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1 Por Que os Homens Lutam

Por Heitor Freire de Abreu


Novembro de 2004
Por Que os Homens Lutam?
Heitor Freire de Abreu
E diga-me, aquele que o souber, por que estas guardas estritas e rigorosas cansam todas as noites os súditos
deste reino? E por que durante o dia se fundem tantos canhões de bronze?E por que se compra no estrangeiro
tantos equipamentos de guerra? Por que todos esses alistamentos de condutores navais, cujo penoso labor
não distingue o domingo do resto da semana? Quem poderá informar-me?
Trecho de Hamlet, de William Shakespeare

1.QUESTIONAMENTOS IMPERTINENTES
Por que os homens lutam? A resposta a esta pergunta desafiou - e desafia - ao longo
de séculos, inúmeros pesquisadores. Diversos estudiosos, nas mais variadas áreas do
conhecimento humano, produziram teses, teorias, modelos, proposições e conclusões sobre
o tema. Qual a razão que leva seres humanos, cada vez mais sofisticados intelectualmente
– pelo menos assim nos julgamos – a arquitetar, a planejar e a conduzir a guerra? Quais os
motivos conscientes e inconscientes que fazem o homem a aceitar o uso legal da violência
contra seus semelhantes?
As respostas são variadas. Contudo, uma coisa é certa: o homem lutou desde a sua
gênese contra outros de sua espécie, ainda luta e, talvez, continuará lutando. Alguns dizem
que a guerra não é da natureza humana, que se trata tão somente de uma aberração
comportamental, uma exceção à índole pacifista, um desequilíbrio em um determinado
momentum da História.
Porém, quando se verifica que o homem esteve muito mais tempo em guerra do que
em paz - somente como exemplo, entre 1740 e 1974 existiram 234 anos de intervalo, com
366 grandes conflitos de importância1 - surge o questionamento óbvio: a guerra é uma
exceção no comportamento humano ou é a sua regra? Seria a paz um curto período de
reordenamento social preparativo para a próxima guerra? Será que a paz é uma utopia ou a
própria negação do instinto humano arraigado na luta pelo poder, levando-o,
inexoravelmente, à guerra?
As respostas conclusivas, se é que existem, irão variar desde as que condenam a
guerra como a mais vilipendiosa face do comportamento humano; até aquelas que, de forma
resignada ou baseada em argumentos científicos, aceitam a guerra como uma face
percuciente da natureza humana. O diferencial de cada posicionamento – a favor ou contra -
estará ancorado em razões complexas que envolvem a religiosidade, a formação
humanística, a experiência de vida, a camada sócio-econômica, a formação profissional e
muitas outras condicionantes que ao serem misturadas no cadinho das idiossincrasias

1
Dados retirados de BOUTHOUL, Gaston, CARRERE, René. O Desafio da Guerra: dois Séculos de Guerra – 1740-1974.
Rio de Janeiro: Bibliex, 1979. p. 18. passim
2 Por Que os Homens Lutam
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humanas, levam parte dos homens a enxergarem a guerra como aberração e parte a verem-
na como um espectro natural do comportamento humano.
Para citar apenas um autor que considera a guerra uma anormalidade, utiliza-se de
Marc Sautet, filósofo francês contemporâneo, que escreve:
... o que está no cerne do progresso dos últimos séculos não é a postura predatória, mas o
comércio; ora, o comércio repousa, exatamente, no oposto da violência: comerciar é trocar
mercadorias equivalentes, quer sob a forma do escambo, quer por intermédio da moeda, em
particular do ouro. Isso pressupõe que não se cometa nenhuma violência contra o outro.
Continuando, ele afirma: Pois é isso mesmo que está em jogo: não se deixe tapear! Se os
limites do sistema dominante é que são culpados pela violência, não se deve fazer da
violência o verdadeiro motor da história humana e, por isso mesmo, uma fatalidade.2

Dentro desse contexto, o presente artigo exporá algumas idéias sobre o assunto,
buscando argumentos nos mais variados campos do conhecimento a fim de propor algumas
respostas possíveis para a indagação Por Que os Homens Lutam?. É importante ressaltar
que não há intenção de se buscar o reducionismo de Tales para se chegar a uma resposta
definitiva. Sabe-se que isto é impossível em face da complexidade do assunto. Buscar-se-á
tão somente iluminar, com uma nesga de luz, problemática tão estimulante.

