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artigo original

Desafios para a gestão de


unidades básicas de saúde*
Challenges to manage basic heathcare units
Adriana Maria André1, Maria Helena Trench Ciampone2

RESUMO Palavras-chave
O gestor local enfrenta o desafio de responder aos anseios da comunidade utilizando-se dos Administração de serviços de
recursos disponíveis; dessa maneira, faz-se imprescindível que disponha de um arcabouço de co- saúde.
nhecimentos, habilidades e atitudes, a fim de poder otimizar e maximizar tais recursos, realizando Gerência.
parcerias, negociando propostas e trabalhando com a equipe e a comunidade num exercício de Competência profissional.
“empoderamento” para a cidadania. Quem são esses gestores e quais são na percepção dos mes-
mos as competências necessárias para exercer essa função? Realizamos a nossa pesquisa utili- Keywords
zando o método da pesquisa-ação nessa vertente metodológica qualitativa; tivemos como base de Healthcare services
análise dos dados a vertente dialética, pois entendemos que não se compreende a mudança no
administration.
processo de gerenciamento da assistência dos serviços de saúde sem levar em conta a sua histo-
Management.
ricidade, totalidade, dinamicidade e provisoriedade no contexto da transformação social. As evi-
Professional competence.
dências mostraram que a percepção dos atuais gestores, em relação às competências para gerir
uma Unidade Básica de Saúde (UBS), contemplam uma visão simplista influenciando diretamente
no modo de operacionalização das estratégias e na dinâmica das equipes, contribuindo para a
ineficácia e ineficiência dos processos. Portanto, defendemos a tese de que para haver a ascensão
de profissionais à posição de gestor de uma UBS ou a quaisquer Serviços de Saúde deveria ser
instituído um Sistema de Avaliação de Competências e Certificação de Formação Profissional na
qual os cursos específicos de Gestão em Saúde fossem pré-requisitos.

ABSTRACT
The local manager faces the challenge to respond to the population needs utilizing the re-
sources available; he must, therefore have a set of skills, knowledge, and attitudes to be able to
optimize and maximize such resources, making partnerships, negotiating offers and working with
his team and the community in an exercise of empowering the citizenry. Who are those managers
and how do they perceive the competences required to carry out this function? This research was
qualitative in the line of the research-action and the data were analyzed dialectically. To understand
the changes in the health care management, the authors had to analyze the social transformations
in their historical and dynamic context. Results showed that the perceptions of current managers
regarding the competences to manage a Basic Healthcare Unit involve a simplistic view that direct-
ly influences the implementation of strategies and the dynamics of working teams, making pro-
cesses both ineffective and inefficient. Therefore, they defend the idea that for a professional to Conflito de interesse: nenhum declarado.
Financiador ou fontes de fomento: nenhum de-
become the manager of a Basic Healthcare Unit, or of any healthcare service, there should be a
clarado.
Competence evaluation System and a Professional Training Certification System for which some Data de recebimento do artigo: 8/1/2007.
specific Healthcare Management courses would be prerequisites. Data da aprovação: 29/3/2007.

