Sunteți pe pagina 1din 16

1

Convergências e divergências em uma RadCom na web1

Gisele Sayeg Nunes Ferreira 2 - Grupo de Pesquisa Espaço-Visualidade/Comunicação-


Cultura (ESPACC)

Resumo
Este trabalho busca analisar as possibilidades de convergência e interatividade em uma
emissora comunitária online – a Rádio Poléia FM, e algumas conseqüências da mudança do
suporte analógico para o digital. A análise tem como ponto de partida a definição de
convergência proposta por Arlindo Machado no livro Arte e Mídia e as características
consideradas intrínsecas ao veículo. Parte do pressuposto da ocorrência de um processo de
apropriação ou remediação de um meio em outro.

Palavras-chave:
Rádio comunitária – convergência – interatividade – remediação – tecnologia

Résumé
Le but de ce travail est d‟analyser les possibilités de convergence et interactivité dans une
station radio communitaire – la Radio Poléia FM, et quelques conséquences du changement
du support analogique en digital. Notre point du départ est la définition de convergence
proposée par Arlindo Machado dans le livre Arte e Mídia et les caractéristiques que sont
intrinsèques au véhicule. Il part de l‟idée de la ocurrence d‟un processus d‟appropriation ou
remediation d un moyen dans un autre.

Mots-clés
Radio communaitaire – convergence – interactivité – remediation - technologie

1. O rádio em tempo de convergência

Chega um momento em que „torna-se claro que não se pode mais continuar
dizendo como antes: o cinema, a fotografia, a pintura‟ (...). Em lugar de
pensar os meios individualmente, o que passa a interessar agora são as
passagens que se operam entre a fotografia, o cinema o vídeo, a televisão e as
mídias digitais. Essas passagens permitem compreender melhor as tensões e
as ambigüidades que se operam hoje entre o movimento e a imobilidade (...),
entre o analógico e o digital, o figurativo e o abstrato, o atual e o virtual.
(MACHADO, 2007, p. 69)

O surgimento do rádio insere-se num momento específico da história mundial, em que


os acontecimentos que decorrem das sucessivas “revoluções” dos séculos XVIII e XIX
1
Artigo apresentado no IV ComCult - Cultura da Imagem (CISC), realizado de 14 e 15 de novembro de 2008,
no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (SP), no GT Imagens Sonoras e Audioculturas.
2
Jornalista, professora do curso de “Rádio e TV” da Universidade Anhembi Morumbi (SP), mestre em Ciências
da Comunicação pela ECA-USP, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, integra o Grupo de
Pesquisa Espaço-Visualidade/Comunicação-Cultura (ESPACC). E-mail: gisele.sayeg@gmail.com.
http://lattes.cnpq.br/3911238648217117
2

transformaram radicalmente a vida do homem. O rádio está na raiz de uma era tecnológica,
calcada na velocidade, nos vínculos transfronteiriços e desterritorializados.
Assim como o cinema e, mais tarde, a televisão, o advento do rádio ocasionou uma
nova noção de distância e percepção do espaço, pois levaram à formação de novas redes que
encurtaram distâncias, deixando o mundo menor e estimulando o uso constante da
imaginação. (COSTA, 2002, p. 56) A partir das mídias eletrônicas e da sociedade tecnológica,
o homem ampliou suas relações por meio do aumento das informações, que passaram a ser
mediadas, distantes, impessoais.
Nesse contexto, alertam BRIGGS e BURKE, “revolução industrial” e “revolução da
comunicação” constituem parte do mesmo processo. Trata-se de um processo no qual a mídia
deve ser vista como um sistema em permanente mudança, em que um novo meio não implica
no abandono de outro: ao contrário, as mídias coexistem e interagem. (2004, p. 17) Para ele:
No século XX, a televisão precedeu o computador, do mesmo modo que a
impressão gráfica antecedeu o motor a vapor, o rádio antecedeu a televisão, e
as estradas de ferro e o navio a vapor precederam os automóveis e aviões. (...)
O telégrafo precedeu o telefone, e o rádio deu início à telegrafia sem fio. Mais
tarde, depois da invenção da telefonia sem fio, ela foi empregada para
introduzir uma “era da radiodifusão”, primeiro em palavras, depois em
imagens. (Id. Ibid., p. 114).

Já na década de 1960, antes mesmo do surgimento da Internet, McLUHAN registrava


que “um novo meio nunca se soma a um velho, nem deixa o velho em paz. Ele nunca cessa de
oprimir os velhos meios até que encontre para eles novas configurações e posições”. (2007, p.
199) Por isso, qualquer tecnologia nova que é introduzida vai sempre agir sobre o ambiente
social, levando à “saturação de todas as instituições”. (Id. Ibid., p. 203)
Dessa forma, o que muda a vida das pessoas não é a tecnologia, mas as conseqüências
da tecnologia. O que muda o ambiente cultural da Renascença, por exemplo, não é o invenção
da imprensa e dos tipos móveis, mas as conseqüências das novas possibilidades tecnológicas
que daí advém, entre as quais, a democratização da alfabetização, a ampliação de
possibilidades de acesso à informação, os livros, as bibliotecas, as trocas, a mediação etc.
Assim também, o que muda a atmosfera cultural do mundo globalizado são as conseqüências
da mídia digital, ou seja, as outras possibilidades de trocas e mediações que vemos configurar
e que são patrocinadas pela mídia digital. Sendo as mudanças culturais conseqüências da
tecnologia, elas até podem levar a outras invenções tecnológicas, mas não existe determinação
da tecnologia sobre tais mudanças.
3

