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O curso de medicina da Universidade do Algarve

José Ponte

(Fevereiro de 2009)

Ao longo dos últimos 3 anos os líderes políticos algarvios, as entidades que


gerem o sistema de saúde regional e a própria população têm
consistentemente demonstrado um entusiástico apoio ao curso de medicina
da Universidade do Algarve (UAlg). Tem sido uma demonstração de confiança
na Universidade como instituição capaz de contribuir crucialmente para o
melhoramento da saúde na Região.

O curso projectado tem levantado algumas objecções em vários sectores.


Estamos convencidos que grande parte da discordância resulta simplesmente
do desconhecimento da substância do projecto, mesmo entre os médicos.

A questão da qualidade

Não existem de facto estudos comparativos nem existe acordo sobre o que é
“qualidade” nos médicos recém-formados em Portugal. A melhor aproximação
de que dispomos para ajuizar da qualidade, consiste nos pareceres emitidos
pela Comissão Internacional, nomeada pelo MCTES em 1998, sobre os
cursos de medicina em Portugal, a qual também se pronunciou sobre o
projecto da UAlg a 21 de Julho de 2007. E o parecer é inequívoco:

“A Comissão concluiu que a proposta da Universidade do Algarve representa


uma inovação em termos dos sistemas existentes em Portugal, é exigente em
termos da qualidade científica e qualidade pedagógica e estabeleceu acordos
adequados e relevantes com os organismos de saúde nos quais se baseará o
ensino”

A “prova real” contudo, só poderá ser efectuada quando a primeira “onda” de


médicos sair da UAlg e for sujeita aos testes profissionais que são aplicados a
todos os médicos recém-formados, dos quais apenas um, o primeiro, é
efectivamente objectivo. Este primeiro teste selecciona candidatos para a
formação nas especialidades e é organizado pelo Ministério da Saúde.
Acontece este ser o único teste aplicado na pós-graduação com
independência e alguma fiabilidade, porque se trata de um teste de escolha
múltipla (MCQ). Infelizmente, é um teste gravemente limitado porque se aplica
exclusivamente ao conhecimento teórico baseado em 5 capítulos de um
tratado de medicina americano. Não existe qualquer outro critério objectivo,
neste ponto da carreira de um jovem médico, para avaliar a sua aptidão para
embarcar numa especialidade. Por exemplo, a destreza manual não é testada
antes de iniciar uma carreira cirúrgica. É por exemplo possível que um recém-
formado sofredor de um tremor congénito enverede por uma carreira de
cirurgia oftálmica onde uma alta precisão de movimentos é essencial. Na

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realidade, exceptuando o teste de admissão às especialidades não haverá na
carreira dos futuros especialistas mais nenhum teste objectivo à sua
competência como profissional, uniformemente aplicado e fiável que possa
servir de termo de comparação entre os formados na UAlg e os formados nas
outras universidades. Mesmo o exame para o título de especialista ao terminar
o período de formação especializada pós-graduada, dificilmente pode servir
de ferramenta de comparação porque a taxa de aprovação nesses exames é
quase 100%.

Dadas estas circunstâncias, os médicos futuramente formados na UAlg


poderão ser comparados, de uma forma minimamente fiável mas muito
limitada, com os colegas de outras proveniências apenas numa ocasião, ou
seja no teste de entrada para as especialidades. Não parece portanto que
seja viável fazer comparações entre a qualidade do futuro curso de medicina
da UAlg e a dos outros cursos de medicina em Portugal antes de 2013,
quando a primeira onda de estudantes acabar o curso. E somente poderemos
comparar o conhecimento teórico de 5 capítulos do “Harrison’s Textbook of
Internal Medicine”. Surpreendentemente, (1) a capacidade de comunicar
efectivamente com doentes e colegas, (2) a capacidade de trabalhar em
equipa, (3) a capacidade de encontrar e digerir informação científica e técnica,
(4) a capacidade de tomar decisões clínicas, (5) a competência para executar
manobras práticas essenciais, (6) a capacidade de assumir responsabilidades
clínicas e (7) a capacidade de funcionar efectivamente num serviço hospitalar
ou num centro de saúde, simplesmente nunca são testados de maneira
uniforme, objectiva e fiável no fim do curso de medicina nem ao longo de toda
a formação de especialista.

