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Padre Fernando Avgusto da Silva

DIOCESE A

DO FUNCHAL
SINOPSE CRONOL~GICA

FUNCHAL
DIOCESE DO FUNCHAL
Elucidárlo M adeirense 2 grandes volumes (de colaboração com Carlos
Azevedo de Menezes

Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira

A Lombada dos Esmeraldas na Ilha da Madeira

Dicionário Corográfico do Arquipblago da Madeira

Camões e a Madeira

A S6 Catedral do Funchal

A Madeira na Legislação Portuguesa

As "Levadas" da Madeira

Diocese do Funchal-sinopse Cronológica.

A SAIR
DO PRELO:

Eluciddrio Madeirense (volume I I J - edição.)

Subsídios para a História da Diocese do Funchal


Padre Fernando Augusto da Silva

DIOCESE
DO FUNCHAL
SINOPSE CRONOLÓGICA

FUNCHAL
:-
TIPOGRAFIA ESPERANCA
: 45 - Rua dos Ferreiros - 45 :
: : F U N C H A L - MADEIRA : :
Advertência Preliminar

Do trabalho inédito a Subsidias para a História


da Diocese do Funchal v -de que já se acharn im-
pressas quatrocentas paginas - foram sucintamente
extratados os elementos contidos nestu a Sinopse Cro-
nológica v , constituindo u m a abretiiada resenha das
diversas matérias versadas e m todo aquele desen-
volziido estudo, que tão intimumente se relaciona
com a história do arquipélago madeirense.
Enquanto não se oferecer a oportunidade d a
publicação integral dessa obra, poderá o presente
esboço servir de proveitoso subsidio para os que
pretendam conhecer o movimento religioso desta
diocese nos cinco séculos da sua existencia.
Sinopse Cronológica

-das terminantes afirmações que frequentemente se


fazem àcêrca da época do descobrimento d a Madeira,
a verdade é que constitui ainda u m problema a solu-
cionar a fixação segura do a n o em que se deu esse
auspicioso acontecimento, como o deixámos sumària-
mente esboçado n a s páginas da segunda edição do
Elucidário Madeirense (1-354 e ss.).
Razões ponderosas persuadem que dentro do perío-
do de tempo decorrido de 1420 a 1425 se teria realiza-
do um «reconhecimento» marítimo a o arquipélago
madeirense, como prelúdio da notavel empreza do seu
povoamento, que em breve iria tão esperançosamente
iniciar-se.
Sendo esta ilha a primeira estancia da expansão
colonial realizada pelos portugueses, é ocasião opor-
t u n a de relembrar que Portugal principiou aqui a
s u a obra grandiosa' de maior colonizador de todos
os tempos e lugares, constituindo êste facto u m dos
acontecimentos mais brilhantes e assinalados d a nos-
sa história e que deve ficar indelevelmente gravado
10 DIOCESE DO FUNCHAL

em letras de ouro nas páginas dos anais madeirenses.


E a essa expansão territorial andava sempre ligada a
acção eminentemente civilizadora da propagação da
fé, que os nossos incansaveis missionários iam herói-
camente difundindo por toda a p i t e .
U m novo sistema de administração pública teve
seu comêço a o tentar-se o primitivo povoamento dês-
te arquipélago, estendendo-se posteriormente às ilhas
açoreanas e às longinquas terras brasileiras, embora
com as modificações que a s circunstâncias de ocasião
sugerissem. A s capitanias com os seus chefes
investidos de poderes discricionários eram aconselha-
das ao tempo, a -pesar-dos abusos que então se come-
teram, tendo o govêrno da metrópole que intervir
frequentemente com a promulgação de leis de enérgi-
ca repressão e com o exercício das chamadas «alça-
das», que proferiam sentenças e aplicavam severas
penalidades nos proprios lugares em que esses exces-
sos se praticavam.
N ã o obstante isso, foram verdadeiramente notàveis
os progressos da incipiente colonização, em que os
primeiros povoadores, favorecidos pela benignidade do
clima e e x u b e ~ a n t eferacidade do solo, desenvolveram
u m a actividade sem limites, a par d a mais segura
orientação n a cultura das terras virgens, dando logo
prova eloquente d a sua inata vocação para uma larga
expansão colonial, que os séculos vieram plenamente
confirmar com o grande movimento civilizador reali-
zado através dos continentes desconhecidos.

2 -1425-0 Primeiro Desembarque -A i8 de


Setembro de 1460, disse o infante D. Henrique:
u.. .. comecei a povoar a minha ilha da Madeira
.
averá trinta e cinco anos.. .» (I), o que é confirma-
do por outras fontes históricas, podendo admitir-se
que pelos anos de 1425 se realizou ,nas praias de
Machico o desembarque dos primeiros povoadores,
mandando os capitães da frota erguer ali u m impro-
visado altar, em que u m dos franciscanos vindos n a
expedição celebrou o santo sacrificio da missa, como
acção de graças à Divina Providência elo auspicioso
descobrimento e também para implorar novas bençãos
em favor do povoamento, a que brevemente se daria
comêço.
D i z o autor das Saudades da Terra, e afirma-o
uma constante tradição local, que esse desembarque se
verificou a 2 de Ju!ho, dia em que a Igreja comemo-
r a o facto da Visitação da Santíssima Virgem a s u a
prima Santa Isabel, acrescentando pitorescamente o
referido cronista que n a mesma ocasião mandou o
capitão qpelos padres benzer agua, que andaram
espargindo pelo a r e pela terra, como quem desfazia
encantamento o u tomava posse em N o m e de Deus
daquela terra nunca lavrada nem conhecida desde o
princípio do mundo até àquela era».
Também em muitos lugares se afirma que a o cele-
brarem-se esses piedosos actos de fé religiosa, se fize-
r a o voto de erigir-se unia capela naquele local, como
comemoração dos acontecimentos que iam decorrendo,
o que veiu a realizar-se alguns anos depois, e de que
ao diante daremos mais desenvolvida notícia.

3 -Século XV ( 2 . O quartel)- Primeira igreja-


Compartilhamos da opinião dos que afirmam que a
( I ) Vid ALuns Documentos do Archivo Nacional da Tôrre do Tombo r. publicados
em 1893, por ocasião da celebração do quarto centenario do descobrimento da America.
12 DIOCESE DO FUNCHAI,

capela de S a n t a Catarina, mandada edificar por


D. Constança de Almeida, mulher de João Gon-
çalves Zargo, n o arrife sobranceiro à ribeira de São
João e próximo da s u a foz, teria sido o primeiro
templo que se levantou nesta ilha, embora de propor-
ções muito acanhadas e fabricado de madeira indígena,
como eram tôdas a s antigas construções ao iniciar-se
os trabalhos do antigo povoamento. Foi por vezes
melhorada e reedificada, conservando-se ainda n o
limiar superior do pórtico a data de 1425, que indica
o a n o aproximado da sua primeira construção. À
existência dessa pequena capela anda indissoluvel-
mente ligado o comêço da primitiva colonização desta
ilha, que é u m facto notavel ppr muitos títulos, e
recorda o sucesso do descobrimenti, devendo portanto
a conservação e ainda o aformoseamento dêsse peque-
n o edificio merecer o mais acendrado interêsse
parte de todos os madeirenses. Sôbre êste assunto,
publicámos em O Jornal, de 27 de Outubro de 1942,
u m desenvolvido artigo, em que se aduzem a s razões
que militam a favor da profunda veneração, que se
deve tributar a essa pequena e modesta ermida.
P o r esse motivo, a Câmara Municipal desta cida-
de, a o realizar importantes melhoramentos naquele
local, tornou-se crédora da especial consideração de
todos, procurando manter intacta a velha e histórica
capela, como u m padrão comemorativo do primitivo
povoamento d a nossa ilha.

4 -1430- P r i m e i r a s Freguesias-Foram os reli-


giosos franciscanos, vindos n a frota que conduzia os
mais antigos povoadores, os primeiros sacerdotes que
n a Madeira exerceram funções eclesiásticas nas diver-
sas capelas, que em breve se fundaram e que teriam
sído a s de Santa Catarina, São Paulo e São, Sebas-
tião, e talvez mesmo em rústicas e improvizadas
ermidas, que temporáriamente se houvessem adaptado
àquele fim. N a s chamadas «fazendas povoadas», esta-
bklecidas em vários pontos da ilha, constrilíram-se
muitas capelas, que tiveram seus capelães privativos,
transformando-se n a sua maioria em acuratos» e
acapelaniasn com fóros de paróquia e que foram as
sédes das futuras freguesias legalmente constituídas.
É pqr isso que, em vista dos elementos que nos for-
necem a s antigas crónicas, não se torna facil deter-
minar com inteira precisão a data da criação de algu-
mas das freguesias organizadas nos séculos XV e XVI,
tomando o significado dêsses agrupamentos de habi-
tantes n o sentido que modernamente se lhes atribui.
« Capelanias D, « curatos n e a freguesias n são termos
empregados, por vezes indistintamente, para designar
o que hoje com toda a propriedade chamamos paró-
quias. E, assim, nessas crónicas se afirma e se repete
nas «Saudades da Terra*, que as freguesias de Câma-
r a de Lôbos e da Calhêta foram criadas n o ano
de 1430 e que a de Machico, capital da capitania e
lugar sujeito a u m intenso povoamento desde o início
da colonização, tivera a sua criação n o ano de 1450,
sabendo-se aue esta localidade chegou a ombrear com
o Funchal quanto à sua expansão e desenvolvimento,
nos primeiros tempos dessa activa colonização.
Foi pelos anos de 1430 que n o Funchal e com-
I
preendendo uma vasta área se estabeleceu a primeira
freguesia, tendo o seu centro em uma das capelas que
ficam citadas, mas militando algumas razões a favor
da pequena ermida de São Sebastião. E m 1438 fixou-
-se a sua séde n a igreja de Santa Maria ou da aCon-
14 DIOCESE DO FUNCHAL

ceição de Baixo*, mandada edificar pelo infante


D. Henrique n a margem esquerda da ribeira de João
Gomes e a pouca distância d a praia, tomando o
nome de Nossa Senhora do Calhau. N o ano de 1508
passou a ter a sua nova séde n a chamada «Igreja
Grande*, ainda em estado de atrasada construçãa.
Cincoenta anos depois, isto é, em 1558, foi a cidade
do Funchal, com os seus arredores, dividida em duas
freguesias com as respectivas sédes nas igrejas da S é
e de Nossa Senhora do Calhau, tendo a da última
para a igreja de São Tiago n o ano de 1803.
N a paróquia de Santa Maria Maior havia sido esta-
belecida uma colegiada com três beneficiados, além do
pároco, por carta régia de 18 de Novembro de 1557, e
foi criado um curato pelo alvará de 27 de Agosto
de 1589, ficando alguns anos depois constituída essa
colegiada com sete aerventuários.
O serviço ~ a r o q u i a lda fregúesia da Sé, separado
do de S a n t a Maria Maior em 1558, como acima se
disse, passou a o cargo do deão desde o ano de 1514,
em que foi estabelecida a diocese e o respectivo cabido
da Sé Catedral, mas por carta régia de 20 de Junho
de 1562 foram criados os lugares de dois acurasn,
ficando o deão inteiramente desligado daquele serviço.
Pelos anos de 1565 e 1566 desmembraram-se da fre-
guesia da S é a s novas parócluias de São Pedro, San-
to Antonio e Nossa Senhora do Monte e n o ano
de 1579 a s de São Roque e São Martinho, todas
criadas nos anos que ficam referidos.
Admite-se a criação da freguesia de Câmara de
Lôbos pouco posteriormente ao ano de 1430, estabe-
lecendo-se a sua séde n a ermida do Espírito Santo,
cuja ideia de construção se deve a João Gonçalves
Zargo, e que embora inteiramente reconstruída nos
anos de 1720 e 1908 é um dos poucos edifícios que
recordam a primitiva colonização madeirense. A actual
igreja paroquial foi edificada n o segundo quartel do
século XVI e notávelmente ampliada por meados
do século XVIII, tendo também passado por uma
grande restauracão pelos anos de 1912. E dedicada
ao martir São Sebastião. Teve colegiada, estabele-
cida por 1560, datando a criação do curato do ano
de 1575.
Como adiante se verá, existiu nesta freguesia o
convento de S. Bernardino, em que viveu e morreu o
virtuoso franciscano Fr. Pedro da Guarda, conhecido
pelo nome de Santo Servo de Deus.
Foi também pròxirnamente pelo ano de 1430 que
se criou a freguesia da Calhêta com o seu centro n a
capela de Nossa Senhora da Estrêla, que, n o dizer de
Frutuoso, «Zargo traçou de sua mão» e construída
por seu genro Diogo Cabral, parente do descobridor
do Brasil. Alguns anos depois é que se edificou a
actual igreja paroquial, que através do tempo tem
recebido importantes melhoramentos. S ã o dignos de
especial apreço o primoroso « sacrario », talhado em
ébano e com incrustações de prata, afirmando-se que
foi oferta do rei D. Manuel, e o belo tecto da cape-
la-mór construido pelo mesmo sistema do da nossa
S é Catedral. É seu orago o Divino Espírito Santo.
A sua colegiada data do ano de 1572 e o curato
foi criado pelo alvará régio de 27 de Agôsts de 1589.
A ordem seráfica fez ali edificar u m pequeno con-
vento, de que ao diante se dará breve notícia.
Devemos aqui advertir que, n a determinação das
datas referentes á criação das freguesias, curatos e
diversos cargos eclesiásticos, démos preferência a o
valioso ~ I n d e xGeral do Registo d a Antiga Provedo-
16 D l O C E S E DO F U N C H A L

ria da R e a l Fazendan, por se tratar de u m documen-


to organizado em u m a repartição pública e que nos
oferece informações mais seguras, como inúmeras
vezes havemos tido ocasião de o verificar.

-
5 - 1430 a - Ordem Seráfica -Diz uma antiga
crónica seráfica que, espiritual e religiosamente'falan-
do, foram os frades franciscanos que descobriram esta
ilha, tendo celebrado o Santo Sacrificio da Missa n a
praia de Machico n o dia do desembarque dos primei-
ros colonizadores, e acrescenta a mesma crónica que
n o ano de 1430 o franciscano Fr. Rogério organizara
uma pequena comunidade religiosa, que conjectura-
mos haver-se instalalado nas imediações da actual
capela de S. João da Ribeira.
A Ordem Seráfica de São Francisco teve nesta
diocese u m a larga expansão e adquiriu u m justificado
prestigio, tanto pelo avultado número dos seus mem-
bros como pelas importantes casas monásticas, igrejas
e capelas que fundou e ainda especialmente pelos
largos e excelentes serviços prestados à causa da reli-
gião. Durante alguns anos, como já se disse, foram
os únicos sacerdotes que desempenharam a s funções
eclesiásticas nas capelas que a pouco e pouco se iam
edificando. Vieram outros religiosos franciscanos de
diversas partes do continente e até do estrangeiro,
segundo se afirma, entregando-se a uma vida de asce-
tas e anacoretas, atraídos pela solidão e isolamento
do lugar, tão propício à prática do sacrificio e da
penitência.
Entre as casas monásticas que levantaram nesta
ilha destacavam-se o convento de religiosos de São
Francisco e o de freiras de Santa Clara, que eram
dos mais importantes que a ordem possuia em todo
o país. N a cidade do Funchal tiveram ainda os dois
mosteiros de religiosas de Nossa Senhora da Incar-
nação e de Nossa Senhora das Mercês. Fóra da cidade,
pertenciam à mesma ordem religiosa os conventos de
São Bernardino, em Câmara de Lobos, de Nossa
Senhora da Piedade, em Santa Cruz, de Nossa
Senhora da Porciúncula, n a Ribeira Brava, e de São
Francisco, n a Calhêta, aos qaais todas nos havemos
de referir n o decurso deste ligeiro estudo.

