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Ano 24 Número 04 dezembro de 2008 www.cni.org.

br
Edição Especial do Informe Conjuntural

Desafio é encontrar um novo


economia
padrão de financiamento brasileira em 2008
O cenário para a economia brasileira mu- será desenvolver um novo padrão de

8
dou radicalmente com a eclosão da crise financiamento do crescimento em uma
mundial. Originada na maior economia economia mundial com menor liquidez atividade econômica
do mundo, a crise se propagou de forma e maior aversão ao risco. A sustentação Crise global causa retração da
intensa e contaminou as economias de de taxas elevadas de crescimento irá atividade no fim do ano
todos os países. O resultado é a redução exigir o aumento na taxa de investimen-
no crescimento mundial, que afeta o ci- to e, conseqüentemente, a ampliação da
clo de expansão da economia brasileira. poupança doméstica.

A crise foi gerada pelo descompasso O papel do Estado será crítico nessa emprego e salário 12
entre os ritmos de crescimento dos ati- nova fase. As indispensáveis ações Mercado de trabalho aquecido,
vos financeiros e da economia real. Não emergenciais de enfrentamento da mas ritmo de crescimento
obstante, a forte alavancagem financeira crise devem ser complementadas deve ser moderado
e alta liquidez externa permitiram um por ações de longo prazo de modo a
longo ciclo de crescimento da economia construir um ambiente econômico de
mundial, do qual o Brasil se beneficiou.
A despeito da crescente contribuição da
melhor qualidade. É essencial um papel
mais ativo do Estado no provimento da inflação, juros e 15
demanda doméstica para o crescimento, infra-estrutura, com a priorização dos crédito
é um equívoco minimizar a importância investimentos públicos. Destaque-se Deflação mundial e menor
da alavanca externa para o ciclo recente também a importância dos mecanis- crescimento reduzem pressões
da economia brasileira. mos regulatórios capazes de atrair o sobre a inflação doméstica
investimento privado.
O Brasil tem dois desafios. Primeiro, é
necessário restabelecer as condições
de crédito, minimizar a volatilidade dos
Mas é necessário afastar o risco fiscal.
É preciso manter o foco no equilíbrio de política fiscal 19
longo prazo das contas públicas, que Contenção de gastos
mercados financeiros e evitar maior
deve ser preservado com o controle proporciona superação da
retração da atividade. Em outros termos,
dos gastos correntes para possibilitar a meta fiscal
amortecer os efeitos sobre o consumo
das famílias e o investimento. redução da carga tributária. Essa é uma

23
condição essencial para a elevação da
Segundo, depois de superada a fase taxa de investimento e para a retomada
setor externo
crítica da crise global, o principal desafio do ciclo virtuoso de crescimento.
Aumenta a necessidade

Perspectivas 2009 4 de recursos em um mundo


com menor liquidez e maior
Mudança no cenário econômico mundial impõe restrições ao ciclo de aversão ao risco
crescimento da economia brasileira

Confederação Nacional da Indústria


balanço 2008
Crescimento econômico se mantém elevado
apesar dos impactos da crise econômica mundial
O crescimento do PIB brasileiro em 6,4% com relação ao mesmo período de 2008 deverá ser de 3,7%. Essa diferença
2008 deverá alcançar 5,7%, a despeito 2007. Por outro lado, no quarto trimestre deve ser atribuída à manutenção de um
do agravamento da crise econômica a economia foi fortemente impactada significativo ritmo de expansão da de-
nos países desenvolvidos. A economia pela restrição de crédito e pela queda na manda interna. O consumo das famílias,
brasileira não ficou imune às mudanças no demanda externa provocada pela crise o principal fator de impulsão da demanda
cenário mundial. Com alguma defasagem, mundial. Com isso, a atividade econômica doméstica, deve registrar expansão supe-
os efeitos da crise global começaram a deverá apresentar um recuo de 1,5% em rior a 6,0% no ano. Além disso, merece
ser sentidos no último trimestre do ano. ser ressaltado o expressivo crescimento
relação ao terceiro trimestre, ajustado aos
Dessa forma, a atividade econômica dos investimentos, com a Formação
efeitos sazonais do período.
apresentou dois períodos bastante Bruta de Capital Fixo devendo expandir-
distintos em 2008. Durante os três O fato de ter demorado a sentir os efeitos se em 14,4% frente a 2007.
primeiros trimestres do ano registrou-se da crise econômica mundial fará com
A demanda externa, por sua vez, mos-
um expressivo ritmo de crescimento da que a economia brasileira cresça acima
trou-se bastante enfraquecida. A queda
economia, que acumulou expansão de da economia mundial, cuja expansão em
no volume de exportações pode ser
explicada pela forte apreciação da taxa
de câmbio observada até o terceiro tri-
Evolução do Produto Interno Bruto mestre de 2008. Essa apreciação em boa
Variação dessazonalizada (%) entre o trimestre e o trimestre anterior parte do ano, juntamente com o elevado
Com alguma defasagem, os efeitos da crise global começaram ritmo de crescimento econômico interno,
a ser sentidos fez com que o volume de importações
crescesse fortemente. A contribuição do
2,0
setor externo para o crescimento do PIB
1,5
foi novamente negativa em -0,2 ponto
1,0 percentual.
0,5
Outra característica marcante do
0,0
crescimento econômico em 2008 é sua
-0,5
relativa homogeneidade entre os grandes
-1,0
setores da economia. A indústria, assim
-1,5
como em 2007, será o setor com maior
-2,0
I II III IV I II III IV I II III IV* expansão e deve apresentar um aumento
2006 2007 2008 de produção de 6,0% em relação ao ano
* Projeção CNI anterior. Também dentro do setor indus-
Fonte: Contas Nacionais/IBGE
trial observa-se que o crescimento da

2 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


produção ocorreu de forma generalizada. Evolução do Produto Interno Bruto: Mundo e Brasil
Entretanto, merece destaque o aumento Variação anual (%)
de 9,1% na produção da construção civil. Pelo segundo ano consecutivo, o crescimento do PIB
brasileiro é superior à expansão do PIB mundial
O forte aumento da demanda interna,
6
que levou a esse crescimento expressivo
e generalizado da atividade econômica, 5
pode ser explicado, basicamente, por
4
dois fatores: expansão da massa salarial
e do volume de crédito. 3

O bom momento observado no merca- 2

do de trabalho nos últimos dois anos


1
intensificou-se em 2008. A indústria
exerceu papel fundamental na geração 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008* 2009*
de empregos, tendo sido criadas 533 Mundo Brasil
mil novas vagas na indústria de transfor- * Projeção CNI
Fonte: Contas Nacionais/IBGE (PIB do Brasil) e World Economic Outlook/FMI (PIB mundial)
mação e outras 301 mil na construção
civil. O crescimento da massa salarial
também foi favorecido pelo aumento
no rendimento real médio, que cresceu no primeiro semestre. No caso da massa Finalmente, o bom momento experi-
3,3% entre janeiro e outubro de 2008, se salarial, o aumento da inflação reduziu mentado pela atividade econômica nos
comparados ao mesmo período de 2007. o ganho real dos rendimentos. Já com primeiros nove meses de 2008 se refletiu
Dessa forma, os aumentos do número de relação ao crédito, o efeito foi sentido em positivamente nas contas públicas. O
pessoas empregadas e do rendimento função do aumento da taxa de juro básica ritmo de crescimento da arrecadação
médio proporcionaram uma expansão promovido pelo Banco Central a partir do do setor público superou amplamente
real de 8,5% na massa salarial em 2008. segundo trimestre. o crescimento da economia em função,
principalmente, do aumento dos lucros
Da mesma forma que no mercado de tra- O IPCA, que encerrou 2007 em 4,5%, das empresas e da expansão da mas-
balho, a concessão de crédito manteve chegou a registrar elevação de 6,4% sa salarial. Dessa forma, e contando
em 2008 a trajetória de crescimento já em 12 meses findos em julho. Com com um esforço do Governo Federal no
observada em 2007. O alongamento dos isso, o Banco Central iniciou em abril sentido de não transformar em despesas
prazos e a redução das taxas de juros aos um processo de aperto da política todo o aumento da arrecadação, o setor
tomadores finais nos primeiros meses do monetária que levou a taxa de juros público deverá registrar um superávit pri-
ano garantiram uma expansão de 26,8% básica ao patamar de 13,75%, no qual mário equivalente a 4,25% do PIB. Como
no volume de crédito no acumulado de irá encerrar 2008. Como reflexo desse também haverá redução das despesas
2008 até outubro. movimento da política monetária e, com juros em relação ao PIB, e tendo em
principalmente, pelo efeito da queda vista o efeito redutor do endividamento
Embora tenha exercido papel relevante de preços das commodities, a inflação líquido exercido pela desvalorização
na expansão da demanda interna em desacelerou no segundo semestre e cambial do segundo semestre, o setor
2008, o aumento da massa salarial e o o IPCA deve encerrar o ano com alta público deverá registrar uma significativa
volume de crédito foram negativamente de 6,2% – dentro do limite superior da redução do seu endividamento líquido em
impactados pela aceleração da inflação meta de inflação. relação ao PIB.