Portanto, a não ser que seja realizado um estudo de acompanhamento


objectivo dos futuros médicos formados na UAlg, começando em 2013, estes
nunca poderão ser comparados, em termos de competência profissional, com
os médicos formados nas outras universidades. Refiro-me a uma comparação
baseada nas capacidades e competências fundamentais da prática da
medicina acima referidos que definem a competência do profissional.

Volto pois a referir-me ao parecer da Comissão Internacional sobre o curso de


medicina da UAlg como o único documento disponível para neste momento
ajuizar da qualidade do futuro curso.

A questão da inovação

O ensino da medicina é uma actividade pedagógica estabelecida em Portugal


com o presente formato desde a reforma do Marquês de Pombal, com
pequenas modificações introduzidas há cerca de um século com as reformas
de 1911.

Entretanto, a forma como se pratica a medicina foi drasticamente alterada, a


todos os níveis, em parte pela instituição de um sistema nacional de saúde
(SNS) há quase 30 anos mas principalmente pelos grandes avanços da

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tecnologia dos últimos 50 anos. Com (1) a forma como os doentes se
apresentam com as suas queixas dada a informação disponível (p. ex. na
internet), (2) as técnicas de diagnóstico em consequência dos avanços da
imagiologia e da bioquímica clínica e (3) as técnicas de intervenção em
consequência dos avanços da farmacologia e das cirurgias minimamente
invasivas, a boa prática da medicina foi radicalmente alterada entre 1959 e
2009. Será que a formação médica básica terá acompanhado esta evolução
da medicina?

Convém lembrar que o antigo sistema em que o recém-formado ficava de


imediato livre para praticar medicina independentemente de facto
desapareceu; hoje, são obrigatórios pelo menos mais 4 anos de formação
“pós-graduada” numa das especialidades, desde a MGF, à Medicina Interna, à
Neurocirurgia, etc., antes que o médico seja “certificado” para praticar
independentemente.

Faz portanto sentido fazer algumas perguntas: (1) será que o perfil desejável
no médico formado hoje é o mesmo que se desejava há 50 ou 100 anos? (2)
Será necessária alguma inovação na metodologia pedagógica para preparar
os novos médicos? (3) Será necessário um curso de 6 anos para atingir o
objectivo desejado? (4) Será necessária uma organização departamental das
escolas médicas, com “cadeiras” e “regências” em todos os ramos tradicionais
do conhecimento médico? (4) Será necessário separar a aprendizagem de
ciências “básicas” da aprendizagem clínica? (5) Além dos conhecimentos
teóricos, será necessário testar objectivamente os futuros médicos nas
capacidades e competências profissionais acima referidas? (6) Será desejável
alterar o sistema de admissões às escolas médicas em Portugal? (7) Será
desejável que todos os docentes e tutores das escolas médicas recebam
treino formal de como ensinar? (8) Será importante que todos os novos
médicos tenham tido experiência de trabalho em sistemas de saúde diversos?

O projecto da Universidade do Algarve (UAlg)

Nem todas as perguntas acima têm respostas claras e inequívocas. Algumas


têm respostas claras baseadas na experiência de universidades que tiveram a
coragem de experimentar em técnicas pedagógicas. Outras têm respostas
parciais e a só uma futura experimentação poderá dar uma resposta definitiva.

Qual foi a estratégia da UAlg para o planeamento do curso de medicina?


Começou-se com a enorme vantagem de não haver na UAlg um sistema
tradicional implantado desde há longa data, que pudesse inibir um
planeamento puramente baseado nos objectivos a atingir. Começámos pois
por perguntar qual é a formação adequada ao médico recém-formado que o
prepara para os 4 a 6 anos de formação especializada. Portanto, o ponto de
partida foi definir o perfil do recém-formado e a forma de assegurar que esse
perfil seja consistentemente atingido através de um sistema de avaliação bem
desenhado.

