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E
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1959
ERGUNTE
e
Responderemos
ANO II
ÍNDICE
Pág.
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
II. DOGMÁTICA
TV. MORAL
V. HISTORIA
Ano II — N' 18
I. FILOSOFÍA E
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sacerdotal se opuseram a Zoroastro na sua obra de reforma da
antiga religiao do Irá (séc. VII/VI a.C). Quando os perra? sob
?«Jí?v<?rví\de Ciro- se aP°deraram da Media (550 a.C.) e da Babilonia
(539 a. O, os magos entraram em contato com a Pérsia a Meso-
potamia e, a seguir, com a vasta rede territorial conquistada por
Alexandre Magno da Macedónia (t313 a.C). A Babilonia tornou-se
entao o cadinho de fusáo da antiga civilizagáo oriental com a civili-
zagao grega. E o que explica a nova acepcáo que o título de «mago»
íoi tomando no mundo greco-romano : tal nome, guardando o seu
significado religioso, passou a designar os sacerdotes da religiao
babilónica, homens habéis em práticas de astrologia e adivinhacáo
(cf. «P. R.s» 16/1959, qu. 2); por isto o nome «mago» veio a ser
tido como sinónimo de «astrólogo, taumaturgo e feiticeiro». A magia
é hoje praticada ñas mais diversas regióes do globo, com modalidades
e ritos muito variados, mas sempre inspirada pelo mesmo afá de
captar as fórcas superiores para servireir. aos planos dos homens.
Ela é, em larga escala, explorada em nossos dias e no Brasil pela
sociedade dita de «Umbanda», onde os maleficios tomam o nome
de «despachos».
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ensina que éste cerimonial garante a queda da presa ñas máos dos
cacadores que lhe fórem ao encalgo.
Outras receitas tém por objeto o nome da pessoa visada O nome
segundo a mentalidade dos primitivos, faz parte integrante do respec
tivo individuo, pois está em estreita relagáo com a esséncia déste
Em conseqüéncia, quem conhece o nome de determinada pessoa, pode
influir sobre os sentimentos Íntimos e a conduta da mesma; aplicando
estes principios, os magos, desejosos de prejudicar ou exterminar um
adversario, repetem o nome déste, mutilando ou suprimindo progres-
sivamente letras e silabas; a destruicao do apelativo assim efetuada
deve acarretar a ruina da personalidade nomeada... Para defender-se
de tal agao mágica, muitos dos homens primitivos guardavam e
guardam rigoroso sigilo com relacáo ao seu nome pessoal ou ao
de familias' e entidades caras.
Entre as apllcagóes maléficas da magia, goza de grande celebri-
dade popular o «mau olhado:». Os temores em relacáo a éste se ba-
seiam na crenga de que dos olhos de certos individuos emana um
fluido ou urna corrente qualquer capaz de prejudicar pessoas e coisas.
Os latinos davam á arte do mau olhado o nome de invldia (donde
«inveja» em portugués), derivado do verbo in-videre («olhar contra»);
famosa ficou sendo a inscricáo gravada no pavimento da taverna dos
peixeiros em ostia (Italia), inscrigáo dirigida contra os maliciosos nos
termos seguintes : «Invejoso (tu, que langas mau olhado), eis que te
torno cegó !» (Reg. IV, ilha 5a.). Os gregos designavam a mesma arte
pelo apelativo de báskanon, de etimologia incerta, do qual se derivou
o termo latino fascinum (fgscinagao). Nao raro o mau olhado era
acompanhado de urna fórmula mágica cantada; em conseqüéncia,
essa técnica tomou também o nome de «encantamento». É interes-
sante notar que a famosa Lei romana das Doze Tábuas proibia explí
citamente aos agricultores tentassem, por meio de mau olhado e en
cantamento, fazer passar para o seu próprio campo os frutos do
campo do vizinho (Tab. VIII 1,8, Bruns); Virgilio alude ao mau
olhado que fascina os cordeirinhos (fiel. VIII 99). —A título de curio-
sidade, seja notado que os romanos se procuravam defender dos efei-
tos nocivos de louvores exagerados (tidos como invejosos), trazendo
consigo certa erva denominada baccar ou asarum ; por vézes junto
a essa planta colocavam mesmo a inscrigáo : «Prae fiscisne» ísto é •
«Sem fascinagáo ! De tal louvor nao provenha mal!» (cf. Servio, Ad
Ecl. VII 27). Em geral, minerais e vegetáis qualificados (o ouro, os
coráis, o ámbar, a arruda, a sanguinaria...) eram utilizados pelos
romanos como elementos aptos para afugentar as conseqUéncias do
mau olhado.
Entende-se. porém, que ésses pretensos meios profiláticos nao
libertavam o homem pagáo do médo dos maleficios. Haveria entao
alguma saida satisfatória?
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Os povos pagaos, reconhecendo isso, afirmavam e afirmam que
tais portentos se devem realmente á intervengáo dos espíritos supe
riores evocados pelos magos.
Os cristáos, até o século XVII, rejeitando qualquer vestigio de
politeísmo, atribuiam os maleíicios á cooperado direta do demonio
ou dos anjos maus. Era conseqüéncia, era comum, na Idade Media
íalar-se, por exemplo, de bruxas, ou seja, de mulheres possuidas
e atormentadas pelo Maligno; julgava-se que. em reunióes noturnas
(sabas) celebradas nos bosques, os espiritos malvados se associavam
orgiástica e impúdicamente a tais criaturas, dancando, corriendo e
deitando-se com elas. As trágicas calamidades desencadeadas pela
íome, as guerras e as epidemias no periodo medieval concorriam
para alimentar a crenca na acáo direta do demonio em meio aos
homens. Verdade é que os bispos e concilios da época mais de urna
vez procuraram combater a credulidade excessiva e simplória de
que dava provas o povo cristáo nesse setor: assim o concilio de
Braga em 563 repreendeu os fiéis que atribuiam ao demonio poder
sobre os fenómenos atmosféricos; S. Agobardo, arcebispo de Liáo
em cérea de 840, combateu essa mesma concepeáo na sua obra
«Contra insulsam opinionem de grandine et de tonitruis». O Papa
S. Gregorio VII tomou semelhante atitude em carta dirigida ao rei
Haroldo da Dinamarca (19 de abril de 1080). A lei dos francos
chamada «Canon episcopi», datada de fins do séc. IX negava a
realidade dos fenómenos atribuidos aos sabás das bruxas dizendo
tratar-se de invencóes da fantasía de mulheres depravadas.
