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Carlos Biasotti

Crime Continuado
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2023
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de
São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB, AASP,
IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia Brasileira
de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte, Cultura e História,
etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor de
Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos Advogados
Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), Da Prova, Da Pena,
Direito Ambiental, O Cão na Literatura, etc., além de numerosos artigos
jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “ Brasil 500 anos”; medalha “ Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Crime Continuado
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Crime Continuado
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2023
São Paulo, Brasil
Exórdio

Instituto nascido da equidade, é o crime continuado uma “fictio


juris” destinada a evitar o cúmulo material de penas(1); o fim a que arma,
portanto, é favorecer o réu.

No crime continuado, mais do que a unidade de ideação,


prevalecem os elementos objetivos referidos no art. 71 do Código Penal e
a conveniência de remediar o exagero punitivo, que não corrige o
infrator, senão que o revolta e embrutece, por frustrar-lhe a esperança
de realizar, em tempo razoável e devido, o sonho de liberdade.

Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir


demasiado seu alcance, de arte que lhe impossibilite o reconhecimento;
antes lhe importa, de par com a preocupação da ordem jurídica e social,
atender à finalidade do instituto, convém a saber, evitar, sob o influxo
da equidade, o excesso da punição, pois meta do Direito Penal é
também a recuperação do infrator.

É certo que a reiteração criminosa e a habitualidade repugnam ao


reconhecimento da continuidade delitiva e, destarte, à unificação das
penas.

(1) Cf. José Frederico Marques, Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354;
Editora Saraiva; São Paulo.
10

Com efeito:

“É preciso não confundir reiteração de crimes com crime continuado,


pois a prevalecer a confusão, chegaríamos à negação da reincidência, e todo
delinquente profissional, ao fim de sua vida, teria praticado um único crime
continuado” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 84, p. 913; Min. Cordeiro
Guerra).

Não esqueçam, porém, ao Magistrado aquelas palavras das


Escrituras: “Noli esse justus multum” (Eccl., 7, 17), que o clássico Manuel
Bernardes pôs em vernáculo neste feitio: “Não queiramos ser justos com
nimiedade” (Nova Floresta, 1726, t. IV, p. 236).

O Autor
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de
Justiça: www.tjsp.jus.br).

• Crime Continuado
(art. 71 do Cód. Penal)

Voto nº 4249

Revisão Criminal nº 415.618/3


Art. 157, § 4º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
12

Voto nº 12.177

Apelação Criminal nº 993.07.080502-1


Arts. 213, 214 e 71 do Cód. Penal;
arts. 12 e 14 da Lei nº 10.826/03;
art. 226 do Cód. Proc. Penal

– Nisto de reconhecimento, o ponto está em que seja seguro. O exagerado


apego ao rito preconizado pelo art. 226 do Cód. Proc. Penal constitui, muita
vez, escusado tributo ao “frívolo curialismo”, que o sábio Francisco Campos
mandava proscrever, de férula em punho (cf. Exposição de Motivos do Código
de Processo Penal, nº XVII).
– A palavra da vítima de atentado violento ao pudor tem importância
inquestionável na apuração das circunstâncias do fato criminoso e na
identificação de seu autor. Exceto se os elementos de prova dos autos
demonstrarem que a ofendida mentiu, suas palavras servem de carta de
crença e, pois, justificam a edição de decreto condenatório (art. 214 do Cód.
Penal).
– Com a entrada em vigor da Lei nº 12.015, de 7.8.2009 — que alterou o Título
VI da Parte Especial do Código Penal —, foi revogado o art. 214 do Cód.
Penal, e a figura típica de que tratava (atentado violento ao pudor) fundiu-se
formalmente com a do art. 213, que define o estupro, crime contra a
dignidade sexual. As condutas que antes constituíam os delitos de atentado
violento ao pudor e estupro integram hoje um só e mesmo tipo penal, sob a
rubrica de estupro (art. 213 do Cód. Penal). Donde a inferência lógica
imediata: praticadas nas circunstâncias do art. 71 do Código Penal, as condutas
do art. 213 configuram delito continuado.
–“O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma fictio juris destinada a
evitar o cúmulo material de penas” (cf. José Frederico Marques, Curso de Direito
Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– A posse clandestina de arma de fogo, acessório ou munição, no interior de
residência, tipifica a infração do art. 12 da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do
Desarmamento), independentemente de perigo concreto.
13

– O autor de estupro (art. 213 do Cód. Penal), crime da classe dos hediondos,
deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por força do preceito do
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.

Voto nº 11.034

Apelação Criminal nº 990.08.087390-3


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 71 do Cód. Penal;
art. 1.196 do Cód. Civil

– Muita vez, o silêncio do acusado é a mais clara das explicações.


–“Para os chamados penalistas práticos, a confissão do acusado se equiparava à própria
coisa julgada, como ensinava Farinácio: Confessio habet vim rei judicatae” (José
Frederico Marques, Estudos de Direito Processual Penal, 1a. ed., p. 290).
– Nos casos de roubo, a palavra da vítima tem extraordinário valor e peso,
pois manteve contacto direto com seu autor, cuja punição unicamente lhe
interessa, não a de pessoa inocente.
– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu
alcance, tornando-lhe impossível o reconhecimento; antes lhe importa, de
par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio, pois
essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).
– A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena do
roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos casos em
que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante emprego de armas
de extraordinário poder vulnerante.
– Ordinariamente falando, ao autor de roubo é o regime fechado o que
mais lhe convém, como justa resposta por ter violado de frente regras
fundamentais da convivência humana.
14

Voto nº 1464

Agravo em Execução nº 1.141.095/4


Art. 71 do Cód. Penal

–“Instituto jurídico nascido da equidade, é o crime continuado uma fictio juris


destinada a evitar o cúmulo material de penas” (José Frederico Marques, Curso
de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354). O fim a que arma, portanto, é
favorecer o réu.
–“Por mais graves que tenham sido os crimes praticados, tem o acusado o direito à
esperança de um dia voltar ao convívio social e de sua família” (João Baptista
Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito Criminal, 2a. ed., p. 166).
– Todo homem é maior que sua culpa!

Voto nº 1140

Agravo em Execução nº 1.112.333/3


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 71 do Cód. Penal

– Para caracterizar a ficção de direito do art. 71 do Cód. Penal, é indispensável a


comprovação, dentre outros, do requisito da identidade dos participantes dos
crimes (“modus operandi”).
– À luz da Doutrina e da Jurisprudência, a pedra-de-toque do crime
continuado é que “os delitos tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se
das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas
da primitiva situação” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 1998,
p. 209), aliás haverá reiteração criminosa (que não continuidade delitiva).
15

Voto nº 249
Apelação Criminal no 1.046.623/0

Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;


art. 71 do Cód. Penal

– Árida e árdua questão doutrinária, não é desarrazoada a inteligência que


empresta a roubos praticados contra várias pessoas o cunho de crime
continuado, em vez de concurso formal.
– Tem toda a sentença algo de sagrado e grandioso, que a deve abroquelar de
frívolos impulsos de reforma.
– Ordinariamente falando, ao autor de roubo é o regime fechado o que
mais lhe convém, como justa resposta por ter violado de frente regras
fundamentais da convivência humana.
– Excepcionalmente, contudo, pode-se-lhe conceder o regime semiaberto,
como recompensa da confissão perante a autoridade, pois ainda no mais vil
dos homens é sempre nobreza reconhecer as próprias faltas e prometer
emendar a mão.

Voto nº 313

Agravo em Execução no 1.046.937/1


Art. 157 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– A pedra-de-toque do crime continuado, ao teor do preceito do art. 71 do


Código Penal, é tenham sido os delitos praticados pelo sujeito “mediante o
aproveitamento das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões
nascidas da primitiva situação” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
5a. ed., p. 198). Falhando tal circunstância, não haverá continuidade delitiva,
senão reiteração criminosa, que impede a unificação de penas.
16

Voto nº 440

Agravo em Execução nº 1.055.575/4


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Não haverá continuidade, mas simples reiteração criminosa, se os delitos


não forem praticados pelo sujeito “mediante o aproveitamento das mesmas
relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas da primitiva
situação” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 5a. ed., p. 198).

Voto nº 594

Apelação Criminal nº 1.068.615/1


Art. 158 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Para a realização do tipo do art. 158 do Cód. Penal, não faz ao caso eventual
obtenção da vantagem indevida, a qual já pertence para seu exaurimento. “O
crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”
(Súmula nº 96 do STJ).
– A figura da continuidade delitiva, prevista no art. 71 do Cód. Penal,
pressupõe as “mesmas relações e oportunidades, ou a utilização de ocasiões nascidas
da primitiva situação”, sua pedra-de-toque (cf. Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 5a. ed., p. 198).
– O regime prisional fechado é o que unicamente convém ao autor de crime
de suma gravidade, como o de extorsão, o qual, do mesmo passo que produz
funda comoção no organismo social, revela extrema vileza de caráter em
quem o pratica.
17

Voto nº 647

Agravo em Execução nº 1.076.109/3

Art. 158 do Cód. Penal;


art. 71 do Cód. Penal

– A pedra-de-toque do crime continuado, segundo o preceito do art. 71 do


Cód. Penal, é tenham sido os delitos praticados pelo sujeito “mediante o
aproveitamento das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões
nascidas da primitiva situação” (cf. Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
5a. ed., p. 198). Falhando tal circunstância, não haverá continuidade delitiva,
senão reiteração criminosa, o que obsta à unificação de penas.

