metade. drões, sistemas fechados de distri- ou a estão atribuindo mais a objetos
buição, controle, como obter o má- do que às conexões com outras pes-
É isso que as empresas devem fazer ximo no menor tempo possível, os soas. Prova disso é o crescimento da
para continuar a existir nesta socieda- resultados do trimestre. As empre- área de branding, um esforço imenso
de diferente que se impõe a cada dia? sas não lineares nem nos números para conferir autenticidade, valor e
O fundamental, em minha opinião, é do trimestre pensam, pelo menos significado a objetos. Agora, temos de
as empresas e os gestores entende- não do mesmo jeito. parar para pensar sobre como vamos
rem que o pensamento linear para Elas querem fazer o negócio cres- viver, trabalhar, comercializar, go-
por aqui. Ele está sendo substituí- cer organicamente, no longo prazo, vernar e aprender de maneira mais
do pela sociedade sem linhas retas o que é o oposto de atingir metas de propícia e pertinente a nós, como
[no straight lines society], como a crescimento trimestre após trimestre. seres humanos. Antidepressivos não
chamo. Hoje já existe um modo de Não que não tenham metas, apenas resolverão o problema.
pensar os negócios e processos que é estas não são definidas de maneira Insistimos em pensar e agir como a
muito mais eficaz, eficiente e susten- tão absurdamente estruturada. Co- máquina da era industrializada, que
tável. Meu novo livro é exatamente locam uma pressão terrível sobre as é eficiente por definição. No entanto,
sobre isso. empresas para atuarem com prazos como alguém já disse, a natureza é
A Local Motors é um dos melho- que simplesmente estão errados. muito ineficiente; só que ela é alta-
res cases atuais desse pensamento mente eficaz. Estamos negando a na-
não linear, dessa mentalidade em E uma pressão terrível sobre as pes- tureza, o que não é bom.
modo shuffle. Ela refez o processo soas, que nas pesquisas se declaram
de produção inteiro para entregar cada vez mais infelizes... Mas como se começa a cultivar a nova
um automóvel excelente de manei- É um sentimento de descontentamen- mentalidade?
ra leve, sustentável e flexível/adap- to refletido no desafio da construção de Empresas e seus gestores têm de res-
tável, incorporando as redes sociais nossa identidade neste corrido mundo ponder a quatro perguntas-chave:
em tudo –e não parou para desen- moderno. E isso não tem acontecido
volver uma estratégia de mídia so- apenas nos últimos 20 anos; vem de 1. “Como podemos nos tornar mais
cial específica. longe. Mesmo na virada do século 19 atraentes a nossos clientes?”

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2. “Como levá-los a confiar em nós?” rem dinheiro para uma iniciativa, as