2. EM BUSCA DE UMA RESPOSTA


Na troca de correspondências entre Einstein e Freud sobre a Guerra3, na década de
30 do século XX, pode-se ver dois profissionais de áreas tão distintas, preocupando-se com
o assunto e buscando respostas à luz de argumentação científica. Einstein inicia sua missiva
com interessante questionamento sobre os homens poderosos de sua época que
dominavam a política e a economia, adubando a eclosão de guerras. Ele pergunta:

Como é possível a essa pequena súcia dobrar a vontade da maioria, que se resigna a
perder e a sofrer com uma situação de guerra, a serviço da ambição de poucos? (Ao falar
em maioria, não excluo os soldados, de todas as graduações, que escolheram a guerra
como profissão, na crença de que estejam servindo à defesa dos mais altos interesses de
sua raça e de que o ataque seja, muitas vezes, o melhor meio de defesa).

Em seguida, Einstein responde a própria pergunta, dizendo: Parece que uma resposta
óbvia a essa pergunta seria que a minoria, a classe dominante atual, possui as escolas, a
imprensa e, geralmente, também a Igreja, sob seu poderio. Isto possibilita organizar e
dominar as emoções das massas e torná-las instrumentos da mesma minoria.

2
SAUTET, Marc. Um Café para Sócrates. Como a filosofia pode ajudar a compreender o mundo hoje. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998. p. 22.
3
Carta de Einstein a Freud e resposta de Freud a Einstein. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, Vol XXII (1932-1936). Ed Imago, 1969. p. 243.
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Na resposta a Einstein, o psicanalista trata de variados aspectos da guerra,
abordando a sua História, o seu sentido econômico, jurídico e tantos outros, demonstrando
que é um assunto que exige abordagem interdisciplinar para se chegar próximo a uma
resposta razoável. Tais discussões lançariam importantes bases para o desenvolvimento da
Polemologia4. É interessante notar que naquela oportunidade Freud vaticinava o fracasso da
Liga das Nações baseando-se em ampla gama de argumentos científicos e históricos,
inclusive abordando o comunismo versus o capitalismo como um – e apenas um – dos
muitos motivos para justificar que as guerras não seriam banidas no futuro próximo.
Ao se buscar luzes sobre o assunto, foram encontrados diversos autores nas mais
variadas formas do saber. Tendo em vista o espaço reduzido que este artigo dispõe,
buscou-se uma a abordagem objetiva, elegendo uma teoria principal, sem deixar de citar
outras quando necessário.

a. Conceitos básicos
Para não haver dúvidas das premissas deste artigo, é necessário definir os conceitos
nele utilizados. Assim, a guerra é o enfrentamento entre dois grupos organizados,
geralmente países, que buscam, por intermédio da força militar e da violência legal e
consentida, atingir objetivos de Estado.
A guerra pode ser caracterizada de acordo como o mais espetacular dos fenômenos
sociais humanos. Além disso, é um ato de violência, um fenômeno social em que todas as
expressões do poder participam, modificando valores e relações de poder, muitas vezes de
forma maniqueísta.
Faz-se necessário, ainda, lembrar que em face da polêmica que o assunto impõe, há
dois caminhos fundamentais para se entender a guerra como fenômeno social: a teoria
determinista5 e a teoria evolucionista6.

b. No que tange ao aspecto filosófico


A Filosofia, como ciência do ser, dos princípios e das causas, também se interessou pela
Guerra. O filósofo Michel Foucault, no seu livro “Em Defesa da Sociedade”, que condensou
suas aulas no Collège de France, entre 1975 e 1976, abordou o assunto. Falou sobre a
guerra e o poder, sobre a guerra como analisador das relações de poder e a inversão do
aforismo de Clausewitz7, dentre outros.

