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Bióloga, mestranda em Ecologia – PGEBIO, UFJF
(raquelsimiqueli@gmail.com); 2 Turismólogo, mestrando em Geografia, UFPR
(Leandro.Fontoura@gmail.com); ³ Dr. em Geografia pela UFRJ, prof. da
Faculdade de Engenharia – UFJF (cezarbarra@hotmail.com)
Introdução
Unidades de conservação de uso indireto, requerem um planejamento
adequado e o estabelecimento de regras e normas específicas que permitam o uso
público do ambiente, além de garantir que os impactos gerados pela atividade turística
estejam dentro de parâmetros aceitáveis.
Os parques estaduais, constituem-se, particularmente no Estado de Minas
Gerais, em um dos últimos habitats preservados de espécies de flora e fauna, muitas
das quais ameaçadas de extinção. Neste sentido, o aumento da carga de impactos
causados pela visitação deve ser gerenciado de modo a não afetar a conservação dos
ambientes naturais.
Estudos abordando análises do estado ambiental de trilhas ecológicas são
considerados foco da atenção de muitos pesquisadores e planejadores e subsidiam
dados para cálculos da capacidade de carga. Problemas ambientais causados pela
prática do ecoturismo, vêm alertando para a necessidade de aliar a atividade
ecoturística à conservação do meio ambiente e aos interesses de manutenção da
sustentabilidade.
Rodrigues (1999) acredita que o ecoturismo é um meio de desencorajar
atividades mais predatórias, em favor de um turismo mais leve e seletivo, com ênfase
na natureza mais preservada ou pouco alterada.
As modalidades de turismo, denominadas como alternativas, surgiram a partir
da década de 70, como opção e reação ao turismo de massa, quando começaram a
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se evidenciar os problemas por ele provocados e a serem discutidos novos tipos de
turismo, os de menor impacto sobre o meio ambiente e as comunidades anfitriãs.
Nessa época tem-se uma tendência à criação de parques e unidades de
conservação no Brasil. A paisagem, a fauna e a flora, passam a ser protegidos
legalmente, fato que se confirma com a criação do Parque Estadual de Ibitipoca em
quatro de julho de 1973.
O parque é a sétima unidade de conservação estadual mais visitada do Brasil,
com um registro de 35.000 visitantes/ano, segundo o MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE (2004). Seu território encontra-se na parte alta da chamada Serra do
Ibitipoca, em altitudes que variam de 1.050 a 1.784 m, está inserido no sistema
Geológico Mantiqueira e parte do Grupo Andrelândia, Planalto Itatiaia (Figura1).
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vegetais com apelo visual, especialmente relacionada à Bromeliaceae, Orchidaceae e
Cactaceae. (FORZZA & MONTEIRO, 2004).
A caminhada em trilhas proporciona atividade física, percepção ambiental,
contato com a natureza e aprendizado através de sinalizações interpretativas ou
informações de guias. No entanto, o uso das trilhas pelos visitantes pode provocar
alteração e destruição dos habitats da flora e fauna; fuga de algumas espécies
animais; erosão; alteração dos canais de drenagem, compactação do solo pelo
pisoteio e a redução da regeneração natural de espécies vegetais.
As pertubações resultantes das atividades em áreas naturais tem sido
denominadas genericamente como impactos ecológicos. Embora o termo impacto seja
neutro e, objetivamente, possa fazer referências às mudanças não desejáveis que
acontecem no meio, como conseqüência do uso (COLE apud SILES, 2003). Neste
estudo, o termo impacto ecológico será utilizado para identificar qualquer alteração
biofísica indesejada presente nos recursos naturais e causada por fatores
relacionados à visitação.
Objetivos
Com base no exposto, este trabalho teve por objetivo principal apresentar os
principais impactos ambientais físicos e biológicos (em relação à flora) observados nas
trilhas do Circuito das Águas do Parque Estadual do Ibitipoca, MG. Além de obter um
mapeamento dos principais trechos impactados, ao longo de cada trilha.
Metodologia
O local do estudo foi o Circuito das Águas, roteiro turístico do Parque Estadual
do Ibitipoca – MG, formado pelas trilhas Cachoeira dos Macacos, Lago dos Espelhos e
Retorno Cachoeira dos Macacos.
Para avaliar o nível de interferência antrópica que as trilhas apresentavam, a
caracterização ambiental teve como suporte a observação direta, anotações de campo
e fotografias das áreas impactadas. Realizou-se um total de cinco dias de trabalho de
campo, entre os meses março e abril de 2006.
Foram levantados pontos, ao longo das trilhas, georeferenciados por receptor
GPS (modelo Garmim Map 60 CS), identificando-se, em cada ponto, impactos físicos
e biológicos. Trechos com problemas de erosão, alagamento, condições de
acessibilidade (média e ruim) foram medidos com utilização de trena. Para contabilizar
os metros com problemas de erosão, dividiu-se as trilhas em seções. Os pontos de
início e término das seções foram marcados com GPS.
