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Denúncia
(Doutrina e Jurisprudência)
2a. ed.
2021
São Paulo, Brasil
O Autor
Denúncia
(Doutrina e Jurisprudência)
2a. ed.
2021
São Paulo, Brasil
Índice
1. Prolóquio......................................................................11
2. Denúncia.......................................................................13
3. Casos Especiais............................................................61
Prolóquio
O Autor
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de
Justiça: http://www.tjsp.jus.br).
• Denúncia
(Arts. 41 e 395 do Cód. Proc. Penal)
Voto nº 650
Voto nº 1170
Voto nº 1807
– Se ausente a justa causa para a ação penal (“fumus boni juris”), cabe ao
Juiz rejeitar a denúncia, como o preceitua o art. 43 do Cód. Proc. Penal, em
ordem a não malferir o estado de liberdade do indivíduo.
– Não há rejeitar denúncia que descreve fato típico e guarda estrita
observância do teor do art. 41 da lei processual penal.
– Expressão incoercível do instinto humano, o amor da liberdade elide o
caráter de ilicitude penal da fuga do preso, exceto se empreendida mediante
violência contra pessoa ou com dano do patrimônio público (arts. 352 e 163
do Cód. Penal).
–“A jurisprudência não obriga necessariamente a justiça togada, seja de
primeira, seja de segunda instância. A decisão do tribunal superior
somente obriga a justiça inferior, no caso concreto” (Vicente de Azevedo,
Curso de Direito Judiciário Penal, 1958, vol. I, p. 70).
16
Voto nº 1837
Voto nº 1934
– Não é inepta a denúncia que descreve fato que, em tese, constitui crime e
permite ao acusado o exercício da ampla defesa (art. 41 do Cód. Proc.
Penal).
– É a palavra da vítima fundamental na apuração das circunstâncias do fato
criminoso, porque seu interesse coincide, salvo raras exceções, com o
escopo mesmo da Justiça: a busca da verdade real.
Voto nº 3311
– Não cabe censura à decisão que, em face da prova inequívoca de que não
obraram os réus dolosamente, mas com sentimento de reconhecida nobreza,
rejeita denúncia por infração do art. 242, parág. único, do Cód. Penal
(registro de filho alheio). Mais do que injusto, seria iníquo sujeitar ao rigor
do processo-crime quem, olhando por futura adoção, registra como seu
filho de outrem, com anuência da mãe biológica.
–“Não deve o Juiz, nem também o Ministério Público, cingir-se a uma
interpretação estrita da lei. O fim social da lei é norma que deve servir
como bússola, em toda a vida da Justiça. (…). Não se prega o desacato à
lei, mas a submissão da lei ao interesse social, que lhe cabe tutelar” (João
Baptista Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito Criminal, 2a.
ed., p. 124).
18
Voto nº 3468
Voto nº 3571
Voto nº 3519
–“Em face do Código atual, somente pode ser sujeito passivo de crime contra
a honra a pessoa física (…). A pessoa jurídica não é instituto de Direito
Penal” (Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VI,
pp. 44-45).
– Não configuram crime de difamação frases proferidas em programa de
televisão a respeito de entidade civil pública (ECAD), imputando-lhe, sob a
forma de crítica genérica, fatos vagos e indeterminados; só a imputação de
fato preciso e concreto pode, em tese, caracterizá-lo (art. 21 da Lei
de Imprensa).
– Dizer alguém de pessoa física ou jurídica, em programa de televisão, que
lhe “não tira o chapéu”, pode arguir descortesia, não porém fato ofensivo à
sua reputação.
– Nos processos instaurados sob o regime da Lei de Imprensa, a
responsabilidade criminal é sucessiva (e não solidária), de tal sorte que,
liquidada a autoria das “expressões faladas” (art. 28, § 1º), já não haverá
tomar contas a terceiros.
– Apenas verifique o Juiz, no despacho de delibação, a falta de justa causa
para a ação penal, deve, por evitar ofensa grave ao “status dignitatis” do
indivíduo, rejeitar de plano a queixa-crime, como determina expressamente
a lei (art. 43 do Cód. Proc. Penal).
21
Voto nº 11.187
Voto nº 4163
– Sem justa causa (ou fundamento razoável para a acusação), ninguém pode
ser submetido ao infortúnio de um processo criminal.
– A correção da denúncia (“emendatio libelli”) cabe a todo tempo enquanto
não proferida a sentença final (art. 383 do Cód. Proc. Penal).
