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Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 1

ANO II Nº 2 - RABO DE PEIXE MARÇO DE 2009

A EDUCAÇÃO
DE OUTROS
TEMPOS
P.3

FALAR DE... P.12 UM PORTO


“Neste momento, vejo um
futuro muito bom, se for para
SEGURO P.14
“De facto, os homens do mar de
falar no artesanato em geral.” Rabo de Peixe estão coesos e un-
ânimes na necessidade indispensáv-
Helena Carreiro
el de se construir um contra-molhe
para se ter condições de segurança
reais no seu porto de pescas...”

Luís Carlos Brum

EFTA
A RELIGIÃO EM BALANÇO P.18
E O HOMEM P.6 “Ninguém está preparado para
“A cada dia que passa, tenho mais nada.Uma Comunidade só se
certeza que a vocação é mais um transforma por via de acção
dos mistérios de Deus, que se vai de intervenção se estiver
descobrindo ao longo da vida”. disponível para analisar...”

Piedade Lalanda
Padre Duarte Moniz
2 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

Poderá parecer utópico, mas acreditamos que seja pos-


sível voltar a unir a população de Rabo de Peixe em prol
do bem comum. Nesses aspectos não há que haver difer-
enças entre a gente da terra e a gente do mar. São todos
cidadãos de uma só Vila. A história da população de Rabo
de Peixe sempre se escreveu com a marca de grandes
desafios, coragem, determinação e astúcia. A máxima de
Winston Churchill, disposta em sangue, suor e lágrimas,
continua viva em Rabo de Peixe. É preciso desmistificar
e, se possível, acabar com algumas “capelinhas” que
continuam a fragmentar a nossa vida social e cultural. A
diferença deve estimular a competitividade, não a falsi-
dade e desonestidade. De homens do mar a homens da
terra, sempre com delimitações territoriais bem definidas
e apropriações sócio-espaciais únicas, Rabo de Peixe con-
tinua a ser um importantíssimo pólo de desenvolvimento
cultural, social e económico. Não obstante as representa-
ções sociais depreciativas que a nossa Vila e suas gentes
continuam a merecer de terceiros, a verdade é que as po-
tencialidades emergem num quotidiano colorido por uma
juventude que mostra muita energia e vontade de ira mais
longe. Sabemos que Rabo de Peixe continua marcado por
flagelos, onde as toxicodependências, a violência domés-

EDITORIAL
tica, o analfabetismo e os crimes contra o ambiente tam-
bém se inscrevem.
No entanto, em termos populacionais, a Vila de Rabo de
Peixe contínua a ser dos poucos lugares que, ao nível na-
cional, está assegurada a reprodução de gerações. Em-
bora tenha diminuído na última década, o número médio

2
008 foi um ano marcadamente norteado pelas in- de filhos por mulher, continua a ser dos mais elevados do
tervenções do projecto co-financiado pelos Fundos país. Portanto, Rabo de Peixe está vivo.
EFTA. A face visível de Rabo de Peixe foi irrever- Contudo, Rabo de peixe não pode nem deve continuar
sivelmente transformada, tendo-se construído algumas a demitir-se de algumas responsabilidades. A educação
infra-estruturas de apoio ao desenvolvimento local. A da sua população, dos seus jovens deve ser a prioridade
par de todos os tumultos que estiveram na configuração das prioridades. Um povo educado é um povo informado e
e aplicação do projecto, importa ressalvar que esta foi e perspicaz. A auto-sustentabilidade das famílias deve ser
continua a ser uma oportunidade que toda a população assegurada pelas próprias, sempre que possível. O lixo
deve agarrar e considerá-la como sua prioridade. Cabe à que passeia pelas ruas não é da responsabilidade das au-
população de Rabo de Peixe dar vida a esses autênticos tarquias locais, nem do Governo Regional. É da respons-
instrumentos de trabalho e desenvolvimento comunitário abilidade de quem o atira ao chão. A população de Rabo de
que foram criados. Na esteira dos grandes feitos dos nos- Peixe não deve esperar que sejam os outros a resolver os
sos antepassados, acreditamos que os rabopeixenses da seus problemas, só em último recurso isso deve aconte-
actualidade precisam de vasculhar alguns baús sociocul- cer. Portanto, há que incutir uma vaga de valores que se
turais mais recônditos. Precisam de elevar a sua auto- perderam no tempo, ou que foram enviesados pelas von-
estima, de preservar a sua identidade cultural, de zelar tades e pelos facilitismos públicos. Temos a certeza que
pelos interesses societários de Rabo de Peixe. Acredita- Rabo de Peixe está pejado de valores emergentes que,
mos que é preciso acabar com o: “isso não me interessa”; infelizmente, se encontram subaproveitados. Portanto,
“os outros que venham cá resolver”; não tenho nada a ver o que falta à nossa juventude, à nossa população é um
com isso”! Mais do que nunca, os rabopeixenses necessi- maior envolvimento e entrosamento com as instituições
tam de fazer uma introspecção social e cultural, para que culturais, sociais, desportivas e políticas que permeiam a
possam identificar, conjuntamente, problemas e poten- nossa Vila. O que faz falta a Rabo de Peixe é valorizar a
cialidades locais. Admitimos que a população de Rabo de sua consciência colectiva, isto é, a sua cultura, as suas
Peixe tem a argúcia suficiente para dispensar ensinamen- pessoas, a sua imagem global. Como dizia alguém que me
tos menos próprios que se nos acometem diariamente. é muito querido, “bola para a frente”.

Carlos Estrela
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 3

A
EDUCAÇÃO
Carlos Estrela –(C.E.) Hoje em dia fala-se muito nas grandes
diferenças que existem entre a educação do antigamente e a
dos nossos dias. Como observa a educação do antigamente
com a dos nossos dias?
Senhora Professora Esperança(P.E.) – A educação do antiga-
DE
OUTROS TEMPOS mente baseava-se na trilogia Deus, Pátria e Família, o que hoje
em dia já não se pode dizer. Nós educávamos para Deus, para
a pátria e para a família, porque a família, era e ainda hoje é a
base da sociedade. Nós quando chegávamos à escola, tínhamos
“Era um ensino rigoroso, muito ri- à nossa espera o crucifixo, ladeado pelas fotos dos nossos pres-
goroso. Os exames eram rigorosos, identes, dos nossos governantes. Na sala de aula toda a gente
se benzia e rezava a Ave-maria. Às vezes também se cantava o
terríveis.” hino Nacional.
C.E – Nos nossos tempos, e sendo o Estado Português um Es-
tado laico, um Estado que não adopta e defende uma religião
em concreto, concorda com a abolição dos símbolos religiosos
das salas de aula?
Senhor Professor Amaral (P.A) - Essa decisão é de louvar, é
muito boa, porque ninguém pode obrigar uma pessoa a seguir
uma determinada religião. Ninguém pode dizer “tu vais para
essa religião, porque é melhor que a tua”!
P.E. – Eu tive uma aluna que hoje é uma mulher casada e com
filhos, que quando nós nos ponhamos em pé para fazer as ora-
ções dentro da sala, ela levantava-se mas ficava atrapalhada,
não dizia nada. A certa altura fiquei com a ideia que ou ela es-
tava a ser desobediente, ou se passava qualquer coisa. Eu de-
pois soube que a sua família era testemunha de Jeová. Por isso,
eu hoje concordo que haja liberdade quanto à escolha de uma
religião.

A
ntónio Jesus de Amaral faz 80 anos no próximo dia 14 C.E. – Tal como acontece nos nossos dias, a formação contínua
de Junho. Iniciou funções como professor no ano de de professores, como elemento fundamental na carreira do-
1951, tendo leccionado primeiramente em Rabo de cente, era obrigatória no antigamente?
Peixe, na Escola da Rocha Quebrada. Nos sete anos seguintes P.E. – Havia umas formações que, para mim, eram muito man-
leccionou na freguesia dos Remédios da Bretanha. Por muitos hosas. Eu nunca aceitei bem aquilo. Eu tinha um curso, um di-
considerado um homem cumpridor e exigente, guarda reli- ploma. Não precisava de mais nada, porque já estava preparada
giosamente muitas vivências e alegrias que conheceu ao longo para ensinar. A responsabilidade era minha. Se as formações
da sua vida profissional. Continua a ser um ícone na história da fossem dadas por pessoas mais graduadas, que nos trouxes-
educação em Rabo de Peixe. sem mais avanço, outra maneira de ensinar, eu até aceitava.
Maria da Esperança Alves Garcia, sua esposa, que também Mas quem é que dava os cursos de formação? O meu marido
completa 80 primaveras este ano, obteve formação na cidade chegou a dar, como outros. Mas eram iguais a nós e não está-
dos estudantes – Coimbra. Começou a dar aulas na freguesia vamos preparados para isso. Até me parece que hoje em dia
de Ribeirinha, aos 21 anos de idade. De memória bem fresca e isso continua. Há professores que estão a classificar os próprios
cintilante, recorda com saudade os tempos de outrora, onde, colegas. Quais são as habilitações que eles tem para isso?
para ela, como professora, a educação escolar era uma priori- C.E. – Em tempos já idos, consideravam-se figuras públicas,
dade incontornável. referências para a população em geral?
P.A. – Nós tínhamos o padre, o médico, o professor e o regedor.
Às vezes juntávamo-nos no adro da Igreja para debater assun-
tos do quotidiano de Rabo de Peixe. Eram conversas informais
que tinham o propósito de resolver alguns problemas da nossa
freguesia. Quando acabavam essas conversas ia para casa e
sentia-me mais leve. Era como um desabafo necessário. Ao fim
e ao cabo éramos os representantes das autoridades em rabo
de Peixe.
C.E. – Hoje em dia, ao ligarmos o televisor, somos invadidos com
cenas de violência de alunos contra professores. O que acham
sobre isso?
P.E – Eu não queria ser professora agora. Essa violência é gera-
da, em primeira instância, pela falta de educação dos pais. Se os
pais não tem educação, se não receberam, não podem dar aos
filhos. Antigamente nós só castigávamos um aluno quando ele
merecia. E fazia sempre questão de avisar os pais dos alunos
sobre o comportamento desses.
4 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

