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Carlos Biasotti

Denúncia
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2021
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado
de São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB,
AASP, IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte,
Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos
Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além
de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honorícos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “ Brasil 500 anos”; medalha “ Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Denúncia
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Denúncia
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2021
São Paulo, Brasil
Índice

1. Prolóquio......................................................................11
2. Denúncia.......................................................................13
3. Casos Especiais............................................................61
Prolóquio

“Ato processual em que se formaliza a acusação”(1),


a denúncia deve atender ao rigor do estilo judiciário; por
isso, “conterá a exposição do fato criminoso, com todas
as suas circunstâncias”, a “qualificação do acusado”, a
“classificação do crime” e “o rol das testemunhas” (cf. art.
41 do Cód. Proc. Penal).
A falta de tais requisitos importa-lhe não raro sanção de
inépcia.
Não há, porém, averbar de inepta a denúncia “que
proporciona ao acusado a plena defesa assegurada pela
Constituição Federal”, conforme assentou, em copiosos
arestos, o Excelso Pretório (cf. Rev. Trim. Jurisp., vol. 85,
p. 70). Ao demais, eventual preterição de requisito do art. 41
do Cód. Proc. Penal poderá suprir-se até à decisão definitiva
(art. 569).

(1) José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual Penal, 2a.


ed., vol. II, p. 146.
12

Em todo o caso, não se deve descurar do aspecto formal


da denúncia. Vêm aqui a ponto estas palavras do Mestre José
Frederico Marques: “(…) a observância das formas, na
justiça penal, constitui, muitas vezes, o instrumento de que a
lei se vale para garantir o jus libertatis contra as coações
indevidas e sem justa causa” (Estudos de Direito Processual
Penal, 2001, p. 167; Millennium Editora).

O Autor
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de
Justiça: http://www.tjsp.jus.br).

• Denúncia
(Arts. 41 e 395 do Cód. Proc. Penal)

Voto nº 650

Recurso em Sentido Estrito nº 1.072.257/9


Art. 43 (atual 395) do Cód. Proc. Penal;
art. 4º, alínea a, da Lei nº 1.521/51(Lei de Usura)

– É jurídica e incensurável a decisão que rejeita denúncia oferecida com base


em vagos e aéreos rumores da existência de fato criminoso. Exceto se
estiver fundada na responsabilidade criminal do acusado, será a denúncia
expressão de arbítrio, pois o Estado não tem o direito de submeter inocente
ao estrépito de um julgamento.
– Isto de mútuo feneratício que vem a desfechar na barra da Justiça Criminal
nem sempre argui corpo de delito de execrável usura; não raro, é mera
escusa para a inadimplência de obrigação legal. Reza, de feito, o brocardo:
quem deve, mente por força.
14
Voto nº 772

Apelação Criminal nº 1.080.275/7


Art. 171 do Cód. Penal

– Inepta diz-se a denúncia que não descreve o fato criminoso, em ordem a


possibilitar ao réu sua defesa. Em suma: tem-se por inepta a “denúncia
inteiramente omissa a propósito da atividade criminosa do acusado na
infração que lhe é atribuída” (Rev. Forense, vol. 179, p. 406).
– Decerto não está nesse número a denúncia que, havendo narrado de forma
inteligível, bem que sucinta, os fatos de que o réu foi arguido, enseja-lhe
plena e eficiente defesa.
– Comete o crime definido e punido pelo art. 171 do Cód. Penal quem
contrata com terceiros a venda de direitos sobre linhas telefônicas que não
possui e, após receber o pagamento do preço da transação, desaparece, não
se preocupando em restituir o dano.
– Examinada à justa luz, não há diferença ontológica atendível entre ilícito
penal e ilícito civil. A fraude é uma só e a mesma em todas as esferas do
Direito.

Voto nº 1170

Apelação Criminal nº 1.110.529/0


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

– Não incorre na tacha de inepta a denúncia que, descrevendo pontualmente o


fato criminoso e suas circunstâncias, atende aos cânones legais.
– Vício do inquérito policial “não se projeta na ação penal, uma vez se trata
de peça meramente informativa” (STF; apud Damásio E. de Jesus, Código
de Processo Penal, 1996, p. 390).
– A falta de apreensão da “res furtiva” é irrelevante para a comprovação da
materialidade da infração penal, desde que a puderam suprir testemunhos
fidedignos.
– O fato objetivo de haver mais de uma qualificadora para o roubo não
implica aumento de pena superior a 1/3 (cf. Rev. Tribs., vol. 749, p. 657).
15
Voto nº 1371

Recurso em Sentido Estrito nº 1.143.153/2


Arts. 21 e 22 da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

– Cabe à vítima oferecer diretamente queixa-crime se, embora funcionário


público, é ofendida como particular. Neste caso, não incide a regra do art.
40, nº I, alínea b, da Lei nº 5.250, de 9.2.67 (Lei de Imprensa), que confere
ao Ministério Público a titularidade da ação, mediante representação do
ofendido.
– Inadmite o labéu de inépcia a queixa-crime que, descrevendo conduta típica
penal, enseja ao querelado o exercício da defesa técnica.
– Não pode o Juiz rejeitar queixa-crime, exceto se o fato narrado
evidentemente não constituir crime. Presente a justa causa que autorize a
instauração da “persecutio criminis”, é força receber a querela e submetê-la
a prova.

Voto nº 1807

Recurso em Sentido Estrito nº 1.179.245/1


Art. 163, nº III, do Cód. Penal

– Se ausente a justa causa para a ação penal (“fumus boni juris”), cabe ao
Juiz rejeitar a denúncia, como o preceitua o art. 43 do Cód. Proc. Penal, em
ordem a não malferir o estado de liberdade do indivíduo.
– Não há rejeitar denúncia que descreve fato típico e guarda estrita
observância do teor do art. 41 da lei processual penal.
– Expressão incoercível do instinto humano, o amor da liberdade elide o
caráter de ilicitude penal da fuga do preso, exceto se empreendida mediante
violência contra pessoa ou com dano do patrimônio público (arts. 352 e 163
do Cód. Penal).
–“A jurisprudência não obriga necessariamente a justiça togada, seja de
primeira, seja de segunda instância. A decisão do tribunal superior
somente obriga a justiça inferior, no caso concreto” (Vicente de Azevedo,
Curso de Direito Judiciário Penal, 1958, vol. I, p. 70).
16
Voto nº 1837

Apelação Criminal nº 1.161.347/6


Arts. 155, § 4º, nº II, e 171 do Cód. Penal

– Da imputação de fato contida na denúncia é que se defende o réu, que não


da classificação do crime feita pelo Promotor de Justiça (cf. Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 13a. ed., p. 250).
–“Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para
a acusação ou para a defesa” (art. 563 do Cód. Proc. Penal).
– Ainda que direito seu (art. 5º, nº LXIII, da Const. Fed.), o réu que
permanece calado na Polícia, como que dá a conhecer sua própria culpa: é
que ninguém, podendo declarar-se inocente de injusta acusação, deixa de
fazê-lo com toda a veemência.
– Comete crime de furto mediante fraude (e não estelionato) o agente que
adultera hidrômetro para obter água da rede pública por menor custo, em
detrimento da empresa concessionária (art. 155, § 4º, nº II, do Cód. Penal).
– A fraude, elemento comum às duas figuras delituosas, apresenta
características distintas no furto e no estelionato: aqui o agente, mediante
manobras ou meios fraudulentos, faz que a vítima lhe entregue,
voluntariamente, a coisa desejada; no furto, é a fraude praticada com o
escopo de facilitar-lhe o apoderamento da coisa.
– Na subtração de água, equiparada à coisa móvel (art. 155, § 3º, do Cód.
Penal), “a fraude perde o caráter pessoal, próprio do estelionato, porque é
cometida com absoluto alheamento da vontade do sujeito passivo” (cf.
Hoeppner Dutra, O Furto e o Roubo, 1955, p. 133).

Voto nº 1934

Apelação Criminal nº 1.170.027/1


Art. 155, § 4º, ns. I e IV, do Cód. Penal

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
– Pratica furto, e não receptação, o agente que auxilia o comparsa a
transportar, facilitando-lhe pois a execução do crime, as “res furtivae” do
lugar em que as possuía a vítima para outro sítio.
17
Voto nº 3258

Apelação Criminal nº1.276.817/1


Arts. 157, § 2º, nº I, e 71 do Cód. Penal

– Não é inepta a denúncia que descreve fato que, em tese, constitui crime e
permite ao acusado o exercício da ampla defesa (art. 41 do Cód. Proc.
Penal).
– É a palavra da vítima fundamental na apuração das circunstâncias do fato
criminoso, porque seu interesse coincide, salvo raras exceções, com o
escopo mesmo da Justiça: a busca da verdade real.

Voto nº 3311

Recurso em Sentido Estrito nº 1.277.771/7


Art. 242, parág. único, do Cód. Penal;
art. 43 do Cód. Proc. Penal

– Não cabe censura à decisão que, em face da prova inequívoca de que não
obraram os réus dolosamente, mas com sentimento de reconhecida nobreza,
rejeita denúncia por infração do art. 242, parág. único, do Cód. Penal
(registro de filho alheio). Mais do que injusto, seria iníquo sujeitar ao rigor
do processo-crime quem, olhando por futura adoção, registra como seu
filho de outrem, com anuência da mãe biológica.
–“Não deve o Juiz, nem também o Ministério Público, cingir-se a uma
interpretação estrita da lei. O fim social da lei é norma que deve servir
como bússola, em toda a vida da Justiça. (…). Não se prega o desacato à
lei, mas a submissão da lei ao interesse social, que lhe cabe tutelar” (João
Baptista Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito Criminal, 2a.
ed., p. 124).
18
Voto nº 3468

Recurso em Sentido Estrito nº 1.287.831/5

Arts. 129, “caput”, e 146 do Cód. Penal;


art. 43, nº III, do Cód. Proc. Penal

– Há casos em que o Magistrado que dá de mão aos ápices da Lei e rejeita


denúncia argui não somente abalizada ciência do Direito, senão ainda alto
grau de sabedoria. É que o Estado, como escreveu o primeiro de nossos
penalistas, “só deve recorrer à pena quando a conservação da ordem
jurídica não se possa obter com outros meios de reação” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. I, p. 19).
– Ainda que simples infortúnio, o recebimento da denúncia que não atende
aos cânones processuais representa mal insigne para o indivíduo porque,
atingindo-lhe o “status dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos
imensos, muita vez irreparáveis.

Voto nº 3571

Apelação Criminal nº 1.298.313/5


Art. 19 da Lei das Contravenções Penais
art. 76 da Lei nº 9.099/95

– Decisão que homologa a transação penal concluída entre as partes é


sentença e, na ausência de recurso, adquire força de coisa julgada formal e
material.
– A falta de cumprimento de obrigação contraída na forma do art. 76
da Lei nº 9.099/95 resolve-se pela via executiva; não rescinde a decisão
homologatória, que isto implicaria subversão de princípios pedestais de
nosso sistema jurídico. Pelo que, em caso de descumprimento do acordo, é
defeso ao Ministério Público oferecer denúncia contra o autor do fato.
19
Voto nº 874

Recurso em Sentido Estrito nº 1.070.263/5


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 67 da Lei nº 8.078/90

– Se o fato narrado na denúncia não constitui crime, deve o Magistrado,


desassombradamente, rejeitá-la (art. 43, nº I, do Cód. Penal), que não seria
lícito haver por necessário o procedimento criminal, quando se lhe
evidencia desde logo a inadmissibilidade.
– Posto não seja mais que o marco inicial da instância acusatória, constitui
porém a denúncia, de si mesma, um mal insigne, visto implica violência
desmarcada ao “status dignitatis” do indivíduo.
– Nisto de recebimento da denúncia, o ponto está em saber se o fato nela
descrito configura ou não crime em tese; porque, em caso afirmativo,
haverá mister submetê-lo a prova para apuração da verdade real e
liquidação de eventual culpa de seu autor.

Voto nº 3519

Recurso em Sentido Estrito nº 1.287.541/7


Arts. 138 e 139 do Cód. Penal;
art. 43, nº III, do Cód. Proc. Penal

– Tendo por preceito o Juiz, no despacho de delibação, verificar se concorre a


justa causa para a instauração da ação penal, toda a peça acusatória deve
acompanhar-se de base empírica, de um mínimo de prova do fato
criminoso, aliás será caso de rejeição liminar da denúncia ou queixa (art.
43, nº III, “in fine”, do Cód. Proc. Penal).
– A mera “imputatio delicti”, que se não apoie em elementos concretos, não
basta a sujeitar o indivíduo ao rigor da lei, pois somente o fato típico
autoriza a persecução penal.
20
Voto nº 3520

Apelação Criminal nº 1.241.795/6


Arts. 21 e 22 da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa);
art. 43, ns. I e III, do Cód. Proc. Penal

–“Em face do Código atual, somente pode ser sujeito passivo de crime contra
a honra a pessoa física (…). A pessoa jurídica não é instituto de Direito
Penal” (Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VI,
pp. 44-45).
– Não configuram crime de difamação frases proferidas em programa de
televisão a respeito de entidade civil pública (ECAD), imputando-lhe, sob a
forma de crítica genérica, fatos vagos e indeterminados; só a imputação de
fato preciso e concreto pode, em tese, caracterizá-lo (art. 21 da Lei
de Imprensa).
– Dizer alguém de pessoa física ou jurídica, em programa de televisão, que
lhe “não tira o chapéu”, pode arguir descortesia, não porém fato ofensivo à
sua reputação.
– Nos processos instaurados sob o regime da Lei de Imprensa, a
responsabilidade criminal é sucessiva (e não solidária), de tal sorte que,
liquidada a autoria das “expressões faladas” (art. 28, § 1º), já não haverá
tomar contas a terceiros.
– Apenas verifique o Juiz, no despacho de delibação, a falta de justa causa
para a ação penal, deve, por evitar ofensa grave ao “status dignitatis” do
indivíduo, rejeitar de plano a queixa-crime, como determina expressamente
a lei (art. 43 do Cód. Proc. Penal).
21
Voto nº 11.187

“Habeas Corpus” nº 990.08.120906-3


Art. 339 do Cód. Penal;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

–“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não


contraditória e que não deixe alternativa à convicção do julgador” (STF;
HC; rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla
defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor (art. 41
do Cód. Proc. Penal).
– Só é admissível trancamento de ação penal por falta de justa causa, quando
esta se mostre evidente à primeira face.
–“Se o fato atribuído ao paciente constitui violação da lei penal, existe justa
causa para o processo” (Rev. Forense, vol. 172, p. 426).
22
Voto nº 6372

Recurso em Sentido Estrito nº 831.455-3/1-00


Art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal;
art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil

– Não decai a Justiça de sua grandeza e confiança, antes se recomenda ao


louvor dos espíritos retos, se, aferindo lesão patrimonial por craveira
benigna, rejeita denúncia por tentativa de furto de coisa de ínfimo valor
(art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal). Ao Juiz não esqueçam jamais aquelas
severas palavras de Rui: “Não estejais com os que agravam o rigor das
leis, para se acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há
nada menos nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente
obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais” (Oração
aos Moços, 1a. ed., p. 43).
– Nos casos de insignificante lesão ao bem jurídico protegido e mínimo grau
de censurabilidade da conduta do agente, pode o Magistrado, com prudente
arbítrio, deixar de aplicar-lhe pena (e ainda pôr termo à “persecutio
criminis”). É que, nas ações humanas, o Direito Penal somente deve
intervir como providência “ultima ratio”.