Voto nº 36

Agravo em Execução nº 1.021.895/6


Art. 71 do Cód. Penal;
art. 197 da Lei de Execução Penal

–“Inadmissível é a outorga do benefício quando se trata de casos em que estão patentes


a perseveratio in crimine ou a consuetudo delinquendi, sobretudo porque tais
circunstâncias constituem motivo não do abrandamento da pena, mas sim de seu
agravamento, como indícios de periculosidade e da incapacidade de adaptação à
ordem legal” (Damásio E. de Jesus, Direito Penal Anotado, 1988, p. 527).
–“Criação doutrinária destinada a evitar o excesso de punição decorrente do tratamento
rígido conferido ao concurso real de infrações”, como o definiu Manoel Pedro
Pimental (Do Crime Continuado, 2a. ed., p. 114), o crime continuado não
deve ser estímulo nem acoroçoamento à prática de ações delitivas, o que se
dá sempre que medido por craveira demasiado generosa (art. 71 do Cód.
Penal).
18

Voto nº 5508

Apelação Criminal nº 421.494.3/4


Arts. 214, 214 e 14, nº 1I, do Cód. Penal;
arts. 28, § 1º, e 71 do Cód. Penal;
art. 2º, nº I, da Lei nº 8.072/90

– A mera alegação de falta de higidez psíquica do réu não basta a deferir-lhe


pedido de instauração de incidente de insanidade mental; é mister que o
verifique o Juiz à luz dos elementos informativos dos autos e, na condição de
presidente e diretor do processo, decida, com prudente arbítrio, se necessária
ou não a diligência, que importa sempre demora, muita vez escusada, na
prestação jurisdicional (art. 149 do Cód. Proc. Penal).
– A embriaguez, por álcool ou substância análoga, só é causa excludente de
culpabilidade quando completa, involuntária ou proveniente de caso fortuito
ou força maior (art. 28, § 1º, do Cód. Penal).
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– O autor de atentado violento ao pudor, delito da classe dos hediondos,
deve cumprir sua pena sob o regime integralmente fechado, por força do
preceito do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
19

Voto nº 7294

Agravo em Execução nº 891.884-3/8-00


Arts. 155,§ 4º, e 71 do Cód. Penal

– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu


alcance, de arte que lhe impossibilite o reconhecimento; antes lhe importa,
de par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“Viola o art. 71 do Código Penal o acórdão que, embora reconhecendo a concorrência
dos elementos da caracterização objetiva do crime continuado, que nele se adotou,
nega, porém, a unificação das penas, à base de circunstâncias subjetivas, quais os
antecedentes do acusado ou a ausência da unidade de desígnio” (Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 137, p. 772; rel. Min. Sepúlveda Pertence).
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio, pois
essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).

Voto nº 882

Agravo em Execução nº 1.096.181/1


Art. 71 do Cód. Penal

– A pedra-de-toque do crime continuado, à luz do art. 71 do Cód. Penal e da


jurisprudência dos Tribunais, é tenham sido os delitos praticados pelo sujeito
mediante o aproveitamento “das mesmas relações e oportunidades ou com a
utilização de ocasiões nascidas da primitiva situação” (cf. Damásio E. de Jesus,
Código Penal Anotado, 5a. ed., p. 198). Falhando tal circunstância, não haverá
continuidade delitiva, senão reiteração criminosa.
20

Voto nº 1077

Agravo em Execução nº 1.114.377/1


Art. 71 do Cód. Penal

– Para caracterizar a ficção de direito do art. 71 do Cód. Penal, é imprescindível a


comprovação, além de outros, do requisito da identidade dos participantes
dos crimes (“modus operandi”).
– À luz da Doutrina e da Jurisprudência, a pedra-de-toque do crime
continuado é que “os delitos tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se
das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas
da primitiva situação” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 1998,
p. 209), aliás haverá reiteração criminosa (que não continuidade delitiva).

Voto nº 1838

Agravo em Execução nº 1.178.939/6


Art. 71 do Cód. Penal

– O instituto da unificação de penas não pode ser aplicado com extremo


rigor, sob pena de deturpação de seu escopo: verdadeiro instrumento de
individualização da pena, destina-se a evitar o excesso de punição.
– A reiteração criminosa e a habitualidade obstam ao reconhecimento da
continuidade delitiva e, pois, à unificação das penas.
–“É preciso não confundir reiteração de crimes com crime continuado, pois a prevalecer a
confusão, chegaríamos à negação da reincidência, e todo delinquente profissional, ao
fim de sua vida, teria praticado um único crime continuado” (STF; Rev. Trim.
Jurisp., vol. 84, p. 913; Min. Cordeiro Guerra).
21

Voto nº 3670

Agravo em Execução nº 1.301.101/7


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.

Voto nº 3744

Apelação Criminal nº 1.307.555/0


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”


destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
22

Voto nº 2064

Agravo em Execução nº 1.194.569/2


Art. 71 do Cód. Penal

– O instituto da unificação de penas não pode ser aplicado com extremo


rigor, sob pena de deturpação de seu escopo: verdadeiro instrumento de
individualização da pena, destina-se a evitar o excesso de punição.
– A reiteração criminosa e a habitualidade obstam ao reconhecimento da
continuidade delitiva e, pois, à unificação das penas.
–“É preciso não confundir reiteração de crimes com crime continuado, pois a prevalecer a
confusão, chegaríamos à negação da reincidência, e todo delinqüente profissional, ao
fim de sua vida, teria praticado um único crime continuado” (STF; Rev. Trim.
Jurisp., vol. 84, p. 913; Min. Cordeiro Guerra).

Voto nº 2147

Revisão Criminal nº 352.786/4


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– A unidade de desígnios é a pedra-de-toque do crime continuado.


Caracteriza-se pela manifestação de vontade orientada para o mesmo intuito
criminoso (art. 71 do Cód. Penal).
– Conforme a lição de autores de primeira nota, para a configuração do crime
continuado faz-se mister idêntico “modus operandi”, isto é, que “os delitos
tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se das mesmas relações e
oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas da primitiva situação”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 228).
23

Voto nº 2271

Apelação Criminal nº 1.206.285/6


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– À luz da Doutrina e da Jurisprudência, a pedra-de-toque do crime


continuado é que “os delitos tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se
das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas
da primitiva situação” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 1998,
p. 209), aliás haverá reiteração criminosa (que não continuidade delitiva).

Voto nº 2243

Revisão Criminal nº 352.786/4


Arts. 155 e 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– A unidade de desígnios é a pedra-de-toque do crime continuado.


Caracteriza-se pela manifestação de vontade orientada para o mesmo intuito
criminoso (art. 71 do Cód. Penal).
– Conforme a lição de autores de primeira nota, para a configuração do crime
continuado faz-se mister idêntico “modus operandi”, isto é, que “os delitos
tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se das mesmas relações e
oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas da primitiva situação”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 228).
24

Voto nº 2659

Agravo em Execução nº 1.229.343/0


Art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).

Voto nº 3452

Apelação Criminal nº 1.288.835/7


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José Frederico Marques, “é o


crime continuado uma fictio juris destinada a evitar o cúmulo material de penas”
(Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– Mais do que a unidade de ideação, para o reconhecimento do crime
continuado importam os elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód.
Penal e a conveniência de evitar o exagero punitivo, que não corrige o
infrator, antes o revolta, com retirar-lhe a esperança do retorno breve à
comunhão social.
25

Voto nº 218

Agravo em Execução no 1.043.447/1


Art. 155 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro: este, o


traço mais conspícuo do crime continuado.
– Para tanto, além dos elementos de ordem objetiva, é mister concorra o de
índole subjetiva, a saber: unidade de resolução.
– Sem essas características, não há continuidade delitiva, mas simples
reiteração criminosa, que argui no agente a torpe malícia de quem faz do
crime profissão.

Voto nº 2031

Agravo em Execução nº 1.177.681/0


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Para caracterizar a ficção de direito do art. 71 do Cód. Penal, é imprescindível a


comprovação, além de outras condições, da idêntica maneira de execução dos
crimes (“modus operandi”).
– À luz da Doutrina e da Jurisprudência, a pedra-de-toque do crime
continuado é que “os delitos tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se
das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas
da primitiva situação” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 1998,
p. 209), aliás haverá reiteração criminosa (que não continuidade delitiva).
26

Voto nº 4685

Agravo em Execução nº 1.377.361/6


Arts. 155 e 71 do Cód. Penal

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”


destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.

