Palavra [trecho da segunda versão]

Por
Evana R.

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CASA DE ADALBERTO. QUARTO DE CAROLINA E NATÁLIA. INTERIOR.
NOITE

Carolina está sentada à penteadeira, prende os cabelos e vai

para a escrivaninha. Abre uma gaveta de onde retira um
diário. O abre e começa a escrever.
CAROLINA
(enquanto escreve)
As pessoas não sabem de nada e
ficam falando por aí Antônio não
vai assumir o filho com Virgínia...
Um homem como ele nunca faria uma
covardia dessas. Ele vai ficar ao
lado dela, da criança, vão ser uma
família e talvez... Talvez isso
seja um sinal para que eu o esqueça
de vez. Um homem de carreira em
ascenção, que conhece tanta gente,
tantas mulheres interessantes,
jamais ia sequer olhar com outros
olhos para uma menina que não sabe
nada, como eu...
Adalberto entra no quarto sem fazer barulho e pára bem atrás
da filha, se inclinando para tentar ler o que ela escreve.

ADALBERTO
Você não devia ficar se depreciando
desse jeito, Carol.
Carolina fecha o diário rapidamente e olha para o pai,
assustada.
CAROLINA
O senhor leu alguma coisa, pai?
ADALBERTO
Não, só ouvi você falando baixinho.
Que história é essa de que você é
uma menina que não sabe nada?
CAROLINA
Perto de tanta gente que eu
conheço, não sei nada mesmo.
ADALBERTO
Mas você é uma menina tão
inteligente, a melhor aluna da sua
turma, todos os professores se
derramando em elogios pra você,
filha! [T] Dia desses você veio
toda contente me contar que aquele
seu professor de morfo... Mofo...

(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 2.

CAROLINA
Morfologia.
ADALBERTO
É, esse, que ele disse que você era
maravilhosa! Como uma aluna
maravilhosa pode não saber nada?
Um breve instante de silêncio; os olhos dela já estão
marejados. Logo ela começa a chorar convulsivamente e abraça
o pai, que afaga os seus cabelos. Ficam alguns instantes
assim.
CAROLINA
(soluçando)
O que eu sei nunca vai me dar o que
eu mais quero na vida.

Adalberto sai do abraço e faz Carolina olhar para ele.

ADALBERTO
Carolina, olha bem nos meus olhos.
Nem pisca. Ouve bem o que eu vou te
dizer, escreve isso: o que você
sabe e o que ainda vai aprender vai
te levar longe e vai te dar
absolutamente tudo o que você
desejar; até o que parece mais
impossível.

CAROLINA
Até o homem que eu amo?
Natália abre a porta exatamente nesse momento.

NATÁLIA
Opa, interrompo alguma coisa?
ADALBERTO
Não, Natália; eu só vim ver se
Carol estava dormindo, mas vou
deixar vocês conversando. Já
jantou?
NATÁLIA
Jantei com a Janaína.

ADALBERTO
Então boa noite pra vocês.
NATÁLIA
Boa noite, tio!

(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 3.

CAROLINA
(enxugando as lágrimas)
Boa noite, pai.
Adalberto sai.

CORTA PARA

CASA DE ADALBERTO. QUARTO DE CAROLINA E NATÁLIA. INTERIOR.

NOITE - ALGUNS MINUTOS DEPOIS

Carolina está deitada de lado na cama, de olhos abertos e

com ar de tristeza, vendo Natália arrumar uma mochila.
NATÁLIA
Posso levar um livro seu pra me
distrair? Só para o caso de meu pai
começar a chatear.
CAROLINA
Claro, pode pegar qualquer um.

Natália vai até a prateleira, pega um livro qualquer e ao

abri-lo, vê na primeira página uma dedicatória de Antônio.
Fecha o livro e o leva para sua mochila.
NATÁLIA
Se você continuar com essa cara,
vou acabar desistindo de ir!
CAROLINA
Eu vou ficar bem.
NATÁLIA
Isso, tem que ficar bem mesmo e ir
à luta pelo homem que você quer.
Aprende comigo!
CAROLINA
Realmente, tenho muito que aprender
com você!
NATÁLIA
Olha aí, linda desse jeito, uma
gênia, só precisa tirar um pouco a
cara dos livros e ir à luta. A
gente bem que podia trocar, né? Tô
precisando de um pouco da tua
inteligência.

(CONTINUA...)
...CONTINUANDO: 4.

CAROLINA
Mas você é inteligente.
NATÁLIA
Não o suficiente pra chamar a
atenção do homem mais inteligente
do mundo.
CAROLINA
(senta na cama, interessada)
E quem é esse homem?

NATÁLIA
Se eu disser, você não vai
acreditar.
CAROLINA
Por que não acreditaria?
NATÁLIA
Você ia dizer que eu tô ficando
doida.

CAROLINA
Vai, deixa de mistério e diz logo
quem é esse sujeito!
As duas ficam se encarando; Carolina espera que Natália
fale.