Voto nº 4163

“Habeas Corpus” nº 423.626/9


Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
arts. 310, parág. único, e 383 do Cód. Proc. Penal

– Sem justa causa (ou fundamento razoável para a acusação), ninguém pode
ser submetido ao infortúnio de um processo criminal.
– A correção da denúncia (“emendatio libelli”) cabe a todo tempo enquanto
não proferida a sentença final (art. 383 do Cód. Proc. Penal).
– Isto de defender-se em liberdade é direito somente do réu primário e de
bons antecedentes, quando comprovada a ausência de hipótese que autorize
a decretação da prisão preventiva (art. 310, parág. único, do Cód. Proc.
Penal).
– Ainda que medida extremada, justifica-se a decretação da custódia
preventiva de autor de roubo, crime grave que atenta contra a paz social e a
ordem pública.
23
Voto nº 6513

Apelação Criminal nº 425.657-3/8-00


Arts. 12 e 18, nº III, da Lei nº 6.368/76 (Lei de Tóxicos);
art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Segundo opinião geralmente recebida, a errônea classificação legal do


crime não torna inepta a denúncia, que a todo o tempo se pode emendar
antes da sentença final, sem prejuízo para o réu, o qual aliás se defende da
imputação do fato nela descrito, não de sua capitulação jurídica.
– Da imputação de fato contida na denúncia é que se defende o réu, que não
da classificação do crime feita pelo Promotor de Justiça (cf. Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 21a. ed., p. 287).
–“Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para
a acusação ou para a defesa” (art. 563 do Cód. Proc. Penal).
– Preso nas circunstâncias do flagrante delito — que a literatura clássica
penal define como “certeza visual do crime” — e reconhecido com firmeza
por testemunhas idôneas, a condenação do réu será o único desfecho
compatível com a análise pontual dos autos à luz do siso comum.
– Feita em Juízo, a confissão do réu tem valor absoluto, que não pode ser
postergado, exceto em casos anormais, que se não presumem.
–“É sumamente tranquilizador para a consciência do Juiz ouvir dos lábios do
réu uma narrativa convincente do fato criminoso com a declaração de
havê-lo praticado” (Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I,
p. 381).
– Ainda que considerável a quantidade de substância entorpecente apreendida
em poder do réu, será bem desclassificar-lhe a infração penal para o art. 16
d Lei nº 6.368/76 (Lei de Tóxicos), se o conjunto probatório não pôde
esclarecer o espírito do Magistrado que se tratava realmente de caso de
tráfico (art. 12). A razão é que, em matéria criminal, a dúvida aproveita
sempre ao acusado.
24
Voto nº 8392

Recurso em Sentido Estrito nº 944.094-3/2-00


Arts. 121, § 2º, ns. I e V, e 211 do Cód. Penal;
arts. 41 e 563 do Cód. Proc. Penal

– Ausência de contrarrazões não é causa para se não conhecer nem julgar de


recurso em sentido estrito interposto contra decisão que rejeita denúncia,
pois nesse caso inexiste regular constituição da relação processual e,
portanto, não há réu, que a pressupõe e, unicamente, faz jus à ampla defesa.
Ao demais, à luz da sistemática do Código de Processo Penal, sem prova de
prejuízo não se anula ato processual algum (art. 563).
– Peça técnica, a denúncia deve atender ao rigor do estilo judiciário; por isso,
conterá a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias,
em ordem a possibilitar a verificação da existência de justa causa para a
“persecutio criminis” e a plena defesa do acusado (art. 41 do Cód. Proc.
Penal).
– A inobservância do referido cânon (art. 41 do Cód. Proc. Penal) importa
vício formal grave, cuja sanção é a rejeição mesma da denúncia.
– Segundo o STF, em caso de homicídio, a ausência de exame necroscópico
pode não ter relevância, “desde que demonstrada a morte por outras
provas” (Rev. Tribs., vol. 705, p. 426; apud Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 168).
–“Para o exercício regular da ação penal pública ou privada, indispensável
o requisito da justa causa, expressa em suporte mínimo da prova da
imputação. O simples relato do fato, sem qualquer elemento que indique
sua provável ocorrência, inviabiliza o recebimento da queixa-crime ou da
denúncia” (Rev. Tribs., vol. 674, p. 341; rel. Min. José Cândido).
25
Voto nº 8715

“Habeas Corpus” nº 1.076.028-3/1-00


Arts. 41, 569 e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal;
arts. 33 e 35 da Lei nº 11.343/06

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Matéria de alta indagação, como a que entende com a culpabilidade do
agente, é insuscetível de exame em processo de “habeas corpus”, de rito
sumaríssimo; apenas tem lugar na instância ordinária, com observância da
regra do contraditório. Trancamento de ação penal por falta de justa causa
unicamente se admite quando comprovada, ao primeiro súbito de vista, a
atipicidade do fato imputado ao réu, ou a sua inocência (art. 648, nº I, do
Cód. Proc. Penal).

Voto nº 61

“Habeas Corpus” nº 295.826/1


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 301 do Cód. Proc. Penal

– Não faz prova a mera alegação de que a denúncia foi apresentada


serodiamente; havia mister que o impetrante o demonstrasse. Como o não
fez, sua afirmação caiu sob a censura do velho aforismo jurídico: “Allegare
nihil, et allegatum non probare paria sunt”. (Em linguagem: nada alegar, e
não provar o alegado são uma e a mesma coisa).
– Ainda que oferecida a denúncia fora do quinquídio a que se refere o art. 46
do Cód. Proc. Penal, representa simples irregularidade, impotente para
anular o título da prisão do paciente: flagrante delito.
26
Voto nº 8777

Apelação Criminal nº 908.236-3/8-00


Art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

– Está acima de crítica a decisão que condena por furto o sujeito que, réu
confesso, foi detido na posse do produto do crime (art. 155, § 4º, nº IV,
do Cód. Penal).
–“Para os chamados penalistas práticos, a confissão do acusado se
equiparava à própria coisa julgada, como ensinava Farinácio: Confessio
habet vim rei judicatae” (José Frederico Marques, Estudos de Direito
Processual Penal, 1a. ed., p. 290).
– Exceto em face de prova cabal de infração da verdade, a palavra do policial,
se em harmonia com outros elementos dos autos, serve de base a decreto
condenatório.
–“A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou
suspeita” (STF; HC nº 551.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E.
de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).
– Não é inepta a denúncia que, imputando ao réu fato penal típico, permite-
-lhe o exercício de plena defesa (art. 41 do Cód. Proc. Penal).

Voto nº 11.466

Carta Testemunhável nº 990.08.167718-0


Arts. 579 e 639 do Cód. Proc. Penal;
arts. 76, § 5º, e 89 da Lei nº 9.099/95

– A carta testemunhável é recurso que visa a provocar o reexame de decisão a


pedido da parte que sofreu gravame por não ter sido recebido seu recurso,
ou por haver-lhe o Juízo negado seguimento (art. 639 do Cód. Proc. Penal).
– O duplo grau de jurisdição é “princípio judiciário destinado a garantir uma
reta administração da Justiça” (José Frederico Marques, Elementos de
Direito Processual Penal, 1a. ed., vol. IV, p. 186).
– A norma do art. 579 do Código de Processo Penal consagra o princípio que
Pontes de Miranda denomina “fungibilidade da interposição dos recursos”
(cf. José Frederico Marques, op. cit., p. 201).
27
Voto nº 8979

Recurso em Sentido Estrito nº 940.903-3/7-00


Art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal;
art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil

– Não decai a Justiça de sua grandeza e confiança, antes se recomenda ao


louvor dos espíritos retos, se, aferindo lesão patrimonial por craveira
benigna, rejeita denúncia por tentativa de furto de coisa de ínfimo valor
(art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal). Ao Juiz não esqueçam jamais aquelas
severas palavras de Rui: “Não estejais com os que agravam o rigor das
leis, para se acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há
nada menos nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente
obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais” (Oração
aos Moços, 1a. ed., p. 43).
– Nos casos de insignificante lesão ao bem jurídico protegido e mínimo grau
de censurabilidade da conduta do agente, pode o Magistrado, com prudente
arbítrio, deixar de aplicar-lhe pena (e ainda pôr termo à “persecutio
criminis”). É que, nas ações humanas, o Direito Penal somente deve
intervir como providência “ultima ratio”.

Voto nº 4889

Recurso em Sentido Estrito nº 1.354.427/5


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

– Se o fato arguido constituir crime em tese, o órgão do Ministério Público


tem o poder-dever de encetar a “persecutio criminis in judicio” (art 41 do
Cód. Proc. Penal).
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor.
– Nossos Tribunais têm decidido, sem quebra, ser inadmissível o trancamento
de ação penal por alegada ausência de justa causa, quando se baseia a
denúncia em indícios de crime em tese e de sua autoria.
28
Voto nº 10.804

Apelação Criminal nº 993.07.119877-3


Arts. 41, 393, nº I, e 569 do Cód. Proc. Penal;
arts. 33, § 1º, nº I, 34, 35, 62, § 11, e 63 da Lei nº 11.343/06

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Para autorizar decreto condenatório basta a confissão judicial do réu.
Deveras, é axioma de Direito que “a confissão da parte releva de outra
prova” (cf. Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, t. II,
p. 530).
– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui
para logo a ideia de tráfico (art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06 – Lei de
Drogas).
– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se
demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram
em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma e escopo
do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód.
Proc. Penal).
– Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com respeito aos
policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de
policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577;
DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo
Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).
– Segundo a comum opinião dos doutores, o benefício da redução da pena
(art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06) não se defere senão ao traficante
esporádico ou eventual, jamais ao que se associa para a prática do tráfico
ilícito de drogas, porque é em especial contra esse que se levanta o braço
implacável da lei.
– É de razão reconhecer hipótese de concurso formal entre os tipos previstos
nos arts. 33, § 1º, nº I, e 34 da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas), pois num
contexto fático único o agente pratica dois crimes (art. 70 do Cód. Penal).
29
– À luz da melhor doutrina, a causa de diminuição de pena do art. 29, § 1º,
do Cód. Penal (participação de menor importância) “só tem aplicação
quando a conduta do partícipe demonstra leve eficiência” (cf. Damásio E.
de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 145).
– O autor de tráfico de entorpecentes (art. 33 da Lei nº 11.343/06), crime da
classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado,
por força do preceito do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
– Para que se decrete a perda a que se refere o art. 62, § 11, da Lei
nº 11.343/06 (Lei de Drogas), “há necessidade de um nexo etiológico entre
o delito e o objeto utilizado para a sua prática” (Vicente Greco Filho,
Lei de Drogas Anotada, 2007, p. 187).
–“Conceito da expressão utilizados. O termo deve ser interpretado
restritivamente, no sentido de que o confisco só deve recair sobre objetos
materiais que sirvam necessariamente para a prática do crime” (Damásio
E. de Jesus, Lei Antitóxicos Anotada, 2005, p. 193).

Voto nº 11.433

Correição Parcial nº 993.08.041938-8


Arts. 33 e 35 da Lei nº 11.343/06;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

– Não incorre em censura, no âmbito da correição parcial, a decisão do


Magistrado que, com estrita observância das regras processuais, recebe
denúncia que atende às prescrições legais; “error in procedendo”, no caso,
seria não a receber (art. 41 do Cód. Proc. Penal).
– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla
defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor (art. 41
do Cód. Proc. Penal).
–“Se o fato atribuído ao paciente constitui violação da lei penal, existe justa
causa para o processo” (Rev. Forense, vol. 172, p. 426).
30
Voto nº 11.567

Apelação Criminal nº 993.06.045694-6


Arts. 157, §§ 2º e 3º, ns. I e II, e 158, § 1º, do Cód. Penal;
arts. 41, 202 e 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal;
art. 7º, § 1º, ns. I e XV, da Lei nº 8.906/94

– Ainda que se haja de franquear autos de processo ou inquérito policial ao


advogado, em obséquio à majestade e importância de seu claro ofício, urge
atender a que tenha interesse jurídico na questão. O argumento de que, nos
termos do art. 7º, nº XV, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), tem
direito de “vista dos processos judiciais e administrativos de qualquer
natureza”, não se recebe “sine grano salis”. É que a sobredita regra geral
sofre restrição expressa em seu art. 7º, § 1º, nº I, “in verbis”: não se aplica
o disposto nos incisos XV e XVI “aos processos sob regime de segredo de
justiça”.
–“O direito do advogado a ter acesso aos autos de inquérito não é absoluto,
devendo ceder diante da necessidade do sigilo da investigação,
devidamente justificada na espécie (art. 7º, § 1º, nº I, da Lei nº 8.906/94)”
(STJ; RMS nº 15.167-PR; rel. Min. Félix Fischer; DJU 10.3.2003).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– O princípio da congruência (“sententia debet esse conformis libello”) sofre
temperamentos, um dos quais é ditado pela regra do art. 383 do Cód. Proc.
Penal.
– A palavra da vítima é a pedra angular do edifício probatório: se em
harmonia com os mais elementos dos autos justifica a procedência da
pretensão punitiva e a condenação do réu.
– A crítica irrogada ao testemunho policial com o intuito de desmerecê-lo
constitui solene despropósito, pois toda a pessoa pode ser testemunha (art.
202 do Cód. Proc. Penal) e aquela que, depondo sob juramento, falta à
verdade incorre nas penas da lei, donde a inépcia do raciocínio apriorístico
de que o policial vem a Juízo para mentir.
– O regime fechado, no início, para autor de tentativa de latrocínio (arts. 157,
§ 3º, e 14, nº II, do Cód. Penal), crime da classe dos hediondos, decorre da
vontade expressa da lei (art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90).
31
Voto nº 100

Recurso em Sentido Estrito nº 1.030.809/0


Art. 321, parág. único, do Cód. Penal (advocacia administrativa);
art. 514 do Cód. Proc. Penal

– Nem se argumente, com mais força de peito do que de razão, que não cabia
ao Magistrado “afastar a tipicidade da conduta e a presença do dolo
específico do denunciado quando presentes os indícios de autoria”.
“Est modus in rebus”! Atento o procedimento próprio (dos crimes de
responsabilidade dos funcionários públicos), em que se prescreve defesa
preliminar (art. 514 do Cód. Proc. Penal), se alegada questão de mérito,
será de mister examiná-la com as mais peças informativas da inicial
acusatória.
–“O recebimento da denúncia ou queixa pode estar condicionado a outras
exigências. Nos crimes de responsabilidade de funcionário público, após a
resposta (defesa preliminar) do acusado, a inicial poderá ser rejeitada se o
juiz se convencer que inexiste o delito ou que não foi o acusado o seu autor,
ou por outra causa concluir de imediato pela improcedência da ação”
(Julio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, 4a. ed., p. 140).
–“Cabe ao juiz examinar o inquérito, antes de receber a denúncia, a fim de
não submeter o cidadão ao vexame de um processo por fato que não
constitui crime”(Rev. Forense, vol. 177, p. 372).
–“É preciso que haja o fumus boni juris, para que a ação penal tenha
condições de viabilidade. E desse controle não deve o juiz ser afastado,
porque o direito de defesa, que é garantia constitucional, torna imperativo
que se evitem procedimentos temerários e infundados” (José Frederico
Marques, Estudos de Direito Processual Penal, 1a. ed., p. 147).
32
Voto nº 747

Recurso em Sentido Estrito nº 1.084.841/1


Arts. 22 e 23, nº II, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

– Segundo a comum opinião dos doutores, para a instauração da ação penal


há-se mister de justa causa (“fumus boni juris”). Muita vez, porém, esta
precisamente é a que falha. Nesse caso, não há senão rejeitar a denúncia,
“porque o poder de denunciar não existe para atormentar as pessoas, para
criar dificuldades aos seus negócios, para cercear sua liberdade de
locomoção” (Rev. Tribs., vol. 581, p. 340).
– Desde que tenha apelado o Ministério Público, titular da ação penal, não há
conhecer de recurso interposto por seu Assistente, com a mesma finalidade
(cf. arts. 271 e 598 do Cód. Proc. Penal).
– Ainda que acerba e veemente, não constitui injúria a crítica feita, pela
imprensa, a administrador público, no desempenho de sua função. É que o
mandatário está sujeito à apreciação do mandante. Demais, verdadeiro
exercício de cidadania, as críticas têm muito concorrido para o
aprimoramento dos serviços públicos e, portanto, para a realização do bem
comum.
–“A imprensa é a vista da nação” (Rui, A Imprensa e o Dever da Verdade,
1920, p. 15).