Voto nº 10.524

Apelação Criminal nº 993.08.021192-2


Art. 71 do Cód. Penal

–“Quanto mais o sujeito se aproxima da consumação menor deve ser a diminuição da


pena (1/3); quanto menos ele se aproxima da consumação maior deve ser a atenuação
(2/3)” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 55).
–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José Frederico Marques, “é o
crime continuado uma fictio juris destinada a evitar o cúmulo material de penas”
(Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– Segundo a jurisprudência do STF, o art. 71 do Cód. Penal admite a aplicação
da teoria da ficção jurídica (ou continuidade delitiva) aos crimes dolosos
contra a vida; pelo que, homicídios praticados nas mesmas circunstâncias de
tempo, lugar e “modus operandi”, impõem a pena de um só deles, aumentada
até o triplo (cf. Rev. Tribs., vol. 788, p. 515; 813/535 e 763/549).
–“Para a configuração do crime continuado não é suficiente a satisfação das
circunstâncias objetivas homogêneas, sendo de exigir-se, além disso, que os delitos
tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se das mesmas relações e
oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas da primitiva situação”
(Damásio E. de Jesus, op. cit., p. 260).
27

Voto nº 11.414

Apelação Criminal nº 993.07.095590-2


Arts. 157, § 2º, ns. II e V, e 158, § 1º, do Cód. Penal;
arts. 26 e 71 do Cód. Penal;
art. 19 da Lei nº 6.368/76

– Embora viciado em drogas, não tem jus o réu à redução de penas do parág.
único do art. 26 do Cód. Penal, se o laudo médico-legal o considerou
absolutamente imputável.
– A confissão judicial do réu tem valor absoluto como meio de prova;
pela presunção de sua autenticidade, pode autorizar a edição de decreto
condenatório.
– Crimes da mesma espécie, o roubo e a extorsão, quando praticados nas
circunstâncias do art. 71 do Cód. Penal, configuram continuidade delitiva,
não concurso material de infrações. É desse número, portanto, o caso de
delinquentes que, após consumar o roubo, “forçam a vítima a acompanhá-los
à caixa eletrônica para sacar o dinheiro” (cf. Rev. Tribs., vol. 765, p. 572;
rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro).
– O regime prisional fechado é o que justamente convém ao condenado pela
prática de roubo, ainda que primário e de bons antecedentes. A natureza do
crime (que a sociedade ostensivamente aborrece) e a índole de quem o
comete (infensa aos padrões éticos normais) são as que o recomendam.
28

Voto nº 11.533

Agravo em Execução nº 990.08.0135545-7


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, 59 e 71 do Cód. Penal

– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu


alcance, de arte que lhe impossibilite o reconhecimento; antes lhe importa,
de par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“Viola o art. 71 do Código Penal o acórdão que, embora reconhecendo a concorrência
dos elementos da caracterização objetiva do crime continuado, que nele se adotou,
nega, porém, a unificação das penas, à base de circunstâncias subjetivas, quais os
antecedentes do acusado ou a ausência da unidade de desígnio” (Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 137, p. 772; rel. Min. Sepúlveda Pertence).
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio, pois
essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 5a. ed., p. 377).
– O aumento de pena “até o triplo”, previsto no parág. único do art. 71 do Código
Penal, não se admite senão naquelas hipóteses em que as circunstâncias
judiciais (art. 59) sejam de todo o ponto desfavoráveis ao réu, tocando ao
magistrado, conforme regra precípua de direito, o dever de motivar sempre a
fixação da pena acima do mínimo legal (1/6).
29

Voto nº 12.184

Embargos de Declaração nº 993.08.026956-4/5


Art. 71 do Cód. Penal;
art. 9º da Lei nº 8.072/90

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”


destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– Se até os crimes contra a vida admitem a “fictio juris” da continuidade, não há
razão atendível para negá-la nas hipóteses de crimes contra os costumes
praticados nas circunstâncias do art. 71 do Código Penal.
–“Aplica-se a regra do crime continuado quando da aplicação da pena pelo delito de
atentado violento ao pudor, se este foi praticado, embora contra várias vítimas, pelo
mesmo modus operandi” (Rev. Tribs., vol. 807, p. 592; rel. Celso Limongi).
30

Voto nº 10.524

Apelação Criminal nº 993.08.021192-2


Art. 71 do Cód. Penal

–“Quanto o mais o sujeito se aproxima da consumação menor deve ser a diminuição da


pena (1/3); quanto menos ele se aproxima da consumação maior deve ser a atenuação
(2/3)” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 55).
–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José Frederico Marques, “é o
crime continuado uma fictio juris destinada a evitar o cúmulo material de penas”
(Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– Segundo a jurisprudência do STF, o art. 71 do Cód. Penal admite a aplicação da
teoria da ficção jurídica (ou continuidade delitiva) aos crimes dolosos contra
a vida; pelo que, homicídios praticados nas mesmas circunstâncias de tempo,
lugar e “modus operandi”, impõem a pena de um só deles, aumentada até o
triplo (cf. Rev. Tribs., vol. 788, p. 515; 813/535 e 763/549).
–“Para a configuração do crime continuado não é suficiente a satisfação das
circunstâncias objetivas homogêneas, sendo de exigir-se, além disso, que os delitos
tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se das mesmas relações e
oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas da primitiva situação”
(Damásio E. de Jesus, op. cit. p. 260).

Voto nº 11.399

Agravo em Execução nº 990.08.134519-6


Arts. 213, 214, 255, § 1º, nº I, e § 2º, 61, nº II, e 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
31

Voto nº 11.697

Apelação Criminal nº 993.02.010099-7


Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90;
arts. 213, 214, 224, alínea a, 226, ns. II e III, 14, nº II, 59 e 71 do Cód. Penal;
art. 383 do Cód. Proc. Penal

– É lícito ao juiz, “em virtude do postulado de que jura novit curia, dar ao fato
definição jurídica diversa da que constar da queixa ou denúncia, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave (Cód. Proc. Penal, art. 383)” (José
Frederico Marques, Elementos de Direito Processual Penal, 1a. ed., vol. III,
p. 50).
–“Não conheço crime mais repugnante, mais merecedor de severa punição do que o
estupro. Ele revela no delinquente a existência dominante dos mais grosseiros e brutais
instintos, a falta absoluta de cavalheirismo, de generosidade, de respeito pela mulher,
que é o sinal distintivo de uma natureza nobre. As consequências do crime são
indeléveis para a vítima” (Os Delitos contra a Honra da Mulher, 1936, p. 135).
– A palavra da vítima de atentado violento ao pudor tem importância
inquestionável na apuração das circunstâncias do fato criminoso e na
identificação de seu autor. Exceto se os elementos de prova dos autos
demonstrarem que a ofendida mentiu, suas palavras servem de carta de
crença e, pois, justificam a edição de decreto condenatório (art. 214 do Cód.
Penal).
– Crimes contra a liberdade sexual, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo tem admitido continuidade delitiva entre estupro e
atentado violento ao pudor, se praticados nas circunstâncias do art. 71 do
Cód. Penal (arts. 213 e 214 do Cód. Penal).
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
32

– Em obséquio ao princípio constitucional do estado de inocência, tem


primado entre nós a orientação de que “não devem ser considerados como maus
antecedentes, prejudicando o réu, processos em curso, inquéritos em andamento e
sentenças condenatórias ainda não confirmadas” (cf. Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 209).
– O autor de estupro (art. 213 do Cód. Penal), crime da classe dos hediondos, deve
cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por força do preceito do art. 2º,
§ 1º, da Lei nº 8.072/90.

Voto nº 3498

Apelação Criminal nº 1.287.073/1


Art. 157, § 2º, ns. I e II, e 71 do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu


alcance, tornando-lhe impossível o reconhecimento; antes lhe importa, de
par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio, pois
essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).
– A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena do
roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos casos em
que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante emprego de armas
de extraordinário poder vulnerante.
– Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a condenado
não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal);
a concessão de tal benefício unicamente é defesa ao réu condenado a pena
que exceda a 8 anos (não importando se primário), ou ao reincidente, cuja
pena seja superior a 4 anos.
33

Voto nº 11.722

Apelação Criminal nº 993.02.035380-1


Arts. 76 e 89 da Lei nº 9.099/95;
art. 38, “caput”, da Lei nº 9.605/98;
art. 71 do Cód. Penal; art. 76, nº III, do Cód. Proc. Penal;
art. 129, nº I, da Const. Fed.

– Atende às regras de Direito e conforma-se com os preceitos da Justiça a


reunião, numa só Delegacia de Polícia especializada em delitos tributários,
dos diversos inquéritos policiais instaurados contra representantes de
empresa locadora estabelecida na Capital paulista para a apuração de crimes
de sonegação de impostos e falsidade ideológica pelo licenciamento de
veículos em outro estado da Federação.
– Da utilidade e vantagem da reunião de feitos discorreu discretamente o
nunca assaz louvado Mestre José Frederico Marques: “É que a conexão, além
de contribuir para a economia processual, evita decisões divergentes ou contraditórias,
e, por possibilitar uma visão mais completa dos fatos e da causa, constitui fator de
melhor aplicação jurisdicional do direito” (Elementos de Direito Processual Penal,
1a. ed., vol. I, p. 272).
– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu
alcance, tornando-lhe impossível o reconhecimento; antes lhe importa, de
par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio, pois
essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).
– Se conspiram todos os requisitos legais da transação penal ou da suspensão
condicional do processo, deve o Ministério Público formular a proposta,
conforme os arts. 76 e 89 da Lei nº 9.099/95. Em caso de recusa, ao Juiz tocará
fazê-lo de ofício.
– É questão superior a toda a dúvida que o Magistrado, com a prudência do
bom varão, pode temperar com a equidade o rigor da lei.
– A lei, na pontual expressão de uma das maiores glórias das letras jurídicas do
País, há de interpretar-se com a lógica do jurista, que é a lógica do razoável
(Goffredo Telles Jr., A Folha Dobrada, 1999, p. 161).
34

–“(…) de modo algum podem ser somadas as penas mínimas de cada delito para o efeito
de excluir, ab initio, a suspensão. (…) Cada crime deve ser considerado isoladamente,
com sua sanção mínima abstrata respectiva” (Ada Pellegrini Grinover et alii,
Juizados Especiais Criminais, 4a. ed., p. 262).