* Este trabalho é parte da Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
1. Especialista em Administração de Sistemas de Saúde e Hospitalar/EASP/FVG; Mestre em Enfermagem na área de concentração Administração em Serviços de
Enfermagem e de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; Assessora Técnica de Planejamento da Coordenadoria Regional de Saúde Sul de
São Paulo (licenciada); Assessora da Superintendência da Fundação Getúlio Vargas (IDE/FGV-SP). Fundação Getúlio Vargas, Av. Paulista, 548, andar Intermediário,
Bela Vista – 01310-000 – São Paulo, SP, Brasil. Tel.: (11) 3281-3632. E-mail: adriana.andre@fgv.br
2. Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem/USP; Doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia/USP; Professora Titular da área de Administração
em Serviços de Enfermagem e de Saúde do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem/USP; Orientadora da presente investigação. Escola de
Enfermagem da USP, Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 – 05403-000 – São Paulo, SP, Brasil. Tel.: (11) 3066-7551, fax: (11) 3066-7561. E-mail: mhciampone@usp.br

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INTRODUÇÃO textos que permearam as relações en- cia no poder(2). Por decorrência, os ob-
Pensando nos desafios para a ges- tre os sujeitos e as organizações de- jetivos e metas, na organização pú-
tão dos serviços de saúde, particular- terminados pela estrutura econômica, blica, espelham as escolhas políticas,
mente os presentes nas Unidades política e social. nem sempre explícitas e claras, o que
Básicas de Saúde mediante alguns dos No campo da saúde, ao pinçarmos torna o processo decisório, no âmbito
fatores determinantes das práticas para fins de análise algumas das dife- local, ainda mais complexo e centrali-
gerenciais nesses locais, pontuamos renças nas atribuições dos gestores de zado. Isso explica a descontinuidade de
algumas peculiaridades relacionadas Unidades Básicas de Saúde diante das programas quando ocorrem mudanças
entre algumas das distinções entre as modificações decorrentes das políticas de dirigentes, até dentro do mesmo go-
organizações formais públicas e as de saúde vigentes, principalmente as verno.
privadas, que influenciam o cotidiano advindas da implantação da estratégia Pensando na estratégia Saúde da
da gerência nesses serviços. Ao res- saúde da família, verificamos a neces- Família, fica evidente a mudança da
gatarmos as características peculiares sidade dessas práticas sofrerem an- lógica política, quanto ao modelo as-
da administração pública e privada coragem em novos paradigmas de sistencial e gerencial que passa a de-
admitimos que o conjunto das mesmas gestão, e, nessa perspectiva, em no- mandar a interação e a participação de
é bastante heterogêneo, por vezes vos modelos de gestão, que deman- diversos atores sociais como os pro-
mesclando nuances dessa tipologia. dam um perfil diferenciado dos gesto- fissionais da UBS, a comunidade, as
Podemos, contudo, identificar algumas res, com competências (entendida lideranças para que o projeto se as-
características peculiares da burocra- como o conjunto de conhecimentos, sente no atendimento das necessida-
cia da organização e da gestão das habilidades e atitudes) que os diferen- des de saúde da população da área
empresas públicas (1). cie em relação à gestão tradicional- de abrangência e nas ações interse-
Por exemplo, em relação ao direito mente desenvolvida nesse campo. toriais para sanarem ou minorarem
público e ao direito administrativo. Den- Esse é um dos grandes desafios a se- essas necessidades(3). Nessa lógica, o
tre os inúmeros aspectos que isso im- rem perseguidos por parte, tanto des- papel do gestor é a do articulador que
plica, destacamos o fato de que uma ses atores sociais que se propõem a prepara, orienta, estimula e negocia,
decisão no âmbito da burocracia pú- estar à frente destas Unidades, quan- demonstrando, na prática, a importân-
blica só pode ser tomada legalmente, to dos órgãos formadores de recursos cia da liderança de equipes. Nessa
se houver, no conjunto normativo, um humanos em saúde, aos quais cabe a perspectiva, a visão do gestor deve ser
dispositivo que autorize e confira vali- tarefa de preparar profissionais para mais abrangente, suas atribuições ex-
dade à decisão. Diferentemente da assumirem a transformação dessas trapolam os limites da Unidade, privi-
empresa privada, uma decisão pode práticas, bem como estabelecendo legiando o que é proposto no Modelo
ser tomada desde que não haja uma parcerias para a educação permanen- Sistêmico Aberto de Gestão.