Assim, na década de 1990, agora sob o impacto da web, FIDLER amplia a idéia ao
afirmar que a Internet não surge de forma espontânea, mas é uma soma, a metamorfose de
todas as mídias pré-existentes. Para ele, a midiamorfose é justamente:
La transformación de los medios de comunicación, generalmente por la
compleja interacción de las necesidades percibidas, las presiones políticas y
de la competencia, y las innovaciones sociales e tecnológicas (…) los nuevos
medios no surgen por generación espontánea ni independientemente.
Aparecen gradualmente, por la metamorfosis de los medios antiguos. Y
cuando emergen nuevas formas de medios de comunicación, las formas
antiguas generalmente no mueren, sino que continúan evolucionando y
adaptándose. (1998, p. 57)

Dentro dessa perspectiva, pode soar até “artificial” separar eventos que marcam a
história da mídia. Tomemos o telégrafo como exemplo: seu desenvolvimento está
intimamente ligado com o desenvolvimento das ferrovias, que necessitavam de sistemas de
sinalização instantâneos; assim como a colocação de cabos submarinos é praticamente
inseparável da expansão do transporte de navios a vapor, estimulada pelo aumento das
transações econômicas em nível globalizado. (BRIGGS e BURKE, 2004, p. 140-141)
Assim é que o surgimento da TV não implicou na morte do rádio, nem o advento da
Internet provocou o abandono da TV. Mas não há dúvidas de que a chamada “revolução”
digital vem imprimindo profundas mudanças não apenas na radiodifusão de imagem e de
som, mas em toda a comunicação humana, englobando desde a criação de novos canais de
expressão até alterações nas linguagens e na constituição dos meios pré-existentes.
O objetivo deste trabalho é pensar, então, algumas das possíveis conseqüências que
resultam das mudanças imprimidas pelo digital no que convencionamos chamar de rádio,
tendo como suportes dessa reflexão dois componentes que se destacam nesse processo:
convergência e interatividade. O ponto de partida da análise são as características
consideradas intrínsecas ao rádio, aquelas que o diferenciariam não apenas dos demais meios
mas também de “outros fatos da cultura humana”; o seu “centro denso” ou “núcleo duro” que
representaria, nas palavras de MACHADO, aquilo que “define conceitos, práticas, modos de
produção, tecnologias, economias e públicos específicos”. (2007, p. 59) No caso específico do
rádio, destacam-se a sensorialidade, a sonoridade, a oralidade e a interatividade.

2 As características do suporte: convergências / divergências analógicas e digitais


De forma geral, o rádio é um dispositivo que permite a transmissão de mensagens
sonoras entre dois pontos e à distância, por meio de ondas eletromagnéticas. A transmissão é
massiva e se dá em fluxo; a produção é centralizada e institucionalizada.
4

Ao analisar a estrutura radiofônica, ORTRIWANO destaca as “características


intrínsecas” ao meio, ou seja, as características que o distinguem e o diferenciam em relação
aos demais, quais sejam: imediatismo, instantaneidade, linguagem oral, penetração
geográfica, mobilidade de emissão e recepção, sensorialidade, baixo custo de produção e
recepção, e autonomia. (1985, p. 78-83)
Se considerarmos, a partir de MACHADO (2007, p. 60) que o estudo dos meios tem
sido marcado pela alternância do predomínio dos pensamentos convergentes e divergentes,
pode-se afirmar que caracterização de Ortriwano reproduz uma tendência que vigorou
sobretudo entre os anos de 1950 a 1980 e marca o pensamento divergente – ou seja, a
necessidade de definir o campo de trabalho a partir de seu “núcleo duro”, distinguindo cada
veículo dos demais. A Escola de Frankfurt ocupa papel central na compreensão dos meios de
comunicação de massa, quando os meios técnicos são entendidos como capazes (a partir
justamente de suas características essenciais), de plasmar um processo de recepção pensado
de forma linear, de tal sorte que o receptor se constitui justamente naquele que recebe como
massa inerte, incapaz de operacionalizar e fazer circular a informação recebida. Aqui, é
fundamental estabelecer, compreender e dominar as características dos meios técnicos, que
têm um fim em si mesmos: transmitir, mais do que comunicar.
No entanto, exatamente porque esse receptor é também capaz de pensar e, fazer
circular a informação, gerando outras informações, cada uma dessas características pode ser
vista a partir de suas possibilidades tanto convergentes como divergentes, na medida em que
abrem (ou não) uma infinidade de novas e possíveis conseqüências ambientais e culturais
independentemente de serem os meios analógicos ou digitais. Essa é a hipótese básica desse
trabalho e, para estudá-la, pensemos algumas possibilidades.
Depois da fase em que se limitava à leitura de textos impressos, o rádio desenvolveu
uma linguagem própria, coloquial, onde se destacam: clareza, objetividade e, sobretudo,
simplicidade. Trata-se, segundo Ortriwano, da linguagem comum, meio termo entre a
linguagem culta e a popular, que pode ser compreendida por todas as camadas de ouvinte.
(1990, p. 101) E o texto deve ser escrito para ser “contado” e não simplesmente lido. Um jogo
sonoro que não se encerra na leitura de um texto: ao dar sentido à palavra, a sonoridade acaba
por se constituir um enunciado autônomo. (BAUMWORCEL, 2004) A linguagem radiofônica
não é, portanto, “exclusivamente verbal-oral, mas resultado de uma semiose de elementos
sonoros (trilha, efeito, ruído e silêncio) que perdem sua unidade ao serem inseridos em um
meio acústico coordenado pelo tempo para comporem um todo, que é a obra radiofônica”.
(SILVA, 1999, p. 17).
5