6-Séc u lo X V (2.0 Quartel) - C a p e l a s Anti-


gas-Uma das mais antigas capelas desta Diocese
era a de São Sebastião, edificada n o lugar que depois
se chamou Largo de São Sebastião e é hoje conhecido
pelo nome de Largo do Chafariz. A l i se estabeleceu,
segundo a s melhores probabilidades, a séde da pri-
meira paróquia existente n o Funchal, como já atrás
ficou referido. Gosava da maior veneração por parte
de toda a população e quando foi demolida, n o ano
de 1803, para ali se proceder à construção de u m
mercado, causou o facto uma grande indignação.
Alguns anos depois, tentou o povo a sua reedificação,
mas nunca se ultimaram os respectivos trabalhos. São
bastante interessantes as peripécias ocorridas com a
sua demolição, tentativas de reconstrução e a edifica-
ção do chafariz ainda ali exístente, que veem larga-
mente narradas n o « Elucidário Madeirense ».
É das mais antigas, e talvez a primeira construida
fóra da área do Funchal, a capela de Nosso Senhor
Jesus Cristo da vila de Machico, mais vulgarmente
conhecida pelo nome de Capela do Senhor dos Mila-
gres. Afirma-se, com visos de verdade, que ao realizar-
18 DIOCESE DO FUNCHAL

-se nas praias de Machico o desembarque dos primi-


tivos colonizadores, celebrara ali o santo sacrificio da
missa u m dos religiosos franciscanos que acompanhara
a expedição, e que nesse momento solene se fizera o
voto de erigir-se naquele local uma capela dedicada
a Nosso Senhor Jesus Cristo. E, pois, um modesto
mas significativo monumento histjrico a comemorar
O início da grande obra da colonização madeirense,
devendo merecer a mais acrisolada veneração por parte
de todos os habitantes deste arquipélago. Foi reedifi-e
cada por meados do século XVII, deixando-a em
adiantado estado de ruina a grande aluvião de 9 de
Outubro de 1803 e precedendo-se alguns anos depois
à s u a inteira reconstrução. A s aguas arrastaram para
o alto mar a veneranda imagem do Senhor Jesus, que
sendo encontrada por uma galera americana, a sua
tripulação a fez depositar n a S é Catedral e depois se
restituiu à sua capela, onde ainda se conserva. É o cen-
.tro de uma das mais concorridas romagens e ali afluem
milhares de pessoas de todas as freguesias da ilha.
A capela de São Paulo é também uma das mais
antigas da diocese, atribuindo-se a sua fundação ao
próprio João Gonçalves Zargo, primeiro capitão-
-donatario do Funchal, junto da sua moradia e do
hospital que ali se levantou posteriormente. N o s fins
do século XVII ou princípios de século seguinte foi
inteiramente reconstruida, tendo sofrido uma grande
restauração n o penúltimo quartel do século pas-
sado. E r a dedicada aos apostolos São Pedro e
S ã o Paulo e nela se instalou em 1568 a séde da
freguesia de São Pedro, por ocasião da sua criação. Foi
primitivamente servida pelos religiosos franciscanos,
que h a poucos anos retomaram a direcção dos actos
do culto, que ali piedosamente se praticam
A capela de São João Baptísta, vulgarmente cha-
mada «São João d a Ribeira», por ficar situada n a
margem direita da ribeira dêsse nome, é igualmente
das maís antigas da nossa diocese, datando a primiti-
va ermida, adjunta ao antigo cenóbio dos religiosos
franciscanos, do segundo quartel do século XV. A
impetuosa corrente destruíu-a quasi inteiramente nos
princípios do século XVIII, tendo sem demora sido
reconstruída, e n o a n o de 1780 foi notàvelmente
acrescentada e melhorada n o seu conjunto. P o r mea-
dos do século XIX, achava-se muito arruinada, pas-
sando então por uma grande restauração. Foi em
outro tempo centro de uma grande romagem, a quê
afluíam individuos das freguesias mais afastadas.
Deve datar do segundo quartel do século XV a
capela do Espírito Santo da freguesia de Câmara de
Lôbos, dizendo Gaspar Frutuoso que «João Gonçal-
ves Zarco chegando a u m alto sobre Camara de Lobos
traçou ali onde se fizesse huma igreja do Espirito
Santo.. .». Nela se instalou a primeira séde da fre-
guesia, por 1430, e foi reedificada n o ano de 1720,
tendo posteriormente recebido diversas reparações. A-
-pesar-de não restar ali cousa alguma d a primitiva
construção, é, n o entretanto, esta peauena capela u m
monumento histórico para o concelho e freguesia de
Câmara de Lôbos, que recorda o nome do primeiro
capitão-donatario do Funchal, que a mandou edificar,
e também o início do antigo povoamento, merecendo por
isso ser conservada com a mais acendrada veneração.
Com a capela do Espírito Santo, também a capela
da Vera Cruz, n a freguesia da Quinta Grande, foi
atracada» por Zargo, segundo a informação das
usaudades da Terra*, mas ignora-se o ano em que
foi edificada, sabendo-se contudo que é de construção
20 DIOCESE D O FUNCHAL

bastante antiga. Pertenceu primitivamente à paróquia


de Câmara de Lobos, passando depois a fazer parte
d a do Campanário, quando esta foi criada pelos anos
de 1553, e desde o a n o de 1848, que está encorporada
n a freguesia da Quinta Grande, tendo algumas vezes
servido de igreja ~ a r o q u i a l .
Datando igualmente do segundo quartel do sécu-
lo XV e devida também à iniciativa de Zargo, é a
construção da capela de Nossa Senhora da Estrêla,
n a freguesia da Calhêta, que foi posteriormente levan-
tada pelo seu genro Diogo Cabra1 e nela se instalou
a séde da paróquia, havendo sido reediiicada n o a n o
de 1560. Há muito que se acha demolida, sendo
infrutíferas as várias tentativas que se fizeram para a
sua reconstrução.
D o terceiro quartel do século XV existem as cape-
las do Corpo Santo, n a freguesia de S a n t a Maria
Maior, e a de Santo Amaro, n a freguesia de Santo
Antonio do Funchal. A primeira, que tem a invoca-
ção de S. Pedro Gonçalves Telmo, padroeiro dos marí-
timos, é uma construção sobremaneira interessante e
conserva nas suas decorações interiores algumas telas
a oleo de apreciado valor artístico, merecendo serem
lidas a s páginas que a esta capela consagrou o mar-
quês de Jacome Correia n o seu livro I l h a da Madei-
r a publicado n o ano de 1927.
Informa-nos o ilustre comentador das Saudades da
Terra que Garcia Homem de Sousa, genro de João
Gonçalves Zargo, fundou a capela de Santo Amaro
n o ano de 1460, junto da casa acastelada que possuía
naquele sítio. Procedeu-se à sua reedificação nos fins
do século XVII e é hoje propriedade da mitra do
Funchal. Tem três altares, não é de acanhadas pro-
porções e acha-se em bom estado de conservação. N o
livro aParóquia de Santo Antónioa, da nossa auto-
ria, encontra-se uma desenvolvida notícia histórica
acêrca desta capela.
DO terceiro quartel do século XV existia ainda a
capela da Assunção de Nossa Senhora, chamada dos
Varadouros, por se encontrar n o largo conhecido por
êste nome, que u m vandalismo iconoclasta fêz demo-
lir n o ano de 1911. N o aElucidário Madeirensen
(11-225), encontra-se uma desenvolvida notícia acêrca
desta capela e do aparatoso «arcoa que lhe ficava
contíguo e que em outro tempo era a entrada nobre
d a cidade.

7 - 1433-Doação à Ordem de Cristo -Por


carta régia de 26 de Setembro dêste ano, fêz o rei
D. Duarte doação à Ordem de Cristo «pera todo
sempre todo o espiritual das nossas Ylhas da madey-
.
r ã e do porto santo e da Ylha Deserta.. .,, perten-
cendo a esse importante organismo, que t i n h a sua
séde em Tomar e por intermédio do seu Vigário, pro-
ver aos diversos serviços religiosos dêste arquipélago,
enquanto não se desse a criação da diocese do Fun-
chal, o que sòmente veiu a realizar-se aproximada-
mente u m século depois do ano que fica indicado. Foi
também por carta régia de 26 de Setembro de 1433
que D. Duarte fêz a doação da Madeira ao infante
D. Henrique, que ao tempo era o grão-mestre da
referida Ordem.
Como dizemos em outro lugar, foram os religiosos
franciscanos os sacerdotes que primeiramente desem-
penharam funções eclesiásticas nesta ilha, mas a
Ordem de Cristo, muito ciosa do seu padroado e
dos previlegios que lhe tinham sido concedidos, man-
22 DIOCESR D O F U N C 4 A L

dou sem grande demora diversos eclesiásticos, alguns


deles membros da mesma Ordem, para exercerem
aquelas funções e ~ u ~ e r i n t e n d e r e m
nos vários serviços
paroquiais.
O s previlegios de que gosava a Ordem de Cristo,
no Gue respeitava a cousas de caracter religioso, foram
em absoluto confirmadas pela Bula Inter Coetera, do
papa Calixto 111, de 13 de Março de 1455.
É sabido que a mesma Ordem tinha também inter-
ferência directa em certos ramos da administração
civil, chegando a fazer a arrecadação de certos impos-
tos e contribuições, como verbas proprias das receitas
que usufruía neste arquipélago e de que a s anotações
das Saudades da Terra nos dão uma circunstanciada
notícia.

8-1440-1450-Criação de P a r ó q u i a s - F o i
aproximadamente pelos anos de 1440 que se deu a cria-
ção da freguesia da Ribeira Brava com séde n a capela
dedicada a São Bento, sendo-lhe acrescentado um cura-
to por carta régia de 30 de Agôsto de 1594. Teve cole-
giada com quatro beneficiados, além do pároco e do
coadjutor. A primitiva capela passou por vários acres-
centamentos e reparações, sendo a actual igrejq paro-
quial construída nos fins do século XVI o u princípios
do século seguinte. N o s anos decorridos de 1931 a 1933
foi notávelmente ampliada e recebeu os mais apreciá-
veis melhoramentos. Possui u m trítico com valiosas e
artísticas pinturas e u m púlpito primorosamente lavra-
do em pedra, que merecem ser apreciados. E seu ora80
o patriarca S. Bento. A Ordem Seráfica teve nesta fre-
guesia u m « hospicio» ou pequeno convento, a que nos
devemos referir n o prosseguimento deste ligeiro estudo.
D a t a da mesma época de 1440 a criação da fregue-
sia do Caniço, que por carta régia de 20 de Outubro
de 1605 começou a ter um curato. A Ribeira do Cani-
ço marcava a linha divisória das capitanias do Funchal
e de Machico, e a freguesia compreendia os moradores
estabelecidos nas duas margens, que por mal contidas
rivalidades fizeram edificar uma igreja em cada mar-
gem e dirigidas pelo mesmo pároco, que alternadamente
a s servia, tendo terminado esta estranha anomalia n o
ano de 1783 com a construção da igreja actual, quando
a s duas antigas igrejas se encontravam já em estado
muito adiantado de ruína. O orago da nova igreja é
o Divino Espírito Santo e Santo Antão, certamente
para recordar os oragos das duas antigas igrejas paro-
quiais, que tinham estas invocações.
O ano de 1450 é a data conjectura1 da criação da
paróquia n a ilha do Pôrto Santo, afirmar-se
que anteriormente a essa época já ali existia uma
« capelania n com o indispensavel serviço religioso.
Teve uma das primeiras colegiadas criadas nesta dio-
cese com vigario e quatro beneficiados, a que a carta
régia de 27 de Agôsto de 1589 acrescentou um curato.
Desde o primitivo povoamento existiu ali a pequena
capela de Nossa Senhora da Piedade, que passou por
vários melhoramentos, sendo inteiramente reedificada
e ampliada nos primeiros anos do século XVIII. Essa
igreja e capela muito sofreram com os assaltos dos
corsarios, que por vezes a incendiaram e profanaram,
nomeadamente nos anos de 1566, 1600, 1617, I690
e 1708. O seu orago é Nossa Senhora da Piedade.
E m muitos lugares se afirma que n o ano de 1450
se criou a freguesia de Machico, não podendo todavia
duvidar-se que já anteriormente a esta data estava a l i
estabelecido u m regular serviço paroquial, como aci-
24 DIOCESE DO FUNCHAL

m a fizemos notar, ao referir-nos à criação da paró-


quia de Santa Maria Maior, embora não se tivesse
dado àquela localidade o nome de c<freguesia», por
motivos que hoje se ignora. A carta régia de 5 de
Novembro de 1576 criou u m curato e por 1565 uma
colegiada, que chegou a ser servida por sete eclesiás-
ticos. Informa-nos o anotador das «Saudades da Ter-
r a » <iue a instâncias do infante D. Henrique e por
mandado do Vigario de Tomar (Ordem de Cristo)
viera o padre João Garcia assumir a direcção da
paróquia n o ano de 1450. Dá-se a igreja como cons-
truída nos últimos anos do século XV e afirma-se
que as colunas de mármore da bela porta lateral e
bem assim o antigo orgão foram oferta especial do
rei D. Manuel I. É u m a maravilhosa obra de arte o
quadro da Adoração dos Magos, que se encontra n a
capela do Santíssimo Sacramento sobranceiro ao res-
pectivo altar. Orago: N. S. da Conceição. Fica nesta
freguesia a antiga capela do Senhor dos Milagres, a
que já acima fizemos referência.
Também pelos anos de 1450 teria sido criada a
paróquia da P o n t a do Sol, que ràpidamente se desen-
volveu e que em 1501 era elevada à categoria de vila.
Conjectura-se que data do segundo quartel do sécu-
lo XV a construção d a capela de Nossa Senhora da
Luz, que serviu de séde à nova freguesia e que foi
muito ampliada nos principios do século XVIII, ten-
do ainda h á poucos anos sido artisticamente restau-
rada. P o r 1572 deu-se a criação da colegiada e a de
u m curato, por carta régia de 20 de Agosto de 1579.
Orago: N. S. da LUZ. N a s u a área se encontra a
conhecida capela do Santo Espírito n a Lombada dos
Esmeraldos, de que adiante se dará mais larga notícia.
Foi por esta época e talvez mesmo anteriormente
a o a n o de 1450 que se constituíu a paróquia de San-
ta Cruz, e aue acompanhou e até em breve excedeu o
progresso e desenvolvimento da séde da capitania,
sendo em 1515 elevada à categoria de vila. A colegiada
foi organizada por 1570 e a que o alvará régio de
27 de Agôsto de 1589 acrescentou u m curato. Seria
provávelmente S ã o Salvador a invocação da capela
ali existente, onde se estabeleceu a séde da freguesia
e n o mesmo local se construíu a nova igreja, que é a
actual, n o ano de 1533. É o templo mais vasto da
diocese fora do Funchal e tem três naves, embora
anão bem definidas» segundo se lê algures.

9 - 1 4 6 0 - M o r t e do I n f a n t e D. Henrique-MOK-
re o infante D. Henrique, que nesse mesmo a n o fêz
a s últimas disposições da s u a vontade, entre as quais
se encontram algumas que interessam à história ecle-
siástica desta diocese. Delas destacaremos a verba tes-
tamentária referente à fundação de várias igrejas e
que é concebida nestes termos: «Item estabeleci e
ordenei a principal igreja de S a n t a Maria da ilha da
Madeira e deshi em diante a s outras que si ordena-
ram, e item estabeleci hi da ilha do Poxto Santo e
..
Igreja da I l h a Deserta. ».
Dispôs também o infante que, n ã o sòmente n a
Madeira mas nas outras terras descobertas, se cele-
brassem missas aos sábados em todas as igrejas e
capelas, como se vê desta interessante verba do seu
testamento: «eles (capelães) diguam cada semana ao
sabado h u a missa de Santa Maria em cada igreja em
que ouver capelão, e a comemoração seja do Espirito
Santo, com seu responso e a oraçam Fidelium Deus.
Dizendo n o introito das ditas missas alta voz aos
4
26 DIOCESE DO FUNCHAL

que estiverem de presente que diguam o pater noster


e ave maria por minha alma e dos da 0r.dem e
daqueles que obrigado sou, e os capelães que assy
disserem a s ditas missas que são cincoenta e duas por
todo o a n o ajão por todas estas missas todo o ano
seis onças de prata».
Parece ter afrouxado o fervor no cumprimento
dêste encargo, porque quarenta e dois anos depois da
morte do infante D. Henrique aparece o Breve Pon-
tifício Exposifum nobis fuif, de 17 de Março de 1503,
dirigido pelo papa Alexandre VI ao rei D. Manuel,
impondo a rigorosa observância daquela obrigação e
lembrando a o monarca o seu inteiro cumprimento.
Temos encontrado muitas referências a diversos
alvarás régios àcêrca da celebração destas missas,
comumente chamadas «missas do sabadoa ou do
«Infante» até os primeiros anos do século XVIII,
julgando que nesta diocese ainpa elas se celebravam
nos principios do século XIX. E possivel que se hou-
vesse obtido da Santa S é a comutação dêste encargo,
o que não podemos afirmar.
Ainda outra disposição pia se lê n o referido testa-
mento, determinando que « o lente da cadeira de pri-
m a ( n a Universidade de Coimbra) aja em cada um
anno para sempre doze marcos de prata por a pri-
meira renda dos dizimas que a Ordem de Cristo h a
.
n a ilha da Madeira. .a.

10 --1460-a -Convento de São Bernardino-


O convento de São Bernardino de Sena, n a fregue-
sia de Câmara de Lobos, teve a mais obscura ori-
gem com a vinda do reino do religioso frànciscano
Fr. Gil de Carvalho n o ano de 1460, que acompa-
nhado de outros dois religiosos ali fundou u m
pequeno cenóbio, vivendo de esmolas e entregando-se
a austeras penitencias. Alguns anos depois, Fr. Jorge
de Sousa ampliou o convento e a capela anexa, que
uma enchente da ribeira quási inteiramente destruíu,
tendo esse religioso procedido a uma mais ampla
construção posta ao abrigo d a invasão da corrente.
Sómente, porém, n o ano de 1763, é que se edificou a
actual igreja e que com a expulsão das ordens reli-
giosas em 1834 ficou entregue ao mais completo aban-
dono, entrando logo em iminente ruína. H á duas
dezenas de anos que o pároco daquela freguesia João
Joaquim de Carvalho promoveu a inteira restauração
dessa igreja e da antiga casa conventual adjunta,
onde funcionou u m pequeno seminário n o período
decorrido de 1931 a 1933. A ígreja de São Bernardino
tornou-se muito conhecida e u m centro de continua-
das romagens vindas de todos os pontos da ilha,
depois que ali se sepultou o religioso Fr. Pedro da
Guarda, conhecido pelo nome de Santo Servo de Deus
e falecido naquele convento em cheiro de santidade
n o ano de 1508 (Vid. esta data).

11- 1462 --Cenóbio em Machico - N o livro Fre-


guesias da Madeira do tenente-coronel Alberto A r t u r
Sarmento, lê-se o seguinte. «Próximo à Misericórdia
ficava o Conventinho de Santo António fundado pelos
franciscanos em 1462. Havia u m pequeno cenóbio
repartido em acanhadas celas e sustentado por esmo-
las. A s aguas de u m a grande tempestade, conjugadas
de mar e terra destruiram em 1467 a casa dos religio-
sos, perecendo Fr. Pedro, Fr. Filipe, Fr. Merteolo e
28 DIOCESE DO FUNCHAL

um leigo com grande consternação de Tristão Vaz e


da florescente coloniav.
A casa do pequeno convento não foi reconstruída.

12-1467 - João G o n q a l v e s Zargo -Segundo se


lê n o «Arquivo Histórico da Madeiras faleceu neste
ano o primeiro-capitão-donatário do Funchal João
Gonçalves Zargo, a quem esta ilha é devedora dos
mais assinaladps serviços nos árduos trabalhos d a
incipiente colonização madeirense, que são geralmen-
te de todos conhecidos. A o s serviços de caracter reli-
gioso, prestou também valioso e dedicado auxílio, que,
embora não se conheça de uma maneira pormenori-
zada, sabe-se n o entretanto que fundou a s capelas d a
Conceição de Cima (hoje S a n t a Clara) e a de
S ã o Paulo, e deixou delineadas a do Espírito Santo,
em Câmara de Lobos, e a de Nossa Senhora d a
Estrela n a Calhêta, segundo referem as Saudades da
Terra. Trouxe n a frota expedicionária do primitivo
povoamento dois religiosos franciscanos e pode afir-
mar-se que muito teria contribuido, junto do mestra-
do da Ordem de Cristo, para a vinda dos sacerdotes
que esse organismo destinou aos serviços religiosos
deste arquipélago.