Voto nº 11.921

Apelação Criminal nº 993.03.051298-8


Arts. 312, “caput”, 71, 107, nº IV, 109, nº V, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 231 do STJ

– A confissão judicial, por seu valor absoluto — visto se presume feita


espontaneamente —, basta à fundamentação do edito condenatório.
–“A incidência de circunstância atenuante não pode conduzir a redução da pena abaixo
do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).
– Segundo jurisprudência consagrada em nossos Tribunais, o melhor critério
para a majoração da pena pela continuidade delitiva (art. 71 do Cód. Penal) é o
que se baseia no número de infrações: se duas, o aumento será o menor (1/6).
–“Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na
sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação” (Súmula nº 497
do STF).
– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do
exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal
Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
– Forma que é de prescrição da pretensão punitiva, a prescrição intercorrente
(art. 110, § 1º, do Cód. Penal) rescinde a própria sentença condenatória,
fulminando-lhe os efeitos (cf. Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
35

Voto nº 11.894

Apelação Criminal nº 993.06.134401-7


Arts. 213, 214, “caput”, 224, alínea a, 69 e 71 do Cód. Penal;
arts. 1º, nº VI e 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

– Tem a palavra da vítima importância capital nos crimes contra a liberdade


sexual. Se ajustada ao conjunto probatório dos autos, enseja condenação: ao
cabo de contas, ninguém se reputa mais apto a discorrer das circunstâncias e
autoria do crime que a pessoa que lhe padeceu diretamente os agravos físicos
e morais (art. 213 do Cód. Penal).
–“Não conheço crime mais repugnante, mais merecedor de severa punição do que o
estupro. Ele revela no delinquente a existência dominante dos mais grosseiros e brutais
instintos, a falta absoluta de cavalheirismo, de generosidade, de respeito pela mulher,
que é o sinal distintivo de uma natureza nobre. As consequências do crime são
indeléveis para a vítima” (Viveiros de Castro, Os Delitos contra a Honra da
Mulher, 1936, p. 135).
– Crimes contra a liberdade sexual, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo tem admitido continuidade delitiva entre estupro e
atentado violento ao pudor, se praticados nas circunstâncias do art. 71 do
Cód. Penal (arts. 213 e 214 do Cód. Penal).
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– O STF, em Sessão Plenária, decidiu que “os crimes de estupro e de atentado
violento ao pudor, tanto nas suas formas simples (Cód. Penal, arts. 213 e 214), como
nas qualificadoras (Cód. Penal, 223, caput, e parág. único), são crimes hediondos: Lei
nº 8.072/90, redação da Lei nº 8.930/94, art. 1º, ns. V e VI” (HC nº 81.288-1-SC;
rel. Min. Carlos Velloso; j. 17.12.2001).
– O autor de estupro, delito da classe dos hediondos, deve cumprir sua pena
sob o regime fechado, no início, por força do preceito do art. 2º, § 1º, da Lei
nº 8.072/90.
36

Voto nº 12.184

Embargos de Declaração nº 993.08.026956-4/5


Art. 71 do Cód. Penal;
art. 9º da Lei nº 8.072/90

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”


destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– Se até os crimes contra a vida admitem a “fictio juris” da continuidade, não há
razão atendível para negá-la nas hipóteses de crimes contra os costumes
praticados nas circunstâncias do art. 71 do Código Penal.
–“Aplica-se a regra do crime continuado quando da aplicação da pena pelo delito de
atentado violento ao pudor se este foi praticado, embora contra várias vítimas, pelo
mesmo modus operandi” (Rev. Tribs., vol. 807, p. 592; rel. Celso Limongi).

Voto nº 4291

Agravo em Execução nº 1.342.927/9


Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
37

Voto nº 12.317

Apelação Criminal nº 993.03.060652-4


Arts. 214, 224, 226, nº II, 28, § 1º, 69 e 71 do Cód. Penal;
art. 2º, §1º, da Lei nº 8.072/90

– Tem a palavra da vítima suma importância nos crimes contra a liberdade


sexual. Se ajustada ao conjunto probatório dos autos, enseja condenação: ao
cabo de contas, ninguém se reputa mais apto a discorrer das circunstâncias e
autoria do crime que a pessoa que lhe padeceu diretamente os agravos físicos
e morais (art. 214 do Cód. Penal).
– A prova da materialidade do crime de atentado violento ao pudor não
depende da conclusão da perícia médica, uma vez que atos libidinosos, por
sua natureza, nem sempre deixam vestígios. Aqui a prova oral tem valor
decisivo (art. 214 do Cód. Penal).
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– Não seja matéria para escrúpulos isto de a Justiça atenuar, ao de leve, a sorte
processual de autor de crime que provoca em todos os espíritos um
sentimento natural de repulsa e indignação (atentado violento ao pudor
praticado contra criança). Ainda o pior dos facínoras não decai nunca da
especial proteção da lei. Ao demais, conforme aquilo do profundo Vieira,
“ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele a tiver” (Sermões, 1696, t. XI,
p. 295).
– O autor de atentado violento ao pudor (art. 214 do Cód. Penal), crime da
classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado,
por expressa disposição do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90).
38

Voto nº 4000

Revisão Criminal nº 406.242/5


Art. 180 do Cód. Penal;
arts. 110 e 567 do Cód. Proc. Penal

– Segundo a Jurisprudência, a mera possibilidade de serem considerados


continuados os delitos atribuídos ao réu não importa a junção dos processos
(cf. Rev. Tribs., vol. 445, p. 442).
– A identidade da lide penal é o pressuposto da exceção de litispendência
(art. 110 do Cód. Proc. Penal).
– Nos crimes de receptação dolosa, porque mui difícil apurar o elemento
subjetivo do tipo, cumpre recorrer às circunstâncias mesmas do fato e à
personalidade do agente (art. 180 do Cód. Penal).

Voto nº 4155

Revisão Criminal nº 375.118/1


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 69 do Cód. Penal;
arts. 158, § 2º, e 70 do Cód. Penal

– A inteligência que, de presente, prevalece no âmbito pretoriano é que, se


depois de subtrair-lhe bens, o sujeito obriga a vítima a uma conduta (como
entregar objeto, emitir cheque ou revelar senha de cartão eletrônico), há dois
crimes em concurso material: roubo e extorsão (cf. Damásio E. de Jesus,
Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 553).
–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José Frederico Marques, “é o
crime continuado uma fictio juris destinada a evitar o cúmulo material de penas”
(Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– Satisfeitos os requisitos do art. 71 do Cód. Penal, nada impede o
reconhecimento da continuidade delitiva entre roubo e extorsão, pois se
trata de crimes da mesma espécie: estremando-se apenas na forma de entrega
da coisa.
– Não tem lugar pedido de revisão criminal que se não autorize com alguma
das hipóteses do art. 621 do Cód. Proc. Penal.
39

Voto nº 4171

Agravo em Execução nº 1.332.325/8


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.

Voto nº 3432

Apelação Criminal nº 1.279.935/0


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu


alcance, tornando-lhe impossível o reconhecimento; antes lhe importa, de
par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“Viola o art. 71 do Código Penal o acórdão que, embora reconhecendo a concorrência
dos elementos da caracterização objetiva do crime continuado, que nele se adotou,
nega, porém, a unificação das penas, à base de circunstâncias subjetivas, quais os
antecedentes do acusado ou a ausência da unidade de desígnio” (Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 137, p. 772; rel. Min. Sepúlveda Pertence).
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio,
pois essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).
40

Voto nº 4507

Apelação Criminal nº 1.361.157/4


Art. 157, § 2º, ns. I e II, e 71 do Cód. Penal;
art. 180, “caput”, do Cód. Penal

– A confissão, máxime a prestada em Juízo, vale como prova do fato e de sua


autoria, se não ilidida por elementos de convicção firmes e idôneos. Donde a
antiga parêmia: “A confissão judicial é das melhores provas; quem confessa, contra si
profere a sentença” (apud Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico,
1985, t. II, p. 530).
– A só presença de duas ou mais qualificadoras não obriga ao aumento da
pena do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante emprego
de armas de extraordinário poder vulnerante.
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– A alegação de boa-fé é incompatível com o teor de proceder de quem
adquire veículo sem a respectiva documentação legal ou não lhe possui
formal recibo de compra. Tal circunstância, por sua anormalidade, induz à
conclusão lógica de que o agente sabia se tratava de negócio ilícito, e pois lhe
justifica a condenação pelo crime de receptação dolosa (art. 180, “caput”, do
Cód. Penal).
– O reconhecimento de concurso material entre os crimes previstos no
art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal e art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97 — na
hipótese em que, para a prática do roubo, a grave ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo —, repugna à dogmática jurídica, por ferir de
frente o princípio da consunção: o delito mais grave absorve o menor
(“major absorbet minorem”).
41

Voto nº 4685

Agravo em Execução nº 1.377.361/6


Arts. 155 e 71 do Cód. Penal

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”


destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.

