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VERNOR VINGE

Destino pós-humano
O matemático e escritor de ficção científica Vernor Vinge aposta que o avanço tecnológico vai
pôr fim à vida como a conhecemos
RUTH HELENA BELLINGHINI
Profetas do apocalipse não faltam no planeta. E os há de todos os tipos. Os
religiosos, sobretudo americanos, que aguardam para os próximos anos o
fim deste mundo e o advento do Reino dos Céus. Há os que prevêem
mudanças radicais no clima, capazes de destruir os habitats de várias
espécies. Há quem preveja uma crise dramática de escassez de água. Mas,
diferentes de todos esses, há pessoas como o matemático Vernor Vinge, de
60 anos, escritor de ficção científica e ganhador de quatro Hugo Awards, o
Oscar do gênero. Ele enveredou por essa área da Literatura inspirado por
seus ídolos, Arthur C. Clarke, Robert Heilein e Isaac Asimov. Sua fama
surgiu com a publicação, em 1981, de True Names, na qual descrevia redes
de computadores e os efeitos da internet - que na época nem sequer existia -
sobre a vida das pessoas. O primeiro prêmio veio em 1992 com a obra A
Fire Upon the Deep, em que descreve uma galáxia dividida em zonas de
pensamento. Quanto mais distante do centro, mais elevado seria o nível de
tecnologia nessas paragens. A Terra, na descrição de Vinge, ocuparia a zona
lenta, onde estão os incapazes de superar a velocidade da luz. Há 30 anos, o
então professor de Ciência da Computação da San Diego State University
(ele se aposentou em 2002) desenvolveu a idéia de que o avanço
tecnológico na área de informática vai pôr fim à vida como a conhecemos.
Nos últimos anos, ele tem se dedicado a burilar e explicar esse conceito.
Quem acha que se trata de delírio de cientista maluco precisa saber que
Vinge dá consultoria para grandes empresas e suas palestras são
concorridíssimas. A seguir, um pouco de suas idéias.

VERNOR VINGE
Ross Johnson/ÉPOCA
Formação
Professor aposentado de Ciência da
Computação da San Diego State
University

Trajetória
Escritor de ficção científica, ganhou
quatro Hugo Awards, o Oscar do
gênero

Vida pessoal
Foi casado com a escritora de ficção Joam de Vinge
ÉPOCA - Como o senhor explica seu conceito de singularidade
tecnológica?
Vernor Vinge - Acredito que entre 2005 e 2030 vamos conseguir criar um
supercomputador muito mais inteligente do que nós. E a partir desse
momento o mundo não será mais nosso. As máquinas terão consciência
própria e capacidade de criar outras máquinas ainda mais inteligentes e
criativas, e assim por diante.

ÉPOCA - Por que chamou isso de singularidade?


Vinge - É uma referência à Física. Singularidade para os físicos é um
universo no qual as leis naturais que conhecemos não valem mais, e nem
sequer somos capazes de imaginar esse outro universo (a palavra
'singularidade' costuma ser usada para se referir à situação do cosmos no
momento imediatamente anterior ao big bang). Após a criação do
supercomputador, nosso mundo vai mudar de tal forma que hoje somos
incapazes de conceber. Daí a expressão singularidade tecnológica. É um
mundo impenetrável para nós, para nossas mentes de hoje, acostumadas
com o mundo no qual fomos criados.

ÉPOCA - Vamos desaparecer da face da Terra ou seremos escravizados


pelas máquinas, como mostram alguns filmes de ficção científica?
Vinge - Não temos como saber. Por mais úteis que sejam, os computadores
que usamos hoje são estúpidos, bastante simples se comparados a nossa
capacidade intelectual. Somos bem melhores. As máquinas que antevejo
serão absolutamente fantásticas. Se pudéssemos trazer de volta a nosso
tempo um gênio como Benjamin Franklin, levaríamos mais ou menos um
dia para explicar a ele as mudanças que ocorreram desde seu tempo. Agora,
imagine fazer o mesmo com um peixinho dourado. Seremos o peixinho
dourado após a singularidade. Qual foi a última invenção que seu cachorro
ou gato fez? Pois é, nossas invenções e idéias vão parecer assim para esses
supercomputadores.

ÉPOCA - Estamos vivendo novamente um período de medo de fim do mundo, com


religiosos anunciando o apocalipse, o temor de grandes mudanças causadas pelo
aquecimento global e por inovações como os transgênicos e a nanotecnologia?
Vinge - O século XXI é um século perigoso. Convivemos com os efeitos do aquecimento
global, com o risco de esgotamento de recursos naturais, com novas pragas e doenças que se
disseminam rapidamente. O sentimento de medo do fim do mundo não é novo - passamos os
anos 60 e 70 com medo da hecatombe nuclear. Mas a sensação de medo se intensificou
porque a tecnologia avança mais depressa e está muito presente em nossa vida.

ÉPOCA - De onde vêm suas idéias, da Matemática ou da ficção científica?