Nos últimos sáculos os cronistas cristáos se mostraram menos
propensos a admitir intervencoes diabólicas e preternaturais para
elucidar os efeitos extraordinarios dos maleficios e da magia. Hoje
em dia, os teólogos, utilizando novos conhecimentos fornecidos pelas
pesquisas modernas de psicología, parapsicología e ciencias naturais,
2& consideram toda essa fenomenología de modo diverso e mais
profundo. Eis como se exprimem a respeito :
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suidos pela alma humana aflora habitualmente á consciéncia,
ficando sete oitavas partes no subconsciente ; dado, porém,
que, em virtude de um fator extraordinario, estas nocóes la
tentes se manifestem, a personalidade do individuo pode tomar
aspectos muito variados e imprevistos.
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a) aos justos Satanaz pode atacar a fim de que se com-
provem a fé e o amor de tais homens a Deus ; é, sim, pela
luta que o cristáo se configura a Cristo. Ésses ataques podem
tomar proporgóes de grande vulto (como no caso de urna
doenca ou de um desastre) ; mas — saibamo-lo bem — só sao
permitidos em vista de um efeito bom a ser obtido no homem
tentado. E, para que éste consiga realmente beneficiar-se do
combate contra Satanaz, Deus Ihe dá a graga correspondente,
nunca permitindo que o homem seja tentado ácima de suas
fórgas. Caso, portanto, alguém se considere vítima de um
maleficio ou de um «despacho», nao julgue que o rito mágico
foi por si eficaz para tanto (longe disto !), mas conclua que
Deus, por ocasiáo da agáo do mago ou médium, houve por
bem permitir tal efeito, outorgando simultáneamente a graga
para que o individuo atribulado usufruisse de todo o proveito
espiritual resultante da sua situagáo.
b) Sobre os pecadores Deus pode permitir que o demo
nio tenha influencia mais intensa, pois que tais homens habi-
tualmente vivem em afinidade com Satanaz e em revolta con
tra Deus. Principalmente quando alguém declara explícita
mente travar um pacto com o Maligno ou «vender sua alma
ao demonio», o Senhor pode conceder a Satanaz que responda
tomando posse dessa alma, seja de maneira visivel e veemente,
seja de maneira invisível; está claro entáo que os maleficios
e encantamentos dirigidos contra tal pecador podem ter certa
eficacia, pois Deus poderá permitir que o Maligno trabalhe
mais livremente num individuo que deseja sofrer a agáo do
demonio; note-se, porém, que mesmo neste caso a permissáo
de Deus ainda visa a cura espiritual (ou seja, um beneficio
real) para o pecador.
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um cSo acorrentado que pode ladrar muito, sim, mas a ninguém
consegue fazer mal a nao ser que alguém espontáneamente se
coloque sob a sua influencia.
Procurem, pois, os homens viver na graga de Deus; fuiam do
pecado e dos vicios. E, fazendo isto, nao duvidem de que nada nada
absolutamente, os impedirá de chegar á posse consumada do Bem
Infinito!
3. A mentalidade do mago
Por último, parece oportuna breve reflexáo sobre a atitude
«religiosa» que caracteriza a magia. Esta, embora conserve as apa-
rencias de religiao, significa decadencia ou aberragáo do espirito
religioso.
II. DOGMÁTICA
T. N. (Rio de Janeiro) :
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Caso apenas limitado número de bispos seja chamado ao concilio,
éste é tido como particular.
O concilio particular vem a ser plenário, se déle participam os
bispos de varias provincias ou circunscricóes eclesiásticas (tal íoi,
por exemplo, o concilio plenário hrasileiro de 1939, que reuniu todas
as provincias eclesiásticas ou todo o episcopado do Brasil). O concilio
particular é, ao contrario, provincial au metropolitano, se conta com
os bispos de urna só provincia eclesiástica (os limites de urna provin
cia sao geralmente lixados de acordó com a importancia religiosa das
cidades que ela abrange).
Pode-se dizer que a realizacáo de um concilio é inspirada pelas
palavras de Cristo consignadas em Mt 18,20: o Senhor prometeu, sim,
especial assisténcia aos discípulos que se reunissem em seu nome.
Desde os primeiros dias do Cristianismo, questdes de interésse cole-
tivo foram tratadas comunitariamente: assim Pedro propós a
assembléia dos irmáos a escolha de novo Apostólo, substituto de
Judas (cf. At 1,15-26); os «Doze», de comura acordó, pediram aos
liéis, elegessem os sete primeiros diáconos (At 6,1-6); e — o que é mais
importante — os Apostólos se reuniram em Jerusalém no ano de 49,
a fim de deliberar sobre a imposicüo da Lei de Moisés aos pagaos
(cf. At 15). Esta reuniáo dos Apostólos tornou-se o arquetipo de
todos os concilios episcopais celebrados posteriormente.