Voto nº 5414

Apelação Criminal nº 1.424.923/6


Arts. 157, § 2º, ns. I, II e V, e 158, § 1º, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– O excesso com que porventura se tenha havido a Polícia na apuração de fato


criminoso não implica a decretação da impunidade de seu autor: “pune-se o
responsável pelos excessos cometidos, mas não se absolve o culpado pelo crime
efetivamente comprovado” (Min. Cordeiro Guerra, A Arte de Acusar, 1989,
p. 35).
–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José Frederico Marques, “é o
crime continuado uma fictio juris destinada a evitar o cúmulo material de penas”
(Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– Satisfeitos os requisitos do art. 71 do Cód. Penal, nada impede o
reconhecimento da continuidade delitiva entre roubo e extorsão, pois se
trata de crimes da mesma espécie: estremando-se apenas na forma de entrega
da coisa.
42

Voto nº 4814

Apelação Criminal nº 1.348.047/9


Arts. 155, 171 e 71 do Cód. Penal;
art. 149 do Cód. Proc. Penal

– Instituto destinado a beneficiar unicamente o infrator de vida pregressa


inculpável, o benefício da suspensão condicional do processo não se aplica
a acusado que tenha sido condenado por outro crime (art. 89 da Lei nº
9.099/95).
– Feita em Juízo, tem a confissão do réu valor absoluto, que não pode ser
postergado, exceto em casos anormais, que se não presumem.
–“É sumamente tranquilizador para a consciência do Juiz ouvir dos lábios do réu uma
narrativa convincente do fato criminoso com a declaração de havê-lo praticado”
(Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I, p. 381).
– A mera alegação de falta de higidez psíquica do réu não basta a deferir-lhe
pedido de instauração de incidente de insanidade mental; é mister que o
verifique o Juiz à luz dos elementos informativos dos autos e, na condição de
presidente e diretor do processo, decida, com prudente arbítrio, se necessária
ou não a diligência, que importa sempre demora, muita vez escusada, na
prestação jurisdicional (art. 149 do Cód. Proc. Penal).
– Entre furto e estelionato não há continuação porque, embora delitos da
mesma natureza, pertencem a espécies diferentes. Crimes da mesma
espécie, conforme a lição de Damásio E. de Jesus, “são os previstos no mesmo
tipo penal, i.e., aqueles que possuem os mesmos elementos descritivos, abrangendo as
formas simples, privilegiadas e qualificadas, tentadas ou consumadas” (Código Penal
Anotado, 9a. ed., p. 227).
43

Voto nº 4851

Agravo em Execução nº 1.376.511/5


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz reduzir demasiado seu


alcance, de arte que lhe impossibilite o reconhecimento; antes lhe importa,
de par com a preocupação da ordem jurídica e social, atender ao fim do
instituto, convém a saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também a recuperação do infrator.
–“Viola o art. 71 do Código Penal o acórdão que, embora reconhecendo a concorrência
dos elementos da caracterização objetiva do crime continuado, que nele se adotou,
nega, porém, a unificação das penas, à base de circunstâncias subjetivas, quais os
antecedentes do acusado ou a ausência da unidade de desígnio” (Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 137, p. 772; rel. Min. Sepúlveda Pertence).
–“O réu tem direito ao crime continuado, agindo ou não com unidade de desígnio, pois
essa foi a vontade do legislador” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).

Voto nº 4724

Agravo em Execução nº 1.345.133/9


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
44

Voto nº 5163

Agravo em Execução nº 1.386.193/1


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.

Voto nº 5206

Apelação Criminal nº 1.356.297/6


Arts. 157, “caput”, 14, nº II, e 71 do Cód. Penal

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”


destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– O argumento da embriaguez não aproveita ao infrator, exceto se completa
e involuntária. A embriaguez voluntária, dispõe a lei que não elide a
responsabilidade criminal do agente, porque não lhe exclui a imputabilidade
(art. 28, nº II, do Cód. Penal).
45

Voto nº 5264

Apelação Criminal nº 1.361.723/1


Art. 180, “caput”, do Cód. Penal; art. 65, nº III, alínea “d”, do Cód. Penal;
art. 110 do Cód. Proc. Penal

– Segundo a Jurisprudência, a mera possibilidade de serem considerados


continuados os delitos atribuídos ao réu não importa a junção dos processos
(cf. Rev. Tribs., vol. 445, p. 442).
– A identidade da lide penal é o pressuposto da exceção de litispendência
(art. 110 do Cód. Proc. Penal).
– É digna de crédito (e serve a estruturar edito de condenação) a confissão do
réu na Polícia, que se sobrepõe às suas declarações em Juízo, se mais
consentânea à prova dos autos.
– Nos crimes de receptação dolosa, porque mui difícil apurar o elemento
subjetivo do tipo, cumpre recorrer às circunstâncias mesmas do fato e à
personalidade do agente (art. 180 do Cód. Penal).
–“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo
do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).
46

Voto nº 5504

Apelação Criminal nº 432.061.3/4


Art. 121, “caput”; arts. 121, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Decisão dos jurados não se anula, exceto se proferida contra a evidência dos
autos, pois tem por si a força do preceito constitucional da soberania dos
veredictos do Júri, que lhe assegura a imutabilidade (art. 5º, nº XXXVIII,
alínea c, da Const. Fed.). “Manifestamente contrária à prova dos autos” é somente a
decisão que neles não depara fundamento algum, constituindo por isso
formidável desvio da razão lógica e da realidade processual.
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
47

Voto nº 6063

Revisão Criminal nº 364.238-3/2-00


Arts. 121, § 2º, ns. I e IV, e 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

–“Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação


da data da audiência no juízo deprecado” (Súmula n º 273 do STJ).
– A confissão do réu, na Polícia, corroborada por outros valiosos elementos de
convicção (v.g.: reconhecimento pela vítima, depoimento de testemunha
presencial, etc.), autoriza a edição de decreto condenatório. Com efeito,
exceto se comprovado ter sido obra de violência, a confissão do réu passa por
prova excelente, “pois que é contrário à natureza alguém afirmar contra si fato que
não seja verdadeiro” (Mário Guimarães, O Juiz e a Função Jurisdicional, 1958,
p. 309).
–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José Frederico Marques, “é o
crime continuado uma fictio juris destinada a evitar o cúmulo material de penas”
(Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– Segundo a jurisprudência do STF, o art. 71 do Cód. Penal admite a aplicação
da teoria da ficção jurídica (ou continuidade delitiva) aos crimes dolosos
contra a vida; pelo que, homicídios praticados nas mesmas circunstâncias de
tempo, lugar e “modus operandi”, impõem a pena de um só deles, aumentada
até o triplo (cf. Rev. Tribs., vol. 788, p. 515; 813/535 e 763/549).
–“Ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele a tiver” (Antônio Vieira,
Sermões, 1959, t.III, p. 329).
48

Voto nº 6503

Agravo em Execução nº 492.797-3/1-00


Art. 157, § 2º, ns. I, II e IV, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.

Voto nº 7235

Agravo em Execução nº 938.197-3/3-00


Arts. 214 e 224, alínea a, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
49

Voto nº 7398

Revisão Criminal nº 489.245-3/6-00


Arts. 121, § 2º, nº IV, 29, 69 e 71 do Cód. Penal;
arts. 156 e 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

– Sem fazer tábua rasa do instituto da coisa julgada, deve o Juiz entrar no
conhecimento de causa que lhe é submetida, por prevenir (ou conjurar)
possível erro judiciário, o péssimo dos vícios de julgamento.
–“Errar é humano, e seria crueldade exigir do juiz que acertasse sempre. O erro é um
pressuposto da organização judiciária que, por isso mesmo, instituiu sobre a instância
do julgamento a instância da revisão” (Milton Campos; apud João Martins de
Oliveira, Revisão Criminal, 1a. Ed., p. 63).
– Não é contrária à evidência dos autos decisão condenatória apoiada em
laudo pericial e nas palavras de testemunhas presenciais idôneas, antes se
reputa bem fundamentada, pois tem por si prova excelente (art. 621, nº I, do
Cód. Proc. Penal).
–“Evidência é o brilho da verdade que arrebata a adesão do espírito, logo à primeira
vista” (Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. II, p. 360).
– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva
(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
– Na revisão criminal, é do peticionário o ônus da prova da erronia ou
injustiça da sentença condenatória, como impõe a exegese do art. 156 do Cód.
Proc. Penal.
50

Voto nº 7570

Agravo em Execução nº 910.658-3/3-00


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.