norma legal que a proíba. Enquanto o te. O Modelo Sistêmico Aberto de Ges-
direito público trata do que é permiti- No chamado modelo tradicional de tão, busca a transversalidade das
do, o direito privado trata do que é proi- assistência a saúde, o gerente atua ações no âmbito das equipes onde a
bido. Apenas essa diferença causa como um mero chefe de pessoal, se interdisciplinaridade, a interação sinér-
uma enorme distância na gestão des- atendo a atividades exclusivamente de gica, a articulação e o intercâmbio con-
ses dois tipos de organização(1). ordem burocrática, exercendo um pa- tínuo com o ambiente devem susten-
Para o autor, o que referenda a lógi- pel controlador e centralizador, sua vi- tar o processo de aprendizagem con-
ca e a ação nas decisões gerenciais são é limitada e predominantemente tínua e a retroalimentação dos planos
na esfera privada é a lógica do pensa- voltada para o intramuros. Como repre- de ação; nada deve ser “estanque” e
mento econômico e na esfera pública sentante da autoridade política, o ges- as modificações devem ocorrer segun-
são os movimentos do pensamento tor, ao assumir o comando de uma or- do a necessidade de aprimoramento
político. Note-se que ambos sempre ganização pública, com suas distintas ou revisão cotidiana dos processos.
representaram o que lhes é contem- finalidades e atreladas ao sistema po- O gestor local, portanto, enfrenta o
porâneo e derivaram de todo o arca- lítico, deve ter a clareza que a lógica desafio de responder aos anseios da
bouço de valores e dos diferentes con- que prevalece é a lógica da permanên- comunidade utilizando-se dos recursos
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disponíveis; dessa maneira, faz-se im- origem à presente investigação que como a definição da missão, a análise
prescindível que disponha de um ar- teve por objetivos: conhecer a percep- dos cenários, e os decorrentes planos
cabouço de conhecimentos, habilida- ção dos profissionais que exercem a de ação de acordo com os cenários, a
des e atitudes, a fim de poder otimizar gestão das Unidades Básicas de Saú- elaboração de políticas e a avaliação
e maximizar tais recursos, realizando de acerca de quais são as competên- contínua, podem ser potentes ferra-
parcerias, negociando propostas e tra- cias necessárias à operacionalização mentas do processo de trabalho ge-
balhando com a equipe e a comunida- dessas novas práticas de gestão que rencial, quando bem conduzidas pelo
de num exercício de “empoderamen- privilegiam o coletivo e o trabalho par- gestor.
to” para a cidadania. ticipativo e problematizar se a forma- Nessa perspectiva, cabe também a
Apesar de a Estratégia Saúde da ção e o preparo específico desses ges- este esclarecer os valores e a visão
Família fazer parte da macropolítica do tores influencia no modo de operacio- norteadora da cultura local e propiciar
Ministério da Saúde desde a metade nalização das estratégias e da dinâmi- condições de “empoderamento” dos
da década de 90, observa-se que o sis- ca das equipes envolvidas nos servi- seus colaboradores, para a implemen-
tema de saúde continua sofrendo o ços, tendo em vista subsidiar dados tação de uma proposta de gestão par-
processo de desconcentração(4), en- para compor um perfil de competên- ticipativa. Para tanto, a delegação de
tendendo por desconcentração a de- cias gerenciais compatíveis com os poder e construção de relação de con-
legação de responsabilidades sem a novos modelos de gestão em saúde. fiança constituem pontos essenciais.
delegação de poder decisório, trans- O projeto de governo (proposta de
ferindo-se para o gestor a responsa- REVISÃO TEÓRICA CONCEITUAL ação) de um gestor deve se mostrar
bilidade da implementação de uma Quando se pensa no planejamento viável em função da governabilidade
decisão central, porém, sem a prerro- de modelos gerenciais no âmbito das (grau de dificuldade das ações) e da
gativa de poder decisório para o ma- organizações públicas, esses devem capacidade de governo que se traduz
nejo dos recursos escassos conforme responder às seguintes questões: qual pela perícia pessoal e institucional para
a necessidade local, sem burlar as re- é o problema ou o objetivo que motiva tomar decisões. Envolve, portanto, não
gras estruturais que definem quanto, a ação pública por intermédio dessa somente uma competente análise dos
como e onde empregá-los. Esse ter- organização? Que situação da realida- problemas, dos processos, e do manejo
mo parece-nos, portanto, bem apro- de se quer transformar e em que dire- dos recursos e da relação custo-be-
priado para descrever a situação de ção? Como o sistema organizacional nefício, como também, da base do su-
poder do gestor local. deve funcionar para tal? Qual é o pa- porte político para a sustentação e
Além das limitações de ordem prá- pel do gestor? Nesse caso, qualquer aprovação das propostas.