Após a geracáo apostólica, os primeiros concilios de que se tem
noticia, datam do séc. II: reunem-se na Asia menor para deliberar
sobre a heresia de Montano (que anunciava nova eíusáo do Paráclito)
e a data da festa de Páscoa. No séc. III tornaram-se lamosos os
concilios regionais de Cartago, iniciados em 220 pelo bispo Agripino
desta cidade; outros loram sendo celebrados em Icónio na Asia
menor (230 e 235) e Antioquia (264 e 269). Firmiliano, bispo de
Cesaréia na Capadócia, atestava a celebracáo anual de concilios em
sua regiáo.
O objeto dessas assembléias eram ou heresias recém-oriundas
ou questóes de disciplina; délas participavam bispos, presbíteros
e diáconos, aos quais se podiam associar alguns fiéis leigos na quali-
dade de observadores.
No inicio do séc. IV, notorios sao os concilios de Elvira (Espanha)
entre 300 e 306, Arles (Gália) e Ancira (Asia menor) em 314, Ale-
xandria em 320, Neo-Cesaréia, na mesma época. Preparavam as
vias ao primeiro concilio ecuménico, realizado em Nicéia (Asia menor)
no ano de 325..Como se compreende, sómente após a cessacáo das
perseguigoes (323) é que se puderam convocar assembléias de bispos
do mundo inteiro, pois reunióes désse género exigiam nao sómente
tranqUilidade de ánimos, mas também a colaboragáo positiva do
poder civil que facilitasse o uso de correios e as viagens dos prelados.
Interessa-nos agora percorrer a serie dos vinte concilios ecumé
nicos, que se inicia no séc. IV.
1. Resenha histórica
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para a subsistencia da Cristandade do que as perseguigóes
sangrentas dos séculos anteriores. Dado o enorme alcance
religioso e civil da nova heresia, o Imperador Constantino,
recém-convertido á fé crista, nao hesitou em promover apri-
meira assembléia geral do episcopado. Esta contou cérea de
318 bispos e definiu ser o Filho «da mesma substancia que o
Pai», isto é, simpiesmente Deus como o Pai. Em conseqüéncia,
o símbolo de Nicéia, ainda hoje recitado na Missa, professa:
«... Jesús Cristo, gerado, nao feito, consubstancial com o Pai».
2) Concilio de Constantinopla I (381), sob o Papa Sao
Dámaso e o Imperador Teodósio o Grande. Visando as idéias
de Macedónio, que negava a Divindade do Espirito Santo, de
finiu a doutrina controvertida, acrescentando ao símbolo de
Nicéia as palavras : «(Espirito Santo)... Senhor e vivificante,
o qual procede do Pai; juntamente com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado, tendo falado pelos Profetas».
3) Concilio de Éfeso, na Asia menor (431), sob o pon
tificado do Papa Celestino leo reinado de Teodósio o Jovem.
Contra as inovagóes do Patriarca Nestório de Constantinopla,
definiu haver em Cristo urna só Pessoa (a divina) de modo
que María, tendo geradpj- Cristo, gerou a Pessoa do Filho de
Deus unida á carne humana ; compete-lhe, pois,. com razáo, o
título de «Máe de Deus» ou Theotókos, visto que o termo da
geragáo é sempre a pessoa (esta é que constituí um sujeito
de agóes ; cf. «F. R.» 6/1957, qu. 3).
4) Concilio de Calcedonia, na Asia menor (451), sob
Sao Leáo Magno Papa e Marciano Imperador. Constituiu o
complemento do anterior, afirmando, contra o Monofisismo,
que a unicidade de Pessoa em Cristo nao excluí dualidade de
naturezas (divina e humana) no Senhor. Em outros termos:
Cristo teve um só «Eu», que agia ora como verdadeiro Deus,
ora como verdadeiro homem. Éste concilio, contando 630 Pa
dres sinodais, foi o mais freqüentado de todos os concilios
celebrados no Oriente.
5) Concilio de Constantinopla II (553), convocado pelo
Imperador Justiniano, á revelia do Papa Vigílio, que se
opunha a política cesaropapísta do monarca. A assembléia
condenou os chamados «Tres Capítulos», tidos como expres-
sóes de Nestorianismo : a saber, 1) Teodoro de Mopsuéstia
(t 428) e suas obras; 2) os escritos de Teodoreto de Ciro
(t 458) contra S. Cirilo de Alexandria e o concilio de Éfeso ;
3) a carta de Ibas de Edessa (f 457) a Maris.
Éste concilio só adquiriu autoridade de sínodo ecuménico, quando,
após a sua celebracáo, o Papa Vigilio, que por motivo de prudencia
se Ihe mantivera alheio. houve por bem aprovar as decisSes da
assembléia.
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6) Concilio de Constantinopla in (680/681), convocado
sob o Papa Agatáo leo Imperador Constantino IV. Rejeitou
o Monotelitismo ou a doutrina que só reconhecia urna von-
tade em Cristo — a vontade divina —, proposigáo que cons
tituía urna das últimas e mais sorrateiras expressóes do Mo-
nofisismo.
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mundo latino. Pos fim á luta das Investiduras, isto é, ao
combate da Igreja contra a intrusáo dos principes seculares
que se arrogavam o direito de nomear e empossar bispos e
abades em suas fungóes eclesiásticas. Em vista disto, o Con
cilio confirmou a Concordata de Worms oti o acordó ante
riormente travado. entre o Papa Calixto II e o Imperador
Henrique V. Além do que, o concilio exortou os príncipes
cristáos a tomarem a cruz para libertar a Térra Santa (movi-
mento das cruzadas).
10) Concilio do Latráo II (1139), sob o Papa Inocen
cio II. Condenou as maquinagóes dos adeptos do antipapa Pier-
leone (Anacleto II) recém-falecido, assim como as idéias de
revolugáo religiosa e social disseminadas na península itálica
pelo demagogo Arnaldo de Bréscia.