4
Ciência que estuda a Guerra. Difere da História Militar, pois busca o enfoque interdisciplinar.
5
Para os deterministas, a paz perpétua não é possível e não faz sentido.
6
Para os evolucionistas, a paz perpétua pode ser atingida ao longo do tempo.
7
“A guerra é a continuação da política por outros meios”, segundo Clausewitz.
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Utilizando-se da obra “Leviatã”, de Thomas Hobbes, Foucault toma como uma das
premissas para a existência de guerras a falta de diferenciações naturais marcantes entre o
forte e o fraco, que eliminassem totalmente a possibilidade de guerra. Segundo ele, a não-
diferenciação natural cria incertezas, riscos, acasos e, por conseguinte, a vontade, de ambas
as partes, de enfrentar-se; seria o aleatório na relação primitiva das forças que cria esse
estado de guerra. Esse enfrentamento, é bom que se ressalte, busca sempre o poder.
Nesse sentido, Foucault inverte o aforismo de Clausewitz, e afirma que A política é a
guerra continuada por outros meios. Com este jogo de palavras, ele tenta provar que a
guerra é um estado permanente do ser humano, mesmo nos tempos de paz, pois o poder
político estaria realimentando constantemente, por intermédio de sua “guerra silenciosa”,
das lutas políticas, da busca pelo poder, do enfrentamento diário em votações eivadas de
caminhos tortuosos que deixam cicatrizes e frustrações, o retorno da guerra bélica, com o
uso de outras armas (fuzis, canhões etc), já que as armas da luta pelo poder em tempo de
paz seriam diferentes (pressão, opressão, fisiologismo etc).
Ainda seguindo a abordagem de Foucault, ele diz que A decisão final só pode vir da
guerra, ou seja, de uma prova de força em que as armas, finalmente, deverão ser juízes. O
fim do político seria a derradeira batalha, isto é, a derradeira batalha suspenderia afinal, e
afinal somente, o exercício do poder como guerra continuada8.
De forma sintética, para Foucault, a guerra é o princípio motor do exercício político,
embora a maioria dos políticos sequer saiba que estão fazendo isso. As relações de poder,
com suas idiossincrasias, podem levar um país, em algum momento, à guerra.
Realmente, observando-se a Constituição brasileira, verificar-se-á que existem inúmeros
dispositivos com a finalidade de se evitar pontos de tensão dentro e fora do País. Contudo,
conclui-se que tais tentativas não serão suficientes – na verdade, muitas vezes serão
desnecessárias e inócuas – e podem estimular e conduzir, em maior ou menor grau, a
conflitos diplomáticos ou, até mesmo, em situações extremas, a guerra.
Somente como exemplo, utilizar-se-á o dispositivo constitucional onde diz que o Brasil
abre mão do uso de energia nuclear para fins bélicos. Em tese, bastaria que esse “desejo”
constasse na Carta Magna e estar-se-ia livre de qualquer problema nessa área. Como
explicar, então, a crise com organismos internacionais de energia atômica em função das
centrífugas da fábrica nuclear de Resende? De fato, trava-se uma guerra diplomática e
política que poderá ou não aumentar a área de tensão entre o Brasil e países importantes,
como os EUA.

8
FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 31.
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9
Para sustentar sua linha de pensamento, Foucault se apóia no Biopoder e no
Racismo10. Nesta linha de raciocínio, o filósofo discorre que uma das possíveis causas da
guerra seria a necessidade de os seres humanos de determinadas sociedades de se
purificar e melhorar a sua raça ao travar combates. Ele diz: No entanto, mais ainda, a guerra
– isto é absolutamente novo – vai se mostrar, no final do século XIX, como uma maneira não
simplesmente de fortalecer a própria raça eliminando a raça adversa (conforme os temas da
seleção e da luta pela vida), mas igualmente de regenerar a própria raça. Quanto mais
numerosos forem os que morrem entre nós, mais pura será a raça a que pertencemos.
Do exposto, acredita-se que tenha sido possível lançar algumas idéias no campo
filosófico que possam auxiliar na busca de uma resposta satisfatória sobre a razão que leva
seres humanos a se enfrentarem em batalhas cruentas. De início, pode-se compreender que
a filosofia e os seus questionamentos profundos, bem como as tendências primitivas
arraigadas nos seres humanos, podem colaborar para melhor entendermos as causas da
guerra. O racismo na sua concepção mais ampla, a luta pelo poder e a possibilidade de
vitória em um conflito bélico em larga escala como modificador da relação entre oprimido e
opressor, podem configurar como respostas plausíveis.

c. À luz da psicanálise
A psicanálise, ao estudar os processos mentais inconscientes, é uma boa fonte na
busca de respostas. Ater-se-á ao seu fundador, Sigmund Freud, que no século XIX iniciou a
defesa de suas teorias que atualmente delineiam expressiva parte da psicanálise. No seu
livro “O Mal-Estar na Civilização”11, Freud considera que a felicidade é uma possibilidade
humana, mas ao custo de expressiva redução das satisfações individuais. Ou seja,
controlando a vida instintiva, pode-se atingir um grau satisfatório de felicidade. É por isto que
a vida comum humana (em sociedade), só se torna possível quando o poder ilimitado natural
do indivíduo é substituído livremente pelo poder de uma comunidade, iniciando-se, por
assim dizer, o convívio social.
Por essa linha de raciocínio, a premissa básica de convivência pacífica é a justiça.
Por intermédio dela, sabe-se, em tese, que uma lei é criada pelo grupo civilizado ao seu
favor e para a sua sobrevivência, não cabendo, portanto, descumprida em favor de um
indivíduo. Caso isto venha a ocorrer de maneira sistemática, iniciar-se-iam pontos de tensão

