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LESÃO CORPORAL
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O art. 129 do Código Penal define assim o crime de lesão corporal: “ofender a
integridade corporal ou a saúde de outrem”.
Se a morte deste é tipificada como crime de aborto, evidente que não há razão para
não considerar crime também a ofensa a sua integridade corporal ou a sua saúde. Evidente,
pois, que também o ser em formação possui uma integridade corporal que sustenta sua
vida. Se esta é protegida, aquela também o é. E assim deve ser porque importa, para a
sociedade, a proteção dos seres humanos em formação não somente contra ações que o
destruam, mas também aquelas que o lesionam em sua integridade corporal ou que
danificam sua saúde.
gestante. Ainda porque é perfeitamente possível uma lesão atingir tão-somente o feto,
deixando íntegro o corpo ou a saúde da gestante.
Ser em formação, no útero materno, é um ser distinto da mãe que o carrega. É bem
jurídico outro, merecedor de proteção própria. É protegido enquanto ser, não por estar
dentro de outro ser e deste dependente. É protegido porque é o ser humano vivo em seu
primeiro estágio de desenvolvimento. Não fosse assim, o auto-aborto seria impunível,
porque nosso Direito, em regra, não pune a autolesão.
Se é certo que ao ferir o feto o agente poderá estar igualmente ferindo a gestante,
não menos correto é ver, aí, duas ofensas distintas, ainda que causadas por uma única
ação, a dois bens jurídicos diversos, ainda que unidos, umbilicalmente, no sentido lato e no
sentido estrito, caso em que, induvidosamente, dois crimes terão ocorrido, ainda que em
concurso formal, perfeito ou imperfeito, conforme tenha sido o dolo do agente.
A expressão outrem empregada no art. 129 tem amplitude maior que a expressão
alguém do art. 121, para abranger não somente o ser humano já nascido, mas também
aquele em formação. Significa outro ser humano em seu sentido mais amplo, o em
formação e o já formado.
Por isso, o crime de lesão corporal é a ofensa, física ou moral, direta ou indireta,
comissiva ou omissiva, à integridade do corpo ou à saúde de outro ser humano vivo,
nascido ou em formação.
A ofensa contra o corpo morto de um ser humano pode constituir outro crime, o do
art. 211 do Código Penal, não o de lesão corporal.
Sujeito passivo é o ser humano vivo, quando a ofensa atinge o nascido. Nas formas
qualificadas pelo resultado, descritas nos incisos IV do § 1º e V do § 2º do Código Penal, o
sujeito passivo será, necessariamente, a mulher gestante. Quando a ofensa recair sobre o
ser humano em formação, sujeito passivo é a coletividade, a sociedade, o Estado, o
interesse estatal na preservação da integridade corporal ou da saúde do ser humano em
formação.
Agressões físicas com a utilização do próprio corpo do agente, como o golpe de mão
desferido contra o rosto do outro, ou com o uso de objeto cortante, perfurante ou
contundente, desfechado contra o corpo da vítima, enfim, a força física empregada contra o
corpo, são ações que atingem a integridade e o equilíbrio mental do ser humano,
produzindo alterações em sua estrutura normal.
Não é indispensável que a conduta produza dano anatômico, nem tampouco que
cause dor.
segundo o qual o direito penal só intervém quando necessário para a proteção do bem
jurídico, não se ocupando de lesões de ínfima importância.
Entre a conduta e o resultado deve haver nexo de causa e efeito, sem o qual não se
poderá atribuí-lo ao agente. Valem, a propósito, os comentários feitos a respeito dos crimes
contra a vida.
No caput do art. 129 está tipificada a lesão corporal leve. É a ofensa pura e simples
à integridade corporal ou à saúde de outro ser humano vivo. Nascido ou não nascido. A
pena cominada é detenção, de três meses a um ano. Crime de menor potencial ofensivo, é
permitida a transação e a suspensão condicional do processo penal, nos termos do que
dispõe a Lei nº 9.099/95.
O que distingue a lesão de natureza leve das demais lesões corporais é a quantidade
e a qualidade do resultado.
O Código Penal não fez a distinção entre lesão grave e lesão gravíssima, uma vez
que reuniu, sob a única rubrica “lesão corporal de natureza grave”, os §§ 1º e 2º do art.
129, os quais contêm resultados diversos.