11) Concilio do Latrao III (1179), durante o pontificado
de Alexandre m. Legislou principalmente sobre o modo de
eleger os Papas, estipulando a necessidade e suficiencia de
dois tersos dos votos dos Cardeais eleitores; com isto os
Padres conciliares visavam evitar a repetigáo de litigios e
cismas semelhantes aos que haviam sido anteriormente provo
cados pelo Imperador Frederico Barbarroxa e por antipapas.
12) Concilio do Latrao IV (1215), sob a presidencia do
Papa Inocencio m. Pelas doutrinas que formulou e as medidas
disciplinares que adotou, vem a ser um dos mais importantes
concilios da historia, realmente digno do grande Pontífice que
o orientou.
A assembléia repudiou os erros dos Cataros e Valdenses
(dualismo que considerava a materia má em si mesma) ;
reviu e precisou a legislacáo concernente aos impedimentos
matrimoniáis; impós a todos os fiéis a obrigagáo de confissáo
e comunháo anuais (a piedade crista, na época, apesar de sua
exuberancia, pouco se nutria dos sacramentos). Além do mais,
o concilio resolveu promover nova cruzada ao Oriente.
13) Concilio de Liao I, na Franca (1245), sob o Papa
Inocencio IV. Proferiu sentenca de deposigáo sobre o Impe
rador Frederico n, que se tornara usurpador dos bens e
opressor da liberdade da Igreja.
14) Concilio de Liao H (1274), sob o Pontífice Grego
rio X. Conseguiu a uniáo dos cristáos bizantinos, chefiados
pelo Imperador Miguel o Paleólogo, de Constantinopla, com a
Santa Igreja ; os orientáis reconheceram entáo a legitimidade
da partícula Filioque, outrora inserida no texto latino do
símbolo de fé (partícula mediante a qual se afirma que o
Espirito Santo procede do Pai e do Filho) ; professaram ou-
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trossim o primado do Pontífice Romano. — A uniáo, porém,
foi efémera (cf. «P. R.» 10/1958, qu. 10 e 11).
15) Concilio de Viena, na Franga (1311/12), sob o pon
tificado de Clemente V. Afim de prover á paz e ao bem
comum, declarou extinta a Ordem dos' Cavaleiros Templarios
(cf. «P. R.» 16/1959, qu. 7) ; também repudiou certas cor-
rentes de mística errónea e sectaria (entre as quais, as dos
dulcinianos e begüinos).
16) Concilio de Constanca, na Germánia de entáo (1418).
É ecuménico em sua fase final. Reunido em 1414 durante o
Grande Cisma do Ocidente, sem a aquiescencia do Papa legí
timo Gregorio XII, em 1415 aceitou a autoridade legal que
éste Pontífice lhe conferiu; após a renuncia espontánea de
Gregorio XII, a assembléia procedeu em novembro de 1417 á
eleigáo de novo Papa : Martinho V. Após o conclave, as sessóes
sinodais continuaram a se realizar, já entáo sob a presidencia
do legítimo Sumo Pontífice, a fim de deliberar sobre assuntos
doutrinários e disciplinares (condenagáo das heresias de
Wyclif e Hus, saneamento de desordens acarretadas pelo
cisma anterior). Sao as últimas sessóes (da 42* á 45»), apoia-
das pela presenca e a colaboragáo do Papa Martinho V, bem
como ratificadas pelos Romanos Pontífices subseqüentes, que
constituem o concilio ecuménio de Constanga ; cf. «P R »
13/1959, qu. 9.
17) Concilio de Florenca, na Italia (1439/1445). Con
vocado pelo Papa Eugenio IV, em seus dois últimos anos teve
sede em Roma. Tratou nao sómente de questóes de disciplina
da Igreja, ainda abalada pelo cisma anterior, mas também da
volta dos orientáis dissidentes ao aprisco comum. Os bizan
tinos de fato se uniram mais urna vez a Roma, sendo nisto
imitados sucessivamente pelos armenios em 1439, pelos sirios
jacobitas (monofisitas) em 1442, pelos cristáos da Mesopo-
támia em 1444, pelos caldeus nestorianos e (como dizem varios
historiadores) pelos maronitas da ilha de Chipre em 1445.
18) Concilio do Latráo V (1512/1517), convocado pelo
Papa Julio II e continuado por seu sucessor Leáo X. Os Pa
dres sinodais se propunham como objetivo a reforma da dis
ciplina do clero e dos fiéis; mas o exiguo número de partici
pantes (cérea de cem prelados apenas, e quase todos da Ita
lia), assim como outras circunstancias, dificultaram a tarefa
do concilio. Éste, nao obstante, tomou algumas medidas re-
pressivas de abusos, e investiu contra teorías da época que
negavam a imortalidade da alma.
19) Concilio de Trento, na regiáo do Tirol (1545/1563).
Foi convocado pelo Papa Paulo III e aberto em Trento no
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mes de dezémb'ro de 1545 ; após a sua 10* sessáo (margo de
1547), foi suspenso em virtude de difícil situagáo criada por
reivindicacóes do Imperador Carlos V. O Papa Julio m o
reabriu em Trento a 1* de maio de 1551; complicacóes,
porém, internacionais provocaram nova suspensáo do con
cilio a 28 de abril de 1552, após a 16» sessáo. Por fim, Pió IV
instalou de novo a assembléia, que passou a se reunir de j'a-
neiro de 1562 a dezembro de 1563 (da 17» á 25» sessáo).
O Concilio de Trento tornou-se famoso por suas declara-
góes dogmáticas opostas as inovagóes protestantes, assim
como por seus decretos disciplinares, .que acarretaram a ge-
nuína Reforma da Cristandade ; até hoje as sentengas e fór
mulas elaboradas em Trento sao assiduamente evocadas em
Teología e em Direito Eclesiástico.