9
Segundo Foucault, trata-se da intromissão da política, a partir de meados do século XVIII, no sentido de controlar
processos de proporção de nascimentos, fecundidade, mortalidade, longevidade, outrora espontâneos e agora controlados
com fins múltiplos.
10
Foucault trata do assunto de maneira ampla, abordando o racismo biológico, social, econômico, de Estado etc.
11
FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
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que poderiam redundar em guerras (internas ou externas). Neste sentido, justifica-se a
existência de penas a fim de coibir a quebra das leis – fundamento de uma sociedade.
O sacrifício interno de algumas necessidades de um indivíduo ou de uma comunidade
(um país, por exemplo) garante a convivência social entre indivíduos e entre nações. A
simples quebra deste sistema, pode levar os homens que compõe uma sociedade a
entrarem em conflito. Todavia, este sacrifício dos instintos individuais tem limites. O excesso
de repressão pode trazer conseqüências maléficas.
Para Freud, a inibição dos instintos primitivos12 é necessária e fundamental para a
convivência em sociedade. Todavia, quando tais instintos, fossem sexuais, fossem de
agressividade, encontram-se num estado de reprimenda além do tolerável, ele se manifesta
sob a forma de violência coletiva, cujo ápice seria a guerra.
Se analisarmos os países com religiosidade acentuada, com valores morais
extremados, com posicionamentos sociais radicais perante aos temas polêmicos e
revestidos de certos tabus, poder-se-á encontrar alguns embasamentos para a tese de
Freud. O que é a histórica agressividade dos EUA – uma sociedade, pelo menos em tese,
ciosa de valores morais estóicos e conservadores - no sentido de defender seus interesses?
Como explicar os atritos suicidas entre palestinos e judeus? Onde encontrar resposta
satisfatória nas guerras insanas em determinadas regiões da África? Pode-se ou não utilizar
Freud para tentar explicar...
Para que não se fique apenas nas perguntas e afirmações genéricas, tome-se um
exemplo atual: a China. Em recente matéria veiculada no jornal O Globo13, pode-se ampliar
a idéia de que a repressão excessiva oculta comportamentos agressivos, podendo, até
mesmo, levar o homem a comportamentos impensáveis. Uma briga entre um rapaz do grupo
étnico hui e outro, da etnia han, desencadeou um tumulto generalizado na pequena cidade
de Lancheggang, no centro da China. Ao final, estima-se o número de mortos entre 42 e 150
pessoas, incluindo 18 policiais. De uma briga entre duas pessoas, surgiu um confronto com
fundos étnicos envolvendo milhares de pessoas em uma pacata cidade. Dentro desta linha,
pode-se perceber que até mesmo jogos de futebol são motivos de preocupação para o
governo chinês. Ou seja: talvez, até mesmo a tradicional “paciência chinesa” tenha limites
quando se impõe mecanismos de repressão tão fortes, que impedem qualquer válvula de
escape ou diálogo na busca de um relacionamento saudável entre governo e sociedade.

12
Freud dizia que os instintos humanos são apenas dois: os eróticos (que tendem a unir e a preservar) e os destrutivos ou
agressivos (que tendem a separar, a matar). Acreditava, ainda, que não se tratava de encará-los de forma maniqueísta, como
bom ou mal. Da confluência de ambos ou do seu enfrentamento, surgiam os fenômenos da vida.
13
SCOFIELD, Giberto. Tensão oculta sob a aparente calma chinesa. O Globo, Rio de Janeiro, 28 nov 2004. p. 59.
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Continuando, Freud também afirma que O elemento de verdade por trás disso tudo,
elemento que as pessoas estão tão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas
gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas;
pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma
poderosa quota de agressividade14.
De maneira parcial, pode-se concluir que para Freud a inibição excessiva de instintos
primários humanos, notadamente os de caráter sexual e de agressividade, poderiam ser
uma resposta possível, embora não a única, à indagação sobre a razão de os homens
lutarem.
O problema reside em equilibrar a repressão consentida – por leis razoáveis – dos
instintos humanos mais primários, para se formar e para se conviver numa sociedade, com a
necessidade inconsciente do ser humano em ter um certo grau de liberação destes mesmos
instintos.

d. Sob o enfoque da História


A História, ao analisar os fatos anteriores, presta importante serviço na investigação de
uma resposta fidedigna à indagação central deste artigo. Por intermédio dela, pode-se
chegar a um conjunto de premissas fundamentais para se entender o fenômeno da guerra,
dando-lhe uma textura palpável e contribuindo para formulação de modelos complexos e
interdisciplinares sobre o assunto. Contudo, é importante levar-se em conta que a História
busca a exatidão dos fatos, a conjuntura que envolveu os eventos históricos, descrevendo-
os, tanto quanto a vaidade e a ideologia do historiador permita, não buscando fórmulas que
conduzam ao estabelecimento de “leis históricas” ou, muito menos, de “dogmas históricos”.
Escolheu-se, no que tange à História, os estudos do historiador inglês John Keegan15.
Segundo ele, é preciso ser muito audacioso para dizer que a guerra está saindo de moda.
Com este pensamento, conduziu seus estudos sobre o tema direcionando-os para a História
Militar.
Sua vasta obra analisa diversos conflitos bélicos, buscando iluminar o assunto,
notadamente sobre as causas de algumas guerras, do espírito guerreiro e de outros
aspectos que envolvem os conflitos bélicos.
Uma importante contribuição de Keegan, fruto de seus estudos de História Militar, foi o
seu cuidado em estudar os povos primitivos e a existência de guerras entre eles, mesmo
isolados da chamada “cultura ocidental”. Tal abordagem, leva a seguinte indagação: Será