C.E. – Alguma vez receberam algum comportamento mais im- e outras coisas. Os antigos eram mais válidos em conteúdo e
próprio da parte de alguns pais? conhecimentos. As lições, as aulas giravam sempre em torno
P.A .– Eu tinha o meu próprio método de trabalho em relação do “Deus, Pátria e Família”.
aos pais dos alunos. O primeiro dia de aulas não era para os alu- P.A – Quando estava a estudar pertenci à Mocidade Portu-
nos, era para os pais. Sempre tive o cuidado de conhecer os pais guesa. Era motivo de orgulho poder vestir a farda da Moci-
dos alunos e manter com eles uma relação institucional forte. dade. Muitos não a vestiam porque não tinham possibilidades
Apesar disso, e apenas uma única vez em toda a minha vida financeiras para comprá-las. Até aí havia exclusão social, en-
profissional, fui confrontado com uma avó de um aluno. Disse- tre os que podiam e os que não podiam comprar a farda.
me “o senhor não bate mais no meu neto”. Isso aconteceu CE. – Como era feita a divisão dos alunos?
porque um dia tive de me ausentar da sala de aula e deixei lá P.E. – Era tudo separado. Eu só tinha meninas a meu cui-
o meu casaco. Um aluno, neto desta senhora, roubou-me dez dado. A Escola da frente (actual Escola António Tavares Tor-
dólares que eu tinha recebido do meu primo José Guilherme, res) era das meninas, enquanto que a outra voltada a Sul era
que se encontrava nas Bermudas. dos rapazes.
C.E. – E havia uma boa comparência dos pais? P.A. – Fui Director da Escola durante muitos anos. Tinha a
P.A. – Todos eles apareciam, se bem que já nos últimos anos missão de ensinar os alunos e coordenar os trabalhos com
que trabalhei, muitos eram os que faltavam. Muitos já não que- os outros professores. Admito que era muito pontual e exigia
riam saber da educação dos filhos, já não se interessavam. a mesma pontualidade aos outros professores. Às vezes vin-
C.E.- Numa situação em que um aluno não cumprisse com o ham de Ponta Delgada três ou quatro professores no mesmo
exigido, quais eram os castigos aplicados? carro. E se um se atrasasse, todos os outros se atrasavam.
P.A. – Haviam os castigos corporais, como eles diziam. O carolo Além dos atrasos o problema também tinha a ver com a bal-
era o que melhor resultava. A reguada também era muito usada. búrdia que se instalava na escola. Os alunos ficavam desori-
Os meus alunos quando levavam reguadas já sabiam por que entados e provocavam alguma desordem. Alguns profes-
era. Levavam e, muitas vezes, eu dizia “já sabes que tens que sores, com vergonha, quando chegavam atrasados tentavam
saber a tabuada”. Mas, muitas vezes, não éramos nós que dá- entrar de forma encoberta, para ver se se safavam do direc-
vamos. Eram os próprios colegas, melhor comportados e mais tor. Mesmo hoje, se todos nós fossemos pontuais, o mundo
cumpridores que, com a permissão do professor, castigavam era melhor.
o aluno menos aplicado. Os que levavam uma reguada, no dia C.E. - A carga horária exercida antigamente era suficiente?
seguinte vinham com a lição sabida. Não haviam as máquinas P.E. – Não. As quatro horas que tínhamos por dia, não eram
calculadoras e os computadores como hoje existem. Os alunos suficientes. As alunas que tinham mais dificuldades de
tinham que ter tudo “enfiado” na cabeça. aprendizagem, iam para a minha casa aprender. Dava ex-
C.E. – Com as demais diferenças que existem com o ensino con- plicações gratuitas em minha casa. Eu nunca saia da escola
temporâneo, como definem as formas antigas de ensino? bem comigo própria. Dizia sempre para mim “amanhã venho
P.A. – Era um ensino rigoroso, muito rigoroso. Os exames eram mais cedo para ensinar mais um pouco àquela”.
rigorosos, terríveis. C.E. – Actualmente, havendo outros meios e veículos de co-
P.E. – Eu, por vezes chegava a ter pena dos alunos. Os nossos municação, como a internet, acham que a aprendizagem dos
colegas examinadores, professores como nós, naqueles dias de alunos poderá ser facilitada?
exames pensavam que eram de nível superior. Faziam pergun- P.E – Apesar de eu não perceber muito da internet, eu acho
tas muito difíceis aos alunos. Os exames tinham as suas compo- que é muito bom para adquirir mais conhecimentos e sa-
nentes escrita e oral. Nos ditados não se podia dar mais do que beres. À parte disso, eu ainda hoje me pergunto como é que
cinco erros. crianças que entravam para a escola no mês de Outubro, em
P.A. – Em toda a minha vida, e no papel de examinador, nunca Dezembro já sabiam escrever algumas palavras. A apren-
reprovei um aluno. A não ser uma rapariga que, coitada estava dizagem era mais rápida.
tão nervosa e não fez nada certo. O júri era composto por três C.E. – Como se comportavam as taxas se sucesso/insucesso
professores: um de geografia, outro de história e outro de por- dos vosso alunos?
tuguês. P.A. – Nem toda a gente passava de ano. Por exemplo eu, da
P.E. – Os examinadores eram muito exigentes. Eu acho que hoje 1ª para a 2ª classe passava em média 65% dos alunos. Da 2ª
em dia há alunos no 2º ano que não sabem metade da gramática para a 3ª cerca de 70%. Da 3ª para a 4ª à volta de 70% a 80%.
que aqueles coitados sabiam naquele tempo. Na 4ª classe passava entre 90% a 100%.
P.A. – Ainda hoje, tenho um ex aluno meu, que vem à nossa ro- C.E. – O que acham que pode influenciar o grau de aproveita-
maria todos os anos e me diz que ensina aos netos o que apren- mento dos alunos?
deu comigo. Está emigrado nos Estados Unidos e dá graças a P.A. – Quando vim da Bretanha para Rabo de Peixe, estra-
Deus pelos tabefes que levou na escola. Segundo ele, levou e nhei imenso a inteligência dos alunos. Os de lá eram muito
aprendeu à custa disso. mais espertos. Tinham melhores condições de vida. Em Rabo
C.E. – Seguindo os desígnios do Estado, e sendo os próprios de Peixe passava-se muita fome, muita miséria, penava-se
manuais da altura censurados pelo próprio Estado, acham que muito. E isso condicionava o aproveitamento das crianças.
os manuais escolares de hoje são mais educativos que os de Sem uma mesa em casa, como faziam as crianças os tra-
outrora? balhos de casa. No chão!
P.E. – Os assuntos abordados pelos manuais de hoje não são tão Alguns iam para a escola sem comer nada. Custava muito
instrutivos como os antigos. Os de hoje divagam muito, tem mui- dar uma reguada numa criança nessas condições.
tas imagens e isso pode levar os alunos à distracção. Os antigos Na escola alguns pediam-me para ir à casa de banho. Nesse
traziam mais cultura. Os de hoje são muito infantis, até trazem entretanto aproveitavam-se e iam vasculhar as cestas dos
historiazinhas de bichos colegas à procura de comida. A fome era muita.
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 5

“Antes via-se que eram


“A nível de comportamento e
aprendizagens há diferença, agora
preocupados com os tes- está muito pior, são crianças muito
tes, agora o material fica mal-educadas, não se interessam
pelo trabalho devido ao facilitismo
em casa.” que há hoje. Antes via-se que eram
preocupados com os testes, agora o
material fica em casa. A nível de fun-
cionamento esta escola já teve mel-
hor, as regalias são as mesmas. Não
concordo com o novo sistema de edu-
cação e os próprios professores não
têm autoridade sobre os alunos existe
muito desrespeito; nem os proces-
sos disciplinares funcionam porque
as crianças podem ficar traumatiza-
das. Também o facto de haver turmas
P.E.R.E.S. as crianças mais pequenas
aprendem com os maiores o que não
é bom.” “Os alunos agora não res-
peitam ninguém, enquanto
Eugénia Gouveia antigamente aprendia-se
Trabalha há 21 anos na escola
Rui Galvão de Carvalho
à base do medo.”
Auxiliar da Acção Educativa de 2º nível

“H oje em dia as condições para

AS DIFERENÇAS
os funcionários são melhores, mas
as aprendizagens não são significa-
tivas. Os alunos agora não respeit-
am ninguém, enquanto antigamente

ENTRE A ESCOLA DE HOJE aprendia-se à base do medo. Agora


responde-se muito aos professores
enquanto antes havia medo tanto dos
E A DE ANTIGAMENTE pais como dos professores. Os casti-
gos eram benéficos porque aprendia-
se que da próxima vez já não se fazia.
Agora com as tolerâncias todas as cri-
anças não sabem escrever o seu nome
nem ver horas, isto está muito mal.”

Donária Borges
Trabalha há 24 anos na escola
de rabo de peixe
Cozinheira principal
6 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

D
esde Cedo, me sentiu chamado por Deus, voca- Olhando em retrospectiva a minha peregrinação, camin-
ção que foi confirmada na minha ordenação sac- hada de fé, realmente só tenho que agradecer. Em minha
erdotal. alma proclamo o cântico “magnificat” como Maria e, junto
A cada dia que passa, tenho mais certeza que a vocação a Ela, agradeço ao Pai pelas grande coisas que fez e faz
é mais um dos mistérios de Deus, que se vai descobrindo em mim e pela grande misericórdia que tem para comigo.
ao longo da vida. O caminho da minha vocação – creio que como o de todos
Poso dizer que a minha história vocacional, começou na os que decidiram seguir Cristo – teve e tem também as
família. Meu pai era um homem bom e honesto, amante suas dificuldades. Contudo a imensa bondade de Jesus
da vida familiar. Minha mãe, mulher profunda religiosa, sempre me levantou e animou a seguir a diante. É por
cumpria muito bem sua missão de dona de casa, dedi- isso que agradeço ao Senhor todos os dias as forças que
cada completamente à educação dos seus dois filhos. me tem permitido levar a cabo as tarefas que são iner-
Era uma grande mulher. Lembro minha infância com entes ao múnus sacerdotal.
muito carinho, crescendo num ambiente simples, mas Ao longo destes anos de sacerdote também encontrei
imbuído de grandes valores morais e religiosos. e encontro, pessoas paroquianos briosos da sua missão
Também não posso deixar de mencionar a minha pro- na Igreja e no mundo, com projectos e sonhos, com von-
fessora primária (primeiro ciclo) e catequista que me aju- tade férrea de se sentirem inseridos e comprometidos na
dou a crescer e a esclarecer os caminhos do bem e do sociedade, como mulheres e homens e como cristãos, na
mal. Uma mulher que tinha uma grande paixão pelo que construção de mais Igreja, mais e melhor sociedade. Bem
fazia e queria a Deus e aos outros com todo o seu cora- hajam! Não podemos esquecer o que nos diz a sabedoria
ção. bíblica: é feliz o povo que se enobrece e dignifica com os
Recordo, ao mesmo tempo, outra pessoa que, naquela méritos e virtudes benéficos dos seus filhos.
altura, me apoiou no começo da minha vocação, pela sua

A RELIGIÃO
integridade humana, moral e religiosa - Pe Mariano Fur-
tado Mendonça, que foi pároco na minha paróquia natal,
Rosário da Lagoa.