Voto nº 6934

“Habeas Corpus” nº 949.980-3/2-00


Art. 171 do Cód. Penal;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Ainda que instrumento processual de dignidade constitucional, próprio a
tutelar a liberdade do indivíduo, não pode o “habeas corpus” substituir o
recurso ordinário, máxime quando a “causa petendi” respeita a questões de
alta indagação.
33
Voto nº 3778

Recurso em Sentido Estrito nº 1.301.873/5


Art. 172 do Cód. Penal;
art. 43, nº III, do Cód. Proc. Penal

– Há casos em que o Magistrado que dá de mão aos ápices da Lei e rejeita


denúncia argui não somente abalizada ciência do Direito, senão ainda alto
grau de sabedoria. É que o Estado, como escreveu o primeiro de nossos
penalistas, “só deve recorrer à pena quando a conservação da ordem
jurídica não se possa obter com outros meios de reação” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. I, p. 19).
– Ainda que simples infortúnio, o recebimento da denúncia que não atende
aos cânones processuais representa mal insigne para o indivíduo porque,
atingindo-lhe o “status dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos
imensos, muita vez irreparáveis.
– Segundo tradicional jurisprudência, cópia sem autenticação não é
documento e, por isso, não pode fazer as vezes de prova em processo-
-crime.

Voto nº 1020

Apelação Criminal nº 1.104.485/8


Art. 157 do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

– Erro material da denúncia (v.g.: corruptela do nome do réu) não implica


nulidade do processo e pode suprir-se “a todo o tempo, antes da sentença
final” (cf. art. 569 do Cód. Proc. Penal).
– A apreensão da coisa roubada em poder do acusado induz à presunção da
autoria e legitima decreto condenatório.
– A epilepsia não exclui a responsabilidade penal, exceto “nos momentos das
impulsões, das auras e das inconsciências” (César da Silveira; apud
Marcello Jardim Linhares, Responsabilidade Penal, 1978, t. I, p. 464).
– Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso de tempo,
teve a posse da coisa subtraída mediante grave ameaça ou violência.
– Inexiste repugnância lógica entre o direito positivo e a concessão do regime
semiaberto a réu condenado a pena inferior a 4 anos (cf. art. 33, § 2º, alínea
c, do Cód. Penal).
34
Voto nº 1375

Apelação Criminal nº 1.145.463/5


Art. 58 do Decreto-lei nº 6.259/44

– É doutrina comum que não pode o magistrado modificar suas decisões


senão mediante recurso, salvo para emenda de erros materiais. É a lição
clássica de Ulpiano: “Depois de pronunciada a sentença, o juiz perde a
jurisdição e não pode corrigi-la, quer haja exercido seu ofício bem, quer o
tenha feito mal” (apud Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980,
vol. II, p. 353).
– Recebida a denúncia, já a não pode o Juiz rejeitar, modificar ou anular.
Algum equívoco ou engano que cometa ao recebê-la, somente a Superior
Instância poderá corrigir; o contrário fora “tumultuar o processo e conceder
um recurso não previsto na lei ao despacho de recebimento” (cf. Rev.
Tribs., vol. 230, p. 146).
–“Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à
apreciação do Juiz (art. 76, § 3º, da Lei nº 9.099/95), que deve homologar a
transação, impondo a pena acordada” (Julio Fabbrini Mirabete, Juizados
Especiais Criminais, 2a. ed., p. 89).
– A falta de homologação da transação penal torna inexigível o pagamento da
multa aplicada ao autor do fato e, pois, impertinente a alegação de
inadimplência.
–“É inútil censurar a lei, pois, enquanto não revogada, tem que ser
cumprida” (Antão de Moraes, Problemas e Negócios Jurídicos, vol. I,
p. 12).
35
Voto nº 1393

Revisão Criminal nº 338.106/7


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 93, nº IX, da Const. Fed.

– Na prescrição constitucional de que todas as decisões devem ser motivadas


(art. 93, nº IX, da Const. Fed.) não se compreende o despacho liminar
positivo ou de recebimento da denúncia. Este “dispensa motivação por não
gerar preclusão quanto à regularidade da peça vestibular da ação” (cf.
Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 13a. ed., p. 47).
– A Instância Superior, quanto em si caiba, proverá que se repare o erro ou a
injustiça das decisões de primeiro grau de jurisdição, sem haja mister
fulminar-lhes anulação, pois é sempre matéria de grande repugnância anular
processo penal, que isto representa perda irreparável para a Justiça e resulta
em seu descrédito.
– Tem alto sentido a confissão espontânea no processo penal: o confitente,
ainda que com dano de sua liberdade, prefere ser sincero com o Magistrado
que o interroga, falando-lhe verdade. Esta, a que se pudera chamar coragem
moral, é digna de recompensa, não somente de estímulo. Ao demais, quem
confessa mostra-se arrependido e pretende regeneração, fim último de toda
a pena.

Voto nº 1777

Revisão Criminal nº 348.418/0


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

– Presume-se o real interesse do condenado em sujeitar a reexame sua causa,


máxime quando apresente argumento novo. Tem, destarte, a pertinência
subjetiva da ação, que o habilita a pleitear revisão criminal.
– Nos delitos, cujos autores se empenham na mesma ação e com o mesmo
fim, não é mister descreva a denúncia os atos de cada um, pois todos
respondem conjuntamente.
– Na instância revisional, ao peticionário é que impende provar de modo
convincente que a decisão condenatória contém erro, nulidade ou injustiça.
36
Voto nº 3554

Apelação Criminal nº 1.287.977/1


Art. 180, “caput”, e § 5º, do Cód. Penal;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

–“A suspensão do processo, prevista no art. 366 do Cód. Proc. Penal, com a
nova redação dada pela Lei nº 9.271/96, só pode ser aplicada em conjunto
com a suspensão do prazo prescricional, sendo inadmissível a cisão do
texto (…)” (Rev. Tribs., vol. 771, p. 571; rel. Min. Félix Fischer).
– A denúncia que expõe com clareza o fato criminoso com todas as suas
circunstâncias não incorre na tacha de inépcia, visto possibilita ao acusado
o franco exercício da defesa e não lhe é causa de prejuízo.
– Nos crimes de receptação dolosa, porque mui difícil apurar o elemento
subjetivo do tipo, cumpre recorrer às circunstâncias mesmas do fato e à
personalidade do agente (art. 180 do Cód. Penal).

Voto nº 3875

Apelação Criminal nº 1.315.477/1


Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

– Não é inepta a denúncia que descreve fato que, em tese, constitui crime e
permite ao acusado o exercício da ampla defesa (art. 41 do Cód. Proc.
Penal).
– O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a infração do
art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da existência
de perigo concreto.
– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo,
pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo
e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada
sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio
Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).
– A lição de José Duarte encerra verdade irrefutável: “o porte de arma é,
sempre, potencialmente perigoso” (Comentários à Lei das Contravenções
Penais, 1944, p. 294).
37
Voto nº 4475

“Habeas Corpus” nº 433.568/5


Art. 180, “caput”, do Cód. Penal;
art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

– É princípio acolhido sem reserva que, tanto que passe em julgado sua
decisão, já não tem o Juiz competência para revê-la. Vem a ponto a lição de
Hélio Tornaghi: “Já no Direito romano, Ulpiano ensinava: Depois de
pronunciada a sentença, o juiz perde a jurisdição e não pode corrigi-la,
quer haja exercido seu ofício bem, quer o tenha feito mal” (Curso de
Processo Penal, 1980, vol. II, p. 353).
– É ao Colendo Superior Tribunal de Justiça que compete julgar os “habeas
corpus” impetrados contra ato do Tribunal de Alçada Criminal, conforme o
preceito do art. 105, nº I, alíneas a e c, da Constituição Federal, explicitado
pela Emenda Constitucional nº 22, de 18 de março de 1999 (cf. HC nº
78.069-9/MG; 2a. Turma; rel. Min. Marco Aurélio; DJU 14.5.99).
– O aditamento da denúncia, para nela incluir novo crime, obriga à audiência
do réu, por amor da garantia da ampla defesa e do contraditório processual
consagrados pela Carta Magna (art. 5º, nº LV), cuja substância se contém na
fórmula preceptiva “audiatur et altera pars” (ouça-se também a outra
parte).
– Peça de defesa e juntamente oportunidade de obtenção de prova, o
interrogatório do réu, no caso de lhe ser imputado novo crime em
aditamento à denúncia, constitui regra impostergável, cuja quebra fulmina
de nulidade o processo.
38
Voto nº 9109

Recurso em Sentido Estrito nº 855.518-3/5-00


Arts. 157, § 3º, do Cód. Penal;
art. 43, nº III, do Cód. Proc. Penal

– Superior a toda crítica é a decisão que, por falta de justa causa para
a ação penal — porque indemonstrada, mesmo que por indícios, a
responsabilidade do acusado no fato criminoso —, rejeita a denúncia
(art. 43, nº III, do Cód. Proc. Penal).
–“A inexistência da fumaça do bom direito para a instauração da persecutio
criminis in judicio obriga à rejeição da denúncia” (Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 63).
–“Para o exercício regular da ação penal pública ou privada, indispensável o
requisito da justa causa, expressa em suporte mínimo da prova da
imputação. O simples relato do fato, sem qualquer elemento que indique
sua provável ocorrência, inviabiliza o recebimento da queixa-crime ou
da denúncia” (Rev. Tribs., vol. 674, p. 341; rel. Min. José Cândido).

Voto nº 10.265

Recurso em Sentido Estrito nº 1.198.032-3/0-00


Art. 171, “caput”, e § 2º, nº VI, do Cód. Penal;
art. 463, nº I, do Cód. Proc. Civil

– É da tradição de nosso Direito, por aplicação analógica do art. 463, nº I, do


Cód. Proc. Civil, que o juiz pode corrigir, de ofício, erros ou inexatidões
materiais; nos mais casos, proferida a decisão, termina o seu ofício,
conforme a regra de Ulpiano: “officium functus est” (Dig. 42, 1, 55).
–“Já no Direito romano, Ulpiano ensinava: Depois de pronunciada a
sentença, o juiz perde a jurisdição e não pode corrigi-la, quer haja
exercido seu ofício bem, quer o tenha feito mal” (Hélio Tornaghi, Curso de
Processo Penal, 1980, vol. II, p. 353).
–“O despacho de recebimento da denúncia importa juízo de admissibilidade
da acusação… e, sendo irrecorrível, não pode ser reconsiderado” (STF;
Rev. Trim. Jurisp., vol. 18, p. 176).
39
Voto nº 9141

Embargos de Declaração nº 477.658-3/0-01


Arts. 121, “caput”, e 23, nº II, do Cód. Penal;
arts. 41 e 43, nº I, do Cód. Proc. Penal

–“A palavra é mau veículo do pensamento” (Carlos Maximiliano,


Hermenêutica e Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 117).
– É não só jurídica senão justa e sensata a decisão que, com fundamento
no art. 43, nº I, do Cód. Proc. Penal, rejeita denúncia contra sujeito que
praticou o fato em situação de legítima defesa (art. 23, nº II, do Cód.
Penal). É lícito repelir a força com a força: “vim vi repellere licet”
(Ulpiano).
–“Encontrando-se a excludente da ilicitude devidamente comprovada,
entendemos que é caso de arquivamento do inquérito policial ou de
rejeição da denúncia (ou da queixa, se caso). Tendo o sujeito agido
licitamente, não é justo venha a ser processado para provar a final ter
agido em legítima defesa” (Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 22a. ed., p. 63).
–“É possível que o sujeito, agindo acobertado por uma excludente da
antijuridicidade (legítima defesa, p. ex.), venha a atingir terceiro inocente.
Nesse caso não responde pelo resultado. É como se tivesse atingido o autor
da agressão injusta” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a.
ed., p. 270).
40
Voto nº 9175

“Habeas Corpus” nº 1.097.705-3/5-00


Art. 150 do Cód. Penal;
arts. 41, 569 e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Matéria de alta indagação, como a que entende com a autoria ou com o
elemento moral do crime (dolo), é insuscetível de exame em processo de
“habeas corpus”, de rito sumaríssimo; apenas tem lugar na instância
ordinária, com observância da regra do contraditório. Trancamento de ação
penal por falta de justa causa unicamente se admite quando comprovada, ao
primeiro súbito de vista, a atipicidade do fato imputado ao réu, ou a sua
inocência (art. 648, nº I, do Cód. Proc. Penal).
–“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não
contraditória e não deixe alternativa à convicção do julgador” (STF; HC;
rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
– Para trancar a ação penal, sob o fundamento da ausência de “fumus boni
juris”, cumpre seja a prova mais clara que a luz meridiana, a fim de se não
subverter a ordem jurídica, entre cujos postulados se inscreve o da apuração
compulsória, pelos órgãos da Justiça, da responsabilidade criminal do
infrator.
41
Voto nº 10.287
Apelação Criminal nº 993.08.013771-4
Arts. 12, 14 e 18, nº III, da Lei nº 6.368/76;
art. 2º da Lei nº 9.296/96; art. 41 do Cód. Proc. Penal

–“Não é inepta a denúncia que proporciona ao acusado a plena defesa


assegurada pela Constituição Federal” (cf. STF; Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 85, p. 70).
–“O princípio do contraditório impõe a regra de serem as testemunhas da
acusação ouvidas antes das da defesa. A inversão da prova, entretanto, só
anula a ação penal em caso de prejuízo para o réu”, que se não presume,
aliás deve ser comprovado “ad satiem” (cf. Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 319).
– Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a confissão
policial constitui prova idônea de autoria delituosa e justifica edição de
decreto condenatório.
– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui
para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).
– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se
demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram
em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma e escopo
do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód.
Proc. Penal).
– A prova, obtida mediante interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça
em face de “indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal” (art. 2º da Lei nº 9.296/96), é lícita e, portanto, pode servir de
fundamento a decreto condenatório.
–“Não há invalidar o resultado obtido em decorrência de interceptações
telefônicas que foram realizadas mediante autorização judicial, nos termos
da Lei nº 9.296/96” (Rev. Tribs., vol. 854, p. 559; rel. Min. Felix Fischer).
– A causa de aumento de pena do art. 18, nº II, da Lei nº 6.368/76 (“decorrer
de associação”), já não subsiste e, pois, não pode ser reconhecida à luz da
nova Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06), que previu a circunstância apenas
como crime autônomo (art. 35).
– A Lei nº 11.464, de 28.3.2007 atenuou o rigor da Lei dos Crimes Hediondos
(Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime prisional de
cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver dela descontado já
2/5 — ou 3/5, se reincidente — e conspiram os mais requisitos legais, faz
jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
42
Voto nº 10.796

Apelação Criminal nº 990.08.050340-5


Art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

– Até à sentença pode o Juiz corrigir erro da denúncia quanto à capitulação


legal do crime (“emendatio libelli”), conforme orientação do STF (Rev.
Trim. Jurisp., vol. 79, p. 95).
– A confissão extrajudicial do réu, exceto se provar que a fez sob coação, é
valiosa para aferir-lhe a culpabilidade, sobretudo se em harmonia com os
mais elementos do processo, e pode legitimar decreto condenatório.
– Se de curta duração a pena privativa de liberdade, e cometido o crime sem
violência, não é defeso ao Juiz determinar que o réu a cumpra sob o regime
semiaberto, ainda que reincidente. O que lhe taxativamente proíbe a lei é
conceder o benefício ao reincidente condenado a pena superior a 4 anos
(cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).

