Processo e procedimento tecnicamente não se confundem.
O processo corresponde a um sistema voltado a compor a lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público. É um complexo de atividades que se desenvolvem tendo por objetivo uma prestação jurisdicional. Temos uma sucessão ordenada de atos dentro de modelos previstos em lei que são os procedimentos. O processo é então instrumento de que se utiliza o Estado para outorgar a prestação jurisdicional. É um instrumento através do qual se opera a jurisdição. O processo não se desenvolve do mesmo modo em todos os casos; exterioriza-se de maneira diferente dependendo das peculiaridades da pretensão do autor e da defesa do réu. Uma ação de cobrança não se desenvolve do mesmo modo que uma ação de prestação de contas ou de consignação em pagamento. O modo próprio de desenvolver-se o processo conforme a exigência de cada caso é exatamente o procedimento, ou seja, o rito. A cada tipo de processo corresponde a mais de um procedimento. O procedimento corresponde então a maneira pela qual os atos se desenvolvem no processo. É a forma material com que o processo se realiza em cada caso concreto. É o aspecto formal do processo. Autos correspondem à materialidade dos documentos em que se corporificam os atos do procedimento. O correto, portanto, é falar em “arquivamento dos autos do processo” e em “fases do procedimento”.
Processo e Procedimentos de Cognição
Tendo em vista o conteúdo da prestação jurisdicional, o processo pode
ser de conhecimento, de execução e cautelar.
Processo de conhecimento: tem por finalidade a decisão sobre uma
lide e se encerra, em princípio, com uma sentença de mérito. As partes buscam então um julgamento com a declaração do direito material aplicável ao caso concreto. O juiz irá conhecer nas alegações das partes e das provas produzidas emitindo um pronunciamento final sobre a lide. A sua função é precipuamente declaratória. O processo de conhecimento se subdivide de acordo com a natureza do provimento pretendido pelo autor. Pode ser: meramente declaratório, condenatório ou constitutivo. - Processo meramente declaratório: a simples declaração judicial já esgota a finalidade da ação. Ex.: ação declaratória de nulidade de negócio jurídico, usucapião, investigação de paternidade, etc. (art. 4°, CPC); Art. 4o O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência ou da inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de documento. Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.
- Processo condenatório: temos a declaração do direito aplicável mais a
imposição de uma sanção. O juiz determina o cumprimento de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia atribuindo um título executivo ao vencedor da demanda (art. 475-I, CPC); Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo. § 1o É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo. § 2o Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.
- Processo constitutivo: temos a declaração do direito aplicável mais uma
inovação específica no mundo jurídico. O provimento jurisdicional cria, extingue ou modifica um estado ou uma relação jurídica. Ex.: ação de rescisão de contrato, de divórcio, separação judicial, de anulação do negócio jurídico por vício do consentimento, etc.
Processo de execução: visa à satisfação de uma obrigação expressa em
título produzido em processo de conhecimento (ver títulos executivos judiciais – art. 475-N, CPC) ou em negócio jurídico documentado (ver títulos executivos extrajudiciais – art. 585, CPC). Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV – a sentença arbitral; V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal. Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso. Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores; III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida; IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio; V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial; VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. § 1o A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução. § 2o Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para serem executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação. A idéia é alcançar a realização concreta do direito material emergente do título executivo. Não se busca, portanto, uma sentença de mérito, mas atos materiais voltados à solução do direito de crédito.