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


3
P e r spec t i v as 2009
Crise econômica mundial deve provocar
forte redução no crescimento econômico

O PIB deve apresentar crescimento real em curso em 2008, o encarecimento do centro da meta proposta para o ano,
de 2,4% em 2009. A retração no ritmo da e menor disponibilidade de financia- que é de 4,5%. Por um lado, a retração na
atividade econômica será provocada por mento e à desvalorização do real. demanda interna e a queda dos preços
uma série de fatores que afetarão nega- Dessa forma, os investimentos de- internacionais das commodities agem no
tivamente os componentes da demanda vem crescer apenas 3,0% em 2009, sentido de reduzir a pressão por elevação
interna e externa: comparativamente a uma expansão dos preços. Por outro lado, a forte desva-
de 14,4% em 2008. lorização da taxa de câmbio nos últimos
• Consumo interno: o ritmo de meses exerce pressão direta por alta de
crescimento do consumo das famílias • Demanda externa: a recessão nas preços nas importações e indireta sobre
deve cair sensivelmente devido às maiores economias deverá ter forte produtos e serviços produzidos interna-
condições menos favoráveis no mer- impacto sobre o comércio mundial, mente, exercida via aumento de custos
cado de crédito e, em um segundo que deverá crescer 2,1% em 2009, na cadeia produtiva. Entretanto, o efeito
momento, pelo efeito que a deteriora- contra uma expansão de 4,6% em da desvalorização cambial sobre a inflação
ção do mercado de trabalho exercerá 2008. Dessa forma, as exportações será amenizado pela queda no preço das
sobre a massa salarial. Por isso, o brasileiras deverão cair em 2009 commodities e pela menor possibilidade
consumo das famílias deve registrar e contribuir negativamente para o de transferência aos preços devido à retra-
expansão de 3,0% em 2009, um nível crescimento do PIB. Esse efeito será ção no ritmo de crescimento da atividade.
de crescimento próximo da metade amenizado pelo recuo nas impor-
daquele observado em 2008. tações provocado pela redução do O comportamento da inflação em 2009
ritmo da atividade econômica interna. abre espaço para que o Banco Central
• Investimentos: será o componente inicie, já a partir de janeiro, um processo
da demanda interna que sofrerá a
maior desaceleração no ritmo de
Inflação próxima da de afrouxamento da política monetária. A
expectativa é de um corte de 0,5 ponto
crescimento. O arrefecimento se meta e juros caindo a percentual nas duas primeiras reuniões
dará devido à expectativa de redução
partir de janeiro do ano, seguidos de reduções menos
das demandas interna e externa intensas nas demais reuniões de 2009.
em um contexto de estoques já A inflação, medida pelo IPCA, deve ficar Com isso, a CNI projeta uma taxa Selic de
elevados. Nesse canário, inclui-se a em 4,8% em 2009. Haverá, portanto, 11,25% em dezembro de 2009, acumulan-
maturação dos investimentos ainda uma convergência da taxa para próximo do uma média de 12,2% no ano.

4 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


mantendo-se praticamente inalterado forma diferente da projetada em nosso
Superávit comercial como proporção do PIB. cenário base. São duas as possibilidades.
deve reduzir-se
novamente Receita menor e É possível a concretização de um cenário
mais favorável, em que as políticas de
As exportações, em dólares, deverão
possibilidade de uso combate à crise – tanto no Brasil como
cair 20% em 2008 e atingir US$ 170 anticíclico tornam nos demais países – tenham sucesso na
estabilização da economia e no gradual
bilhões. Três fatores impactarão negati-
vamente as vendas externas. O primeiro
incertos os resultados retorno ao crescimento. É expressivo o
deles é a redução do crescimento do fiscais conjunto de instrumentos e recursos que
comércio mundial devido à crise econô- vêm sendo disponibilizados em escala
Os impactos da desaceleração da econo- mundial para reverter o quadro recessivo
mica global. O segundo será o impacto
mia sobre a arrecadação do setor público e recompor a liquidez.
da queda dos preços internacionais
e a possibilidade do Governo Federal
das commodities, pois as exportações
praticar uma política fiscal mais expan- Nesse cenário, a recessão mundial seria
brasileiras possuem grande participação
sionista do que a prevista no projeto do menos intensa, com reflexos menores no
desses bens. Finalmente, deve ocorrer
orçamento trazem grandes incertezas aos comércio mundial e nos países emergen-
também uma escalada do protecionismo
resultados fiscais de 2009. tes. No Brasil, os efeitos das políticas de
impulsionada pela desaceleração econô-
combate à crise seriam potencializados
mica global. A proposição de redução de despesas pelas medidas domésticas de estímulo ao
do projeto do orçamento feita pelo Poder consumo e recomposição do crédito. O
As importações devem registrar queda na
Executivo ao Congresso – apenas R$ recuo na demanda interna, de consumo e
casa de 13%, e terminar 2008 em US$
8 bilhões – e as recentes medidas de investimento, seria menor que no cenário
155 bilhões. Contribuirão decisivamente
desoneração tributária indicam que o base e o crescimento do PIB, nesse caso,
para a queda das importações a desa-
governo deve praticar uma política fiscal alcançaria 3,2%.
celeração do ritmo de crescimento da
fortemente expansionista em 2009, como
demanda interna e o aumento dos preços
forma de atenuar os efeitos da crise sobre Por outro lado, não é descartada uma
relativos dos produtos importados em fun-
a atividade econômica. Dessa forma, recessão global mais longa e duradoura.
ção da desvalorização da taxa de câmbio.
Nos países industriais, nessa hipótese,
deverá utilizar-se do desconto do Projeto
observaríamos a permanência de nível de
Dadas as projeções de exportações Piloto de Investimentos para fins de cum-
confiança reduzido, desequilíbrios patri-
e importações, o saldo da balança primento da meta de superávit primário,
moniais não equacionados e incapacidade
comercial deve cair novamente, de 3,35% do PIB em 2009. Com isso, o
das políticas em estimular a economia. Os
passando de U$ 25 bilhões, em 2008, déficit nominal deve aumentar de 1,5%
efeitos negativos sobre o comércio global
para US$ 15 bilhões, em 2009. Apesar para 1,9% do PIB e a relação dívida/PIB
e a liquidez mundial manteriam o quadro
da redução do saldo comercial, a permanecerá estável em torno de 37,0%. desfavorável às economias emergentes –
desvalorização da taxa de câmbio irá
com preços de commodities deprimidos,
impedir maior deterioração do saldo em Cenários queda de exportações e baixa liquidez
conta corrente, pois a remessa de lucros
ao exterior e as viagens internacionais
alternativos mundial. Nesse cenário, os esforços da
política doméstica de estímulo teriam
perderão força. O déficit em conta A evolução da crise mundial e as ações de efeitos limitados e a desaceleração econô-
corrente deve situar-se em US$ 35 política tornam possível a materialização mica seria mais intensa. O crescimento do
bilhões, contra US$ 29 bilhões em 2008, de trajetórias de crescimento do PIB de PIB, nesse caso, ficaria limitado a 1,8%.

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


5
M u dan ç a
no C en á r i o MUNDIAL
O fim de um ciclo

A economia mundial experimentou, região dos 15 países que usam o euro continuará ao longo de 2009. Com
entre 2004 e 2007, um período de sofre uma recessão desde o nasci- efeito, os bancos comerciais poderão
crescimento sem precedentes. O mento da moeda comum européia. Os experimentar maiores dificuldades
crescimento econômico global e o EUA já se encontram em recessão; os que em 2008, na medida em que se
comércio exterior superaram, ano após dados do terceiro trimestre apontaram intensificarem as demissões e, como
ano, as expectativas mais otimistas. para uma contração de 0,5% no PIB resultado, a inadimplência.
Neste período, o crescimento médio do do país e espera-se nova contração no
PIB mundial, em termos reais, oscilou quarto trimestre. No Japão, a recessão Emergentes não
entre 3,5% e 5%; o comércio mundial iniciou-se ainda no segundo trimestre
de produtos e serviços cresceu, em de 2008. Não obstante, a despeito da
repetirão desempenho
média, 8% ao ano. O fluxo de inves- grande mudança de cenário neste fim em 2009
timento estrangeiro direto mundial de ano, o crescimento do PIB mundial
Em boa parte de 2008 os países emer-
cresceu mais de 170% na comparação esperado para 2008 é de 3,7% (FMI),
ainda bastante significativo. gentes não sentiram na mesma inten-
com a década de 90.
sidade os efeitos da desaceleração dos
países desenvolvidos. Para a maioria
Ano de 2008 marca Em 2009, contudo, será impossível repetir
este desempenho. A escassez de crédito, desses países, entre eles o Brasil, o
interrupção de combinada com perda generalizada crescimento em 2008 foi sustentado
ciclo virtuoso de de confiança, está levando os setores pela demanda doméstica em ascensão
industrial, agrícola e de serviços – nos e elevadas receitas com as vendas de
crescimento mais diversos países – a interromper commodities. Nesses países, contudo,
O ano de 2008, no entanto, marcou o investimentos e se preocupar fortemente o rápido crescimento trouxe consigo
fim deste período. A crise financeira com contenção de despesas. Dessa a inflação e, em boa parte deles, a
internacional derrubou as bolsas ao lon- forma, cortes de custos e demissões, que solução adotada foi o endurecimento
go do globo, arrastou consigo bancos estavam concentrados nos setores finan- da política monetária. Como conse­
centenários e se alastrou pela econo- ceiros, alastram-se pelo restante da eco- qüência, as perdas financeiras nas
mia real, trazendo queda na atividade nomia. Com o aumento das demissões, a bolsas de valores foram mais acentua-
e dificuldades para diversos setores redução no consumo irá se intensificar. das que nos países avançados.
econômicos. A zona do Euro amargou
uma retração de 0,2% no terceiro O chamado credit crunch, decorrente Em 2009, as forças que sustentaram o
trimestre. Essa é a primeira vez que a da pressão sobre o setor financeiro, crescimento das economias emergen-