Voto nº 5489

Recurso em Sentido Estrito nº 1.411.067/2


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
arts. 41 do Cód. Proc. Penal

– Se o fato arguido constitui crime em tese, o órgão do Ministério Público


tem o poder-dever de encetar a “persecutio criminis in judicio” (art 41 do
Cód. Proc. Penal).
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor.
– Nossos Tribunais têm decidido, sem quebra, ser inadmissível o trancamento
de ação penal por alegada ausência de justa causa, quando se baseia a
denúncia em indícios de crime em tese e de sua autoria.
43
Voto nº 10.960

Apelação Criminal nº 990.08.057520-1


Art. 16, parág. único, nº IV, do Estatuto do Desarmamento;
arts. 5º, “caput”, 93, nº IX, e 144 da Const. Fed.;
arts. 202 e 563 do Cód. Proc. Penal

– A Constituição Federal, em seu art. 93, nº IX, estigmatiza de nula a decisão


não fundamentada, e com bem de razão, pois que os motivos lhe são
verdadeiramente a alma e a substância. Nenhum julgamento se satisfaz com
argumentação tíbia e evasiva. O despacho que recebe a denúncia, contudo,
não o considera a Doutrina ato decisório, senão mero juízo de
admissibilidade da acusação, estranho ao império do mencionado preceito
constitucional.
– Nisto de nulidades, tem-se de atender ao ponto do prejuízo, que lhe serve de
pedra de toque: “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa” (art. 563 do Cód.
Proc. Penal).
– A confissão judicial, por seu valor absoluto — visto se presume feita
espontaneamente —, basta à fundamentação do edito condenatório.
– Incorre em crime e, pois, sujeita-se às penas da lei aquele que possui arma
de fogo com numeração raspada, sem justificá-lo (art. 16, parág. único, nº
IV, do Estatuto do Desarmamento).
– Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma consigo,
pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo
e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade armada
sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz Flávio
Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).
–“A culpabilidade se compõe da imputabilidade, exigibilidade de conduta
diversa e potencial consciência da ilicitude (do fato)” (Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 91).
– Do gênero das causas de exclusão de culpabilidade, a inexigibilidade de
conduta diversa requer prova cabal e inequívoca de sua existência, já que
se devem interpretar “restritivamente as disposições derrogatórias do
Direito comum”. “Cumpre opinar pela inexistência da exceção referida,
quando esta se não impõe à evidência, ou dúvida razoável paira sobre
a sua aplicabilidade a determinada hipótese” (Carlos Maximiliano,
Hermenêutica e Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 235).
–“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da
pena abaixo do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).
44
Voto nº 11.007

Apelação Criminal nº 990.08.034150-2


Arts. 157, § 2º, nº II, e 70 do Cód. Penal;
arts. 41 e 383 do Cód. Proc. Penal

– Até à prolação da sentença pode o Juiz, à luz do disposto no art. 383 do


Cód. Proc. Penal, corrigir a errônea qualificação legal do crime feita pela
denúncia, ou mandar suprir-lhe alguma imperfeição (“emendatio libelli”).
– No caso de roubo, tem a palavra da vítima extraordinária importância para
comprovar-lhe a materialidade e a autoria: parte precípua no evento
criminoso, é a que está em melhores condições de, à luz da verdade sabida,
reclamar a punição unicamente do culpado.
–“Responde por roubos em concurso formal o sujeito que, num só contexto de
fato, pratica violência ou grave ameaça contra várias pessoas, produzindo
multiplicidade de violações possessórias” (Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 591).
– Impossível capitular de furto a subtração de coisa alheia móvel mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, pois são estas elementares do roubo
(art. 157, “caput”, do Cód. Penal).
– O regime prisional fechado é, em linha de princípio, o que verdadeiramente
convém ao autor de roubo, sobretudo se manifesta sua propensão à vida de
crimes.

Voto nº 6489

“Habeas Corpus” nº 852.766-3/4-00


Arts. 158, § 1º, e 288 do Cód. Penal;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
45
Voto nº 6542

“Habeas Corpus” nº 891.163-3/8-00


Arts. 41 e 310 do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

– De presente, constitui a prisão provisória exceção; a regra geral é defender-


se o réu em liberdade, em obséquio ao princípio da presunção de inocência
(art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.). A melhor exegese do texto constitucional,
entretanto, é a que o procura conciliar com a norma do art. 310, parág.
único, do Cód. Proc. Penal. Assim, por amor da segurança da ordem
jurídica e cautela dos direitos e interesses sociais, o réu preso em flagrante
só poderá defender-se em liberdade se afiançável seu crime e ausentes os
motivos que lhe autorizem a decretação da prisão preventiva.
– Se preso em flagrante delito, dispõe o direito comum que o acusado
aguarde, no cárcere, a verificação de sua culpabilidade ou inocência,
principalmente se não satisfaz às condições de caráter subjetivo que lhe
permitam a concessão de liberdade provisória (art. 310, parág. único, do
Cód. Proc. Penal).
– Na forma do art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal, liberdade
provisória é benefício reservado unicamente àqueles casos em que não
concorra algum dos motivos que justificam a decretação da prisão
preventiva. Dele está excluído, portanto, de regra, o reincidente em crime
doloso, por sua presumida periculosidade.
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor (art. 41
do Cód. Proc. Penal).
46
Voto no 6784

“Habeas Corpus” no 916.555-3/7-00


Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
arts. 41, 569 e 659 do Cód. Proc. Penal;

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Ainda que instrumento processual de dignidade constitucional, próprio a
tutelar a liberdade do indivíduo, não pode o “habeas corpus” substituir o
recurso ordinário, máxime quando a “causa petendi” respeita a questões de
alta indagação.
– Pedido de desclassificação do fato criminoso não cabe na esfera angusta do
“habeas corpus”, onde não têm entrada questões de alta indagação, ou que
impliquem aprofundado exame da prova dos autos.
– Dispõe o art. 659 do Cód. Proc. Penal que, se o Tribunal verificar ter já
cessado a violência ou coação ilegal de que se queixa o paciente, lhe julgará
prejudicado o pedido de “habeas corpus”.
–“Julga-se o habeas corpus prejudicado quando o impetrante obtém, durante
a ação, a situação jurídica reclamada” (STJ; HC nº 1.623/2; 6a. Turma;
rel. Min. Vicente Cernicchiaro; j. 18.12.96).
47
Voto no 6790

“Habeas Corpus” no 923.321-3/6-00


Arts. 158, § 1º, e 70 do Cód. Penal;
arts. 41 e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal

– Na esfera do “habeas corpus”, onde todas as alegações devem estar


cabalmente comprovadas, não se admite exame aprofundado de matéria de
fato. Por isso, pedido de trancamento de ação penal por falta de justa causa
(art. 648, nº I, do Cód. Proc. Penal) somente se defere quando
demonstrada, além de toda a dúvida, a ilegitimidade da coação.
– Presente o “fumus boni juris”, ou justa causa para a ação penal, é defeso
atalhar o curso do processo, visto constitui o meio regular “para a
averiguação do crime e da autoria e para o julgamento da ilicitude e da
culpabilidade” (Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I,
p. 3).
– Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de
requisito intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão
preventiva (art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal).
– A natureza e a gravidade do crime de extorsão impedem se outorgue a seu
autor, ainda que primário e de bons antecedentes, o benefício da liberdade
provisória. A defesa dos direitos e interesses da sociedade é que reclama
a segregação, até a decisão final de mérito, daquele que violou
profundamente a ordem jurídica (art. 158, § 1º, do Cód. Penal).
– Antes da prolação da sentença, pode o Juiz, a todo o tempo, emendar
errônea capitulação legal do crime (“emendatio libelli”).
–“A capitulação errônea do delito feita na denúncia não configura
constrangimento ilegal, sanável por via do habeas corpus” (STJ; HC
nº 5.963; 5a. Turma; rel. Min. Edson Vidigal; DJU 3.11.97, p. 56.338).
48
Voto nº 7038

“Habeas Corpus” nº 896.907-3/0-00


Art. 121, § 2º, ns. I e IV, do Cód. Penal;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Matéria de alta indagação, como a que entende com a autoria ou com o
elemento moral do crime (dolo), é insuscetível de exame em processo de
“habeas corpus”, de rito sumaríssimo; apenas tem lugar na instância
ordinária, com observância da regra do contraditório. Trancamento de ação
penal por falta de justa causa unicamente se admite quando comprovada, ao
primeiro súbito de vista, a atipicidade do fato imputado ao réu, ou a sua
inocência (art. 648, nº I, do Cód. Proc. Penal).
–“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não
contraditória e não deixa alternativa à convicção do julgador” (STF; HC;
rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
– Não entra em dúvida que, a despeito do princípio da presunção de
inocência, consagrado na Constituição da República (art. 5º, nº LVII),
subsiste a providência da prisão preventiva, quando conspiram os requisitos
legais do art. 312 do Código de Processo Penal, isto é, garantia da ordem
pública, conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação
da lei penal, desde que comprovada a materialidade da infração e
veementes os indícios de sua autoria.
– Em princípio, não faz jus ao benefício da liberdade o autor de homicídio
qualificado (crime “hediondo”, nos termos da Lei nº 8.072/90) que procura
solertemente subtrair-se à ação da Justiça, em vez de submeter-se a ela em
razão de ordem de prisão preventiva.
49
Voto nº 7147

“Habeas Corpus” nº 975.984-3/6-00


Arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal;
arts. 1º, nº II; 11 e 12, nº I, da Lei nº 8.137/90

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Matéria de alta indagação, como a que entende com a autoria ou com o
elemento moral do crime (dolo), é insuscetível de exame em processo de
“habeas corpus”, de rito sumaríssimo; apenas tem lugar na instância
ordinária, com observância da regra do contraditório. Trancamento de ação
penal por falta de justa causa unicamente se admite quando comprovada, ao
primeiro súbito de vista, a atipicidade do fato imputado ao réu, ou a sua
inocência (art. 648, nº I, do Cód. Proc. Penal).
–“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não
contraditória e não deixa alternativa à convicção do julgador” (STF; HC;
rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
– Para trancar a ação penal, sob o fundamento da ausência de “fumus boni
juris”, cumpre seja a prova mais clara que a luz meridiana, a fim de se não
subverter a ordem jurídica, entre cujos postulados se inscreve o da apuração
compulsória, pelos órgãos da Justiça, da responsabilidade criminal do
infrator.
50
Voto nº 7900

Recurso em Sentido Estrito nº 477.168-3/1-00


Arts. 121, § 2º, ns. II e IV, e 23, nº II, do Cód. Penal;
arts. 384, 408 e 411 do Cód. Proc. Penal

– Não induz nulidade ao processo aditamento de denúncia que, atribuindo


nova definição jurídica ao fato criminoso (“mutatio libelli”), dá
oportunidade à Defesa de manifestar-se nos termos do art. 384, parág.
único, do Código de Processo Penal. Vem a ponto notar que “o réu se
defende da imputação de fato contida na denúncia, não da classificação do
crime feita pelo Promotor de Justiça” (STF; HC nº 56.874; DJU 8.6.79,
p. 4.534).
– A decisão de pronúncia tira ao efeito somente de submeter a julgamento
pelo Júri o acusado da prática de crime doloso contra a vida (art. 408 do
Cód. Proc. Penal). Donde veio a dizer José Frederico Marques: “A
pronúncia é sentença processual de conteúdo declaratório em que o juiz
proclama admissível a acusação, para que esta seja decidida no plenário
do Júri” (Elementos de Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. III, p. 217;
Millennium Editora).
– Ainda que, em tese, possa absolver o réu com fundamento na legítima
defesa, ao Juiz da pronúncia não é lícito fazê-lo senão quando comprovada
a descriminante legal acima de toda a dúvida razoável (art. 23, nº II, do
Cód. Penal).
– Não é ao Juiz da pronúncia, mas ao Tribunal Popular, juiz natural da causa,
que compete desclassificar tentativa de homicídio para lesões corporais, se
não afastada de plano a hipótese de haver o réu obrado com intenção
homicida ao ferir a vítima em região nobre do corpo.
– Na dúvida sobre a desclassificação do crime para outro da competência do
Juiz singular, deve o Magistrado pronunciar o réu, na forma do art. 408,
“caput”, do Cód. Proc. Penal.
– As qualificadoras articuladas na denúncia apenas podem ser excluídas
quando manifesta sua inocorrência; do contrário, são os Jurados os que
sobre elas se devem pronunciar, porque matéria de sua competência.
51
Voto nº 8076

“Habeas Corpus” nº 1.003.811-3/6-00


Arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal;
art. 40 da Lei nº 9.605/98;
arts. 129, nº I, e 225, § 3º, da Const. Fed.

– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Ainda que instrumento processual de dignidade constitucional, próprio a
tutelar a liberdade do indivíduo, não pode o “habeas corpus” substituir o
recurso ordinário, máxime quando a “causa petendi” respeita a questões de
alta indagação.
– A partícula aditiva e entre as palavras penais e administrativas (art. 225,
§ 3º, da Const. Fed.) dá bem a conhecer o intuito do legislador: sujeitar os
autores dos delitos definidos na Lei do Meio Ambiente (Lei nº 9.605/98) —
pessoas físicas e jurídicas — a sanções penais e administrativas.
–“(…) a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso
não se descubra a autoria ou participação das pessoas naturais, e poderá,
também, ser direcionada contra todos. (…) Agora o Ministério Público
poderá imputar o crime às pessoas naturais e à pessoa jurídica, juntos ou
separadamente. A opção dependerá do caso concreto” (Vladimir Passos de
Freitas e Gilberto Passos de Freitas, Crimes contra a Natureza, 8a. ed, p.
70).
52
Voto nº 8.206

“Habeas Corpus” nº 1.058.357-3/0-00


Art. 171 do Cód. Penal;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

– O exame de prova no âmbito do “habeas corpus”, para a verificação da


falta de justa causa para a ação penal, tem sido pábulo de tormentosas
disputas. Mas a inteligência que, de presente, prevalece a tal respeito, assim
na Doutrina como na Jurisprudência, é a que, embora incompatível o
processo de “habeas corpus” com o contraditório ou ampla indagação
probatória, tem lugar o exame dos elementos dos autos “para avaliar-se da
legalidade ou ilegalidade da ação penal” (cf. Rev. Tribs., vol. 491, p. 375;
rel. Min. Costa Lima).
–“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não
contraditória e que não deixa alternativa à convicção do julgador” (STF;
HC; rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla
defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor (art. 41
do Cód. Proc. Penal).
– Só é admissível trancamento de ação penal por falta de justa causa quando
esta se mostre evidente à primeira face.
–“Se o fato atribuído ao paciente constitui violação da lei penal, existe justa
causa para o processo” (Rev. Forense, vol. 172, p. 426).
53
Voto nº 7753

“Habeas Corpus” nº 1.022.206-3/4-00


Art. 121, § 2º, ns. II e IV, do Cód. Penal;
art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

– Antes da prolação da sentença, pode o Juiz, a todo o tempo, emendar


errônea capitulação legal do crime (“emendatio libelli”).
–“A capitulação errônea do delito feita na denúncia não configura
constrangimento ilegal, sanável por via do habeas corpus” (STJ; HC
nº 5.963; 5a. Turma; rel. Min. Edson Vidigal; DJU 3.11.97, p. 56.338).
– Não entra em dúvida que, a despeito do princípio da presunção de
inocência, consagrado na Constituição da República (art. 5º, nº LVII),
subsiste a providência da prisão preventiva quando conspiram os requisitos
legais do art. 312 do Código de Processo Penal, isto é, garantia da ordem
pública, conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação
da lei penal, desde que comprovada a materialidade da infração e
veementes os indícios de sua autoria.
– Em princípio, não faz jus ao benefício da liberdade o autor de homicídio
qualificado (crime “hediondo”, nos termos da Lei nº 8.072/90), que ostenta
desabonadora biografia social.
54
Voto nº 11.463

Apelação Criminal nº 990.08.156549-8


Art. 12 da Lei nº 6.368/76;
arts. 28 e 33 da Lei nº 11.343/06;
arts. 41, 202 e 569 do Cód. Proc. Penal

–“Não é inepta a denúncia que proporciona ao acusado a plena defesa


assegurada pela Constituição Federal” (cf. STF; Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 85, p. 70).
– A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado argui
para logo a ideia de tráfico (art. 33 da Lei nº 11.343/06).
– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se
demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram
em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma e escopo
do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód.
Proc. Penal).
– A desclassificação do crime do art. 33 da Lei nº 11.343/06 para o tipo
do art. 28 não se mostra atendível, se o réu trazia consigo considerável
quantidade de substância entorpecente acondicionada em pacotes,
apreendidos pela Polícia, pois tais circunstâncias revelam que o tóxico se
destinava ao comércio ilícito, e não ao uso próprio.
– A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes
Hediondos (Lei nº 8.072/90), no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver dela
descontado já 2/5 — ou 3/5, se reincidente — e conspiram os mais
requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
– O autor de tráfico de entorpecentes (art. 33 da Lei nº 11.343/06), crime da
classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado,
por força do preceito do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
55
Voto nº 11.479

