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Jornal de Negócios, 08 Outubro2010  

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Podemos Regular o Risco Sistémico?

Michael
Spence

Nos últimos dois anos, dois perigosos episódios de instabilidade financeira e de mudanças
inesperadas nas dinâmicas de mercado afectaram a economia mundial.
É provável que aconteçam outros casos do género. A economia global está desequilibrada em
muitos aspectos tendo em conta que se está a sair de uma crise, particularmente no que diz
respeito à dívida soberana e à estrutura da procura internacional.

Os riscos sistémicos conduzem à maioria das crises e são um desafio por diversas razões. Em
primeiro lugar, detectá-los com alguma confiança não é fácil e é ainda mais difícil provar a
sua existência. Segundo, prever o exacto momento de uma quebra (seja o rebentar de uma
bolha, a paralisação dos mercados ou quando o crédito deixa de estar disponível) está, e é
provável que continue a estar, fora do nosso alcance. Por fim, as crises são acontecimentos
verdadeiramente não-lineares, o que significa que podem ocorrer sem grandes avisos
prévios.

Alguns ataques regulares de instabilidade trazem altos custos sociais sobre aqueles que
menos tiveram que ver com a sua origem. Em caso de repetição, o padrão pode corroer a
confiança nos mercados financeiros e nos reguladores, o que pode realmente conduzir a uma
regulação de mão pesada, a uma expansão do Estado e a uma contenção face à globalização.

Mas o problema é ainda mais sério. A crise financeira e económica está a transformar-se
numa crise de dívida soberana em países desenvolvidos. O desequilíbrio financeiro e
económico pode levar a um desequilíbrio orçamental perigoso, com a queda das receitas
fiscais e com a segurança social e as despesas de resgate a aumentarem. O Fundo Monetário
Internacional sugere que 75% dos “estímulos orçamentais” nos países desenvolvidos
compreendam medidas contracíclicas não discricionárias.

Os indetectáveis desequilíbrios e o risco sistémico fazem com que as políticas orçamentais


pareçam prudentes quando não o são. Por exemplo, a Espanha não tinha um défice
orçamental quando se iniciou a crise. Mas as receitas e as despesas eram, em parte,
determinadas por uma bolha do sector imobiliário ligada a um alto endividamento.

Um desequilíbrio orçamental extremo pode conduzir a uma armadilha do crescimento. Nela, a


consolidação orçamental tem um efeito tão negativo no crescimento que vai acabar por
anulá-lo. A Grécia é provavelmente um bom exemplo. É possível que a única saída seja
restabelecer o valor dos passivos através da reestruturação ou da inflação.

Se o risco sistémico pode causar este tipo de desequilíbrios consecutivos em cascata, então o
país “soberano” tem de estar em alerta, tem de ser competente na identificação do crescente
risco e tem ainda de ser capaz de executar uma rápida acção correctiva.

Estamos perto de obter um amplo pacote de regulação focado nas exigências de capital, no
endividamento, na transparência e nos “ratings” e noutras fontes de informação, nos
incentivos, nos conflitos de interesse, nos limites no tamanho das empresas do sector
financeiro, na protecção do consumidor e nos mecanismos de resolução. A esperança é que
tais reformas venham a reduzir a probabilidade e a gravidade de um risco sistémico.

Mas isso não resolve os desequilíbrios globais e outros sinais e motivos de instabilidade. Além
disso, e como um complemento para a regulação, precisamos de um supervisor total de risco
sistémico.

Contudo, alguns proeminentes decisores políticos e analistas dizem que a supervisão com o
objectivo de identificar e obstruir o risco sistémico é inútil. Devido aos modelos de dinâmicas
de riscos incompletos e ao complexo sistema financeiro global em constante mudança,
defendem que a detecção é propensa a falhar, ou até impossível, o que deverá fazer com que
esse esforço não seja produtivo. As bolhas de activos são, com certeza, difíceis de identificar.