O surgimento do transistor, em meados dos anos 1950 permitiu a fabricação de


aparelhos menores e mais baratos e conferiu autonomia ao veículo. Ao ficar livre de fios e
tomadas, a audiência deixou de ser coletiva e se individualizou, e a linguagem radiofônica
passou a explorar a intimidade/proximidade. (ORTRIWANO, 1985: 81). Assim, o rádio
atinge milhares de pessoas, mas fala para o indivíduo em particular. A essa característica,
LÓPEZ VIGIL denomina linguagem afetiva. Para ele, “no rádio, o afetivo é o efetivo”. (2003,
p. 33)
A mobilidade também adveio com o transistor: o ouvinte ganhou liberdade para ouvir
rádio em qualquer lugar, e o emissor, liberdade de transmitir os fatos a partir de onde eles
acontecem. A mobilidade possibilitou o imediatismo, ou seja, a transmissão do fato no mesmo
momento em que ele acontece, muito antes do jornalismo impresso, muitas vezes antes
mesmo que a televisão (que exige um aparato técnico muito maior e complexo) ou a Internet.
(ORTRIWANO, 1990, p. 104-106)
A instantaneidade está ligada às condições de recepção por parte do ouvinte, que é
simultânea em relação à transmissão, mas não necessariamente à ocorrência do fato. É a
noção de que no rádio o tempo é sempre presente, ainda que a mensagem tenha sido
previamente gravada. Ela exige redundância, ou seja, supõe repetição das informações
principais para que a mensagem mantenha sua totalidade e compreensão por parte do ouvinte.
Como pensar a instantaneidade a partir da Internet, que possibilita a disponibilização de
arquivos sonoros?
O rádio possui baixo custo de produção e recepção: é acessível a uma gama de
pessoas em escala exponencial; e sua instalação, operação, produção e manutenção também
custam bem menos que em outros meios, como no jornal impresso e televisão. Apesar da
operação e dos serviços na Internet também serem relativamente mais baixos, é preciso um
investimento inicial significativo para compra do aparelho e custo de linha telefônica ou outro
meio de acesso. Some-se a isso, a penetração geográfica grandiosa do rádio, que, a princípio,
não possui limitações para chegar às regiões mais distantes.
Em função de sua sensorialidade, o rádio envolve o receptor em um “diálogo mental”.
Para Ortriwano, “o ouvinte visualiza o fato narrado através dos estímulos sonoros que recebe,
da entonação vocal, da tonalidade, do ritmo da mensagem”. (1990, p. 105) Segundo
SIEGERT, a essência está em sua função antecipadora, ou seja, na sua capacidade de
sugestão, de fazer com que o ouvinte espere pelo que vai ser narrado, num recurso de
memória semelhante àquele que ocorre com o visual. (1998, p. 142)
6

A emoção gerada pelo rádio não pode ser definida somente pela oralidade. Ela
também reside na mediação técnica. Ou seja, para não quebrar a “fantasia” criada pela
transmissão, veículo e ouvinte estabelecem vínculos mediadores, um contrato tácito: o
locutor/emissor instaura um jogo, alimentando a idéia de que o espaço ficcional e o real são
uma única coisa; e o ouvinte finge que está na companhia de alguém, interagindo com os
programas. Ressalte-se que a técnica no rádio está na interlocução. Já a tecnologia (a
radiodifusão) não se resume apenas à “máquina” de produzir a mensagem, mas é também a
“máquina” com uma semântica, que garante sentido aos discursos que irradia.
Assim, se articularmos todas as características acima arroladas chegaremos à essência
daquilo que poderíamos classificar como “núcleo duro” do rádio. Observe-se que o uso da
linguagem adequada concomitantemente à sua alta sensorialidade levaram o meio a
estabelecer historicamente uma relação de intensa proximidade com o ouvinte. Além disso, o
fato de apoiar-se apenas nas imagens sonoras permitiu com que o rádio falasse ao ouvinte de
forma mais direta e individual que qualquer outro meio. Residiria aí a grande capacidade de
mobilização social atribuída ao veículo analógico.
O rádio digital implica em uma profunda alteração nesse paradigma. Em essência, ele
é feito para ser ouvido em sendo visto, portanto, ele é cada vez mais visual, exponenciando
aquilo que vinha sendo apontado pelo rádio analógico. (FERRARA) Também o rádio digital é
marcado pela possibilidade de mobilização social, em função de suas múltiplas possibilidades
de interatividade. Ocorre que, ao contrário da rigidez e unidade do analógico, a mobilização
agora é fluida, fragmentada, desterritorializada e em fluxo.3
Semelhante à batida profunda de um tambor tribal, o rádio [analógico], segundo
MCLUHAN, é um meio quente na medida em que “prolonga um único de nossos sentidos e
em „alta definição‟ [ou seja] a um estado de alta saturação de dados”. (2007, p. 38) Se por um
lado permitiria menos a participação do que um meio frio (como a televisão e o telefone, por
exemplo), por outro, poderia exercer um efeito violento ou perturbador em culturas “frias” ou
pouco ou não letradas. O rádio, nessa perspectiva, “não é apenas um poderoso ressuscitador
de animosidades, forças e memórias arcaicas, mas também uma força descentralizadora e
pluralística – tal como acontece com todos os meios e forças elétricas”. (Id. Ibid., p. 344)
3
Obviamente, há profundas diferenças na inserção dos dois veículos: enquanto o rádio está presente em quase
90% dos domicílios brasileiros, o acesso à Internet ainda é privilégio de uma minoria, mas os números crescem a
cada ano. Segundo dados do Ibope NetRatings, relativos ao último trimestre de 2007, o País já conta com mais
de 40 milhões de internautas com 16 anos ou mais. Em entrevista recente ao Território Eldorado, o presidente
do Google no Brasil, Alexandre Hahagen, vinculou o significativo crescimento da Internet no Brasil ao
crescimento da classe média e a inclusão do acesso à web entre seus hábitos. Disponível em: Disponível em:
http://int.territorioeldorado.limao.com.br/eldorado/audios!getPlayerAudio.action?destaque.idGuidSelect=D2CF1
F56C78D49A4BABF7256A0EB04DE
7

