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LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA
MUSEOLOGIA ETNOGRÁFICA
SENTIR O MUSEU MESTRE MARTINS CORREIA
ENSAIO FINAL
ANA CANHOTO
N.º 27685
TURMA AB2
Introdução
O Museu Municipal Martins Correia, tal como está declarado na sua denominação, trata-se de
um museu da responsabilidade do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Golegã.
Em 1982, aquando da implantação da estátua A Camponesa, no Palácio do Pelourinho, em
frente à antiga Cadeia, foi inaugurado o Museu Municipal Martins Correia, no espaço da
cadeia. Neste, o Mestre Martins Correia executou algumas das obras num atelier e as expôs.
Em 1984 doou o seu espólio ao Município e, em 2002, três anos após a sua morte, dada a
degradação deste edifício com mais de 600 anos, foi opção do Presidente da Câmara
Municipal da Golegã Dr. José Veiga Maltez planear a sua mudança para um espaço próprio –
o Equuspolis. Publicado online, em 1 de Maio de 2003, no Jornal o Mirante pode-se ler:
«Instalado desde 1982 num edifício seiscentista (que foi cadeia e posto de telégrafo e postal),
que há uns anos sofreu algumas obras, sobretudo ao nível da cobertura, o museu apresenta
problemas que, segundo Veiga Maltez, são de difícil resolução.» (Bastos, 2003). À Lusa
afirmou a filha do Mestre, Elsa Martins Correia Ribeiro, compreender as razões pelas quais a
autarquia decidiu a mudança do espólio. Muito embora tivesse sido vontade de seu pai manter
as cinzas ao pé das suas obras, seria uma perca maior a degradação de cerca de 600 peças
(Bastos, 2003).
Um percurso de vida
Joaquim Martins Correia nasceu na Rua da Oliveira, na Golegã, a 7 de Dezembro de 1910. De
origens camponesas, os seus pais faleceram da chamada “pneumónica”. Órfão desde muito
cedo afastou-se da sua terra natal e, em Novembro de 1922 entrou para a Casa Pia de Lisboa.
Nesta completou o curso industrial e foi-lhe atribuída uma bolsa de estudo para cursar na
Escola de Belas Artes de Lisboa. Ingressou no curso de desenho desta Escola em 1928,
contudo diplomou-se em escultura.
Muito embora a primeira exposição tenha ocorrido em 1938, a sua obra adquiriu grande
relevo quando, em 1940, expõe na Missão Estética de Viana do Castelo a sua obra O
Cruzeiro do Minho. O seu sucesso foi retratado na primeira página do jornal O Século. A
partir dessa data realizou várias exposições artísticas e recebeu vários prémios, não só em
Portugal como também as suas obras se espalharam pelo Brasil, pela Índia, pelo Japão, por
Guiné-Bissau e em Moçambique. De entre várias obras, em Lisboa é de referir a decoração da
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estação do Metro de Picoas, da escadaria da sala de recepção do Hotel Ritz e do átrio da Torre
Vasco da Gama, no Parque das Nações.
Já na Golegã, para além do próprio Museu, o acervo deste artista encontra espalhado por
vários locais desta vila. Destacam-se, para além de A Camponesa já referida, os relevos em
bronze do Palácio da Justiça, um painel de cerâmica na frontaria da Casa de Convívio e a
estátua O Povo de Amor Cantava, em frente à Igreja da Nossa Senhora dos Anjos. É de referir
ainda a imortalização do seu nome na Escola Básica 2,3 e Secundária do Concelho da Golegã.
Dos vários materiais artísticos presentes na obra do Mestre salienta-se, par além da escultura e
da pintura, a medalhistica e a poesia, com a publicação do livro Poemas Martins Correia.
Durante a sua longa actividade profissional dedicou-se também à pedagogia das artes,
ensinando na Escola Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha e em várias escolas de
Lisboa. Leccionou na Casa Pia e foi professor assistente na Escola de Belas Artes de Lisboa
A sua dedicação ao ensino terminou em 1971.
Aos 89 anos, a 30 de Julho de 1999 o Mestre falece na Golegã.
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semelhantes na poesia. Como também, de Raul Solnado e de António Vilar, figuras do teatro
e cinema português.
A mulher, figura marcante na sua arte, é demonstrada como musa inspiradora. Quer na
pintura quer na escultura e na poesia, o Mestre mostra retratar a mulher como a sereia que se
esquiva no mar e persuade com o seu ondular (Tomás, 1994: 46). O mar é representado pela
mulher e a poesia está figurada no busto de uma mulher.
Encontram-se, ainda, pinturas de auto-retratos, moldes e medalhas em bronze.
Na pluralidade das obras do Mestre predominam, sob o preto ou branco as cores fortes, as
cores da terra e do mar – vermelho, amarelo, azul e o dourado. Afirmou o artista, numa
entrevista publicada no Jornal Encontro da Escola C+S da Golegã, em Dezembro de 1995, o
seu gosto pela cor, principalmente por aquelas que denominou de cores mediterrânicas
(AA.VV., 1995). Os seus bronzes são, na sua maioria, policromados, tal como na pintura e na
cerâmica é realçada a cor e o contraste.