HOMEM
Após a escola primária, o tempo do seminário, cinco
anos em Ponta Delgada e oito anos em Angra do Heroís-
EO
mo, foi o lugar onde me foi proporcionado o tempo de
amadurecimento vocacional.
Aceitar a vocação não é fácil, porque implica muita
renúncia. No entanto, todas as opções e naturalmente
caminhos da minha vida, têm as suas renúncias, acres-
“A cada dia que passa, tenho mais
centando que nesta minha caminhada vocacional tive mo- certeza que a vocação é mais um dos
mentos altos e baixos, mas nunca senti um vazio total da mistérios de Deus, que se vai desco-
presença de Deus e daquilo que Ele me convidava e con- brindo ao longo da vida.”
vida a fazer. Aceitei e aqui estou - e sabem como – feliz!
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 7

P
erante o secularismo que alastra na sociedade A juventude de hoje sofre uma profunda frustração.
destas ilhas açorianas e, também, entre nós, fr- Sente-se estrangeira no seu próprio mundo, sem espaço,
ente ao novo contexto social, económico e políti- sem oportunidades, sem vez
co: diante da fragilidade de compromisso na construção A insegurança por relação ao futuro profissional, mat-
dum mundo com critérios evangélicos; à vista das novas rimonial e social, leva a uma tendência ao adiamento, em
condições de vida que se desenham para a família, é difí- alguns casos, mesmo de decisões importantes da vida.
cil, para a Igreja e para os cristãos comprometidos, re- Lamentavelmente, uma larga fatia dos nossos jovens
sponder a estes desafios, sobretudo, porque lhes é exigi- deixa-se conduzir, em muitos casos, pela alienação fácil
do, perante uma menor disponibilidade de voluntariado, da droga e do álcool.
num mundo vertiginoso e repleto de seduções de conforto Contudo verificamos que, no meio destes flagelos sociais,
como o nosso, um maior envolvimento na missão evange- surgem felizmente jovens, que são capazes de se entusi-
lizadora da Igreja e nos movimentos religiosos que a nos- asmar pelos valores da verticalidade, seriedade, verdade,
sa paróquia te. Entre muitas outras responsabilidades, pelos valores da justiça e do amor desinteressado.
que são acometidas aos cristãos conscientes. Constato, ao fim destes anos como sacerdote, que al-
De facto, em tempos passados, a maneira como se guma juventude tem muito pouco entusiasmo para aceitar
definia a Igreja, levava a que a mesma fosse obra dos pa- as regras da sociedade e sente a dificuldade decorrente
stores. Depois do Vaticano II, com sua nova visão de igreja de acreditar em valores mas não ser capaz de os por em
e dinâmica própria, a comunidade cristã assume o papel prática.
central e primário de toda a edificação eclesial. Os nossos jovens, têm muita dificuldade em promover,
Uma Igreja que é encarada e vivida como Povo de Deus, para si e para o meio em que se inserem, relações que
corpo de Cristo – na prática, comunidade cristã – terá sejam para durar.
como agentes do seu trabalho pastoral, ou seja, da sua Cada uma das dificuldades dos jovens devem ser para
edificação e de apresentação da salvação ao mundo, to- diversas instituições, e, portanto, também para a Igreja,
dos os que constituem o tecido do seu corpo: presbíteros, um desafio à sua capacidade inventiva de caminhos de in-
diáconos, religiosos e leigos. tervenção.
A consciência de que todos os membros da Igreja, a Neste sentido é necessário dar corpo a atitudes com-
partir do Baptismo, Confirmação e Eucaristia, São de portamentais, designadamente, apostando numa efectiva
facto, participantes na sua missão, é algo que deve ser necessidade educacional, que induzam à criação de men-
incutido aos cristãos/paroquianos. talidades renovadas.
Há que trabalhar, temos cristãos conscientes disto, Sem esquecer que a jovem precisa, sempre necessi-
para que a acção pastoral tenha vários construtores com tará, de encontrar nos adultos modelos de segurança e de
tarefas próprias, na sua missão, é algo decisiva e comu- caminho feito, é de promover toda a acção tendente a fazer
nitária que é a de toda a Igreja. crescer o sentido apostólico do próprio jovem, de modo
A igreja, os cristãos tem, assim que apostar na forma- que ele se torne evangelizador do outro jovem.
ção: formação das crianças na catequese; formação dos Permitam-me ao responder a esta pergunta, levantar,
catequistas; formação dos jovens e famílias; formação finalmente, as seguintes questões:
dos vários agentes pastorais e dos membros dos movi- Que poderá fazer a paróquia pelos seus jovens?
mentos. Será que ainda é o meio onde se pode desenvolver uma
pastoral juvenil, séria e profunda?
Não irá que, em relação aos jovens dever-se iam privi-
legiar os meios – sobretudo o escolar como espaços de
actuação?
Quaisquer que sejam as respostas, não se podem es-
quecer, que toda a pastoral deve sempre chegar à ligação
a uma comunidade cristã. É na paróquia que ainda hoje, se
configura e espero se configurará a comunidade eclesial
modelar, por ser a casa de todos cristãos.
Neste sentido, apraz-me registar que na nossa comu-
nidade paroquial existem cerca de 1500 crianças, adoles-
centes e jovens, em idade de catequese, entre os seis e
dezoito anos, com o empenhamento de mais de cem cateq-
uistas, bem como um grupo de Legião de Maria Juvenil e
um grupo de jovens.
Finalmente, é meu entender que se deve procurar, ainda,
a formação cristã da juventude em pequenas comunidades
cristãs específicas mas sempre abertas à comunhão com
o todo mais vasto da comunidade paroquial/eclesial.

Padre Duarte Moniz


8 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

HISTORIAL DO GRUPO CORAL DO SENHOR BOM JESUS Pouco tempo depois foi convidado para a regência do
O Grupo Coral do Senhor Bom Jesus, de Rabo de Peixe, Grupo Coral o músico profissional Roberto Moniz e de
foi criado no mês de Novembro, de 1976, por jovens entu- seguida António Pedro Costa.
siastas, que decidiram por fim ao marasmo em que vivia Daquela altura apenas restam os Senhores Leonildo
a Paróquia do Senhor Bom Jesus, no que diz respeito à Botelho Medeiros e José Martins e a Senhora Conceição
animação litúrgica, pois recorria-se, frequentemente, a Vieira.
Grupos Corais de outras localidades, para as solenes eu- Passaram 32 anos e o sonho daquele grupo de jovens
caristias que se realizavam na Igreja. ainda está bem vivo, confirmando-se neste ano de 2008,
que os receios do Pe António Vieira foram, felizmente, in-
Apesar da resistência passiva do Pároco de então, pelo fundados.
facto de outras iniciativas não terem resultado, tudo foi O Grupo Coral tem sido um elemento fundamental na
pensado e devidamente organizado, tendo sido convidada animação litúrgica das várias e importantes festividades
para organista a Senhora Teresa Fraga, Professora de que são levadas a cabo em Rabo de Peixe, tendo o Coro
Música e o Senhor Leonildo Medeiros para abrilhantar participado ainda em eventos litúrgicos noutras zonas da
com o seu Violino. A Lúcia Ferreira e a Valdomira Andrade Ilha, bem como em festivais religiosos.
foram a alma do novel grupo, que o regiam, colaborando O Grupo Coral do Senhor Bom Jesus tem a noção exacta
as vozes, entre outras, da Maria de Jesus Silva, Amélia da necessidade do seu desempenho de louvor a Deus,
Silva, Conceição Vieira, Virgínia Teixeira, as Irmãs Meire- consciente que os católicos desta Paróquia bem mere-
les e o José Martins. cem o esforço e denodo do Grupo, pois tem sentido ao
Depois da sua constituição, o Grupo passou sempre a longo destes 32 anos o seu apoio e carinho.
contar com o apoio inexcedível do Pároco, Pe. António Anualmente, os seus vinte e cinco a trinta elementos
Vieira. juntam-se todas as Quinta-feiras, para o ensaio dos cânti-
Seguiram-se como Organistas os Senhores José Bap- cos próprios para cada Domingo. No entanto, realizam-se
tista Martins Amaral, Carlos Alberto Frazão Fraga, o vários ensaios semanais, por ocasião dos tempos festivos,
Jorge Frazão Fraga e as Senhoras Paula Frazão Fraga e como Natal, Festa do Padroeiro no 1º dia do ano, Semana
Natália Pacheco. Santa e Páscoa, Festividades dos Pescadores, da Bene-
ficência, da Caridade e de Nossa Senhora do Rosário, en-
tre outras.

MOVIMENTOS
DA IGREJA
“O Grupo Coral tem sido um elemen-
to fundamental na animação litúrgica
das várias e importantes festividades
que são levadas a cabo em Rabo de
Peixe...”
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 9

Alguns elementos do Grupo participam em acções de for-


mação de animação litúrgica, que têm lugar em S. Miguel
ou em Fátima. JUVENTUDE
Felizmente, a esmagadora maioria dos jovens de Rabo
de Peixe tem um ideal nobre e procura a todo o custo um
CONSELHO PASTORAL rumo para o atingir. Como tudo na vida, o caminho a per-
O Conselho Pastoral da Paróquia do Senhor Bom Jesus correr é sinuoso, o que por vezes desencoraja
é um organismo da Igreja, composto por representantes alguns.
de todos os movimentos paroquiais, bem como leigos in-
dicadas pelo Pároco que o coadjuvam na condução dos Rabo de Peixe, sendo uma terra em que a maior parte
destinos da Paróquia. da população tem menos de 25 anos, precisa de uma
atenção redobrada para as problemáticas da sua juven-
A sua actividade é essencialmente de análise e acon- tude. Infelizmente, neste caso, importa fazer muitíssimo
selhamento quanto aos programas pastorais, quer sejam mais, pois o betão é, manifestamente, insuficiente para
diocesanos ou da Ouvidoria ou mesmo um acompanha- debelar as dificuldades que os jovens enfrentam, no dia
mento das iniciativas da Paróquia. a dia.

O muito que se faz é, notoriamente, pouco e a juventude


tem de ser chamada a intervir com mais assiduidade,
devendo ser incentivada a envolver-se mais no
associativismo, na participação cívica, e no
empreendorismo das diversas iniciativas
públicas.