2. Breve reflexao
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bizantinos na convocacáo e no andamento désses concilios, assim
como na promulgacjko e observancia de seus decretos. Passou-se,
porém, a época das tendencias cesaropapistas...
2) O nono concilio ecuménico já se reuniu após o cisma bizan
tino induzido por Miguel Cerulário em 1054; cérea de 250 anos (870-
-1123) haviam decorrido após o último sínodo universal, intervalo
éste que se explica pelo lato de já estarem entáo latentes na Cristan-
dade os gérmens do cisma iminente.
Do 1* Concilio do Latráo (1123) ao de Trento, ou seja, do 9*
ao 19' sínodo ecuménico, o cenário é ocidental; a maioria dos Padres
sinodais consta de bispos de rito latino; o Sumo Pontífice exerce
agáo soberana, convocando os membros conciliares, por vézes presi-
dindo pessoalmente as assembléias, de sorte que nao raro os decretos
conciliares tomaram a forma de ConstituicOes Pontificias redigidas
em nome do Papa, com a observacao «sacro approbante concilio (com
a aprovagáo do Sagrado Concilio)».
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AMIGO DA FRANQA (Río de Janeiro) :
— 237 —
os Superiores Gerais das Ordens Religiosas.
Além désses membros efetivos do concilio, entende-se que
cértos teólogos e canonistas sejam admitidos, a título de con
sultores e relatores, a participar de sessóes da assembléia.
2) Quem tem o direito de convocar um concilio
ecuménico ?
Toca exclusivamente ao Sumo Pontífice o direito de reu
nir uní sínodo universal. Isto se compreende a duplo título:
a) todo concilio ecuménico é essencialmente urna assem
bléia que visa deliberar sobre assuntos religiosos. Ora no plano
da religiáo ninguém tem competencia para decidir auténtica
mente senáo a Igreja que Cristo instituiu, entregando-lhe o
depósito da Revelagáo Divina. E dentro da Igreja ninguém tem
autoridade para obrigar os bispos do mundo inteiro a se reunir
em época e lugar determinados a fim de deliberar sobre tais
e tais assuntos senáo o bispo a quem Jesús confiou a primazia
entre os demais bispos, isto é, o sucessor de S. Pedro ou o Papa.
Donde se segué que sómente o Papa tem o direito de convocar
um concilio ecuménico.
b) Os Padres conciliares exercem atos de autoridade so
bre a Cristandade inteira, tornando-se juízes, legisladores e
doutores para os fiéis de toda a Sta. Igreja. Ora, essa juris-
dicáo universal, nenhum bispo, exceto o de Roma, a tem de
per si; donde se segué que os Padres sinodais devem neces-
sáriamente receber do bispo de Roma os poderes que éles
exercem ñas reunióes do concilio. Por conseguinte é ao Ro
mano Pontífice, e sómente a éste, que toca convocar os Padres
conciliares, habilitando-os destarte a exercer suas fungóes
sinodais.
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bispos a concilios; entende-se mesmo que os monarcas por iniciativa
própria tenham empreendido esta obra, pois sómente o Imperador
estava em condigóes de prestar tarefa que exigía ampia colaboracáo
dos exiguos servigos de correios, locomogáo e hospedagem da época.
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A respeito do número de participantes necessário para
que um concilio possa ser tido como ecuménico, nada há de
estipulado nem na praxe nem na legislagáo da Igreja. É certo
que nao se requer a presenga material de todos os bispos do
mundo, pois isto seria moralmente impossível; nem se exige
o comparecimento da maioria absoluta (equivalente á quase
totalidade) dos prelados. Basta, ao contrario, que o número
de bispos reunidos represente a parte mais sabia e significativa
(pars sanior) do episcopado. Ora isto se verifica desde que
os Padres sinodais estejam unidos ao Romano Pontífice e (con-
digáo nao menos importante) éste os reconhega como mem-
bros integrantes de um concilio ecuménico.
Sem tal reconhecimento do Papa, nao há assembléia episcopal
(por mais vultuosa que seja) que merega o título de sínodo universal.
Apontam-se mesmo casos em que o Sumo Pontífice desautorou
decisivamente vultuosas assembléias de bispos que se arrogavam as
íacuidades de sínodo ecuménico: o Papa Sao Leáo Magno, por
exemplo, tornou váo o pseudo-concilio de Éfeso (chamado «latrocinio
efésio») que, reunido em 449 com foros de sínodo universal e auto-
ridade do Imperador, visava impor á Cristandade a heresia mono-
íisita; o Papa Estéváo III em 769 condenou o conciliábulo de Constan-
tinopla reunido em 754 e integrado por 338 bispos iconoclastas, que
o Imperador Constantino Coprónimo subjugava moralmente; os Papas
Julio II (1503-13) e Leáo X (1513-21) anularam as resolugñes do
concilio de Pisa, que, íreqüentado por diversos Cardeais, nutria pre-
tensóes de sínodo ecuménico.
_ 240 —
Errónea, portento, é a chamada «teoría conciliarista», posta em
voga nos séc. XIV/XV, a qual apregoava a supremacía do concilio
sobre o Papa e a possibilidade de se apelar para um sínodo universal
contra alguma sentenca do Sumo Pontífice. O conciliarismo oriundo
por ocasiáo do cisma ocidental, foi formulado, á guisa de definicjio
dogmática, pelos Padres sinodais reunidos ñas sess5es 3» e 5* do
concilio de Constanca (marco e abril de 1415); apesar de tudo, nao
se p6de impor á cohsciéncia da Cristandade; os teólogos e canonistas,
assim como os concilios e Papas posteriores, rejeitaram repetidamente
tal concepcáo. Nos séc. XVII e XVIII a Declaracao Galicana de
1682, sob o rei Luís XIV da Franca, assim como o famoso sínodo
de Pistoia na Toscana (1786), reafirmaran! o conciliarismo; em váo,
porém. Pió VI em 1794, interpretando o senso comum dos fiéis, repeliu
como herética a proposicao que asseverava ser «o Pontífice Romano
o Chefe ministerial da Igreja», teto é, o chefe comissionado portador
de autoridade a ele delegada pela coletividade dos cristao's. Após a
definigáo do primado papal no concilio do Vaticano (1870), tornou-se
mais do que nunca evidente a inconsistencia do conciliarismo. Apenas
se deve dizer que a autoridade de um concilio ecuménico, embora nao
seja superior á do Papa, pode por vézes gozar de mais prestigio e
de acáo mais eficaz junto aos fiéis e ao mundo nao católico, em
virtude do número e das qualidades pessoais dos prelados que inte-
gram urna tal assembléia.