6 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


tes perderam intensidade. As exporta-
Evolução do Produto Interno Bruto e de volume de comércio
ções para os Estados Unidos, Europa e
Variação percentual
Japão irão se enfraquecer ainda mais,
O cenário mundial em 2009 será muito diferente do
quando as importações naqueles gran-
observado em 2007
des mercados começarem a encolher.
Os preços das commodities deverão 2007 2008* 2009*
continuar em queda e grandes países Mundo 5,0 3,7 2,2
exportadores, como o Brasil e muitos Estados Unidos 2,0 1,4 -0,7

dos emergentes, sentirão forte redução Economias desenvolvidas 2,6 1,4 -0,3
União européia 3,1 1,5 -0,2
em suas receitas de exportação. A
Economias emergentes e em
China, por exemplo, registrou queda 8,0 6,6 5,1
desenvolvimento
em suas exportações em novembro Volume comércio mundial
na comparação com o mesmo mês de 7,2 4,6 2,1
(bens e serviços)
2007; é a primeira vez em sete anos * Projeção
que as exportações chinesas não cres- Fonte: FMI

cem na comparação com igual período


do ano anterior. Para esses países, a
demanda doméstica também perde- permitir novos cortes nas taxas de economias. O abrandamento da política
rá força. Os alimentos se manterão juros. Caso contrário, pode-se esperar monetária, que havia se tornado mais
caros, deixando menos dinheiro para a impactos ainda mais severos sobre a restritiva com os surtos inflacionários
compra de outros bens de consumo. O atividade econômica. Estimativas pes- provocados pelas altas das
grande influxo de moeda estrangeira, simistas apontam para uma recessão commodities, tem sido a saída utilizada
que inundou os mercados emergentes, mundial prolongada. por muitas economias emergentes.
embora ainda elevado, deverá se tornar O Brasil é um dos poucos países que,
Um aspecto, contudo, deve ser res- até o momento, não se usou dessa
menos abundante.
saltado. Houve a oportunidade de se alternativa.
alcançar um acordo de liberalização
É necessário manter de comércio nas rodadas de Doha. Além disso, muitos países emergentes
a coordenação de Como o acordo não foi obtido, há risco estão anunciando pacotes de estímulos

políticas de ações protecionistas por algumas a suas economias. Ressalte-se, contu-


do, que – à exceção da China – esses
economias – muito embora ações
Essa mudança de cenário irá reduzir protecionistas sejam a última coisa que são relativamente pequenos, quando
em dois terços – no mínimo – a taxa a economia global precise. comparados às medidas dos países
de crescimento da economia mun- avançados. Esses países não têm es-
dial. Será o pior ano para a economia No caso das economias emergentes, paço em suas políticas fiscais para dar
mundial desde 1982. Isso supondo há dúvidas sobre a extensão da mais fôlego aos pacotes de estímulo ao
que os agentes de política econômica capacidade destes de promover crescimento, sem ameaçar o equilíbrio
das economias desenvolvidas, como políticas anticíclicas e financiamento fiscal. O Chile é uma exceção, uma vez
os Estados Unidos e União Européia, de seu crescimento. O investimento que acumulou um superávit fiscal de
mantenham-se tão ativos e coordena- estrangeiro direto será menor em 8,8% do PIB em 2007, por conta dos
dos quanto em 2008. Há espaço para 2009 – ainda que a redução venha ganhos de preço em suas exportações
tal: a inflação mais baixa em 2009 irá a ser mais intensa entre as grandes de cobre.

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


7
atividade econômica

Interrupção abrupta
do crescimento
O ano de 2008 foi marcado por dois
períodos com diferentes dinâmicas de
PIB e formação bruta de capital fixo
crescimento da economia brasileira. No
Variação (%) acumulada em 4 trimestres, em relação aos 4 trimestres anteriores
primeiro, formado pelos três primeiros
Formação bruta de capital fixo cresce em ritmo, pelo menos, duas
trimestres do ano, destaca-se o cresci-
vezes superior à expansão do PIB há 10 trimestres consecutivos
mento econômico evoluindo de maneira
intensa e espraiada. No segundo, com- 18

posto apenas pelos últimos três meses 16

do ano, há uma inversão repentina do 14

crescimento da economia, reflexo da 12


FBKF
10
crise financeira global que se disseminou
8
rapidamente. Não obstante à queda da PIB
6
atividade no final do ano, o forte ritmo
4
de expansão da economia até o terceiro 2
trimestre garantirá um crescimento 0
I II III IV I II III IV I II III IV*
ainda robusto do PIB em 2008. A CNI 2006 2007 2008
estima um crescimento do PIB de 5,7%
* Projeção
em 2008, o que representa uma taxa Fonte: IBGE

acima da projetada no início do ano.

Na média dos três primeiros trimestres continuou a ser o maior responsável pelo para a maioria dos setores: de janeiro
do ano, comparativamente ao mesmo crescimento econômico, com aumento a setembro de 2008, frente ao mesmo
período do ano anterior, o PIB cresceu à de 7,3% no terceiro trimestre, frente o período do ano anterior, a produção
taxa de 6,8%. Ressalte-se a aceleração mesmo período de 2007. cresceu para 21 dos 24 setores cobertos
de todos os componentes da demanda pela pesquisa (PIM-PF/IBGE) – sendo
interna, nessa comparação intertem- Do lado da oferta, o crescimento eco- que em cinco deles a taxa de expansão
poral. A formação bruta de capital fixo nômico no terceiro trimestre – compa- foi de dois dígitos.
(FBKF) cresceu 19,7% – o maior cresci- rativamente com o mesmo trimestre
mento em 12 anos. Além de intensa, a de 2007 – foi liderado, mais uma vez, O maior dinamismo da produção
expansão da FBKF ocorre com regulari- pela indústria, cuja expansão foi de industrial fez com que a utilização
dade: há 10 trimestres consecutivos que 7,1%. O setor de construção civil se da capacidade instalada na indústria
esse indicador cresce em taxas, pelo destacou pelo maior ritmo de expansão (CNI) atingisse 83,4% em setembro, o
menos, duas vezes o crescimento do (11,7%) desde o plano real. A produção que representa o maior nível da série
PIB. O consumo das famílias, no entanto, da indústria de transformação ocorreu histórica do indicador dessazonalizado –

8 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


Produção industrial por setor de atividade suficiente para desacelerar o crescimen-
Variação (%) acumulada no ano frente o mesmo período do ano anterior to em 18 dos 24 setores da indústria de
Queda da produção industrial em outubro desacelera transformação, na variação acumulada
crescimento no acumulado do ano em 18 setores da indústria no ano frente ao mesmo período de
de transformação 2007.

Outros equipamentos de transporte Quarto trimestre de


Equipamentos médico-hospitalares
Veículos automotores
2008 marca inflexão
Farmacêutica do crescimento
Máquinas e equipamentos
Minerais não-metálicos
econômico
Borracha e plástico
A crise internacional se disseminou na
Metalurgia básica
economia real via redução instantânea
Papel e celulose
da liquidez de crédito, o que dificultou a
Máq., aparelhos e materiais elétricos
Produtos de metal
obtenção de capital de giro por parte das
Mat. elét. e equip. de comunicações empresas. Com a expectativa de colapso
Vestuário e acessórios do crédito, as taxas de juros, que já es-
Edição e impressão tavam em trajetória de elevação devido
Mobiliário à política monetária restritiva, ampliaram
Outros produtos químicos
ainda mais esse movimento.
Refino de petróleo e álcool
Bebidas Apesar de ainda não existir dados
Alimentos
consolidados sobre a trajetória da
Têxtil
demanda interna no quarto trimestre de
Perfumaria e produtos de limpeza
2008, existem sinais claros de perda de
Equipamentos de informática
dinamismo do consumo das famílias e
Calçados e artigos de couro
Fumo
dos investimentos.
Jan-set09/jan-set08
Madeira Jan-out08/jan-out09
Cabe mencionar que a Sondagem
-10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Industrial/CNI detectou um aumento de
Fonte: PIM/IBGE
estoques na indústria como um todo no
terceiro trimestre de 2008 pela primeira
vez em nove trimestres. Considerando
iniciado em janeiro de 2003. A pressão do processo de crescimento econômi- apenas as grandes empresas, o acúmulo
sobre a UCI chegou a levantar o debate co – em outubro a UCI registrou recuo de estoques ocorreu de forma acima
sobre possíveis restrições de oferta para de 0,5 ponto percentual, para 82,9%, e do planejado pelo terceiro trimestre
atender à demanda, que vinha deline- acredita-se que esse movimento conti- seguido.
ando sólido crescimento. No entanto, nuará nos próximos meses.
essa hipótese perdeu sentido com a Com crédito mais caro e mais escasso,
chegada do quarto trimestre de 2008, O desaquecimento da indústria na em um cenário de rápida deterioração das
quando houve uma abrupta interrupção passagem de setembro para outubro foi expectativas do consumidor – o índice de

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


9
atividade econômica

confiança da FGV registrou o maior recuo


Estoques das empresas de grande porte
em outubro desde o início da apuração da
Índice de difusão*
pesquisa, em 2005 – e acúmulo de esto-
Estoques estão crescendo acima do planejado
ques indesejados, a atividade produtiva
60
foi sensivelmente reduzida.

A produção industrial em outubro, na 55


comparação com o mês anterior, recuou
1,7%, no dado dessazonalizado (PIM-PF/
50
IBGE). Esse movimento foi de tal monta
que, na comparação com o mesmo mês
do ano anterior, a produção industrial 45

desacelerou de 9,6% em setembro para


0,8% no mês seguinte. O arrefecimento 40
III IV I II III IV I II III IV I II III
só não foi mais intenso devido ao efeito 2005 2006 2007 2008
calendário positivo – o mês de outubro Indicador de Evolução Indicador da Relação Estoque Efetivo-planejado

de 2008 contou com um dia a mais de * Os indicadores variam no intervalo de 0 a 100. Valores acima de 50 indicam evolução positiva (crescimento) ou esto-
produção do que outubro de 2007. ques acima do planejado.
Fonte: Sondagem Industrial CNI

Outros indicadores de atividade in-


dustrial, como faturamento e horas
trabalhadas na indústria (Indicadores comprovam a acentuação da piora nesse trimestre do ano, frente ao trimestre
Industriais/CNI) também registraram quadro, uma vez que a produção de imediatamente anterior, de acordo com
sensível movimento de desaceleração veículos caiu 34,4% em novembro frente os dados livres de influências sazonais.
na comparação com o mesmo mês do a outubro e 28,6% na comparação com o Esse recuo, se confirmado, será a varia-
ano anterior. A variação do faturamento mesmo mês do ano anterior (dados An- ção mais pronunciada, nessa base de
reduziu-se de 11,8% em setembro para favea). A redução da produção levou às comparação, desde o primeiro trimestre
6,9% em outubro, enquanto as horas montadoras, inclusive, a anteciparem o de 1998, ano em que a economia teve
trabalhadas, que cresciam à taxa de período de férias coletivas de seus traba- crescimento nulo.
9,6% em setembro, arrefeceram esse lhadores, o que sinaliza para outro recuo
movimento para 4,9% no mês seguinte. da produção do setor em dezembro.
Recuo expressivo no
Um setor emblemático da indústria, e
PIB deverá registrar crescimento: em 2009
um dos que mais sentiu o impacto nas
vendas é o de Veículos automotores. queda no quarto economia deverá
Esse setor, que registrava expansão da
trimestre crescer apenas 2,4%
produção de 20,2% em setembro, arre-
feceu para 4,1% em outubro (PIM-PF/ A queda da atividade, de acordo com A queda do PIB no quarto trimestre de
IBGE), na comparação com mesmo mês dados preliminares, aponta para uma 2008 será suficiente para, praticamente,
do ano anterior. Dados de novembro redução de 1,5% do PIB no quarto anular o efeito carregamento de 2009