MACHADO alerta que, assim como nos processos culturais a ênfase nas identidades
isoladas pode levar à intolerância enquanto o hibridismo implica em equilíbrio e respeito às
diferenças, também “no campo da comunicação, chega um momento em que a diversidade
entre os meios torna-se improdutiva, limitativa e beligerante, deixando claro, pelo menos aos
setores de vanguarda, que a melhor alternativa pode estar na convergência”. (2007, p. 64)
Talvez resida justamente naquela força “descentralizadora e pluralística”, observada
por MCLUHAN, a ocorrência de um inegável intercâmbio entre todos os meios de
comunicação, elevado, na contemporaneidade, à máxima potência pelo digital. A tal ponto
que a divergência se torna improdutiva na comunicação, levando-nos a buscar não mais o que
diferencia um determinado meio, mas o que há de outros meios nele mesmo.
Enquanto em MCLUHAN esse intercâmbio parece resultar na mistura e conseqüente
transformação dos meios, BOLTER e GRUSIN falam em remediation (remediação), ou seja,
a “representação de um meio em outro”. Não se trata, para esses autores, da transformação de
um meio em outro, mas de apropriação e remodelagem de meios anteriores, característica da
nova mídia digital. (1998, p. 45) Esse processo se dá a partir de duas lógicas: imediation
(imediação)4 ou hipermediation (hipermediação), a transparência e a opacidade, ou seja,
quando o meio tende a desaparecer buscando nos deixar na presença da coisa representada; ou
exatamente o oposto, quando o meio deixa transparecer o processo de mediação.
Para o pesquisador russo Lev Manovich (2001), a nova mídia surge a partir da
convergência entre formas culturais contemporâneas (interfaces digitais, hipertexto e bases de
dados) e modelos anteriores, entre os quais, ele aponta o cinema. O autor considera como
forma cultural modalidades tecnológicas pelas quais pode haver uma relação homem-
conteúdo:
All existing media are translated into numerical data acessible for the
computer. The result: graphics, movind images, sounds, shpes, spaces, and
texts become computable, that is, simply sets of computer data. In short,
media become new media. (MANOVICH, 2001b, p. 25).5

Não se trata, para Manovich, de buscar na nova mídia uma lógica de transposição de
formas culturais existentes ou mesmo de projetar um novo modelo a partir da simples
remissão a modelos anteriores. Ao contrário, a nova mídia deve operar no sentido de

4
Giselle Beiguelman adota a forma a-mediação, pois afirma tratar-se da ausência de mediação.
5
“Toda mídia existente é traduzida para dados numéricos acessíveis pelo computador. Como resultado: gráficos,
imagens em movimento, sons, formas, espaços e textos tornam-se computáveis, isto é, simplesmente peças de
dados de computador. Em resumo: a mídia torna-se uma nova mídia”. [Tradução livre]
8

migração ou de deslocamento, buscando ampliar os atuais modelos narrativos.


(MOHERDAUI, 2008)
Também o conceito de convergência proposto por MACHADO pode ser visto dentro
dessa perspectiva, na medida em ele sugere pensar as passagens que se dão entre os meios
analógicos e digitais, como a melhor maneira para compreender “as tensões e as
ambigüidades” que se operam hoje na produção de novas imagens e no próprio
funcionamento do audiovisual. (2007, p. 69)
Para SAAD CORRÊA, a convergência é a condição de existência da mídia digital:
“computadores e internet são os elementos determinantes, ou o espaço de configuração da
convergência”. (2003, p. 4) Já GORDON busca na história a definição do termo (cunhada em
1713 por William Derham), para explicá-lo a partir de duas vertentes: a convergência de
tecnologias (sistemas para a criação, distribuição e consumo de conteúdos) e a convergência
organizacional: na propriedade (fusões, aquisições, monopólios multimídia, etc.); nos
aspectos táticos (parcerias, mercados, provimentos de conteúdos); na estrutura organizacional
(formato das redações, treinamento de pessoal); no processo de captação de informações; e
nos processos de apresentação dos conteúdos (narrativas multimídia).
Quando apareceu pela primeira vez, no século XVIII, o termo convergência era
aplicado a áreas como matemática, física e biologia. No século XX, passou a ser usado para
explicar a ciência política e a economia. Apesar de os computadores e as redes terem sido
desenvolvidos nas décadas de 1960 e 1970, a palavra convergência só apareceu relacionada às
novas mídias em 1983, no livro Technologies for Freedom, do estudante de comunicação
Ithiel de Sola Pool.6
Conforme explica GORDON, não há como determinar quando o termo começou a ser
usado nas referências a tecnologias de comunicação. Entretanto, é possível afirmar que o
entendimento de convergência na nova mídia passa pelos conceitos de multimídia,
amplificado com o surgimento da web, (DEUZE, 2001), de remediação, representação de uma
mídia em outra (BOLTER e GRUSIN, 2003), intermediação, inter-relação entre diferentes
formas de representação que se fundem em um novo meio (HIGGINS, 1965), e de
hibridização, uma vez que, “a rigor, todas as mídias, desde o jornal até as mídias mais
recentes, são formas híbridas de linguagem, isto é, nascem na conjugação simultânea de
diversas linguagens”. (SANTAELLA, 1996, p. 43).

