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Raghuram Rajan
Desde os anos 70, os salários dos trabalhadores no percentil 90 da distribuição salarial nos
Estados Unidos – tal como gestores de escritório – têm crescido muito mais rapidamente do
que os salários de um trabalhador médio (no percentil 50), tal como os trabalhadores
industriais e os assistentes de administração. Vários factores explicam esta diferença.
Talvez o mais importante é que o progresso tecnológico nos Estados Unidos exigiu que a
força de trabalho fosse cada vez mais capacitada. Há 40 anos, um diploma da escola
secundária era suficiente para um trabalhador administrativo. Actualmente, um grau
universitário é apenas suficiente. Mas o sistema de educação não tem sido capaz de fornecer
a educação necessária a uma parte suficiente da força de trabalho. As razões vão desde a
falta de qualidade da nutrição, socialização e aprendizagem na primeira idade a escolas
primárias e secundárias disfuncionais que deixam demasiados americanos sem preparação
para a universidade.
Além disso, qualquer alteração iria demorar anos a ter efeitos, o que não diminuiria as
actuais preocupações do eleitorado. Assim, os políticos escolheram outros meios mais rápidos
de tranquilizar os seus eleitores. Há muito tempo que percebemos que o importante não é o
rendimento mas sim o consumo. Um político inteligente ou cínico daria conta de que, se de
alguma forma conseguisse manter o consumo das famílias de classe média – se estas
pudessem comprar um carro novo de vez em quando ou ir de férias para locais exóticos –
estas não iriam prestar tanta atenção aos seus rendimentos estagnados.
Porque é que os Estados Unidos não seguiram um caminho mais directo na redistribuição,
impostos ou endividamento e gastos da classe média ansiosa? A Grécia, por exemplo, meteu-
se em problemas precisamente por fazer isto. Empregou milhares de pessoas no governo e
pagou-lhes salários excessivos, mesmo quando isso levou a dívida pública para níveis
astronómicos.
Ainda assim, nos Estados Unidos tem havido recentemente uma reunião de forças políticas
contra a redistribuição directa. Os créditos hipotecários directos foram uma política com
amplo apoio porque ambos os lados pensaram que iriam beneficiar.
A esquerda apoiava os fluxos para o seu eleitorado natural, enquanto a direita via com bons
olhos novos proprietários, que podiam, talvez, ser convencidos a mudar de partido. A política
de dar mais crédito às famílias de baixo rendimento foi dos poucos pontos em comum entre a
administração de Bill Clinton, com o seu mandato de casas acessíveis, e a administração
George W. Bush, que queria fomentar uma sociedade “proprietária”.
Como é óbvio, não foi a primeira vez, nem será a última, em que a expansão do crédito foi
usada para diminuir as preocupações de um grupo que está a ficar para trás. Na verdade,
nem precisamos de sair dos Estados Unidos para encontrar exemplos. A desregulação e a
rápida expansão do sistema bancário norte-americano nos primeiros anos do século XX foi,
de muitas formas, uma resposta ao movimento Populista, apoiado por pequenos e médios
agricultores que estavam a perder importância face a número crescente de trabalhadores
industriais e que exigiam créditos mais flexíveis. O excessivo endividamento rural foi uma
causa importante dos colapsos bancários durante a Grande Depressão.
Isto tem uma implicação mais ampla: precisamos de olhar além dos banqueiros gananciosos
e dos débeis reguladores (e houve muito dos dois) para procurar as causas desta crise. E os
problemas não se resolvem com uma lei de regulação financeira que conceda mais poderes a
esses reguladores. A América precisa de combater as causas da desigualdade e dar a mais
norte-americanos a capacidade de competir no mercado global. Isto é muito mais difícil do
que dar créditos mas muito mais eficaz no longo prazo.