3. “Como fazer com que nos reco- companhias devem optar por envol-
mendem?” ver mais pessoas para que colabo-
4. “Como desempenhar papel sig- rem, cocriem, conversem, desenhem
nificativo na vida deles?” o que quer que seja no mundo digi-
tal. Não comprometer capital eleva-
Essas perguntas correspondem a do em um negócio faz com que este
meu mantra do que deve ser todo seja mais leve, flexível e sustentável.
produto, serviço ou negócio: habi- Existem vários casos de sucesso de-
litador da vida dos consumidores, correntes dessa substituição de capi-
simplificador de sua vida e navega- tal por gente.
dor [life enabling, life simplifying Até na tão massacrada área de mí-
and navigational]. dia, vemos o grupo The Guardian,
do Reino Unido, trabalhando ardua-
Habilitar e simplificar a vida podem mente para aprender a se adaptar
se confundir. Você pode distingui-los? aos desafios que a sociedade e a eco-
A ideia central dos dois gira em tor- nomia em rede estão apresentando.
no de lidar com a complexidade da
vida das pessoas por meio de servi- Para isso, a ambição de obter econo-
ços para torná-la mais simples. Um mia de escala tem de ser descarta-
exemplo é o site www.custodium. da, não?
com, que integra e combina infor- Sim. Jay Rodgers, da Grow VC, afir-
mações e documentos para você ma que as economias de escopo
esquecer de vez os papéis, e ele tan- substituem as de escala. Pergunte-
to habilita como simplifica a vida. -se: qual é o escopo do negócio, ou
A diferença é que o serviço do tipo seja, qual sua profundidade?
habilitador ajuda as pessoas a fazer Deixe-me contar a história de Lau-
coisas, como um serviço que dá um ren Luke, uma jovem do norte da
alerta ao consumidor quando chega Inglaterra que ficou grávida aos 15
o produto que ele reservou em uma anos e, por ser solteira, teve de aban-
loja. Os twelpers, da BestBuy, tam- donar a escola para criar a criança.
bém são habilitadores. “jay rodgers, da grow Aos 27 ela não tinha qualificações e
Já o navegador entra aí no senti- vc, afirma que as vivia com a mãe em uma pequena
do de orientar as pessoas na direção cidade. Era atendente de um servi-
certa para que possam descobrir coi- economias de escopo ço de táxi e fazia alguns bicos para
sas que lhes sejam mais relevantes e complementar a renda, como vender
úteis no momento.
substituem as de cosméticos no eBay.
Em paralelo ao mantra, as empre- escala. pergunte-se: Um belo dia, para incrementar
sas precisam incorporar o conceito a venda dos cosméticos, ela criou o
de aprendizado do dia a dia embutido qual é o escopo do site www.Panacea81.com e um ca-
no processo de negócio, ou seja, visto
como trabalho produtivo, e não mais
negócio, ou seja, qual nal no YouTube com dicas de ma-
quiagem e agora é um fenômeno
algo que você faz duas vezes por ano. sua profundidade?” global. Os vídeos dela são vistos mi-
Também o conceito de comunidade, lhares ou milhões de vezes. No caso
dentro e fora das fronteiras corporati- da Local Motors, como se fossem os de Lauren, não há escala, mas um
vas, tem de entrar de vez na cultura: próprios advogados do diabo. Isso é grande escopo.
boa ajuda para isso pode ser a nomea- necessário para que a empresa pos-
ção de um CMO [chief community sa entender corretamente como as Você fala que as empresas têm de
officer, ou principal executivo de co- novidades da sociedade conectada ser hiperlocais e superglobais. Essa
munidade] para valer. funcionam. é outra parte da receita? É o novo
Outra questão importante é que os “think global, act local”?
gestores repensem como sua empre- Como ficar mais leve, flexível e sus- O conceito de hiperlocal e superglo-
sa pode se tornar mais leve, flexível/ tentável? bal não é como a manteiga que vai
adaptável e sustentável, à maneira Por exemplo, em vez de emprega- bem em todo pão, porém acho que

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a economia NSL

A Grow VC é o novo Vale


Jouko Ahvenainen, um dos fundado-
res da Grow VC.