“Habeas Corpus” nº 990.08.194514-2


Arts. 155, § 4º, nº II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 41 e 569 do Cód. Proc. Penal

–“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não


contraditória e que não deixe alternativa à convicção do julgador” (STF;
HC; rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
– Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla
defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal
pode suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
–“Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105,
p. 303; rel. Min. Félix Fischer).
– Para que a denúncia produza efeitos de direito e autorize a instauração do
processo-crime basta que descreva ação típica e lhe indique o autor (art. 41
do Cód. Proc. Penal).
– Só é admissível trancamento de ação penal por falta de justa causa, quando
esta se mostre evidente à primeira face.
–“Se o fato atribuído ao paciente constitui violação da lei penal, existe justa
causa para o processo” (Rev. Forense, vol. 172, p. 426).
56
Voto nº 11.549

Apelação Criminal nº 993.06.026783-3


Arts. 213, 214 e 223 do Cód. Penal;
arts. 383 e 384 do Cód. Proc. Penal

– Ainda que altamente reputado o princípio da congruência ou correlação


entre a imputação e a sentença (“sententia debet esse conformis libello”),
pode o Juiz, sem ouvir a Defesa, dar nova definição jurídica ao fato
criminoso, desde que a denúncia o tenha tratado ao menos implicitamente
(arts. 383 e 384 do Cód. Proc. Penal).
– O réu defende-se da imputação de crime contida na denúncia, não de sua
capitulação legal.
– A palavra da vítima de atentado violento ao pudor tem notável importância
na apuração das circunstâncias do fato criminoso e na identificação de seu
autor, pois repugna à condição da mulher, sobretudo se de vida honesta,
faltar à verdade em matéria que, por sua infâmia e opróbrio, lhe imprimiu
na alma um como estigma indelével (art. 214 do Cód. Penal).
– Ensina a experiência vulgar que o sujeito inocente, quando acusado de
crime, não o sofre em silêncio, antes se defende com energia e prontamente.
– Pratica atentado violento ao pudor o agente que acomete criança em lugar
público e, após despi-la, constrange-a, mediante violência, a permitir que
desafogue sua concupiscência, passando-lhe as mãos nas partes pudendas
(art. 214 do Cód. Penal).
– O STF, em Sessão Plenária, decidiu que “os crimes de estupro e de
atentado violento ao pudor, tanto nas suas formas simples (Cód. Penal,
arts. 213 e 214), como nas qualificadoras (Cód. Penal, 223, caput, e
parág. único), são crimes hediondos: Lei nº 8.072/90, redação da Lei
nº 8.930/94, art. 1º, ns. V e VI” (HC nº 81.288-1-SC; rel. Min. Carlos
Velloso; j. 17.12.2001).
– O autor de atentado violento ao pudor (art. 214 do Cód. Penal), crime da
classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado,
por expressa disposição do art. 2º, §1º, da Lei nº 8.072/90).
57

Voto nº 11.636

Recurso em Sentido Estrito nº 990.08.114330-5


Arts. 366 e 581, nº XIII, do Cód. Proc. Penal;
art. 463, nº I, do Cód. Proc. Civil;
arts. 48 e 50 da Lei nº 9.605/98

– Não se guarda de justa crítica (por faltar-lhe fomento de direito) a decisão


que, após reconsiderar despacho que recebeu denúncia por crime previsto
na Lei do Meio Ambiente (Lei nº 9.605/98), tranca a ação penal, com base
no princípio da insignificância.
– Segundo a tradição de nosso Direito, por aplicação analógica do
art. 463, nº I, do Cód. Proc. Civil, o juiz pode corrigir, de ofício, erros ou
inexatidões materiais; nos mais casos, proferida a decisão, termina o
seu ofício, conforme a regra de Ulpiano: “officium functus est” (Dig. 42, 1,
55).
–“Já no Direito romano, Ulpiano ensinava: Depois de pronunciada a
sentença, o juiz perde a jurisdição e não pode corrigi-la, quer haja
exercido seu ofício bem, quer o tenha feito mal” (Hélio Tornaghi, Curso de
Processo Penal, 1980, vol. II, p. 353).
– Aplicado inconsideradamente, o princípio da insignificância representa
violação grave da lei, a qual manda punir o infrator; destarte, subtrair a seu
rigor o culpado, sem relevante razão de direito, fora escarnecer da Justiça,
que dispensa a cada um o que merece. Em verdade, conforme aquilo de
Alberto Oliva, “todo homem deve saber do fundo de seu coração o que é
certo e o que é errado” (apud Ricardo Dip e Volney Corrêa de Moraes,
Crime e Castigo, 2002, p. 3; Millennium Editora).
58
Voto nº 11.697

Apelação Criminal nº 993.02.010099-7


Arts. 213, 214 e 71 do Cód. Penal;
art. 383 do Cód. Proc. Penal

– É lícito ao juiz, “em virtude do postulado de que jura novit curia, dar ao
fato definição jurídica diversa da que constar da queixa ou denúncia, ainda
que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave (Cód. Proc. Penal,
art. 383)” (José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual
Penal, 1a. ed., vol. III, p. 50).
–“Não conheço crime mais repugnante, mais merecedor de severa punição do
que o estupro. Ele revela no delinquente a existência dominante dos mais
grosseiros e brutais instintos, a falta absoluta de cavalheirismo, de
generosidade, de respeito pela mulher, que é o sinal distintivo de uma
natureza nobre. As consequências do crime são indeléveis para a vítima”
(Viveiros de Castro, Os Delitos contra a Honra da Mulher, 1936, p. 135).
– A palavra da vítima de atentado violento ao pudor tem importância
inquestionável na apuração das circunstâncias do fato criminoso e na
identificação de seu autor. Exceto se os elementos de prova dos autos
demonstrarem que a ofendida mentiu, suas palavras servem de carta de
crença e, pois, justificam a edição de decreto condenatório (art. 214 do
Cód. Penal).
– Crimes contra a liberdade sexual, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo tem admitido continuidade delitiva entre estupro e
atentado violento ao pudor, se praticados nas circunstâncias do art. 71 do
Cód. Penal (arts. 213 e 214 do Cód. Penal).
– O crime continuado, instituto nascido da equidade, é uma “fictio juris”
destinada a evitar o cúmulo material de penas (cf. José Frederico Marques,
Curso de Direito Penal, 1956, vol. II, p. 354).
– No crime continuado, mais do que a unidade de ideação, prevalecem os
elementos objetivos referidos no art. 71 do Cód. Penal e a conveniência de
remediar o exagero punitivo, que não corrige o infrator, senão que o revolta
e embrutece, por frustrar-lhe a esperança de realizar, em tempo razoável e
justo, o sonho da liberdade.
– Em obséquio ao princípio constitucional do estado de inocência, tem
primado entre nós a orientação de que “não devem ser considerados como
maus antecedentes, prejudicando o réu, processos em curso, inquéritos
em andamento e sentenças condenatórias ainda não confirmadas” (cf.
Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 209).
59
– O autor de estupro (art. 213 do Cód. Penal), crime da classe dos hediondos,
deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por força do preceito
do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.

Voto nº 12.466

Recurso em Sentido Estrito nº 990.09.139567-6


Art. 41 do Cód. Proc. Penal;
art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal

– Não decai a Justiça de sua grandeza e confiança, antes se recomenda ao


louvor dos espíritos retos, se, aferindo lesão patrimonial por craveira
benigna, rejeita denúncia por tentativa de furto de coisa de ínfimo valor
(art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal). Ao Juiz não esqueçam jamais aquelas
severas palavras de Rui: “Não estejais com os que agravam o rigor das
leis, para se acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há
nada menos nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente
obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais” (Oração
aos Moços, 1a. ed., p. 43).
– Nos casos de insignificante lesão ao bem jurídico protegido e mínimo grau
de censurabilidade da conduta do agente, pode o Magistrado, com prudente
arbítrio, deixar de aplicar-lhe pena (e ainda pôr termo à “persecutio
criminis”). É que, nas ações humanas, o Direito Penal somente deve
intervir como providência “ultima ratio”.
–“O direito penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultados,
cujo desvalor — por não importar em lesão significativa a bens jurídicos
relevantes — não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja
para o titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria
ordem social” (Rev. Tribs., vol. 834, p. 477; rel. Min. Celso de Mello).
Casos Especiais
(Reprodução integral do voto)
PODER JUDICIÁRIO

1
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Recurso em Sentido Estrito nº 1.277.771/7


Comarca: Presidente Prudente
Recorrente: Ministério Público
Recorridos: JRMV, ACNC e JFS

Voto nº 3311
Relator

– Não cabe censura à decisão que, em face da prova


inequívoca de que não obraram os réus dolosamente,
mas com sentimento de reconhecida nobreza, rejeita
denúncia por infração do art. 242, parág. único, do
Cód. Penal (registro de filho alheio). Mais do que
injusto, seria iníquo sujeitar ao rigor do processo-
-crime quem, olhando por futura adoção, registra
como seu filho de outrem, com anuência da mãe
biológica.

–“Não deve o Juiz, nem também o Ministério Público,


cingir-se a uma interpretação estrita da lei. O fim
social da lei é norma que deve servir como bússola,
em toda a vida da Justiça. (…). Não se prega o
desacato à lei, mas a submissão da lei ao interesse
social, que lhe cabe tutelar” (João Baptista
Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito
Criminal, 2a. ed., p. 124).
64

1. Inconformado com a r. decisão que proferiu o MM. Juízo


de Direito da 2a. Vara Criminal da Comarca de Presidente
Prudente, rejeitando-lhe a denúncia oferecida contra JRMV,
ACNC e JFS, por incursos o primeiro no art. 242, parág. único,
do Código Penal e as duas últimas no art. 242, parág. único,
combinado com o art. 29, do referido estatuto, interpôs recurso
para este Egrégio Tribunal, com o intuito de reformá-la, o ilustre
representante do Ministério Público.

Afirma, nas razões de recurso, que se equivocara o nobre


Magistrado porque, ao invés do que significou a r. decisão
impugnada, obraram os réus com dolo.

O tipo definido e punido pelo art. 242 do Código Penal,


acentua o recorrente, “não traz a exigência de alguma intenção
especial, de algum propósito específico, satisfazendo-se com o
dolo”.

Pleiteia, por isso, o provimento do recurso para, cassada a r.


decisão de Primeiro Grau, ser a denúncia recebida, prosseguindo
o feito nos termos da lei (fls. 51/53).

Apresentou a digna Defesa contrarrazões de recurso:


repeliu a pretensão da douta Promotoria de Justiça e propugnou a
manutenção da r. decisão recorrida (fls. 58/60 e 62/64).

O r. despacho de fl. 68 manteve, por seus próprios e


jurídicos fundamentos, a r. decisão atacada.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em firme e


criterioso parecer do Dr. Antonio Augusto Mello de Camargo
Ferraz, opina pelo provimento do recurso (fls. 72/73).

É o relatório.
65

2. Foram os réus chamados a dar contas à Justiça Criminal


porque, no dia 30 de maio de 2000, no recinto do Serviço
Registral das Pessoas Naturais, na Av. Cel. José Soares
Marcondes, na cidade de Presidente Prudente, JRMV registrou
como seu filho de outrem, com a participação das corrés.

Juliana estava grávida e, durante a gestação, conheceu


o casal Josefran e Ana Cláudia. Essa última, encontrando
dificuldades para engravidar e tomando conhecimento de que
Juliana não queria o filho que esperava (e até pensava em praticar
abortamento), propôs-lhe a entrega da criança que viria a nascer
em maio, para que dela cuidasse.

Juliana, reza a denúncia, aceitou a proposta e, dias depois


do nascimento da criança, em 4 de maio de 2000, entregou-a ao
casal.

Passado algum tempo, foram os réus ao Serviço Registral


de Pessoas Naturais, onde promoveram o assentamento do
nascimento do menino, filho apenas de Juliana, como se o fosse
também de Josefran, atribuindo-lhe o nome VHMV.

Instaurada a persecução criminal, e oferecida denúncia por


infração do art. 242, parág. único, combinado com o art. 29, do
Código Penal, foram os autos conclusos ao MM. Juiz.

Em seu despacho de delibação, deixou de receber a


denúncia, sob color de que “o crime imputado só é punido a
título de dolo”.

Assim, à conta da “clara ausência do elemento subjetivo


exigível”, não havia dar incursos os réus em juízo de censura
(fls. 47/48).
66

3. Salvo o devido respeito ao combativo representante do


Ministério Público, tenho a r. decisão de Primeiro Grau por
superior às críticas que lhe dardejou o recurso.

O ter exarado que o crime imputado aos réus não se pune


senão a título de dolo, não parece justificar o quinau que lhe deu
o douto recorrente; antes, prevenia que o teor de proceder dos
réus guardava-os do rigor da lei, em obséquio ao intento de
“futura adoção” (fl. 47).

Não entra em dúvida que o dolo, “vontade consciente de


praticar um fato que a lei define como crime”, na frase lapidar de
Costa e Silva (Comentários ao Código Penal, 2a. ed., p. 84), não
poderia, desde logo, ser averiguado, como ressaltou o preclaro
Dr. Procurador de Justiça, em seu belo parecer (fl. 73).

Mas é a própria lei que releva o procedimento daquele que


pratica o fato, “por motivo de reconhecida nobreza” (art. 242,
parág. único, do Cód. Penal).

Destarte, ainda que, em tese, devesse o Magistrado


aguardar o término da “persecutio criminis in judicio” para
render sua prestação jurisdicional e reconhecer em prol dos réus o
privilégio do parág. único do art. 242 do Código Penal, tão
notório lhes foi o móvel altruístico e humanitário do proceder,
que o próprio recorrente não teve mão em si que o não admitisse
às expressas: “cumpre aliás consignar que já na denúncia
se ventilou o móvel da conduta: agiram os denunciados
movidos pela intenção de, no futuro, dar lar e abrigo à criança,
adotando-a, com isso até evitando a funesta intenção da
mãe biológica, de praticar o abortamento” (fl. 53).
67

Assim, era não só escusável senão iníquo sujeitá-los ao


gravame de um processo penal, cujos estigmas haveriam de
perdurar por todo o sempre.

Isto mesmo a doutrina e a jurisprudência de nossos


Tribunais pareceram inculcar:

“Embora o Código Penal empregue a expressão podendo o


juiz deixar de aplicar a pena, o perdão judicial constitui um
direito do réu e não simples faculdade judicial, no sentido
de o juiz poder aplicá-lo ou não, segundo o seu puro
arbítrio. Desde que presentes circunstâncias favoráveis, o
magistrado está obrigado a não aplicar a pena. Nesse
sentido: STJ, REsp 64.374, 6a. Turma, rel. Min. Vicente
Cernicchiaro, DJU, 6 maio 1996, p. 14.479” (Damásio E.
de Jesus, Código Penal Comentado, 9a. ed., p. 745).

Por amor “aos fins sociais”, suma preocupação do juiz ao


aplicar a lei (art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil), e
até em obséquio à boa lógica jurídica — pois a própria denúncia
pôs timbre em que fosse aos réus assegurado o privilégio
do art. 242, parág. único, do Cód. Penal —, não maravilha
rejeitasse o Magistrado a denúncia, sem desprimor para o ilustre
representante do Ministério Público.

Vem aqui a ponto a exortação do conspícuo João Baptista


Herkenhoff, digna de lâminas de ouro:

“De fato, não deve o Juiz, nem também o Ministério


Público, cingir-se a uma interpretação estrita da lei. O fim
social da lei é norma que deve servir como bússola, em
toda a vida da Justiça. Interesses altíssimos estão sob a
proteção do Juiz neste instante. Verifica o juiz que a
menor está bem e que deve continuar sua vida normal, em
68

companhia daquela que pelo coração se fez sua mãe.