– Isto de defender-se em liberdade é direito somente do réu primário e de
bons antecedentes, quando comprovada a ausência de hipótese que autorize
a decretação da prisão preventiva (art. 310, parág. único, do Cód. Proc.
Penal).
– Ainda que medida extremada, justifica-se a decretação da custódia
preventiva de autor de roubo, crime grave que atenta contra a paz social e a
ordem pública.
23
Voto nº 6513
Voto nº 61
– Está acima de crítica a decisão que condena por furto o sujeito que, réu
confesso, foi detido na posse do produto do crime (art. 155, § 4º, nº IV,
do Cód. Penal).
–“Para os chamados penalistas práticos, a confissão do acusado se
equiparava à própria coisa julgada, como ensinava Farinácio: Confessio
habet vim rei judicatae” (José Frederico Marques, Estudos de Direito
Processual Penal, 1a. ed., p. 290).
– Exceto em face de prova cabal de infração da verdade, a palavra do policial,
se em harmonia com outros elementos dos autos, serve de base a decreto
condenatório.
–“A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou
suspeita” (STF; HC nº 551.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E.
de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).
– Não é inepta a denúncia que, imputando ao réu fato penal típico, permite-
-lhe o exercício de plena defesa (art. 41 do Cód. Proc. Penal).
Voto nº 11.466
Voto nº 4889
Voto nº 11.433
– Nem se argumente, com mais força de peito do que de razão, que não cabia
ao Magistrado “afastar a tipicidade da conduta e a presença do dolo
específico do denunciado quando presentes os indícios de autoria”.
“Est modus in rebus”! Atento o procedimento próprio (dos crimes de
responsabilidade dos funcionários públicos), em que se prescreve defesa
preliminar (art. 514 do Cód. Proc. Penal), se alegada questão de mérito,
será de mister examiná-la com as mais peças informativas da inicial
acusatória.
–“O recebimento da denúncia ou queixa pode estar condicionado a outras
exigências. Nos crimes de responsabilidade de funcionário público, após a
resposta (defesa preliminar) do acusado, a inicial poderá ser rejeitada se o
juiz se convencer que inexiste o delito ou que não foi o acusado o seu autor,
ou por outra causa concluir de imediato pela improcedência da ação”
(Julio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, 4a. ed., p. 140).
–“Cabe ao juiz examinar o inquérito, antes de receber a denúncia, a fim de
não submeter o cidadão ao vexame de um processo por fato que não
constitui crime”(Rev. Forense, vol. 177, p. 372).
–“É preciso que haja o fumus boni juris, para que a ação penal tenha
condições de viabilidade. E desse controle não deve o juiz ser afastado,
porque o direito de defesa, que é garantia constitucional, torna imperativo
que se evitem procedimentos temerários e infundados” (José Frederico
Marques, Estudos de Direito Processual Penal, 1a. ed., p. 147).
32
Voto nº 747
Voto nº 6934
Voto nº 1020
Voto nº 1777
–“A suspensão do processo, prevista no art. 366 do Cód. Proc. Penal, com a
nova redação dada pela Lei nº 9.271/96, só pode ser aplicada em conjunto
com a suspensão do prazo prescricional, sendo inadmissível a cisão do
texto (…)” (Rev. Tribs., vol. 771, p. 571; rel. Min. Félix Fischer).
– A denúncia que expõe com clareza o fato criminoso com todas as suas
circunstâncias não incorre na tacha de inépcia, visto possibilita ao acusado
o franco exercício da defesa e não lhe é causa de prejuízo.
– Nos crimes de receptação dolosa, porque mui difícil apurar o elemento
subjetivo do tipo, cumpre recorrer às circunstâncias mesmas do fato e à
personalidade do agente (art. 180 do Cód. Penal).
Voto nº 3875
– Não é inepta a denúncia que descreve fato que, em tese, constitui crime e
permite ao acusado o exercício da ampla defesa (art. 41 do Cód. Proc.
Penal).
– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do
art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência
de perigo concreto.
– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo,
pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo
e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada
sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio
Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).
– A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “o porte de arma é,
sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções
Penais, 1944, p. 294).
37
Voto nº 4475
– É princípio acolhido sem reserva que, tanto que passe em julgado sua
decisão, já não tem o Juiz competência para revê-la. Vem a ponto a lição de
Hélio Tornaghi: “Já no Direito romano, Ulpiano ensinava: Depois de
pronunciada a sentença, o juiz perde a jurisdição e não pode corrigi-la,
quer haja exercido seu ofício bem, quer o tenha feito mal” (Curso de
Processo Penal, 1980, vol. II, p. 353).