— 241 —
sínodos universais... Váo era tal decreto; os Papas nao estao obriga-
dos a aceitar determinacdes de concilios, pois o seu poder lhes vem
diretamente do Divino Fundador da Igreja e nao é sujeito ao controle
de algum intermediario. De resto, em breve evidenciou-se que pouco
acertada era a decisáo dos Padres de Constanca — o que explica que
ela nunca tenha entrado em vigor.
BENEDITA (Sorocaba) :
— 242 —
de dizer em nome da Biblia que o género humano sobre a térra
tem 4 ou 5 mil anos apenas (cí. «P. R.» 17/1959, qu. 5); positiva
mente aíirmam que os Patriarcas bíblicos, tendo vivido x anos em
época x (há centenas de milenios atrás), sao apresentados pela Biblia
como figuras veneráveis e fidedignas testemunhas da tradicao religiosa.
_ 243 —
3) Há quem queira evitar tal desvio de atengáo do dis
cípulo, propondo que nao se Ihe relatem os elementos meta
fóricos contidos em Gen 1-11, mas se aprésente direta e táo
sómente a doutrina religiosa veiculada por tais figuras. A
solugáo, porém, nao parece de bom alvitre. Equivaleria a um
menosprézo da Palavra de Deus tal como ela quis apresen-
tar-se a nos, em sua face humana e literaria ; ademáis ésse.
silencio poderia provocar grave problema quando mais tarde
o discípulo viesse a verificar que a Biblia emprega linguagem
táo diferente da linguagem técnica usada por seu mestre.
Sendo assim, é de desejar que éste nao deixe de apresentar
diretamente o texto bíblico ; faga-o, porém, após esta cláusula
introdutória :
— 244 —
propnamente religioso ou teológico, sob pretexto de que a
cnanga, em sua mentalidade infantil, se deleita simplesmente
com as metáforas bíblicas. «Mais tarde, quando as dúvidas sur-
girem, poderia pensar o catequista, dir-se-á ao adolescente
que tais metáforas nao sao a última palavra da Biblia, mas
que tém de ser entendidas em sentido superior».
Falso seria ésse método, pois muitas pessoas ficam ape
nas com um ensinamento rudimentar de Religiáo, nao fre-
qüentando o segundo ou o terceiro ano de catecismo. Além
disto, dado que o adolescente volte mais tarde ao professor
de Religiáo e lhe aprésente suas dúvidas, pode acontecer que
o ensinamento superior ou a interpretagáo auténtica da Biblia
já nao encontrem acolhimento no jovem ; pareceráo talvez
um «arranjo» postigo ou urna «saída» imaginada na hora pelo
mestre. Em geral, o discípulo tende a conservar as primeiras
impressóes de Religiáo que o catequista lhe comunica ñas
aulas iniciáis ; a Religiáo, por conseguinte, apresentada em
termos puramente infantis, poderá parecer a muitos, por todo
o resto da vida, ser algo de infantil e bagagem inútil na idade
varonil.
— 245 —
tar a seus discípulos urna explicagáo do texto sobria, tal, po-
rém, que possa mais tarde ser orgánicamente desenvolvida
pelo raciocinio do adulto. Assim o ensinamento se fará pro-
gressiva e homogéneamente. É melhor ensinar a principio
poucas proposicóes, mas proposigóes que nao precisem de ser
retocadas mais tarde, do que transmitir as criancas muitas
coisas, coisas que no momento satisfazem á imaginacáo do
pequenino, mas em idade posterior se tornam um fardo que
sufoca a mente e deve ser removido.
1. Previa observacáo
— 246 —
A declaragáo ácima, assim como criteriosos estudos de exegese,
levam os comentadores a afirmar que no relato da queda dos primei-
ros país um núcleo histórico é apresentado revestido de elementos
artificiosos que o autor sagrado tomou de empréstimo ao ambiente
em que vivia, ou seja, á literatura e ao expressionismo dos antigos
orientáis. Esta verificacáo permite-nos concluir que nem todos os
pormenores do texto poderáo ser elucidados com igual clareza pelo
exegeta moderno; éste e, conseqüentemente, o catequista teráo que
ser, por vézes, sobrios ñas suas explicares para nao se arriscar a
cometer erros doutrinários.
Feita esta advertencia, passemos á explanado do texto de Gen 3.
2. Como explicar...
— 247 —
sao incondicional a todo o plano de Deus ; assim servindo ao
Criador, os primeiros pais reinariam, isto é, seriam confirma
dos definitivamente na posse da felicidade paradisíaca. Caso,
porém, nao obedecessem ao referido preceito, isto é, nao acei-
tassem o plano de Deus, o Senhor nao os forgaria, mas dei-
xá-los-ia incorrer na miseria e na morte conseqüentes do
afastamento da Vida e da Bem-aventuranga.
— 248 —
4) Colocados diante do preceito divino, os primeiros pais
foram interpelados por outra criatura, ou seja, pelo demonio.