Seria antissocial, injusto e absurdo prosseguir neste
processo por uma simples escravidão à letra da lei. Numa
situação como esta tem plena aceitação a máxima de São
Paulo: a letra mata, o espírito vivifica. O espírito que
vivifica, no caso dos autos, é a compreensão de que a
vida e o futuro de uma só criança valem mais que uma
tonelada de códigos e processos. Não se prega o desacato
à lei, mas a submissão da lei ao interesse social, que lhe
cabe tutelar” (Uma Porta para o Homem no Direito
Criminal, 2a. ed., p. 124).

Por este mesmo estalão têm decidido nossos Tribunais:

“Não ocorrendo qualquer prejuízo ao recém-nascido, que


estava abandonado, ao ser registrado pelos acusados como
seu filho, movidos estes tão-somente pelos exclusivos
sentimentos de bondade e nobreza, não se configuram os
delitos previstos nos arts. 242 e 299 do Cód. Penal” (Rev.
Tribs., vol. 399, p. 306; rel. Lauro Malheiros).

Sem embargo das excelências dos argumentos da douta


Promotoria de Justiça, mantenho, por seus bons, jurídicos e
lógicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o distinto e culto
Magistrado Dr. Odorico Nilo Menin Filho.

4. Pelo exposto, nego provimento à apelação.

São Paulo, 24 de setembro de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

2
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Recurso em Sentido Estrito nº 1.287.541/7


Comarca: São Paulo
Recorrente: NNF (Querelante)
Recorrido: Ministério Público
Querelados: EMG e JHR

Voto nº 3519
Relator

– Tendo por preceito o Juiz, no despacho de delibação,


verificar se concorre a justa causa para a instauração
da ação penal, toda a peça acusatória deve
acompanhar-se de base empírica, de um mínimo de
prova do fato criminoso, aliás será caso de rejeição
liminar da denúncia ou queixa (art. 43, nº III, “in
fine”, do Cód. Proc. Penal).

– A mera “imputatio delicti”, que se não apoie em


elementos concretos, não basta a sujeitar o indivíduo
ao rigor da lei, pois somente o fato típico autoriza a
persecução penal.
70

1. Da r. decisão proferida pelo MM. Juízo de Direito da 9a.


Vara Criminal da Comarca da Capital, rejeitando-lhe a queixa-
-crime que promoveu contra EMG e JHR, por infração dos arts.
138 e 139 do Código Penal (calúnia e difamação), interpôs
recurso em sentido estrito para este Egrégio Tribunal, com o
intuito de reformá-la, NNF.

Afirma, nas razões de recurso, que, ao invés do


que exarou o douto Magistrado, a queixa-crime atendia
rigorosamente aos cânones legais; pelo que, era força recebê-la e
dar-lhe normal andamento.

É o que impetra à colenda Câmara (fls. 5/7).

Apresentaram os querelados contrarrazões de recurso, nas


quais repeliram a pretensão da recorrente e pugnaram pela
manutenção da r. decisão de Primeiro Grau (fls. 17/18).

Também o Ministério Público, em manifestação às fls.


21/23, houve por jurídico e acertado o r. despacho que rejeitou a
querela e, pois, encareceu-lhe a confirmação.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em refletido e


escorreito parecer do Dr. Carlos Sérgio Rodrigues Horta, opina
pelo improvimento do recurso (fls. 28/31).

É o relatório.

2. A recorrente ajuizou contra os recorridos ação penal de


iniciativa privada, imputando-lhes os delitos de calúnia e
difamação.
71

Foi o caso que os recorridos teriam afirmado que a


recorrente efetuava compras na loja de confecções Gebrin com
“cheques roubados” (fl. 3 do apenso).

Designada audiência de tentativa de conciliação, nos termos


do art. 520 do Código de Processo Penal, compareceram os
querelados a Juízo e esclareceram não ter obrado com dolo ou
com a intenção de agravar a honra da querelante: as providências
que deram a respeito dos cheques foram simples cautelas de
caráter comercial (fl. 26).

A r. decisão recorrida, com fundamento no art. 43, nº III,


“in fine”, do Código de Processo Penal, rejeitou a queixa-crime.
Fê-lo com base nas seguintes razões: nenhuma prova produzira a
recorrente de sua pretensão; aliás, a própria recorrente admitira
haver adquirido mercadorias (roupas) no estabelecimento dos
querelados, mediante emissão de cheques de terceiros; desses
cheques, alguns não foram descontados por irregulares; ficara
evidenciada, com efeito, a impontualidade da querelante no
cumprimento de suas obrigações; à derradeira, não impõe a lei ao
comerciante o dever de “aceitar cheque duvidoso” (fl. 27).

Inconformada, a querelante manifestou recurso para esta


Corte de Justiça.

3. A despeito dos bons esforços da Defesa, não se mostra


atendível o clamor da querelante, pois a r. decisão de Primeiro
Grau dirimiu com acerto e sabedoria o litígio, não lhe cabendo
censura alguma.

Na verdade, não ficaram demonstrados, em tese, os ilícitos


penais atribuídos aos recorridos: calúnia e difamação.
72

Apenas chamados às barras da Justiça, defenderam-se com


veemência (fls. 17/18 do apenso): deram de mão aos termos da
queixa, notando-os de “inverídicos e tendenciosos”.

Asseveraram ainda que era costume da queixosa adquirir-


-lhes mercadorias (roupas), que pagava com cheques de terceiros.
Deu-se, porém, que alguns deles foram devolvidos, ou por
insuficiência de fundos, ou porque sustados os respectivos
pagamentos, uma vez se tratava de cheques furtados.

Para reaver as quantias de seu crédito, estiveram no


endereço de trabalho da querelante (Diretoria Administrativa
da Vigilância Sanitária).

Rematam, no entanto, que em momento algum procederam


com dolo.

Em prova do alegado, requereram a juntada aos autos de


cópias reprográficas de cheques devolvidos pelo banco sacado,
três deles (fl. 22 do apenso) emitidos por “Christian Franklin,
filho da querelante” (fl. 25).

Não cai em dúvida, portanto — como o ressaltou a r.


decisão atacada —, que a querelante incorreu em “mora solvendi
vel debitoris”.

Para mais, era direito dos querelados prover à cobrança da


dívida contraída e não satisfeita pela querelante.

À derradeira, não consta que se houvessem excedido ao


fazê-lo; tão só usaram de direito seu (e quem procede nessa
conformidade não lesa a ninguém: “qui jure suo utitur neminem
laedit”).
73

4. Tem curso desembaraçado no Processo Penal o princípio de


que, para a instauração da “persecutio criminis in judicio”, há
mister prova, ainda que mínima, do fato incriminado e de seu
autor.

A mera “imputatio delicti”, desacompanhada de prova de


sua ocorrência material, não basta a sujeitar alguém ao rigor
da lei; cumpre se demonstre primeiro a existência do fato
criminoso.

Ora, a peça introdutória da relação processual resumiu-se


à mera narrativa do fato, cuja existência a querelante não
demonstrou. À sua pretensão faleceu, pois, base empírica; pelo
que, não foi muito que o despacho de delibação já lhe atalhasse o
curso, em ordem a preservar o “status dignitatis” dos querelados.

É que, “se nem o fumus boni juris pôde descobrir-se, para


alicerçar a peça acusatória, seria iníquo que o juiz permanecesse
impassível e, como simples autômato, fosse recebendo a denúncia
ou queixa” (José Frederico Marques, Elementos de Direito
Processual Penal, 1965, vol. II, p. 167).

Por este mesmo padrão decidiram sempre nossos Tribunais:

a)“A imputação deve ter por lastro suspeita razoável,


embasada em elementos concretos. Incumbe ao autor
da ação penal, Ministério Público ou particular
ofendido, instruir a denúncia ou queixa com esses
elementos, a fim de que possa o juiz, desde logo, aferir
da existência da justa causa para o processo”
(TACrimSP; rel. Dante Busana; apud Alberto Silva
Franco et alii, Código de Processo Penal e sua
Interpretação Jurisprudencial, 1999, vol. I, p. 1.178);
74

b)“Deve ser rejeitada a queixa-crime quando ausentes a


justa causa para a instauração da ação penal e o
legítimo interesse, uma vez que ao juiz, no momento da
decisão de recebimento ou não da inicial, cabe o
controle da viabilidade da ação, através do exame dos
termos da acusação e da prova que a acompanha”
(TACrimSP; Rec. nº 105.507-3; rel. Márcio Bártoli;
j. 7.5.97).

À vista do que levo expendido, confirmo, por seus lógicos e


jurídicos fundamentos, a r. decisão que proferiu o mui distinto e
culto Magistrado Dr. Manoel Maximiano Junqueira Filho.

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 30 de dezembro de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Embargos de Declaração nº 477.658-3/0-01


Comarca: São Bernardo do Campo
Embargante: Justiça Pública
Embargada: 5a. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo

Voto nº 9141
Relator

–“A palavra é mau veículo do pensamento” (Carlos


Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do Direito,
16a. ed., p. 117).

– É não só jurídica senão justa e sensata a decisão que,


com fundamento no art. 43, nº I, do Cód. Proc. Penal,
rejeita denúncia contra sujeito que praticou o fato em
situação de legítima defesa (art. 23, nº II, do Cód.
Penal). É lícito repelir a força com a força: “vim vi
repellere licet” (Ulpiano).

–“Encontrando-se a excludente da ilicitude devidamente


comprovada, entendemos que é caso de arquivamento
do inquérito policial ou de rejeição da denúncia (ou da
queixa, se caso). Tendo o sujeito agido licitamente, não
é justo venha a ser processado para provar a final ter
agido em legítima defesa” (Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 63).
76

–“É possível que o sujeito, agindo acobertado por


uma excludente da antijuridicidade (legítima defesa,
p. ex.), venha a atingir terceiro inocente. Nesse caso
não responde pelo resultado. É como se tivesse
atingido o autor da agressão injusta” (Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 270).

1. Ao ven. acórdão de fls. 320/332, que lhe negou provimento


ao Recurso em Sentido Estrito interposto da decisão que rejeitara
a denúncia oferecida contra ADV, opôs Embargos de Declaração
a Justiça Pública, averbando-o de omisso.

Nas razões de recurso, elaboradas por diligente e culta


Procuradora de Justiça, afirma, com efeito, que a decisão
colegiada, ao manter a rejeição da denúncia, não declinara sob
que fundamento o fazia.

Citou, em bem de sua argumentação, lugar do parecer da


ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça (fl. 311), da seguinte
substância: “Cabe perguntar pois, se, no caso ora em exame, está
presente alguma das hipóteses do art. 43 (do Código de Processo
Penal) ou ausente alguma das exigências do art. 41” (fl. 337).

Requer, destarte, à colenda Câmara seja servida apreciar o


tema e esclarecer a omissão, “na melhor forma de direito”
(fls. 336/338).

É o relatório.

2. Ao confirmar por seus fundamentos a r. decisão de Primeiro


Grau, o acórdão embargado exarou os seguintes argumentos
(fls. 324/332):
77

[3. O r. despacho liminar negativo assenta na afirmação de


que o recorrido não obrara dolosamente, pelo que não havia
mandá-lo a julgamento pelo Tribunal do Júri.

Dos autos consta que, vítima de roubo, reagiu


disparando sua arma contra a motocicleta dos malfeitores; um
dos projéteis, errando o alvo, atingiu a cabeça de Ricardo
Moreira Júnior, que se encontrava no interior de um veículo
Fiat/Palio.

O douto Magistrado teve para si que o acusado atuara


em situação de legítima defesa própria e de terceiros, e isto de
haver ferido pessoa estranha aos fatos constituía excesso
culposo por imprudência.

Decisão foi essa que o órgão do Ministério Público não


levou a bem: ou porque, cessados já os “atos de violência”
(roubo), não se justificava a reação do acusado (fl. 269), ou
porque, ao disparar sua arma, “de forma livre e espontânea”
contra “duas pessoas” (os roubadores que estavam na
motocicleta), “assumira o risco de matá-las, o que
caracteriza o dolo eventual na conduta do atirador” (fl. 270),
inconciliável com a tese da excludente de ilicitude jurídica e,
pois, do excesso culposo.

Tais razões, não há para que se negue, têm certa força e


brilho; o ponto está em saber se apresentam a solidez
necessária para sobrepor-se aos fundamentos da decisão
recorrida.

4. O argumento-Aquiles do recurso é que, cessada a


violência do roubo, a reação daquele que a padecera já não
configurava legítima defesa; não podia, por isso, invocar a seu
benefício a descriminante legal.
78

A premissa maior recebeu reparos da r. decisão


recorrida: “não podemos tratar do contexto reação-
-perseguição-tiros apartado do evento anterior: abordagem-
-tiros, uma vez que aquele foi natural desdobramento desta
primeira situação” (fl. 259).

Isto mesmo professou a Defesa:

“A separação perpetrada pelo Ministério Público é um


desdobramento artificial do fato (…). O contexto deve
ser tratado de forma una, porque foi assim que
efetivamente aconteceu, e assim que deve ser
tipificado” (fl. 290).

Ao revés do que sustenta a esforçada Acusação, era


presente e atual o perigo, pois ainda subsistia a ameaça
infligida ao acusado e a sua família pelos sujeitos que,
tendo-os acabado de roubar, continuavam a atirar-lhes com
arma de fogo semiautomática.

Nessa conjuntura somente não reage o morto ou o


pusilânime, que sói ler pela cartilha dos covardes.

O comum dos homens atende à lição do grande Cícero:

“Há sem dúvida, Juízes, esta lei, não escrita, mas


congênita, que não aprendemos, ouvimos ou lemos,
mas participamos, bebemos e tomamos da mesma
natureza, na qual não fomos ensinados, mas
formados, nem instruídos, mas criados: que se a
nossa vida cair em algumas ciladas, e em insultos e
armas de inimigos e ladrões, todo o modo de a salvar
nos seja lícito” (“Pro Milone”, cap. IV; trad. Pe.
Antônio Joaquim).

Assim falou aquele que, no dizer do nosso Rui, foi “o


mais alto entendimento que tem honrado a nossa espécie”
(Obras Completas, vol. XXXVIII, t. II, p. 66).
79

5. Pela boa exação lógica e jurídica em que se ampara,


copio este passo da decisão verberada (fl. 259):

“18. Aí, portanto, o manifesto equívoco que decorre


da denúncia!

19. Na verdade, ao dizer que o denunciado atuou


sem justificativa, ignorou a condição de que ele
estava no desdobramento natural de um
contexto em que reagia a uma agressão atual,
defendendo direito seu e de outrem (seus
familiares)”,

A ter havido algum excesso — e dou que o houvesse


—, qual sua natureza: dolosa ou culposa?

Como o douto Magistrado de Primeiro Grau, sou que o


teor de proceder do recorrido caracterizou excesso culposo:

“E partindo-se da premissa de que aquele que reagia


era um policial, treinado, experiente e com vários
cursos, na Brasil e no Exterior” — argumenta Sua
Excelência —, “evidentemente que o excesso a que
deu causa só pode ser admitido como culposo,
manifestamente imprudente, tanto mais quanto outro
comportamento não lhe era exigível, na ocasião”
(fl. 260).

Ainda:

“Realmente, outra não pode ser a conclusão, diante da


violência de que foi vítima e do perigo e risco que
correu, senão admitir que o denunciado deixou de
observar o dever objetivo de cuidado que lhe era, nas
circunstâncias, exigível, mesmo porque sua reação se
houve utilizando o único meio que tinha às mãos para
tanto” (ibidem).
80

Verdadeira cruz dos penalistas, a distinção entre dolo


eventual e culpa consciente estabeleceu-a, em seu robusto
e circunspecto arrazoado, o culto Promotor de Justiça
Dr. Nelson dos Santos Pereira Jr. (fls. 149/159):

“A hipótese é bastante clara: Alexandre agiu com


imprudência, que é a prática de um fato perigoso;
logo, a culpa é manifesta, mas deve, contudo, afastar-
-se da figura comum, para ser melhor caracterizada
como culpa consciente” (fl. 157).