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Ao embarcar neste projecto não houve desejo de “reinventar a roda”. O
General Medical Council1 do Reino Unido (GMC) publicou um documento que
define de forma completa e precisa o perfil desejável no médico, o
“Tomorrow’s Doctors” (“Os Médicos do Futuro”) , o qual se tornou numa
referência quase global. O GMC é a instituição responsável pela regulação da
profissão no Reino Unido que define os padrões da educação médica.
Produziu aquele documento em 1993, dirigido a todas as escolas médicas do
Reino Unido, contendo a importante recomendação que devia ser iniciada
uma reestruturação profunda do ensino da medicina. O aspecto fulcral desta
reforma consistia em modificar a estratégia pedagógica reduzindo
drasticamente o conteúdo factual, sobretudo nas ciências básicas, em favor
de uma aprendizagem mais prática, centrada no doente e não na doença. O
“Tomorrow’s Doctors” foi actualizado e ampliado em 2003, constituindo hoje o
documento base que inspira os currículos de todas as escolas médicas
Britânicas e não só.

A definição do perfil desejável no médico incide em três aspectos essenciais:

1. As atitudes
2. Os conhecimentos e os conceitos
3. A capacidade de execução de manobras práticas

Além da definição do perfil também são fornecidas as directivas para


estabelecer meios eficazes de verificação. Não basta passar exames escritos
para ser certificado como um competente novo médico. O candidato deve ser
examinado a praticar actos médicos.

Decidiu-se portanto adoptar as recomendações do GMC adaptando-as ao


contexto regional, e convém aqui realçar uma das 12 recomendações: “o
conteúdo de conhecimentos factuais (do currículo) deve ser reduzido ao
mínimo necessário para esta fase da formação médica”.

Embora o perfil de competências a atingir esteja bem definido no documento,


ele não contém a receita de como lá chegar. Isto é, cabe a cada escola
desenhar a sua estratégia curricular. Para este efeito começou-se por
inventariar o que nos últimos 20-30 anos aconteceu no ensino da medicina
nas universidades de grande prestígio mundial. Em seguida “afunilou-se” a
variedade de novas metodologias pedagógicas para um pequeno número de
alternativas realisticamente adaptáveis à situação algarvia e ao contexto
nacional. Depois de estudar as alternativas seleccionadas, optou-se por
escolher um sistema de ensino bem testado, orientado para estudantes mais
“amadurecidos” e baseado em problemas clínicos reais (PBL), como a
estratégia mais eficaz para atingir os objectivos educacionais. O sistema
comporta 4 anos de estudo, mas requer que os candidatos ao curso tenham
feito uma licenciatura. O ano lectivo terá um pouco mais de 40 semanas
traduzidas em cerca de 7.000 horas de ensino em contacto directo com
tutores, o que excede largamente as 5.500 horas mínimas requeridas pelo
Conselho da União Europeia (Directiva 93/16/EEC de 5 de Abril de 1993).

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Partimos do princípio que o sucesso de qualquer curso de medicina depende
criticamente das pessoas escolhidas para estudar e dos docentes escolhidos
para ensinar. Por “sucesso” entende-se o atingir dos objectivos de qualidade
dos futuros formados tal como definidos pelo GMC, não só em conhecimentos
teóricos mas também em todas as outras capacidades e competências que
acima mencionei.

Não devemos subestimar as dificuldades inerentes ao recrutamento dos


futuros estudantes, mas estou certo que as dificuldades são maiores quando
se pretende recrutar entre a população homogénea que acabou o liceu, com
17 ou 18 anos, e que pouco mais tem que a defina além das notas finais. Por
isso optámos por fazer um recrutamento mais tardio entre a população com
mais maturidade que já teve sucesso em obter um grau académico.

É imperativo que o sistema de selecção seja eficiente e imune à corrupção.


Preenchidas as condições iniciais da candidatura (mínimo 1º ciclo de Bolonha,
química do 12º ano) os candidatos farão uma prova de aptidão intelectual, a
qual não requer conhecimentos científicos, e uma prova de inglês. Esta última
é necessária para assegurar fluência em inglês em todos os estudantes
porque uma grande proporção do material didáctico disponível está em inglês
assim como uma boa proporção dos seminários também se processarão
nessa língua. A partir destes testes e de outros factores, será seleccionado
um pequeno número de candidatos, cerca do dobro do número de lugares.
Estes candidatos serão em seguida sujeitos a mais um teste composto de
uma série de 8-10 mini-entrevistas (MMI – Multiple Mini Interviews 2,3) cujo
objectivo é testar algumas características da personalidade dos candidatos.
Este teste, contrariamente às entrevistas tradicionais, provou possuir uma boa
correlação com o sucesso no curso básico de medicina e posteriormente com
o sucesso na formação da especialidade.