do Silício, segundo Moore Quando falamos do setor bancário,


um bom exemplo de ruptura NSL não
A Grow VC acaba de completar seu primeiro ano de vida. Foi fundada em fe- viria da África emergente? O Quênia
vereiro de 2010 por Jouko Ahvenainen e Valto Loikkanen, que a descrevem tem um dos melhores casos de mobi-
como a primeira ferramenta de crowd funding global para start-ups de web e le banking...
mobile. Um empreendedor pode, por exemplo, obter online um financiamento Com certeza. Acredito que o mobile
inicial que varia de US$ 10 mil a US$ 1 milhão. O site tem 2,5 mil usuários re- banking vai transformar nossa so-
gistrados em 108 países, o Brasil inclusive. Dentre eles, cerca de 25% são dos ciedade –e de muitas maneiras. Por
Estados Unidos, 11% do Reino Unido e 7% da Índia, e, até o final de novembro exemplo, a txtEagle desenvolveu uma
de 2010, o total do capital mobilizado ali era de US$ 12,8 milhões. plataforma que permite que seus
Alan Moore diz que um dos diferenciais da Grow VC, além de estar em busca clientes corporativos tenham acesso
de modelos alternativos para arrecadar fundos, é procurar criar valor em vez à maior força de trabalho virtual do
de destruí-lo, como é comum em venture capitalists, segundo ele. Mas o fato mundo –quem tiver um celular pode
é que ela atende a uma necessidade gigantesca do mercado, uma vez que prestar serviços para a txtEagle.
as empresas de capital de risco convencionais proporcionam pouco fluxo de De repente os clientes do banco
negócios e privilegiam conhecidos. Para Alan, embora ainda embrionária, a passaram a contar com a habilidade
Grow VC e outros negócios equivalentes são o próximo Vale do Silício. “O futuro de uma força de trabalho distribuída
Vale do Silício não é um local, mas uma plataforma e comunidade online, onde geograficamente. Com esse novo ce-
empresários, investidores-anjo e investidores institucionais estão ligados à nário, o dinheiro flui por diferentes
rede e entre si”, afirma ele. regiões em um ritmo e escala antes
Outras vantagens oferecidas pela Grow VC são um mercado ao mesmo impossíveis.
tempo global e local –e, ainda por cima, transparente– e ferramentas para
encontrar empresas pela internet, fazer investimentos nelas e gerenciá-los. A Como os gestores podem entrar nes-
Grow VC ainda tem o apelo de oferecer uma API aberta para que qualquer um se mundo NSL?
desenvolva aplicativos e serviços ali, o que abre a porteira para novos formatos Além de participarem ativamente
de financiamento e modelos de negócio inéditos. É assim ela que estabelecerá das redes sociais, os gestores devem
os precedentes dos futuros modelos de financiamento. (P.T.) se lembrar do que [o futurista] Alvin
Toffler disse: “O futuro está lá fora,
apenas está mal distribuído”.
vale a pena sempre pôr essa ideia to eficiente de cortar todas as coi- Então, devem olhar para empresas
entre as possibilidades estratégi- sas que tornam voar caro, exceto o como a Local Motors, que consegue
cas. A Local Motors faz exatamente combustível. Mas, infelizmente, es- montar carros cinco vezes mais rá-
isso: trabalha com pessoas em uma tão fazendo como Rupert Murdoch pido que a concorrência com custo
base global, aproveitando a inteli- –tentando controlar todos os as- cem vezes menor. Ou observar como
gência coletiva ultradiversificada pectos do negócio quando isso não a Grow VC, a primeira comunidade-
no design de veículos, mas mantém é mais possível e, pior, sem ofere- -fundo global, é capaz de acelerar a
uma filosofia local, produzindo veí- cer uma experiência prazerosa aos velocidade de captação de fundos de
culos para clientes locais, gerando clientes, que, consequentemente, maneiras jamais imaginadas.
empregos locais e movimentando a não prestam sua fidelidade à mar- Ou, ainda, ver os diversos casos
economia local. ca. Acredito que, se outra empresa de países emergentes, de onde vêm
O Facebook também é assim: su- vier e oferecer ao cliente uma ex- saindo muitas novidades, como a já
perglobal por sua natureza de plata- periência fantástica, uma Ryanair citada txtEagle, do Quênia, ou ainda
forma e hiperlocal por permitir que [companhia aérea britânica de bai- a Ushahidi, plataforma que agrupa
as pessoas se encontrem ali e, de- xo custo] vai ter ameaçada sua par- informações críticas sobre algum
pois, cara a cara. ticipação no mercado. fato importante –foi o herói dos re-
Na minha opinião, entretanto, o centes terremotos no Chile e no Hai-
As companhias aéreas de baixo cus- próximo setor de atividade a ser ti, como uma ferramenta de gestão
to, que continuam sendo saudadas atingido de maneira drástica pelos de crises de última geração.
como grandes inovações, são leves, efeitos da economia NSL [no straight
flexíveis e sustentáveis? lines], depois do da comunicação,
Elas encontraram uma forma mui- será o bancário, como eu disse a HSM Management

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