tica, financeira e das ligadas à legisla- resposta a essas perguntas, em um O gestor enquanto líder deve saber
ção municipal, existem as intersubjeti- regime democrático, tem de encontrar trabalhar com sua equipe de maneira
vidades que permeiam as relações de respaldo na legitimidade assentada na a compor os conhecimentos e habili-
poder advindas da área político-parti- legalidade e representatividade. Por ser dades do grupo na busca de um am-
dária que têm importantes reflexos na público, o sistema de gestão também biente onde ocorra a sinergia e o de-
gestão das Unidades Básicas de Saú- não dispensa a necessidade do foco senvolvimento contínuo das pessoas.
de. na eficiência e na eficácia do uso dos O gestor imprime ao trabalho a sua
Por exemplo, a ascensão à posição recursos. O que temos verificado na marca, impulsionando ou não a equi-
de gestor das UBS não é uma ascen- prática, é que os métodos modernos pe por meio de seu próprio trabalho,
são de caráter meritório, mas sim indi- de gestão, sob o rótulo de “new public ou seja, torna-se modelo, referência em
cativo, proveniente das relações de managent” corresponde a implantar decorrência da postura que adota fren-
amizade e confiança mantidas com o modelos substitutivos à lógica do es- te ao jogo de forças que influenciam o
superior hierárquico imediato, ou com tado pela lógica do mercado. cotidiano do serviço.
as instâncias políticas superiores. Contudo, os conceitos de gestão Nessa perspectiva, partimos do su-
A problemática daí decorrente nos estratégica também se aplicam plena- posto de que o gestor de uma UBS de-
convida e estimula a uma série de re- mente aos serviços de saúde(5); os ins- ve ter uma visão ampliada de saúde,
flexões e questionamentos que deram trumentos fundamentais ao processo, ser capaz de uma priorização adequada
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dos problemas e necessidades da co- rentes, que aceitaram o convite para norteadores da análise das convergên-
munidade e de implementar o modelo fazer parte do estudo. Intencionalmen- cias e divergências que emergiram do
de assistência integral e da gestão te formulamos o convite para três ge- material empírico oriundo do grupo.
participativa, o que exige que este te- rentes que fizeram o curso de capaci-
nha competência para tal. tação para Gerenciamento de Unida- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE
des de Saúde (GERUS) ou outro cur- DOS RESULTADOS
METODOLOGIA so de especialização em gerenciamen- Dos 19 gerentes da Supervisão Téc-
Para o desenvolvimento desse es- to e para três gerentes que não fize- nica de Área, 10 participaram da pes-
tudo optamos pelo método da Pesqui- ram nenhum curso específico na área quisa, ou seja, 52,63%. Destes, 70%
sa-Ação, pois esta modalidade de pes- gerencial. A partir da análise da trans- eram do sexo feminino e 30% do mas-
quisa constitui-se apropriada para o crição dos discursos gravados, com o culino, sendo 40% da amostra médi-
campo social, com base empírica, onde consentimento dos sujeitos durante as cos, 20% dentistas, 20% psicólogos,
os pesquisadores estão envolvidos de entrevistas, realizamos a análise das 10% fonoaudiólogos e 10% enfermei-
modo cooperativo e participativo, per- unidades de significado que compuse- ros.