Voto nº 7931

Agravo em Execução nº 876.273-3/0-00


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 71 do Cód. Penal

– Segundo a comum doutrina de graves autores, não há continuidade delitiva


(art. 71 do Cód. Penal), mas simples reiteração criminosa, se os crimes
subsequentes não estão ligados aos anteriores por vínculo ideológico.
–“A simples habitualidade delituosa descaracteriza a noção legal do chamado crime
continuado” (STF; HC nº 68.626; rel. Min. Célio Borja; DJU 1.11.91,
p. 15.569).
– Isto de unificação de penas reclama do Magistrado especial prudência e
discernimento, não venha a premiar, com redução drástica e temerária, a
duração de penas de criminosos empedernidos.
51

Voto nº 8535

Apelação Criminal nº 965.703-3/7-00


Arts. 71, 157, § 2º, ns. I e II, e 329 do Cód. Penal;
art. 202 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 231 do STJ

– Que melhor prova contra o réu que sua confissão? Donde o aforismo: “Nulla
est maior probatio quam proprio ore confessio” (o que, tirado a vernáculo,
significa: não há prova maior do que a confissão de boca própria).
– No caso de roubo, tem a palavra da vítima extraordinária importância para
comprovar-lhe a materialidade e a autoria: parte precípua no evento
criminoso, é a que está em melhores condições de, à luz da verdade sabida,
reclamar a punição unicamente do culpado.
– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo
constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art.
202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à verdade
incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico de que o
policial vem a Juízo para mentir.
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
–“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo
do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).
52

Voto nº 10.045

“Habeas Corpus” nº 1.184.250-3/7-00


Arts. 71 e 171 do Cód. Penal

– Conforme a doutrina comum, o pedido de “habeas corpus” deve ser instruído


com as peças e documentos que comprovem as alegações do paciente.
– O Colendo Supremo Tribunal Federal, em copiosos arestos, tem proclamado
que se não toma conhecimento do pedido de “habeas corpus” quando não está
devidamente instruído (José Frederico Marques, Elementos de Direito
Processual Penal, 1a. ed., vol. IV, p. 417).
– Sem atender ao requisito da pluralidade de crimes da mesma espécie, não
há falar em continuidade delitiva (art. 71 do Cód. Penal).

Voto nº 10.244

Apelação Criminal nº 993.08.010892-7


Arts. 71 e 155, “caput”, do Cód. Penal

– A sabedoria dos Tribunais tem assentado que a apreensão de bens de terceiro


em poder do acusado, sem que lhes ofereça explicação plausível, constitui
excelente prova de autoria de crime e enseja condenação.
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta e
embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
Casos Especiais

Para melhor inteligência das matérias


que neles se contêm — continuidade delitiva
nos crimes contra a vida e contra os costumes —,
não me pareceu fora de propósito reproduzir,
na íntegra, os votos seguintes:
PODER JUDICIÁRIO

1
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE S ÃO PAULO

T ERCEIRO G RUPO DE C ÂMARAS – S EÇÃO C RIMINAL

Revisão Criminal nº 364.238-3/2-00


Comarca: Suzano
Peticionário: AA

Voto nº 6063
Relator
Sorteado

Declaração de Voto (vencido)

– “Intimada a defesa da expedição da carta precatória,


torna-se desnecessária intimação da data da audiência no
juízo deprecado” (Súmula nº 273 do STJ).

– A confissão do réu, na Polícia, corroborada por outros


valiosos elementos de convicção (v.g.: reconhecimento
pela vítima, depoimento de testemunha presencial,
etc.), autoriza a edição de decreto condenatório.
Com efeito, exceto se comprovado ter sido obra de
violência, a confissão do réu passa por prova
excelente, “pois que é contrário à natureza alguém
afirmar contra si fato que não seja verdadeiro” (Mário
Guimarães, O Juiz e a Função Jurisdicional, 1958,
p. 309).
56

–“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José


Frederico Marques, “é o crime continuado uma fictio
juris destinada a evitar o cúmulo material de penas” (Curso
de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).

– Segundo a jurisprudência do STF, o art. 71 do Cód.


Penal admite a aplicação da teoria da ficção jurídica
(ou continuidade delitiva) aos crimes dolosos contra
a vida; pelo que, homicídios praticados nas mesmas
circunstâncias de tempo, lugar e “modus operandi”,
impõem a pena de um só deles, aumentada até o
triplo (cf. Rev. Tribs., vol. 788, p. 515; 813/535 e
763/549).

–“Ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele a tiver”


(Antônio Vieira, Sermões, 1959, t. III, p. 329).

1. AA, condenado pelo MM. Juízo de Direito da 2a. Vara da


Comarca de Suzano à pena de 25 anos de reclusão, no regime
integralmente fechado, por infração dos arts. 121, § 2º, ns. I e IV, e
155, “caput”, conjugados com o art. 69 do Código Penal, reformada
parcialmente em grau de recurso pelo ven. acórdão de fls. 74/78
(apenas para modificar o regime prisional imposto ao delito de
furto, para inicialmente fechado), requer a este Egrégio Tribunal,
assistido de competente e dedicado Procurador do Estado, Revisão
de seu processo.

Afirma, em extensa e esmerada petição, que o processo


estava eivado de nulidade, por cerceamento de defesa, porque
ouvida testemunha por precatória, sem a sua presença.

No ponto do mérito, alega que, praticados em continuação


seus crimes, era forçoso unificar-lhes as penas, na forma do art. 71
do Código Penal.

Pleiteia, em suma, à colenda Câmara tenha a bem deferir-lhe


a unificação das penas, ou declarar nulo o processo, desde a
audiência de fl. 257.
57

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em firme e


escorreito parecer do Dr. Luiz Cláudio Pastina, opina pelo
indeferimento do pedido (fls. 110/113).

É o relatório.

2. Foi condenado o peticionário porque, no dia 20.3.1995,


pelas 7h10, por motivo torpe e valendo-se de recurso que
dificultou a defesa dos ofendidos, matou, mediante golpes de faca,
as vítimas Deuvalino Januário de Pina e Neide Aparecida dos
Santos.

Consta ainda da denúncia juntada aos autos (fls. 4/7) que,


nas mesmas circunstâncias de tempo e lugar, após a prática dos
homicídios, o peticionário subtraiu para si coisa alheia móvel: uma
bicicleta pertencente a Everton Santos de Pina.

Foi o caso que o peticionário, frequentador do estabelecimento


comercial das vítimas, aí contraíra dívida. Instado a satisfazê-la,
encolerizou-se e as partes romperam em hostilidades.

No dia dos fatos, porém, o peticionário dirigiu-se à


residência das vítimas (visto que o estabelecimento comercial já
estava fechado), com o pretexto de que lhe servissem bebida
alcoólica.

Tanto que vieram à porta da residência atendê-lo, o réu


acometeu-as, vibrando-lhes golpes mortais de faca. Ato contínuo,
por dissimular a enormidade de seu ato, pôs os corpos sobre uma
cama, e amarrou-os com pedaços de fio.

A seguir, dirigiu-se ao bar, enfrascou-se em cerveja e subtraiu


do menor Everton Santos de Pina sua bicicleta.

Instaurada a “persecutio criminis in judicio” transcorreu o


processo em forma legal; ao cabo, foi o peticionário condenado.
58

Agora, pela via revisional, pretende o reconhecimento da


continuidade delitiva, nos termos do art. 71 do Código Penal, ou a
declaração da nulidade do processo.

3. A arguição de nulidade do feito, embora suscitada em


exuberante arrazoado — que muito acredita e recomenda o nome
do patrono do réu (Dr. Murilo Schieri Costa Neves) —, não
procede, “data venia”.

Estaria trincado de nulidade o processo, argumenta a Defesa,


porque nem o réu nem seu procurador foram intimados da
audiência, realizada no Juízo deprecado, para a inquirição de
testemunha.

Semelhante alegação, porém, carece de fomento de bom


direito.

Em verdade, do r. despacho que determinou a expedição de


carta precatória (fl. 116) foi intimado o defensor do réu, Dr. Gil
Tanoeiro (fl. 121 v.).

Por outra parte, isto de não ter sido requisitado o réu para
assistir à inquirição de testemunha fora da terra não implica
nulidade do processo. A diretriz não é menos que do Excelso
Pretório:

“Assim, é desnecessária a requisição de réu preso para a audiência em


que deve ser ouvida, por precatória, testemunha arrolada pela
acusação” (STF, HC nº 56.880; DJU 8.6.79, p. 4.534; apud
Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 21a.
ed., p. 191).
59

Ao demais, na conformidade da Súmula nº 273 do Colendo


Superior Tribunal de Justiça, “intimada a defesa da expedição da carta
precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no
juízo deprecado”.

À derradeira, é princípio inscrito no art. 563 do Código de


Processo Penal que “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”.

Também não há que dizer contra a r. decisão que,


acertadamente, indeferiu pedido formulado pelo patrono do réu,
de adiamento da sessão do júri, sob color de que o Cartório não
providenciara cópia de peças dos autos para que pudesse melhor
desempenhar-se da defesa (fl. 463). É que ditas cópias, segundo o
observou o r. despacho verberado, já estavam à disposição do
requerente, havia coisa de “um mês” (fl. 472); demais disso, ao
patrono do réu, já que regularmente intimado (fl. 472), cumpria
comparecer à plenária para promover-lhe a defesa.

Outro tanto no que respeita à irresignação da Defesa ao


despacho que lhe indeferiu requerimento de diligência, i.e.,
elaboração de esboço gráfico do local dos fatos (fl. 103).

Obrou com aviso o douto Magistrado, ao indeferir-lhe o


pedido de diligências, que o douto parecer de fl. 112 reputou, com
assaz de razão, de todo escusadas: “absolutamente desnecessárias” para
a “busca da verdade”.