Se os cépticos estão correctos, devemos então aceitar que vamos escapar ao equilíbrio
financeiro e orçamental regularmente sem o sabermos de forma prévia. Em consequência,
devemos admitir a necessidade de uma postura orçamental muito mais conservadora do que
aquela que foi necessária há três anos atrás.

Na Estatística e na teoria da tomada de decisões sob um quadro de incertezas, os erros são


inevitáveis e são de dois tipos: o primeiro é rejeitar a proposição verdadeira; o outro é aceitar
a falsa. Vamos chamá-los de RQV (rejeitar quando é verdadeira [falsos positivos]) e AQF
(aceitar quando é falsa [falsos negativos]).

O assunto pode ser enquadrado do seguinte modo: no contexto da detecção e da resposta ao


risco sistémico, de qual destes dois tipos de erro se podem esperar maiores custos?
Os adversários da supervisão prudente sobre o risco sistémico adoptam duas posições
diferentes.

Uma é a de que o AQF não vai acontecer porque não existem sinais fiáveis a priori de uma
potencial instabilidade crescente. A ideia defende que olhar para eles é uma perda de
recursos, além de sugerir que a instabilidade apenas atinge como um relâmpago. Isto parece
errado. Na crise de 2008, por exemplo, alguns analistas emitiram sinais de aviso. Alguns
investidores repararam e responderam aos mesmos. De modo notório, estes avisos não
formavam uma opinião irrefutável e, certamente, não previam o momento da quebra. Mas os
sinais estavam lá.

Uma segunda posição aceita que há sinais de alerta, que não são confiáveis e que reagir aos
mesmos iria causar mais mal que bem. Isto implica que o AQF tem um custo provável mais
alto do que o RQV, já que há bastantes falsos positivos e/ou a cura é pior do que a doença.
Pode-se reconhecer que há custos para os AQF. Mas os RQV também são caros, como se vê.
Portanto, o efeito negativo agregado de uma política de reacção a falsos positivos (AQF) tinha
de ser maior para me convencer. E eu não estou convencido.

Pode haver um profundo preconceito a funcionar. Nos negócios e nos investimentos, a todo o
momento são feitas escolhas sob condições de incerteza, além de que os erros fazem parte
da rotina. Pelo contrário, a postura padrão dos decisores políticos dos países desenvolvidos
parece ser a de que medidas pró-activas e preventivas exigem um maior grau de certeza,
levando-os para uma crença profundamente enraizada de que os mercados financeiros são
estáveis e que se regulam a eles próprios.

Se alguém acreditar que a instabilidade do mercado é rara, então é razoável que se recuse a
actuar, a não ser que existam argumentos convincentes que o levem a fazê-lo. Tendo em
conta a experiência, a visão de que o sistema financeiro é apenas excepcionalmente instável
ou que só raramente atravessa um caminho insustentável parece ser, pelo menos,
questionável.

Com base em nova teoria e na experiência, podemos praticamente concluir que é impossível
planear uma postura de resposta ao risco sistémico e que os custos de erros AQF são maiores
do que as falhas RQV. Mas devemos, no entanto, dirigir uma experiência ao atribuir a
responsabilidade a uma nova instituição, ou a uma que já exista, que tenha acesso à
informação, que tenha talento analítico tanto no campo financeiro como no macroeconómico
e que esteja relativamente livre de conflitos de interesse. A análise deve ser tornada pública
e pode influenciar as percepções do risco sistémico e o comportamento do mercado,
aumentando assim a capacidade de auto-regulação do sistema.

Michael Spence foi laureado com o Nobel da Economia, é professor emérito da Universidade
de Stanford e preside a Comissão para o Crescimento e Desenvolvimento.

Copyright: Project Syndicate, 2010.


www.project-syndicate.org

Tradução: Diogo Cavaleiro


For a podcast of this commentary in English, please use this link:
http://media.blubrry.com/ps/media.libsyn.com/media/ps/spence14.mp3

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