tencendo à Instituição cenário onde a ram as questões disparadoras que fo- Em relação ao preparo para exercer
pesquisa foi realizada. Esse tipo de ram discutidas no encontro grupal. a gerência, 50% dos gerentes fizeram
orientação metodológica permite o Na segunda etapa do estudo reali- o curso de Gerenciamento de Unida-
aumento do conhecimento ou do “ní- zamos um encontro de Grupo Focal, des de Saúde (GERUS), 10% realiza-
vel de consciência” do grupo envolvi- no qual atenderam ao convite para ram curso de gestão em saúde e 40%
do no processo, acerca do problema participar somente 50% dos 19 Ge- não possuíam qualquer curso na área
que deu origem ao objeto de pesqui- rentes. Consideramos a validade des- de gestão. Quanto ao tempo de exer-
sa, a competência gerencial para o pro- se encontro em função da premissa de cício da função, 90% dos gerentes
cesso de gestão de UBS(6). que os presentes seriam porta-vozes ocupavam essa posição entre três e
Assim, essa vertente metodológica das situações e circunstâncias típicas cinco anos, 10% haviam assumido ha-
foi adotada, na perspectiva da pesqui- que envolvem a gerência dessas uni- via menos de um ano e somente 20%
sa qualitativa, tendo como base de dades de saúde, o que viabilizou as fi- deles possuíam experiência em gestão
análise dos dados a vertente dialética, nalidades almejadas. em outros serviços, distintos da Secre-
pois entendemos que não se com- Na primeira fase do estudo, a das taria Municipal de Saúde.
preende a mudança no processo de entrevistas, após a transcrição das fi- Quanto aos cursos de pós-gradua-
gerenciamento da assistência dos ser- tas, procedemos à análise temática dos ção senso lato, 90% informaram ter
viços de saúde sem se levar em conta dados. Para tanto, iniciamos com uma realizado cursos em suas áreas técni-
a sua historicidade, totalidade, dinami- leitura flutuante do conjunto que foi cas específicas e 10% que nunca rea-
cidade e provisoriedade no contexto da seguida pela constituição do corpus lizaram qualquer curso de pós-gradua-
transformação social. dos discursos, desvelando os núcleos ção.
O cenário do estudo foi constituído de sentido que constituíram os temas A primeira questão da entrevista re-
por 19 Unidades de Saúde de uma das disparadores do encontro do grupo feria-se a quais eram os conhecimen-
Supervisões Técnicas de Área da Se- focal(7). tos gerenciais que julgavam necessá-
cretaria Municipal de São Paulo. Os Na segunda fase do estudo, o do rios a um gestor de Unidade Básica
sujeitos da pesquisa foram os respec- grupo focal, o encontro também foi gra- de Saúde para desempenhar o seu
tivos gestores dessas unidades. O es- vado, transcrito e realizamos a crônica papel de maneira eficiente e eficaz. O
tudo ocorreu em duas etapas, sendo grupal a partir da síntese das “falas” e resultado obtido foi: conhecer as pro-
que na primeira realizamos entrevistas interpretação dos significados, compor- postas do SUS, ter um compromisso
individuais com os sujeitos e, na se- tamentos, conflitos e contradições que com a proposta da Atenção Básica ter
gunda, um encontro grupal na perspec- permearam o debate dos temas. Na participado das propostas ou estar
tiva de um grupo focal. Para a entre- análise de dados nessa fase utilizamos consciente das metas e prioridades da
vista constituímos uma amostra inten- os conceitos estruturantes do referen- região e do município, conhecer a má-
cional composta por seis dos 19 ge- cial teórico-temático como construtos quina administrativa, conhecer a popu-
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lação, conhecer a Unidade, conhecer ter-se atualizado tecnicamente na sua go ou posição, estas devem ser com-
o pessoal, conhecer a dinâmica das área de atuação; ter “jogo de cintura”; postas dentro do contexto do compor-
relações humanas, conhecer o poten- entender a população; se relacionar tamento organizacional que represen-
cial de cada funcionário, conhecer com as pessoas; dividir as coisas com ta o conjunto de valores éticos, morais
como trabalhar a intersetorialidade. todo mundo; ter controle emocional; ter e sociais aceitos pelo grupo de atores
Comparando esse resultado com os consciência quanto ao modo de se que participam dos processos da ins-
conteúdos gerenciais ministrados nos portar, quanto à maneira de conduzir, tituição(9).