A escolha dos futuros docentes e tutores é igualmente crítica para atingir os


objectivos educacionais. A minha percepção da opinião estabelecida em
Portugal é que se entende que a obtenção do grau académico de doutor
também confere uma certificação de eficiência no ensino universitário. Daí o
conceito que a medicina deve e basta ser ensinada por docentes doutorados
(professores auxiliares, associados ou catedráticos) maioritariamente em
aulas magistrais. Trata-se de uma opinião sem base na evidência. Outra
opinião, igualmente defensável, é que a eficiência do ensino depende tanto
duma boa organização como do brilho científico dos docentes.

As bases da medicina clínica são, na minha opinião, idealmente aprendidas


no contexto de uma prática médica volumosa e de boa qualidade, gerida por
médicos dedicados e competentes, não necessariamente investigadores e
académicos. A grande contribuição pedagógica do docente doutorado
catedrático está intimamente ligada à sua produção científica cujo valor está
em inspirar uma pequena minoria de estudantes para seguir uma carreira
académica. Por outro lado, não existe um sistema estabelecido nas
universidades para treinar os docentes em técnicas pedagógicas, assumindo-
se que a capacidade para ensinar é inata.

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Todos os docentes e tutores que irão participar no curso de medicina da UAlg
serão sujeitos a um programa de treino centrado nos objectivos a atingir. A
gestão do currículo não será descentralizada e entregue em parcelas a
“regentes de cadeiras”, ficará sempre sob o controlo de uma pequena
Comissão Pedagógica, constituída por docentes experientes e totalmente
dedicados à gestão do curso, que elaborará um programa detalhado sobre
como atingir os objectivos educacionais em cada aspecto do currículo. Assim,
cada estudante e cada tutor possuirão à partida um plano de acção bem
definido o qual deverá ser acordado no início de cada bloco de estudo a fim
de não haver surpresas entre as duas partes.

O método pedagógico a adoptar para o curso de medicina da UAlg também foi


objecto de cuidadosa investigação. Como pós-graduados, esperamos que os
futuros estudantes estejam aptos a gerir o seu estudo, sobretudo o das
ciências básicas. Propomos adoptar o método da escola médica da
Universidade de McMaster, no Canadá. McMaster tem sido pioneira, desde os
anos 60, em várias vertentes da pedagogia a nível universitário e não só no
ensino da medicina. O sistema que propomos é conhecido como PBL
(Problem Based Learning - aprendizagem baseada em problemas). Na
Europa, a escola médica de Maastrich, na Holanda, foi a primeira a
concretizar este sistema, pouco depois de McMaster. A experiência tem
demonstrado que este método motiva melhor os alunos, sobretudo aqueles
com mais maturidade. A maior parte das escolas médicas de grande prestígio
nos EUA (Harvard, Yale, etc.) rapidamente adoptaram este sistema a partir da
década de 70. No Reino Unido, o PBL também tem vindo a substituir o
sistema convencional nos últimos 15 anos. Neste sistema não há aulas
tradicionais. O ensino faz-se em pequenos grupos (máximo de 8 alunos) onde
um docente “facilitador” guia os alunos na procura da informação. Durante os
4 anos do curso todos os alunos terão percorrido cerca de 130 cenários
clínicos que contêm toda a medicina que precisam de saber, incluindo as
ciências básicas. O médico educado neste sistema fica marcado por uma
atitude de constante actualização e de trabalho em equipa.

O estudo de problemas clínicos em PBL processa-se em paralelo à


aprendizagem das bases da comunicação entre doente e médico, à
aprendizagem das competências para fazer a anamnese e o exame físico do
doente, à aprendizagem dos princípios da terapêutica medicamentosa e do
receitar e à aprendizagem dos princípios da ética da clínica; tudo no contexto
da Medicina Geral e Familiar (MGF), durante os dois primeiros anos do curso.
Nos dois últimos anos, processar-se-á uma transição gradual da
aprendizagem para o contexto hospitalar. Pretende-se que os serviços
hospitalares que vierem a participar no ensino e portanto a beneficiar do
prestígio conferido pela Universidade, funcionem de acordo com os padrões
mais altos da medicina hospitalar. No sistema hospitalar os alunos serão
expostos a cenários clínicos de diferente complexidade, às urgências, às
cirurgias e à aprendizagem dos aspectos das especialidades importantes para
o médico recém-formado.