É que “este resultado (atingir terceiro), em momento


algum, é manifestado como querido, assumido ou tolerado
por ele, conforme se depreende dos elementos colhidos” nos
autos (ibidem).

A lição de Damásio E. de Jesus é, ao propósito,


constantemente invocada:

“A culpa consciente se diferencia do dolo eventual.


Neste, o agente tolera a produção do resultado, o
evento lhe é indiferente, tanto faz que ocorra ou não.
Ele assume o risco de produzi-lo. Na culpa
consciente, ao contrário, o agente não quer o
resultado, não assume o risco nem ele lhe é tolerável
ou indiferente. O evento lhe é representado (previsto),
mas confia em sua não-produção” (Direito Penal,
13a. ed., vol I, p. 259).

Nélson Hungria, que, sobre todos, tem voto nesta


matéria, ministrou dois exemplos, em seus preciosos
Comentários ao Código Penal (1978, vol. I, t. II), com que
apurou a noção de culpa consciente:

a) “Um motorista, dirigindo o seu carro com grande


velocidade, já em atraso para atender ao
compromisso de uns encontros amorosos, divisa à
sua frente um transeunte, que, à aproximação
do veículo, fica atarantado e vacilante, sendo
atropelado e morto”. Evidentemente, o motorista
81

previu a possibilidade desse evento; mas, deixando


de reduzir ou anular a marcha do carro, teria aceito
o risco de matar o transeunte, ou confiou em que
este se desviasse a tempo de não ser alcançado?

Na dúvida, a solução não pode ser outra senão a do


reconhecimento de um homicídio simplesmente
culposo (culpa consciente)” (p. 120);

b) “Nota-se que, principalmente na justiça de primeira


instância, há uma tendência para dar elasticidade
ao conceito do dolo eventual”. Dentre alguns casos,
a cujo respeito fomos chamados a opinar pode ser
citado o seguinte: três rapazes apostaram e
empreenderam uma corrida de automóveis pela
estrada que liga as cidades gaúchas de Rio Grande
e Pelotas. A certa altura, um dos competidores
não pôde evitar que o seu carro abalroasse
violentamente com outro que vinha em sentido
contrário, resultando a morte do casal que nele
viajava, enquanto o automobilista era levado, em
estado gravíssimo, para um hospital, onde só
várias semanas depois conseguiu recuperar-se.
Denunciados os três rapazes, vieram a ser
pronunciados como coautores de homicídio doloso,
pois teriam assumido ex ante o risco das mortes
ocorridas. Evidente o excesso de rigor: se eles
houvessem previamente anuído em tal evento,
teriam, necessariamente, consentido de antemão
na eventual eliminação de suas próprias vidas,
o que é inadmissível (grifamos). Admita-se que
tivessem previsto a possibilidade do acidente, mas,
evidentemente, confiaram em sua boa fortuna,
afastando de todo a hipótese de que ocorresse
efetivamente. De outro modo, estariam competindo,
in mente, estupidamente, para o próprio suicídio”
(p. 544).
82

O mesmo passou em relação ao recorrido, como expôs,


com propriedade e fina penetração, a douta Promotoria de
Justiça, ao sustentar a incompetência do MM. Juízo de Direito
da Vara do Júri da Comarca de São Bernardo do Campo
“para a análise, processamento e julgamento da presente
causa” (fl. 159):

“Ao contrário, depreendemos de sua conduta que


Alexandre, ao tentar conter o meliante e fazer valer
o cumprimento da lei, confiou na sua capacidade e
formação como policial, com diversos cursos, ao
atirar contra o meliante, imaginando que sua
experiência fosse evitar qualquer incidente, como o
ocorrido” (p. 158).

Ou, parafraseando o imenso Hungria: admita-se


que tivesse “previsto a possibilidade do acidente, mas,
evidentemente”, confiou “em sua boa fortuna, afastando de
todo a hipótese de que ocorresse efetivamente” (op. cit.,
p. 544).

No dolo eventual, de feito, a doutrina imprimiu sempre


esta nota conspícua: não basta a caracterizá-lo tenha o agente
assumido o risco de produzir o resultado lesivo; necessita que
nele haja consentido.

Contra aqueles que se afanam em submeter à barra do


Júri todo homicida, sempre colherá esta advertência de José
Frederico Marques:

“Crimes dolosos contra a vida não são, portanto, todos


aqueles em que ocorra o evento morte. Se esta integra
a descrição típica de um crime, nem por isso se torna
este um crime doloso contra a vida. Para que assim
seja qualificado, é necessária a existência do dolo
direto, em que a vontade inicial e o evento se
casaram, visando ambos à vida” (A Instituição do
Júri, 1963, pp. 130-131).
83

Em suma, não há que opor à r. decisão recorrida, que


soltou a questão dos autos à luz da legalidade estrita, com
magnífico senso judicante e segundo a lógica do jurista,
“que é, precisamente, a lógica do razoável e do humano”
(Goffredo Telles Junior, A Folha Dobrada, 1999, p. 162).

6. Pelo exposto, nego provimento ao recurso e mantenho,


por seus próprios fundamentos, que são jurídicos e estão
acordes com a prova dos autos, a r. decisão que proferiu o
distinto e culto Magistrado Dr. Luís Geraldo Sant’Ana
Lanfredi.]

3. A leitura a que procedi do teor literal do acórdão não me


confirmou na dúvida em que alega estar a esforçada e douta
subscritora dos embargos.

Mas, dado que, de ordinário, “a palavra é mau veículo


do pensamento” (cf. Carlos Maximiliano, Hermenêutica e
Aplicação do Direito, 16a. ed., pp. 117-118) e a recorrente
protestou não encerravam seus embargos cunho infringente
(fl. 338), e havendo consideração ainda a que o relator do acórdão
pode não ter sido tão claro quanto presumiu, entro a ferir o ponto
controverso, i.e.: o fundamento legal, qual seria da rejeição da
denúncia?

Como o ilustre Magistrado que rejeitou a denúncia


oferecida contra ADV, por infração do art. 121, “caput”,
conjugado com o art. 73, do Código Penal — homicídio simples,
por erro na execução (“aberratio ictus”) —, entendeu e decidiu a
Turma Julgadora que o réu atuara em situação de legítima defesa
(própria e de terceiros), porém com excesso culposo na
modalidade de imprudência.
84

De que a conduta do acusado tivera por si causa excludente


de ilicitude jurídica mostra-se induvidoso à luz da melhor
doutrina:

“É possível que o sujeito — escreve Damásio E. de


Jesus —, agindo acobertado por uma excludente da
antijuridicidade (legítima defesa, p. ex.), venha a
atingir terceiro inocente. Nesse caso não responde
pelo resultado. É como se tivesse atingido o autor da
agressão injusta” (Código Penal Anotado, 18a. ed.,
p. 270).

Assim, porque o acusado o praticou em legítima defesa,


o fato narrado na denúncia (homicídio) evidentemente não
constituiu crime (da competência do júri).

Caso era mesmo, portanto, de rejeição da denúncia,


conforme prevê e ordena o art. 43, nº I, do Código de Processo
Penal.

4. De que é admissível a rejeição da denúncia em caso de


legítima defesa, não há negá-lo sem do mesmo passo fazer tábua
rasa do moderno Direito Processual Penal.

Discorrendo do tema, com sua habitual segurança e


engenho, lecionou Damásio E. de Jesus:

“Encontrando-se a excludente da ilicitude devidamente


comprovada, entendemos que é caso de arquivamento
do inquérito policial ou da rejeição da denúncia (ou
da queixa, se caso). Tendo o sujeito agido licitamente,
85

não é justo venha a ser processado para provar a


final ter agido em legítima defesa, etc. Como disse
o Des. Dante Busana, o preconceito de que as
causas excludentes da antijuridicidade só devem
ser reconhecidas ao término do processo —
durante décadas assim se entendeu — não tem
amparo na lei e ignora a necessidade de que a
acusação venha revestida do indispensável fumus
boni juris — isto é, decorra de suspeita razoável
de que um crime foi cometido. Nem há cercear
a liberdade do indivíduo, cuja inocência não
comporte dúvida, em nome de uma falsa prudência
(JTACrimSP, 80/146; RT 698/334). Não tem sentido,
como afirmou o Des. Ary Belfort, sujeitar a
processo alguém acobertado por causa elidente da
antijuridicidade, quando se inscreve, “límpida,
impassível, por mínima, de conjuração” (TJSP, HC nº
126.028, 4a. Câm., RT 698/335). Realmente,
suponha-se a hipótese de o morador haver matado,
em cristalina legítima defesa, o assaltante que,
armado e dentro de sua casa, tentou alvejá-lo.
Submetê-lo a processo criminal é uma injustiça
sem tamanho. Como a defesa legítima exclui a
antijuridicidade, estaria sendo processado por fato
lícito” (Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed.,
p. 63).

5. À derradeira, porque vem aqui de molde, leve-se à


paciência transcreva lúcido comentário do provecto Magistrado
Darcy Arruda Miranda a julgado que versou o tema, “in verbis”:
86

“Há evidente equívoco no acórdão supra, quando diz


que embora não fosse nítida a tentativa de morte, a
competência natural seria do Júri, onde o delito
poderia ser desclassificado, sem prejulgamento.
Há um dispositivo muito claro na lei processual penal
que assim soa: se em qualquer fase do processo o
juiz reconhecer motivo que o torne incompetente,
declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da
parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior
(art. 109).

Comentando o dispositivo, observa Espínola Filho


que a ação penal tem que ser movida não só no foro
competente, como também em juízo que o seja. Assim,
não é a pessoa do juiz que se opõe em foco — aduz — a
fim de firmar a sua incompatibilidade para o processo e
julgamento. Do que se trata é de apurar se tem ele,
funcionalmente, como titular do Juízo, jurisdição e
competência para tal processo (Código de Processo
Penal Brasileiro Anotado, vol. II, p. 246, nº 252).

O simples fato de a denúncia capitular o crime como


sendo daqueles de privativa competência do Júri (art. 74,
§ 1º, do Cód. Proc. Penal), não é bastante para obrigar o
juiz da vara especializada em crimes dessa natureza, a
aceitá-la como vinculativa da competência. Não há
competência natural na espécie e a desclassificação não
é atributo do Tribunal do Júri. É o juiz do processo, o
juiz de direito quem, na fase da pronúncia, ou antes,
“em qualquer fase do processo”, como diz a lei, dirá da
competência do Juízo a que preside.
87

Inócuas seriam as disposições dos arts. 406 a 441 do


Código de Processo Penal se se fosse seguir a orientação
do acórdão. Ressalte-se, por maior, que não é só nos
casos estremes de dúvidas, que se pode subtrair o
julgamento do crime da competência do Tribunal,
como pretende o acórdão. Tanto para pronunciar,
como para impronunciar, desclassificar ou absolver
sumariamente, o que interessa é o critério subjetivo, é o
convencimento do juiz do processo, como expressamente
determina a lei nos arts. 408, 409, 410 e 411. Não existe
lei alguma que bitole regras de convencimento”
(Repositório de Jurisprudência do Código Penal, 1962,
vol. III, pp. 267-268).

Ao rejeitar a denúncia, a r. decisão de Primeiro Grau foi não


só jurídica, mas ainda justa e sensata.

Com efeito, deverá rejeitá-la o Juiz, na trilha do art. 43,


nº I, do Código de Processo Penal, sempre que “o fato narrado
evidentemente não constituir crime”. E nenhum crime comete
quem repele a violência com a violência: “vim vi repellere licet”
(Ulpiano).

Pelo que, ao professar o mesmo entendimento do nobre


Magistrado que rejeitou a denúncia — por não constituir crime o
fato nela descrito —, fê-lo o acórdão com fulcro no art. 43, nº I,
do Código de Processo Penal; o que fica especialmente
declarado, por atender às instâncias da culta e estrênua
subscritora dos embargos de fls. 336/338.
88

6. Pelo exposto, acolho os embargos para declarar que, ao


negar provimento ao Recurso em Sentido Estrito e, pois,
confirmar a r. decisão que rejeitou a denúncia, a Turma Julgadora
fizera-o com fundamento no art. 43, nº I, do Código de Processo
Penal (“o fato narrado evidentemente não constituir crime”).

São Paulo, 13 de agosto de 2007


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

4
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Recurso em Sentido Estrito nº 990.08.114330-5


Comarca: Cubatão
Recorrente: Ministério Público
Recorrido: CASS

Voto nº 11.636
Relator

– Não se guarda de justa crítica (por faltar-lhe


fomento de direito), a decisão que, após
reconsiderar despacho que recebeu denúncia por
crime previsto na Lei do Meio Ambiente (Lei nº
9.605/98), tranca a ação penal, com base no
princípio da insignificância.

– Segundo a tradição de nosso Direito, por aplicação


analógica do art. 463, nº I, do Cód. Proc. Civil, que
o juiz pode corrigir, de ofício, erros ou inexatidões
materiais; nos mais casos, proferida a decisão, termina
o seu ofício, conforme a regra de Ulpiano: “officium
functus est” (Dig. 42, 1, 55).

–“Já no Direito romano, Ulpiano ensinava: Depois


de pronunciada a sentença, o juiz perde a
jurisdição e não pode corrigi-la, quer haja
exercido seu ofício bem, quer o tenha feito mal”
(Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980,
vol. II, p. 353).
90

– Aplicado inconsideradamente, o princípio da


insignificância representa violação grave da lei, a
qual manda punir o infrator; destarte, subtrair a seu
rigor o culpado, sem relevante razão de direito, fora
escarnecer da Justiça, que dispensa a cada um o que
merece. Em verdade, conforme aquilo de Alberto
Oliva, “todo homem deve saber do fundo de seu
coração o que é certo e o que é errado” (apud
Ricardo Dip e Volney Corrêa de Moraes, Crime e
Castigo, 2002, p. 3; Millennium Editora).

1. Da r. decisão que proferiu o MM. Juízo de Direito da


4a. Vara Criminal da Comarca de Cubatão, rejeitando-lhe a
denúncia que ofereceu contra CASS, por infração dos arts. 48,
50, 54, § 2º, nº V, e 64 da Lei nº 9.605/98, na forma do art. 69
do Código Penal, interpôs Recurso em Sentido Estrito para
este Egrégio Tribunal, com o intuito de reformá-la, o ilustre
representante do Ministério Público.

Nas razões de fls. 153/166, elaboradas com esmero e


elegância, argui preliminar de nulidade da decisão de fls.
149/151, porque proferida em manifesta contradição com o
direito positivo.

No mérito, alega que, oferecida a denúncia conforme


os ditames legais, não havia rejeitá-la sob color de que
insignificante o fato nela descrito, máxime se inaplicável o
princípio ao caso “sub judice”.

Pleiteia, destarte, à colenda Câmara tenha a bem prover-lhe


o recurso para anular a decisão impugnada e determinar o
prosseguimento do feito segundo a lei.

A Defesa repeliu a pretensão do recorrente e propugnou a


mantença da r. decisão de Primeiro Grau, como obra de justiça
(fls. 174/176).
91

O r. despacho de fl. 183 manteve, por seus próprios


fundamentos, a decisão impugnada.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em detido e


abalizado parecer do Dr. Edílson Mougenot Bonfim, opina pelo
provimento do recurso (fls. 185/190).

É o relatório.

2. Foi o recorrido chamado à barra da Justiça Criminal


porque, no dia 7 de abril de 2001, na Rua São Francisco, atrás
da Escola Ulisses Guimarães, em Cubatão, destruiu vegetação
protetora de mangue, objeto de especial preservação, promoveu
construção sem autorização em solo não-edificável, impediu e
impede a regeneração natural desta forma de vegetação e causou
e continua a causar poluição, pelo lançamento de resíduos sólidos
e líquidos, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis e
regulamentos, no ecossistema do manguezal, que pode resultar em
danos à saúde humana.

Instaurada a “persecutio criminis”, foram os autos de


inquérito remetidos a Juízo.