Haverá lesão corporal grave quando a conduta ofensiva do agente produzir um dos
seguintes resultados, os quais constituem circunstâncias objetivas qualificadoras do tipo
fundamental:
b) perigo de vida;
d) aceleração de parto.
A lei não faz qualquer consideração sobre a cura do ferimento, pois pode ocorrer,
não obstante a cura, encontrar-se a vítima ainda inabilitada para suas funções normais ou
não estar curada plenamente e poder exercê-las normalmente.
O Código Penal não faz diferença, na cominação das penas, entre crimes
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A medicina legal afirma que são inúmeras as situações que configuram casos de
perigo de vida:
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Não podia ser diferente. Se o ofensor considerar que sua conduta poderá causar um
perigo de vida e mesmo assim atuar, estará comportando-se com indiferença em relação ao
resultado morte, porque a simples situação de perigo concreto para a vida é o antecedente
da morte e ninguém irá admitir que alguém possa agir com um dolo assim tão preciso e
limitado, de apenas causar o perigo de vida e não a morte.
Ainda que, em sua psique, o agente possa ter almejado apenas o perigo de vida, é
inegável que, em relação ao evento morte, terá agido com dolo eventual, pois quem deseja
um perigo de vida está, necessariamente, aceitando a morte, se ela eventualmente
acontecer.
São membros do corpo humano: o braço, o antebraço, a mão, a coxa, a perna e o pé,
os quais exercem funções motoras. Os três primeiros, superiores, servem para a o exercício
das funções de tateio e de pressão, os demais, inferiores, para a deambulação – andar,
correr – e a sustentação do corpo.
A perda de um único dente por quem tem dentição completa não significará
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debilidade da função mastigatória, porém, para a vítima que dispõe de não mais que meia
dúzia de dentes, a lesão será grave, pois restará comprometida essa capacidade funcional.
Nessa modalidade, pode o agente agir com dolo ou apenas com culpa quanto ao
resultado mais grave, devendo o juiz, se reconhecer um crime integralmente doloso, no
momento da aplicação da pena, considerar mais reprovável a conduta, diferentemente de
quando se tratar de crime preterdoloso.
A lesão causada pelo agente deve atuar no sentido de provocar o início do parto, que
não ocorreria naturalmente, nem por ação médica, como é o caso do parto cirúrgico.
Traumatismos sobre o abdômen podem constituir a causa eficiente para o
desencadeamento do parto.
Se não sabia da gravidez, nem podia saber, não responderá pelo resultado mais
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grave, porque este deve estar abrangido por dolo ou, pelo menos, por culpa, conforme
determina o art. 19 do Código Penal.
Não tenho dúvidas quanto a esta conclusão. Não lhe sendo possível alcançar ou
atingir a consciência da gravidez, terá agido por erro de tipo inevitável, que exclui o dolo e
a culpa, e ninguém pode responder por resultado mais grave por mero nexo causal. Se o
erro de tipo for evitável, responderá pelo resultado mais grave, porque, nas condições em
que atuou poderia, com cuidado, conhecer a gravidez. E aí, poderia ter evitado o resultado
mais grave.
a) se o ser em formação morre antes do nascimento, haverá lesão corporal gravíssima (art.
129, § 2º, V), quando o agente não tiver agido dolosamente em relação à morte do ser em
formação. Se tiver agido dolosamente em relação a sua morte, será caso de aborto sem o
consentimento da gestante;
lesão corporal seguida de morte contra o recém-nascido (art. 129, § 3º, do Código Penal). É
que não se pode negar que sua conduta, inaugurando um processo causal lesivo ao corpo
ou à saúde da gestante, atingiu, igualmente, a integridade corporal e a saúde do ser em
formação, o qual, apesar de ter nascido com vida, não resiste às lesões sofridas ou aos
danos à sua saúde, causados com o início precoce e conclusão do parto. Com uma só ação,
terá cometido dois crimes;
d) se, porém, quando o ser nasce vivo e morre por causa da aceleração do parto, o agente
tiver agido com o fim de acelerá-lo com vistas na produção da morte do ser em formação,
ou apenas aceitando-a, se ela ocorrer, será caso de concurso formal imperfeito entre a lesão
corporal grave, contra a gestante, e um homicídio doloso, contra o nascente ou neonato.
largo tempo, não ter a possibilidade de trabalhar. Deve perder, por tempo longo, a
capacidade, física ou psíquica, de exercer atividade laboral lucrativa. Essa incapacidade
deve decorrer, necessariamente, da lesão corporal ou do dano à saúde causado pela
conduta do agente.