13-1473 - C o n v e n t o de São Francisco-OS


religiosos franciscanos formaram primeiramente uma
pequena comunidade e construíram u m a modesta
ermida e u m a não menos humilde residência, como
já ficou dito, n o local em que actualmente se encon-
t r a a capela chamada de São João da Ribeira, procu-
rando depois instalar-se com mais largueza n o centro
da povoação, o que conseguiram realizar no ano
de 1473 com a construção dum convento e igreja ane-
xa, fundados por Luis Alvares d a Costa n o local
ocupado actualmente elo Jardim Municipal, Teatro
Baltasar Dias e seus mais próximos arredores.
' A s instalações. tornaram-se em breve insuficientes
para o movimento da casa conventual e a igreja tam-
bém era de acanhadas proporções, havendo-se proce-
dido à reconstrução do templo e alargamento do mos-
teiro n o terceiro e último quartel do século XVI.
A-pesar-dessas notáveis ampliações foi julgado neces-
sário o levantamento de uma nova e mais vasta igre-
ja, decorrendo a sua construção n o último quartel do
século XVIII. Embora não totalmente acabado, quan-
do n o ano de 1834 foram encerradas as suas portas,
ficou u m amplo e magestoso edifício, não sómente
pelos elegantes traços da s u a arquitectura como ain-
da pelas primorosas decorações interiores dos seus
oito belos altares ou capelas, tornando-se desde logo
a verdadeira necrópole da velha nobreza e mais qua-
lificadas famílias da Madeira, que ali conservavam os
seus ricos e aparatosos mausoleus nas capelas de que
eram padroeiros. Ainda hoje nos causa fundo pesar
a lembrança de haver sido demolida, por ardente
febre iconoclasta, uma tão suntuosa igreja, para n o
seu local se levantarem u n s malfadados paços do con-
celho, cuja construção não passou do lançamento dos
respectivos alicerces!

14-1476-Fr. N u n o Cão-Neste ano a infanta


D. Beatriz como tutora de seu filho o grão-mestre da
Ordem de Cristo, nomeou N u n o Gonçalves represen-
tante d a mesma ordem n a superintendência de todos
30 DIOCESE D O FCNCHAL

os serviços religiosos e também do encargo da paro-


quialidade da freguesia de Santa Maria Maior, sendo
O segundo sacerdote que desempenhou essas funções.
Teve como seu sucessor a Fr. N u n o Cão, membro
graduado da referida ordem, que por 1490 assumiu o
cargo de vigário da freguesia de Santa Maria Maior
e posteriormente da Sé, havendo sido n o ano de 1514,
por ocasião da criação da diocese, investido n o lugar
de deão do cabido da S é Catedral, a que andava ane-
xo o exercício das obrigações de pároco. Fr. N u n o
Cão que segundo informa Frutuoso era amestre em
teologia e bom letrado », prestou relevantes serviços
n o desempenho dos seus cargos, havendo o senado
funchalense agradecido ao grão-mestre da Ordem a
acertada nomeação que havia feito n a pessoa desse
ecle-iiástico. Faleceu por 1530.

15-1482-0 S e n h o r dos Milagres-Referem


velhas crónicas madeirenses que, n o dia 26 de Dezem-
bro dêste ano, diversas pessoas verificaram que o Cru-
cifixo do Senhor Jesus existente n a igreja do antigo
convento de S. Francisco tinha o braço direito des-
caído a o longo do corpo, averiguando-se depois que
n a imagem não havia qualquer sinal o u vestígio que
justificasse esse facto e por isso se ficou atribuindo a
estranha ocorrência a um autêntico milagre, em que
todos piedosamente acreditavam. A 22 de Janeiro do
a n o seguinte, perante o Juiz Ordinário do Funchal
se procedeu a u m auto de investigação com o depoi-
mento de várias testemunhas, dando-se o facto narra- .
do como autêntico e comprovado. O prelado diocesano
D. Fr. Lourenço de Távora, à vista do «instrumento,
que lhe fora apresentado pelos religiosos franciscanos
concedeu, a 24 de Outubro de 1615, aprovação, «conio
milagre evidente», ao que n o mesmo instrumento se
narrava, dando-se assim maior fé e maior autentíci-
dãde a o que já era crença geral entre os habitantes
da cidade. E essa a mesma veneranda imagem, que se
conserva n o altar do Senhor dos Milagres da Sé
Catedral e que ainda actualmente nos dias 26 de
Dezembro e 28 de Outubro de cada ano, é de modo
especial exposta à veneração dos fieis. (Saud. da
Terra, pág. 580 e ss.)

16-1486- Juízo das Capelas -- Pouco anterior-


mente a esta época, foi criado n o Funchal com o
pomposo título de «Juízo dos Resíduos e Prove-
dor de Capelas, Hospícios, Albergarias, Gafãrias e
Orfãos* um tribunal, que entre outras atribuições
contava a de fiscalizar o cumprimento dos diversos
legados pios impostos em muitas propriedades rústi-
cas e urbanas. A medida que se foram multiplicando
os vínculos e morgadios, tornara-se muito considera-
vel o número de semelhantes legados, estando uma
grande maioria dos prédios vinculados onerados com
as despesas inerentes à satisfação dêsses numerosos
encargos. O s herdeiros e sucessores dos primitivos
instituidores procuravam muitas vezes subtrair-se ao
cumprimento dos respectivos legados, que principal-
mente consistiam n a celebração de missas e sufrágios
e n a prática de certas obras de piedade e beneficência.
O tribunal, especialmente em assuntos de caracter
religioso, nem sempre procedia com a devida isenção
e de harmonia com as leis, dando-se algumas vezes
graves confiitos entre os juízes e a autoridade ecle-
siástica, que se via forçada a recorrer às estações
32 DIOCKSE D O FUNCHAL

superiores, a-fim-de serem cumpridas as disposições


dos legados pios, que deviam constituir o mais sagra-
do dever e a que ninguem poderia conscienciosamente
eximir-se. P o r vezes, o corregedor da comarca e o
governador e capitão-general intervieram nesses con-
flitos, a-fim-de coagir o tribunal ao cumprimento do
seu dever.

17-1450-1480- Freguesia
- de São Vicente -
Deqtro dêste período de tempo, .se deve aproximada-
mente fixar o ano da criação desta freguesia, a pri-
meira que se estabeleceu n a costa setentrional d a
Madeira, e que teve s u a séde n a capela daquela invo-
cação, edificãda por meados do século XV, e recons-
truída e ampliada n o último quartel do século XVII.
A carta régia de 2 de Janeiro de 1606 criou u m cura-
to n a capela de Nossa Senhora do Rosário. Pela pro-
visão episcopal de 2 de Setembro de 1812 foi ali esta-
belecida uma vigairaria da vara e por outra provisão
de 14 de Janeiro de 1814 tornou-se extensiva a juris-
dição dêsse arciprestado às freguesias do Seixal, Ribei-
r a da Janela e Pôrto do Moniz. T e m como orago o
martir S. Vicente e com a mesma invocação se encon-
t r a a peauena distância u m a curiosa capela aberta
em u m solitário bloco de basalto.
Pela s u a importância e aumento da s u a população
foi criada a vila e município de S ã o Vicente, pela
carta régia de 25 de Agôsto de 1744, com séde n a
freguesia do mesmo nome.

18 - 1492 - Convento de Santa Clara-- João


Gonçalves Zargo, primeiro capitão-donatário do F u n -
chal, fundou a igreja de Nossa Senhora da Concei-
ção, mais conhecida pelo nome Conceição de Cima, e
adjunto a ela fêz seu filho João Gonçalves da Câma-
ra, segundo capitão-donatário, edificar o convento de
Santa Clara, n o tempo decorrido de 1492 a 1497, de
que foi fundador e padroeiro, passando também a
igreja a chamar-se de S a n t a Clara, especialmente
depois da sua reconstrução realizada n a segunda
metade do século XVII. Através do tempo recebeu
vários melhoramentos e ampliações, tornando-se uma
das mais importantes casas monásticas do país, tanto
pelo número das religiosas e capacidade das diversas
instalações como pelas largas dotações com que fora
generosamente contemplada. Começou por ser uma
comunidade da mais austera observância e assim se
conservou por dilatados anos, mas a facilidade n a
admissão de noviças e ainda outras causas afrouxa-
ram a primitiva disciplina e entrou-se em breve n u m
período de acentuada decadência reIigiosa.
Pela morte da ÚItima freira, ocorrida n o ano
de 1890, e em virtude do disposto n o decreto de 12 de
Março de 1896, foi o mosteiro cedido à «Congregação
das Franciscanas de Marian e aplicado à form.ação
de pessoal feminino destinado para a s missões do
ultramar. Passando em 1910 à posse do Estado,
foram a s diversas dependências do edifício concedidas
à Câmara Municipal, à S a n t a Casa da Misericórdia
e a Associação do Auxílio Maternal a elos decretos
de 31 de Outubro de 1912 e 22 de Setembro de 1913,
revertendo de novo à posse do mesmo Estado por
n ã o terem sido preenchidos os fins para que se fizera
essa cedência, embora fosse em grande parte demoli-
do e ~ r o f a n a d o . O decreto de 25 de Janeiro de 1927
tornou a ceder os restos do antigo convento à Asso-
5
34 D I O C E S E D O FUNCHAL

ciação Auxiliar das Missões Ultramarinas para o


mesmo destino consignado n o citado decreto de 1896.
Êste mosteiro pertencia à Ordem Seráfica e a sua
comunidade composta de religiosas chamadas « claris-
sas», que tinha Santa Clara como sua fundadora.

19-1497 - A Madeira Realenga -Por Carta


Régia de 27 de Abril deste ano fez o rei D. Manuel
a encorporação deste arquipélago n a coroa ou a <<Ma-
deira se tornou r e a l e n g a ~ ,como em varios lugares se
lê, cessando as antigas doações à Ordem de Cristo e
ao infante D. Henrique e seus herdeiros e sucessores,
embora aquele poderoso organismo continuasse a usu-
fruir por largo tempo muitos dos privilégios que lhe
tinham sido concedidos nestas ilhas, tanto n o domínio
de assuntos de ordem administrativa como ainda em
assuntos de caracter religioso, cuja extensão não é
hoje possivel determinar. Com a criação da Diocese,
n o ano de 1514, é que inteiramente acabou neste
arquipélago a interferencia da Ordem de Cristo em
todos os serviços de ordem eclesiástica.

20 -1501 - Capela do Loreto- Pedro Gonçalves


da Carnara, neto de João Gonçalves Zargo e marido
de D. Joana de Eca, que foi camareira-mór da rainha
D. Catarina, fundou a capela de Nossa Senhora do
Loreto, n a freguesia do Arco da Calheta, pelos anos
de 1501, sendo posteriormente reconstruída com a sua
actual, interessante e típica arquitectura, deformada
h a poucos anos com a adaptação de u m disparatado
«alpendre », que deveria ser dali removido.
Com a s aparatosas casas de moradia que a cir-
cundavam foi o centro de u m importante morgadio,
que em grande parte veiu a pertencer ao convento da
Esperança em Lisboa, de que a referida D. Joana de
E ç a era padroeira e em cuja igreja teve a sua
sepultura.
E uma das mais antigas capelas da diocese e
tornou-se o centro de uma concorrida romagem, a que
afluem inúmeros romeiros de toda a ilha e especial-
mente das freguesias circunvizinhas.

21-1508 -Bispo D. João Lobo-Enviado pela


Ordem de Cristo, a que este arquipélago pertencia n o
«espiritual», veiu à Madeira n o a n o de 1508 D. João
Lobo, Bispo titular de Taiere, que foi o primeiro pre-
lado que esteve nesta ilha e o primeiro que aqui exer-
ceu a s funções do ministerio episcopal. Demorou-se
mais de u m ano e visitou todas a s igrejas e diversas
capelas. Procedeu à sagração da capela dos Esmeraldos
n a Lombada da P o n t a do Sol, e, segundo todas a s
probabilidades, teria benzido a "Igreja Grande», a
futura Sé Catedral, ainda em estado de atrasada
construção. A sua visita pôs em mais saliente relêvo
a necessidade da criação da diocese e apressou certa-
mente a realização dessa ideia, tantas vezes manifes-
tada e exigida pelos madeirenses.
Foi recebido com as maiores demonstrações de
apreço e desempenhou com grande zelo e dedicação o
seu múnus pastoral, deixando entre os habitantes a s
mais vivas e gratas recordações.

22 -1508-A-Santo Servo de Deus- Foi Fr. Pe-


dro da Guarda, diz-nos o Elucidario Madeirense, u m
36 D I O C E S E D O FUNCHAL

pobre e humilde franciscano, que nasceu em 1435 n a


cidade de que tomou o nome e morreu n o convento
de São Bernardino, da freguesia de Camara de Lobos
n o ano de 1508. A austeridade da sua vida, a s duras
penitencias a que se entregava e a prática exempla-
rissima de todas a s virtudes cristãs grangearam-lhe
fama de santo ainda durante a sua peregrinação ter-
rena. N ã o tardou que, logo após a sua morte e por
toda a ilha, o Santo Servo de Deus, nome por que se
tornou conhecido, fosse fervorosamente invocado e se
atribuíssem á sua eficaz intercessão muitos factos
miraculosos. O pobrissimo cubículo em que lhe decor-
reram vinte anos de existencia e o cova1 em que foram
sepultãdos os seus restos mortais passaram a ser
objecto da maior veneração, e ali acudiam incessan-
temente inúmeros individuos de toda a parte e de
todas a s classes sociais a implorarem a s graças e
os beneficios de que careciam, por intermedio do pobre
irmão leigo da ordem franciscana.
Promoveram-se alguns processos de investigação
canónica destinados a servir de base para a causa da
sua beatificação, e ainda h a trinta e tantos anos novas
tentativas se fizeram nesse sentido, mas surtiram sem-
pre infrutíferas todas as diligências que para esse fim
foram insistentemente empregadas.
(Vid. 1460 e 1834-Antonio Alfredo).

23 -1508- B- Capela d o Santo Espirito- Dedi-


cada ao Divino Espirito Santo, sob a designação de
Santo Espírito, fundou o flamengo João Esmeraldo
uma capela nos primeiros anos do século XVI n a
Lombada da P o n t a do Sol, que foi solenemente ben-
zida em i508 pelo bispo D. João Lobo. E a mais
importante capela da diocese, tanto pela sua capaci-
dade e obras de arte que encerra como pelas tradições
que a ela andam ligadas. N o a n o de 1720 foi inteira-
mente reconstruida em proporções maiores do que as
primitivas, imprimindo-se-lhe então o aparato e a
magnificencia que ora conserva. Quem quiser ter
notícia mais circunstanciada àcêrca desta capela leia o
opusculo « A Lombada dos Esmeraldos n a I l h a da Ma-
d e i r a ~elaborado pelo autor deste despertencioso estudo.

24-1509- Estreito de Camara de Lobos - A


primeira freguesia criada n o século XVI foi a do
Estreito de Camara de Lobos, tendo sido a sede de
uma «capelania», anterior ao ano de 1509, em que a
paróquia se estabeleceu. O curato foi criado pelo
alvará régio de 28 de Dezembro de 1676. Existia ali
a pequena capela de Nossa Senhora da Graça, que
por vezes foi melhorada e ampliada, sendo inteira..
mente demolida e procedendo-se á construção da actual
igreja paroquial em 1753, cuja primeira pedra se lan-
çou a 3 de Fevereiro desse ano e foi benzida a 12 de
Janeiro de 1756, prosseguindo ainda por alguns anos
a conclusão das respectivas obras. Foi sagrada n o
a n o de 1814 pelo bispo D. Joaquim de Meneses e
Athaide. A capela-mór desta igreja é uma das mais
belas desta diocese. N o ano de 1829, cometeu-se nesta
igreja um horrivel desacato, de que ao diante daremos
maior noticia. Orago: N. S. da Graça.

25-1514- Criaqão da Diocese- Devido a o rápi-


do desenvolvimento da colonização madeirense e após
aturadas solicitações dirigidas a o monarca e ao mes-
38 DIOCESE DO FUNCHAL

trado da Ordem de Cristo, foi pela Bula P r o Excellen-


t i Proeminentia do papa Leão X, de 12 de Junho de
1514, criada a Diocese do Funchal, estendendo-se a
vastidão da sua área até os confins do Oriente. Esta
criação implicou a supressão da Vigararia de Tomar,
séde daquela Ordem, e passaram os largos privilégios
de que gozava à jurisdição do bispo do Funchal, sendo
este cargo pela primeira vez desempenhado pelo dr.
Diogo Pinheiro, que era o prior dessa Vigararia e
membto graduado da referida Ordem. N ã o chegou a
visitar a sua diocese, que governou durante doze anos,
por meio dos administradores que para esse fim nomea-
ra, havendo falecido n o ano de 1526 e sido sepultado
n a igreja de Santa Maria dos Olivais da então vila de
Tomar, onde jaz em artístico e aparatoso mausoleu.
Conseguiu varios beneficios para a sua diocese e enviou
á Madeira o bispo titular D. Duarte, que aqui se demo-.
r o u alguns mêses n o exercicio das suas funções epis-
copais.
A data de 12 de Junho de 1514 é sem duvida a mais
memorável desta diocese, pois que assinala o impor-
tante facto da sua criação, sendo a citada Bula P r o
Excellenti Proeminentia que verdadeiramente a auten-
tica, encontrando-se o seu original n o «Arquivo da
Torre do Tombo» n o Maço das Bulas sob o numero 34.
A s u a tradução em lingua portuguesa foi publicada n o
«Correio do F u n c h a l ~de 27 de Novembro de 1897. O
texto latino vem transcrito n o @Corpo Diplomatico
-
Português" ( 1 257) e n a « Historia Genealogica da
Casa Real Portuguesa» (Provas 1-259).