– É ao Colendo Superior Tribunal de Justiça que compete julgar os “habeas
corpus” impetrados contra ato do Tribunal de Alçada Criminal, conforme o
preceito do art. 105, nº I, alíneas a e c, da Constituição Federal, explicitado
pela Emenda Constitucional nº 22, de 18 de março de 1999 (cf. HC nº
78.069-9/MG; 2a. Turma; rel. Min. Marco Aurélio; DJU 14.5.99).
– O aditamento da denúncia, para nela incluir novo crime, obriga à audiência
do réu, por amor da garantia da ampla defesa e do contraditório processual
consagrados pela Carta Magna (art. 5º, nº LV), cuja substância se contém na
fórmula preceptiva “audiatur et altera pars” (ouça-se também a outra
parte).
– Peça de defesa e juntamente oportunidade de obtenção de prova, o
interrogatório do réu, no caso de lhe ser imputado novo crime em
aditamento à denúncia, constitui regra impostergável, cuja quebra fulmina
de nulidade o processo.
38
Voto nº 9109
– Superior a toda crítica é a decisão que, por falta de justa causa para
a ação penal — porque indemonstrada, mesmo que por indícios, a
responsabilidade do acusado no fato criminoso —, rejeita a denúncia
(art. 43, nº III, do Cód. Proc. Penal).
–“A inexistência da fumaça do bom direito para a instauração da persecutio
criminis in judicio obriga à rejeição da denúncia” (Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 63).
–“Para o exercício regular da ação penal pública ou privada, indispensável o
requisito da justa causa, expressa em suporte mínimo da prova da
imputação. O simples relato do fato, sem qualquer elemento que indique
sua provável ocorrência, inviabiliza o recebimento da queixa-crime ou
da denúncia” (Rev. Tribs., vol. 674, p. 341; rel. Min. José Cândido).
Voto nº 10.265
Voto nº 5489
Voto nº 6489
Voto nº 11.636
– É lícito ao juiz, “em virtude do postulado de que jura novit curia, dar ao
fato definição jurídica diversa da que constar da queixa ou denúncia, ainda
que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave (Cód. Proc. Penal,
art. 383)” (José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual
Penal, 1a. ed., vol. III, p. 50).
–“Não conheço crime mais repugnante, mais merecedor de severa punição do
que o estupro. Ele revela no delinquente a existência dominante dos mais
grosseiros e brutais instintos, a falta absoluta de cavalheirismo, de
generosidade, de respeito pela mulher, que é o sinal distintivo de uma
natureza nobre. As consequências do crime são indeléveis para a vítima”
(Viveiros de Castro, Os Delitos contra a Honra da Mulher, 1936, p. 135).
– A palavra da vítima de atentado violento ao pudor tem importância
inquestionável na apuração das circunstâncias do fato criminoso e na
identificação de seu autor. Exceto se os elementos de prova dos autos
demonstrarem que a ofendida mentiu, suas palavras servem de carta de
crença e, pois, justificam a edição de decreto condenatório (art. 214 do
Cód. Penal).
– Crimes contra a liberdade sexual, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo tem admitido continuidade delitiva entre estupro e
atentado violento ao pudor, se praticados nas circunstâncias do art. 71 do
Cód. Penal (arts. 213 e 214 do Cód. Penal).
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta
e embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– Em obséquio ao princípio constitucional do estado de inocência, tem
primado entre nós a orientação de que “não devem ser considerados como
maus antecedentes, prejudicando o réu, processos em curso, inquéritos
em andamento e sentenças condenatórias ainda não confirmadas” (cf.
Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 209).
59
– O autor de estupro (art. 213 do Cód. Penal), crime da classe dos hediondos,
deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por força do preceito
do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
Voto nº 12.466
1
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL
Voto nº 3311
Relator
É o relatório.
65
2
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL
Voto nº 3519
Relator
É o relatório.
3
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Voto nº 9141
Relator
É o relatório.
Ainda:
4
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Voto nº 11.636
Relator
É o relatório.
De tudo o que levo dito bem claro se mostra que, uma vez
recebida a denúncia, já não pode o Juiz rejeitá-la; trata-se de
consequência forçosa da regra milenar de Direito cunhada por
Ulpiano: proferida a decisão, o ofício do Juiz termina (“semel
enim male, seu bene officio functus est”) (Dig., 42, 1, 55).
5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Voto nº 12.466
Relator
É o relatório.