6
Ver: GORDON, Rich. Convergence defined. Online Journalism Review, 2003. Disponível em
http://www.ojr.org/ojr/business/1068686368.php. Acesso ago. 2008. E também: BURKE, 2004, p. 270.
9

Portanto, também o rádio não estaria imune hoje ao que MACHADO denomina como
interpenetração dos “círculos definidores” dos meios. Depois de reinar absoluto como o
principal meio de comunicação de massa por quatro décadas, o rádio foi, sem dúvida,
destronado de sua hegemonia após o advento da TV e, mais tarde, o surgimento da Internet. A
partir da web e da era do predomínio das imagens, quais seriam as zonas de interpenetração às
quais ele estaria sujeito? De que forma elas podem ser identificadas? Será que o rádio ainda
permanece rádio? O meio analógico se transforma por essa interpenetração? No tocante às
emissões comunitárias, há uma nova emissora? Sobre esses aspectos nos debruçaremos agora.

3. Rádio Poléia: uma experiência divergente-convergente?


Ao analisar o jornalismo sob o impacto do digital, PAVLICK afirmou que a criação da
worl wide web7 anunciada nos anos 1990 pelo engenheiro britânico Tim Berners-Lee causou
cinco impactos nos grupos de comunicação: 1) sobre como os jornalistas fazem seu trabalho;
2) sobre o conteúdo noticioso; 3) nas redações e nas estruturas industriais; 4) na relação entre
as organizações de notícias e seus públicos e 5) sobre a ética. (2000)
Tais impactos se devem sobretudo às novas possibilidades de convergência e
interatividade e podem ser estendidos também ao objeto deste artigo: a Rádio Poléia FM, uma
emissora comunitária legalmente autorizada8 a transmitir em 87,9 MHz, na cidade de
Palestina, interior do Estado de São Paulo, mas que, paralelamente, mantém uma página na
web no endereço www.radiopoleiafm.com.br.9 Para essa breve análise nos valemos: 1) do
suporte bibliográfico (sobretudo o conceito de convergência de MACHADO); 2) da
observação da página; 3) de uma entrevista realizada em 18/07/2008 com o dirigente da
emissora, Hadailton José Teixeira; 4) e de entrevistas aleatórias realizadas na mesma data
com 8 ciberouvintes na praça central da cidade.
O trabalho dos radialistas, sem dúvida, sofreu e vem sofrendo profundas alterações.
Segundo Teixeira, desde que a emissora começou a operar legalmente em 2001 e a transmitir
pela web em 2005, tanto o computador como o acesso à Internet são primordiais para

7
Para saber mais sobre a criação da parte multimídia da internet, ver http://www.w3.org/People/Berners-Lee.
Acesso em ago. 2008.
8
O serviço de radiodifusão comunitária foi criado no Brasil há dez anos, após a aprovação da Lei 9.612-98.
Determina como “rádio comunitária” emissoras de pequeno porte, com até 25 watts de potência e cobertura
restrita ao raio de 1 km a partir da antena, sem fins lucrativos, sediada na comunidade onde está inserida.
Segundo dados Agencia Nacional de Telecomunicações (Anatel), já existem no País mais emissoras
comunitárias do que emissoras comerciais operando em FM: são 3.154 RadCom para 2.678 emissoras em FM.
Os números não compreendem os dados referentes a 2008. Disponível em:
http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do#. Acesso em 15 de julho de 2008.
9
Acesso em 31 de julho 2008.
10

obtenção e troca de informações (como músicas, notícias etc.), dinamização dos processos
internos, arquivo de conteúdo, e também para a própria manutenção da emissora no ar. O
profissional que opera uma emissora tem que estar familiarizado e preparado para a
navegação virtual. Com a emissora virtual, mais ainda. Daí da transformação radical na
realização do trabalho. O mesmo vale para o conteúdo irradiado veiculado pela emissora,
agora dependente das conexões traçadas em rede: baixar música, informação, receber pedidos
e mensagens, etc.
Quanto à questão estrutural, Teixeira afirma que muitos dos problemas que enfrenta
em manter a página da Poléia no ar devem-se, sobretudo, à carência de estrutura física e
profissional adequadas às novas exigências da mídia digital. Os vídeos que são veiculados
pela emissora em uma página do Youtube (a TV Poléia), por exemplo, exigem uma estrutura
distinta daquela que as emissoras de rádio estavam habituadas a contar.
A organização de conteúdo e a relação com o público mudou. E mudou radicalmente.
A Rádio Poléia na web conta com um universo de ouvintes distinto (em muitos aspectos, até
radicalmente) daquele delimitado pela lei, ou seja, restrito à comunidade de pouco mais de 9
mil habitantes geograficamente distribuídos na cidade de Palestina, distante 500 km de São
Paulo. Uma visita ao Mural de recados na página na web nos dá a dimensão de como essa
emissora de uma pequena cidade se insere na dinâmica da digitalização: dos 70 recados
postados entre abril/2007 a julho/2008, 26 são de ciberouvintes que se encontram em outras
cidades e até em outros Estados.10 As novas possibilidades de interação e participação desse
novo ouvinte não deixa de provocar alterações não apenas na página na web, mas no próprio
conteúdo analógico.
As questões éticas ganham outra dimensão. Recentemente, conta Teixeira, a Poléia
FM recebeu em Palestina a visita de um grupo de ciberouvintes de São Paulo, capital, sem
qualquer relação anterior com a cidade e a comunidade onde a emissora está instalada e opera
analogicamente. São pessoas que compartilham o gosto pelo conteúdo irradiado (música
sertaneja e rodeio) e que descobriram a emissora por meio de informações obtidas em sites
especializados.11 Diariamente, o grupo participa da programação enviando mensagens para os
locutores em tempo real pelo MSN. Oferecem música, mandam recados entre si. Nada
diferente do que faz o ouvinte que mora em Palestina. O que, aparentemente, os encanta é a