António Pedro Costa

“Jovens do ideal nobre e


procura a todo o custo de
um rumo para o atingir.”
10 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

ACÇÃO CATÓLICA RURAL


Temos 9 membros a finalidade da acção católica é
evangelizar. Abrange tudo o que tiver ao nosso alcance.
Ou seja: Ver, Julgar e Agir.
Falar dos jovens para mim é pena a influência que por
vezes não é muito boa. Mas ainda há jovens bons, alguns
vão á missa, depende da personalidade de cada um.

Presidente:
Maria Estrela Penacho Leite

MENSAGEM DE FÁTIMA
O nosso grupo toma conta de 45 oratórios de nossa sen-
hora de Fátima que estes são para percorrer toda a nossa
vila de casa em casa fica 24 horas em cada uma.
Para mim os jovens não vão á missa porque os pais não
os ensinaram assim eles próprios não aparecem lá e as-
sim os filhos fazem o mesmo ou pior.

Presidente:
Maria Adriana Vieira Furtado

ORAÇÃO BÍBLICA
Existem 10 membros o nosso trabalho é debruçarmos
sobre as leituras do próximo domingo, interiorizamos as
mesmas. Compreendemos melhor o sentido das leituras
do domingo seguinte.
Quanto aos adolescentes, estes têm muito desinteresso
pela igreja, mas os pais nisto são os responsáveis.

Presidente:
Maria Teresa Costa Melo Raposo

ESPERANÇA E VIDA (VIÚVAS)


Há uma missa mensal por alma dos maridos, onde cada
viúva leva o nome do seu e o padre lê todos ou seja aquela
missa é celebrada por alma dos já falecidos das presentes
viúvas. Anualmente no dia 2 de Novembro dia das almas
há uma missa que chamem (os ofícios) onde dão uma vela
com uma fita com o nome da pessoa já falecida de todos
os mortos do ano inteiro.
Os jovens estão muito afastados da igreja, para mim a
culpa é dos próprios pais que não dão o exemplo.

Presidente:
Maria Adriana Vieira Furtado
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 11

VICENTINOS CURSISTAS
Temos 17 membros o nosso trabalho é visitar os doentes O nosso objectivo é convidar cada vez mais pessoas
apoiar os mais necessitados em especial os acamados. a fazerem parte da nossa igreja, ou seja (a igreja so-
Os jovens cada vez estão mais afastados ainda existe mos nós).
alguns que por vezes alguém de algum movimento con- Cada vez se vê menos jovens na igreja ainda bem
segue leva-los á igreja. que existe alguns movimentos, isto tem ajudado.

Presidente: Presidente:
Auxiliadora Martins Auxiliadora Martins

LEGIÃO MARIA SENIOR


Temos 19 membros todas nós fazemos visitas ao domi-
cilio semanais aos hospitais, lares, centros de saúde
etc.…quem necessita nós ajudamos. Uma vez por ano há
os enfermos neste dia também percorremos todos eles.
Quanto aos jovens a igreja deveria incentivar os jovens
ou seja chamá-los para a palavra de Deus. Já que muita
vez os pais não o fazem.

Presidente:
Zélia Maria Botelho Martins
12 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

FALAR Carlos Estrela (C.E.) Nome e idade?


Maria Helena (M.H.) Maria Helena Carreiro (Nena), 42 anos

DE... (C.E.)-Musicas e autores preferidos?


(M.H.)-Quando estou a trabalhar gosto muito de música calma, como il divo,
Andre Bocelli, ou simplesmente música instrumental, mas também gosto de
música mexida quando estou mais descontraída com amigos, ou numa festa.

(C.E.)-Passatempos preferidos?
(M.H.)-Há muito tempo que não tiro um momento para passar o tempo só por
passar, o que me faz ter saudades de ler um livro, pois tenho quatro livros na
mesinha de cabeceira. Gosto de ver programas de comentários na TV. Hoje
em dia junto o útil ao agradável e passo uns minutos no intervalo do trabalho a
visitar blogues de amigas para saber as novidades e trocar ideias com elas.

(C.E.)-Quais as suas realizações na área do artesanato?


(M.H.)-Gosto de fazer um pouco de tudo, mas adoro mais o ponto cruz e se for
trabalhos diferentes melhor ainda, neste momento tenho quatro trabalhos
que já comecei. Uns em ponto de cruz, tricô, rechelieu e croché, aos poucos
os vou fazendo, já que tenho muito trabalho e vou tentando controlar o que
tenho que fazer.

(C.E.)-Que futuro vê no artesanato?


(M.H.)-Neste momento, vejo um futuro muito bom, se for para falar no arte-
sanato em geral. O artesanato feito à moda antiga é muito difícil de se encon-
trar quem o faça; no artesanato moderno, digamos assim, é muito procurado
pois temos muitas mulheres a fazer Artesanato hoje em dia de várias idades
e de diferentes estratos sociais. Acho que já passou a época em que não se
falava de artesanato como agora. Tenho encontrado muitos blogues de pes-
soas do continente e de cá que fazem artesanato por gosto. Os materiais não
são muito baratos por isso a peça fica às vezes um pouco cara, mas há muitas
mulheres a fazer. Para si ou para familiares.

(C.E.)-Acha que em Rabo de Peixe falta um sítio que possa publicitar os tra-
balhos das pessoas que não chegam as lojas?
(M.H.)-Sim, temos muitas mulheres aqui em R. de peixe que fazem artesan-
ato por gosto e que gostariam de ter um sítio, tipo um atelier de Artesanato,
em que elas pudessem aprender outros estilos de trabalhos, trocar ideias e
por os seus trabalhos a vender, um sitio que tivesse produtos diferentes do
que elas estão acostumadas, pondo em pratica novas ideias.

(C.E.)-Que dificuldades sentem as pessoas deficientes em Rabo de peixe e


na R. Grande?
(M.H.)-Muitos edifícios em Rabo de Peixe já têm rampa de acesso, mas ainda
vai levar muito tempo para que as pessoas façam mais e melhor. Isso só tem
a ver com mentalidades, e sei que quanto a isso vai levar ainda algum tempo
até as pessoas se aperceberam que se cada um fizer o que lhe compete se-
ria muito diferente, na Ribeira Grande tenho sorte que a rua principal seja
direita, mas tenho problemas com os passeios, pois tenho que andar a maior
parte da rua fora dos passeios, e só entro nas lojas que não tem degraus, o
que faz com que eu entra em poucas lojas, o que é bom para elas, pois faço
compras lá e divulgo os seus produtos. Por isso, eu ganho por poder ir lá,
mas eles também ficam a ganhar por me terem como cliente, porque muitas
vezes divulgo os produtos que têm.
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 13

(C.E.)-Como olha a sociedade de Rabo de Peixe para as (C.E.)-Que sonhos gostava ainda de realizar?
pessoas com deficiência? (M.H.)-Comecei há alguns anos a ver se podia abrir um
(M.H.)-Ainda há um pouco de preconceito, mas se me atelier de Artesanato, sabia que não seria fácil, mas a
lembrar de há dez anos atrás, em que sair à rua era sinal maior dificuldade foi perceber como enfrentar todos os
que iria ouvir comentários pouco apropriados, hoje em dias o transporte, as ruas difíceis e, como todos os negó-
dia há muito menos, é sinal que as pessoas nos estão a cios, no princípio têm sempre alguns problemas e com
aceitar mais; hoje em dia existem muitos deficientes por as minhas dificuldades físicas seria difícil eu aguentar
causa de acidentes de carro, fazendo com que as pessoas tudo, mas faço um pouco isso em minha casa; fiquei com
não pensem que “coitadinho do deficiente”, já que se lem- um pedaço deste sonho que era ter um atelier. Há dias
brem que ele antes era uma pessoa normal e que agora em que parece que o meu quarto é um atelier; vêm cá
tem os mesmos problemas que as pessoas com deficiên- pessoas para querer aprender algo, outras à procura de
cia; cada vez mais a sociedade está a mudar, tanto as pes- material ou só para pedir conselhos e trocar ideias; faço
soas normais como os deficientes, a mentalidade de uma os gráficos de fotografias, dou o material e acompanho o
pessoa com deficiência de hoje em dia é muito diferente trabalho até acabar, estou sempre disponível para o que
do que era há uns dez anos atrás. precisarem, sei que é um trabalho difícil por isso dou o
apoio que necessitem, outro sonho que gostava de re-
alizar? Ainda estou a começar o projecto.

(C.E.)-Que mensagem tem para as pessoas que não vêm


futuro ou esperança na vida?
(M.H.)-Que parem um pouco neste momento e pensem
“se tivessem de cadeira de rodas o que estariam a fazer?;
E como acharia que o problema que elas estão a passar
se ia resolver?”. A minha vida não é fácil e ver as pessoas
a complicarem a sua vida e às vezes com pequenos prob-
lemas, e há tanta coisa para se fazer e viver, sei que não
é só querer e as coisas acontecem, mas por favor estão a
perder tempo a queixarem-se e isto não nos leva a lugar
nenhum.

Contactos?
Digo por brincadeira que “eu vivo numa cadeira por en- Meu blog. http://nenacores.blogspot.com/
gano porque no meio um pouco fechado aonde nasci devia Meu e-mail nena637@hotmail.com
estar todo o dia a ver novelas e a falar só por falar”, ao Meu telem. 911001368
contrário disso, passo o dia a trabalhar e quando tenho
que falar é para falar com pessoas do todo o mundo sobre Maria Helena Carreiro
as novidades do Artesanato, os novos materiais, as novas
ideias, é assim que se ajudam as pessoas normais a lidar
connosco, a sermos normais com a nossa deficiência.
14 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