10 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


(projeção de apenas 0,2%). Ou seja, o 2008, o que significa um avanço de interna e queda da demanda exter-
crescimento econômico do ano que vem 3,0% em 2009. O consumo do governo, na em 2009 – no que diz respeito
não terá qualquer impulso estatístico do por sua vez deve expandir-se 3,7% no às exportações brasileiras –, o que
crescimento de 2008. Devido à relevân- mesmo período. pressionará ainda mais o nível de
cia dos impactos da crise internacional estoques, que já se encontram em
na economia doméstica, a CNI estima Entretanto, o destaque da desaceleração nível acima do planejado;
que no primeiro trimestre de 2009 o PIB da demanda interna em 2009 virá da
mantenha a trajetória de queda, regis- formação bruta de capital fixo (FBKF). c. Desvalorização do real: A perda de
trando redução adicional de 1,1%, frente Por ser mais sensível às flutuações da valor do real frente ao dólar encare-
ao trimestre anterior, no dado dessazo- economia, a FBKF deverá crescer apenas ce as importações de máquinas e
nalizado. Esse movimento, se confirma- 3,0% em 2009, contrastando-se à equipamentos;
do, caracterizará uma recessão na eco- expansão de 14,4% projetada para 2008.
d. Encarecimento e maior dificuldade
nomia brasileira (em termos técnicos, São quatro os fatores para esse compor-
de acesso ao crédito: o aumento
definida por dois trimestres consecutivos tamento:
das taxas de juros – resultado tan-
de PIB negativo, na comparação com o
a. Maturação dos investimentos já em to da política monetária restritiva
período anterior).
curso: os investimentos que foram de 2008 quanto da crise interna-
A CNI projeta um crescimento de 2,4% feitos ao longo de 2008 elevarão cional – aumentaram a aversão
do PIB em 2009. Apesar do crescimento ainda mais a capacidade produtiva ao risco e encareceram o custo
ainda ser liderado pelo consumo das da indústria; de financiamento, aumentando o
famílias, esse componente da demanda custo de oportunidade de investir
interna deverá reduzir-se para a metade b. Menor demanda: espera-se uma na produção.
da taxa de expansão registrada em forte desaceleração da demanda
O volume de exportações de bens e ser-
viços (pela apuração metodológica das
Contas Nacionais) deve reduzir-se em
4,3% em 2009. Apesar da desvalorização
Estimativa de PIB
do real frente ao dólar tornar os produtos
Variação percentual e contribuição
brasileiros mais competitivos no merca-
O componente da demanda interna que mais reduzirá a taxa de
do internacional – em termos de preço
crescimento em 2009 será a Formação Bruta de Capital Fixo
–, a recessão dos países desenvolvidos
2009 e a desaceleração das economias
Componentes do PIB emergentes afetarão sensivelmente a
3,0 1,8
venda dos produtos brasileiros para fora
Consumo das famílias
Consumo do governo 3,7 0,7 do país. No contexto de perda de valor
Ótica da
FBKF 3,0 0,6 da moeda brasileira e desaceleração
demanda
Exportações -4,3 -0,5
(-) Importações -2,1 -0,3 da demanda interna, a CNI estima uma
retração de 2,1% do volume de importa-
Agropecuária 1,6 0,1 ções de bens e serviços em 2009. Dessa
Ótica da Indústria 1,8 0,5
oferta Serviços 2,8 1,8 forma, a contribuição do setor externo no
Impostos 2,0 PIB diminuirá dos projetados -2,2 pontos
PIB pm 2,4 percentuais em 2008 para -0,2 ponto
Elaboração: CNI percentual em 2009.

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


11
emprego e salário

Mercado de trabalho em 2009 não irá


repetir o bom desempenho de 2008
O dinamismo do mercado de trabalho
Criação de vagas nas regiões metropolitanas
dos últimos dois anos se intensificou
No acumulado do ano (em mil)
ainda mais em 2008. De janeiro a
2008 será marcado pela maior criação de empregos metropolitanos
outubro deste ano foram criados 774 desde o início da série histórica da PME – em 2002
mil empregos nas seis maiores regiões
metropolitanas brasileiras (PME/IBGE). 851
774
Esse fluxo só não é superior ao registra-
do em 2003, quando foram criadas 851 646
623
mil vagas em todos os 12 meses. 520
479
Ressalte-se que ao incluir os resulta-
dos dos meses de novembro e dezem-
bro – que ainda não foram divulgados
–, são altas as chances de que a
criação de empregos em 2008 supere
a de 2003. Importante notar que a 2003 2004 2005 2006 2007 2008*

qualidade dos novos empregos em * Até outubro


Fonte: PME/IBGE
2008 é superior a de 2003. Isso porque
enquanto em 2003, quase todos os
empregos criados foram informais, em
comparação. Paralelamente, a ocupa- Ao focar apenas no setor privado, a
2008 a criação de vagas formais foi
ção informal, que é representada por tendência de formalização da mão-de-
predominante.
ocupados sem carteira e por conta-pró- obra é ainda mais aparente. São 45
pria, cresceu apenas 0,2% no mesmo meses contínuos de crescimento do
Emprego formal é período. O emprego formal cresce mais emprego com carteira em ritmo acima
destaque em 2008 do que o informal desde abril de 2007, do sem carteira – com exceção do mês
nessa base de comparação. de agosto de 2008, quando ambos os
O aumento na qualidade do emprego
contingentes cresceram virtualmente à
em 2008 é indiscutível. Enquanto a Em termos absolutos, foram criados 832 mesma taxa.
ocupação cresceu 4,0% em outubro, mil empregos formais e fechados 54 mil
frente ao mesmo mês do ano anterior, o informais, no acumulado dos dez pri- A continuidade dessa tendência elevou
contingente de emprego formal – cons- meiros meses de 2008. Essa é a maior o grau de formalidade do mercado de
tituído pelos empregados com carteira, criação de empregos formais em seis trabalho em outubro para 56,6%. Esse
estatutários, militares e empregadores anos - ao considerar os setores públicos indicador, que representa a soma dos
–, cresceu 6,6%, na mesma base de e privados. empregos com carteira, militares e esta-

12 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


tutários pelo total da ocupação, cresceu Dos 12 setores da indústria de anteriores. Em 2008, a taxa de desem-
1,6 ponto percentual na comparação transformação cobertos pelo Caged, prego iniciou a trajetória de queda já no
com outubro de 2007. seis registraram maior fluxo de primeiro trimestre do ano, enquanto em
contratação em 2008. O setor de 2007 e em 2006 esse indicador só pas-
O grau de formalidade só não trilhou Alimentos e Bebidas se destacou sou a recuar a partir de meados do se-
uma tendência contínua de crescimento por ser responsável por 34% de toda gundo trimestre. Dessa forma, a taxa de
em todo ano de 2008 devido ao período a criação de vagas na indústria de desemprego ficou, em média, 1,6 ponto
eleitoral, quando há maior oferta de transformação no período. percentual abaixo do nível dos mesmos
trabalho temporário – usualmente infor- meses do ano anterior. A projeção da
mal – para fazer frente às campanhas Destaque também para a Construção CNI é de que a taxa de desemprego fi-
eleitorais. Após esse período, ou seja, Civil, que criou 301 mil empregos no nalize o ano em 6,9%, registrando média
a partir de setembro, o grau de formali- acumulado do ano até outubro, o que anual de 7,9% – as menores taxas da
dade voltou a crescer e atingiu o maior representa o dobro do fluxo líquido série histórica da PME.
nível registrado da série desde o início registrado no ano anterior (155 mil).
da pesquisa, em março de 2002.
Menor crescimento Massa salarial
A criação de emprego formal não é um
da PEA favorece cresce à taxa de
movimento exclusivo das regiões metro-
politanas, mas também em todo o ter- recuo da taxa de dois dígitos
ritório nacional. A criação de empregos
com carteira assinada em todo o Brasil desemprego A aceleração da inflação a partir do
segundo semestre do ano reduziu os ga-
no acumulado de janeiro a outubro de Enquanto a ocupação metropolitana nhos do poder de compra dos trabalha-
2008 ficou em 2,1 milhões (Caged/MTE), cresceu intensamente em 2008 (média dores, resultando no arrefecimento da
o que caracteriza o maior fluxo líquido de de 3,9% na comparação mês contra o renda. O rendimento real habitualmente
novas oportunidades de trabalho formal mesmo mês do ano anterior), a Popu- recebido cresceu 3,3% na média do
para períodos semelhantes em toda a lação Economicamente Ativa (PEA) acumulado de 2008 comparativamente
história. Em termos de comparação, no – formada pelas pessoas ocupadas ou ao mesmo período de 2007.
mesmo período do ano passado, foram desocupadas que estão à procura por
criados 1,9 milhão de empregos formais. emprego – não cresceu com a mesma Porém, como o emprego continuou cres-
intensidade (média de 2,1% no mesmo cendo substancialmente, principalmente
Crescimento do período). De fato, a ocupação cresce no segundo semestre de 2008, a massa

emprego se dá de em ritmo substancialmente acima da salarial real atingiu uma expansão de


expansão da PEA desde junho de 2007. 10,2% em setembro frente ao mesmo
forma disseminada Com isso, o diferencial médio entre o mês do ano anterior. Ressalte-se que o
na indústria de crescimento anual da ocupação e da crescimento da massa salarial se man-
tém à taxa de dois dígitos há três meses
transformação PEA aumentou de 0,8 ponto percentual
consecutivos.
em 2007 para 1,8 ponto percentual em
A indústria de transformação criou 533 2008.
mil vagas de janeiro a outubro de 2008, Já no acumulado dos nove primeiros
praticamente igualando a criação de Esse comportamento levou a uma meses de 2008, frente a igual período
empregos no mesmo período de 2007 redução mais rápida da taxa de desem- de 2007, a massa salarial aumentou
(540 mil). prego ao longo de 2008 do que em anos 8,5%.