cursos de gestão das Universidades lidar com dados e interpretá-los; ter Dentre as atitudes listadas pelos ge-
mais importantes do nosso país, verifi- paciência, persistência e flexibilidade. rentes apreende-se que no contexto
camos que os cursos de gestão são Verificamos que na visão dos ges- das organizações de saúde que com-
compostos por blocos básicos de co- tores, apesar de agirem de maneira põem a atenção básica de assistência,
nhecimentos para fundamentação teó- empírica e intuitiva e sem o embasa- os valores expressos na representação
rica do gestor como: Estatística, Eco- mento teórico que permite a classifi- das atitudes dos gestores nem sem-
nomia, Epidemiologia, Sociologia, Tec- cação e racionalização das decisões, pre se verificam nas práticas, o que
nologia da Informação, Teoria Geral da muitas das habilidades citadas coinci- representa uma divergência entre as
Administração, Psicologia, Legislação dem com o referencial teórico utiliza- idéias e as práticas configurando-se
em Saúde, Políticas de Saúde e disci- do como base neste estudo, acerca em contradições no âmbito do pensar
plinas que propiciam a instrumentali- das habilidades gerenciais que são e do agir.
zação mais específica como: Adminis- essenciais(8).
tração Financeira, Contabilidade, Ad- No entanto, ressaltamos que as ha- CONCLUSÕES
ministração de Recursos Humanos, bilidades devem ser desenvolvidas pela Algumas tentativas de Inovação
Logística, Administração de Recursos mobilização dos conhecimentos adqui- Gerencial na Administração Pública
Físicos e Materiais, dentre outros. ridos. Nesse sentido as habilidades não não contribuíram para reestruturar a
Ao contrapormos os resultados das pautadas em conhecimentos consti- organização do trabalho e não propi-
falas dos gestores com os conheci- tuem-se em empirismo e ficam sujei- ciaram a incorporação das concepções
mentos gerenciais considerados es- tas ao jogo de probabilidades do acer- de qualidade dos sujeitos envolvidos e
senciais nos cursos de gestão ficou to ou erro. nem alteraram as relações de poder
patente o quanto os gerentes desco- A terceira questão problematizada existentes entre gerentes, funcionários
nhecem esses referenciais teóricos ou foi quais atitudes eles consideravam e usuários, porém os estudiosos rela-
não articulam os mesmos com as suas que devem permear as atividades de- tam que se verificou que as atitudes
práticas gerenciais. senvolvidas pelo gestor. O quadro re- dos gerentes frente à inovação influen-
A segunda questão da entrevista di- sumo das percepções dos gestores fi- ciam as atitudes dos seus subordina-
zia respeito a quais habilidades geren- cou assim composto: atitude de ser dos(10).
ciais estes julgavam que deveriam ser mais democrático; conseguir ouvir; O sistema ainda é regido predomi-
desenvolvidas pelo gerente a partir dos conviver; suportar um pouco mais o nantemente por princípios administra-
conhecimentos essências da gestão. conflito; não ter muito personalismo; tivos que se assemelham aos tradicio-
Após as discussões obtivemos como atitude de preservação; ser objetivo e nais e ultrapassados, pois se utiliza das
resultado as habilidades relacionadas muito claro ao falar; ouvir o lado do ações programáticas e da mediação
a: capacidade de negociação com as funcionário; ter equilíbrio e bom sen- por interlocutores de áreas temáticas,
instâncias externas da unidade, incluin- so; credibilidade; ter proximidade com e tal fato acarreta planejamentos e di-
do desde a hierarquia superior; ter diá- a população; ser exemplo; ter atitude recionamentos diferentes a serem im-
logo com a máquina administrativa, diá- respeitosa e coerente; ser pró-ativo e plementados ao mesmo tempo, pelos
logo com os funcionários e com a po- estimular isso na equipe; ser imparcial mesmos agentes da gerência média,
pulação; persistir; manter um projeto; e justo; ser humilde; ser observador; seus interlocutores, e pelos gerentes