14
FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997. p. 45.
15
Historiador militar renomado, professor da Academia Militar de Sandhurst, na Inglaterra.
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que o isolamento e a vida contemplativa, por si só, garantiria paz eterna? Keegan aponta
que não.
Para que se tenha uma argumentação mais contundente de que não basta o isolamento
dos homens em lugares paradisíacos para extirpar o fenômeno da guerra, recorre-se ao
exemplo da Ilha de Páscoa. Localizada a mais de 3.200 quilômetros da América do Sul, no
Pacífico meridional, e a quase 5.000 quilômetros da Nova Zelândia, a Ilha de Páscoa é
considerada um dos lugares mais isolados do mundo. Por conseguinte, pouco influenciada
por quistos belicosos de países mais desenvolvidos.
É de se imaginar que naquele lugar perdido, a guerra jamais iria ter lugar. O seu povo
não conhecia outras terras e vivia daquilo que era extraído da ilha. Porém, lá existiu uma
guerra que praticamente dizimou a população. Dos 7.000 habitantes (número máximo
estimado), foram encontrados apenas 111 pessoas em 1722 pelo viajante holandês
Roggeveen16. Isso tudo se deveu a um estado de guerra impressionante, quando, por
motivos ainda não comprovados, a população dividiu-se em dois grupos e passou a
guerrear. Sinais colhidos posteriormente, denunciam a existência de guerra endêmica e de
canibalismo, bem como a confecção de fortificações rudimentares, tais como túneis, abrigos
individuais e cavernas fechadas com pedras polidas para proteger famílias. Em uma das
extremidades da ilha foi encontrada uma vala cavada para separar uma península com a
finalidade de defesa estratégica.
Outras abordagens, como a dos índios brasileiros, servem de subsídio. A belicosidade de
algumas tribos de índios brasileiros data de antes da chegada dos europeus. Arosca, um
cacique Carijó, da tribo guarani, ao travar contato com os franceses capitaneados por Binot
de Paulmier, resolve, em 1504, enviar seu filho e herdeiro Essomeriq, para a Europa, com a
missão de “aprender a fazer canhões”17, com os quais Arosca queria esmagar seus inimigos
tradicionais, os Tupiniquim do litoral de São Paulo. Isso comprova que os europeus apenas
“incrementaram” a Arte da Guerra indígena, que, diga-se de passagem, já utilizava táticas de
guerrilha, como foi demonstrado na emboscada sofrida pelos infelizes marujos de Vespúcio
quando aportaram no Brasil.
Conclui-se que os pontos de inflexão da raça humana se caracterizam pela presença
marcante, cíclica e indubitável entre guerra e paz. Muitos historiadores supõem que uma
resposta aceitável para a existência de guerras seria a conjunção de inúmeras vertentes
(econômica, política, liderança e ideológica, dentre outras) que por mero acaso ou por
intenção, encontram-se em determinado momento histórico, facilitando ou, até mesmo,
induzindo a guerra.
16
KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo: Companhia das Letras: Bibliex, 1996. p. 43.
17
idem. p.94.
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Os exércitos se prepararam e continuam se preparando para a eventualidade de um
conflito. Diversos fatores que podem deflagrar uma guerra estão intimamente ligados ao
fator econômico e à necessidade de desenvolvimento dos países. Como esse
desenvolvimento implica em tensões com outras nações, tudo leva a crer que a guerra
continuará a acompanhar a humanidade por muitos anos.
Dessa forma, verifica-se que a História, ao analisar e ao investigar as guerras com seus
métodos científicos, responde-nos dizendo que as causa da guerra são múltiplas e
dependem da conjunção de fatores básicos determinantes (economia, influência política,
laços religiosos, quebra de equilíbrios de poder etc).