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


13
emprego e salário

Perspectivas de um PEA e Ocupação


mercado de trabalho Variação (%) frente ao mesmo mês do ano anterior

menos dinâmico 5,0

Apesar da crise internacional ainda não 4,0 A PEA cresce


em velocidade
ter afetado o mercado de trabalho de 3,0
abaixo da
forma disseminada – de acordo com os expansão da
2,0
dados até outubro –, é muito prová- ocupação desde
vel que haverá perda do dinamismo 1,0
junho de 2007
registrado em 2008. O menor cresci- 0,0
mai/05 nov/05 mai/06 nov/06 mai/07 nov/07 mai/08
mento econômico de 2009 resultará Ocupação PEA

em uma criação menor de empregos no Fonte: PME/IBGE

ano. Dessa forma, a CNI estima que o


processo de formalização do mercado
de trabalho não continuará nos mesmos Taxa de desemprego metropolitana
Em % da PEA
moldes de 2008. Em outros termos,
o grau de formalidade do mercado de 11,0

trabalho, se continuar crescendo, será 10,5 2006


O processo de
em ritmo sensivelmente inferior ao 10,0
2007 redução da taxa
9,5
registrado em 2008. 9,0
de desemprego
2008
8,5
iniciou antes do
Nesse contexto, a PEA passará a crescer 8,0
8,4
registrado em
mais intensamente em 2009. Essa 7,5 anos anteriores
Projeção 7,4
7,0
hipótese está ligada a maior chance 6,5
6,9
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
de membros secundários familiares
Fonte: PME/IBGE
entrarem no mercado de trabalho em
busca de uma ocupação para ajudarem
a equilibrar os ganhos de renda do do-
Massa salarial real
micílio. Com mais pessoas à procura de Variação (%) na comparação com o mesmo mês do ano anterior
trabalho, a taxa de desemprego irá subir
de forma mais rápida no início de 2009 12

do que no mesmo período de 2008. Com 10


2008 Maior ritmo do
isso, a taxa média de desemprego em crescimento
8 do emprego
2009 deverá ficar por volta de 8,2%, o
impulsionou a
que representa 0,3 ponto percentual aci- 6
expansão da
ma da média registrada em 2008. Nessa 4
2007
massa salarial
esteira, a desaceleração do crescimento
2
do emprego trará efeito negativo nos jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

ganhos da massa salarial real. Fonte: PME/IBGE

14 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


inflação, juros e crédito

Desaceleração da atividade e cenário


externo reduz pressão inflacionária
Os índices gerais de preços (IGP-DI/
Preços internacionais de commodities
FGV) registraram aceleração em todo o
Variação anual (%)
primeiro semestre de 2008. A inflação
Evolução dos preços internacionais das commodities em 2008
no atacado, medida pelo IPA-DI, chegou
contrasta com a trajetória de anos anteriores
a atingir 18,9% em julho, no indicador
acumulado em 12 meses. Seguindo
esse movimento, a inflação ao con- 2004 2005 2006 2007 2008*
sumidor (medida pelo IPCA) acelerou Total 18,4 29,3 14,3 29,4 -26,4
o ritmo nos primeiros sete meses do Energia (Petróleo, Gás e Carvão) 30,2 41,1 7,1 44,0 -29,9
Petróleo 30,5 44,5 8,0 46,6 -39,6
ano, atingindo o pico de 6,4% em julho,
Alimentação e bebidas 1,2 5,2 15,0 25,6 -14,8
praticamente no limite superior da meta
Insumos industriais 9,9 21,1 37,5 -5,7 -24,6
de inflação. Matérias-Primas Agrícolas -3,6 6,7 12,9 -0,3 -16,8
Minerais Metálicos 23,3 32,3 53,0 -8,2 -28,6
Esse fenômeno não ocorreu apenas no
* Variação de novembro de 2008 frente a dezembro de 2007
Brasil. O contínuo aumento dos preços Fonte: FMI
internacionais de commodities nos últi-
mos anos pressionou os índices de in-
flação no mundo inteiro. De fato o índice
que compõe o agregado de commodities especificamente, minerais metálicos. A razão para a maior rigidez da
do FMI registrou crescimento de 40% de Esse comportamento fez o preço inflação ao consumidor se dá pela
janeiro a julho de 2008, quando atingiu o médio das commodities registrar queda pujança da demanda interna –
pico histórico da série. de 26,4% no acumulado do ano aré alimentada pela expansão da massa
novembro. salarial, do volume de crédito e dos
No entanto, o segundo semestre do
programas sociais do governo, como
ano foi marcado por uma reversão A mudança de cenário fez o IGP-DI regis-
Bolsa Família –, que abriu espaço para
desse movimento, quando os preços trar desaceleração, de modo a passar de
repasses da inflação no atacado para
das commodities passaram a registrar um crescimento de 14,8% em julho para
o varejo e manteve pressionados os
queda acentuada devido à redução da 11,2% em novembro, no indicador acu-
preços dos serviços.
demanda global. Nos quatro meses mulado em 12 meses. Ressalte-se, toda-
posteriores – de agosto a novembro via, que a inflação ao consumidor (IPCA) Apesar de ter um peso de 22% no IPCA,
– o índice do FMI recuou 47,4%. A não seguiu a tendência de arrefecimento o grupo Alimentação chegou a ser
queda dos preços das commodities e manteve-se acima da variação de responsável por 54,9% de toda a variação
foi generalizada, com destaques para 6,0% em todo segundo semestre. A CNI dos preços no indicador acumulado em
energia e insumos industriais, mais estima um IPCA de 6,2% em 2008. 12 meses findos em junho. A pressão

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


15
inflação, juros e crédito

sobre esse grupo também foi se redu-


zindo, acompanhando de forma menos IGP-DI e IPCA
sensível a tendência de queda dos preços Acumulado em 12 meses
internacionais das commodities. Com Desaceleração da inflação no atacado ainda não atingiu a
isso, a participação do grupo alimentação inflação ao consumidor
na inflação acumulada em 12 meses até
novembro de 2008 recuou para 44,1%. 16

Menor pressão nos 12


IGP-DI

núcleos do IPCA
8
Os núcleos de inflação – que são
caracterizados por uma trajetória mais IPCA
4
rígida de evolução – registraram em no-
vembro uma interrupção do movimento
de alta no indicador acumulado em 12 0
jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08
meses. O núcleo por médias aparadas
Fonte: IBGE e FGV
com suavização estabilizou-se em 4,8%
de outubro para novembro e o núcleo
por exclusão de alimentos e preços mo-
nitorados chegou a recuar ligeiramente
nesse período (de 5,1% para 5,0%).
Contribuição do grupo Alimentação e Bebidas no IPCA
Com as últimas apurações sobre a varia- Em % do IPCA acumulado em 12 meses
ção dos preços e a forte desaceleração Queda dos preços das commodities leva contribuição do grupo
da economia doméstica e internacional Alimentação recuar sensivelmente na inflação ao consumidor
já em curso, os fatores de risco para infla-
ção futura reduziram-se sensivelmente. 60

A depreciação cambial é, atualmente, o


55
único fator potencialmente desestabiliza-
dor da inflação no Brasil. Historicamente, 50

a ocorrência de desvalorização do real


45
frente ao dólar traz impactos significati-
vos de pressão inflacionária doméstica. 40

No entanto, a perda de valor do real ocor-


35
re concomitantemente à redução dos
preços internacionais das commodities. 30
jul/07 set/07 nov/07 jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08
Dessa forma, acredita-se que o impacto
negativo na inflação será sensivelmente Fonte: IBGE

menor do que em ocorrências anteriores.

16 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


A CNI estima que o IPCA ainda mante-
Núcleos do IPCA nha a rigidez em sua trajetória durante o
Variação (%) acumulada em 12 meses primeiro trimestre de 2009, para só nos
Aceleração do crescimento dos núcleos meses posteriores apresentar desacele-
perde força ração, de forma a finalizar o ano em 4,8%
– ligeiramente acima do centro da meta
7,0 de inflação, de 4,5% para o ano.

6,0
Crise internacional
5,0 altera postura de
4,0
política monetária no
Brasil
3,0
Após o Banco Central elevar a taxa de
2,0 juros em 2,5 pontos percentuais – de
jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08
abril a setembro de 2008 (para 13,75%
Médias aparadas com suavização Núcleo por exclusão de alimentos e preços monitorados
ao ano) –, a crise internacional dissemi-
Fonte: IBGE
nou-se de maneira rápida e intensa via
redução da liquidez de crédito. Devido à
maior aversão ao risco, o empoçamento
de liquidez elevou ainda mais as taxas
Evolução da taxa de juros Selic e Spread bancário para pessoa jurídica de juros referenciais para as opera-
Em % ao ano ções de crédito, de forma a atingirem
Spread bancário atinge a segunda maior taxa da série histórica do 42,9% ao ano em outubro (último dado
Banco Central, se descolando da trajetória da Selic disponível).