26-1514-A-0 Cabido da Sé-Foi a própria


bula P r o Excellenti Froeminentia, de 12 de Junho
deste ano, que criou esta diocese, a mesma que tambem
fixou o quadro do pessoal do Cabido da S é Catedral,
ficando constituído com as «dignidades» de deão, arce-
diago, 'chantre e tesoureiro e mais doze cónegos de
prebenda inteira. A este corpo capitular de dezasseis
membros, vieram os alvarás régios de 5 de Maio de
1536 e 5 de Setembro de 1577 acrescentar os quatro
lugares de «meias c o n e z i a s ~ou conezias de ameia
prebendap, sendo em 1590 criada a adignidadeu de
mestre-escola e em 1607 a de cónego doutoral n u m a
das conezias já existentes. Ficou então o Cabido for-
mado por vinte e u m membros, tendo esta organiza-
ção perdurado até os fins da primeira metade do
século XIX.
N o s primeiros vinte e cinco anos, como aconteceu
em muitas catedrais, o servil0 religioso da nossa S é
era todo desempenhado pelos cónegos, sendo os pri-
meiros quatro capelães ou beneficiados criados pelo
alvará a 5 de Maio de 1539. Posteriormente foram
criados os lugares de sacristão-mór, sub-chantre, mes-
tre de capela, altareiro e mestre de ceremonias, sendo
quasi todos estes lugares cumulativamente exercidos
com os de capelães-cantores. N ã o podemos fixar o
número total desses serventuarios, mas julgamos não
ser inferior a oito.
Foram membros distintos do corpo capitular da
nossa Sé Catedral Manuel Afonso Rocha, Jeronimo
Dias Leite, Henrique Calala Viveiros, Manuel Ribei-
ro Neto, Simão Gonçalves Cidrão, Antonio Veloso
de Lira, Pedro CorreiarBarbosa, Manuel da C u n h a
Pinheiro, João Francisco Lopes Rocha, Antonio Joa-
quim Gonçalves de Andrade, Antonio Lopes de
Figueiredo, Aires de Ornelas de Vasconcelos, Custo-
dio de Morais e Brito, Alfredo Cesar de Oliveira,
40 DIOCRSE D O FUNCHAL

Feliciano João Teixeira, Manuel Csteves Fazenda e


João Joaquim Pinto, fazendo-se menção de todos eles,
com alguns dados biográficos, a pag. 45 e ss. do opus-
culo « A S é Catedral do Funchalw da autoria do
padre Fernando Augusto da Silva.

27-1514- B - I r m a n d a d e da Misericordia-
A carta régia de 18 de Setembro deste ano entregou
a administração do Hospital do Funchal à Irmandade
da Misericordia, que pouco anteriormente a essa data
se fundara nesta cidade, perdurando este regime até o
a n o de 1834. N o ano de 1906 voltaram os diversos
serviços hospitalares à direcção e superintendencia da
antiga Irmandade ou Confraria da Misericordia, que
tem prestado a êsse estabelecimento de assistência os
mais relevantes serviços, entre os quais se deve assi-
nalar o da instalação do hospital n o magnifico edificio
dos Marmeleiros.
Poucos anos depois da fundação da Irmandade da
Misericordia do Funchal estabeleceram-se confrarias
semelhantes e reguladas pelos mesmos principios de
beneficência nas vilas de Machico, Santa Cruz e
Calheta, que ainda existem e que exercem a sua acção
em proporções muito limitadas.
Quem pretender obter uma notícia mais pormeno-
risada da vida e benéfica acção da Irmándade d a
Misericordia, leia o respectivo artigo inserto n o vol. I1
d a 2." ed. do aElucidário Madeirensen.

28-1515-1520-«Embaixada» ao P a p a - F o i
dentro deste periodo de tempo que se realisou a cha-
mada «embaixada», que o faustoso Simão Gonçalves
da Camara, terceiro capitão-donatário do Funchal,
enviou ao papa Leão X com a aparatosa oferta do
&Sacro Palacio todo feito de assucar e os Cardiais
todos de alfenim.. .. e feitos da estatura de um
.
homem. .», que Gaspar Frutuoso descreve extensa-
mente e que em R o m a teria causado uma grande
admiração, ao menos pela estranha originalidade do
pitoresco presente, fazendo talvez sorrir ironicamente
a s grandes personagens, que nessa época frequen-
tavam a capital do mundo catolico. Estava então
em Roma, como secretário particular do papa Leão X,
o bispo madeirense D. Manuel de Noronha, filho
do referido Simão Gonçalves da Câmara. A «em-
b a i x a d a ~ era chefiada pelo fidalgo João de Leiria,
representante do capitão-donatário, e nela tomou par-
te o cónego da S é do Funchal Vicente Martins, que
a o ser apresentada a original oferta ao Sumo Ponti-
fice proferiu uma elegante oração n a língua latina.

29-1516-A Sé C a t e d r a l - N o
ano de 1493 deu-
-se começo à ediiicação d a igreja que viria a ser a
futura S é Catedral, havendo sido benzida em 1508 e
solenemente sagrada a 18 de Outubro de 1516 pelo
bispo titular de Dume D. Duarte, e cuja construção
não estava ainda inteiramente concluída. Com a cria-
ção da Diocese n o ano de 1514 passou a ter a s hon-
ras de S é Catedral e n o a n o de 1533 foi elevada à
categoria de S é ArquiepiscoPal e Metropolita, ao
tornar-se a séde do arcebispado do Funchal com os
seus quatro bispados sufraganeos. N o ano de 1508
fez-se a transferência da séde da freguesia de Santa
Maria Maior para a «Igreja Granden, a futura Sé,
cuja vasta área compreendia então todas as freguesias
6
42 DIOCESE D O FUNCHAL

que hoje constituem o concelho do Funchal. E m 1566


foi a Sé Catedral objecto dos maiores estragos e pro-
fanações pela desenfreada pilhagem do terrivel saque
que os huguenotes franceses deram a esta cidade
naquele ano. Vimos algures que por fins clo segundo
quartel do século XIX ficou «interdita» durante alguns
dias, mas não conseguimos averiguar a causa dessa
pequena interrupção n a celebração dos actos religiosos
nesse templo.
E m o opúsculo da nossa autoria intitulado « A S é
Catedral do Funchaln damos uma desenvolvida notí-
cia àcêrca da nossa Sé Catedral e para êle remetemos
o leitor que queira ter mais largo conhecimento do
assunto.

30-1516-A- Bispo D. Duarte- Como já fi-


cou dito, foi D. João Lobo o primeiro bispo que em
1508 veio à Madeira n o exercício do seu ministério.
Passados oito anos e depois de criada a diocese, man-
dou o prelado D. Diogo Pinheiro, que nunca visitara
o seu bispado, a êste arquipélago o bispo titular de
Dume D. Duarte, que n o período aproximado de u m
a n o decorrido de 1516 a 1517, percorreu a maior parte da
diocese n o desempenho das suas funções episcopais
com o maior aprazimento de toda a população madei-
rense. Procedeu à solene sagração da S é Catedral n o
dia 18 de Outubro de 1516 e deixou u m cregimento
interno* dos diversos serviços religiosos a que o
Cabido era obrigado, além das indispensáveis medi-
das que adoptou respeitantes à observancia da discipli-
n a eclesiástica.
31-1518-Convento de Santa Cruz-O fidalgo
genovês Urbano Lomelino, falecido n o ano de 1518,
iniciou pouco antes da sua morte a construção do
convento de Nossa Senhóra da Piedade, por êle fun-
dada n a vila de Santa Cruz, que o seu sobrinho e
herdeiro Jorge LomeIíno fez concluír, dando inteiro
cumbrimento às disposições testamentarias de seu tio.
A igreja e a casa conventual não eram de proporções
muito acanhadas e a respectiva comunidade adquiriu
desde logo uma relativa prosperidade, pois que segun-
do nos .informa o padre Gaspar Frutuoso, tinha &oito
religiosos de missa» nos fins do século XVI, o que
não deixava de ser importante para o tempo e espe-
cialmente para o meio em que o convento se encon-
trava, não contando com o restante pessoal leigo, que
sempre abundava nas casas monasticas.

32-1521-São T i a g o M e n o r - N o ano de 1521,


grassando a epidemia da peste, as autoridades supe-
riores do arquipélago e o senado do Funchal com o
clero regular e secular elegeram o apóstolo S ã o Tiago
Menor como primeiro padroeiro desta Diocese, fazen-
do-se o voto d a erecção de u m a igreja em sua honra,
de u m a aparatosa procissão e de outras manifestações
de culto, o que tudo foi solenemente ratificado n o ano
de 1523 e ainda posteriormente renovado n o ano de
1632. Construíu-se sem demora uma pequena capela
dedicada ao santo apóstolo, que em 1632 foi notavel-
mente acrescentada, havendo sido demolida em 1768,
para a fazer substituir por u m nbvo templo, que é
a actual igreja paroquial da freguesia de Santa Maria
Maior. Foi sempre de grande aparato e solenidade a
44 D I O C E S E D O FUNCHA4

procissão realizada n o primeiro do mês de Maio e


êsse dia era considerado de festa para toda a ilha.
N o a n o de 1942, a Câmara Municipal do Funchal
fêz reviver a s tradicionais homenagens prestadas a o
glorioso padroeiro e a elas se associou festivamente,
fazendo também publicar em opúsculo os autos dos
votos feitos pelo antigo senado funchalense em épo-
cas passadas. Transferiu o seu feriado municipal para
o dia 21 de Agosto e determinou que o primeiro do
mês de Maio fosse especialmente consagrado a tribu-
t a r a s devidas homenagens ao padroeiro da cidade.

33-1521 - A - M o r t e de D. M a n u e l - N o ano de
1521 morre D. Manuel I rei de Portugal, a quem a
Madeira ficou devedora de relevantes serviços, como
~rão-mestre d a Ordem de Cristo e também como
monarca, especialmente n a construção da S é Catedral
e n a criação desta Diocese. N o «Museu de A r t e
Sacra», instalado em uma das dependencias dêsse
templo, ehcontra-se u m a preciosa cruz processional
oferta daquele monarca, que é uma das grandes mara-
vilhas da ourivesaria portuguesa do século XVI.
Consta da tradição que ainda ofereceu outros valiosos
objectos destinados a o exercício do culto.

34-1533 -0 ~ r c e b i s p a d o - É uma data memo-


ravel nos nossos anais diocesanos, por assinalar a
elevação do bispado do Funchal à alta categoria
de arcebispado, constituindo a maior arquidiocese
então existente, que alargava a sua jurísdição até os
confins do mundo conhecido e que tinha como sufra-
gâneas as dioceses de Angra, Cabo Verde, São Tomé
e Goa. N ã o logrou, porém, uma larga existência, pois
foi extinta no ano de 1551, havendo apenas perdurado
pelo curto período de dezoito anos. Foi seu primeiro e
único arcebispo D. Martinho de Portugal, amigo pes-
soal, parente e embaixador de D. João I11 em Roma,
que se afirma ter promovido a criação deste arcebis-
pado para galardoar os serviços que o prelado lhe
prestara. Posteriormente incorreu D. Martinho n o
desagrado do monarca e pediu a renúncia deste arce-
bispado, quando a morte o surpreendeu n o ano de
1547. E interessante lêr-se o que àcêrca deste arcebispo
se encontra n a Historia de Portugal, de Fortunato de
Almeida. Mandou à Madeira em exercicio de funções
episcopais o bispo titular de Rocina D. Ambrósio
Brandão e umas « Constituições Diocesa-
nas», as primeiras que teve este bispado, mas das
quais não h a pormenorisada noticia.
Com a extinção do arcebispado, passou o arquipé-
lago madeirense à sua situação anterior de simples
diocese, sufragânea da provincia eclesiástica de Lisboa,
e constituida pelas ilhas da Madeira, Pôrto Santo,
Desertas e Selvagens e da pequena colonia de Arguim.
O arcebispo D. Martinho de Portugal faleceu n o
ano de 1547.

35-1533 - A - «Profetas» do Pôrto Santo-.


A s «Saudades da Terra» referem-se longamente a o
estranho caso ocorrido n o ano de 1533, n a vizinha
ilha do Pôrto Santo, em que Fernão Bravo e Filipa
Nunes, tio e sobrinha, indivíduos da classe popular e
destituídos de qualquer cultura, se arvoraram em
aprofetasn, revelando os actos ocultos e segredos
recónditos de muitas pessoas, com tal poder de suges-
46 DTOCESE D O FUNCHAL
-

tão, que até o proprio clero da ilha chegou a dar-lhes


crédito e a assistir às «pregações», que êsses aviden-
tes» faziam à multidão tomada de mêdo e da maior
admiração. O e x t r a o r d i ~ a r i o acontecimento causou
uma notavel sensação e teve até grande repercussão
n o continente português. Foi o religioso franciscano
e afamado prégador Fr. Gaspar Gato que, indo àquela
ilha e pondo-se em contacto com os aprofetas», reve-
lou toda a artificiosa fraude desses dementados, que
vieram presos para a Madeira e foram julgados .e
condenados. O clero do Pôrto Santo sofreu as conse-
qüências da sua extrema credulidade, sendo também
preso e severamente castigado pela respectiva autori-
dade eclesiástica, que era o governador do bispado,
achando-se então vaga a diocese pela morte do pre-
lado D. Diogo Pinheiro. (Saud. 55-61)

36-1538- Bispo D. Ambrosio - O primeiro e


único arcebispo do Funchal D. Martinho de Portugal,
que nunca visitou a séde da sua arquidiocese, enviou
à Madeira o bispo titular de Rocina D. Ambrosio
Brandão, que aqui se demorou de 1538 a 1539 n o
exercicio das suas funções episcopais. Veiu acompa-
panhado de dois visitadores eclesiásticos, que, de
mandado do arcebispo, percorreram as diversas fre-
guesias em «visita canónica », encontrando muitos
abusos que corrigir e censurar.

37-1548- Bispo D. Sancho Truxilo -Vindo das


Canarias, passou n a Madeira n o ano de 1548 o bispo
espanhol D. Sancho Truxilo, que, vivamente instado,
permaneceu entre nós alguns meses entregue ao exer-
SINOPSE C R O N O L ~ G I C A 41

cicio do seu ministerio episcopal com o maior aprazi-


mento de toda a população, tendo pouco antes da sua
partida procedido à sagração solene da antiga igreja
do convento de São Francisco. Achando-se vaga esta
diocese, pediu em Lisboa para ser nela provido, não
sendo atendida a sua pretensão.

38 - 1550 -1560--Criação de Freguesias-


Desde 1519 que se estabelecera uma «capelania» com
serviço paroquial n a pequena ermida da Natividade
de Nosso Senhor n o lugar chamado do Faial, que n o
ano de 1550 se constituiu em freguesia e a que em
1743 foi dado u m curato. Pela sua pequenez e por
estar exposta a ser arrastada pela caudalosa corrente
da ribeira, foi resolvida a construção de uma igreja
de maior capacidade e em sitio mais seguro e abri-
gado, tendo sido lançada a sua primeira pedra a 7 de
Agosto de 1745. É centro de u m a grande romagem,
realisada a 8 de Setembro de cada ano, que ali atrai
uma numerosa afluência de muitas freguesias da
Madeira-uO Santuario Mariano » de Fr. Francisco
de Santa Maria consagra u m capitulo aos cultos pres-
tados à imagem de Nossa Senhora, que se venera n a
bela capela-mór desta igreja. Orago: Natividade de
Nossa Senhora.
Conjecturamos que fosse por 1550 a criação da
freguesia ae São Jorge e não em 1517 como dizem a s
u Saudades n, embora admitamos que desde êste 'último
ano ali existisse uma «capelania» com u m regular
serviço religioso. Teve curato criado por alvará régio
de 11 de Fevereiro de 1746. A séde da capelania e
freguesia estabeleceu-se n a capela de São Jorge levan-
tada nas proximidades da foz d a ribeira, e ali se
48 DIOCESE DO FUNCHAL

construiu u m a nova igreja, que uma aluvião ocorrida


pelos anos de 1660 quasi destruiu inteiramente. A
actual igreja paroquial, erguida a grande distancia da
antiga, foi edificada n o terceiro quartel do século
XVIII, que ficou sendo u m dos mais belos templos
da diocese, devendo destacar-se o seu primoroso altar-
-mór em rica talha dourada e o arcaz e vestuario da
sacristia em madeira de til, que teem chamado a par-
ticular atenção dos entendidos em obras de arte.
N a capela de São Lourenço, da Fajã da Ovelha,
onde se estabelecera, por 1511, uma c<capelania-curada»,
foi criada uma freguesia aproximadamente pelos anos
de 1550. A actual igreja paroquial foi construida por
meados do século XVIII, em sitio afastado da antiga
capela de S. Lourenço, que ainda existe e dedicada ao
serviço do culto. Orago: S. Lourenço.
O antigo sesmeiro Manuel Afonso de Sonha fun-
dou n o terceiro quartel do século XV a capela do
Senhor Jesus n o sitio da P o n t a Delgada, que serviu
de séde à freguesia deste nome, criada pouco anterior-
mente a o ano de 1552. A igreja paroquial, que datava
do ano de 1636, foi ampliada em 1700 e muito
melhorada nos principios do século XIX, ficando u m
dos mais belos templos da diocese, mas u m violento
incêndio, ocorrido a 12 de Julho de 1908, destruiu-o
quasi totalmente. O respectivo pároco de então Casi-
miro Augusto de Freitas e Abreu, com a mais dedi-
cada abnegação e à custa dos maiores sacrificios,
conseguiu a sua completa reedificação, embora despida
das artísticas ornamentações que a decoravam, haven-
do sido benzida solenemente n o ano de 1919. É o
centro de uma das mais antigas e concorridas roma-
gens com afluência de indivíduos de todas as fregue-
sias da ilha. Orago: Senhor Bom Jesus.
O alvará de 4 de Julho de 1552 criou a freguesia de
Santana, desmembrada da de São Jorge e estabelecida
pouco depois desta ultima paróquia, mas ambas ser-
vidas pelo mesmo paroco durante alguns anos. Insta-
lou-se a séde da u c a p e l a n i a ~ e da «freguesia» n a
antiga capela de Santana ali existente, datando de
1698 a construção d a actual igreja paroquial, que atra-
vés do tempo tem recebido muitos melhoramentos e
reparações.
Pelo alvará de 23 de Junho de 1553 foi criada a
freguesia do Seixal, tendo a sua igreja como orago o
afamado anacoreta Santo Antão. Foi desmembrada do
Pôrto Moniz, que então era a séde de uma simples
ecapelania~.N ã o temos encontrado quaisquer referen-
cias á construção da igreja paroquial do Seixal e bem
assim d a antiga capela que ali existia.
Aproximadamente pelos anos de 1553 teria sido
criada a freguesia do Campanario com séde n a capela
de São Braz. N ã o sabemos se a actual igreja paro-
quial é a ampliação dessa capela ou foi construida
em sitio diferente dela, sendo edificada n o periodo
decorrido de 1677 a 1783. Foi ali estabelecido u m cura-
to pelo alvará régio de 7 de Maio de 1727. O Colegio
d a Companhia de Jesus n o Funchal possuía nesta
freguesia o seu mais vasto prédio rústico chamado a
Quinta Grande, que depois veiu a constituir a paró-
quia deste nome. E r a natural desta freguesia o bispo
de S. Paulo D. Manuel Joaquim GonsaIves de
Andrade. Orago: S. Braz.
D i z o anotador das «Saudades» que foi provavel-
mente em 1566 que se criou a freguesia de Santo
Antonio, mas anteriormente a esta época já ali existia
um normal serviço religioso exercido n a capela de
S. Antonio, como sucedeu em muitas outras fregue-
50 DIOCESE DO FUNCHAL

