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Barbarismos ou corruptelas ex-mathedra Entra agora em campo o segundo factor que me parece determi-

nante na génese destes barbarismos: na comunicação oral, se aquele


que ouve não dá a entender que não percebe o discurso de quem
Miguel Cardoso
fala, este presume que o que diz está correcto e que serve para a
comunicação que pretende efectuar. Esta confiança na qualidade da
comunicação subverte totalmente essa qualidade quando a anuência
tácita se deve exclusiva ou principalmente ao facto de aquele que
ouve não querer reconhecer a sua ignorância (e publicitá-la) do sen-
tido do discurso de quem fala, sobretudo e ainda mais quando esse
discurso vive de frases feitas que têm uma enorme carga de sabedo-
ria (popular) implícita.
É, pois, da conjugação destas duas ignorâncias que resultam os
barbarismos das expressões idiomáticas alvo da reflexão que aqui
fazemos. Quanto ao resultado, ele é bem evidente nos exemplos reco-
Se considerarmos que a língua, apesar de ter uma norma ex- lhidos; há uma aproximação fonética ao idiomatismo original, nor-
-cathedra, está em permanente transformação por aqueles que a uti- malmente mantendo uma das palavras (a mais comum) da locução,
lizam e que esse uso se afasta mais ou menos da norma consoante e substituindo a menos conhecida ou por uma corruptela ou por uma
o conhecimento que cada utilizador tem dessa norma, então podere- outra palavra que apesar de fazer perder o sentido ao idiomatismo,
mos perceber este conceito formado pela aglutinação de má (do latim lhe dá uma verosimilhança fonética. Ou seja, trata-se de casos claros
malus) com cátedra (do latim cathedra). de paronímia – e já que de paronímia falamos, talvez pudéssemos
Contrariamente a outro tipo de modismos, como, por exemplo, os antes utilizar o termo «parolímia».
chavões, ou as bengalas linguísticas, não se pode acusar os que os
praticam de falta de imaginação ou pobreza semântica; antes pelo Descasca pessegueiro, por De escacha-pessegueiro
contrário, eles são a expressão de uma riqueza linguística na comu- Loc. fam. (diz-se do argumento ou razão que deixa o opositor sem
nicação oral, só que vestida com o manto da própria ignorância, que, resposta). Descasca/de escacha: a palavra conhecida quase homó-
por definição, lhes passa despercebida. fona (descasca) é incorrectamente usada em vez dos termos de uma
sabedoria popular erudita, e portanto desconhecidos (de escacha).
Escachar, do latim ex-quassare: partir, fender.
1. Barbarismos idiomáticos
Mal e porcamente, por Mal e parcamente
Estes barbarismos têm origem na falta de um modelo escrito que Loc. fam. (diz-se de alguma acção não só mal executada mas
permita a confrontação do utilizador com um modelo canónico – são que o foi também por motivo da parcimónia dos meios utilizados na
locuções idiomáticas e, como tal, quase exclusivamente utilizadas sua execução). Porcamente/parcamente: a palavra conhecida quase
oralmente –, sobretudo quando esse utilizador é de origem popular, homófona (porcamente) é incorrectamente usada em vez do termo
ou seja, quando o seu principal canal de comunicação linguística é erudito caído em desuso, que não é conhecido (parcamente). Do latim
a oralidade. parcu: extremamente poupado.

 
Ovelha ranhosa, por Ovelha (ronhosa) tinhosa confusão eventual com a expressão «fazer o possível», que significa
Loc. fam. (diz-se de alguém cujo exemplo e vida social são de evi- «esforçar-se ao máximo»; se observarmos a expressão com este sig-
tar, por motivo da sua perigosidade). Ranhosa/ronhosa: a palavra nificado, pode perceber-se a necessidade de efectuar no discurso um
conhecida quase homófona (ranhosa) é incorrectamente usada em salto semântico que justifique haver algo mais para lá do máximo.
vez do termo caído em desuso, que não é conhecido (ronhosa) e que E assim, a substituição de um adjectivo que significa «o que se pode ima­­­­­
tem precisamente o mesmo significado que tinhosa, cujo significado ginar» (imaginável) por um adjectivo que significa «o que é mágico, o
é a qualidade de estar infectado por uma doença de contágio extre- que está para lá da realidade» (imaginário), estaria semanticamente
mamente fácil por proximidade que, no caso do gado ovelhum, pode justificada. Do latim imaginariu; do português imaginar+vel.
ter a designação de ronha. Do latim ronia: ronha, tinha ou sarna.
Controlar a praça, por Contornar a praça
Chovia que Deus andava, por Chovia que Deus a dava Loc. fam. (dar a volta à praça). Controlar/contornar: a palavra
Loc. fam. (chover muito). Andava/a dava: o tempo verbal conhe- conhecida quase homófona (controlar) é incorrectamente usada em
cido e corrente (andava), é incorrectamente usada, aglutinando vez do termo culto (contornar), que não é conhecido; os grandes utili-
homofonamente a flexão verbal com inversão gramaticalmente cor- zadores deste barbarismo são os motoristas de táxi, os que os condu-
recta mas erudita do pronome (a dava). zem, pelo que se pode levantar a hipótese de o desvio da norma ser
reforçado, neste caso, pelo significado que controlar também pode
Chorar compulsivamente, por Chorar convulsivamente ter: guiar, conduzir. Do francês contrôler; do latim contornare.
Loc. fam. (chorar com tanta intensidade que se treme). Compul-
sivamente/convulsivamente: a palavra conhecida quase homófona
(compulsivamente) é incorrectamente usada em vez do termo eru- 3. Barbarismos consuetudinários
dito, que não é conhecido (convulsivamente). Do latim convulsus:
que treme. São barbarismos que já deixaram de o ser, fazendo parte da
norma linguística actual, apesar de no passado dela terem diver-
gido, tendo, contudo, mantido o valor semântico original e também
2. Barbarismos de frases feitas uma verosimilhança fonética com as palavras que estiveram na sua
origem. Essa integração foi feita por via consuetudinária.
Quanto a estes casos, o desvio da norma linguística continua a
ter como origem o desconhecimento não só da norma-padrão como Que maçada!
da própria norma-culta, tanto por parte do falante como do ouvinte; Loc. fam. (que aborrecimento). Maçada/Massada: a alusão à
no entanto, parece-me poder haver uma motivação adicional refe- fortaleza de Massada (fortaleza que foi o último foco de resistência
rente à semântica mesma do barbarismo. judaica à ocupação romana no ano de 73, tendo acabado por ser sub-
jugada depois de todos os seus defensores terem preferido sacrificar
(Fazer o) Possível e imaginário, por Possível e imaginável a vida à capitulação e cuja palavra em hebraico significa fortaleza),
Loc. fam. (fazer tudo). Imaginário/imaginável: a confusão fre- que está na origem desta locução, já se perdeu; o que se pensa, diz
quente destes dois termos, para além da origem no desconhecimento e escreve é «que maçada», por motivo da oralidade e perda do refe-
da norma linguística, pode ter ainda uma origem secundária na rente original da expressão.

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Dar o lamiré a alguém
Loc. fam. (chamar a atenção de alguém para um comportamento
não adequado). Lamiré/lá-mi-ré: a origem desta expressão está no
termo musical lamiré = diapasão, ou seja «que dá o tom». Da música
lá, mi, ré.

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