18 Os spreads bancários, definidos pela


17 diferença entre a taxa de captação
e de aplicação de capital, mais que
16
reverteram toda a queda registrada em
15
2007. Os spreads médios para pessoa
14 jurídica, que estavam em 13,7% em
13
janeiro de 2008, passaram para 17,5%
em outubro. Esse movimento gerou um
12
descolamento entre a taxa Selic e o
11 spread para pessoa jurídica. Ressalte-
jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 set/07 nov/07 jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08
se que em apenas uma ocasião – em
Taxa Selic Spread bancário
Fonte: Banco Central outubro de 2002 –, desde o início da
série histórica do Banco Central (em

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


17
inflação, juros e crédito

te-se que para potencializar o impacto


Volume de Crédito das medidas feitas até aqui, será
Em proporção do PIB necessário impor a mudança da relação
Volume de crédito atinge 40,2% do PIB, o que representa o maior câmbio-juro, que exige um abranda-
patamar da série histórica do Banco Central mento da política monetária – vale dizer,
taxas de juros menores que às de 2007.
41

39
Perspectivas para a
37

35
taxa Selic
33 Apesar da gravidade do travamento do
31 crédito e da desaceleração da ativi-
29
dade econômica no quarto trimestre
de 2008, a taxa Selic permaneceu em
27
13,75% ao ano na última reunião do
25
dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 ano do Copom, em dezembro.
Fonte: Banco Central do Brasil
A CNI estima que na primeira reunião
de política monetária de 2009 – nos
dias 20 e 21 de janeiro – o Copom
inicie o ciclo de afrouxamento
junho de 2000) o spread bancário decretadas pelo governo, o Banco Cen-
monetário, alinhando a trajetória da
médio para pessoa jurídica ultrapassou tral promoveu, em um esforço inédito,
Selic com a política monetária vigente.
a taxa registrada atualmente. uma série de medidas monetárias de
A redução dos juros deverá ser de
caráter expansionista com objetivo
A despeito da elevação dos juros e dos 0,5 ponto percentual, com repetição
de destravar o crédito. As medidas
spreads, o volume total de crédito do dessa dose na reunião seguinte, em
concentram-se no aumento de liquidez
sistema financeiro cresceu sobrema- março, de forma a deixar a Selic em
monetária, como reduções dos depó-
neira em 2008, passando de 34,7% do 12,75% ao ano. A trajetória cadente
sitos compulsórios a prazo e à vista
PIB em janeiro de 2008 para 40,2% em da taxa de juros continuará ao longo
(e posterior alteração na exigência de
outubro – essa foi a maior participação de todas as seis reuniões de política
recolhimento de dinheiro em espécie
do crédito no PIB da história. monetária restantes do ano, na forma
para títulos públicos) e a criação e
de reduções de 0,25 ponto percentual
ampliação de linhas de créditos para a
Medidas efetivas exportação e para setores onde a falta
em cada reunião. Com isso, a CNI
projeta uma taxa Selic de 11,25%
de afrouxamento de liquidez de crédito ficou crítica.
em dezembro de 2009, acumulando
monetário Essas medidas vão na direção certa para uma média de 12,2% no ano – o
conter parte dos impactos já dissemina- que representa 0,3 ponto percentual
Em meio a esse cenário, a somarem-se dos da crise internacional, ao promover abaixo da taxa de juros média
as medidas de desoneração tributária liquidez ao mercado monetário. Ressal- registrada em 2008.

18 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


política fiscal

Ampliação da meta de superávit primário impede


novo aumento das despesas em relação ao PIB
A política fiscal sofreu uma inflexão em Evolução da despesa primária total do Governo Federal
2008. Pela primeira vez nos últimos Acumulada no ano (% do PIB)
cinco anos as despesas primárias do Despesas primárias não devem apresentar expansão pela primeira
Governo Federal não deverão se elevar vez desde 2003
em relação ao PIB. Dois fatores contribu-
íram decisivamente para essa inflexão. 19
O primeiro deles foi o bom ritmo de
crescimento do PIB, que compensou
o aumento nominal das despesas. O 17
segundo foi a decisão de ampliar a meta
de superávit primário em 0,5% do PIB,
o que fez com que o excepcional ritmo 15
de crescimento da receita não fosse
convertido em despesas adicionais.
13
As despesas primárias do Governo Fe- 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008*
* Projeção
deral cresceram 5,1%, em termos reais * Projeção CNI
Fonte: STN/MF
(deflator IPCA), entre janeiro e outubro
de 2008, com relação ao mesmo perío-
do de 2007. Entretanto, como o ritmo de
expansão de tais despesas tem se ace- janeiro e outubro de 2008, se compara- ocorrido em 2007, o ritmo de expansão
lerado nos últimos meses, o crescimen- do ao mesmo período do ano anterior. da receita supera amplamente o cresci-
to real deve se elevar com os dados de Por outro lado, os investimentos tiveram mento real do PIB, que nos três primeiros
novembro e dezembro. Ainda assim, as crescimento real de 42,5% na mesma trimestres de 2008 foi de 6,4%. Como as
despesas primárias do Governo Federal base de comparação. Dessa forma, o alterações na legislação tributária foram,
devem encerrar 2008 em 17,5% do PIB, volume de investimentos acumulado em de modo geral, no sentido de redução
mesmo patamar observado em 2007. 12 meses cresceu de 0,75% do PIB, em da arrecadação (fim da CPMF contra
dezembro de 2007, para 0,9% do PIB, aumento de alíquotas do IOF e da CSLL),
Além da estabilidade do total das em outubro de 2008. o aumento registrado deve ser atribuído,
despesas primárias em relação ao principalmente, à melhoria dos resultados
PIB, outro fato relevante encontra-se A receita líquida do Governo Federal das empresas e à expansão da massa sa-
na composição do crescimento das cresceu 11,4%, em termos reais, entre larial. Dessa forma, apesar dos impactos
despesas. A expansão real dos gastos janeiro e outubro de 2008, com relação da desaceleração da economia no último
correntes foi de 3,75% no período entre ao mesmo período de 2007. Assim como trimestre, a receita líquida deverá atingir

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


19
política fiscal

Evolução da receita líquida do Governo Federal


Acumulada no ano (% do PIB)
21

19 Arrecadação
chega ao quinto
ano consecutivo
17
de crescimento
superior ao do PIB

15
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008*
* Projeção
* Projeção CNI
Fonte: STN/MF

20,3% do PIB em 2008, contra 19,8% no governos a realizarem economia adicio- tivo do superávit primário em relação aos
final de 2007. nal de receitas em relação ao estabele- 3,9% do PIB obtidos em 2006.
cido nos acordos de renegociação das
Da mesma forma que o Governo Fede- dívidas com o Governo Federal. A maior parte da folga do superávit
ral, os governos estaduais e municipais primário em relação à meta será pro-
também registraram um ritmo excepcio-
nal de crescimento das suas receitas.
Superávit primário porcionada pelo Governo Federal. Para o
Governo Federal espera-se um superávit
As principais fontes de receita desses deverá superar equivalente a 2,85% do PIB, superando
entes da federação tiveram crescimento amplamente a meta a meta de 2,2% do PIB estipulada para o
real de 14,0% entre janeiro e outubro de
2008, com relação ao mesmo período para 2008 ano e o resultado de 2,3% do PIB obtido
em 2007. Com relação aos estados
de 2007. Por outro lado, o ritmo de Dado o ritmo de crescimento da arre- e municípios, o superávit primário
aumento das despesas nos governos cadação de todos os níveis de governo esperado é de 1,05% do PIB. Dessa
regionais superou largamente aquele e a contenção de despesas adicionais forma, apesar de superarem a meta
observado no Governo Federal. Tendo observada no Governo Federal, o setor estabelecida de 0,95% do PIB estabe-
em vista o resultado primário alcançado público deverá superar, com folga, a lecida para 2008, os governos regionais
até outubro, estimamos em 16,3% o meta de superávit primário de 3,8% do devem registrar um resultado primário
crescimento real das despesas entre PIB estabelecida para 2008. A CNI estima inferior àquele obtido em 2007, que foi
janeiro e outubro de 2008, com relação que, em conjunto, os governos Federal, de 1,15% do PIB.
ao mesmo período de 2007. Dois fatores estaduais e municipais e suas empresas
podem explicar este comportamento estatais terminem o ano com um superá- Por sua vez, o superávit primário das
dos governos regionais: as eleições vit primário equivalente a 4,25% do PIB. empresas estatais federais deve ser de
municipais e a pouca propensão desses Haverá, portanto, um aumento significa- 0,35% do PIB, resultado bem inferior à