D urante muitas e árduas décadas, Rabo de Peixe


nunca possuiu um porto de pescas de corpo inteiro.
Tivemos sempre o que vulgarmente se chama varadoiros,
isto tanto no Estado Novo, como igualmente na Era dos
vinte primeiros anos de Autonomia, nos quais não se in-
vestiu no sector das pescas como era necessário e mere-
cido.
Só em meados de 2000, surge a construção dum porto
capaz e, que se encaixa verdadeiramente esta denomi-
nação, aparecendo posteriormente também as casas de
aprestos, onde os pescadores guardam os seus aparelhos
de pesca. É de referir, na altura, as discordâncias e difer-
entes pontos de vista relativamente ao posicionamento do
porto, havendo muita contestação e desacordo, as quais
foram colmatadas com a deslocação do molhe principal,
como também com a promessa por parte do Secretário
Regional da Habitação e Equipamentos de ser construído
mais tarde um contra-molhe que partiria de S. Sebastião
e seria aumentado em dois metros de altura o molhe já
existente, para se ficar com um porto realmente seguro e
com uma capacidade diferente com vista ao acolhimento
das embarcações, maioritariamente de pesca artesanal.
Os anos foram-se passando e, infelizmente, as obras
de ampliação desta infra-estrutura portuária nunca se
realizaram, não obstante a insatisfação dos armadores e
pescadores pelo perpetuar da situação.
De facto, os homens do mar de Rabo de Peixe estão
coesos e unânimes na necessidade indispensável de se
construir um contra-molhe para se ter condições de se-
gurança reais no seu porto de pescas, assim como au-
mentar a área de estacionamento das embarcações, que
já começa a estar sobrelotada.
É claro, que o Subsecretário Regional das Pescas na
visita que efectuou ao local para estudo do problema, não
deu uma resposta afirmativa nem definitiva. Espera-se
que se não vá para resoluções mais baratas, que saem
mais caras posteriormente. Há que investir no realismo
das coisas, sem nos iludirmos com soluções intermé-
dias.
Em suma, os fundos comunitários para remodelação
dos portos vão até ao ano 2013. Cabe a este Governo Re-
gional accionar os mecanismos neste sentido, porque es-
tamos na altura certa para o fazer. As associações repre-
sentativas dos pescadores e armadores não vão esquecer
este problema tão importante, conjuntamente com todos
aqueles e aquelas que sobrevivem do mar.
Rabo de Peixe, 11 de Novembro de 2008

PORTO
Luís Carlos Brum
*
*Também publicado em “Voz dos Marítimos”

UM

SEGURO
MAIS
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 15

PARA

RABO
DE PEIXE
“De facto, os homens do mar de Rabo
de Peixe estão coesos e unânimes na ne-
cessidade indispensável de se construir
um contra-molhe para se ter condições
de segurança...”
16 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

Com efeito, apostados que estamos


na promoção da integração social
dos jovens, no desenvolvimento das
suas capacidades de inovação úni-
cas, do seu espírito empreendedor e

DIRECÇÃO
da sua criatividade, o próximo passo
direcciona-nos, obrigatoriamente,
para o envolvimento directo dos jo-

REGIONAL
vens no desenvolvimento local. A
grande aposta é a integração da As-
sociação Juvenil de Rabo de Peixe
DA num conjunto muito abrangente de

JUVENTUDE
entidades públicas e privadas para
a gestão de um Programa que, para
além da costumização dos jovens com
as novas tecnologias da comunicação
e informação, preconiza, um conjunto
de apoios e serviços de informação

E
m primeiro lugar, quero sau- destes fins: na recuperação das abrangentes que incluirão todas as
dar a AJURPE por, uma vez áreas que aos jovens respeitem, desde
tradições populares; na protecção do
mais, ter a coragem de edi- a habitação, à saúde, ao emprego, à
património cultural e ambiental; na
tar o AJURPIM e, em segundo lugar, formação Profissional. Enfim, acima
promoção de actividades de carácter
agradecer a oportunidade que nos de tudo, procuramos aproximar, cada
cultural, desportivo e recreativo, pro-
dá para nos dirigirmos a todos os jo- vez mais, os jovens de Rabo de Peixe
curando, participação inclusiva dos
vens e, de forma muito particular, à jovens. dos seus direitos e dos seus deveres,
juventude de Rabo de Peixe, a quem no sentido da implementação de es-
Estamos cientes de que a reflexão
se coloca uma vasta problemática de tratégias de desenvolvimento local,
sobre a temática do desenvolvimento
desenvolvimento local, bem como um aplicáveis ao contexto da juventude
local não pode acontecer à margem
conjunto de desafios resultantes das que sabemos empenhada no de-
dos jovens, nem os jovens poderiam
imensuráveis transformações das so- senvolvimento e na melhoria das
permitir que tal acontecesse. E é este
ciedades. condições de vida da sua comunidade,
trabalho conjunto de formulação de
Reflectir sobre o papel da AJURPE que pretende cada vez mais pujante,
questões e noções abrangentes, con-
no contexto local, é situá-la no centro económica, social e culturalmente.
sideradas como directamente conex-
dos desafios que, hoje, se colocam ao as com a temática do desenvolvimento
associativismo juvenil como eixo fun- local que se apresenta como um novo
damental da participação dos jovens desafio que a Direcção Regional da Eng. Bruno Pacheco
na sociedade, ou seja, como catali- Juventude vem lançando aos jovens Director Regional da Juventude
sador da energia empreendedora da açorianos.
juventude, desempenhando um papel Neste contexto, a Associação Ju-
formativo e pedagógico, fomentando venil de Rabo de Peixe constitui ex-
o espírito de participação cívica e a emplo de parcerias fundamentais
aprendizagem democrática. na concepção e dinamização de pro-
Cada vez mais, o Governo dos Açores jectos que valorizam competências
preconiza uma política global e in- que, adquiridas por via não formal,
tegrada de valorização da Juventude constituem elemento fundamental
como protagonista determinante na do projecto de vida de cada jovem, de
construção do presente e do futuro, cada cidadão. Ao conhecimento da
proporcionando-lhes condições para realidade local, à mobilização e ad-
que possam afirmar-se melhor como esão dos jovens para as diversas ac-
cidadãos solidários, responsáveis, tividades que a AJURPE desenvolve,
activos e tolerantes em sociedades às condições que as novas estruturas
plurais. físicas que Rabo de Peixe tem, o Gov-
Por outro lado, não deve ser igno- erno, através da Direcção Regional da “Estamos cientes de que a
rado o lugar significativo que estas Juventude regista um forte contributo refexão sobre a temática
associações ocupam na prevenção que abrangerá, para além do desen-
de situações críticas, que entron- volvimento de acções de voluntari-
do desenvolvimento lo-
cam na marginalização social de jo- ado, de actividades de Ocupação dos cal não pode acontecer à
vens. Sabemos que, enfrentar estas Tempos Livres, de apoio à Mobilidade margem dos jovens”
situações, não constitui algo de novo Juvenil, áreas bastante inovadoras.
para a AJURPE, que tem dado ex-
emplo de empenho e capacidade na
prossecução
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 17

DESPORTO
C.E.-Existe algum segredo que possa explicar a hegemo-
nia demonstrada nos troços?
J.F. – A nossa receita não é milagrosa, mas tem dado bons
frutos. Acreditamos no nosso potencial e trabalhamos

AUTO
com muito afinco. Passamos muitas noites na oficina
a preparar o carro e, não raras as vezes, saímos pelas
duas, três da manhã. Para quem tem família e trabalha
no dia seguinte, não é uma tarefa fácil. Mas, acredito que,
com o nosso sacrifício e como gostamos muito daquilo

MÓVEL
que fazemos, as vitórias tem mais sabor.

C.E. – Levar nome de Rabo de Peixe pelos Açores, sig-


nifica ter muitos apoios ao nível local?
J.F. – Nem por isso. Em Rabo de Peixe apenas recebemos
apoios da Estação de Serviço Lopes, da Empresa Mariano

N
o desporto automóvel é um nome que continua a Brum Gouveia & Filhos, do José Manuel “Serralheiro”,
crescer e a ganhar títulos. João Faria, ou como da junta de Freguesia e da Casa do Povo. Claro que gos-
também é conhecido, João Nateiro é o rabopeix- taríamos que o tecido empresarial de Rabo de Peixe fosse
ense que leva a bandeira da sua terra para todos os ralis mais participativo, mas isso não acontece. Estamos es-
que participa. De abordagem simples e vontade férrea perançados que a situação mude, até porque na próxima
em alcançar mais conquistas, já prepara o seu novo pro- época os encargos serão maiores.
jecto. Com apenas 34 anos de idade e com quatro filhos
menores, João Faria divide o seu tempo entre o trabalho, C.E. – Quais são as principais novidades para o novo pro-
a família e os ralis. Segreda que, por vezes, a família fica jecto competitivo?
para segundo plano, face à paixão que tem pelo desporto J.F. – Investimos num novo carro. Trata-se de um Peu-
automóvel.Iniciou-se como navegador de veículos sem geot 206 RC. É um carro que debitará à volta de 180 cv,
Homologação (VSH) em 1999, fazendo dupla com alguns tendo acoplada uma caixa curta BE3. A travagem será
dos mais conceituados pilotos da categoria. Passados de série e as suspensões serão Peugeot Sport. Compara-
quatro anos deu o salto. Assumiu os comandos principais tivamente ao Yaris, este é um carro, sem dúvida, muito
e estreou-se como piloto em provas do Campeonato Re- mais potente e tem um excelente equilíbrio, quer a curvar
gional de Ralis dos Açores. Em 2008 tripulou um Toyota como a travar.
Yaris e fez dupla com Fernando Raposo.
Carlos Estrela(C.E.)- Que balanço faz dos últimos anos C.E. – Para 2009, quais são as vossas metas?
como piloto de ralis? J.F. – Pretendemos alcançar um dos cinco primeiros lu-
João Faria (J.F.)- As nossas prestações, felizmente, gares da Fórmula dois. Sabemos das dificuldades que nos
têm sido muito boas. Nos últimos anos vencemos por três esperam e, por isso, não quero ser demasiado ambicioso.
vezes o Troféu Sousa Automóveis. Só na última temporada Claro que, ficaremos muito satisfeitos se conseguirmos
fizemos um pleno de vitórias ao ganharmos as cinco pro- superar as nossas expectativas. Vamos aguardar pelas
vas do troféu. Além disso, conseguimos alcançar o quarto provas.
lugar no Grupo A. Para estes sucessos convém não es-
quecer que tripulamos uma viatura de 1300cc, o que em
João Faria
termos técnicos é claramente inferior a outras máquinas
concorrentes.
18 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

EFTA
“Ninguém está preparado para nada.
Uma Comunidade só se transforma
por via de acção de intervenção se
estiver disponível para analisar...”