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A aprendizagem das ciências básicas vai ocorrer como parte dos casos
clínicos em PBL, sendo integrada por sistemas funcionais e acompanhada por
seminários integrativos. Muita da aprendizagem das ciências básicas vai ser
facilitada por especialistas clínicos. Por exemplo, a aprendizagem da
anatomia, fisiologia e farmacologia do sistema digestivo será em grande parte
orientada por gastrenterologistas. A anatomia será ensinada primeiro através
de modelos, depois pela imagiologia, pela endoscopia, pela anatomia
patológica e finalmente através da presença dos alunos nas cirurgias e nas
autópsias.

O ano lectivo será organizado em blocos temáticos de 10 semanas. Durante


os dois primeiros anos, em cada semana haverá um dia inteiro de
aprendizagem num centro de saúde e um dia dedicado a executar um módulo
de escolha pessoal. Este módulo será orientado por um docente e poderá ser
laboratorial, trabalho de pesquisa clínica, trabalho de pesquisa bibliográfica ou
trabalho na comunidade com um doente crónico, um idoso ou uma grávida.
Haverá um total de 15 módulos ao longo dos 4 anos do curso, oferecendo
amplas oportunidades de estudar aspectos da medicina em profundidade,
participar num projecto de investigação laboratorial e participar nos cuidados
médicos na comunidade. Cada módulo requererá um relatório final avaliado
pelo docente orientador e pela Comissão Pedagógica.

No último ano, um dos blocos de 10 semanas será passado fora da Região do


Algarve, preferivelmente em sistemas de saúde no estrangeiro com os quais
se farão acordos pontuais.

A UAlg já dispõe de um número razoável de cientistas dedicados ao trabalho


no domínio das ciências biomédicas. Está-se actualmente no processo de
ampliar este grupo para constituir uma equipa de investigadores que formará
uma “massa crítica” no sentido da produtividade científica numa área
específica das ciências biomédicas. Este conjunto laboratorial será a base
onde se recrutarão alguns docentes e tutores para as tutoriais de PBL e onde
os estudantes farão os módulos laboratoriais de escolha individual.

Já existe no Algarve um grupo significativo e coeso de médicos especialistas


em MGF que fizeram uma extensa formação em educação médica para serem
tutores dos internos da especialidade. Esta formação foi elevada aos
melhores standards europeus definidos nos documentos da EURACT
(European Academy of Teachers in General Practice4). Esta é uma
circunstância muito especial e única no país, que influenciou a decisão de
basear uma proporção significativa do ensino básico da medicina clínica no
sistema de cuidados de saúde primários. O curso de medicina da UAlg vai
aproveitar esta oportunidade única para recrutar uma boa proporção dos
tutores clínicos entre estes especialistas de MGF.

Nos dois últimos anos do curso haverá uma transição duma proporção grande
da aprendizagem da medicina clínica dos centros de saúde para o contexto
hospitalar. Ambos os hospitais existentes na Região do Algarve, o Hospital
Central de Faro e o Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio participarão

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nesta fase da formação. Dentro destes dois hospitais já existem alguns
serviços com volume e qualidade adequados para a aprendizagem da
medicina clínica básica, tal como existem serviços acreditados para a
formação pós-graduada nas especialidades. A UAlg está a desenvolver um
esforço conjunto com as direcções dos hospitais e a ARS (Administração
Regional de Saúde), já com algum sucesso, para recrutar um número
significativo de clínicos com formação académica (doutorados) que além de
participar no ensino dos nossos estudantes também contribuirão
significativamente para os serviços clínicos. Este processo é naturalmente
mais lento do que o recrutamento de docentes das ciências básicas, mas
dispomos de dois anos adicionais até os estudantes que começarão em
Setembro de 2009 chegarem ao 3º ano. Entretanto, foi feito um acordo de
cooperação entre a UAlg e a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Nova de Lisboa, que visa cooperação no domínio científico e pedagógico mas
também temporariamente preencher possíveis lacunas que possam persistir
na execução do currículo clínico no curso da UAlg. Também foi feito um
acordo com a Associação para a Protecção dos Diabéticos de Portugal. Esta
instituição de prestígio internacional irá receber em Lisboa os estudantes da
UAlg no 3º e 4º anos para aprendizagem clínica neste ramo importante da
medicina, complementar àquela já recebida nos hospitais algarvios.