Oferecida a denúncia, recebeu-a a r. decisão de fl. 87; mas


visto não-localizado o recorrido e intimado por edital, foi
determinada a suspensão do processo, nos termos do art. 366
do Código de Processo Penal.

O MM. Juízo de Direito da 4a. Vara de Cubatão, pela r.


decisão de fls. 149/151, foi servido determinar o trancamento
da ação penal, firme no argumento de que a “insignificância da
conduta” não justificava a intervenção judicial.
92

3. Em dois fundamentos, ambos de grande peso e alcance, o


recorrente assentou as razões de seu inconformismo: nulidade da
decisão que, de ofício, reconsiderou o despacho que recebeu a
denúncia, e ilegalidade da que determinou o trancamento da ação
penal instaurada contra o recorrido.

Ainda que se possam adivinhar altos e nobres intuitos na


decisão que atalhou o curso da ação penal, exarada por
Magistrado insigne pelo saber e virtudes (fls. 149/151), assiste
razão, “data venia”, à combativa Promotoria de Justiça.

Ao reconsiderar o despacho liminar positivo de fl. 87 —


que recebeu a denúncia oferecida contra o recorrido, por
infração da Lei do Meio de Ambiente —, para determinar o
trancamento da ação penal (fl. 151), o digno Magistrado não
entra em dúvida que se desabraçou da boa doutrina que, a
respeito da matéria, professam graves autores.

É da tradição de nosso Direito, por aplicação analógica do


art. 463, nº I, do Código de Processo Civil, que erros ou
inexatidões materiais pode-os o juiz corrigir de ofício; nos mais
casos, proferida sua decisão, o ofício do juiz cessa.

Tal lição herdou-nos Ulpiano:

“Depois de pronunciada a sentença, o Juiz perde a


jurisdição e não pode corrigi-la, quer haja exercido seu
ofício bem, quer o tenha feito mal” (apud Hélio Tornaghi,
Curso de Processo Penal, 1980, vol. II, p. 353).
93

Trigo Loureiro sentia o mesmo:

“O Juiz, depois que uma vez deu e publicou a sentença,


não a pode mais revogar, senão por via de embargos;
porquanto, ou julgasse bem, ou mal, o seu ofício findou
com ela” (Teoria e Prática do Processo, 1850, p. 184).

À derradeira, vale a pena invocar a autoridade de Julio


Fabbrini Mirabete, de quem faz menção o douto parecer da
Procuradoria-Geral de Justiça:

“Uma vez recebida a denúncia ou queixa, não pode o


Juiz reconsiderar a decisão para rejeitá-la. Dessa
reconsideração cabe recurso em sentido estrito, pois
implica anulação do processo (art. 581, XIII, CPP),
embora já se tenha entendido que o recurso é a
correição parcial, ou que se aplica a analogia com o
art. 581, I, que se refere ao não-recebimento da
denúncia” (Processo Penal, 1998, p. 137).

Passa o mesmo na esfera pretoriana:

a)“É inadmissível a reconsideração da decisão de


recebimento de denúncia. O impedimento à reforma
decorre da exaustão de seu poder decisório” (Rev.
Tribs., vol. 639, p. 281);

b)“O despacho de recebimento da denúncia importa juízo


de admissibilidade da acusação (…) e sendo,
irrecorrível, não pode ser reconsiderado” (STF; HC
nº 38.396; Rev. Trim. Jurisp., vol. 639, p. 281);
94

De tudo o que levo dito bem claro se mostra que, uma vez
recebida a denúncia, já não pode o Juiz rejeitá-la; trata-se de
consequência forçosa da regra milenar de Direito cunhada por
Ulpiano: proferida a decisão, o ofício do Juiz termina (“semel
enim male, seu bene officio functus est”) (Dig., 42, 1, 55).

4. Da mesma sorte que o douto subscritor do parecer da


Procuradoria-Geral de Justiça, tenho que foi “prematuro o
arquivamento do feito”.

O processo penal — ensinou José Frederico Marques —,


“o processo penal atinge o status dignitatis do acusado”; pelo
que seria iníquo permanecesse o Juiz “impassível e, como
simples autômato, fosse recebendo a denúncia ou queixa”.

“Esse despacho de delibação” — ainda com a palavra o


insigne Mestre — “requer, sem dúvida, muito equilíbrio e
ponderação, pois, do contrário, a função repressora do Estado
acabaria estancando-se, com grave prejuízo para o interesse
comum e a segurança da vida social. Mas o juiz é sobretudo
homem prudente que deve saber dosar, com sabedoria e
descortino, o exercício de suas funções, notadamente quando
está em jogo, pela flexibilidade da situação jurídica que se lhe
apresenta, o seu arbítrio de bom varão” (Elementos de Direito
Processual Penal, 2a. ed., vol. II, pp. 167-168).

É certo que não se ocupa de bagatelas o Direito Penal; na


esfera dos crimes contra o patrimônio, cometidos sem violência
a pessoa, só tem relevância a lesão jurídica de valor econômico.
“De minimis non curat praetor”, já o proclamavam os
romanos, como a significar que se não devia dar peso à fumaça.
95

O caso dos autos, entretanto, não é desse número. Com


efeito, o laudo pericial de fls. 40/70 está a inculcar que os
danos provocados pela ocupação da área — em que, segundo
a denúncia, o acusado “foi surpreendido edificando uma
moradia” (fl. 2) —, não podem ser subestimados.

O ven. julgado abaixo transcrito por sua ementa


representa, acerca do ponto, a verdadeira inteligência dos
Tribunais:

“Embora ponderável a posição dos que sustentam o


acolhimento do princípio da insignificância — de
minimis non curat praetor —, não se mostra ele
integralmente prestigiado pela maioria dos operadores e
sua aplicação deve ser restrita, pena de estimular-se a
reiteração de pequenos delitos, diluindo a consistência
já atenuada dos freios éticos, fenômeno nítido da
chamada pós-modernidade. A teoria do crime de
bagatela, por sedutora possa parecer, não tem prevalecido
na jurisprudência dos Tribunais brasileiros, pois
mostra-se incompatível com o clamor da comunidade
por uma tolerância zero em relação a qualquer tipo
de conduta vulneradora de bens da vida, até como
forma preventiva de mais intensas incursões pela
criminalidade” (Rev. Tribs., vol. 782, p. 602; rel. Renato
Nalini).

O princípio da insignificância, aplicado inconsideradamente,


é motivo e ocasião de afronta grave à lei, que prevê a punição do
infrator.
96

Subtrair, portanto, a seu rigor o culpado, sem relevante


razão de direito, fora escarnecer da Justiça, que dispensa a cada
um o que merece, pois — conforme Alberto Oliva — “todo
homem deve saber do fundo do seu coração o que é certo e o
que é errado” (apud Ricardo Dip e Volney Corrêa de Moraes,
Crime e Castigo, 2002, p. 3; Millennium Editora).

5. Pelo exposto, dou provimento ao recurso para que,


anulada a decisão de fls. 149/151, prossiga o feito na forma da
lei.

São Paulo, 12 de junho de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Recurso em Sentido Estrito nº 990.09.139567-6


Comarca: Rio Claro
Recorrente: Ministério Público
Recorridos: RFM e AR

Voto nº 12.466
Relator

– Não decai a Justiça de sua grandeza e confiança,


antes se recomenda ao louvor dos espíritos retos, se,
aferindo lesão patrimonial por craveira benigna,
rejeita denúncia por tentativa de furto de coisa de
ínfimo valor (art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal). Ao
Juiz não esqueçam jamais aquelas severas palavras
de Rui: “Não estejais com os que agravam o rigor
das leis, para se acreditar com o nome de austeros e
ilibados. Porque não há nada menos nobre e
aplausível que agenciar uma reputação malignamente
obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos
textos legais” (Oração aos Moços, 1a. ed., p. 43).

– Nos casos de insignificante lesão ao bem jurídico


protegido e mínimo grau de censurabilidade da
conduta do agente, pode o Magistrado, com prudente
arbítrio, deixar de aplicar-lhe pena (e ainda pôr
termo à “persecutio criminis”). É que, nas ações
humanas, o Direito Penal somente deve intervir
como providência “ultima ratio”.
98

–“O direito penal não deve se ocupar de condutas que


produzam resultados, cujo desvalor — por não
importar em lesão significativa a bens jurídicos
relevantes — não represente, por isso mesmo,
prejuízo importante, seja para o titular do bem
jurídico tutelado, seja à integridade da própria
ordem social” (Rev. Tribs., vol. 834, p. 477; rel. Min.
Celso de Mello).

1. Da r. decisão que proferiu o MM. Juízo de Direito da 2a.


Vara Criminal da Comarca de Rio Claro, rejeitando-lhe a
denúncia que ofereceu contra RFM e AR, por infração do
art. 155, § 4º, nº IV, do Código Penal, interpôs Recurso em
Sentido Estrito para este Egrégio Tribunal, com o intuito de
reformá-la, o ilustre representante do Ministério Público.

Nas razões de fls. 88/92, elaboradas com esmero e


proficiência pelo Dr. Otávio Ferreira Garcia, afirma que, ao
rejeitar a denúncia formulada segundo os preceitos legais, o MM.
Juízo fizera rosto ao Direito Positivo.

Acrescentou o recorrente que isto de ter a coisa parco valor


não significava pudesse livremente ser subtraída. Em abono de
sua argumentação invocou o magistério da Jurisprudência.

Pleiteia, destarte, o provimento do recurso para que seja a


denúncia recebida na íntegra.

Apresentou a nobre Defesa contrarrazões de recurso, nas


quais repeliu a pretensão da combativa Promotoria de Justiça
e propugnou a mantença da r. decisão de Primeiro Grau
(fls. 123/127 e 129/134).

O r. despacho de fl. 136 manteve, por seus próprios


fundamentos, a r. decisão recorrida.
99

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em minucioso


e abalizado parecer do Dr. Marcílio Grecco, opina pelo
provimento do recurso (fls. 140/143).

É o relatório.

2. Foram os recorridos chamados à barra da Justiça Criminal


porque, em 14.5.2008, pelas 9h10, na Rua 14, em Rio Claro,
obrando em concurso e unidade de propósitos, tentaram subtrair
para si “peças de carne embaladas a vácuo”, de propriedade do
estabelecimento “Varejão da Qualidade”.

Instaurada a “persecutio criminis”, foram os autos de


inquérito remetidos a Juízo.

Oferecida a denúncia, rejeitou-a a r. decisão de fls. 81/86,


sob color de que a “insignificância da conduta” dos acusados
não justificava a intervenção judicial.

3. A materialidade e a autoria do fato imputado aos recorridos


não podem ser infirmadas sem imprudência, pois assentaram em
base probatória firme e incontroversa.

A despeito, porém, dos cabedais de talento e zelo do


subscritor das razões de recurso, a solução adotada pela decisão
de Primeira Instância era, a meu aviso, a que realmente devia
caber na alçada da Justiça Criminal.

Nos casos de insignificante lesão ao bem jurídico (e


mínimo o grau de censurabilidade), o fato não constitui crime.
É que, nas ações humanas, o Direito Penal apenas intervém como
providência “ultima ratio”.
100

Mesmo quando conspirem os elementos constitutivos do


crime, sempre se reconheceu ao Juiz discrição para atalhar o
curso da persecução penal, se esta lhe parecer, mais do que
intolerável absurdo, violação grave do ideal e dos preceitos da
Justiça.

Não decai de sua grandeza e confiança a Justiça, antes se


recomenda ao louvor dos espíritos retos, se, aferindo lesão
patrimonial por craveira benigna, rejeita a denúncia por furto de
“peças de carne”.

Ao juiz não esqueçam jamais aquelas severas palavras de


Rui:

“Não estejais com os que agravam o rigor das leis, para se


acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não
há nada menos nobre e aplausível que agenciar uma
reputação malignamente obtida em prejuízo da verdadeira
inteligência dos textos legais” (Oração aos Moços, 1a.
ed., p. 43).

Tal exegese conforma-se com o alto magistério do Colendo


Supremo Tribunal Federal, como está a persuadi-lo a ementa a
seguir reproduzida:

“Por isso, deve o órgão investido do ofício judicante resistir


à tendência de, em época de delinquência exacerbada,
caminhar para a persecução criminal a ferro e fogo, com
desprezo de normas comezinhas, entre as quais surge,
com relevância maior, a alusiva ao princípio da não-
-culpabilidade” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 171, p. 582).
101

4. Ao Juiz a Lei determina — e não apenas assegura — que,


no aplicá-la, atenda “aos fins sociais” e “às exigências do bem
comum” (art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil).

Casos haverá (sendo o dos autos desse número) em que ao


Magistrado corre o dever de repelir, com retidão e sabedoria, a
ingrata censura, na qual se detinham e compraziam já nossos
maiores, por onde “Regimentos não se executam senão nos
pobres; Leis e prisões não se guardam, senão contra os
desamparados” (Diogo do Couto, Diálogo do Soldado Prático,
1790, p. 19).

Isto mesmo tem proclamado esta prestigiosa Corte


Criminal, em acórdãos numerosos, subscritos por seus mais
eminentes Juízes:

“A lei penal jamais deve ser invocada para atuar em casos


menores, de pouca ou escassa gravidade. E o princípio da
insignificância surge justamente para evitar situações
dessa espécie, atuando como instrumento de interpretação
restritiva do tipo penal, com o significado sistemático e
político-criminal da expressão da regra constitucional do
nullum crimen sine lege, que nada mais faz do que revelar
a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal”
(Rev. Tribs., vol. 733, p. 579; rel. Márcio Bártoli).

O princípio da insignificância como causa de exclusão de


tipicidade penal tem, entre nós, padroeiros de grande vulto e
peso:
102

“Embora não presente em texto legal, o princípio da


intervenção mínima, de cunho político-criminal, impõe-se
ao legislador e ao intérprete, por sua compatibilidade
com outros princípios jurídico-penais dotados de
positividade, e com os pressupostos políticos do estado
democrático de direito” (Carlos Vico Mañas, O Princípio
da Insignificância como Excludente da Tipicidade no
Direito Penal, 1994, p. 57).

Paradigma da melhor doutrina acerca do ponto, faz ao


intento o ven. aresto que a r. sentença reproduziu por sua ementa
às fls. 84/85:

“O princípio da insignificância — que deve ser analisado


em conexão com os postulados da fragmentariedade e da
intervenção mínima do Estado em matéria penal — tem o
sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal,
examinada na perspectiva de seu caráter material. Tal
postulado — que considera necessária, na aferição do
relevo material da tipicidade penal, a presença de certos
vetores, tais como a) a mínima ofensividade da conduta do
agente, b) a nenhuma periculosidade social da ação, c) o
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada —
apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no
reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema
penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos
por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público.
103

O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima


circunstância de que a privação da liberdade e a restrição
de direitos do indivíduo somente se justificam quando
estritamente necessárias à própria proteção das pessoas,
da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam
essenciais notadamente naqueles casos em que os valores
penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou
potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito
penal não deve se ocupar de condutas que produzam
resultado, cujo desvalor — por não importar em lesão
significativa a bens jurídicos relevantes — não represente,
por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem
jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem
social” (Rev. Tribs., vol. 834, p. 477; rel. Min. Celso de
Mello).

Os outros julgados de que fez menção a decisão recorrida


— STJ; HC nº 89.357-SP; 5a. T.; rel. Min. Arnaldo Esteves Lima;
j. 11.3.2008; v.u.; in Boletim AASP nº 2.592, de 8 a 14.8.2008;
Ementário p. 1.571; e STF; HC nº 88.393/RJ; 2a. T.; rel. Min.
Cezar Peluso; DJU 8.6.2007, p. 47 (fls. 83/85) — não serviram
apenas a esforçar-lhe o teor jurídico, senão a evidenciar o acerto e
magnífico senso judicante de seu prolator, o distinto e culto
Magistrado Dr. Antonio Fernando Scheibel Padula.

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 23 de outubro de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora
Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
59. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
60. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
61. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência).
http://www.scribd.com/Biasotti
Denúncia (Doutrina e Jurisprudência) Carlos Biasotti

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