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Autoria de Gustavo Durden

10 de fevereiro de 2005
Há certos brasileiros indignos que depois de sua morte retornam todo o ano para nos perturbar. Sim, falo de Ayrton
Senna, Cazuza, Betinho e outros jecas dos quais não devemos nos orgulhar, muito menos tratar como heróis.

Paulo Francis, um brasileiro não praticante, é pouco lembrado. Isso é,


de certa forma, uma homenagem. Ser recordado pelos mesmos
ignaros que adoram celebridades vazias não é para ele.Ninguém é
obrigado a concordar com suas idéias. É um dos poucos brasileiros que
marcava sua posição sem anestesiar o leitor: um antídoto à
mediocridade jornalística. Fazia o ledor pensar e, talvez, não seguir o
caminho dócil da bovinidade. Disso ninguém pode discordar. Por isso
ele faz falta.

Francis já foi um revolucionário. Morreu um conservador. “Passei de


criança a adulto. Eu era uma criança que confundia desejo com
realidade. Eu tinha certos desejos que eram fraternais com relação à
minha situação privilegiada e à situação desprivilegiada de outras
pessoas. Mas descobri, ao ver o mundo aí fora, que a maneira de
resolver esses problemas não é a maneira pregada pelos principais grupos populares aqui do Brasil.” Nas palavras do
próprio, a constatação de que revolução é coisa para crianças.

Defensor ácido da desestatização do país, morreu lutando contra um processo que a Petrossauro movia na justiça
americana exigindo-lhe US$ 100 milhões em indenização por conta de ataques que fizera à diretoria da empresa.
Amigos apontam isso como um fator decisivo na sua morte um tanto quanto prematura. O fato é que Francis cumpria
esse papel quase sozinho e sofreu realmente com isso. Foi dos poucos a atacar Fernando Henrique e, se ainda estivesse
vivo, seria certamente o principal nome anti-Lula. Deixou esse legado a Diogo Mainardi, muitas vezes apontado como
uma cópia sua.

Era uma pessoa que gostava dos prazeres da vida, e dela gozava com estilo próprio. Numa churrascaria em Ipanema,
um garçom chega à mesa e, cordial, apóia a mão no ombro de Francis. "O amigo que é que vai, querer?" E ele, na sua
melhor forma: "Em primeiro lugar, eu não sou seu amigo. E em segundo lugar, tire essa mão imunda daí”. Perguntado
sobre seu restaurante preferido em uma entrevista, respondeu: “Não vou dizer, pois vai encher de brasileiro”.

Chegou a ter a maior fama e o mais alto salário na imprensa nacional. Ninguém soube administrar melhor o próprio
talento jornalístico. Ocupou a cadeira “polêmica” do melhor programa da TV a cabo brasileira, Manhattan Connection,
onde sempre distribuía seus pontapés e dava a última palavra, mesmo com três colegas tentando domá-lo. Suas
manifestações contra negros, nordestinos, pobres e o valor que dava a civilidade do primeiro mundo deixavam os
politicamente corretos escandalizados.

De si mesmo, ao despedir-se por escrito em 1976 dos leitores do Pasquim, disse: "O motivo não é briga, pressão, etc,
embora eu (Deus) saiba que há muita coisa aqui que não gosto”.

Luiz Fernando Mercadante escreveu, em 1987: "Um jornalista que chamava Henry Kissinger de "cabeça de toicinho" não
veio ao mundo para agradar". Nem para ser coerente. Escreveu, nos anos 70, elogiando Caetano Veloso, que estava no
exílio: "Só acredito em iconoclastas que saibam construir estátuas, e Caetano sabe". Desde então, só falou mal, muito
mal, do compositor baiano e de quase todos os escritores, jornalistas, artistas e diretores de cinema brasileiros ou
não, compositores, intelectuais atuantes em diversas áreas, políticos em geral, burocratas, direitistas e esquerdistas,
lobistas econômicos ou representantes de minorias étnicas ou sexuais.