sias. É regular a escrituração dos termos de baptismos


e casamentos desde o ano de 155'7, o que faz supor a
existência de u m corrente serviço paroquial. A pri-
meira igreja paroquial foi edificada nos principios do
século XVII, que n o periodo decorrido de 1665 a
1682 passou por grandes melhoramentos. E m local
diferente, procedeu-se à construção da actual igreja
paroquial nos anos de 1783 a 1789. E m 1921 iniciou-
-se nesta igreja a realização de importantes melhora-
mentos, em que se despenderam mais de trezentos
contos de reis, como tudo se pode ver n o livro «Paro-
guia de S a n t o Antonio da ilha da Madeira*. Na área
desta freguesia encontram-se a antiga capela de Santo
Amaro e a de S ã o João de Deus, n o sitio do Trapi-
che, adjunta ao Manicomio do niesmo nome.
É o ano de 1558 aproximadamente o da criação da
freguesia de Gaulã, desmembrada d a de S a n t a C r u z e
instalada a sua séde n a pequena capela que ali existia
e nela permaneceu durante dois séculos, até que n a
segunda metade do século XVIII se construiu a actual
igreja paroquial. Teve certa nomeada a capela de
S ã o João de Latrão instituída n o primeiro quartel do
século XVI por N u n o Fernandes Cardoso em terras
de seu morgadio. A igreja paroquial possui uma artís-
tica naveta de prata, que figurou n a Exposição de
Arte Ornamental realizada em Lisboa n o ano de 1882.
Orago: N." S." d a Luz.
N o a n o de 1560 o u pouco antes, foi criada a fre-
guesia do Estreito da Calheta, que tem por ora80
Nossa Senhora da Graça. A primitiva capela foi
construida por fins do século seguinte e nela estabe-
lecida a séde da nova paroquia, a que foi dado u m
curato pelo alvará régio de 20 de Outubro de 1602. A
actual igreja, segundo a inscrição que conserva n a
frontaria, foi construida n o ano de 1791. É de grande
veneração a bela imagem do orago, que se conserva
n o altar-mór e a cujo culto Fr. Agostinho de Santa
Maria consagra u m capitulo n o vol. X do seu Santuario
Mariano. Orago: N.' S/ da Graça.
Pela mesma época de 1560, deu-se a criação d a
paróquia da Ponta do Pargo, instalando-se a sua séde
n a pequena capela de São Pedro ali existente, que por
duas vezes foi reconstruida n o mesmo sitio mas em
diferentes lugares. A actual igreja é ediGcação dos fins
do século XVIII.
Pelo reierido ano de 1560, em u m a pequena ermida
da invocação de S i n t a Beatriz, se instalou a freguesia
de Agua de Pena. Abateu-se a velha capela e procedeu-
-se à construção da actual igreja paroquial por meados
do século XVIII. Foi suprimida esta paróquia n o ano
de 1836 e anexada ao curato do Santo d a Serra, haven-
do sido restaurada por decreto de 24 de Julho de 1848.

39 -1552 -- D. Gaspar do Casal-Foi terceiro


bispo do Funchal, no periodo decorrido de 1552 a 1556,
D. Fr. Gaspãr do Casal, u m dos mais ilustres prelados
do seu tempo e enviado especial a o Concilio de Trento
como teólogo do rei de Portugal D. João 3.". N u n c a
veiu a esta diocese, sendo posteriormente bispo de
Leiria e de Coimbra, onde deixou assinalada a sua
passagem elos altos serviços que prestou naquelas
dioceses. Mandou à Madeira como provisor e vigario
geral o licenciado António da Costa, que desempenhou
com o maior zêlo e proficiência a s funções do seu cargo.

40 - 15 5 7 -1 5 8 9 -Colegiadas - Á semelhança
52 DIOCKSE DO FUNCHAL

dos corpos capitulares que nas Sés Catedrais, sédes das


respectivas dioceses, exercem com brilho e aparato os
diversos actos do culto, também nas localidades mais
importantes pela sua população ou outras apreciaveis
circunstâncias de feição local existiam pequenos ucabi-
dos» ou Colegiadas, que quotidianamente faziam a
recitacão do «Oficio Divino» e desempenhavam a s
restantes funções cultuais, além dos auxilios prestados
aos párocos nos diversos serviços religiosos das fre-
guesias.
A nossa pequena diocese teve nove Colegiadas,
criadas n o período decorrido de 1557 a 1589 e com suas
sédes nas igrejas paroquiais das freguesias de S a n t a
Maria Maior, São Pedro, Câmara de Lobos, Ribeira
Brava, P o n t a do Sol, Calheta, S a n t a Cruz, Machico e
Pôrto Santo. A mais antiga foi estabelecida n a igreja
da Conceição de Baixo ou de Nossa Senhora do
Calhau pelo alvará régio de 18 de Novembro de 1557,
com três beneficiados além do pároco e a aue foi acres-
centado u m curato n o ano de 1589, ficando posterior-
mente constituida com sete ou oito serventuarios. É, a
da igreja paroquial de São Pedro a Colegiada de mais
recente criação, que data do ano de 1589 e havendo-se
instalado n a pequena capela de São Pedro e S ã o
Paulo, que era então a séde da freguesia.
A Colegiada de Câmara de Lobos foi criada pelos
anos de 1560, extinta em 1676 e posteriormente restau-
rada. P o r 1570 se estabeleceram com caracter definitivo
a s colegiadas de Pôrto Santo, Santa Cruz e Machico e
por 1572 ou pouco depois as da Calheta, Ponta do Sol
e Ribeira Brava.
O pessoal das colegiadas não era igual para todas,
indo geralmente de três a cinco beneficiados para cada
uma, além do pároco e do coadjutor, exercendo alguns
dos serventuarios cumulativamente os cargos de prèga-
dor,#organista e tesoureiro.
E de estranhar que a s Constitui'ções Diocesanas,
não se refiram ao funcionamento das colegiadas, sendo
o bispo D. Antonio Teles da Silva, que em 1680 pro-
mulgou a tal respeito um bem elaborado «Regimanto»,
que apenas encontramos registado n o arquivo paro-
cyuial da ilha d s Pôrto Santo.
Extraída dêsse ~ R e g i m e n t o ndamos a relação com-
pleta das colegiadas existentes nesta diocese n o último
quartel do século XVII e dos ministros que as compu-
nham: « a s de Santa Maria Maior, São Pedro, Machico
e Santa Cruz tinham dez ministros, sendo u m vigario,
u m cura, seis beneficiados, u m sacristão e um organis-
ta; as da Calheta, Ponta do Sol e Ribeira Brava tinham
um vigario, u m cura, quatro beneficiados, u m sacristão
e u m organista; e a do Pôrto Santo, u m vigario, u m
cura, três beneficiados, um sacristão e u m organista ».
Nesta relação não se menciona a colegiada de Câmara
de Lobos, porque fora extinta em 1676, quatro anos
antes da elaboração daquele «Regimento», por motivos
que desconhecemos, tendo sido restaurada por meados
do século XVIII.
Pouco sabemos com precisão àcêrca dos anos em
que nesta diocese foram extintas as Colegiadas, sendo
certo que o seu normal funcionamento não terminou
em todas n a mesma época. A o começarem a s nossas
lutas civis, já em algumas delas tinha diminuido o seu
regular exercicio, e haviam terminado todas ou quasi
todas a sua existência, quando n o a n o de 1834 acabou
a guerra civil.

41-1 5 5 8 - D. Jorge de Lemos- Chegou à


54 D I O C E S E D O FUNCHAL

Madeira o prelado D. Jorge de Lemos, quarto bispo


do Funchal, n o a n o de 1558, que havia sido nomea-
do n o consistorio de 9 de Março de 1556. Passados
cinco anos ausentou-se para o reino a exercer o
cargo de esmoler-mór do rei D. Sebastião, vindo a
renunciar a mitra n o a n o de 1569. Foi o primeiro
bispo que viera pessoalmente assumir a direcção desta
diocese, criada havia mais de cincoenta anos, sendo
recebido com a s maiores demonstrações de conside-
ração e apreço por parte de toda a população. N ã o
é de estranhar que tivesse encontrado muitos abusos
e faltas n a observancia da disciplina canonica, que
procurou emendar e corrigir, levantando-se por isso
não poucos atritos e dificuldades, que a sua energia
e rectidão souberam dominar. Teve u m a zelosa e
profícua administração episcopal, conseguindo a cria-
ção de varios lugares eclesiásticos h a muito recla-
mados e introduzindo a ordem e u m mais regular
funcionamento nos diversos serviços dependentes do
seu ministerio.

42-1565-1575 -Criação de Freguesia -D a s


chamadas freguesias pequenas deste bispado é a do
Caniçal u m a das mais antigas, que deve remontar
a o a n o de 1561, sendo a sua sede estabelecida n a
ermida de São Sebastião, fundada por Garcia Moniz
n a primeiro quartel do século XVI. Foi ampliada,
mas o terremoto de 1748 deixou-a em quasi com-
pleta ruina. Edificou-se u m novo templo, que é o
actual, em sitio u m pouco afastado do primeiro,
havendo sido benzido a 13 de Dezembro de 1750.
Orago: S. Sebastião.
Adão Gonçalves Ferreira, o primeiro homem que
nasceu n a Madeira, fundou n o a n o de 1470 uma
pequena ermida n a «fazenda povoada» que tinha
estabelecido n o lugar posteriormente chamado de
Nossa Senhora do Monte, constituindo o núcleo da
paróquia que ali se criou pelo alvará de 7 de Março
de 1565. Essa capela, a-pesar-dos melhoramentos
por que passara, ficou com acanhadas dimensões e foi
substítuída por uma igreja paroquial construída de
1741 a 1747, que o terramoto do ano seguinte deixou
em estado de adiantada ruína. Procedeu-se ii s u a
reedificação, dando-lhe maiores proporções e corrigin-
do-se os erros cometidos n a construção primitiva,
para o que se abriu uma larga subscrição em toda a
diocese e para o mesmo fim se instituiu u m a confra-
ria chamada dos «Escravos de Nossa Senhora do
Monte». Teve uma morosa construção, sendo a igreja
solenemente sagrada pelo bispo D. Joaquim de Mene-
ses e Ataide a 20 de Dezembro de 1818. É o centro
da mais concorrida romagem de toda a diocese.
Quatro dias depois da grande aluvião de 9 de
Outubro de 1903, uma das maiores calamidades que
tem assolado esta ilha, reuniu-se n a S é Catedral o
prelado, clero e muito povo, deliberando-se tomar
Nossa Senhora do Monte como adro eira da cidade
e arredores com a instituição da festa do Patrocínio
de Nossa Senhora do Monte a celebrar n o dia 9 de
Outubro de cada ano, além da solene procissão que
n o mesmo dia deveria realizar-se da S é Catedral para
a igreja de Nossa Senhora do Calhau.
N a igreja paroquial acha-se sepultado o impera-
dor Carlos de Austria, que faleceu nesta freguesia n o
dia 1 de Abril de 1922.
O pároco José Marques Jardim fez levantar n o
Terreiro da Luta, à custa dos maiores sacrifícios e da
50 DIOCESE DO FUNCHAL

mais tenaz persistência, um monumento a Nossa


Senhora da Paz, dominando todo o vasto anfiteatro
do Funchal, com uma primorosa estátua da Santíssi-
ma Virgem e uma pequena capela, de que se fez a
erecção solene n o ano de 1925.
Desde o ano de 1930 funciona dentro da área
desta freguesia o Hospital da Santa Casa da Miseri-
córdia e a partir de 1940 o Hospital de Assistência
Nacional aos Tuberculosos.
N a antiga capela de São Pedro e S ã o Paulo,
hoje sòmente conhecida por São Paulo, estabeleceu-se
a séde da freguesia de São Pedro, criada pelo alvará
de 20 de Julho de 1566, extinta pelo alvará de 3 de
Março de 1579 e novamente restaurada por alvará de
14 de Agôsto de 1587. A colegiada teve seu princípio
pelo alvará de 26 de Maio de 1589 e a criação do
curato data de 27 de Agôsto do mesmo ano. A actual
igreja paroquial foi construída nos últimos anos do
século XVI e inteiramente reedificada por meados do
século XVIII, sendo u m templo com excelentes deco-
rações interiores e que conserva n a sacristia u m pri-
moroso « triptico », bastante apreciado por entendidos
em assuntos de arte.
A freguesia da Tabúa ou da Atabúa, como em
outros tempos se dizia, teve a s u a criação n o ano
de Mi8, sendo o seu serviço religioso acrescentado
com u m curato pelo alvará de 2 de Julho de 1743.
Presume-se que tivesse a sua primeira séde em u m a
capela da invocação da Santíssima Trindade, que já
ali existisse a o tempo da criação. Edificou-se uma
igreja paroquial nas imediações da actual capela da
Conceição e que uma grande enchente destruiu, igno-
rando-se os anos d a sua construção e do seu desapa-
recimento pela força da corrente. O templo que ora
serve de igreja paroquial ficou concluido n o a n o
de 1696. Orago: Santíssima Trindadè.
N a capela dedicada a São Braz n o Arco da
Calhêta, estabeleceu o alvará de 18 de Junho de 1572
a séde de u m «beneficiado curado* ou antes
paróquia, a que foi dado u m curato pelo alvará de
20 de Dezembro de 1676. A construção da actual
igreja paroquial terminou em fins de 1734 e foi ben-
zida a I de Janeiro do ano seguinte. Fica nesta fre-
guesia a capela de Nossa Senhora do Loreto, que é
centro de uma concorrida romagem com a afluência
de gente de todos os pontos da ilha. E de antiga e
interessante construção, tendo como fundador Pedro
Gonçalves da Câmara, neto de João Gonçalves Zar-
go. Orago: S. Braz.
Francisco Moniz, que deu o nome à futura fre-
guesia do Pôrto do Maniz, estabeleceu-se ali como
u m dos mais antigos povoadores e fundou a capela
de Nossa Senhora da Conceição nos fins do primeiro
quartel o u princípios do quartel seguinte do sécu-
lo XVI, a qual serviu de séde à paróquia criada
pouco anteriormente a o ano de 1574. A igreja paro-
quial, construída n o período decorrido de 1660
a 1668 em lugar diferente do da primitiva capela,
passou por importantes melhoramentos nos princí-
pios do século XVIII, realizados à custa do capitão
Manuel Rodrigues Ferreita Ferro, benemérito paro-
quiano desta freguesia. Orago: Nossa Senhora da
Conceição.
A freguesia de São Gonçalo, desmembrada da de
S a n t a Maria Maior, começou por u m curato, criado
por alvará de 7 de Março de 1565 e instalado n a
capela de Nossa Senhora das Neves, e constituída
em paróquia pelo alvará régio de 12 de Março de 1574.
8
58 DIOCESE D O FUNCHAL

O serviço paroquial fêz-se n a referida capela das


Neves, uma das mais antigas desta diocese, até os
princípios do século XVII, em que se realizou a
c o n s t r u ç ã o d a a c t u a l igreja paroquial. Orago:
S. Gonçalo.

43 - 1 5 6 4 - C â m a r a Eclesiástica - A repartição
da Câmara Eclesiástica deve ter sido estabelecida
aproximadamente pela época da criação da Diocese,
mas foi rornodelada pelo alvará régio de 28 de O u t u -
bro de 1564, que fixou o vencimento anual do res-
pectivo serventuário. E r a valioso o seu arquivo, que
u m incêndio ocorrido em fins do século XVII ou
princípios do século seguinte destruíu quasi inteira-
mente. Funciona permanentemente nas dependências
da residência episcopal e sob a superior direcção do
prelado diocesano ou do governador do bispado.

44 - 1 5 6 6 - S a q u e d o s corsários franceses-
u m a das maiores calamidades que tem assolado a
Madeira foi indubitávelmente o terrivel assalto dos
huguenotes franceses ocorrido a 3 de Outubro dêste
ano. Onze navios armados em côrso com alguns
milhares de homens preparados para o saque, fun-
dearam em frente da Praia Formosa, efectuando-se
sem demora o desembarque de uma força considera-
vel de assaltantes, que se dirigiram à cidade e inicia-
ram a sua obra de morticínio e de pilhagem, em que
durante dezaseis dias mataram cêrca de trezentos
habitantes e carregaram os onze navios de todos os
haveres e riquezas de que puderam lançar mão. Gas-
par Frutuoso dedica quarenta páginas á narração dos
indiscritiveis horrores que os ferozes assaltantes pra-
ticaram nesta cidade.
A sua qualidade de crueis e fanáticos hugueno-
tes explica suficientemente os assaltos às igrejas, espo-
liando-as das suas riquezas e ainda os ultrajes e pro-
fanações que nelas cometeram, especialmente contra
as imagens e objectos destinados ao'culto.
E m 1895 publicou-se em Paris u m folhêto da
autoria de E. Falgairolle, em que se pretende atenuar
a ferocidade dos assaltantes, mas é manifestamente
revoltante a parcialidade com que foi escrito.
Vid. Saudades da Terra e Elucidário Madeirense.