e. Em função das teorias da Economia


Sem dúvida, a Economia é fator expressivo na deflagração de guerras. Pode-se dizer
que os mais importantes conflitos da humanidade tiveram como causa principal consciente
disputas econômicas.
Alguns países, aparentemente, fogem da regra geral de que a economia é a mola de
propulsão das guerras. A antiga URSS, hoje fragmentada, é um exemplo. Embora a
condicionante ideológica tivesse um papel fundamental, foi a economia da ex-URSS quem
ditou até aonde a ideologia poderia alcançar. A mesma economia que impeliu o comunismo
para boa parte do mundo, foi a que motivou o seu crepúsculo, derrubando o vetor ideológico,
obrigando aquele país a implementar a Glasnost e a Perestroika.
Evidentemente, outros fatores podem fomentar um conflito. A religião, a política e a
necessidade de segurança estratégica regional, dentre outras, como visto na História.
Todavia, elas são dependentes das possibilidades econômicas de um país para empreender
uma luta armada.
Essa teoria encontra eco em Friedrich List, que dizia A guerra, ou a possibilidade
mesma da guerra, torna o estabelecimento de uma capacidade industrial uma exigência
indispensável para uma nação de primeira categoria...18, em franca oposição com a visão de
Adam Smith, que insistia em se manter os investimentos militares em patamares baixos a
fim de que estes não prejudicassem o desenvolvimento do país.
No artigo “Onde o Nome da Religião é Petróleo”, José Arbex Jr tece amplo
comentário sobre a vertente econômica da guerra travada pelos EUA e aliados no
Afeganistão e outras problemáticas no oriente. Entre outras observações, Arbex argumenta
que o que está em jogo, na Tchetchênia, travestido de “conflito religioso”, é a disputa pelo

18
Segundo MACCORMICK, T. China Market: America’s Quest for Informal Empire. Chicago, 1967. Apud KENNEDY,
Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000.Rio de
Janeiro: Campus, 1991. p. 512.
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controle da economia do petróleo. Os cinco países da bacia do Cáspio – Azerbaijão,
Cazaquistão, Irã, Rússia e Turcomenistão – possuem reservas estimadas em 200 bilhões de
barris de petróleo e um volume comparável de gás.19
Como forma de sustentar a teoria de que os campo econômico e militar andam juntos,
em tempos de crise, vale-se de Paul Kennedy: “...a riqueza é geralmente necessária ao
poderio militar, e este por sua vez é geralmente necessário à aquisição e proteção da
riqueza.”20
A teoria macro-econômica “Espadas versus Arados”21 oferece ampla gama de
argumentos que podem auxiliar na obtenção de uma resposta satisfatória. Ela trata da
necessidade em se equilibrar os investimentos em bem-estar e com aqueles destinados à
defesa em um país. O desequilíbrio pode trazer como conseqüência as observações do
quadro abaixo.

Destinação da expansão das possibilidades de produção com o duplo objetivo


de aumentar a SEGURANÇA e o BEM-ESTAR. Os padrões de vida podem
permanecer estacionários. Se forem bem administrados pela política de
governo, equilibram boas condições de aumento progressivo do bem-estar com
a necessária segurança dos padrões de vida atingidos.
Ex: EUA, Reino Unido, França

Destinação da expansão das possibilidades de produção prioritariamente para a


SEGURANÇA. Os padrões de vida podem regredir, tornando o governo
insustentável ao longo dos anos. O paradoxo de uma máquina bélica eficiente,
porém cara e em descompasso com as precárias condições de vida da
população podem levar aos distúrbios internos.
Ex: ex- URSS, Coréia do Norte, China

Destinação da expansão das possibilidades de produção prioritariamente para o


BEM-ESTAR. Os padrões de vida podem aumentar. A inexistência de forças
armadas condizentes com o alto nível de conforto populacional, provocando
cobiça de outros países, pode conduzir a conflitos externos em que o país não
tenha as condições de defender o modo de vida adotado.
Ex: Kuwait, Suíça

Espadas versus Arados – X = bem-estar e Y = segurança

19
JUNIOR, José Arbex. Onde o nome da religião é petróleo. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 set. 2001, p. 9.
20
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a
2000.Rio de Janeiro: Campus, 1991. p. 2.
21
ROSSETI, José Pascoal. Introdução à Economia. São Paulo: Atlas, 1988.
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Hoje, já se pode antever prováveis guerras no futuro por motivos econômicos. A
maioria das reservas de cromo, fundamental na manufatura de turbinas a gás, encontra-se
em países subdesenvolvidos, notadamente na África. O cobalto, também importante para a
indústria farmacêutica e siderúrgica, encontra-se no continente africano. A platina e o
manganês, importantíssimos em processos industriais atuais e do futuro, serão objetos de
intensa procura. Só que ambos têm sua maior incidência na África do Sul, e não nos países
industrializados, que mais os utilizam.
A luta por melhores fontes de energia ou por posicionamento estratégico mais
adequado aos objetivos nacionais podem ser causas de guerra. A cobiça por materiais
estratégicos, como o nióbio22, petróleo e ferro, dentre outros, efetivamente podem provocar
pontos de tensão.
Dentre as várias causas de eclosão de guerras e de conflitos, destaca-se o petróleo
como a mais relevante nos dias de hoje, merecendo análise mais acurada. O chamado ouro
negro, é o suporte da economia mundial na atualidade. A sua demanda aumenta
significativamente a cada ano e, no curto prazo, não há perspectiva de que este quadro
mude radicalmente, diminuindo o seu consumo.
Segundo estudiosos do assunto, ainda falta algum tempo para que o mundo fique
sem petróleo e tenha que optar por uma nova fonte de energia que atenda às necessidades
que esta fonte energética vem dando conta desde que o “homem de hidrocarboneto” passou
a existir23.
A produção mundial de petróleo gira em torno dos 80 milhões de barris diários24 e não
dá mostras de parar com esta curva ascendente. O quadro prospectivo diz que ela ainda
tem fôlego para continuar subindo, mas deverá se estabilizar e diminuir paulatinamente, já
que se trata de uma fonte de energia não-renovável. Quando esta tendência de declínio
começar a se tornar visível25, as tensões irão aumentar e os conflitos pela posse das
principais reservas mundiais poderão se tornar insustentáveis, provocando guerras
localizadas, envolvendo países importantes no cenário internacional, como os EUA, a China
e a Rússia, dentre outros, ainda extremamente dependentes desse combustível fóssil.
Ainda é cedo para se afirmar categoricamente que os EUA invadiram o Iraque com a
finalidade de controlar as reservas de petróleo daquele país. Todavia, uma coisa é certa: o