Suas opiniões singulares começaram a aparecer na imprensa em 1957, quando se tornou crítico de teatro da Revista da
Semana, do Diário Carioca e da Última Hora – todas publicações do Rio – e participou da criação da revista Senhor. "Em
1960, era um panfletário político na Última Hora", contava.

Paulo Francis, ou melhor, Franz Paul Heilborn, nasceu no dia 2 de setembro de 1930, em Botafogo, zona sul do Rio. Ano
da revolução getulista. "Não notei" - nasceu e não percebeu que fora no ano da revolução, um exemplo de seu jeito
peculiar.

Aos 14, resolveu que seria escritor. Leu seis horas por dia até os 27 anos. Ainda na adolescência, quis ser padre. Em
seguida fez teatro. Começou como coadjuvante, nos anos 50, com Paschoal Carlos Magno, que lhe deu o pseudônimo
de Paulo Francis. Foi ator-revelação em 1952. Dirigiu seis espetáculos, mas optou pela crítica.

Entre 1968 e 1970, ainda de acordo com Moraes Neto, foi preso uma vez por semestre - o que escrevia era considerado
subversivo. Em 1970, mudou-se para os Estados Unidos. Antes, escreveu para os jornais Correio da Manhã e Tribuna da
Imprensa, para a revista Realidade e o semanário O Pasquim.

Francis via no Brasil três polemistas profissionais: ele mesmo, Carlos Lacerda e Hélio Fernandes (proprietário da
Tribuna de Imprensa, no Rio). "Não tenho papas na língua", reiterava. E comprou brigas por isso. Como aconteceu em
1992, quando chamou o Nordeste de "região desgraçada" e os nordestinos de "jecas", incapazes de saber qualquer coisa
por viverem "ainda no século 16".

Francis nos deixou em 4 de fevereiro de 1997. Abaixo algumas opiniões colhidas nesse dia:
"Francis era uma pessoa forte, capaz de expressar opiniões sem medo, às vezes até exageradamente; mas era um
homem a quem qualquer pessoa razoavelmente alfabetizada não poderia ficar indiferente." Millôr Fernandes –
cartunista.

"Foi imensa a perda; nem sempre estivemos juntos nas opiniões, mas sempre Paulo Francis, para mim, significou a
coragem e a integridade de um grande jornalista." Fernando Henrique Cardoso - presidente da República na época.

"Francis era muito meu amigo. Em um país de gente conformista como o Brasil, fará uma falta enorme. Cumpria
sozinho o papel de ir em direção contrária ao jornalismo subserviente com o poder." Diogo Mainardi – escritor e
colunista da Veja.

Por ele mesmo:

“É preciso escrever sobre os problemas urbanos, reais, que as pessoas têm no Brasil. Chega de índio e de vaca. Quem é
esse Chico Mendes? Não tenho a menor idéia de quem seja. Nosso mundo é Rio e São Paulo”.

“Tomei todas as drogas, nunca me viciei em nenhuma e todas me deram o maior barato. Nunca senti vontade de
atrelar minha vida a uma substância, por falsa euforia”.

“Sei que é meio chocante que eu vou dizer, mas eu prefiro a solidão dos livros ao contato com as pessoas. As relações
humanas são sempre complicadas, não importa se com homens ou com mulheres. Eu sou um homem muito tímido”.

“A função de universidades é criar elites, e não dar diplomas a pés-rapados”.

“O Brasil é uma republiqueta dirigida por um jeca. Riem de nós na Europa e aqui”.

“Esperar que o governo se policie é o mesmo que colocar uma raposa para proteger um galinheiro”.

Aniversário de oito anos sem Francis. Se fossemos um país decente, lembraríamos dele. Fica aqui a lembrança do site
Capitólio a uma das figuras mais influentes para nós. Francis faz muita falta.

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