10
Há ouvintes de Brasília, Pará, Cuiabá, Curitiba, Bahia, Goiânia, Três Lagoas. No Estado de São Paulo: da
capital, de São José dos Campos, Jacareí, Sumaré, Campinas, Valinhos, Rio Claro, Ribeirão Preto, Praia Grande,
Bebedouro, Pindorama, Votuporanga e São José do Rio Preto.
11
Um bom exemplo é o site www.radios.com.br, um portal que reúne mais de 16 mil emissoras de rádio e TV
analógicas e online que podem ser acessadas por categorias distintas, inclusive, a partir da programação
irradiada. Somente em junho/2008, o link da Rádio Poléia FM no portal registrou 26 acessos.
11

possibilidade de interação e troca imediata que hoje se dá em menor escala (e sujeita a muitos
filtros mais) nas grandes redes de radiodifusão, engessadas por uma estrutura gigantesca
centralizada nos grandes centros urbanos. A própria noção de comunidade que norteou a
criação das RadCom e que é estabelecida em Lei sofre fissuras. Sobre esse novo panorama,
Teixeira comenta:

Essa integração [com ouvintes de outras cidades] talvez até possa desvirtuar
[os princípios norteadores da radiodifusão comunitária], mas por outro lado,
faz a minha comunidade se impor à outras. Porque a gente sendo
pequenininho desse jeito e as grandes cidades sendo grandes potências de
mídia, elas empurram a cultura delas e os acontecimentos delas goela abaixo.
A gente expandindo, eu estou expandindo a minha cultura e fazendo com que
ela sobreviva. (...) Não estou falando sobreviver rádio, mas sobreviver a
minha comunidade, manter vivas as nossas tradições. (TEIXEIRA, 2008)

O discurso de Teixeira, enfatiza a preservação da identidade local, o que poderia


constituir um pensamento divergente, na perspectiva de MACHADO (2007). Mesmo o digital
foi visto inicialmente a partir do discurso particularizante, ou seja, da tentativa de
caracterização do que seria seu “núcleo duro”, do seu estabelecimento como uma mídia em si
mesma, com linguagem própria. Pesquisadores elaboraram conceitos e nomenclaturas para
entender o novo suporte: FIDLER falou no processo de transformação; PALACIOS, DEUZE
e outros procuram entender a evolução por meio de suas fases; etc. BOLTER e GRUSIN
criticam a retomada “modernista” de especifização e particularização a qualquer preço e
introduzem uma nova perspectiva de análise: as outras mídias permanecem, agora
remediadas, reapropriadas pelo digital. Um pensamento não mais construído em linearidade,
mas alinhado com a complexidade do mundo contemporâneo diante do conjunto de redes e
conexões que se abrem entre pessoas e acontecimentos em todas as partes do mundo.
A análise da Poléia na web nos dá bem a dimensão da possibilidade de recuperação
criativa dos meios precedentes, o que constitui próprio princípio da remediação. Dinâmica e
facilmente atualizável, o site disponibiliza três aplicativos diferentes para streaming de áudio
(o Windows Media Player, o Real Player e o Winamp), o que demonstra a preocupação da
emissora em conseguir atingir todo tipo de ciberouvinte, inclusive aqueles que não possuem
um sistema operacional pago (proprietário), como o MacOs ou o Windows. 12 A emissora on-
line não oferece, contudo, arquivos de áudio. Assim, a experiência de ouvir a programação da
emissora acaba se dando praticamente no mesmo nível do analógico, ou seja, a

12
O Winamp, por exemplo, transmite áudio em um formato livre que funciona e qualquer sistema operacional,
inclusive no Linux.
12