— 249 —
de desobediencia ao preceito formulado pelo Senhor, tendo
por objeto u'a materia x (consumo de um fruto ou algo de
semelhante?). É o que em esquema assim se reproduz :
— 250 —
Em última análise. o livre arbitrio da criatura, abusando dos
dons de Deus, vem a ser o responsável por toda a desgraca moral
e física existente sobre a térra. Nao fóra o abuso da liberdade ou
o pecado, e o homem nao soíreria miserias nesta vida («Deus nao
fez a morte, nem se alegra pela perda dos vivos», diz o livro da
Sabedoria 1,13).
E como o atinge ?
— 251 —
castigo infligido por Deus visava o demonio. Pode-se assegurar que
a sexpente como tal sempre se arrastou e nunca falou, pois o pecado
nao alterou a constituicáo natural das criaturas; a serpente portante
sempre teve as características que ela hoje apresenta. Acontece,
porém, que, aos olhos do cristáo, éste animal por sua configuracáo
é apto a simbolizar a maldicáo e o castigo em que incorreu o demonio.
Éste, sem dúvida, nao constitui urna culpa pessoal; Deus nao
o trata como trata o «pecado atual», em que a vontade do individuo
toma parte consciente e direta. Nao obstante, a disformidade original
faz que o respectivo individuo nao possa gozar da visáo de Deus
face a face ou da bem-aventuranca sobrenatural caso morra com
tal nódoa na alma (neste caso, julgam os teólogos que a alma vai
para o limbo, isto é, passa a gozar para todo o sempre da bem-
-aventuranca de que é capaz a natureza humana como tal, o que nSo
implica em condenacao nem castigo própriamente ditos).
— 252 —
Consciente desta mensagem teológica do texto sagrado, o cate
quista ialará da propagacáo do pecado de Adáo ou do pecado original,
mostrando bem que nao se trata de punicáo arbitrariamente infligida
por Deus aos descendentes do primeiro casal, mas que é conseqüéncia
lógica do lato de que o pecado despojou a natureza humana de dons
que deviam ter sido conservados e transmitidos pelos primeiros
pais (a respeito da propagacáo do pecado original, cf. «P. R.»
8/1957, qu. 6).
— 253 —
Se em aula alguma crianca, mais vivaz, insistir em perguntar
se as árvores do paraíso e a serpente eram reais ou nao, responderá
o mestre que a doutrina da íé nao tem sentenca definida sobre
ésses assuntos, mas que, real ou nao, a serpente no texto representa
certamente o demonio; real ou nao, a árvore da vida significa a
felicidade dos primeiros pais; real ou nao, a árvore da ciencia
significa a provacáo a que foram submetidos.
IV. MORAL,
— 254 —
A mentira, entendida nos termos da definigáo ácima, é
ato intrínsecamente mau e, por isto, contrario á consciéncia
crista. Dois sao os motivos que levam a proferir tal juízo:
— 255 —
verdade seria, apesar de tudo, urna obrigacáo Inelutável; o daño
causado ao inocente nao lhe parecía poder derrogar ao pretenso
dever de proferir positivamente toda a verdade. Benjamim Constant
(tl830), porém, replicava que a verdade só é devida a quem tem
direito a ela e que precisamente o perseguidor da vitima inocente
perdeu tal direito (el. Ruyssen, Kant. Paris 1900, 257).
— 256 —
é virtude, mas é carencia da virtude de discernimento ou in
fantilismo reprovável.
— 257 —
Também as fórmulas com, que se costumam encerrar cartas
(«servo dedicado..., atencioso e penhoradissimo...») sao lícitas,
porque nao provocam ilusóes nos leitores habituados á vida social
(o próprio Kant as aceitava, opondo-se no caso a Schopenhauer).
— 258 —
que interroga tem estrito direito a conhecer a verdade (o que
certamente se dá, desde que esteja em foco algurna cláusula
essencial de um contrato oneroso), nao é em absoluto lícito
ocultar-lhe a verdade, nem mesmo por urna restrigáo mental
em sentido largo. Dado, porém, que alguém interrogue de
maneira importuna e injusta sobre assuntos que nao sao da
sua algada, a consciéncia crista nao proibe a restricáo men
tal larga.
— 259 —
«Se alguém, a sos ou em presenga de outrem, quer seja interro
gado, quer íale por própria iniciativa, a título de recreio ou por
qualquer outro motivo, jure nao ter feito alguma coisa que na reali-
dade haja cometido, subentendendo consigo mesmo outra coisa ou
um meio diverso do que ele utilizou ou outra circunstancia real,
nao está mentindo nem deve ser incriminado de perjurio».
«Há motivo suficiente para recorrer a tais locugoes ambiguas
desde que sejam necessárias ou- convenientes para salvar a vida do
corpo, a honra, o patrimonio da familia ou para praticar qualquer
ato de virtude, em circunstancias tais que o individuo julgue oportuno"
e útil ocultar a verdade».
«Quem é promovido á magistratura ou a um cargo público gracas
a urna recomendagáo ou a um presente, pode usar de restricao
mental ao prestar o juramento geralmente exigido por ordem do rei
em casos análogos, sem levar em conta a intengáo de quem exige
tal juramento, pois ninguém está obrigado a professar em público urna
sua falta secreta» (Denziger, Enchiridion' l}76-78).
Tais proposigóes — note-se — foram explícitamente rejeitadas
pela autoridade eclesiástica.
Foi após tal censura (datada de 1679) que os moralistas resol-
veram reexaminar as doutrinas concernentes á restrigáo mental e
deram vigor definitivo á distingáo (já anteriormente proposta por
alguns autores, como Caramuel, 11682, e Póncio, 11629) entre restrigáo
mental em sentido largo e restricao mental em sentido estrito. Veri-
ficaram que esta última modalidade é que fóra atingida pela condena-
gáo da Santa Sé, ao passo que a primeira ficava incólume, podendo
por conseguinte ser adotada como expediente lícito — lícito, porém,
apenas ñas circunstancias que discriminamos atrás.