Penso que outra deve ser a interpretação, para considerar gravíssima a debilitação
permanente da função tátil do dedo do pianista profissional ou da mão do escultor
renomado. A interpretação da norma penal deve ser gramatical e, também e
principalmente, teleológica. Se a lei tivesse como fim tratar apenas da incapacidade para
exercer qualquer atividade laborativa, teria utilizado a locução “incapacidade permanente
para trabalhar”. Usou “incapacidade permanente para o trabalho”, empregando o artigo
definido. Quisesse ampliar, não definiria. Restringiu, portanto, o alcance da palavra
empregada. Não quer alcançar qualquer atividade laborativa, mas “o” trabalho. Qualquer
trabalho? Não, a lei quis dizer “o” trabalho da vítima, sua atividade laborativa. Por quê?
É crime preterdoloso. O agente, com dolo de causar lesão corporal simples, dá, por
culpa, causa a esse resultado mais grave.
Inegável que a Aids é uma doença incurável. Até pouco tempo atrás, capaz de levar
à morte em pouco tempo, inexoravelmente. Os avanços científicos têm alterado esse
quadro. A Aids é, hoje, apesar de incurável, uma doença perfeitamente controlável. Não
pode, mais, ser considerada o meio mais adequado e eficaz para causar a morte de alguém.
Desse modo, não se pode ver, necessariamente, na conduta dolosa de quem a transmite a
vontade de matar.
Todavia, é possível ver aí pelo menos o dolo eventual, pois, conhecendo a gravidade
e incurabilidade da doença, o agente, mesmo sabendo não ser a morte inevitável e
imediata, mas apenas possível, pode, ao agir, ter consentido na morte, se ela,
eventualmente vier a acontecer.
Se, entretanto, a enfermidade não causar a morte da vítima, que sobrevive por
muito tempo, haverá tentativa de homicídio ou lesão corporal gravíssima?
Essa figura típica pode ser cometida tanto na forma dolosa quanto
preterdolosamente. O agente pode, desde o início, ter desejado a perda de um membro ou
simplesmente causá-la por negligência, imprudência ou imperícia.
É estético o dano que prejudica a beleza do corpo, afetando, pois, a saúde física e
A sua visibilidade deve ser compreendida, nos tempos de hoje, de forma mais
ampla, seja porque a vida contemporânea permite que as pessoas cada vez mais exponham
seu corpo de modo mais livre, não só em praias, clubes, mas no próprio dia-a-dia, seja
ainda porque nas mais íntimas relações interpessoais a exterioridade da beleza ou da
normalidade do corpo é importante elemento contributivo para a convivência social.
Penso que, nas duas situações, o tratamento penal deve ser o mesmo. Não será
porque a vítima, por iniciativa própria e arcando com os custos e o sofrimento de qualquer
intervenção cirúrgica, tiver reparado o dano causado pelo agente, que este deverá ser
beneficiado.
Se o fim da norma é punir mais severamente o agente pelo resultado mais grave
efetivamente causado, pouco importa que este tenha sido, depois, reparado ou tenha sido
ocultado. A reparação do dano não tem o poder de elidir a aplicação da norma penal
proibitiva. Mormente quando efetuada pela própria vítima. Não poderá, jamais, afetar a
tipicidade, beneficiando o infrator da norma.
6.4.1.3.5 Aborto
É gravíssima a lesão corporal da qual resulta aborto. Essa é modalidade típica que
exige seja a vítima mulher grávida. Aborto é a interrupção da gravidez com morte do ser
humano em formação. Dele já se falou (Capítulo 4).