22
O Brasil possui cerca de 90% das reservas mundiais. Este metal se presta á indústria siderúrgica e ao fabrico de engenhos
que exigem alta tecnologia (foguetes, satélites etc).
23
Segundo Daniel Yergin em seu estudo O Petróleo: uma História de Ganância, Dinheiro e Poder (São Paulo, Scritta,
1992), Op. Cit. em APPENZELLER, Tim. O Fim do Petróleo Barato. National Geographic, São Paulo, Editora Abril, ano
5 , nº 50, junho 2004, pg 122.
24
Dados do 1o semestre de 2004.
25
Para David Greene, do laboratório Nacional de Oak Ridge, o pico da produção mundial será em 2040, quando ocorrerá o
início da precipitação da produção por pura falta de poços. Já para o pesquisador Colin Campbell, mais pessimista, os picos
de produção mundial ocorrerão em 2016, e fora do Oriente Médio, em 2006.
12 Por Que os Homens Lutam
Por Heitor Freire de Abreu
Novembro de 2004
mundo precisa do petróleo produzido no Oriente Médio, em particular os EUA. É sempre
bom lembrar que desde que a humanidade assumiu o petróleo como “mola propulsora” do
desenvolvimento econômico, muitas guerras foram travadas tendo o ouro negro como uma
das causas.
Resumidamente, a expressão econômica pode ser uma fonte importante na busca de
respostas sobre os motivos que podem levar os homens às guerras, embora não seja a
única. O próprio Paul Kennedy26 alerta para algumas poucas exceções, referindo-se ao
posicionamento geográfico, a organização militar, a moral nacional, ao sistema de alianças e
outros. Porém, será a expressão econômica que dirá se pode ou não haver a guerra e, se
esta for declarada, qual será a sua amplitude.

3. TENTANDO ENCONTRAR UMA RESPOSTA


A guerra é um traço de personalidade do ser humano que remonta ao seu estado
mais selvagem, mas que lhe possibilitou sobreviver até hoje. Trata-se de uma ferramenta
extrema de defesa de princípios e de práticas morais, culturais e econômicas de uma
sociedade. Contudo, ninguém em seu juízo perfeito pode afirmar que gosta da guerra.
Em síntese, pode-se afirmar que não existe uma resposta única que possa explicar a
tendência humana em manter-se, na maior parte da suas existência, envolvida em conflitos
bélicos. Seria temerário lançar uma resposta monocasual para o assunto. Muitas são as
condicionantes.
A filosofia parece explicar que a guerra, por acompanhar os seres humanos desde
priscas eras, é causada, inconsciente e conscientemente, pela inexistência da “não-
diferenciação” entre o fraco e o forte, a ponto de impedir qualquer pensamento ou tentativa
de pacificação, sendo a guerra uma possibilidade permanente. Seria a eterna luta do homem
contra a subjugação por outro, por vias políticas, econômicas ou bélicas. Diz, ainda, que as
guerras poderiam purificam a espécie, na medida em que somente os mais fortes (física e
intelectualmente) sobrevivem às guerras.
A psicanálise, estudando objetivamente o inconsciente, nos responde afirmando que
o homem é agressivo por natureza. Por conseguinte, a guerra é um instinto primitivo que é
extravasado quando o homem ou uma determinada sociedade o reprime a um ponto
insustentável, gerando o conflito como fonte de expiação a essa frustração.
A História, ao esmiuçar conscientemente suas condicionantes, suas causas e suas
conseqüências, responde à indagação inicial dizendo que as causas das guerras podem ser

