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2011
1872
Portugal e a Grcia
2011
Em Portugal no h cincia de governar nem h cincia de organizar oposio. Falta igualmente a aptido, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento poltico das naes. A cincia de governar neste pas uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixo, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A poltica uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditrias; ali dominam as ms paixes; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali h a postergao dos princpios e o desprezo dos sentimentos; ali h a abdicao de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores speros; h a tristeza e a misria; dentro h a corrupo, o patrono, o privilgio. A refrega dura; combate-se, atraioa-se, bradase, foge-se, destri-se, corrompe-se. Todos os desperdcios, todas as violncias, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectculos cortesos, vidos de considerao e de dinheiro, insaciveis dos gozos da vaidade.
Ea de Queiroz, in 'Distrito de vora (1867)
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Portugal e a crise
Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente ms: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carcter, nem dinheiro ou crdito. Hoje crdito no temos, dinheiro tambm no - pelo menos o Estado no tem: - e homens no os h, ou os raros que h so postos na sombra pela poltica. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.
Ea de Queirs, in Correspondncia (1891)
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Diz-se geralmente que, em Portugal, o pblico tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a concluso que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independncia. A nossa pobreza relativa atribuda a este hbito poltico e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mos e os olhos para ele como para uma Providncia sempre presente.
In Citaes e Pensamentos de Ea de Queirs.
Jos Maria de Ea de Queirs Povoa de Varzim - 25 de Novembro de 1845 Paris - 16 de Agosto de 1900
Setembro 2011
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