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Capítulo 4: Liberdade
Capítulo 6: Prazer
Comer uma maçã, dar um passeio à beira mar ou ter uma relação
sexual são alguns dos atos que nos podem transmitir prazer. Ao
falarmos em prazer, falamos em coisas que nos fazem sentir bem,
confortáveis com a vida, em suma, alegres. Podemos, portanto
pensar no prazer como aquilo que gostamos de fazer, pois nos traz
felicidade e alegria. Podemos, contudo, sentir prazer de dois modos:
fisicamente e mentalmente. Quando falamos em prazer físico, ou
carnal, falamos em coisas que sentimos com um dos nossos cinco
sentidos como comer uma maçã ou sentir uma brisa suave junto ao
mar, ao passo que o prazer mental ou psicológico depende apenas de
nós mesmos como quando ajudamos alguém e nos sentimos felizes
por dentro, sem necessariamente recebermos qualquer recompensa
material ou que possa ser percepcionada. De entre todos os prazeres,
quer corporais quer mentais, um dos que nos transmite uma
sensação de prazer mais intensa é o sexo. Quando falamos em sexo,
não podemos pensar apenas neste dentro do sentido da procriação.
Como é claro, é uma das suas principais funções, mas isto também
acontece com os animais! Então o que torna o sexo, um prazer
humano? É muito simples: o afastamento do intento de procriação.
Como seres racionais, ao termos uma relação sexual, não apenas com
o intento de procriação, mas por carinho, amor ou simplesmente por
pura vontade, estamos a realizar algo porque queremos, estamos a
utilizar a nossa liberdade. O sexo, quando por estes motivos, pode ser
englobado ao conjunto de ações racionais características, em que o
homem pensa no que vai fazer e porquê, e executa o que planeou.
Independentemente de ser um ato muito instintivo, nós, ser humano,
ao contrário dos animais podemos fazer o que quisermos como por
exemplo evitar ter sexo, como fazem os padres que optam pelo
celibato. No entanto, se o prazer é algo que nos torna a vida mais
alegre, porquê o tabu colocado sobre o sexo? Pois este é, como já foi
dito, um dos prazeres mais intensos que se pode experimentar e
durante toda a história sempre se teve “medo do prazer”, uma vez
que este é uma distração (quando temos prazer, deixamos de prestar
atenção ao que se passa à nossa volta, concentrando-nos apenas no
que nos está a transmitir prazer), que se pode tornar grande demais.
Para que tal não aconteça, por e simplesmente é proibido ou
escondido do povo, porque antigamente a distração subentendia o
abandono de postos na defesa e funcionamento da cidade. Logo, se o
sexo provoca um prazer intenso, e se o prazer leva à distração (ainda
que momentânea), se não se consumarem tantos atos sexuais, a
distração será menor, o que faria algum sentido há alguns anos atrás
visto que deixar a defesa da cidade vulnerável poderia significar o
seu fim. Hoje em dia, tal linha de raciocínio, tornou-se um pouco
obsoleta, pois além de muitas coisas serem feitas por máquinas, com
o avançar do tempo, o homem apercebeu-se de que tudo tem que ter
um meio termo, por isso à que deixar de lado os tabus e evoluir para
os meios termos. Enquanto esta idéia não for interiorizada por todos
nós, continuarão a existir extremos. Continuarão a existir os
chamados puritanos, que se opõem a todo o prazer e o condenam
principalmente o sexo (muitas vezes o puritanismo é de certa
maneira praticado através da proibição policial), os que por e
simplesmente para evitarem cair na tentação se tornam adeptos da
abstinência ou então aqueles que usam e abusam do prazer,
deixando passar a sua vida ao lado para se satisfazerem
constantemente. Tal como dizia Aristóteles, para se viver bem não
podemos exagerar. Não podemos cair na abstinência nem no exagero
e muito menos condenar aquilo que nos torna felizes e nos dá prazer,
pois todo o ser quer ser feliz, de uma maneira ou de outra. Para que
tal posso acontecer, pensemos num outro conceito: temperança.
Podemos definir temperança como a virtude de que falava Aristóteles,
ou seja, a faculdade de encontrar o meio-termo das coisas. Uma vez
que a maior gratificação que se pode obter de qualquer ato é a
alegria, à que saber por o prazer ao serviço da alegria, e é aqui que
se faz a ligação entre a nossa felicidade, o prazer e a temperança. O
prazer torna-nos felizes, e se for praticado de um modo racional
podemos ser felizes sem cair “no gosto do desgosto”. Temos que
saber que a vida é um equilíbrio desde início. Não podemos encontrar
prazer sem dor nem morte sem vida, como tal, também temos que
saber ter prazer sem exagerar. Deste modo, à que retirar o prazer das
coisas diárias sempre que pudermos, para podermos suportar os
desgostos que se seguirão. Seguindo os pensamentos de Sócrates:
“só podemos ser felizes se procurarmos nas coisas o seu lado bom”, o
que significa, que para vivermos o nosso dia ao máximo, temos que
aproveitar cada momento e vivê-lo o melhor possível. Ter prazer não
significa apenas sexo e fazer o que nos apetece. Devemos em vez
disso pensar sempre no que fazemos de modo a atingir um fim
supremo: o de sermos felizes. Apenas assim poderemos retirar o que
há de bom em cada situação, por muito deplorável que esta possa
parecer. Apesar de hoje em dia, o conceito de prazer estar um pouco
deturpado, quer devido às novas tecnologias, quer devido à maior
abertura face ao sexo, este continua majoritariamente a ser praticado
com o intento de atingir a felicidade, o que significa que mais tarde
ou mais cedo se vão deixar as posições extremas e aderir à
temperança. Para concluir, há apenas a focar alguns pontos
importantes. O prazer, mental ou físico, é aquilo que nos faz sentir
bem, que nos traz alegria. Devido à história da humanidade, o tabu
proveniente do medo do prazer sempre limitou e fez sentir as pessoas
que se satisfaziam culpadas. Devido a este sentimento de culpa,
passou a aderir-se a posições extremas: puritanismo, abstinência e
exagero. Contudo, desde que o homem começou a filosofar, começou
a aperceber-se lentamente de que teria que haver um meio-termo
entre extremos e daí surgiu a temperança, que tem vindo a permitir a
ligação amistosa entre o prazer e a alegria, que em conjunto nos
permitem ser felizes.
“Uma vez que a Razão não pede nada que seja contra a Natureza,
ela pede, por conseguinte, que cada um se ame a si mesmo, procure
o que lhe é útil, mas o que lhe é útil de verdade; deseje tudo o que
conduz, de fato, o homem a uma maior perfeição; e, de uma maneira
geral, que cada um se esforce por conservar o seu ser, tanto quanto
lhe é possível. Isto é tão necessariamente verdadeiro como o todo ser
maior que a sua parte. (ESPINOSA, 1973, p.244).”
Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em
si mesma é a "boa vontade" ou boa intenção, aquilo que se põe
livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever seria
conseqüência da percepção, pelo homem, de que é um ser racional e
como tal está obrigado a obedecer o que Kant chamava de
"imperativo categórico", que é a necessidade de respeitar todos os
seres racionais na qualidade de "fins em si mesmo". É o
reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a
exigência de comportar-se diante deles a partir desse
reconhecimento.
Deve-se então tratar a humanidade na própria pessoa como na do
próximo sempre como um fim e nunca só como um meio.
Torna-se necessária então uma nova moral que não seja o reflexo
de relações sociais alienadas, para regular as relações entre os
indivíduos, tanto em vista das transformações da velha sociedade
como para garantir a harmonia da emergente sociedade socialista.