Com efeito, embora o escopo do procedimento criminal seja


“obter a certeza judicial, segundo o critério da verdade” (Bento de Faria,
Código de Processo Penal, 1960, vol. II, p. 210), a liberdade de
requerer “não deve degenerar em abuso, por forma a paralisar a marcha
do processo, com o propósito de retardar a administração da justiça ou
tumultuar a ordem processual” (Idem, ibidem).
60

Enfim, por empregar a expressão vivaz de Francisco


Campos na Exposição de Motivos do Código de Processo Penal, a lei
“não deixa respiradouro para o frívolo curialismo, que se compraz em
espiolhar nulidades” (nº XVII).

Afasto, assim, a alegação de nulidade do processo, que tenho


por desarrazoada.

4. A responsabilidade do peticionário pelo duplo homicídio e


pelo furto é superior a toda a dúvida sensata.

A testemunha Éverton Santos de Pina relatou, com grande


rigor descritivo, a cena lutuosa do trucidamento de seus pais pelo
réu. À distinta Juíza que lhe tomou o depoimento (Dra. Maria
Isabel Caponero Cogan) esclareceu que o pai era dono de um bar
e residia no imóvel que lhe era contíguo, onde, no dia dos fatos,
apareceu o réu. Aos brados, pediu lhe servissem pinga. O
comerciante, conforme as palavras da testemunha, negou-se a
atendê-lo, porque aparentemente embriagado e por não haver
saldado ainda débito anterior. Então o réu empurrou-o, e esse,
após dar com a cabeça na porta, desfaleceu. O réu neste ínterim,
amarrou-o à cama, o que fez também em relação à mulher; em
seguida, coseu-os de facadas.

Após selar-se com o sangue das vítimas, deitou a mão a uma


bicicleta que aí havia, de propriedade de um dos filhos das vítimas,
e abalou (fl. 25).

Fatos foram esses que o réu tentou negar, em seu


interrogatório no plenário do Júri (fl. 519). Fê-lo, entretanto,
debalde, não só porque a mencionada testemunha o conhecia bem
— e até lhe declinara a alcunha: “Bambu” (fl. 258) —, senão
porque o réu, na fase policial, confessara, amplamente, a autoria
dos crimes (fl. 83).
61

Não estranha, pois, que os jurados, por implacável


unanimidade de sufrágios, lhe afirmassem a autoria dos crimes nas
três séries de quesitos (fls. 520/522).

As sentenças condenatórias do Júri, ainda que seja possível


rescindi-las na instância revisional, por amor da “prevalência do
interesse social do status libertatis” (Rev. Tribs., vol. 594, p. 372), toca
à Defesa demonstrar-lhes o erro ou injustiça.

A propósito:

“Em se tratando de revisão, inverte-se o ônus da prova, cabendo ao


requerente mostrar o desacerto da decisão que o condenou, que ela
foi contrária à evidência dos autos, não lhe aproveitando o estado de
dúvida que acaso consiga criar no espírito dos julgadores” (Rev.
Forense, vol. 188, p. 349).

5. A decisão revidenda fundou-se em prova obtida com estrita


observância dos preceitos legais.

Diferentemente do que asseverou o peticionário, portanto,


não afrontou a evidência.

Tão-só a decisão que se aparte rudemente das provas sofre a


pecha de contrária à evidência dos autos; não está nesse número,
bem se vê, a que faz objeto do presente pedido.

Ora:

“Decisão contrária à prova dos autos é aquela que se choca, de modo


claro, manifesto e inequívoco, com os elementos probatórios dos autos
e não a que lhes empresta o justo valor” (Rev. Forense, vol. 187,
p. 387).

A condenação do réu, sobre ter sido necessária, foi justa.


62

6. A despeito de ter praticado atos atrocíssimos — próprios


somente de quem desceu todos os círculos da maldade humana —,
acho razão ao réu quando, por seu digno e esforçado patrono,
pleiteia o reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes
dolosos contra a vida, visto que cometidos nas circunstâncias do
art. 71 do Código Penal, isto é, de forma continuada.

De feito, “instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de


José Frederico Marques, “é o crime continuado uma fictio juris
destinada a evitar o cúmulo material de penas” (Curso de Direito Penal,
1956, vol. II, p. 354).

Beneficiar o réu, portanto, é o alvo a que atira.

Cai a lanço o ven. acórdão, abaixo reproduzido por sua


ementa:

“Segundo a disciplina do Código Penal Brasileiro, é despicienda a


unidade de ideação ou o nexo psicológico para o reconhecimento
do crime continuado. Relevância maior assumem os elementos
objetivos, decorrendo da sua homogeneidade e da conveniência de
favorecimento, ou não, na aplicação da pena mais branda ao
condenado, o reconhecimento, ou não, da continuação” (Rev.
Tribs., vol. 380, p. 220; rel. Manoel Pedro).

Faz ao caso, à derradeira, transcrever o escólio de Julio


Fabbrini Mirabete:

“Em que pese aos entendimentos em sentido contrário, prevalece em


flagrante maioria a ideia concernente à admissão da teoria objetiva
pura ou realístico-objetiva, consoante a qual o crime continuado é
uma realidade apurável objetivamente através da apreciação dos
elementos constitutivos exteriores, independentemente da unidade de
desígnio” (Manual de Direito Penal, 1999, pp. 316/317).
63

Nisto de crime continuado, mais do que a unidade de


ideação, importam os elementos objetivos referidos no art. 71 do
Código Penal e a conveniência de evitar o exagero punitivo, que não
corrige o infrator, antes o revolta, com retirar-lhe a esperança do
retorno breve à comunhão social.

Ainda:

“Entendemos que a reforma penal de 84 tornou prejudicada essa


súmula, que enunciava: Não se admite continuidade delitiva nos
crimes contra a vida. Nesse sentido: STF, RJTJSP 121/665; TJSP,
RJTJSP 165/315” (Celso Delmanto, Código Penal Comentado,
6a. ed., p. 145).

7. De que nossas Cortes de Justiça têm admitido a continuidade


delitiva, mesmo em se tratando de homicídios, estão a demonstrá-
-lo os julgados a seguir reproduzidos por suas ementas:

a) “Ante os pressupostos objetivos do art. 71 do Cód. Penal — prática


de dois ou mais crimes da mesma espécie, condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras circunstâncias próximas —,
impõe-se a unificação das penas mediante o instituto da
continuidade delitiva. Repercussão do crime no meio social — de
que é exemplo o caso da denominada Chacina de Vigário Geral
— não compõe o arcabouço normativo regedor da matéria,
muito menos a ponto de obstaculizar a aplicação do preceito
pertinente” (STF; rel. Min. Marco Aurélio; Rev. Tribs., vol.
788, p. 515);

b) “Crime continuado é aquele no qual o agente, mediante mais de


uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie, os quais, pelas semelhantes condições de tempo, lugar,
modo de execução, podem ser tidos como continuação de outros
(art. 71 do Cód. Penal). O modus operandi, em tais delitos, dever
ser o mesmo, sendo necessária a homogeneidade das condutas.
64

No caso sub judice, a peça vestibular, bem como o libelo, apontam


a ocorrência de um homicídio qualificado e em seguida a
tentativa de cometimento de outro homicídio, pelas mesmas
autoras e em circunstâncias objetivas homogêneas. Destarte,
configura-se a continuidade delitiva, e não o concurso material”
(STJ; rel. Min. Jorge Scartezzini; Rev. Tribs., vol. 813,
p. 535);

c) “O art. 71, parág. único, do Cód. Penal admite o reconhecimento


da continuidade delitiva nos crimes dolosos contra vítimas
diferentes, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;
assim, no duplo homicídio, o ignóbil motivo dos delitos e a
dificuldade de defesa imposta aos ofendidos, circunstâncias já
mensuradas quando da aplicação das qualificadoras, não podem
ser consideradas como causas para a exclusão do favor legal da
continuidade delitiva, sob pena de bis in idem” (TJSP; rel.
Walter Guilherme; Rev. Tribs., vol. 763, p. 549).

8. A circunstância de ter-se utilizado o peticionário da via


revisional não lhe obsta ao atendimento da súplica.

À uma, porque somente agora acertou que a Defesa


discorresse a propósito da questão, isto é, do cúmulo material de
penas.

À outra, porque, ao pretender o reconhecimento do crime


continuado, intenta a reclassificação da infração penal, o que o
art. 626 do Código Processo Penal prevê e autoriza (cf. RJDTACrimSP,
vol. 22, p. 500).

À derradeira, “o instituto da revisão criminal visa, como última


garantia do direito de defesa assegurado indistintamente a todos os
condenados, ao reexame da sentença condenatória suscetível de emenda ou
reforma nos casos previstos em lei” (Rev. Forense, vol. 141, p. 381).
65

Ainda que autor de crimes repugnantes e gravíssimos, tem


direito o peticionário à aplicação da teoria da ficção jurídica. Ao
mesmo Demônio — sentenciou o profundo Antônio Vieira —
“ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele a tiver” (Sermões,
1959, t. III, p. 329).

Assim, adotado o estalão dosimétrico da r. sentença, que


fixou a pena do réu no mínimo legal, imponho-lhe a sanção de um
dos homicídios e aumento-a de 1/2 (6 anos) — pois que o mínimo
do acréscimo é 1/6, segundo a jurisprudência do Colendo
Supremo Tribunal Federal (cf. Rev. Tribs., vol. 617, p. 410) —, de
que resultam 18 anos de reclusão, para cumprimento sob o regime
integralmente fechado, mantida a pena de 1 ano para o crime
conexo (furto), no regime fechado, no início.