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Dentro dessas seções foram observados os impactos físicos: pontos de
alagamentos, pontos de erosão, áreas com solo exposto, solo compactado,
estreitamentos, bifurcações e afundamentos de trilha. Observou-se também impactos
biológicos: existência de raízes arbóreas expostas, árvores danificadas e presença de
espécie exótica de gramínea (vide tabelas 1, 2 e 3 com as anotações de campo).
Para estimar o tempo gasto no percurso das trilhas, utilizou-se de cronômetro.
Tabela 1.:
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Tabela 2.:
Tabela 3.:
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Figura 2 Figura 3
Figura 4
Resultados e discussão
Os solos e a vegetação são fortemente afetados ao logo das trilhas, caminhos,
áreas de acampamento e outros lugares onde o uso é concentrado. Os solos sofrem
mudanças nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas, podendo ser
fortemente erodidos ou compactados. As plantas sofrem danos nas suas estruturas
e/ou morrem, havendo redução na abundância e mudanças na composição da
comunidade, com algumas espécies desaparecendo e outras podendo ser favorecidas
(HAMMITTD & COLE apud SILES, 2003).
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Fotos 1 – 4:
1. Estreitamento de trilha,
encoberta por vegetação;
2. Aclive acentuado;
3. Árvore impedindo o livre
percurso, afundamento de
trilha;
4. Alagamento, empoçamento
de água pluvial.
Fotos 5 – 9:
5. Acessibilidade média;
6. Presença de Melinis
minutiflora (nome vulgar: capim
gordura), espécie exótica de
gramínea, encontrada em
áreas degradadas;
7. Ponte de difícil acesso ao
Lago dos Espelhos;
8. Erosão e pisoteamento;
9. Abertura de trilha
secundária; alagamento (solo
encharcado)
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Os dados obtidos na pesquisa de campo, demonstram a fragilidade do
ecossistema das trilhas devido ao uso indiscriminado pelos visitantes do parque (vide
tabelas na metodologia).
Os problemas ambientais observados ao longo das trilhas servem como
fatores de correção, aplicados a cálculos de capacidade de carga.
A presença da gramínea exótica Melinis minutiflora, sinaliza um ambiente
degradado. Para MARTINS et al. (2004) a invasão de espécies exóticas representa
um grave problema para o funcionamento dos ecossistemas e ameaça a diversidade
vegetal em unidades de conservação.
SEABRA (1999) destaca a escassez de trabalhos referentes aos impactos
ambientais em unidades de conservação no Brasil e ressalta igual deficiência no
estudo dos impactos causados pela utilização indiscriminada das trilhas presentes em
ambientes protegidos. O presente estudo, em trilhas do Parque Estadual do Ibitipoca,
vem a somar e contribuir com demais pesquisas recentes sobre impactos em áreas de
uso público, desenvolvidos por vários autores. Takahashi et al. (2005), avaliou os
principais indicadores ecológicos em um Parque Estadual do Paraná, selecionando os
que melhor representavam efeitos relevantes, através de análises de solo e
regeneração natural de espécies vegetais. Magro (1999) identifica os impactos na
vegetação e solo ao longo da trilha, analisa fatores naturais e administrativos, além de
analisar a efetividade do fechamento da trilha ao uso público, como técnica de manejo.
Os impactos ecológicos, observados neste estudo, podem ser classificados em
duas categorias: os relacionados ao planejamento e os relacionados ao visitante.
Problemas de drenagem e nas vias de acesso (pontes e degraus) mal conservadas e
erosão, em alguns trechos, são devido ao incorreto planejamento e falta de manejo e
manutenção das trilhas. A compactação do solo, devido ao pisoteio intenso e abertura
de novas trilhas, além de erosão pelo desgaste do solo com a caminhada estariam
relacionados ao uso público pelas pessoas que freqüentam o parque.
Fale ressaltar também a fragilidade do solo, a qual é demostrada em alguns
trechos de erosão encontrados. LADEIRA (2005), afirma haver uma limitação quanto à
capacidade de pisoteio que os solos do Parque Estadual do Ibitipoca podem suportar,
devido ao predomínio da classe textural areia.
Segundo SILES (2003) os problemas de erosão podem acontecer em terrenos
com pouca ou nenhuma declividade, devido à maior dificuldade na drenagem,
provocando também o aumento da largura das trilhas e a criação de trilhas
alternativas, devido à tendência das pessoas saírem da trilha principal pela dificuldade
ao caminhar. Neste estudo, as observações diretas de campo constataram esse fato,
além dos processos erosivos serem provocados pelo uso público dos turistas.