EM BALANÇO C.E. - Embora não tenha estado presente desde o iní-


cio, acha que as forças vivas de RP foram auscultadas
quanto às suas perspectivas de intervenção?
P.L.-No que toca às acções que desenvolvemos desde
2006 essa auscultação foi feita na medida em que é possív-
Carlos Estrela (C.E.)-Como é conhecido, o projecto
el fazer participar os residentes no desenho e construção
EFTA afirmou-se como a grande solução para os prob-
de determinados equipamentos. Quanto às acções de in-
lemas de RP. Acha que o VGNC foi bem sucedido ?
tervenção, foram sem dúvida trabalhadas com e para as
Piedade Lalanda (P.L.) - Não estando no início deste
populações.
Projecto, não me cabe dizer se foi na altura considerado
No que respeita ao projecto e sua gestão, acha que,
como a “grande solução”. De qualquer forma, não con-
aquando da nomeação do primeiro gestor, houve alguma
sidero que um projecto, por maior que seja a verba inves-
tentativa de aproveitamento político pelas partes envolvi-
tida, possa ser entendido como a solução dos problemas
das?
de uma comunidade.
Não faço comentários a esses episódios, mas julgo que
Apesar disso, julgo que o plano de intervenção previsto
este tipo de preocupação é sempre um ruído desnecessário
permitiu transformar esta comunidade de forma estru-
que em nada ajuda à boa realização das acções de quem
turante, garantindo os meios necessários a um processo
trabalha em prol de Rabo de Peixe ou de quem financia
de desenvolvimento consolidado e continuado. Por esse
essas acções.
motivo, o sucesso deste projecto não se resume ao que
foi feito, mas ao modo como a comunidade e as institu-
C.E. - Em alguns meios locais, ouve-se que o VGNC
ições locais se apropriarem das acções iniciadas e dos
apenas interviu ao nível das infraestruturas. Qual a sua
equipamentos construídos.
opinião sobre esses juízos?
P.L.-Quem analisa o orçamento do Projecto irá certa-
C.E.-Na sua configuração, contemplou as principais
mente entender que sendo 21.125.000 euros destinados à
prioridades para RP?
intervenção física, ou seja, 92,5% da verba a disponibilizar,
P.L.-As prioridades lançadas pela candidatura deste Pro-
implicaria uma atenção concreta para o plano de obras a
jecto assentaram no ambiente, particularmente garantir
executar. Esse facto não impediu a Equipa de investir em
o abastecimento de água e a construção de uma rede de
diferentes acções de intervenção social, procurando
esgotos e tratamento de águas residuais; na promoção
de espaços de qualidade para a formação e actividade
desportiva da população, particularmente a mais jovem e
na promoção da cidadania e da iden-
tidade local. São prioridades adequa-
das a uma perspectiva de futuro para
a comunidade jovem que é Rabo de
Peixe.
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 19

que sempre evitar aquelas que não garantiam continui- a porta, convites personalizados e parcerias. Nesse sen-
dade ou seja em que as instituições não assumissem a tido foi conseguida a participação possível e muitas vezes
sua quota parte de responsabilidade, porque de outro bastante significativa. Pena é que as associações locais
modo seriam balões de oxigénio a vazar com a saída do não tenham participado com os seus associados ou ader-
projecto. entes, nas acções que foram lançadas.

C.E. -Acha que Rabo de Peixe estava preparado para


uma intervenção dessa envergadura?
P.L.-Ninguém está preparado para nada. Uma comuni-
dade só se transforma por via de uma acção de interven-
ção se estiver disponível para se auto analisar, disposta
a fazer uma crítica construtiva e a cooperar na mudança
dos comportamentos e do modo como se organiza, em
termos de respostas.

C.E. -O projecto alimentou uma boa relação com a


população local?
P.L.-Da parte dos elementos da Equipa e do que nos
foi dado sentir, julgamos ter estabelecido uma relação
positiva com esta comunidade, particularmente com os
grupos e organismos com quem mais trabalhamos.

C.E. -Viram-se alguns murais em que se apelava à par-


ticipação da população no projecto. Isso foi conseguido?
P.L. -Se todas as associações sedeadas em Rabo de Peixe
analisassem o modo como fomentam ou constroem a
participação da população nas suas actividades; se todas
associações e organismos cívicos existentes tivessem
uma participação activa, com elevado número de sócios,
participantes e cooperantes, certamente que o trabalho
do Projecto, mera estrutura de ligação e mediação teria
sido mais facilitado.
Na realidade, não tendo um grupo-alvo o projecto teve de
construir a sua acção com base em contactos porta C.E. -Em termos de aplicabilidade dos trabalhos do
projecto, encontrou algumas resistências por parte das
forças vivas de Rabo de Peixe?
P.L.-A maior resistência é a passividade de quem está
sempre à espera que sejam os outros a fazer, a resolver e
a encontrar uma formula mágica para transformar.

C.E. -Para si, as forças vivas de Rabo de Peixe estão à


altura do dinamismo que se pretende inculcar com os
novos investimentos?
P.L.- Não me cabe fazer juízos de valor sobre as “forças
vivas” desta comunidade. Penso que cada organismo deve
avaliar em que medida é uma “força viva” ou uma força
que se alimenta da vida dos outros, em particular quando
essa vida significa financiamento.
As dinâmicas que podem transformar e sobretudo valo-
rizar os apoios e as acções de Projectos, como o que ag-
ora termina, são processos que têm de estar enraizados,
envolvendo a população e sobretudo, fazendo parte da
cultura local como marcas identitárias. Se as acções são
sempre vividas como “cosmética”, disfarce de uma hora,
duram enquanto alguém pagar, é óbvio que essa força
não é viva, mas vai vivendo à custa….
A grande riqueza de uma comunidade está nos seus re-
cursos humanos organizados, focalizados em objectivos
e motivados para acções que são parte integrante do seu
dia a dia.
20 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

C.E.-Rabo de Peixe foi transformado num estaleiro. Para C.E.-as opções de intervenção no saneamento básico,
si, as indefinições que se assistiram na fase de arranque foram as mais adequadas?
do projecto, foram a única causa que atrasou os prazos? P.L.-Não há forma de instalar uma rede de águas e sa-
P.L.-Só quem nunca fez obras poderá achar que era pos- neamento sem incomodar as populações residentes, a
sível realizar 13 empreitadas em três anos e não afectar mobilidade das viaturas e o acesso aos serviços. Se com-
o quotidiano das populações. Não importa o ano perdido, pararem esta prática com outras localidades, verão que
o que interessa é termos conseguido executar a verba di- a extensão da intervenção feita em Rabo de Peixe impli-
sponibilizada e termos inclusive feito mais obra do que caria um prazo de três anos. Infelizmente não foi possível
estava prevista. arrancar com a obra do saneamento em 2006, apenas no
final de 2007, mas o importante é que foi feita e permitiu
C.E.-Os órgãos de comunicação social propagam muitos utilizar os recursos disponíveis neste Projecto.
milhões investidos em RP, quer da EFTA, quer do Gov-
erno Regional. Na sua óptica, esses milhões, no terreno, C.E.-Acha que os empreiteiros respeitaram os mora-
são bem aproveitados e traduzidos numa melhoria das dores e condutores, quanto à sinalização? (falta de
condições de vida da população local? sinalização)
P.L.-Oportunidades como este Projecto dificilmente P.L.-Não foi fácil equacionar a circulação das viaturas em
poderão ocorrer tão cedo para Rabo de Peixe. Todos sa- tempo de obra, mas também não é fácil um empreiteiro
bemos que Portugal está atrasado em relação à Euroap lidar com situações de roubos e a destruição sucessiva
por diversas razões, nomeadamente a falta de infraestru- da sinalética que colocou em alguns cruzamentos.
turas de saneamento, o baixo nível de escolarização e Esta é uma situação felizmente ultrapassada. Mais
formação; os valores de nados-vivos em mães jovens e importante agora é que todos saibam cuidar das infra
muitos outros indicadores. estruturas criadas que não suportam entupimentos su-
Com os investimento do Projecto em Rabo de Peixe, cessivos, com resíduos lançados para o esgoto, lixo dei-
muitas dessas carências ficarão ultrapassadas, mas a tado ao chão e má utilização da rede. O mais importante
cultura de um povo e a qualidade de vida, são sempre o começa agora, depois da obra feita. Quando alguém faz
resultado de opções, não apenas de condições. uma casa, também não gosta de a ver em osso, esventra-
da, mas depressa esquece essa fase, uma vez terminada
a construção.
Agora pensemos no que foi feito e na melhor forma de
manter em bom funcionamento estas novas infra estru-
turas.
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 21

C.E.-Nos últimos meses, circular em Rabo de Peixe, foi


digno de cenários apocalípticos. Nesse sentido, acha que
as opções de intervenção no saneamento básico, foram
as mais adequadas?
P.L.-Não há forma de instalar uma rede de águas e sa-
neamento sem incomodar as populações residentes, a
mobilidade das viaturas e o acesso aos serviços. Se com-
pararem esta prática com outras localidades, verão que
a extensão da intervenção feita em Rabo de Peixe impli-
caria um prazo de três anos. Infelizmente não foi possível
arrancar com a obra do saneamento em 2006, apenas no
final de 2007, mas o importante é que foi feita e permitiu
utilizar os recursos disponíveis neste Projecto.

C.E.-Acha que os empreiteiros respeitaram os mora-


dores e condutores, quanto à sinalização? (falta de
C.E.-Sabe-se que foram investidos muitos milhões no
sinalização)
saneamento básico.No seu entender, a população ben-
P.L.-Não foi fácil equacionar a circulação das viaturas em
eficiária desse investimento, está consciente quanto à
tempo de obra, mas também não é fácil um empreiteiro
sua boa utilização?
lidar com situações de roubos e a destruição sucessiva da
P.L.-Se ainda não perceberam, cabe às entidades locais
sinalética que colocou em alguns cruzamentos.
trabalharem nesse sentido, porque mais uma vez não
Esta é uma situação felizmente ultrapassada. Mais im-
fiquem à espera dos outros. Rabo de Peixe é em primeiro
portante agora é que todos saibam cuidar das infra estru-
lugar para quem aqui vive, e são esses que devem de-
turas criadas que não suportam entupimentos sucessi-
fender o que têm e o que são em primeiro lugar.
vos, com resíduos lançados para o esgoto, lixo deitado ao
chão e má utilização da rede. O mais importante começa
C.E.-Como gestora do projecto, se lhe fosse possível
agora, depois da obra feita. Quando alguém faz uma casa,
alterar alguma coisa, o que mudaria?
também não gosta de a ver em osso, esventrada, mas
P.L.-Do que foi feito nada retiraria, mas em termos de
depressa esquece essa fase, uma vez terminada a con-
gestão dos equipamentos, gostaria que este Projecto
strução.
tivesse previsto de forma mais articulada, a gestão dos
Agora pensemos no que foi feito e na melhor forma de
vários equipamentos, em particular, coordenando com
manter em bom funcionamento estas novas infra estru-
o Governo Regional, e eventualmente, prevendo um pólo
turas.
local, integrado num organismo já existente, a coordena-
ção deste processo de desenvolvimento local que estas
infra-estruturas permitem antever.
22 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

C.E.-Para aqueles que pensavam ver o VGNC como uma


intervenção sebastianista, no sentido de resolver todos os
problemas, acha que sairão defraudados com o desfecho
do projecto?
P.L.-Quem ainda pensa que os milagres vêm de fora, o
projecto será uma desilusão. Mas quem, como nós acred-
ita, que os milagres somos nós que os fazemos, podemos
afirmar que valeu a pena.