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público, tem sido ultrapassado através da inclusão do Equuspolis no roteiro turístico,
adquirido no Posto de Turismo da vila. Como é, também, no diálogo com as recepcionistas
que abrem a porta, que os visitantes se integram na dinâmica quer do espaço Equuspolis, quer
do Museu em si. É nesta recepção que ao visitante lhe é permitido adquirir o Catálogo Museu
Municipal Martins Correia, bem como observar e comprar algumas serigrafias do Mestre.
As obras dos artistas da região são uma constante em todo o Equuspolis. Destaca-se, ao entrar
no hall deste edifício, um espaço aberto a exposições temporárias, e uma escadaria na qual, no
fim do primeiro lanço, na parede branca, sobressai uma fotografia do Mestre Martins Correia.
Segundo o transmitido aos visitantes, destaca-se que estas escadas servem apenas para descer
dos pisos superiores.
Na zona das escadas de subida ao Piso 1, estão expostas fotografias de Tereza Trancas e
pinturas e esculturas sobre tauromaquia de Rui Fernandes, artista plástico de raízes
goleganenses, que, em conjunto com do Presidente da Câmara Municipal Dr. José Veiga
Maltez, são responsáveis pela lógica expositiva dos espaços do Equuspolis.
Subindo ao Piso 1, quer nas escadas quer no hall de entrada deste piso, o visitante é, de
imediato, integrado no Museu. Sem entrar no espaço a este destinado, deparamo-nos, na
escadaria, com O Rosto do Povo, seguindo-se outras obras de medalhística do Mestre e um
retrato seu, esculpido em madeira, oferecido pelo artista Arne Gunnerud Norge, em 1984.
Neste piso existe, ainda, uma biblioteca centrada na temática do cavalo e um Espaço Internet.
Sobre as paredes brancas desta sala ressaltam pinturas de artistas da região, entre as quais
algumas obras oferecidas ao Mestre. Deste modo o frequentador deste espaço, quer para ter
acesso à Internet quer para aceder a material bibliográfico sobre os equídeos, depara-se com a
arte e com as obras do Mestre Martins Correia. Este facto decorre não apenas de existirem
peças de arte exibidas nesta sala, como também foi opção expositiva mostrar aos olhos do
visitante as obras do próprio Museu. A continuidade dos espaços, sem existência de quaisquer
impeditivos materiais, paredes, entre outros, apela o visitante, ao entrar no hall, a se sentir
integrado no interior do Museu.
É de mencionar que o Equuspolis dispõe de elevadores para permitir o acesso ao Museu a
todo o público.
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dos responsáveis não expor todas as obras no Museu, encontrando-se, no Hotel Lusitano,
quadros e esculturas do Mestre.
Segundo deliberação unânime do Executivo Camarário, no início de 2007, este Hotel passou a
ser considerado um núcleo museológico do Museu Municipal Martins Correia. Este acto
mostra ter como objectivo a integração dos clientes do Hotel na arte da região e o incentivo à
visita ao próprio espaço no Equuspolis. As restantes obras encontram-se na reserva do Museu.
De entre as obras patentes no Museu, podemos encontrar pintura, escultura, medalhistica,
cerâmica e documentação. Destacam-se, de entre vários documentos, o livro Fanga de Alves
Redol, Estrelas Cadentes de Gaspar Bonacho, Caballus, oferecido por Serrão de Faria, e um
ensaio biográfico do Dr. Francisco Mendes Brito, todos com ligação afectiva à Golegã. Como
também outros livros pertencentes ao Mestre, catálogos de exposições suas e o seu livro
Poemas Martins Correia. Sobressai, de entre o exposto, um esboço do edifício da antiga
cadeia, oferecido em 1985 por Hirosuka Watanuk e, ao lado deste, uma lista dos trabalhos
executados pelo Mestre desde 1940 a 1993.
Em todo o espaço museológico, bem como nas restantes áreas do edifico Equuspolis,
predomina a apresentação das obras artísticas sobre bases brancas. As paredes são brancas e
nestas sobressaem as obras coloridas do Mestre. Na sua maioria, as esculturas estão expostas
sob colunas brancas, permitindo ao visitante visualizar as suas várias dimensões. A
documentação existente é divulgada em bases brancas com vidro protector.
A amplitude dos espaços e o facto de ter sido escolha não expor neste todo o acervo existente,
permite-nos, como visitantes, esta possibilidade. Não existem focos de luz direccionados e,
durante o dia, por entre enormes e elevadas janelas de vidro existentes, luz natural incide
sobre todas as salas. Somos conduzidos a olhar para todos os objectos de arte como
merecedores de serem valorizados. É de referir que existem algumas esculturas expostas
sobre colunas pintadas, no entanto a cores destas demonstram a não existência de hierarquias,
pois remetem apenas para uma fina linha colorida no topo das colunas.