É necessário que ele tenha pelo menos a possibilidade de conhecer o estado gravídico
da mulher. Se não sabia nem lhe era possível saber da gravidez, não poderá ser
responsabilizado pelo resultado que, nessas circunstâncias, é imprevisível e, portanto,
inevitável. Haverá, nesse caso, erro de tipo inevitável, que exclui o dolo e a culpa, ainda que
haja nexo causal entre conduta e resultado mais grave.
a) lesão corporal gravíssima, quando, mesmo tendo previsto o aborto, não o tiver desejado,
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nem consentido, pois nesse caso o resultado mais grave terá sido produzido culposamente,
com culpa consciente. Se não o tiver previsto, haverá culpa inconsciente na produção do
aborto;
Não se pode confundir o aborto qualificado por lesão corporal grave com a lesão
corporal qualificada pelo aborto. Ambos são crimes preterdolosos, em ambos há resultado
duplo, aborto e lesão corporal grave, mas são diferentes. No primeiro, o dolo é de provocar
aborto, e no segundo o aborto é provocado culposamente. Naquele, o aborto é doloso,
nesse é culposo. No primeiro, a conduta visa ao aborto; no segundo, busca a lesão corporal.
Com a revogação, deu-se a abolitio criminis em relação ao tipo do art. 13, II, mas, no
art. 27 da nova lei está a seguinte descrição:
..........................
§ 2° Agrava-se a pena:
.......
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III – da metade até 2/3, se resultar lesão corporal de natureza grave em outrem;”
As lesões graves e gravíssimas que resultarem do fato, serão punidas com pena de 1 a
4 anos, aumentada de metade até 2/3.
São essas as mesmas formas qualificadas pelo resultado, porém com pena maior
que as cominadas no art. 129. A maior sanção decorre do maior desvalor da conduta, que
deve ser a de remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa, em desacordo com a
Lei nº 9.434/97.
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As regras impostas para a remoção estão contidas no art. 9º da mesma lei, e são as
seguintes:
§ 1º (VETADO)
§ 2º (VETADO)
integral das normas da Lei nº 9.434/97 e, ainda assim, ocorrer um dos resultados mais
graves, o fato se ajustará a um dos tipos do art. 129, pois no tipo fundamental da lei
especial há um elemento normativo que é a inobservância das normas do seu art. 9º.
Quando o sujeito quer concorrer para um crime menos grave e o outro realiza crime
mais grave, aquele responderá pelo delito que desejou, mas se o resultado mais grave lhe
tiver sido previsível, ainda quando não o preveja, a pena será aumentada até metade (§ 2º
do art. 29 do Código Penal). Provando-se que um dos sujeitos desejou realizar lesão leve e
o outro acabou por exceder-se produzindo lesão grave ou gravíssima, aquele responderá
pelo crime que pretendeu realizar, aumentando-se a pena, até metade, se o resultado mais
grave lhe era previsível.
Provocando várias lesões na mesma vítima, num mesmo contexto, haverá crime
único. A não ser quando, encerrado e concluído um procedimento típico, após um tempo
razoável, voltar a agredi-la, então cometerá um segundo crime. Haverá concurso material
ou crime continuado, se preenchidos os requisitos deste.
Se, porém, realiza uma única conduta atingindo várias vítimas, haverá concurso
formal.
É indispensável que a morte seja previsível e, por isso, evitável. E o agente deve,
necessariamente, ter atuado com inobservância do dever de cuidado objetivo. Se queria
apenas ferir, deveria ter adotado as cautelas para que sua conduta não produzisse mais. Se
a morte for imprevisível, não poderia ser evitada e por ela o agente não pode responder.
Caso concreto interessante foi o ocorrido em Brasília, tempos atrás, quando jovens,
numa madrugada, atearam fogo a um índio que dormia numa parada de ônibus,
resultando a sua morte, em conseqüência das queimaduras provocadas. Denunciados pela
prática de homicídio com dolo eventual, acabaram assim condenados, mas dúvidas ainda
persistem quanto à possibilidade de ter havido, efetivamente, lesão corporal seguida de
morte.
Não penso que seja assim tão simples a resposta. O dolo é puramente psicológico. É
previsão e vontade. Não é só pelo fato de alguém poder prever um resultado, que o terá
feito. Nem sempre o resultado previsível é previsto. Se era previsível que as queimaduras
provocadas pela conduta pudessem levar à morte, e é certo que era previsível, nem por isso
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se pode afirmar que os agentes a previram realmente. Assim como aquela conduta pode
produzir queimaduras que levam à morte, pode, também, produzir queimaduras que
apenas lesionam partes ou órgãos do corpo. A previsibilidade da lesão corporal é mais
presente que a da morte. Possível, portanto, plenamente, que o agente realize apenas a
primeira previsão.