Em suma: defiro em parte o pedido de revisão criminal para,


reconhecida a continuidade delitiva quanto ao duplo homicídio,
impor ao peticionário a pena de 18 anos de reclusão, mantida no
mais a r. sentença de Primeiro Grau.

9. Pelo exposto, defiro em parte a revisão criminal para,


reconhecida a continuidade delitiva entre os dois homicídios,
reduzir a 18 anos de reclusão a pena do peticionário a esse respeito,
mantida no mais a r. sentença de Primeiro Grau.

São Paulo, 4 de agosto de 2005

Des. Carlos Biasotti


Relator Sorteado
PODER JUDICIÁRIO

2
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE S ÃO PAULO

Q UINTA C ÂMARA – S EÇÃO C RIMINAL

Embargos de Declaração nº 993.08.026956-4/5


Comarca: São José dos Campos
Embargante: RPA
Embargada: 5a. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo

Voto nº 12.184
Relator
Sorteado

Declaração de Voto (vencido)

– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é


uma “fictio juris” destinada a evitar o cúmulo material
de penas (cf. José Frederico Marques, Curso de Direito
Penal, 1956, vol. II, p. 354).

– No crime continuado, mais do que a unidade de


ideação, prevalecem os elementos objetivos referidos
no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de remediar o
exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão
que o revolta e embrutece, por frustrar-lhe a esperança
de realizar, em tempo razoável e justo, o sonho da
liberdade.
67

– Se até os crimes contra a vida admitem a “fictio juris”


da continuidade, não há razão atendível para negá-la
nas hipóteses de crimes contra os costumes
praticados nas circunstâncias do art. 71 do Código
Penal.

–“Aplica-se a regra do crime continuado quando da aplicação


da pena pelo delito de atentado violento ao pudor se este foi
praticado, embora contra várias vítimas, pelo mesmo modus
operandi” (Rev. Tribs., vol. 807, p. 592; rel. Celso
Limongi).

1. Ao ven. acórdão de fls. 298/307, que lhe proveu a Apelação


para, cancelado o aumento previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90,
reduzir-lhe a pena a 23 anos e 4 meses de reclusão, opôs RPA
Embargos de Declaração, notando-o de omisso.

Afirma, nas razões de fls. 313/315, subscritas por diligentes e


cultos patronos, que a decisão colegiada se equivocara no cômputo
aritmético da pena.

Foi o caso que, ao aplicar a regra da continuidade delitiva aos


crimes de atentado violento ao pudor, fizera-o após considerar os
crimes perpetrados contra as duas vítimas, singularmente, e não
segundo a disposição do art. 71 do Código Penal: aplicação da
pena “de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços”.

Pleiteia, destarte, à colenda Câmara tenha a bem declarar o


ven. acórdão, suprindo-lhe a omissão.

É o relatório.

2. A r. sentença de Primeiro Grau reconheceu, expressamente,


no caso sujeito, a figura da continuidade delitiva (fl. 195).
68

Fê-lo, entretanto, em relação aos crimes de atentado violento


ao pudor cometidos contra cada uma das vítimas, isoladamente,
não quanto a todos os delitos contra ambas praticados.

E nesta questão, agitada pelo réu em seu apelo (fl. 258), não
se deteve deveras o acórdão, como lhe competia; é força, pois,
tratar do ponto “ex professo”.

3. Que é possível a continuação entre crimes praticados contra


vítimas diferentes e bens personalíssimos está a persuadi-lo assim a
lição de acreditados penalistas como a jurisprudência de nossos
Tribunais.

Em sua prestantíssima obra Código Penal Comentado (5a.


ed., p. 378), escreveu Guilherme de Souza Nucci:

“Atualmente, os acórdãos seguem tendência em sentido contrário,


acolhendo o delito continuado mesmo contra vítimas diferentes e
bens personalíssimos”.

Ao diante, na mesma página, remata:

“Aliás, outra não poderia ser a solução, pois a Reforma Penal de


1984 acrescentou o parágrafo único ao art. 71 do Código Penal,
prevendo claramente essa possibilidade”.

De igual feitio é a jurisprudência deste Egrégio Tribunal:

“Aplica-se a regra do crime continuado quando da aplicação da


pena pelo delito de atentado violento ao pudor se este foi praticado,
embora contra várias vítimas, pelo mesmo modus operandi” (Rev.
Tribs., vol. 807, p. 592; rel. Celso Limongi).
69

O citado acórdão, por acrescentar sua força dialética, forjou o


seguinte argumento, de muito alcance:

“Se até nos crimes contra a vida a doutrina e a jurisprudência


admitem a continuidade, com mais razão nos crimes sexuais”
(fl. 593).

Com efeito, se até os crimes contra a vida admitem a “fictio


juris” da continuidade, não há razão atendível para negá-la nas
hipóteses de crimes contra os costumes praticados nas
circunstâncias do art. 71 do Código Penal.

“Instituto jurídico nascido da equidade”, na frase de José


Frederico Marques, “é o crime continuado uma fictio juris destinada
a evitar o cúmulo material de penas” (Curso de Direito Penal, 1956,
vol. II, p. 354).

Beneficiar o réu, portanto, é o alvo a que atira.

Cai a lanço o ven. acórdão deste Egrégio Tribunal, abaixo


reproduzido por sua ementa:

“Segundo a disciplina do Código Penal Brasileiro, é despicienda a


unidade de ideação ou o nexo psicológico para o reconhecimento do
crime continuado. Relevância maior assumem os elementos
objetivos, decorrendo da sua homogeneidade e da conveniência de
favorecimento, ou não, na aplicação da pena mais branda ao
condenado, o reconhecimento, ou não, da continuação” (Rev.
Tribs., vol. 380, p. 220; rel. Manoel Pedro).

Faz ao caso, à derradeira, transcrever o escólio de Julio


Fabbrini Mirabete:

“Em que pese aos entendimentos em sentido contrário, prevalece em


flagrante maioria a ideia concernente à admissão da teoria objetiva
pura ou realístico-objetiva, consoante a qual o crime continuado é
uma realidade apurável objetivamente através da apreciação dos
70

elementos constitutivos exteriores, independentemente da unidade de


desígnio” (Manual de Direito Penal, 1999, pp. 316-317).

Nisto de crime continuado, mais do que a unidade de


ideação, importam os elementos objetivos referidos no art. 71 do
Código Penal e a conveniência de evitar o exagero punitivo, que não
corrige o infrator, antes o revolta, com retirar-lhe a esperança do
retorno breve à comunhão social.

A lição de Manoel Pedro Pimentel vem aqui de molde:

“O crime continuado é uma ficção jurídica que resulta de disposição


expressa de lei, e tem como finalidade obstar o excesso de punição
decorrente do sistema de acumulação material de pena, vigente
quanto ao concurso real de infrações” (Do Crime Continuado, 2a.
ed., p. 215).

4. Reconhecida a continuidade delitiva entre os crimes de


atentado violento ao pudor cometidos pelo réu, é mister rever-lhe
a quantidade da pena.

Adotado o estalão dosimétrico da r. sentença — que fixou ao


réu a pena-base de 7 anos de reclusão (fl. 194) —, aumento-a em
2/3 “pelo número de abusos continuados, por vários anos, e pelo fato de o
crime ter ocorrido dentro de casa, onde as vítimas mantinham relação de
confiança com o acusado, o que deve ter-lhes causado muito sofrimento”
(fl. 195), o que tudo perfaz 11 anos e 8 meses de reclusão.

Os presentes embargos de declaração foram opostos no


prazo e em forma legal; seu fundamento é jurídico e procedente:
houve omissão do ven. acórdão, que importava desfazer, em ordem
a que se resguardasse direito do réu.

Merecem, destarte, recebidos e acolhidos para reduzir a pena


do réu a 11 anos e 8 meses de reclusão, mantido no mais o teor do
ven. acórdão de fls. 298/307.
71

5. Pelo exposto, recebo e acolho os embargos de declaração


para suprir omissão do ven. acórdão de fls. 298/307, a fim de
reconhecer que o réu praticou os crimes de atentado violento ao
pudor sob a forma continuada e, por esta razão, reduzir-lhe a pena
a 11 anos e 8 meses de reclusão.

São Paulo, 24 de setembro de 2009

Des. Carlos Biasotti


Relator Sorteado
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
59. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
60. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência);
61. A Palavra da Vítima e seu Valor em Juízo;
62. A Linguagem do Advogado;
63. Memorando aos Colegas da Advocacia e da Magistratura;
64. Código de Defesa do Consumidor (Casos Especiais em Matéria
Criminal);
65. Crime de Dano (Doutrina e Jurisprudência);
66. Nulidade Processual (Doutrina e Jurisprudência);
67. Da Coação no Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
68. Violação de Domicílio (Doutrina e Jurisprudência);
69. Indenização (Doutrina e Jurisprudência);
70. Desistência Voluntária (Doutrina e Jurisprudência);
71. A Embriaguez e o Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
72. Embargos de Declaração (Doutrina e Jurisprudência);
73. A Estrada Real do Direito;
74. Coautoria (Doutrina e Jurisprudência);
75. Medida de Segurança (Doutrina e Jurisprudência).
www.scribd.com/Biasotti
Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência) Carlos Biasotti

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