A Companhia de Jesús sofreu de modo especial as conseqüéncias
da controversia, pois os padres jesuítas foram tidos como inventores
e patrocinadores das restricoes mentáis, o que moveu contra éles a
animosidade e o poder difamatorio de nao poucos adversarios (prin
cipalmente do famoso pensador Blaise Pascal, 11662, em suas «Lettres
Provinciales»). Na verdade, será preciso reconhecer que a doutrina
da restrigáo mental já era proposta e defendida por teólogos desde
os tempos de Caetano (tl534) ou mesmo desde Angelo de Chivasso
(t 1495), quando certamente ainda nao existia a Companhia de Jesús
(fundada em 1540). Muitos jesuítas notáveis nao aceitaram a restricao
mental; por exemplo, Suarez (tl617) a considerava como expediente
apenas provávelmente licito, ao passo que A. Coninck (tl633),
Laymann (tl635) e De Lugo (tl660) a rejeitaram formalmente.
V. HISTORIA
— 260 —
1. Os festejos
2. As origens
— 261 —
costumes outrora vigentes entre os pagaos, costumes que, de
purados de qualquer profissáo de fé politeísta, encontraran!
acolhimento no povo cristáo. Com efeito,
— 232 —
«Na íesta de Sao Joáo ou em qualquer solenidade que seja,
ninguém celebre os solsticios nem se entregue a dancas girantes ou
saltantes... ou a cánticos diabólicos».
Urna lei do reino dos francos datada de 21 de abril de 742
prescrevia:
«Esforce-se o bispo, de acordó com o conde (oficial civil), para
que o povo nao se entregue a observancias pagas.
Mandamos que, segundo os cánones dos concilios, cada bispo
em sua diocese tome as providencias, com o auxilio do conde (gravio),
que é o defensor da Igreja, para que o povo de Deus nao se dé ás
práticas pagas, mas abandone e repudie essas ignominias dos gentíos;
proibam cuidadosamente os sacrificios dos morios [ritos supersticiosos
praticados sobre os túmulos], os sortilegios dos magos, as consultas
dos adivinhos, os amuletos, os agouros ou encantamentos ou imola-
cóes do vítimas, que homens insensatos realizam junto ás igrejas
segundo o rito pagáo, invocando os nomes de santos mártires ou
confessores, provocando assim a cólera de Deus ou dos seus santos;
proibam também aqueles fogos sacrilegos que ehamam nied fyr, e
todas as práticas dos pagaos, quaisquer que sejam» (Boretius, Capitu
laría regum francorum t. I pág. 25).
Éste texto é particularmente interessante por mencionar fogos
sacrilegos, que comumente eram chamados nied fyr (lé-se em outros
documentos nod fyr, nied feor, nied fies...). Que significa esta
expressáo? — Fyr, no dialeto ^os francos, designava o fogo. ao passo
que nied era o prazer, o diyertimento. Ésses fogos de prazer ou
divertimento, na passagem ácima, sao tidos como sacrilegos porque
considerados próprios dos rituais pagaos. Sabe-se, com efeito, que
urna das notas características do fogo usado em cerimónias dos
gentíos era a de ser produzido pelo atrito da madeira (uso éste
inspirado por crengas supersticiosas), ao passo que a via regular e,
por assim dizer, ortodoxa para a producáo do fogo entre os cristáos
da Gália era o choque do ferro contra a pedra. Ora encontra-se
num «Catálogo de supersticñes e usos pagaos» (Indiculus superst!tlo:
num et pagttníarum) recriminados pela Igreja na Franga antiga o
seguinte titulo: De igne fricato de ligno, quod vocant nodfyr (A
respeito do fogo obtido por atrito da madeira, fogo que chanam
nodfyr). Ao nodfyr assim produzido se prendía urna serie de crengas
estranhas: quem saltasse sobre o nodfyr era tido como imunizado de
males futuros; á. fumaca désse fogo expunham-se vestes, que depois
eram usadas contra a febre; em algumas regióes, atirava-se no
nodfyr urna cabega de cávalo, no intuito de forgar as bruxas da vizi-
nhanga a se mostrarem...
— 263 —
«Na festa de Sao Joáo Batista sao carregadas publicamente
tochas ardentes c acendem-se íogos, que sao o símbolo de Sao Joao,
o qual foi luz e chama ardente a preceder a verdadeira luz. — Feruntur
quoque (in íesto Johannis Baptistae) brandeae seu faces ardentes et
íiunt ignes, qui signiíicant sanctum Joannem, qui fuit lumen et
lucerna ardens, praecedens et praecursor verae lucis» (Summa de
divinis oíficiis. Dillingen 1572, c. CXXXVII).
Éste mesmo texto foi, no século XIII, reproduzido pelo liturgista
Durando de Mende (tl296).
Assim enquadrados dentro da ideología crista, os festejos do
fogo de junho já nao constituiam urna expressáo de paganismo. Tor-
naram-se licitos aos cristáos a título de manifestacáo de alegría popular
— coisa que o S. Evangelho nao repudia, mas que naturalmente deve
ser sujeita a controle a fim de nao degenerar em orgia.
2) Historiadores recentes tém apontado ainda outro fator que
haverá influenciado as celebrac.6es de junho: tal fator seriam antigos
ritos campestres de purificacáo, profilaxia e propiciacáo. Éste elemento
é que terá sugerido a estima do «banho de Sao Joño» (locáo nos rios
praticada a horas noturnas) e da «erva de Sao Joáo» (plantas colhidas
a 23 e 24 de junho e pretensamente dotadas de especial poder contra
doengas da boca, contra epidemias e raios, em favor dos homens e do
gado).
D. ESTÉVAO BETTENCOUBT O. S. B.
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