45-1566-A-Criação do S e m i n á r i o - F o i a
carta régia de 20 de Setembro dêste a n o que, em obe-
diência às determinações do Concílio de Trento, criou
o Seminário desta diocese, mas sòmente n o período
decorrido de 1575 a 1585 e n o episcopado de D. Jeró-
nimo Barreto é que começou o seu regular funciona-
mento, sendo êste prelado e com inteira justiça consi-
derado o verdadeiro fundador do Seminário Diocesano.
Fez-se a sua instalação em umas casas contíguas à
residência episcopal, que então era n o alto da r u a
Direita, a í pelas imediações da actual ponte do
Torreão. O bispo D. Luiz Figueiredo de Lemos
(1586-1606) fez construir o primeiro paço episcopal,
de que ainda restam a capela de São Luiz e uma
espécie de velho claustro, e para êle e u m edifício pró-
ximo, transferiu todos os serviços do Seminário,
havendo os dois referidos prelados dedicado a esse
estabelecimento de educação eclesiástica o mais desve-
lado interesse. Depois de permanecer u m século nes-
sas dependencias do paço, foi mudada a sua instalação,
60 D I O C E S E DO FUNCHAL

em condições mais vantajosas, para o edificio chama-


do o Mosteiro NOVO, pequena casa conventual funda-
dada pelo cónego Manuel Afonso Rocha e que não
chegara a ser aplicada a o fim para que tinha sido
instituída, havendo-se realizado essa mudança nos
primeiros anos do século XVIII. O terremoto de 1748
deixou o edifício em estado de não poder ser habita-
do, permanecendo todo o pessoal do seminário em
vários lugares durante doze anos, regressando ao
Mosteiro Novo n o a n o de 1760, depois dêsfe ter rece-
bido a s indispensáveis reparações e ao qual se fez
u m notável acrescentamento n o primeiro quartel do
século XIX. A carta régia de 10 de Agosto de 1787
fez cedência do Colégio dos Jesuítas (actual quartel)
para a instalação do Seminário Diocesano, o que
veiu a realizar-se n o ano imediato. Com a vinda
para a Madeira das tropas inglezas foram estas ocu-
par as casas do Colégio, tendo o Seminàrio que ins-
talar-se em 1801 nas dependências do antigo Paço
Episcopal e passados alguns anos voltou novamente
a funcionar n o edifício da rua do Mosteiro Novo.
N o a n o de 1909 principiou esse instituto eclesiástico
a ocupar a s vastas edificações, que h á pouco acaba-
vam de ser parcialmente concluídas n a cêrca do anti-
go convento da Incarnação. Ali permaneceu até o ano
de 1912, passando a ter a vida de um verdadeiro
vagabundo n o velho casarão do Mosteiro Novo, nas
ruínas da antiga residência episcopal, n a quinta do
Trapiche em Santo António, ainda uma vez mais n a
casa d a r u a do Seminário e por fim, n o ano de 1933,
voltou a funcionar n o belo edifício da Incarnação,
onde se encontra actualmente.
Quanto à organização e funcionamento deste està-
belecímento de ínstrução, veja-se o que adiante se
dirá referente ao ano de 1877 (Seminário Diocesano).

46-1569- Jesuítas -E de 20 de Agosto de 1569


o alvará régio que funda o colégio dos jesuítas n o
Funchal e estabelece a sua primitiva dotação, tendo
os primeiros seis religiosos chegado a esta cidade n o
ano imediato. Depois de breve permanência nas casas
adjuntas às capelas de Nossa Senhora da Ajuda, São
Sebastião e São Bartolomeu, fixaram definitivamente
a sua residência n o local em que hoje se encontram a
igreja de São João Evangelista e o quartel de infantaria
n.' 19, levantando ali, primeiramente, n o ano de 1578,
u m a pequena igreja e casas para o colégio e muitos
anos depois é que procederam à suntuosa construção
da igreja e dos amplos edifícios que lhe ficavam ane-
xos. Conjecturamos que estas obras teriam começa-
do nos princípios do sécuIo XVII e que a sua conclu-
são atingiria os meados do mesmo século
Após a sua chegada, os jesuítas iniciaram sem
demora o seu fecundo apostolado e logo abriram
também os seus cursos de teologia e de humanidades,
que tiveram grande frequencia. Durante os 190 anos
de permanência nesta ilha, conservaram sempre a alta
reputação que os acompanhou desde a s u a chegada,
dedicando-se exclusivamente, com o mais acendrado
zêlo e a mais edificante piedade, às árduas funções
do seu tão proficuo ministério. N o dia 16 de Julho
de 1760, em virtude das leis do marquês de Pombal,
saíram da Madeira onze sacerdotes jesuítas e oito
irmãos coadjutores, havendo estado mais de u m a n o
presos e incomunicaveis dentro das paredes do seu
colégio.
Foram distintos membros da Companhia de Jesus
62 DIOCESE D O F U N C H A L

o s madeirenses Luiz Gonçalves da Câmara, Leão Hen-


riques, Sebastião de Morais, Manuel Alvares e
Manuel Fernandes de Santana, dos quais o Elucidá-
rio Madeirense nos fornece alguns dados biográficos.
Vid. 1850- Igreja do Colégio.

47 -1 5 7 0 -D. Fernando de Távora -NO cur-


to período de tempo decorrido de 1570 a 1573 foi
D. Fernando de Távora bispo desta diocese, não che-
gando a vir pastorear pessoalmente o rebanho que
lhe fora confiado e não se conhecendo por isso quais-
quer actos da sua administração episcopal, que mere-
çam ser especialmente mencionados. Pertencia à ordem
de São Domingos, havendo-se o seu confrade e gran-
de escritor Fr. Luís de Sousa e o autor da «Biblioteca
Lusitana, referido a D. Fernando de Tavorã como
homem de peregrinos dotes de espírito e das mais
acrisoladas virtudes. Renunciando o bispado, recolheu-
-se ao convento de Azeitão e ali faleceu n o a n o
de 1577. Foi o 5." Bispo do Funchal.

4 8 -1570-A --O s Quarenta Martires -Tinham


decorrido quatro mêses após a chegada dos jesuitas à
Madeira, quando aportou a esta cidade u m a armada
portuguesa, em rumo às terras do Brasil, que além
das tripulações e de vários passageiros, conduzia qua-
renta membros da Companhia de Jesus, destinados às
missões evangélicas, que tão frutuosamente se estavam
desenvolvendo naquelas longinquas paragens. Perma-
neceram quinze a vinte dias n o Funchal, onde exer-
ceram as funções do seu ministerio, e quando se
encontravam n a s alturas das ilhas Canarias foram Q
SINOPSE CRONOLÓGICA 63

chefe da missão padre Inacio de Azevedo e seus trinta


e nove companheiros assaltados por u n s navios arma-
dos em côrso, do comando do cruel e fanático hugue-
note Jaques Soria, e horrivelmente massacrados à fé
católica, sendo os seus corpos lançados ao mar. Mere-
ceram ser inscritos n o martirológio romano, sendo a
15 de Julho, dia em que sofreram o martirio, que a
igreja lhes presta os seus cultos especiais (Vid. <<A
Paróquia de Santo Antonio da I l h a da Madeira».

4 9 -1574 -D. J e r o n i m o Barreto-A 31 de


Outubro de 1574 chegou a o Funchal, D. Jeronimo
Barreto, que foi o sexto bispo desta diocese. Entre a s
acertadas medidas da sua administração episcopal
contam-se a da reunião de u m sínodo, em que foram
promulgadas umas novas «Constituições», a reforma
que introduziu nos Cabidos da Catedral e bas Cole-
giadas, a criação de algumas parocjuias e curatos e a
rigorosa observancia de muitas disposições das leis
canónicas, que tinham caido em desuso. E m 1585 foi
transferido para a diocese de Silves e ali faleceu no
ano de 1589, tendo apenas 45 anos de idade (Vid. a
data de 1565).

5 0 -1577-1582 -Criação d e Paróquias-Exis-


tia n o lugar do Pôrto da Cruz uma antiga capela da
invocação de Nossa Senhora da Piedade e nela se
estabeleceu a freguesia daquele nome, quando foi
criada pelo alvará de 26 de Setembro de 1577. P o r
fins do seculo XVI construíu-se a igreja paroquial, e
á qual foi dado o ora80 de Nossa Senhora de G u a -
64 DIOCESE DO FUNCHAL

dalupe, diferente do da primitiva capela. N o s anos


de 1637 e 1738 recebeu importantes melhoramentos e
por 1820 projectou-se a edificãção de u m novo templo
com mais amplas proporções, o que não. chegou a
realizar-se.
O alvará régio de 30 de Janeiro de 1577 criou a
freguesia dos Canhas, à qual foi dado u m curato pelo
alvará de 7 de Dezembro de 1731. Provem-lhe a
denominação de uma familia dos primitivos coloniza-
dores de apelido Canha, sendo um dos seus membros
R u i Pires de Canha, que fundou a capela de S ã o
Tiago, onde se instalou a séde da freguesia. A antiga
igreja paroquial construiu-se n o primeiro quartel do
século XVII e a actual, por meados do século seguin-
te, sendo lançada a primeira pedra a 22 de Julho
de 1753 e benzida n o ano de 1756. Orago: N." S.' da
Piedade.
O $vará régio de 3 de Março de 1579, que fez a
extinção da freguesia de S ã o Pedro, criou a de S ã o
Roque em terrenos pertencentes àquela paróquia e à
da S é Catedral, estabélecendo-se a sua séde n a capela
de São Roque ali existente. N o s principios do sécu-
lo XVIII, construiu-se u m a igreja paroquial, que
abateu n o ano de 1790, não ficando em estado de
servir para aquele fim. N o começo do século XIX
procedeu á edificação da actual igreja, que sòmente
por meados do mesmo século foi dada por concluida.
Pelo diploma legislativo, que fica acima citado,
foi criada a paroquia de S ã o Martinho, tendo sido,
instalada a s u a séde n u m a pequena capela dessa invo-
cação pertencente a Afonso Aires. Edificou-se a igreja
paroquial, que era de acanhadas dimensões, n o pri-
meiro o u segundo quartel do século XVII, sendo
quasi inteiramente reconstruída e ampliada pelos anos
de 1735. Com o aumento sempre crescente da popula-
ção, tornou-se ainda êsse templo de preporções muito
limitadas para o serviço religioso da paroquia, abala-
çando-se o padre Manuel Pinto Correia ao arriscado
empreendimento da construção de uma ampla igreja,
que satisfizesse as necessidades dos fieis, sendo lançada
a primeira pedra a 8 de Julho de 1883. N ã o tardou
muito Gue por falta de recursos se tivessem de inter-
ramper os trabalhos iniciados, até que um importante
legado deixado pelo benemerito paroquiano José de
Abreu, falecido n o ano de 1907, permitiu a continuação
das obras, a que deu um grande impulso o acendrado
zelo e uma dedicação sem limites do pároco Teodoro
João Henriques, sendo finalmente sagrada a nova
igreja com a maxima solenidade n o dia 24 de Junho
de 1918.
Informa-nos o anotador do padre Gaspar Fru-
tuoso que o bispo diocesano D. Jerónimo Barreto
erigiu a freguesia da Madalena do M a r a 1 de Feve-
reiro de 1582 n a capela dedicada a Santa Maria
Madalena, que ali existia e que fora fundada por
Henrique Alemão n o terceiro quartel do século XV.
Ignoramos quando foi construída a igreja paroquial,
que a grande inundação de 30 de Dezembro de 1939
deixou bastante danificada.

51-1578 -Sínodos e Constitu&ões Diocesa-


nas-Ás «Constituições Diocesanas » ou leis privati-
vas de cada bispado, destinadas a regular o cumpri-
mento das leis gerais da Igreja e a observancia dos
usos e preceitos eclesiásticos de caracter local, são
geralmente promulgadas em assernbleias do clero pre-
sididas pelo bispo diocesano e por estes aprovadas,
9
66 DIOCESE DO FUNCHAL

decretadas e mandadas observar por meio de u m a


« provisão » episcopal.
A s primeiras «Constituições » desta diocese, de
que h a apenas vaga noticia, foram decretadas por
D. Martinho de Portugal, segundo prelado e primeiro
e único arcebispo do Funchal, n o periodo decorrido
de 1533 a 1547. A elas se refere provavelmente o bispo
D. Jerónimo Barreto, quando, ao aprovar as novas
«Constituições» de 1578, diz que as existentes eram
«antigas e muito breves». Em u m manuscrito, redi-
gido n a primeira metade do século passado, Iêmos a
êste respeito o seguinte: «D. Martinho deu constitui-
ções a o seu arcebispado, que ainda a í andam impres-
sos tiradas de outros Bispados». Se chegaram a ser
impressas, h a muito que delas se perdeu qualquer
notícia.
O p ~ i m e i r o sínodo ou concilio diocesano, de que
temos conhecimento, realisou-se n o episcopado de
D. Jeronimo Barreto, a 19 de Outubro de 1578, sendo
nêle decretadas umas extensas «Conttituiçõesn, que n o
ano de 1585 foram impressas em Lisboa com o titulo
de «Constituições Synodaes do Bispado do Funchal
feitas e ordenadas por D o m Jeronymo Barreto Bispo
do dito Bispado. Impressas em Lisboa, de mandado do
dito Senhor Bispo & com licença & approvação do
Conselho Geral da Santa Inquisição & do Ordinario,
P o r Antonio Ribeiro Impressor MDLXXXV.». Com
a mesma data e com a mesma indicação do lugar da
impressão foram posteriormente reeditadas n a integra
com o título mais simplificado de «Constituições Syno-
daes do Bispado do Funchal. Feytas e ordenadas por
Dom Jeronymo Barreto, Bispo do dito Bispado ». Foram
estas impressas em u m volume de XVI-188 e muito
provavelmente n o a n o de 1601.
A 21 de Junho de 1597 reuniu-se o segundo sínodo
diocesano, a que residiu o prelado D. Luís Figueiredo
de Lemos, e em que se promulgaram umas «Constitui-
ções» publicadas n o ano de 1601, em u m folheto de 54
paginas, sob o titulo de «Constituições Extravagan-
tes do Bispado do Funchal feitas e ordenadas por
Dom Luís Figueiredo de Lemos*. Veem geralmente
apensas às «Constituições» decretados em i578 por
D. Jeronimo Barreto.
Convocou-se o terceiro sínodo durante o episco-
pado de D. Fr. Lourenço de Tavora (1610-1617) com
a yromulgação de umas «Constituições~,de que não
temos conhecimento.
H a noticia da reunião de três concilios diocesanos,
que foram presididos pelo bispo D. Jerónimo Fernando
e realizados nos anos de 1622, 1629 e 1634, nos quais se
decretaram umas « Constituições, cujo conteudo se
desconhece.
O prelado D. Fr. Antonio Teles da Silva
(1675-1682) fez convocar u m sinodo diocesano, a que
imprimiu grande solenidade, n o dia 9 de Julho de 1680,
e nele se promulgaram umas «Constituições», de que
também não temos qualquer outra noticia que lhe
diga respeito.
O oitavo e último de que h a conhecimento teria
sido o que se realizou em 1690 n o episcopado de
D. Fr. José de S a n t a Maria (1690-1696), dizendo u m a
antiga crónica que a transferencia desse prelado para
a diocese do Pôrto obstou à impressão das c< Consti-
t u i ç õ e s ~que nele se decretaram.

52-1580-No D o m i n i o Filipino-Com o
advento do govêrno filipino sofreu a igreja nesta dio-
68 DIOCESE D O FUNCHAL

cese algumas perseguições e vexames, especialmente


os eclesiásticos aue tinham seguido o partido de
D. Antonio Prior do Crato. Informa-nos Rebelo da
Silva que n o Funchal foi enforcado o religioso Fr. João
do Espirito Santo, vestido em trajes de leigo, por ser
partidario daquele pretendente, o que deveria ter
acontecido pouco tempo depois do estabelecimento do
govêrno castelhano. N ã o temos conhecimento porme-
norisado do facto, mas deveria ter causado entre nós
a mais estranha sensação.

53 - 1586- D. Luís Figueiredo


- de Lemos -- NO
quarto domingo da quaresma de i586 foi sagrado em
Lisboa o sétimo bispo do Funchal D. Luís Figueiredo
de Lemos, e a 4 de agosto do mesmo ano deu entrada
nesta diocese, de que foi um dos mais ilustres prela-
dos n o periodo relativamente longo de vinte e dois
anos. Com o seu espírito eminentemente reformador
e animado de u m ardente zêlo pelo cumprímento das
obrigações do seu cargo, empreendeu desde logo a
correcçãò de velhos e inveterados abusos e adoptou a s
mais acertadas medidas n o desempenho da maior
parte dos serviços eclesiásticos. A não residencia dos
párocos nas respectivas freguesias, a falta de presbi-
terios, o estado de ruína de muitas igrejas e capelas,
a má administração das «fabricas », a insuficiencia dos
arquivos paroquiais e ainda outros graves êrros e des-
leixos exigiram a sua imediata intervenção, não se
poupando a trabalhos e sacrificios para a s debelar
convenientemente.
Fez reunir u m sínodo diocesano, que n o dia 29 de
Junho de i597 promulgou umas novas «Constituições
Diocesanas*, a s cluais mandou imprimir n o ano
de 1601, juntamente com a s «Constituições» decretadas
pelo bispo D. Jerónimo Barreto, em u m volume de 262
páginas. P o r elas entravam em inteira observancia
muitas das medidas anteriormente adoptadas e prece-
deu depois 8 remodelação da forma mais prática de
as cumprir.
Teve grandes desinteligencias com o governador
e capit~o-general e também com o senado funcha-
lense, havendo essas entídades recorrido a o poder cen-
tral sem alcançarem deferimento às suas pretensões.
Fez construír o primeiro paço episcopal e a êle
anexo a capela de S ã o Luís, que ainda existe com
umas antigas dependencias do mesmo paço.
P o r provisão de 22 de Agosto de 1586 estabeleceu
algumas indispensaveis disposições àcêrca dos cartó-
rios paroauiais e criou o arquívo da S é Catedral, que
de futuro se tornou muito importante e aue ha cêrca
de meio século foi removido para o Arauivo Nacional
da Torre do Tombo.
Depois de um activo e profícuo episcopado, faleceu
nesta cidade a 26 de Novembro de 1608, sendo sepul-
tado n l capela de São Luís, que havia fundado, e
fazendo-se a trasladação dos seus restos mortais para
a Sé Catedral n o ano de 1913, que jazem a dentro da
chamada porta do aguarda-vento». Foi o 7." Bispo
do Funchal.