Vinge - Tento manter a ficção separada da Matemática. Minha idéia sobre a singularidade
tecnológica é especulação, mas não é ficção - que é o que faço para ganhar dinheiro (risos).
Tento ser o mais fiel possível ao que sabemos hoje em termos de tecnologia.

ÉPOCA - Como o senhor começou a enveredar para a ficção?


Vinge - Sempre me interessei por Ciência e pelo que ela poderia fazer. Para isso, a
Matemática é fundamental. Ao mesmo tempo, sempre fui fascinado pelas revoluções
tecnológicas e pelo impacto que produzem na sociedade. Esse é o terreno da ficção científica.
Na verdade, a ficção científica foi a primeira área afetada por minhas idéias. Hoje boa parte
dos livros trata da singularidade, se ela ocorre ou não, da impossibilidade de antever o futuro
que se segue a ela.

ÉPOCA - Quais são os sinais de que esse momento estaria se aproximando?


Vinge - Essa singularidade pode ocorrer ou não. Se houver um interesse menor por inovações
na área de computação, ela terá menos chances de ocorrer. Nada aqui é inevitável. Mas o
sucesso cada vez maior das conexões sem fio é um sinal de sua aproximação. Outro é o
desenvolvimento de softwares de computador capazes de se autoprogramar. No mundo da
computação, algumas atividades estão ficando obsoletas e a programação é uma delas.
Veremos também o crescimento do número de CPUs trabalhando em rede.

ÉPOCA - Qual é o futuro dos robôs no cenário que o senhor imagina?


Vinge - Eles ficarão cada vez mais perfeitos e nós teremos dificuldades para diferenciar o ser
vivo da máquina. Temos hoje bonecas-robôs, cães-robôs e gatos-robôs, mas nenhum deles é
capaz de nos enganar; sabemos que são máquinas. Mas vai chegar o dia em que ficaremos em
dúvida de tão perfeitos que serão. O aparecimento, por exemplo, de um robô doméstico capaz
de limpar um banheiro com perfeição pode ser o sonho das donas de casa, mas também pode
apontar para a proximidade da singularidade. São avanços graduais todos eles. Tomados
individualmente não têm muita importância, mas somados indicam um potencial cada vez
maior.

ÉPOCA - A simbiose entre o homem e as máquinas seria outro indicador?


Vinge - Sem dúvida. Hoje você não consegue viver sem seu computador, uma máquina que
aumenta sua capacidade mental, que permite a você ter todo tipo de informação à mão numa
fração de segundo. Você também não vive sem celular, que oferece acesso à internet onde
quer que você esteja. Temos os palms também. Cada vez
mais a tendência é de desenvolvimento de equipamentos que Katsumi Kasahara/AP
acompanhem as pessoas o tempo todo, criando uma espécie
de simbiose.

ÉPOCA - O filósofo americano Francis Fukuyama,


aquele que ficou famoso há alguns anos pregando o 'fim
da História', afirma que esse ponto de virada, em que
nossa espécie passará por transformações radicais, virá da
Biologia Molecular e da manipulação do DNA. O que o
senhor acha disso?
Vinge - Não creio. A Biologia vai mudar muita coisa em
nossa vida, nos dará diagnósticos mais precisos, drogas mais ''A vida pode ser insuportável
seguras, exames preditivos confiáveis. Vai até mesmo em meio a máquinas geniais.
permitir que nossa memória seja preservada a despeito da Podemos ser extintos ou
idade. Mas nada disso será radicalmente significativo. Até mantidos para executar tarefas
porque grandes revoluções na Biologia dependem hoje de banais''
ferramentas de computação cada vez mais sofisticadas. O supercomputador consciente da
própria existência e de sua capacidade virá primeiro.

ÉPOCA - E quanto tempo após a criação desse supercomputador seria necessário para que
se criasse essa singularidade?
Vinge - Nós nos tornaríamos obsoletos umas cem horas após o aparecimento desse
computador consciente. O que aconteceria conosco é impossível prever. A vida pode se tornar
insuportável para nós em meio a esses computadores geniais que vão transformar o mundo
segundo sua vontade e necessidade. Para eles, nossas criações seriam irrelevantes e inúteis.
Pode ser que sejamos extintos. Pode ser também que alguns de nós sejam mantidos para
executar algumas tarefas. Tudo pode acontecer.

ÉPOCA - Seres humanos são guiados por necessidades físicas claras - sexo, alimento e
descanso. É claro que esses não seriam os mesmos imperativos de máquinas. O que o faz
pensar que elas nos levariam à extinção?
Vinge - Elas também podem nos manter como animais de estimação. Particularmente, acho
que a convivência com essas superinteligências seria mais fácil do que a convivência com
outros seres humanos. Sucesso para nossa espécie é uma coisa sangrenta, obtida com esforço
e luta, derramamento de sangue, guerras, conquistas. Máquinas não seriam tão intensas e
passionais.

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