20 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


meta estabelecida para o ano (0,65% pressão exercida pelo déficit nominal e O PLOA foi elaborado tendo como refe-
do PIB) e também àquele registrado do efeito redutor decorrente do aumento rência um cenário econômico completa-
em 2007 (0,45% do PIB). A principal do PIB, é importante ressaltar o impacto mente diferente daquele que se espera
explicação para o baixo superávit da desvalorização cambial na redução da para 2009. Dessa forma, o projeto
primário das estatais federais está no dívida líquida do setor público. Como os apresenta um expressivo aumento das
expressivo aumento dos seus investi- ativos externos do setor público superam despesas sustentado por uma am-
mentos. Nos dez primeiros meses de amplamente a dívida pública externa, a pliação significativa da receita líquida.
2008, com relação ao mesmo período desvalorização cambial proporcionou um Como desde a proposição do PLOA as
do ano passado, os investimentos das aumento maior dos ativos externos do estimativas de receita e despesas para
estatais registraram crescimento real de que aquele verificado na dívida pública 2008 se ampliaram, a atualização das
17,9%. Embora tais investimentos sejam externa quando denominados em reais. variações previstas para 2009 apontam
importantes para as empresas e para o um crescimento nominal de despesas
crescimento econômico, eles compro- Menor ritmo de de 14,1% e da receita líquida de 10,1%.
metem a capacidade atual de geração
de superávit primário.
crescimento das A expectativa da CNI é de que o cres-
receitas impõe cimento nominal da receita líquida do
Além da ampliação do superávit primá- Governo Federal seja de 7,3% no próximo
rio, a redução das despesas com juros é necessidade de ano. Tal projeção se baseia na estimativa
outro fator positivo das variáveis fiscais corte de despesas da CNI de crescimento real de 2,4% do
em 2008. O pagamento de juros no ano PIB em 2009. Sendo assim, adota-se a
deverá corresponder a 5,7% do PIB, con- programadas para hipótese de que a receita de impostos
tra 6,15% do PIB em 2007. Apesar da 2009 e contribuições acompanhe o aumento
média da taxa básica de juros (Selic) ter nominal do PIB (9,6%), excluído o efeito
sido maior este ano do que foi em 2007, Para 2009, os efeitos da crise econômi- da recente desoneração tributária. O me-
dois outros fatores mais do que com- ca mundial sobre a economia brasi- nor crescimento econômico também se
pensaram o impacto da alta na Selic. O leira trazem grandes incertezas para refletirá em menor expansão da massa
primeiro deles foram as taxas de juros a execução da política fiscal. Por um salarial e, dessa forma, na arrecadação
mais baixas incidentes sobre os títulos lado, existem dúvidas com relação ao previdenciária. Finalmente, admite-se
pré-fixados. O segundo foi o efeito da impacto sobre a atividade econômica e, um forte impacto da queda dos preços
desvalorização cambial sobre a dívida consequentemente, sobre a arrecada- internacionais das commodities sobre
interna indexada à taxa de câmbio. ção do setor público. Por outro lado, há royalties e dividendos recebidos pelo
a possibilidade de se buscar a imple- Governo Federal. Sendo assim, espera-se
A combinação de maior superávit mentação de uma política fiscal mais que a receita líquida do Governo Federal
primário e menor despesa com juros expansionista para tentar reduzir os efei- caia 0,4 p.p. do PIB e atinja o patamar de
levará a uma significativa redução do tos sobre a atividade econômica. Este 19,9% do PIB em 2009.
déficit nominal, que deverá passar de cenário ganhou força com a proposição
2,25% do PIB, em 2007, para 1,45% do de redução de despesas do Projeto de Tendo em vista um novo cenário para
PIB, em 2008. Em função disso, iremos Lei Orçamentária Anual (PLOA) feita pelo a receita, caso queira buscar o cumpri-
observar também uma expressiva queda Poder Executivo ao Congresso – apenas mento da meta de superávit primário
do endividamento público em relação ao R$ 8 bilhões – e as medidas de desone- de 2,2% do PIB estipulada para 2009,
PIB, que deverá cair de 42,7%, em 2007, ração tributária – estimadas em R$ 8,4 o Governo Federal deverá reduzir as
para 36,4%, em 2008. Além da menor bilhões – anunciadas em dezembro. despesas primárias previstas no PLOA.

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


21
política fiscal

Trajetória da Dívida Líquida do Setor Público


Acumulada no ano (% do PIB)
0,6

Redução do
déficit nominal,
0,5 crescimento da
economia e ajuste
cambial garantem
0,4
forte redução do
endividamento
público em 2008
0,3
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008* 2009*
* Projeção

* Projeção CNI
Fonte: Banco Central do Brasil

Nesse caso, estimamos em R$ 35,0 do PIB em 2009. Isso ocorrerá por que, que as estatais federais irão produzir um
bilhões o montante de despesas a ser mesmo que com o corte no orçamento superávit primário ligeiramente abaixo
cortado do orçamento. Entretanto, as despesas discricionárias sejam redu- da meta (0,6% do PIB).
caso opte por uma política fiscal mais zidas em termos nominais, as despesas
expansionista e decida utilizar-se do obrigatórias terão crescimento nominal No caso dos governos regionais e suas
mecanismo do Projeto Piloto de Investi- de 13,5%. Esse crescimento será deter- estatais, é factível a obtenção da meta
mentos (permite uma meta de 1,7% do minado pelo forte aumento de despesas de superávit de 0,95% do PIB. Com isso,
PIB com a exclusão de R$ 15,6 bilhões com pessoal – em função dos reajustes o superávit primário do setor público
em despesas com investimentos no concedidos em 2008 – pelos impactos consolidado previsto para 2009 é de R$
âmbito do projeto), o corte de despesas do aumento do salário mínimo sobre 107,5 bilhões, equivalentes a 3,35% do
seria de R$ 19,4 bilhões. gastos com previdência, assistência, PIB projetado pela CNI.
abono salarial e seguro-desemprego.
Admitimos em nossas projeções que Dessa forma, como esperamos uma
o Governo Federal implementará uma Também é incerto o cumprimento da redução nas despesas com juros para
política fiscal fortemente anti-cíclica meta de 0,65% por parte das empresas 5,2% do PIB em 2009, o resultado
e realizará cortes no orçamento na estatais federais. Nos últimos três anos nominal ficaria deficitário em montan-
mesma proporção da base de despesas o maior percentual obtido por essas te equivalente a 1,9% do PIB. Com a
contingenciáveis feitos em 2008 (cerca empresas foi inferior a 0,6% do PIB em elevação do déficit nominal e o menor
de 30% da base, equivalente a R$ 22,0 2006. Além disso, o PLOA prevê novo crescimento esperado para a economia
bilhões). Nesse cenário, as despesas aumento significativo (26,7% em termos a relação dívida/PIB deverá elevar-se
primárias do Governo Federal crescerão nominais) dos investimentos das esta- ligeiramente, atingindo 37,0% do PIB no
em 0,6 p.p. do PIB e atingirão 18,1% tais em 2009. Dessa forma, admitimos final de 2009.

22 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


setor externo e câmbio

Mudança no padrão das contas externas


começou em 2008
Taxa de câmbio ção de 42%, atingindo a cotação de R$ 82 bilhões. A segunda, que explica a
2,42 / US$ em novembro. expectativa de mudança definitiva do
interrompe trajetória patamar do câmbio, está relacionada à
de valorização São dois os principais fatores para desaceleração mundial, que diminui a
esta rápida desvalorização do real. A demanda pelos bens exportados pelo
Em 2008, até agosto, o grande influxo primeira é estreitamente ligada à crise país e os preços das commodities, que
de moeda estrangeira sustentava a va- no setor financeiro, que desencadeou representam parcela importante das
lorização do real, que chegou a atingir um processo de desalavancagem e de vendas externas brasileiras.
R$ 1,55 / US$, o menor valor desde aversão ao risco ao redor do mundo. Em
junho de 1998 – a valorização alcan-
çava, então, 12% no acumulado no
novembro, foi registrada a maior saída
Mudança no patamar
de câmbio contratado desde janeiro de
ano. Contudo, o acirramento da crise 1999: US$ 7,1 bilhões. Entre janeiro e de câmbio em 2009,
financeira mundial e suas conseqüên- novembro, o saldo ainda é positivo em mesmo com pequena
cias alteraram o cenário. Entre agosto e US$ 5,4 bilhões; mas em igual período
novembro, o real acumulou desvaloriza- de 2007, o saldo era positivo em US$
apreciação
Neste fim de 2008, o dólar vem apre-
sentando fortes oscilações. A cotação
do dólar, que apresentou pouca varia-
Índice da taxa de câmbio (R$/US$) ção diária até setembro, passou a os-
Taxa Nominal (PTAX) – média de compra e venda cilar forte – em vários dias de outubro,
Cotação do real se tornou volátil a variação diária da cotação superou
5%. Ainda que o dólar possa retomar
2,55 2,50
2,43 trajetória de desvalorização frente a
2,39
2,35 outras moedas, a cotação do dólar
2,34
2,27 frente ao real seguirá pressionada, em
2,15 especial no curto prazo, pelo aumento
2,08
do déficit da balança de pagamentos.
1,95
1,92 Adicionalmente, ao menos no início de
1,83
1,75 2009, as condições financeiras seguirão
1,66
1,67
precárias e, segundo nossas previsões,
1,56
1,55 o Brasil poderá estar atravessando uma
jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08
recessão, o que irá afugentar investi-
Fonte: Banco Central do Brasil mentos externos. Dessa forma, a oferta

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


23
setor externo e câmbio

de moeda estrangeira seguirá restrita.


Nesse cenário, a cotação real / dólar Indice de preço das exportações brasileiras
Por categoria de produto - Base: média 2006 = 100
permanecerá no atual patamar (acima
de R$ 2,40 / US$) nos primeiros meses Na margem, percebe-se queda nos preços
de exportação
do ano, podendo inclusive registrar
desvalorização adicional. Ao longo do 200
ano, espera-se, a melhoria das condi-
180
ções de financiamento e os impactos
da manutenção do real em patamar 160
mais desvalorizados sobre o déficit
140
na balança de pagamentos irão, por
fim, exercer algum alívio, permitindo a 120
reversão, ainda que parcial, da desva-
100
lorização. Projetamos que o câmbio irá
terminar o ano em torno de R$ 2,25 / 80
jan/06 jul/06 jan/07 jul/07 jan/08 jul/08
US$, com média anual em torno de R$
Básicos Semimanufaturados Manufaturados
2,35 / US$.
Fonte: Funcex

Ritmo de expansão
das exportações
para exportação e a redução de se muito acima do registrado em
perde força ao fim de preços impediu a manutenção do igual período do ano anterior, mas na
2008 forte ritmo de expansão das vendas margem, já se percebe queda nos
externas. Esperamos que em 2008 preços de exportação – o que não
No acumulado do ano em 2008, até as exportações totalizem US$ 198 acontecia desde março de 2007.
novembro, as exportações atingiram bilhões, um crescimento de 23% na
US$ 184 bilhões, valor 25% superior ao comparação com 2007. A taxa de crescimento nos ganhos
registrado em igual período de 2007. de preço dos produtos básicos se
Um ritmo de crescimento acentuado foi Ressalte-se que em 2008, os destaca: 47% na comparação entre o
observado entre os meses de maio e ganhos de preço são responsáveis acumulado até outubro de 2008 e 2007.
setembro desde ano (entre 30% e 44% pela totalidade da expansão das O quantum, por outro lado, manteve-se
na comparação com o mesmo mês de exportações. No acumulado até estável. Já os produtos manufaturados,
2007). A partir de outubro, a despeito outubro, o quantum exportado recuou além de registrar o menor aumento
da rápida desvalorização do real e o 2%, enquanto os preços registraram de preços (18%) também registraram
decorrente ganho na rentabilidade alta de 30%. A elevação nos preços o maior recuo nas quantidades
das exportações, o ritmo de expansão das commodities, sobretudo na embarcadas: 5%. Por fim, os produtos
das exportações se reduziu. A rápida primeira metade do ano, foram semimanufaturados registraram, no
queda na demanda internacional, a determinantes para os ganhos de preço período, crescimento de 28% nos
dificuldade na contratação de crédito de exportação. Os preços mantêm- preços e de 1% nas quantidades.