C.E-Que mensagem quer deixar aos rabopeixenses que


irão usufruir do resultado do VGNC?
Rabo de Peixe é uma comunidade rica, identificada e
com raízes profundas em áreas diversas como o mar e
a terra.
P.L.-Gostar de ser de Rabo de Peixe é a primeira atitude
para quem aqui vive. Mas gostar não é apenas um acto de
honra e orgulho, mas a razão para que cada um estime o
que tem, o que aqui é feito e construído e faça desses con-
tributos oportunidades para se desenvolver e contribuir
para desenvolver desta comunidade que o identifica.
O rosto de Rabo de Peixe deve ser o rosto de cada pes-
soa que aqui vive. Não são os de baixo ou os de cima, é a
C.E-Haverá continuidade do VGNC, mesmo sob a forma comunidade no seu todo que se deve juntar, nas associa-
de uma nova célula institucional? ções aqui existentes e em outras que venham a ser cria-
P.L.-Não está prevista e esse é um aspecto que deveria das e assim, renovar a imagem que alguns ainda teimam
estar garantido com o empenho de todos os donos de em denegrir.
obra e entidades locais, na medida em que tivessem in-
Piedade Lalanda
corporado o espírito deste Projecto e as funcionalidades
e interligações trabalhadas ao longo destes anos. Espe-
remos que isso aconteça.
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 23

O
Concelho de Ribeira Grande e, por inerência, a Vila a movimentação das populações. No que con-
de Rabo de Peixe, está sujeita a desastres e ca- cerne a tal aspecto, importa sublinhar o interior
tástrofes ou calamidades naturais em consequência da zona urbana, servida por vias normalmente

PLANO MUNICIPAL DE EMERGÊNCIA


DO CONCELHO DE RIBEIRA GRANDE
de tremores de terra, movimentos de massa, tempesta- estreitas e limitadas por edifícios ou muros fra-
des, ciclones, secas, erupções vulcânicas e tsunamis. As- gilizados.
sim, é necessário que exista um documento dinâmico e
susceptível de ser melhorado, face à realidade de cada O perigo vulcânico na ilha de S. Miguel é con-
momento – O PLANO MUNICIPAL DE EMERGÊNCIA -, que siderado elevado tendo em conta a existência de
permita ao Serviço Municipal de Protecção Civil e a todos diversas zonas vulcânicas ou vulcões activos e a
os agentes de Protecção Civil promover a implementação ocorrência de diversas erupções históricas, tan-
de medidas preventivas e accionar operações de pro- to em terra como no mar e de carácter bastante
tecção civil, com o objectivo de minimizar o impacte de variado. A história eruptiva da ilha nos últimos
qualquer acidente grave, catástrofe ou calamidade. 5.000 anos registou algumas dezenas de erup-
ções vulcânicas, muitas das quais de carácter
Face ao exposto, a seguir, procede-se a uma análise paroxismal. A área abrangida pelo concelho da
sumária dos principais riscos naturais a considerar na Ribeira Grande já foi palco de várias erupções.
Vila de Rabo de Peixe. A erupção vulcânica de 1563, no Pico Queimado,
envolveu a extrusão de dois ramos de escoadas
lávicas, um que se desenvolveu para W, em di-
“O parque habitacional de
Rabo de Peixe (...) apresenta
habitações antigas e com defi-
ciente estrutura.”
PME recção a Rabo de Peixe, e outro que progrediu ao
longo de uma linha de água para N, destruindo a
localidade da Ribeira Seca.

Embora não existam suficientes registos para a ilha de


S. Miguel, os dados históricos demonstram que eventos
como os terramotos de 1755, com epicentro no Banco
A VILA DE RABO DE PEIXE ESTÁ SUJEITA
OS RISCOS NATURAIS A QUE

No que diz respeito ao perigo sísmico, de Gorringe, e de 1980, com origem no canal Terceira
o enquadramento geoestrutural e a - S. Jorge - Graciosa, estiveram na base do desenvolvi-
análise da sismicidade histórica e in- mento de pequenos tsunamis observados nesta região.
strumental permite verificar que a Vila Não obstante, a frequência deste tipo de fenómenos
de Rabo de Peixe se situa numa área tem sido baixa pelo que, globalmente, o perigo se pode
sismogénica de razoável Importância, considerar reduzido.
relacionada, não só, com as estrutu- A eventual ocorrência de tsunamis afectará em primeira instância
ras tectónicas regionais, como tam- as zonas litorais, nomeadamente as de cotas mais baixas, como se-
bém, com a presença dos sistemas jam as fajãs, as praias e a foz de ribeiras. As zonas de maior perigo
vulcânicos da Região dos Picos e do de tsunamis são as áreas delimitadas pelas cotas dos 10, 20 e 30
Vulcão do Fogo. metros, correspondentes às zonas de maior perigo relativamente
O parque habitacional de Rabo de ao desenvolvimento de tal tipo de fenómeno.
Peixe, para além de evidenciar di- Assim, as zonas mais vulneráveis serão as praias e zonas de lazer à
versas novas construções, apresenta beira-mar, os portos ribeirinhos e os agregados populacionais an-
habitações antigas e com deficiente exos. Neste contexto, inclui-se toda a linha de costa desde a freg-
estrutura, cuja resistência à acção uesia de Calhetas até à da Matriz, onde se inclui toda a linha de
sísmica poderá não ser suficiente costa da Vila de Rabo de Peixe.
no caso de eventos de maior magni- Os movimentos de massa podem ser accionados na sequência de
tude. De facto observam-se diversas condições meteorológicas adversas e/ou de episódios de origem
habitações que, não obstante o seu sísmica ou vulcânica, entre outros. De um modo geral, trata-se de
aspecto exterior marcado por reboco um fenómeno para o qual podem contribuir inúmeros factores, in-
pintado, são constituídas por paredes dividualmente ou em conjunto, de ordem natural ou resultantes da
de pedra solta, sem elemento ligante. acção do Homem. Inserem-se neste contexto a instabilidade de ta-
Adicionalmente importa prever a rup- ludes, a ocorrência de chuvas torrenciais, ventos intensos, forte on-
tura, ainda que pontual e temporária, dulação, sismicidade, actividade vulcânica, explosões, presença de
de infra-estruturas como os sistemas aquíferos suspensos, alterações na rede de drenagem, alterações
de abastecimento de água, de energia na ocupação do solo, abertura de novas estradas, má construção de
e de telecomunicações. muros, taludes mal dimensionados, etc.
A ruptura de troços da rede rodoviária,
o colapso de edifícios junto a estradas
e caminhos, e a queda de muros ou
árvores de porte médio a elevado po-
dem igualmente concorrer para a ob-
strução das vias de comunicação, con-
stituindo um primeiro problema para a
operação das equipas de socorro e
24 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

A Vila de Rabo de Peixe apresenta uma vulnerabilidade


elevada ao longo da linha de costa, nomeadamente entre
o campo de futebol e o limite com a freguesia das Calhe-
tas. A arriba encontra-se sujeita à erosão provocada pelo
mar, agravada pelas construções na sua crista e pelo
vazamento de esgotos, e outro tipo de lixo, que aí é feito.
Os muros altos de pedra solta são também aqui um prob-
lema, especialmente junto ao porto onde esta povoação
apresenta uma densidade habitacional muito elevada e
com acessos estreitos e sinuosos.
As cheias e enxurradas fazem parte do conjunto de fenóme-
nos que frequentemente assolam as diferentes ilhas dos
Açores. Condições meteorológicas marcadas por chuvas in-
tensas e/ou prolongadas, factores de natureza geodinâmi-
ca e processos externos induzidos pela acção do Homem,
têm contribuído para a ocorrência de situações, por vezes,
catastróficas.
Os fenómenos de cheias ou enxurradas podem causar víti-
mas entre a população, a morte de animais, provocar danos
em habitações e obras de arte localizadas nas zonas de in-
undação, concorrer para o corte de estradas dificultando ou
impedindo temporariamente o acesso às zonas habitadas,
danificar ou destruir bens imóveis, alagar e erodir zonas de
solos produtivos, causar rupturas nos sistemas de abastec-
imento de água, de energia e de telecomunicações.
Na Vila de Rabo de Peixe, a elevada densidade populacio-
nal associada a questões de mau dimensionamento e de-
ficiente manutenção dos sistemas de drenagem dão ori-
gem, em períodos de elevada precipitação, a inundações
nalgumas zonas. As drenagens dos terrenos agrícolas
para as vias de comunicação provocam, frequentemente,
problemas à circulação de viaturas. Neste particular, ref-
erem-se as ocorrências detectadas na estrada Rabo de
Peixe - Calhetas e Rabo de Peixe - Santana. Com as novas
obras de saneamento, espera-se que estes problemas
sejam dissolvidos.

Claudio Terceira

“As drenagens dos terrenos agrícolas


para as vias de comunicação provocam,
frequentemente, problemas à circula-
ção de viaturas. “
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 25

O s jovens e a política, não são, decididamente, duas faces da mesma


moeda. Há jovens que pensam como menos jovens e estes como jovens
de genuína juventude, que se renovam e recriam constantemente e com ca-
pacidade de reinventar soluções para velhos problemas e novos que mercê
da conjuntura, são inevitáveis na grande roda e escultor que é o tempo. Como
em tudo na vida, a identificação com uma realidade cuja dimensão nos tran-
scenda, da amizade à política, depende – para que com ela nos sintonizemos
– da fusão de duas realidades que despertam a vocação ou chamamento:
1 - Uma relação de proximidade
2 - Existência de interesses comuns
Desta fusão, emergem as ideias, as propostas, os desafios e a filiação / mil-
itância nas organizações. A meu ver, a razão pende para o lado dos jovens,
mesmo quando não a têm totalmente, na interacção com os outros, flutu-
ando consoante a intensidade dos desafios que lhe são postos à frente – quem
questiona o valor e o simbolismo, da juventude nos anos 60 do séc.XX? - e esta
é medida pelo desvalor da crise que a sociedade repercute nela.
A expressão da força de acreditar, transporta em si mesma, a sementeira
das transformações colhidas nas tempestades dos sonhos e dos acasos fu-
gazes que são património inalienável da juventude. O afastamento desta da
política, da causa pública e do bem comum, aliàs, bem expressa na elevada
taxa de abstenção saída das últimas eleições Regionais, está no facto da
política ser ausência, onde deveria ser presença, uma vaga ideia que deveria
dar lugar a uma ideia sempre vaga, partilha e participação contínuas, diálogo
e debate e porque não, um pouco de utopia...