54 -1591 -Doutor Gaspar Frutuoso - A 24 de


Agosto de 1591 faleceu n a freguesia da Ribeira G r a n -
de, I l h a de São Miguel, onde era pároco, o dr. Gaspar
Frutuoso, o celebrado autor das Saudades da Terra,
cujo terceiro livro, anotado e publicado pelo dr. Alva-
ro Rodrigues de Azevedo em 1873, contem valiosas
70 DIOCESE D O FUNCHAL

noticias, que sobremaneira interessam à historia d a


diocese do Funchal. (Vid. 1873).

55 -1611 -D. Fr. Lourenqo de Tavora -Foi


confirmado bispo desta diocese em 1609, recebeu a
sagração episcopal n o ano seguinte e veiu assumir a
direcção desta diocese em 1611. E r a religioso capucho
e parece que aceitou muito contrariado os espinhos
d a mitra, e depois de seis anos de estada nesta ilha
pediu a transferência para o bispado de Elvas, a que
pouco tempo depois renunciou, recolhendo-se ao seu
antigo convento, onde faleceu a 11 de Maio de 1629,
com f a m a de santo, segundo se lê n o Agiologio
Lusitano.
Foi u m prelado modelar em tóda a sua adminis-
tração episcopal, deixando nesta diocese a s mais honro-
sas tradições. Fêz reunir u m sínodo diocesano, obrigou
os administradores das capelas e legados a o exacto
cumprimento dos encargos pios, só admitia à recepção
das ordens sacras os que dessem provas de verdadeira
vocação para o sacerdocio, exerceu com muito acerto
durante alguns meses o cargo de governador e capitão-
-general e empregou a s maiores diligencias n a correcção
enérgica d e muitos abusos, que em varios serviços
eclesiásticos se tinham introduzido.
Foi o oitavo bispo do Funchal.

56 -1621- D. Jerónimo Fernando-O nono


bispo do Funchal D. Jeronimo Fernando foi confir-
mado n o a n o de 1617, sagrado n o ano imediato e
tendo assumido pessoalmente o cargo episcopal em
1621. Diz-se que era de ascendencia real, sendo inter-
resante lêr-se a nota que a tal respeito se encontra
n o livro de Camilo Castelo Branco intitulado O Regi-
cida. Ficou conhecido pelo epíteto de «Apostolo Bra-
vo», e era demasiadamente severo em fazer cumprir
as leis da igreja e muito intransigente n o uso dos
seus privilégios como prelado, tendo que sustentar
porfiosas lutas com o senado funchalense, com os
governadores gerais do arquipélago, com o provedox
da fazenda e até com o próprio clero, de que por
vezes saíu mal ferido e com prejuízo da s u a autori-
dade episcopal.
Percorreu pastoralmente n maior parte das paró-
quias, sendo o primeiro prelado que visitou a ilha do
Pôrto Santo, prègava com frequencia n a S é Catedral
e em outras igrejas, exerceu varias vezes o cargo de
governador geral, prestando excelentes serviços n a
defesa da ilha contra os corsários, e foi notavel a s u a
administração como provedor da S a n t a Casa.
Saíu para o continente do reino n o fim do a n o
de 1641 e não mais voltou á diocese, vindo a falecer
em Lisboa a 2 de Maio de 1651. Foi o 9." Bispo do
Funchal.

57-1622 -- P e n h a d e França-Antonio Dantas


fez edificar nêste ano a pequena capela de Nossa
Senhora d a P e n h a de França, que foi reconstruida
em 1712 e ampliada pouco depois de 1880. Passou
a residencia anexa à posse da mitra e servia ela de
casa de campo dos prelados diocesanos. O s bispos
D. José da Costa Torres, n o ano de 1796, e D. Joa-
quim de Meneses e Ataide, em 1821, como adiante
se verá, foram violentados, alta noite, a abandonar
essa residencia e a embarcar precipitadamente n o cais
72 DIOCESE D O FUNCHAL

da Pontinha, em direcção aos navios, que fóra do


porto os aguardavam.
D e fins de 1840 a principios de 1841 ali residiu e
faleceu o conego Augusto Frederico de Castilho, tendo
por companhia seu irmão o grande literato Visconde
de Castilho.
Foi a residencia predilecta do bispo D. Manuel
Agostinho Barreto e ali terminou a sua laboriosa
existencia, em 1911, como posteriormente se dirá.
Durante muitos anos, os capelães do «Hospicio da
Princesa D. Maria A m é l i a ~converteram esta capela
em u m centro da mais afervorada piedade e em iima
escola, com Iarguissima frequência, em que proficien-
temente se ministrava o ensino do catecismo da dou-
trina cristã.
A capela é, desde alguns anos, frutuosamente
servida por uma pequena comunidade franciscana, que
ocupa a moradia que lhe fica contigua.

58- 1626 -Mosteiro Novo -O conego Manuel


Afonso Rocha fez edificar nêste ano u m a pequena
capela n a rua que ainda conserva o nome de Mos-
teiro N o v o e junto dela iniciou a construção de umas
casas destinadas a um convento de religiosas. Passa-
dos treze anos e não estando ainda as obras conclui-
das, fez legado ao diocesano dessas casas e
capela anexa com o proposito de dar-se cumprimento
aos seus desejos, mas a falta de recursos e outros
imperiosos motivos não permitiram que a primitiva
ideia do instituidor chegasse a ser uma realidade,
tendo falecido a 12 de Fevereiro de 1639.
N o s principios do século XVIII, como em outros
lugares desta sinopse se diz, foram a s casas construi-
das pelo cónego Afonso Rocha devidamente repara-
das e nelas se fez a instqlação do Seminario Diocesano.
Ficaram conhecidas pelo nome de Mosteiro Novo,
embora não tivessem sido aplicadas a êsse fim.

59- 1632 - Igreja de S. Tiago- N o artigo


referente ao ano de 152.1 ficou sumariamente narrada
a eleição do apóstolo São Tiago Menor para padroeiro
desta diocese e o voto solenemente feito da odificação
de uma igreja em sua honra com outras aparatosas
manifestações de culto. N o dia 21 de Julho do ano
citado, realisou-se com muita solenidade o lançamento
da primeira pedra, em terreno para êsse fim doado
pelo genovês Antonio Espinola. E r a u m a pequena
capela já entrada em ruína, quando a Câmara do
Funchal deliberou restaura-la e amplia-la, sendo sole-
nemente benzida a 25 de Julho de 1632 pelo bispo
D. Jeronimo Fernando. Decorre mais de u m século
e surge a ideia da construção de u m a nova igreja
com mais amplas proporções, que melhor exprimisse
os votos feitos n o ano de 1521 e posteriormente reno-
vados em diversas ocasiões. Demoliu-se a velha ermida
em 1752 e precedeu-se à edificação do novo templo,
que foi demorada, dando-se por concluida toda a obra
n o ano de 1768 e realisando-se então a sua benção
solene. Teve capelão privativo mantido pela Câmara
e por ela nomeado, com moradia no presbiterio
adjunto.
Quando a 9 de Outubro de 1803 uma grande alu-
vião arrasou a igreja paroquial de S a n t a Maior, vul-
garmente conhecida pelo nome de Nossa Senhora do
Calhau, o senado funchalense fez oferta da sua igreja
para os serviços religiosos da freguesia, como consta
74 DIOCESE DO FUNCHAL

da inscrição lapidar Que se acha n a frontaria da mes-


m a igreja.

60 - 1641-1 672 - Ausencia de Prelado-O


bispo diocesano D. Jeronimo Fernando ausentou-sr
do Funchal eni 1641 e não voltou ao seu bispado,
tendo falecido n o continente n o ano de 1650. Dentro
dêstes nove anos e ainda nos vinte e dois que se
seguiram, ísto é, durante três longos decenios, esteve
a direcção da diocese confiada a varios governadores
do bispado e privada da acção sempre eficaz do pre-
lado e do indispensavel exercicio do mipisterío episco-
pal, que sòmente êle pode desempenhar. N ã o deve ser
estranho a êste facto, a o menos com relação aos pri-
meiros anos decorridos, o afrouxamento das relações
diplomáticas entre o govêrno português e a Santa
Sé após a restauração, o que igualmente se deu
com o provimento de outros bispados. Foram trinta
e u m anos que a nossa isolada diocese esteve sem
chefe hierarquico, não constando que qualquer pre-
lado tivesse visitado a Madeira dentro dêsse periodo
de tempo.

61-1646 -Capela da Consolação- N a estra-


da da Levada de Santa Luzia, n o ponto em que é
atravessada pelo Caminho da Torrinha, acha-se a
capela de Nossa Senhora da Consolação, que já per-
tenceu á freguesia do Monte e que desde o ano de
1676 está encorporada n a paróquia de S a n t a Luzia.
Foi fundada em 1646 por Diogo Guerreiro e sua
mulher D. Catarina Gomes, tendo sido notavelmente
acrescentada n o ano de 1861. Adquirida pelo benemé-
rito industrial Henrique H i n t o n em 1936, procedeu
nela a um largo e artístico trabalho de restauração,
que a tornou a cápela mais bem ornada de toda a
Diocese, dotando-a também com u m rico e primoroso
vítral, que representa a Virgem Nossa Senhora, com
a seguinte legenda: Tuo semper auxilio Madeira
protegatur. Fez colocar u m relogio n o campanario
da capela e adquiriu belos paramentos para a cele-
bração dos actos religiosos.
O frontal do altar principal desta capela é u m
excelente mosaico pertencente à antiga igreja do conven-
to de S. Francisco, e as paredes laterais estão ornadas
com algumas telas do pintor Nicolau Ferreira, que
nos fins do século XVIII deixou bastantes quadros
em varias igrejas da Madeira.

62 -1651 -Convento da Incarnação-O cónego


Henrique Calãça de Viveiros fez o voto da fundação
de uma casa religiosa, quando Portugal se libertasse
do jugo filipino, e deu cumprimento à sua patriotica
promessa com a construção de um pequeno recolhi-
mento n o ano de 1645 e que por bula de 16 de
Novembro de 1651 se transformou em u m convento
de inteira observancia monástica. Foi o Mosteiro de
Nossa Senhora da Incarnação levantado n o local
onde hoje se encontra o Seminario de Nossa Senhora
do Bom Despacho e que através do tempo se man-
teve sempre dentro da mais rigorosa disciplina reli-
giosa. O cónego Henrique Calaça de Viveiros faleceu
nesta cidade a 25 de Maio de 1662. Como comemo-
ração das festas centenarias da independencia, publi-
cou o dr. João Cabra1 do Nascimento u m interes-
resante opúsculo, contendo a escritura d a fundação e
7(i DIOCESE DO FUNCHAL

dotação dêste convento feita pelo cónego Calaça, que


merece ser lido.
A capela da Incarnação foi classificada como
monumento nacional pela sua típica arquitectura.

63- 1660- Igreja do C a r m o - D o s pequenos


templos desta diocese comumente chamados «capelas»
é o de Nossa Senhora do Monte do Carmo, á rua
dêste nome, n a cidade do Funchal, o mais vasto e de
maior importancia, e cuja construção foi dada por
concluida n o ano de 1660. N o segundo quartel do
século XVII estabeleceu-se a Ordem Terceira do Car-
mo n a igreja do convento da Incarnação, passaiido a
sua séde para a nova capela, ao acabar de ser edifi-
cada e onde se encontra ainda. N a s paredes da capela-
-mór, acham-se dois mausoleus, os únicos que, nesta
ilha, pela sua aprimorada construção oferecem algum
interesse artístico. Algures se lê que n a casa anexa
a esta igreja, constituiram os religiosos carmelitas
uma pequena comunidade, que parece não haver tido
larga existência e da qual não alcançámos outra noticia.

6 4 - 1 6 6 3 - C o n v e n t o d a s Mercês-Gaspar
Betencourt de Andrade e sua mulher D. Isabel de
França Andrade fundaram u m pequeno recolhimento
sem feição monastica, que em 1658 revestiu u m carac-
ter acentuadamente religioso e que n o ano de 1663 se
transformou em um convento de austera e rigorosa
observancia, mantendo-se sempre n o decurso do tempo
como u m perfeito cen.áculo de oração, de penitencia
e das mais heroicas virtudes cristãs: foi o mosteiro
de Nossa Senhora das Mercês, comumente chamado
das «Capuchinhas». Algures se diz que fazer parte
desta comunidade o mesmo era que adquirir um titulo
da mais alta e incontestada virtude, e nisso consistiu
toda a história do modesto convento, que seguiu sem-
pre inalteral e escrupulosamente a chamada «primeira
regra, de Santa Clara. Ali floresceram em grandes
exemplos de virtude muitas religiosas, destacando-se
entre elas a madre Brites da Paixão, falecida n o ano
de 1733 e a cuja interecessão se atribuem muitos factos
miraculosos.

6 5 - 1666 - Recolhimento do Bom Jesus - O


dr. Simão Gonçalves Cidrão, arcediago da S é do Fun-
chal, fundou pouco anteriormente a esta época o
Recolhimento do Bom Jesus, com uma capela anexa,
que, não sendo uma casa monástica n o sentido rigo-
roso deste termo, conservou por largo tempo u m a
feição acentuadamente religiosa, observando-se u m
serviço quotidiano de coro e ainda outras praticas de
piedade e de culto próprias dos conventos. Segundo os
desejos do seu fundador, devia o Recolhimento estar
sujeito apenas à superintendencia do prelado dioce-
sano, tanto no regime do seu funcionamento interno
e nomeação do seu pessoal como ainda n a adminis-
tração dos seus bens. N ã o sabemos desde quando dei-
xou de estar sujeito à autoridade eclesiastica, e a partir
do ano de 1910 é dirigido por uma comissão admi-
nistrativa nomeada pelo governador civil do distrito.
As primeiras recolhidas deram ali entrada no ano
de 1666, tendo o cónego Cidrão doado todos os seus
bens para a inanutenção do Recolhimento, que poste-
riormente recebeu outras doações.
78 D I O C E S E D O IXJNCHAL

66-1670 C o n v e n t o da C a l h e t a - P o r 1670
fundou-se na freguesia da Calheta uma modesta casa
franciscana com sua capela adjunta, conhecida pelo
nome de convento de São Frãncísco, mas que em
alguns lugares se chama de São Sebastião. Teve como
fundadores os irmãos Francisco Figueirôa e Manuel
Figueirôa com a clausula de reserva da capela-mór
para seu jazigo. Foi sempre uma pequena comunidade
religiosa e àcêrca da qual raras referências temos
encontrado.

67-1672-D. G a b r i e l d e Alrneida-Era pro-


fessor n a Universidade de Çoimbra e adiantado em
a.nos, quando D. Gabriel de Almeida recebeu a sagra-
ção episcopal, entrando nesta diocese como seu 10."
bispo a 4 de Março de 1672. Teve um episcopado,
que apenas durou dois anos, entrecortado das maiores
dificuldades, que com a doença e a provecta idade lhe
abreviaram a existência, falecendo nesta cidade a 13
de Julho de 1674 e sendo sepultado n a capela-mór da
Sé Catedral.
N ã o deixou, porém, de visitar muitas paróquias e
entre elas a do Pôrto Santo, de intervir energicamente
nas desinteligencias que se suscitaram entre algumas
comunidades franciscanas e de providenciar àcêrca de
muitos abusos que nelas se praticavam, além do zêlo
que manifestou n a boa pastoreação do seu rebanho.

68--1675 - D. A n t o n i o Teles da Silva -A 29


de Abril dêste ano tomou pessoalmente posse do cargo
de bispo diocesano D. Antonio Teles da Silva, que
havia sido confirmado e sagrado n o ano anterior,
tendo apenas u m curto episcopado de seis anos, pois
que faleceu n o Funchal a 14 de Fevereiro de 1682.
Foi um zeloso e exemplarissimo~prelado e entre os
actos mais importantes da sua administração episcopal
podem destacar-se o notavel «Regimento» das Cole-
giadas, cujo serviço tinha caído em grande abandono,
a criação de seis freguesias e alguns curatos, a ampíia-
ção do antigo palacio dos bispos e a convocação de u m
sínodo diocesano. Pertencia à ordem de São -Bento e
foi o 11." bispo do Funchal.

69-1676-Nomeações Eclesiásticas-Tinham-
-se em várias ocasiões suscitado dúvidas àcêrca da
nomeação de alguns « oficios e beneficios » eclesiasticos,
em que o govêrno da metrópole quizera por vezes inter-
vir, vindo o assunto a esclarecer-se com o alvará régio
de 4 de Março de 1676, em que se determina que era a o
bispo diocesano que competia o direito do provimento
dêsses beneficios, como sempre se havia observado e de
harmonia com a bula da criação da diocese. O mesmo
assunto foi novamente esclarecido e confirmado nos
termos do alvará acima citado pelas «Instruções» con-
tidas n o alvará régio publicado n o ano de 1725, sendo
prelado D. Manuel Coutinho.

70-1676 -Criação de Paróquias--O alvará


régio de 28 de Dezembro dêste ano criou as freguesias
de Santa Luzia, Camacha, Serra de Agua, P a u l do
Mar, Prazeres e Arco de S. Jorge.
A primeira desmembrou-se das paróquias d a S é
e do Monte e instalou-se n a antiga ermida de S a n t a
Luzia, sita em uma eminencia sobranceira à ribeira
80 D I O C R S E D O FUXCt4AL

do mesmo nome. Pelo seu adiantado estado de ruína,


abateu-se n o primeiro quartel do século XVIII, pas-
sando o serviço paroquial a exercer-se n a igreja do
Convento da Incaenação. A construção da actual igreja
fêz-se n o decenio decorrido de 1730 a 1740,
ficando em local mais centraI e a grande distancia da
velha ermids. Orago: Santa Luzia.
A freguesia de São Lourenço da Cimacha, sepa-
rada da do Caniço, teve seu inicio n a pequena
ermida dedicada àquêle santo mártir e que fora fun-
dada por Francisco Gonçalves Salgado nos ultimos
anos do segundo ~ u a r t e ldo século XVII. A 30 de
Setembro de 1783, lançou-se a primeira pedra da actual
igreja, havendo sido parcialmente reedificada pelos
anos de 1886. H a vinte e tantos anos recebeu impor-
tantes reparações, especialmente nas suas decorações
interiores.
N a pequena ermida de Nossa Senhora da Ajuda
do sitio da Serra de A g u a se estabeleceu a paróquia
dêste nome, desmembrada da da Ribeira Brava. Dês-
de Iogo se projectou a construção de uma igreja paro-
quial, visto a s acanhadas dimensões da capela ali
existente, o que sòmente veio a realizar-se nos anos
decorridos de 1695 a 1700.
A freguesia dos Prazeres tomou o nome da capela
de Nossa Senhora dos Prazeres que ali existia. Criada
em 1676, foi extinta n o ano de 1700 e ali estabelecido
u m curato em 1733, e passados alguns anos tornou-se
paróquia autónoma, ignorando-se os motivos destas
rapidas mudanças de situação. A construção da igreja
paroquial decorreu de 1751 a 1752 e foi amplamente
acrescentada e melhorada n o ano de 1922. Nesta igreja
deu-se u m grave e sacrílego desacato n o de 1827, que
muito emocionou a de toda a ilha.
João do Couto Cardoso fundou n o P a ú l do M a r
a capela de Santo Amaro nos fins do século XV o u
principios do século seguinte e nela se instalou a séde
da nova paróquia criada em 1676. Ignoramos em que
ano foi construída a actual igreja paroquial. Orago:
S. Amaro.
Foi n a pequena capela de Nossa Senhora da
P i e d ~ d eexistente n o Arco de São Jorge, que se esta-
beleceu a séde da paróquia e que anteriormente teve
seu capelão privativo. A actual igreja paroquial, cons-
truída a distancia daquela capela, passou a ter o orago
de São José e foi benzida a 19 de Março de 1744.