24 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


Importações perdem Ao longo do ano o aumento do valor internacionais de commodities e a desa-
importado foi disseminado em todas as celeração econômica impedirão que a
ímpeto ao fim de categorias de uso, porém mais intenso desvalorização do câmbio exerça pressão
2008 entre os bens de consumo duráveis sobre a inflação.
(o que é explicado pela expansão do
No acumulado no ano até novembro, crédito). Todas as categorias de uso, Saldo comercial
as importações totalizaram US$ 161 contudo, registraram crescimento
bilhões. O ritmo de crescimento das menor em novembro.
acumulado em 2008
importações manteve-se forte durante será menor
boa parte do ano; no acumulado até Ressalte-se que são fortes as evidên-
setembro, o crescimento na compara- cias de um processo de substituição de O saldo comercial em 12 meses caiu
ção com 2007 superava 53%. matérias-primas domésticas por importa- durante todo o ano de 2008, decorren-
das ao longo do ano de 2008. A importa- te de uma rápida aceleração do valor
No entanto, a rápida desvalorização do ção de matérias-primas e intermediários importado associada a um crescimento
real, aliado a uma forte instabilidade cresceu 24% (em volume importado) mais lento das exportações. O saldo
na sua cotação e a queda nos preços na comparação entre os primeiros dez registrado até novembro acumulou
internacionais de produtos importantes na meses de 2007 e 2008, ritmo muito US$ 22,4 bilhões, valor 38% inferior ao
pauta de importação promoveram um re- superior ao ritmo de crescimento da registrado em igual período de 2007.
cuo no ritmo de crescimento das compras produção industrial. A despeito da maior Esperamos que o saldo acumulado em
externas. Ressalte-se também o acúmulo componente importada no custo dos 2008 alcance US$ 24 bilhões, um recuo
de estoques nas empresas e a maior produtos, a esperada queda nos preços de 40% na comparação com 2007.
dificuldade em se obter financiamento de
capital de giro, o que torna oneroso que
as empresas mantenham altos estoques
de matérias-primas (responsáveis por Importação de produtos intermediários e produção da indústria de
quase metade das importações brasilei- transformação
Base: média 2002 = 100
ras). Com isso, em novembro, o cresci-
mento do valor importado na comparação Expansão das importações de materias-primas supera crescimento
da produção doméstica
com 2007 foi de apenas 9%. Projetamos
crescimento semelhante em dezembro; 200
com isso, as importações em 2008 totali-
180
zarão US$ 174 bilhões.
Importação
160
A contribuição para o crescimento do
valor das importações é determinada 140

igualmente pelo aumento das quantida-


120
des e preços de importação. Levando- Produção
se em conta a taxa de crescimento 100

em 12 meses, findos em outubro, o


80
quantum registrou alta de 22%, enquan- jan/05 mai/05 set/05 jan/06 mai/06 set/06 jan/07 mai/07 set/07 jan/08 mai/08 set/08

to os preços registraram crescimento


de 23%. Fonte: PIM-PF/IBGE e Funcex

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


25
setor externo e câmbio

O déficit de Serviços e Rendas, por


sua vez, seguiu em rota ascendente Saldo em transações correntes
durante todo o ano, em especial por Em US$ Bilhões
conta do aumento da despesa com Saldo em transações correntes será negativo após cinco
viagens internacionais e remessas de anos de superávit
lucros e dividendos ao exterior. O déficit
acumulado até outubro totalizou quase 14,0 13,6
11,7
US$ 49 bilhões, valor 43% superior ao
4,2
registrado em igual período de 2007. 1,7

O aumento do déficit em Serviços e


-7,6
Rendas aliado ao recuo no superávit
comercial exerce forte impacto sobre
o saldo em transações correntes. Com -23,2
-24,2
isso, esse saldo deverá terminar o ano -29,0
em déficit de US$ 29 bilhões, em torno 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008*
de 1,8% do PIB.
* Projeção CNI
Fonte: Banco Central do Brasil

Cenário das
contas externas é
desfavorável em 2009 ante um crescimento previsto de 4,6% fomentadas pela própria desaceleração
Para as exportações, o cenário a partir em 2008. da economia mundial e pelo fracasso
de 2009 é desfavorável. Em 2009, das negociações multilaterais de
Em 2008, o Brasil só aumentou o valor
espera-se que as economias avançadas acordos de comércio. Além disso, o
exportado por conta de ganhos de pre-
experimentem forte recuo em suas comércio internacional inter-blocos,
ço. Em um cenário de menor demanda,
taxas de crescimento e muitos desses ou seja, entre blocos econômicos
os preços tendem a cair, especialmente
países estarão em recessão. Estima-se diferentes, deve ser mais afetado
no caso das commodities, que vinham
que crescimento econômico mundial que o comércio intra-blocos, ou seja,
exibindo grandes ganhos de preço por
seja de cerca de 2%. As principais dentro de um mesmo bloco econômico.
conta do forte crescimento das econo-
economias mundiais, se tomadas em Com isso, como expressiva parte do
mias emergentes. Estima-se queda de
conjunto, deverão experimentar queda crescimento das exportações brasileiras
20% a 30% nos preços das commodities
de cerca de 0,5%. O ritmo de expansão se deve a exportações para países fora
em 2009, na comparação com 2008.
de crescimento do comércio mundial As exportações brasileiras, com grande do Mercosul, este é mais um ponto de
como um todo – fator crítico para o participação de commodities, são ainda atenção.
desempenho das exportações brasileiras mais sensíveis a este cenário.
Por conta de todos estes fatores,
– deverá se desacelerar de forma
O cenário tende a se agravar com o esperamos um recuo de 20% no valor
expressiva em 2009. As estimativas
aumento de pressões protecionistas, das exportações no próximo ano. Ao
apontam para um aumento de 2,1%,

26 Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


fim de 2009, portanto, as exportações
atingiriam, neste cenário, US$ 170 Evolução das estimativas para 2009
bilhões. Variação percentual
Estimativas para crescimento do PIB e comércio mundiais em
No lado das importações, a expectativa 2009 recuaram ao longo de 2008
também é de recuo. A importação de
bens de capital e de matérias-primas 7 6,6
6,1
e intermediários, que conjuntamente 6 5,8
5,1
perfazem quase 70% das compras 5
do país, irão se reduzir com a 4 3,8
4,1

desaceleração da economia doméstica 3,0


3
e a interrupção de investimentos. 2,2
2,1
2 1,7
Já as compras de bens de consumo 1,3
1
também irão se reduzir, uma vez que 0,5 0,6

as condições de crédito se tornaram 0


-0,3 -0,2
menos favoráveis e o consumo das -1

famílias irá se crescer menos em 2009.


Finalmente, há o efeito adicional do
Projeções em Abr/08 Projeções em Out/08 Projeções em Nov/08
câmbio que, desvalorizado, deverá
mais que compensar os recuos nos Fonte: FMI

preços. Com isso, esperamos forte


arrefecimento nas importações, que
deverão totalizar US$ 155 bilhões
em 2009 – um recuo de 13%. Neste
Participação do aumento de quantidades no crescimento das exportações
cenário, o saldo acumulado seria de
Percentual sobre total de crescimento no ano
US$ 15 bilhões.
Expansão das exportações é explicada unicamente por aumento
Para o balanço de pagamentos, a
dos preços
manutenção do real em patamar mais
100
desvalorizado frente às outras moedas %
irá interromper a deterioração do 80
déficit do balanço de pagamentos. Os
fluxos de maior intensidade esse ano, 60
como a remessa de lucros ao exterior
e as viagens internacionais, de um 40

lado, e o investimento estrangeiro


20
direto, de outro, serão menos intensos.
Projetamos para 2009 um crescimento
0
do déficit do balanço de pagamentos 2003 2004 2005 2006 2007 2008*
Preço
esperado para 2008, alcançando US$ Quantum

30 bilhões. * Até outubro


Fonte: Funcex

Ano 24, n. 04, dezembro de 2008


27
perspectivas da economia brasileira 2008 - 2009
2006 2007 2008 2009
Estimativa Projeção

Atividade econômica
PIB
(variação anual)
4,0% 5,7% 5,7% 2,4%

PIB industrial
2,3% 4,7% 6,0% 1,8%
(variação anual)
Consumo das famílias
5,2% 6,3% 6,1% 3,0%
(variação anual)
Formação bruta de capital fixo
9,8% 13,5% 14,4% 3,0%
(variação anual)
Taxa de Desemprego
10,0% 9,3% 7,9% 8,2%
(média anual - % da PEA)
Inflação
Inflação
3,1% 4,2% 6,2% 4,8%
(IPCA - variação anual)
Taxa de juros
Taxa nominal de juros
(taxa média do ano) 15,40% 12,13% 12,50% 12,21%
(fim do ano) 13,25% 11,25% 13,75% 11,25%
Taxa real de juros
(taxa média anual e defl: IPCA)
10,7% 8,2% 6,5% 6,6%

Contas públicas
Déficit público nominal
3,00 2,23 1,45 1,90
(% do PIB)

Superávit público primário


3,86 3,91 4,25 3,35
(% do PIB)
Dívida pública líquida
44,7 42,7 36,4 37,0
(% do PIB)

Taxa de câmbio
Taxa Nominal de Câmbio - R$/US$
(média de dezembro) 2,14 1,78 2,40 2,25
(média do ano) 2,18 1,95 1,83 2,35
Setor externo
Exportações
(US$ bilhões)
137,5 160,6 198,0 170,0

Importações
(US$ bilhões)
91,4 120,6 174,0 155,0

Saldo comercial
46,1 40,0 24,0 15,0
(US$ bilhões)
Saldo em conta corrente
13,6 1,7 -29,0 -30,0
(US$ bilhões)

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Documento elaborado em 15 de dezembro de 2008.

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