A todos os níveis do curso haverá um uso intenso dos meios electrónicos de


aprendizagem e de comunicação, isto é, dos recursos extensos que existem
na internet e de pacotes de “software” concebidos para o ensino, muitos já
com sistemas de avaliação incluídos. Cada estudante terá o seu ficheiro
virtual onde toda a informação em relação ao seu progresso individual se irá
acumulando.

Os estudantes serão avaliados em dois formatos: avaliações “formativas” e


avaliações “cumulativas”. As primeiras são avaliações sem efeito nas notas de
curso, servindo de guia para o próprio estudante ajuizar o seu progresso nas
várias etapas do curso e a sua posição relativa aos seus colegas. As
avaliações cumulativas contam para a nota de curso e nelas se baseia a
decisão do Conselho Pedagógico sobre o aproveitamento de cada estudante.
Todas as avaliações se processarão em três formatos: (1) avaliação das
atitudes, fornecida pelos tutores, (2) avaliação dos conhecimentos e
conceitos, obtida através de testes de escolha múltipla (MCQs) e (3) avaliação
da capacidade de execução de manobras práticas, através de OSCEs
(Objective Structured Clinical Examinations) que se poderá traduzir como
“Exames Clínicos Estruturados e Objectivos” – ECEOs.
As avaliações cumulativas processar-se-ão quatro vezes em cada ano lectivo,
ao fim de cada módulo temático de 10 semanas. As avaliações formativas
processar-se-ão mais frequentemente, dependendo do conteúdo do módulo.
No fim do curso haverá um exame final com o mesmo formato mas
abrangendo todas as áreas cobertas no curso que definem o perfil do médico
recém-formado.

Cada estudante terá também um tutor individual, como mentor, que o seguirá
durante todo o curso e será o primeiro a intervir em caso de crise pessoal.

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Antecipamos que, dada a maturidade dos estudantes à entrada no curso,
dada a escolha cuidadosa de entre os candidatos e dado o acompanhamento
eficaz ao longo do curso, os “chumbos” sejam uma ocorrência rara.

Porquê mais um curso de medicina em Portugal e porquê no Algarve?

A realidade é que os profissionais, especialmente os melhores (e não só os de


medicina), tendem a radicar-se na proximidade dos centros onde se formaram
e o Algarve está a 300 km de Liboa, onde está o centro de formação médica
básica mais próximo. Este não é um problema específico de Portugal, tendo
sido há anos debatido e abordado em países com vastidão territorial como a
Austrália e o Canadá. Na última década o governo australiano optou por criar
pelo menos 4 pequenas escolas médicas5 na periferia, baseadas na medicina
de cuidados primários, depois de várias tentativas falhadas para atrair
médicos, formados nas faculdades tradicionais nos centros urbanos mais
importantes, para regiões remotas. Esta estratégia provou-se efectiva em fixar
os novos médicos nas regiões onde receberam a formação. Embora as
dimensões de Portugal não sejam comparáveis, o problema é semelhante
fazendo sentido adoptar uma estratégia comparável. As decisões de criar
escolas médicas de menores dimensões na Beira Interior, nas Regiões
Autónomas e, mais recentemente, no Algarve fazem todo o sentido dentro
deste contexto. Consequentemente, esperam-se a médio e longo termo
efeitos importantes sobre a qualidade da medicina da Região.

Referências:

1. http://www.gmc-uk.org/education/undergraduate/undergraduate_qa.asp
http://www.gmc-uk.org/education/documents/Tomorrows_Doctors_1993.pdf
2. Kevin W Eva, Jack Rosenfeld, Harold I Reiter & Geoffrey R Norman. An admissions OSCE: the
multiple mini-interview. MEDICAL EDUCATION 2004; 38: 314–326
3. Harold I Reiter,1 Kevin W Eva,2 Jack Rosenfeld3 & Geoffrey R Norman. Multiple mini-interviews
predict clerkship and licensing examination performance. MEDICAL EDUCATION 2007; 41:
378–384
4. http://www.euract.org/
5. Lawson KA, Chew M, Weyden MB. The New Australian medical schools: daring to be different.
Medical Journal of Australia 2004; 181(11/12): 662-666

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