Não existe ordem cronológica na exposição das obras, pois de acordo com as placas
indicadoras junto às peças, a maioria das obras do Mestre não têm data. No entanto, está
patenteada uma escolha temática, que inicia com a homenagem aos seus congéneres na arte e
figuras emblemáticas da cultura e história portuguesas. Ao percorrer o espaço, o visitante
começa a sentir-se integrado na etnografia ribatejana e goleganense, através de pinturas,
esculturas e cerâmica de cavalos, lavradores, arquétipos de homens, mulheres e profissionais
do campo. Na última sala, em espaço contíguo ao anterior e sem separações físicas aparentes,
encontram-se essencialmente esculturas e pinturas que incidem sobre o tema mar. Destacam-
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se esculturas alusivas à profissão e bustos de homenagem a Cabrillo, navegador português, e
a Boitaca, arquitecto da Igreja Matriz da Golegã. Estas escolhas são demonstrativas de uma
clara separação entre mar e campo, dois palcos profissionais diferentes unificados na relação
das obras com o património cultural da vila, da região e do país.
Para além do produto da arte do Mestre Martins Correia, existe uma sala na qual estão
expostas obras que lhe foram oferecidas. Por se tratar de um espaço de reuniões, separado
fisicamente da restante área do Museu através de uma porta, que só é fechada em caso de
utilização para tal fim, foi opção que as suas paredes brancas reflectissem o apreço de colegas
e amigos do escultor. Desta constam, essencialmente, pinturas e uma escultura, todas ao
mesmo nível hierárquico, demonstrando que, mais uma vez, é política museológica a não
predominância de qualquer obra artística específica. É, ainda, de mencionar que esta sala é
interior, com uma janela dirigida às escadas de descida do Museu.
Todo o espaço interior do Museu dispõe de cadeiras. Ressalta ao olhar a ideia de
contemplação da arte. Pretende-se que visitantes se sentem e meditem sobre as obras de arte
expostas.
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mais valia para o Museu, pois por se encontrar numa zona limítrofe da vila, a sua localização
foi, durante algum tempo, um obstáculo à visita pelos turistas.
Através deste guia o visitante é incentivado a percorrer os locais de referência identitária
goleganense, entre os quais a Casa-Estúdio Carlos Relvas, a Igreja Matriz da Golegã, o
Pelourinho, o Arneiro, local da Feira de S. Martinho / Feira Nacional do Cavalo, e o espaço
Equuspolis. É através deste ritual que o visitante é confrontado com as diferentes estruturas
patrimoniais, decorrentes de épocas arquitectónicas distintas. Formas estas que não entram em
conflito, mas sim dialogam na comunhão de valores identitários iguais – o cavalo, o campo e
o povo. Este parece ter sido o objectivo dos responsáveis pelo Pelouro da Cultura e que está
patente nas estatísticas de visita ao Museu. Não foi possível ter acesso a estes dados, no
entanto de acordo com os discursos das recepcionistas e com o observado no local, em visitas
realizadas em Agosto e em Novembro, passou a existir uma maior frequência de turistas e de
grupos organizados. Factos estes reveladores de um aumento significativo desde a inserção do
Museu no roteiro turístico.
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A raiz da erva
estava ferida;
O Sol do dia
não chegava lá
por causa de uma pedra
que ao lado da erva
tapava o sol de cá.
Mas um dia,
outro dia,
um animal,
cavalo branco
de muita beleza,
tendo visto a erva presa
tirou a pedra e pensou:
o Sol poderoso
nem sempre aquece
e muitas vezes esquece
o que a terra gerou.
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ANEXOS
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Figura 2. Placas identificativas do Equuspolis e do Museu Municipal Martins Correia
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Figura 3. Imagens do interior do Museu (Câmara Municipal da Golegã, 2005)
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BIBLIOGRAFIA:
AA.VV. 1995 “Entrevista a Martins Correia. Publicada no Jornal Encontro da Escola C+S da
Golegã”. Disponível em: http://www.eps-golega.rcts.pt/MCORREIA.HTM (acedido em 9 de
Dezembro de 2007).
Bastos, Alberto (dir.) 2003 “Câmara da Golegã defende obras de arte. Museu Martins Correia
sai da cadeia” O Mirante Online. Disponível em:
http://semanal.omirante.pt/index_access.asp?
idEdicao=73&id=3762&idSeccao=708&Action=noticia (acedido em 9 de Dezembro de
2007).
Correia, Martins 2003 Golegã – A Capital do Cavalo. Guia do Conselho da Golegã. Golegã:
Município da Golegã / Câmara Municipal.
Durand, Jean-Yves 2007 «Este obscuro objecto do desejo etnográfico: o museu» in:
Etnográfica, 2 (11). Revista do Centro de Estudos de Antropologia. Lisboa: CEAS / ISCTE.
pp 373-385.
Maltez, José Veiga 2003 Catálogo Museu Municipal Martins Correia. Golegã: Câmara
Municipal da Golegã.
Semedo, Alice e João Teixeira Lopes (coord.) 2006 Museus, Discursos e Representações.
Porto: Edições Afrontamento.
Tomás, Carla 1994 «Mestre Martins Correia» in: Cerâmicas, 19 (Julho). Revista do
CENCAL. Caldas da Rainha: CENCAL.
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