ter clareza quanto aos objetivos; ter ca- interferir menos. e agentes da ponta, que enfrentam as
pacidade de construir coletivamente o Devemos lembrar que, no tocante às agruras de não poderem planejar suas
projeto de trabalho da Unidade; man- atitudes inerentes a determinado car- ações e passarem o tempo todo “apa-
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gando incêndios” e implementando a Nesse sentido consideramos que sabilidades desengessando as organi-
cultura da improvisação. conhecer o perfil de competências dos zações públicas, o que representaria
Não podemos deixar de mencionar atuais gestores de UBS, de uma área maior autonomia e poder decisório lo-
que há necessidade tanto de redese- tomada como amostra da SMS-SP, cal, fortalecendo o planejamento estra-
nho dos macroprocessos de trabalho permitiu concluir que as competências tégico na dinâmica dos serviços. Sua
quanto de entendimento de que no- atuais desses gestores não favorecem ausência minimiza as responsabilida-
vas competências devem ser desen- a implementação dos novos modelos des dos gerentes em relação aos re-
volvidas pelos gestores para que haja assistenciais e gerenciais que contem- sultados e o sucesso organizacional,
condições de melhoria dos serviços plam as estratégias que lhe são ine- tornando o sistema de gestão e de
prestados à população no serviço pú- rentes. monitoramento empobrecido.
blico e especificamente nas Unidades Os dados mostraram que a percep-
Básicas de Saúde. ção dos atuais gestores, em relação às REFERÊNCIAS
Historicamente apreendemos que competências para gerir as UBS, con- 1. Aguiar CAM. Planejamento estratégico e a natu-
reza das organizações públicas e privadas. Uni-
vários cursos de capacitação em ges- templam uma visão simplista e que versidade de São Paulo. Escola de Enfermagem.
tão foram promovidos pela SMS-SP, existe um despreparo desses agentes. Aula proferida na disciplina de Pós-Graduação:
Planejamento: análise histórica, metodológica e
em que as metodologias podem ter Portanto, defendemos a tese de que de perspectivas na gestão de serviços de saúde,
sido discretamente diferentes, porém para haver a ascensão de profissionais 2004.
2. Santana JP. A gestão do trabalho nos estabeleci-
os conteúdos foram muito semelhan- à posição de gestor de uma Unidade
mentos de saúde: elementos para uma proposta
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Os especialistas em gestão contem- viços de Saúde deveria ser instituído ponível em: http://www.opas.org.br/rh/publicaco-
es/textos_apoio/pub04U3T6.pdf
porânea constatam a necessidade do um Sistema de Avaliação de Compe- 3. São Paulo (cidade). Secretaria Municipal de Saú-
desenvolvimento do que denominam tências e Certificação de Formação de. Atenção Básica e PSF. Documento norteador:
compromisso das Unidades Básicas de Saúde
de um “continuum” de papéis e de com- Profissional na qual os cursos especí- com a população. São Paulo; 2005.
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sujeitos, atores e políticos [tese]. São Paulo: Fa-
um lado, adquirir progressivamente uma requisitos. culdade de Saúde Pública, Universidade de São
complexidade cognitiva – a possibili- Isso porque ficou evidente que o Paulo; 2001.
5. Simões AR. Gestão Estratégica nas Organizações
dade de executar uma estratégia ra- despreparo do gestor influencia dire-
Públicas de Saúde: Um estudo de caso da conso-
zoavelmente complexa em termos cog- tamente o modo de operacionalização lidação do SUS Municipal [dissertação]. São Pau-
nitivos, desempenhando papéis varia- das estratégias e a dinâmica das equi- lo: Centro Universitário Álvares Penteado, UNIFE-
CAP; 2003.
dos e até antagônicos de maneira al- pes envolvidas nos serviços, contribuin- 6. Thiollent M. Metodologia da pesquisa: ação. 3a ed.
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por outro, uma complexidade compor- processos. quisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec;
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