Fausto Silva

“Os jovens e a política não


são, decididamente, duas
faces da mesma moeda.”

OS
JOVENSEA
POLÍTICA
26 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

BOM USO
NO

DA LÍNGUA
É QUE ESTÁ O GANHO

“...não é com certeza a internet e os


sms que prejudicam a escrita. É, sim, a
ausência de livros em cada estante; a
falta de condições nas escolas...”

O objectivo primeiro de qualquer língua é comunicar.


Independentemente da maneira como se estabelece
tal comunicação, o importante é que emissor e destina-
Uma vez que os jovens apreciam largamente o uso das
novas tecnologias, convém ir ao encontro das suas prefer-
ências. A internet, que permite a interacção entre texto,
tário consigam, dentro de uma situação de comunicação som e imagem, pode ser bastante mais apelativa do que a
específica, entender-se. linearidade do sistema escolar. Então por que não trazer
O modo como actualmente os jovens fazem o uso da lín- o uso da internet para dentro da sala de aula? Os blogues
gua portuguesa é, muitas vezes, preocupante. Em plena individuais ou de turma, por exemplo, são uma excelente
era dos chats e dos sms, procura-se a rapidez e a simpli- forma de utilizar a língua na divulgação de conteúdos e
cidade, recorrendo-se a abreviaturas, nem sempre per- de experiências, para além de permitir também a comu-
ceptíveis, e a símbolos. A língua, enquanto meio para pas- nicação entre quem publica e quem lê. Nessa partilha, os
sar uma mensagem, é descurada, dando-se a primazia ao jovens afinam a sua prática de escrita ao mesmo tempo
conteúdo per si. Este descuido pode ter implicações pro- que se unem a outros em torno de um interesse comum.
fundas quer ao nível do léxico, quer ao nível da pontuação Como sabemos, a internet possui um código de escrita
e do próprio encadeamento lógico das frases. com algumas diferenças em relação ao código normativo
Se é verdade que os jovens escrevem mais agora, uma do português. Com o recurso ao teclado, começa-se a
vez que recorrem à escrita para estabelecer a comunica- usar as abreviaturas (para reduzir a quantidade de letras
ção com o outro, também é verdade que uma proliferação em função da velocidade) e mesmo alguns símbolos que
da escrita que implique o sacrifício das regras básicas não são convencionais. Além disso, passam para a escrita
do português não trará vantagens. Portanto, é no meio- algumas formas típicas da língua oral. Estamos perante
termo que se encontrará o equilíbrio exigido. Por outras todo um contexto novo que ocorre não só em Portugal
palavras, é imprescindível que se chame a atenção para a como em praticamente todo o mundo.
necessidade de uma correcta utilização da língua, e aqui Entre smiles e abreviaturas, não é com certeza a inter-
os professores têm um papel fundamental. É sua função net e os sms que prejudicam a escrita. É, sim, a ausência
exigir que os símbolos e abreviaturas utilizados nas refer- de livros em cada estante; a falta de condições nas esco-
idas conversas online não passem para o material escrito las; é, no fundo, o desinteresse e a falta de incentivo para
que é produzido em contexto de sala de aula. Assim sen- uma prática constante da leitura e da escrita.
do, os alunos perceberão que para cada situação há um
tipo de linguagem a ser utilizado; que o modo informal
Antónia Estrela
como usam o português em determinadas situações não
é, regra geral, o modo ideal de lidar com a língua.
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 27

PASSATEMPOS

1-Ajude o bonequinho a encontrar a


sua amada.

3-Descubra aonde se encontram as segunites palavras:


Advento Iluminação
Árvore Jesus
Bacalhau Lembranças
Baltasar Meia
Bolas Broas Melchior
Cânticos Missa
Chaminé Noite
Chocolates Pinheiro
Consoada Prendas
Estrela Presépio
Falília Rabanadas
Festividade Sapatinho
Filhoses Tradição
2-Ajude o soldado a procurar o seu Fitas Igreja
capacete. Gaspar
28 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

1-Joãozinho vai a farmácia.


- Seu Joaquim, me dê uma caixa de supositórios. 3-Um hóspede ao se registar numa pensão diz á fun-
Distraído, o menino pega a caixa e vai saindo da farmácia cionária:
sem entregar o dinheiro. - A Sra. pode não acreditar, mas na última pensão onde
- É para pôr na conta de sua mãe? - Pergunta o farmacêu- estive, a dona da pensão até chorou quando de lá sai.
tico. - Acredito, acredito, mas aqui isso não vai acontecer,
- Não, é para pôr no cu do meu pai! porque o pagamento é adiantado.

2-O sujeito está no hotel com a amante, quando ela re- 4-Dois homens estão numa paragem de autocarro:
solve interromper o silêncio: - Porque trazes estes três porcos contigo?!
- Ricardo, por que você não corta essa barba? - É porque nunca viram o mar…
- Se dependesse só de mim ... Você sabe que minha mul- - E eles têm nome?
her seria capaz de me matar se eu aparecesse sem bar- - Oh sim! Esta porquinha daqui e Suatia esta é Suaprima
ba. e…
- Ora, querido - insiste a amante - Faça isso por mim, por - Já sei! Esta e esta porca aqui é Suamãe?!
favor... - Não, não, este é macho, este porco é Seupai! A sua mãe
O sujeito continua dizendo que não dá, até que não resiste eu comi ontem.
as súplicas da amante e resolve atender ao pedido.
Depois do trabalho ele passa no barbeiro, em seguida
vai a um jantar de negócios e quando chega em casa a - Alô, a minha sogra quer se atirar da janela.
esposa já está dormindo. - Enganou-se no número, aqui é da carpintaria.
Assim que ele se deita, sente a mão da esposa no seu - Eu sei, mas é que a janela não abre……
rosto e a sua voz sonolenta:
- Carlão, você ainda esta aqui? Vai embora! O meu marido
já está pra chegar...

ANEDOTAS
5-Um médico para o homem:
- Tenho uma péssima noticia para lhe dar...A cirurgia que
fizemos em sua mãe...
- Não, Doutor. Ela não é minha mãe... é minha sogra!
- Nesse caso, então, tenho uma óptima notícia para lhe
dar...

6-Um homem foi a casa de um amigo:


- Olá Joãozinho o teu pai está?
- Não! Hihihihihi………morreu debaixo do tractor…
(o homem sem dar muita importância foi embora……2hor-
as depois voltou a casa do amigo).
- Olá Joãozinho o teu pai está?
- Não! Hihihihihi……… morreu debaixo do tractor…
- E a tua mãe está?
- Não! Hihihihihi……… morreu debaixo do tractor…
- E a tua irmã está?
- Não! Hihihihihi……… também morreu debaixo do trac-
tor……
- Então Joãozinho……… todos morreram debaixo do trac-
tor… E tu porque é que também não morreste?
- Hihihihihihi……… porque era eu que estava conduzin-
do…….hihihihih…
Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II 29

CONSOLA
A VER

SUPERMERCADO
A. MELO
O PRAZER DE BEM-SERVIR
RUA DO ROSÁRIO-RABO DE PEIXE
30 Rabo de Peixe, Março de 2009 Ajurpim Edição II

O Porta-voz da Associação dos bigodeiros pançudos

À FALSA
afirmou que um determinado espaço público de Rabo
de Peixe, em 2008, registou uma afluência de 2.999.999
pessoas. O mesmo, em conferência de imprensa mostrou
o seu desagrado por não ter chegado aos três milhões
de visitantes. Caso, sua santidade Bento XVI não tivesse

FÉ É
anulado a viagem a Rabo de Peixe, os 3.000.000 já cá can-
tavam. E ainda diz que o outro é do piorio. Epá, vai mas é
pregar pá tua terra.

um louvar a Deus. No final do EFTA viam-se muitos


corações partidos a contracenar com outros cheios de
"mania" e vento encanado. Os primeiros tristes e enraive-
cidos por não terem comandado o EFTA. Os segundos por
terem feito valer o seu poder. Mas, o melhor de tudo foi

A inda não chegamos às "eleicãns" e Rabo de Peixe já ver alguns tubarões que sempre falaram mal do projecto,
mexe. O meu primo Gervásio dos Aflitos até já me a defenderem a equipa técnica. Óooo alminhas desterra-
disse que este ano vai ser d'arder. É que, segundo "zoa", das troca-tintas...
o filho do sobrinho da prima da cunhada do irmão da nora
da sogra vai seguir as pisadas do Dalai Lama. Ou seja,

R
primeiro começa-se pela Igreja, depois passa-se para abo de Peixe está de parabéns. Já tem a sua primeira
a Catedral e depois vai-se para a Ermida. Engraçado, rotunda. Agora, se a moda pega, os nossos taxistas
não!!!!! Daaaaaaaaaaaaaa!!! vão enriquecer à brava. É que há muito boa gente que, nas
rotundas, são como um elefante em cima de uma "baici-
cla" - não têm tarelo "ninum".

A rregalo-me todo a ver a nossa avenida marginal. Ai


que coisa de " tanto linda". Ainda noutro dia passei
por lá de charrete, mais a minha pimpolha. Não é que,
ao longe vi 3 homens de coletes fluorescente. Ei caraças,
disse eu. Logo hoje que não trouxe a carta de carroça.
Mas lá continuei. Fiquei pasmado quando vi os coletistas
de vassoura na mão a "barrer o caminho". Pasmei-me ao
ver alguns pescadores a "abouiar" seda para o chão, e
os polícias corriam logo a varrer. Só mesmo nessa terra.
Não se fiscaliza nem se passam multas, manda-se é lim-
par. Chega-te burra, disse eu do alto da charrete.

C om a falta de estacionamento nesta Vila, graças, a não


sei quem, fez-se do Coreto um estacionamento grá-
tis...

L embram-se sempre dos mais necessitados, até guar-


da-chuvas instalaram no Coreto para quem não sabe
estacionar o carro ... até dão luz!

WWW.AJURPE.BLOGSPOT.COM

Com o apoio de:


COLABORADORES
FICHA TÉCNICA

DIRECTOR CARLOS ESTRELA


CARMEN AMARAL
SUB DIRECTOR RUI FARIA
CÁTIA MOREIRA
DESIGN / PAGINAÇÃO PEDRO VENTURA
CLÁUDIO TERCEIRA
TIRAGEM 1500 EXEMPLARES
JOSEFINA MOREIRA
IMPRESSÃO NOVA GRÁFICA
SIDÓNIA GOUVEIA

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