instantaneidade da mensagem se mantém, uma vez que não é possível “voltar atrás” para
ouvir de novo o que se perdeu. Nesse sentido, não se pode falar em convergência.
A Rádio Poléia disponibiliza também textos e fotos de eventos da cidade, um Mural
de recados, um endereço para troca de mensagens instantâneas com os locutores da emissora
(pelo MSN13), anúncios de empresas e estabelecimentos quase todos ligados à microrregião, a
programação completa da emissora com a foto do locutor que está no ar naquele momento, e
uma enquête, cujo resultado o ciberouvinte pode conferir logo após a votação. Há ainda links
para a comunidade que a emissora mantém no Orkut (criada em agosto de 2005 e atualmente
com 300 membros) e para um canal da TV Poléia no Youtube (que oferece 16 vídeos
diferentes com duração média de 2 a 4 minutos).14
Buscando verificar as possibilidades de reconfiguração e apropriação de uma mídia na
outra, e as conseqüências da interpenetração entre os círculos da RadCom do dial e da
emissora na web, realizamos um levantamento de recepção com apenas 8 ouvintes-
internautas, com idade entre 14 e 17 anos, na Praça da Igreja Matriz de Palestina. Algumas
respostas do levantamento podem nos ajudar a pensar as possibilidades de conseqüências das
duas tecnologias sobre aquele ambiente bem como as possibilidades de trocas que se
estabelecem.
Todos os entrevistados acessam com freqüência o site da emissora e o fazem por
banda larga, o que garante a qualidade de recepção e manutenção de sinal de áudio bem como
do acesso aos vídeos. A maior parte (cinco pessoas) prefere ouvir a programação da Poléia
FM pelo dial. Três entrevistados gostam da possibilidade de ouvir música e notícias da
cidade enquanto realizam outras atividades no computador; dois gostam de acessar as notícias
locais e ver as fotos e eventos da cidade. Um entrevistado prefere participar da enquête, e
outro prefere acessar a página do Orkut para trocar mensagens com os amigos. Em comum, o
fato de que todos buscam se ver refletidos na emissora seja no dial ou no ciberespaço.
Para a questão “quais assuntos você viu/ouviu na página da internet, e comentou com
familiares, amigos etc., apenas dois entrevistados dizem nunca ter transferido para a vida
cotidiana as informações: 3 pessoas costumam conferir as fotos dos eventos (Festa do Peão,
Dia das Mães etc.) e comentar com os amigos e a família; e outros 3 entrevistados fazem o
mesmo depois de assistir os vídeos da TV Poléia. Ou seja, há sinais claros da apropriação das

13
Teixeira estima possuir em torno de 1.800 ciberouvintes cadastrados no MSN, que participam da programação
ativamente e em tempo real: pedem música, mandam recados, utilizam os serviços de Utilidade Pública, fazem
reclamações, etc. Segundo Teixeira, para que um novo endereço seja adicionado à lista, ele precisa apagar um
outro que esteja desativado.
14
Somados, os números de acesso aos vídeos da TV Poléia impressionam: em pouco mais de um ano, foram
vistos mais de 15 mil vezes, uma média de quase mil acessos por vídeo.
13

imagens virtualmente expostas e a sua transposição para a relação que se dá face a face, nos
níveis mais privados de relação.
Finalmente, para a questão em sentido oposto (“e quais assuntos você ouviu de sua
família e amigos e compartilhou na página da rádio na Internet ou no Orkut?”), a grande
maioria (seis entrevistados) afirma nunca ter levado qualquer informação para rede e apenas
duas pessoas dizem que, usualmente, enviam mensagens oferecendo música para os amigos.
Em rede, isso implica em compartilhamento e interação.

4. Algumas considerações
No dial ou no ciberespaço, a Rádio Poléia FM é marcada por características que
podem se constituir, ao mesmo tempo, convergentes e divergentes. Aliás, como destaca
BAUMAN, a própria contemporaneidade é marcada por essa ambivalência: não se trata da
existência de uma coisa ou outra, mas a possibilidade das duas ao mesmo tempo.
Como vimos, entre as características consideradas essenciais da emissora analógica
destacam-se a sonoridade e a oralidade. Ao migrar para a web o áudio analógico – que pode
ser pura convergência, pois é visualidade e gestualidade – deixa de ser predominante e passa a
coexistir com o texto, o vídeo, a fotografia, a troca de mensagens etc. O que está em jogo
agora é essa reconfiguração, que tem como conseqüência imediata a constituição de um rádio
que é feito para ser ouvido em sendo visto. Ainda podemos chamá-lo rádio?
Partimos do pressuposto que a interatividade pode se dar apenas se: 1) ao mesmo
tempo se exercer a comunicação, a troca; 2) e se emissor e receptor estiverem em pé de
igualdade. 15 No dial, mesmo sem envolver o nível da gestão e administração, a emissora
comunitária – e justamente por se constituir comunitária –, mantém um espaço efetivo de
participação e interatividade dos ouvintes na programação. Na web os espaços de apropriação
e interação são ampliados: o ciberouvinte de Palestina se vê refletido nas fotos, nos vídeos, e
nas notícias da comunidade. E é para a comunidade que esse interator virtual retorna o que
encontrou no ciberespaço (comentando, discutindo, ampliando as informações). Há, portanto,
mediação. E o que pensar dos demais ciberouvintes, aqueles que se agrupam por afinidade?
Também eles, têm o espaço ampliado. Retomemos o caso dos paulistanos que se deslocaram
500 km para conhecer a emissora e a cidade: ao menos no nível básico da mensagem (pedidos
de música e recados) eles encontram na Poléia na web um diferencial em relação às grandes
redes de comunicação. Também aqui, há mediação efetiva.