A Lei n° 11.105/2005:
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§ 2° Agrava-se a pena:
A Lei nº 9.434/97:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa de 100 (cem) a 360 (trezentos e
sessenta) dias-multa.
Ao cominar pena igual para homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte,
ainda quando a conduta desta seja mais reprovável, a lei acabou por reprovar, igualmente,
condutas dolosas e condutas culposas. Um absurdo. Pior ainda quando, no § 4º do art. 14
da Lei nº 9.434/97, cominou pena mínima de oito anos para uma lesão corporal seguida
de morte, superior à pena mínima do homicídio simples. É verdade que tal pena mínima é,
ainda, inferior à pena mínima do homicídio qualificado, todavia, tendo cominado a pena
máxima em 20 anos, igual à do homicídio simples, não atendeu ao princípio da
proporcionalidade, criando, assim, uma cominação monstruosa.
É que, na lesão corporal seguida de morte, o dolo não é o de matar, mas de lesionar
a integridade do corpo ou danificar a saúde da vítima. Ainda que mais grave essa conduta,
por constituir remoção de órgão, tecido ou parte do corpo humano vivo, para fins de
transplante, jamais poderia ser equiparada à conduta do que deseja a morte de alguém.
Assim, lesões corporais leves, graves, gravíssimas e seguidas de morte podem ter
sido cometidas sob o domínio de violenta emoção logo em seguida à injusta provocação da
vítima, ou por motivo de relevante valor moral ou social.
Cuidando-se de lesões corporais de natureza leve (art. 129, caput), e somente delas,
se incidir uma das circunstâncias privilegiadoras do § 4º, isto é, tratando-se de lesão
corporal leve privilegiada, o juiz, além de diminuir a pena, de um sexto a um terço, poderá,
a seu critério, substituir a pena de detenção pela pena de multa (art. 129, § 5º, I).
Lei n° 10.886, de 17 de junho de 2004 introduziu, no art. 129, sob o nomen iuris
“violência doméstica”, o § 9°, o qual foi modificado pela Lei n° 11.340/2006, ficando assim
a sua redação:
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Assim, praticada uma lesão corporal leve, presente qualquer dessas circunstâncias, a
pena será detenção de seis meses a um ano.
agente realizar uma conduta voluntária, com inobservância do dever de cuidado objetivo,
causando um resultado não desejado nem aceito, previsível e, por isso, evitável.
O Código de Trânsito, Lei nº 9.503/97, criou, no art. 303, o tipo de lesão corporal
culposa na direção de veículo automotor, com pena de detenção de seis meses a dois anos,
o dobro da lesão corporal simples, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
A respeito dessa forma especial de lesão corporal culposa, reitera-se aqui o que se
disse no item 1.3.3, acerca do homicídio culposo na direção de veículo automotor, criado
pelo mesmo Código de Trânsito, inclusive quanto às causas especiais de aumento de pena.
São as regras dos §§ 7º e 8º do art. 129. Esse tema foi abordado com detalhes nos
itens 1.3.2 e 1.3.6.
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6.10 ILICITUDE
Nos crimes de lesões corporais, a verificação da ilicitude se faz, tanto quanto nos
crimes de homicídio, pelo mesmo raciocínio por exclusão. Presente uma excludente de
ilicitude, o fato, apesar de típico, será lícito.
Assim igualmente o furo na orelha da filha, para pendurar o brinco, não é lesão
corporal lícita, mas fato atípico por força do mesmo princípio, que também exclui a
tipicidade das lesões cometidas nos esportes violentos, como o boxe e até o futebol, desde
que razoáveis e adequadas aos limites permitidos pelas regras desses esportes.
Também serão lícitas as lesões provocadas pelo agente a fim de impedir o suicídio
da vítima (art. 146, § 1º e § 3º, II), porque nesse caso o constrangimento não é ilegal, ainda
quando empregada violência, dentro, é óbvio, dos limites da necessidade dos meios.
6.11 CULPABILIDADE
A propósito, sugere-se a leitura dos itens 1.2.14 e 1.3.5, que tratam dos homicídios
dolosos e culposos inculpáveis, os quais, naquilo que couber, também devem incidir nas
várias hipóteses de lesões corporais. Aqui também é possível a exclusão da culpabilidade
por atuar o agente no exercício regular de direito putativo.