26
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a
2000.Rio de Janeiro: Campus, 1991.
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encontradas em várias vertentes. Estas, mescladas, de forma intencional ou não, geram os
motivos para uma agressão entre nações. Mostra, ainda, que o simples isolamento de
grupos humanos de qualquer cultura belicista não garante a inibição da inclinação para a
guerra.
Finalmente, a Economia mostra sua resposta de modo pragmático por intermédio da
busca permanente do homem em garantir suas necessidades básicas (energia, água,
alimentos etc), pois o ser humano chegou ao século XXI em função desta luta secular por
substâncias inerentes à vida. Como esta busca gera guerras, o homem estará condenado,
inexoravelmente, a promover batalhas baseadas na economia.
Como se pôde depreender, as respostas para a pergunta que deu origem ao título
deste artigo é uma mescla de condicionantes inconscientes e conscientes. Eles não se
excluem. Ao contrário, se complementam e mostram como são complexas as causas de o
homem matar o seu semelhante.
A resposta, como se vê, depende das circunstâncias de cada guerra e, mesmo, de
convicções do estudioso. Não é concebível, porém, que profissionais das armas
desconheçam nuances e teorias mais elaboradas que tentam, freneticamente, explicar a
causa que leva os militares, no plano individual e coletivo, a doar suas vidas e a de outros
num fenômeno social cuja conseqüência final é a morte. Tratar, ler e discutir este assunto
não é aquisição de verniz cultural; mas de se saber porque se prepara e porque se morre
numa guerra.
Enquanto não existirem instrumentos ou fatos que afastem os conflitos bélicos da face
da Terra, todos os países têm o dever de preparar-se para ela. Não se propugna uma
corrida armamentista, o incremento de um idealismo bélico ou de qualquer outro termo que
denote uma visão belicosa. A guerra é um fato na sociedade humana – se é normal ou não,
é outro problema - assim como as quedas dos impérios, os grandes êxodos humanos, enfim,
ela é uma possibilidade mais ou menos remota – depende de inúmeros fatores – para um
país.
Em face disso, estar preparado para ela, é uma obrigação do Estado e não uma
decisão pessoal ou ideológica de um governante. A sobrevivência de uma Nação, incluindo
aí sua cultura, povo, idéias, crenças e aspirações, pode, um dia, ser garantida unicamente
manu militari. Se esta falhar, o preço pode ser até mesmo a eliminação do Estado do cenário
internacional.
As razões pelas quais os homens lutam, sejam conscientes ou não, parecem ser
perenes. A procura por alimentos, energia, água e outras necessidades básicas, aliadas ao
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Por Heitor Freire de Abreu
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desequilíbrio de seus imperativos primitivos sexuais e agressivos, sugerem ser causas
fundamentais das guerras.
A resposta para o questionamento que norteou este artigo, conduz a outras
perguntas. Seria despropositado afirmar que para a humanidade matar e morrer em guerras
é garantir a sua sobrevivência no futuro, na medida em que a guerra, paradoxalmente,
poderia fortalecer as sociedades, eliminando aquelas menos aptas? Seria absurdo dizer que
um mundo totalmente pacífico levaria ao fim paulatino da humanidade, que seria envolvida
em uma espécie de “depressão coletiva”, sem eros e sem agressividade, onde a frustração,
agindo como “motor” do desenvolvimento humano, deixaria de existir, conduzindo a um
processo de “suicídio” da sociedade, em função da falta de desafios que a movessem para
frente? Afinal, a maior parte dos inventos tecnológicos que possibilitaram ao homem dominar
a natureza, a sobreviver e a elevar o seu nível de bem-estar foram desenvolvidos em função
das guerras.
Como conclusão, e à guisa de reflexão, deixam-se as palavras de Castello Branco:

“...A guerra é um empreendimento muito difícil e brutal. Por isso, vemos os homens
como eles são, e não como desejam ser. Aparecem como numa radiografia. Os homens,
então, mostram sentimentos inigualáveis, inclusive o desprendimento e o sacrifício da vida.
Mas outros ficam verdadeiramente em trajes menores: abaixam-se, desfalecem,
precipitam-se, ou se tornam inúteis. Ah! Os homens...como eu os conheço. Quanta
qualidade, quanta fraqueza!...”27

Fim

______________________________________________________
O autor é Major de Cavalaria do Exército Brasileiro, doutorando em
Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, com ênfase em Logística Militar Terrestre. Possui, dentre
outros cursos, MBA em Logística Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) e desempenhou a função de Observador
Militar da ONU na Costa do Marfim (África). Em 2009, é Chefe da
3ª Seção (Operações e Planejamento) da 1ª Divisão de Exército. (e-
mail: majheitor@gmail.com).

27
MATTOS, Carlos de Meira. Castello Branco e a Revolução. Rio de Janeiro: Bibliex, 1994. p. 188.

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