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Para tanto, seria interessante a inclusão de análises que contemplem de forma
mais abrangente a exposição do solo às trilhas. Assim sendo, uma dentre várias
outras ferramentas é a utilização da Equação Universal de Perda de Solos – EUPS,
expressa pela relação:
Onde,
EI = Média mensal do índice de erosão
p = precipitação média mensal em milímetros
P = precipitação média anual em milímetros
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fim de avaliar e minimizar as alterações físicas e biológicas do meio. Devem-se
respeitar o deslocamento e hábitos dos animais silvestres, controlar o processo
erosivo, organizar um sistema de drenagem da água e sinalizar vias de acesso, bem
como considerar os impactos devido ao uso público das trilhas, sejam eles positivos
ou negativos.
LECHNER (2006) realiza um panorama geral do estudo de trilhas e aborda
itens sobre planejamento, implantação e manejo. Para controlar os problemas
ambientais, o manejo e a manutenção de trilhas devem ser freqüentes, uma vez que o
ambiente natural é dinâmico. Uma das ações para monitorar o uso é promover,
quando necessário, a mudança do traçado, o fechamento permanente ou temporário,
a abertura e/ou fechamento de canais de drenagem, a revegetação, a contenção de
processos erosivos, a reposição de solo perdido, a limpeza do local através da
remoção de árvores caídas ao longo do caminho, lixo, pedras, dentre outros. Técnicas
de manejo em trilhas correspondem às de mínimo impacto, as quais impõem
limitações à quantidade de uso, tempo de permanência, tamanho dos grupos e
restrição de alguns locais de uso.
Impactos localizados podem causar danos a espécies raras ou ameaçadas de
extinção, prejudicar ou diminuir o bem–estar dos ecossitemas (BARROS, 2003). No
entanto, é necessário conhecer a origem dos impactos e os fatores relacionados à sua
ocorrência (causas). Deve-se avaliar, periodicamente, a complexidade e
características do distúrbio, bem como o tipo, intensidade, duração e freqüência deste.
E, a partir dessa perspectiva, aplicar técnicas mais precisas de avaliação dos impactos
e promover metodologias alternativas à restauração ecológica do ecossistema
degradado, conforme propõe KAGEYAMA et.al. (2006).
Considerando que a avaliação do impacto ecológico não deve se restringir ao
meio ambiente físico, a preocupação com o tipo e comportamento do visitante deve
ser incluída. Uma alternativa é a implantação de um Programa de Educação do
Visitante voltado para prática de técnicas de mínimo impacto, mudanças de atitude
com relação à não abertura de trilhas secundárias e à manutenção das já existentes.
Conclusão
É fundamental o papel da pesquisa básica, quantificando e apontando os
impactos nos diferentes recursos, fornecendo dados para a seleção de indicadores e
padrões adequados de uso recreativo dos recursos naturais e monitoramento da área
natural protegida. Para tanto, é de primordial importância estabelecer a relação entre
impactos do uso público, comportamento dos visitantes e estratégias de manejo.
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Com o aumento do fluxo de turistas, as atividades desenvolvidas em áreas
protegidas requerem planejamento e estudo para o manejo dos visitantes. Além disso,
é essencial a determinação e o monitoramento dos impactos produzidos pela prática
do ecoturismo, bem como a definição de limites de uso.
É primordial que esteja bem definida a perspectiva de preservação e
sustentabilidade focada no ecoturismo, aliando crescimento e minimização de
impactos ambientais. Desta forma, mostra-se a necessidade de um manejo adequado
das trilhas e manutenção de sua integridade ambiental e de uso público. Bem como a
promoção de uma restauração ecológica de ambientes degradados, de modo a
estabelecer a integridade do ecossistema e sua auto-sustentabilidade.
Referências Bibliográficas
BARROS, M.I.A. Caracterização da visitação, dos visitantes e avaliação dos
impactos ecológicos e recreativos no Planalto do Parque Nacional do Itatiaia.
2003. 121 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais). Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo, Piracicaba –SP.
COLE, D.N. Biophysical impacts of wildland recreation use. In: GARTNER, W.C.,
LIME, D.W. (ed). Trends in outdoor recreation, leisure and tourism. New York: CABI
Publishing, cap. 23, 2000. 257-264 p.
KAGEYAMA, P.Y.; OLIVEIRA, R.E.; MORAES, L.F.D.; ENGEL, V.L. & GANDARA,
F.B. (Orgs.) Restauração Ecológica de ecossistemas naturais. Botucatu: FEPAF,
2003. 340p.
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RODRIGUES, A. B.(org). Turismo e Ambiente: Reflexões e propostas. 2ª ed. São
Paulo: Hucitec,1999.
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