15
Portanto, o simples retorno a um determinado estímulo nada mais é que feed back.
14

No caso da Poléia analógica, a interação deve ser princípio constituinte: a própria Lei
de Radiodifusão Comunitária define que comunidade pode e deve participar e determinar os
caminhos da emissora, de modo a produzir convergência e mediação. Na comunidade virtual,
as possibilidades apenas começaram a serem exploradas pela Poléia FM. À primeira vista, o
que encontramos no site da emissora parece ser a mera reprodução de “círculos densos”
(áudio, fotos, vídeos, textos), em uma nova plataforma. Os vídeos são formados,
principalmente, de entrevistas sem edição e com planos fixos, ou então longas seqüências de
imagens sem cortes, acrescidas de sonorização e locução de fundo. As fotos são estáticas e
também não passam por qualquer processo de edição. Os textos não são acompanhados de
links ou hiperlinks, janelas que possam abrir novas possibilidades e apenas reproduzem um
modelo já conhecido. O próprio áudio da programação analógica é apenas retransmitido na
íntegra, o que reproduz no digital uma das características essenciais do veículo, ou seja, a
instantaneidade; também não há disponibilização de arquivos sonoros de programas ou
conteúdo produzido especialmente para a web.
No entanto, não se pode negar que há uma clara interpenetração dos meios, que não
são estáticos; ao contrário apresentam-se em permanente conflito e expansão. É a expansão
progressiva de cada campo e o contato entre eles que está levando à “contaminação” não
apenas das bordas daquelas esferas que (segundo imagem criada por Machado),
representariam cada veículo ou nova tecnologia, mas também dos próprios “núcleos duros”,
ou seja, das características que usualmente são consideradas essenciais a cada veículo. Ainda
que produzidos de forma muito básica, os vídeos, textos, e fotos que hoje compõem a
emissora na web são as provas cabais dessa “contaminação”.
E isso não se dá apenas na Internet. Também a emissora analógica sofre os efeitos
desse contato, a começar pelo novo ouvinte interator, o ciberouvinte, que agora não pode
mais ser definido apenas pela delimitação geográfica. A participação desse ciberouvinte em
tempo real na programação pelo MSN ou ainda a presença de ciberouvintes que se encontram
distantes fisicamente da comunidade real onde a emissora opera são exemplos dessa
interpenetração que transforma e remedia o analógico. É nesse sentido que se pode afirmar
que uma nova emissora vai surgindo, tanto no digital como no analógico.

5. Bibliografia
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
BAUMWORCEL, Ana. 1954: um retrato do rádio na época de Vargas. Artigo apresentado
no II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho (GT História da Mídia Sonora), em
15

Florianópolis (SC), 15 a 17 de abril de 2004. Disponível em:


http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/17655/1/R0439-1.pdf
BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: understanding new media. Cambridge: The MIT
Press, 2000.
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e
cultura; v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Ficção, comunicação e mídias. São Paulo: Senac, 2002.
DEUZE, M. Online Journalism: modeling the first generation of news media on the world
wide web 2001. Disponível em: www.firstmonday.org/issues/isseu6_10/deuze. Acesso em 31
de julho de 2008.
FERRARA, Lucrécia D‟Alessio (org.). Espaços Comunicantes. São Paulo: Annablume;
Grupo ESPACC, 2007.
____________. Processos midiáticos e produção de conhecimento – Semioses do espaço.
Disciplina ministrada no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica. PUC-
SP, mar-jul 2008. Apontamentos.
FIDLER, Roger. Mediamorfosis: compreender los nuevos medios. Barcelona: Granica, 1998.
GORDON, Rich. Convergence defined. Online Journalism Review, 2003. Disponível em
http://www.ojr.org/ojr/business/1068686368.php. Acesso ago. 2008.
HIGGINS, D. Synesthesia and Intersenses: Intermedia, 1965. Disponível em
http://www.ubu.com/papers/higgins_intermedia.html. Acesso ago 2008.
LÓPEZ VIGIL. José Ignacio. Manual urgente para radialistas apaixonados. São Paulo:
Paulinas, 2003.
MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
_____________. O audiovisual em tempo de convergencia das mídias. Disciplina ministrada
no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica. PUC-SP, mar-jul 2008.
Apontamentos.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo:
Cultrix, 2007.
MANOVICH, L. The language of new media. Cambridge: MIT, 2001.
MOHERDAUI, L. Em busca de um modelo de composição para os jornais digitais.
Manuscrito. São Paulo, 2008.
MURRAY, J. Hamlet on the holodeck: the future of narrative in cyberspace. EUA: The MIT
Press, 1997.
ORTRIWANO, Gisela S. Os (des)caminhos do radiojornalismo. 1990. 210 f. Tese
(Doutorado em Jornalismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo.
______________. A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação dos
conteúdos. São Paulo: Summus, 1985.
PALACIOS. M. O que há de (realmente) novo no Jornalismo Online? Conferência proferida
concurso público para Professor Titular na FACOM/UFBA, Salvador, Bahia, em 21 set.1999.
PAVLIK, J. V. Journalism tools for the Digital Age. In: 7° Fórum Mundial de Editores. Rio
de Janeiro, 7 jun. 2000.
QUINN, S. Convergent Journalism – The Fundamentals of multimedia reporting. EUA: Peter
Lang, 2005.
SAAD CORRÊA, E. Estratégias para a mídia digital. São Paulo: Senac, 2003.
SALAVERRÍA, R. Redacción periodística en Internet. Pamplona: EUNSA, 2005.
SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996.
16

SIEGERT, Bernhard. O alto império da palavra: esporte e radionovela na Alemanha (1923-


1933). In ROCHA, João C.C. (org.). Intersecções: a materialidade da comunicação. Rio de
Janeiro: Imago/EDUERJ, 1998.
SILVA, Júlia L.O. Albano da. Rádio: oralidade mediatizada: o spot e os elementos da
linguagem radiofônica. São Paulo: Annablume, 1999.

S-ar putea să vă placă și