71-1685 -D. Estevão Brioso de Figueiredo -


E r a D. Estevão Brioso de Figueiredo bispo da diocese
de Pernambuco, n o Brasil, quando foi transferido
para o Funchal, tomando pessoalmente posse dêste
cargo a 18 de Abril dêsse ano. P o r motivo imperioso
de doença, teve de abandonar, passados três anos, a
sua diocese, e veio a falecer em Lisboa a 20 de Maio
de 1689. Foi o 12." bispo do Funchal.

72-1691-D. Fr. José de Santa Maria-


E r a um modesto e virtuoso frade capucho, quando
foi apresentado bispo desta diocese, dando nela entra-
da n o mês de Março de 1691. E m 1696 saíu desta ilha
e n o ano seguinte foi transferido para o bispado do
Pôrto e ali faleceu a 6 de Setembro de 1708. Várias
vezes visitou pastoralmente toda a diocese, reuniu u m
sínodo diocesano e tomou particular interesse pelo
ensino da doutrina cristã, publicando e fazendo impri-
mir umas instruções práticas para ministrar êsse
82 D I O C E S E D O FUNCHAI,

ensino. Prestou relevantes serviços à S a n t a Casa da


Misericordia n a qualidade de provedor. Foi o 13."
bispo desta diocese.

73 -1698 -- D. José de Sousa Castelo Branco

-A 27 de Janeiro, a 2 de Junho e a 2 de Agosto de


1698, foi respectivamente confirmado, sagrado e deu
entrada nesta diocese o bispo D. José de Sousa Cas-
telo Branco, que era então presidente do tribunal da
inquisição em Coimbra. Esteve à testa dos destinos
dêste bispado durante vinte e três anos, sendo os pri-
meiros dezasete de administração ~ e s s o a le os últimos
seis por intermédio de provisores ou governadores
diocesanos, por justificado motivo de saúde, vindo
finalmente a renunciar a mitra n o ano de 1721. E m
todo êsse período de tempo deu provas de grande zêlo
n o desempenho das obrigações do seu cargo.
Lê-se em u m antigo manuscrito que favoreceu
particularmente a s pretensões dos fidalgos com pre-
juizo dos direitos de outras pessoas. Faleceu em Lisboa
em idade muito avançada a 26 de Julho de 1746. Foi
o 14." bispo da díocese do Funchal.

74 -1708 -Assaltos no Pôrto Santo -Várias


vezes e nomeadamente nos anos de 1566, 1600, 1617,
1690 e 1708 sofreu a ilha do Pôrto Santo assaltos
violentos dos corsários franceses e argelinos, havendo
especialmente a igreja paroquial sido objecto de mui-
tas profanações e chegando até a ser incendiada. E m
u m dêsses assaltos levaram a imagem de Santa Cata-
rina, u m dos padroeiros da ilha, sendo empregados
os maiores esforços para o seu resgate, o que foi
alcançado e restituída a veneranda imagem à capela,
existente n o sitio que ainda hoje conserva o seu nome.
Foi demolida e reconstruída dentro do recinto do
cemitério público por meados do século XIX.

75-1725 -D. Manuel Coutinho-A 22 de


Junho de 1725 chegou ao Funchal o prelado D. Manuel
Coutinho, que havia sido sagrado a 13 de Maio do
mesmo ano. Esteve durante treze anos à frente dos
serviços religiosos desta diocese, renunciando êste
cargo em 1738 e sendo transferido para o bispado de
Lamego em 1742, falecendo a 7 de Agosto dêste ano,
quando i a tomar posse da s u a nova diocese.
Conhecedor das dificuldades e atritos, que em
episcopados anteriores tinham surgido, foi portador
de importantes doclimentos emanados do poder central
e destinados a regular a s relações oficiais entre os
prelados e a s diversas autoridades locais, e de modo
particular respeitantes às nomeações dos diversos
beneficos eclesiásticos e ainda a outros assuntos da
disciplina canónica.
Foi um dos mais activos e zelosos prelados, n ã o
sòmente nas cousas de caracter essencialmente reli-
gioso mas também nos melhoramentos de ordem mate-
rial, como foram os que se realizaram n o Paço EPis-
copa, n o Seminario, n a Sé Catedral e em varias igrejas
paroquiais.
A sua acção episcopal dirigiu-se especialmente à
instruçso religiosa nas paróquias por meio da expli-
cação obrigatoria e frequente do evangelho, do ensino
metódico da catequese, das missões evangélicas, e ainda
das visitas pastorais que fazia ás diversas freguesias.
Foi o 15." Bispo do Funchal.
84 D I O C E S E D O FUNCHAL

76 - 1730- C o n v e n t o da R i b e i r a P r a v a -NO
segundo ou terceiro quartel do século XVII os reli-
giosos franciscanos fundaram um pequeno convento,
também chamado hospicio, n a freguesia da Ribeira
Brava, com o nome de Nossa Senhora da Porciún-
cula, que n o século seguinte foi ampliado, tendo a
respectiva igreja que lhe ficava anexa sido construída
n o a n o de 1730.

77 - 1 7 3 3 - M a d r e Brites da P a i x ã o - N o dia
25 de Setembro de 1733, faleceu n o convento das
Mercês, geralmente conhecido pelo nome de convento
das Capuchinhas, a religiosa madre Brites da Pai-
xão, natural da freguesia do Caniço e pertencente à
ilustre familia Ornelas, de que foram distintos mem-
bros os madeirenses arcebispo D. Aires de Ornelas
de Vasconcelos e os conselheiros Agostinho de Orne-
las e Aires de Ornelas. N o arquivo desta casa con-
ventual guardavam-se interessantes noticias da vida
austera e e ~ e m ~ l a r i s s i mdaquela
a religiosa, que foi
u m compendio das mais eminentes virtudes cristãs,
tendo morrido com fama de reconhecida santidade e
havendo-se atribuido à sua intercessão numerosos
factos miraculosos. A sua sepultura existente n o
claustro do convento passou a ser objecto da maior
veneração e por toda a ilha se espalhou a fama das
suas virtudes e o seu auxilio a ser invocado por
muitas pessoas de todas as classes sociais.
Vid. a revista «Esperança», no n.' 11 do IX a n o
(Janeiro de 1928).

78 -1741 -D. João do N a s c i m e n t o - E n t r e


a distinta lista de prelados desta diocese, destaca-se o
nome de D. Fr. João do Nascimento, que arrancado
pela obediencia do convento franciscano do Varetojo,
veiu assumir a direcção do bispado do Funchal, sendo
confirmado a 5 de Maio e empossado n o seu novo
cargo a 17 de Setembro de 1741.
M a l chegou, fez publicar uma notavel carta pas-
toral destinada, diz-se algures, «à reforma dos costu-
mes, à extirpação de abusos, restauração, perfeição e
esplendor do culto divino», e outra ao Cabido da Sé
Catedral, introduzindo importantes modifjcações nos
diversos serviços cultuais que ali se realizavam.
Trouxe dois confrades como companheiros de
trabalhos apostolicos, precedidos da fama de notaveis
prègadorés, que durante vinte meses percorreram quasi
todas as paróquias em missões evangélicas, que o
fazia geralmente coroar com o brilho da s u a
presença e da sua palavra eloquente e cheia de unção
religiosa.
E sabido que o terremoto de 1748 deixou muito
arruinados u m consideravel numero de edificios entre
os quais se contava o velho paço episcopal, abalan-
çando-se o ilustre prelado à empreza da construção de
uma nova residencia destinada aos bispos da diocese,
o que conseguiu realisar à custa das maiores dificul-
dades e de u m a tenacidade sem limites, contribuindo
para isso com dez contos de reis roubados aos confor-
tos d a s u a parca existência e concorrendo O erário
Público para a definitiva conclusão das obras.
Dedicou particular atenção a o cumprimento dos
legados pios, tendo recorrido aos tribunais superiores
de Lisboa para obrigar o Juizo dos Residuos e Capelas
do Funchal à estrita observancia das leis que regula-
vam o assunto, o que inteiramente conseguiu, embora
86 DIOCESE D O FUNCHAL

incorrendo n o desagrado de muitas das pessoas mais


qualificadas desta ilha.
Foi u m grande e apostólico prelado, a que a bre-
vidade dêstes apontamentos não permite dedicar uma
mais larga referencia. Faleceu nesta cidade a 5 de
Novembro de 1753 e teve sepultura n a capela-mór da
S é Catedral.
Foi o 16.0 Bispo do Funchal. N o 2." vol. da
«Histeria da R e a l Convento e Seminario do Vara-
tojo » de Fr. Manuel de Maria Santissima e publicado
n o ano de 1800, encontra-se u m a desenvolvida noti-
cia biográfica dêste distinto prelado.

79-1743-Boaventura --Rigorosamente falan-


do a freguesia da Boaventura foi criada pelo alvará
de 18 de Novembro de 1836, mas conservou dêsde
a criação do curato, por alvará de 4 de Fevereiro de
1733, de uma quasi inteira autonomia como freguesia,
dependendo apenas nominalmente da vigararia da
P o n t a Delgada. A capela de Santa Quiteria foi cons-
truída pelo povo n o ano de 1731, que logo começou a
ser servida por u m capelão de residencia permanente.
Foi notavelmente acrescentada e tem sofrido muitas
reparações através do tempo. Orago: S a n t a Quitéria.

80-1748 - Tremor de terra - N a noite de 31


Março do ano de 1748 sentiu-se n a Madeira u m forte
abalo de terra, que foi o mais violento de que h a noti-
cia ter-se dado nesta ilha. Além da morte de algumas
pessoas, foram grandes os estragos materiais causados
em inúmeros edificios, tendo muitas igrejas ficado bas-
tante danificadas e até algumas em estado adiantado
de ruína. O bispo diocesano D. João do Nascimento
conseguiu do govêrno da metrópole importantes dona-
tivos destinados às reparações mais urgentes de que
careciam diversos templos, a começar elo da S é Cate-
dral e pelo edificio do Seminario Diocesano, àlém
de várias igrejas paroquiais. (Vid. «Saudades » a
pag. 697 e ss.)

81 -1751 -Paço Episcopal -O 4O . Bispo do Fun-


chal D. Jorge de Lemos (1566-1569) foi o primeiro
que teve residencia nesta cidade, ignorando-se o local
em que ficariam as suas casas de moradia. O segundo
que residiu entre nós foi o 6." Bispo D. Jerónimo Bar-
reto (1574-1585), que habitou n a rua Direita « n u n s
ricos aposentos e frescos jardins», segundo nos informa
Gaspar Frutuoso com as suas costumadas hipérboles.
Estendia-se então essa via pública até ás alturas da
actual Ponte do Torreão e era nessas imediações que
se encontrava a residencia episcopal.
N o s ultinios anos do século XVI ou principios do
século seguinte procedeu o 7.' Bispo D. Luís Figuei-
redo de Lemos (1586-1608) à construção de umas casas
destinadas á habitação dos prelados diocesanos e à
instalação da cúria episcopal, clue constituía uma falta
muito sensível n o nosso meio. Dessa construção, que
não satisfazia inteiramente ao seu destino, restam
ainda de pé uma espécie de antigo claustro conven-
tua1 e a capela de São Luís, que lhe fica anexa. Serviu
de moradia aos prelados até o ano de 1751.
O terremoto que se sentiu n a noite de 31 de
Março de 1748 deixou essa residencia muito arruina-
da, abalançando-se o prelado D. João do Nascimento
(1741-1753) à edificação de u m novo paço episcopal,
88 DIOCESE DO FUNCHAL

em condições mais apropriadas ao seu fim, o que


conseguiu à custa de muitos sacrificios e dificuldades,
tendo contribuído com metade do custo dessa cons-
trução e a fazenda pública com a outra metade. A l i
tiveram os bispos diocesanos a sua residencia n o
período de 160 anos até à morte do prelado D. Manuel
Agostinho Barreto, em 1911, havendo-se instalado o
liceu nessa casa n o a n o de 1914 e nela funcionaram
todas as aulas até o ano de 1942.
O sr. D o m Antonio Manuel Pereira Ribeiro, ao
assumir em 1915 a direcção da Diocese, residiu por
breve tempo n a rua dos Netos, passando a habitar
definitivamente em u m predio situado n o Largo do
Ribeiro Real, transformado em residencia episcopal e
que para êsse fim fora doado por D. Julia Esmeraldo,
u m a das mais ilustres senhoras madeirenses pela sua
nobre ascendencia, cultura de espirito e acrisoladas
virtudes, falecida nesta cidade n o dia 14 de Setembro
do ano de 1915. E m uma das dependencias dessa
habitação foram instaladas a s repartições dos diversos
serviços eclesiásticos dêste bispado.

82-1757 -D. Gaspar Brandão - Foi u m ilus-


tre prelado desta diocese D. Gaspar Afonso d a Costa
Brandão, que n o longo episcopado de vinte e seis
anos deu sempre as maiores provas do seu ardente
zêlo pela propagação d a boa doutrina e estrita obser-
vancia das leis da igreja. É certo que a atitude do
prelado, por ocasião da prisão dos jesuítas nesta cidade
e da sua expulsão, tem sido censurada, mas o seu
procedimento não foi diferente do dos seus colegas
n o episcopado em outras dioceses do país e tem os
maiores atenuantes n o regime do mais absoluto des-
potismo, que então exercia o marquês de Pombal.
Como o seu antecessor, fêz-se também acompa-
n h a r de dois membros da Congregação da Missão,
que durante dez anos permaneceram nesta ilha, desem-
penhando o seu apostólico ministerio « n a s frequentes
missões evangélicas realisadas em quasi todas a s paró-
quias, nas muitas prègações em vários templos da
cidade, nos exercicios espírituais ao clero, nas visitas
canónicas aos conventos, n o fomentar e fazer reviver
as práticas de piedade, e exerceram por toda a parte
uma acção. eminentemente cristã, conseguiram desper-
tar u m grande fervor religioso, que em alguns lugares
se manifestou nos modestos mas significativos padrões
que se ergueram nos adros de muitas igrejas». Esses
religiosos tiveram que lutar com graves dificuldades,
ainda levantadas por parte do clero sécular e regular,
mas com o apoio incondicional do prelado souberam
supera-las e levar a bom termo a espinhosa missão
de que estavam encarregados.
D. Gaspar Brandão fói confirmado bispo em 1756
e sagrado no ano seguinte, e deu entrada n a sua diocese
a 5 de Agosto de 1757. Faleceu n o Funchal a 14 de
Janeiro de 1784 em idade bastante avançada, havendo
sido sepultado n a capela-mór da S é Catedral. Foi o
17." Bispo do Funchal.

83-1760 -Sociedades Secretas -Aproxima-


damente por esta época, estabeleceu-se n o Funchal
u m a sociedade secreta moldada n a franco-maçonaria,
que em vários lugares se afirma ter sido a primeira
loja maçonica organisada em Portugal e que, com
relação às acanhadas condições do meio, tomou um
grande desenvolvimento. Trinta anos mais tarde,
i2
90 DIOCKSE D O FUNCHAL

fundaram-se novas lojas, havendo o prelado D. José


da Costa Torres e o governador Diogo Pereira
Forjaz Coutinho promovido um? enérgica persegui-
ção a essas sociedades secretas.Acêrca dêste assun-
to, deixámos uma desenvolvida notícia nas colu-
nas do « Elucidário Madeirense », para onde reme-
temos o leitor, que mais detalhadamente o queira
conhecer.

84 -1766 -Provimento de Beneficios Ecle-


siásticos - D e novo se ventilou a questão que já
anteriormente se agitara àcêrca da preferência devida
aos eclesiásticas naturais desta diocese n o provimento
dos abeneficios eclesiásticos», tendo o alvará régio de
29 de Agosto de 1766 «ordenado expressa e positiva-
mente que a s dignidades, conezias, beneficios e igrejas
desta ilha n ã o possam ser p r o ~ i d o sem outros ecle-
siásticos que n ã o sejam naturais dela, precedendo
editais públicos e rigorosos concursos e que de outra
sorte fiquem i ~ u l o se sem efeito tais provimentos».

85-1770 -Bispo Governador -A carta régia


de 12 de Dezembro de 1770 confere aos prelados do
Funchal o direito de assumirem a governação supe-
rior do arquipélago n a ausencia ou legítimos impe-
d i m e n t o s dos respectivos gove.rnadores. X o a n o
de 1771 o governador João Antonio de S á Perei-
r a foi com grande aparato à ilha do Pôrto Santo
pôr em execução o célebre decreto pombalino conhe-
cido pelo nome de «lei dos quintos e oitavos», fican-
do o bispo D. Gaspar Afonso da Costa Brandão
SINOPSE CRONOLÓG[CA 91

a' exercer a s funções de governador e capitão-general


da Madeira.

86-1787 - 0. José da Costa Torres- Exercia


D. José da Costa Torres o professorado n a Univer-
sidade de Coimbra, quando em 1786 foi confirmado
bispo do Funchal, dando entrada nesta diocese a 18
de Setembro do ano seguinte. Pode afirmar-se que o
seu agitado episcopado de nove anos teve a feição de
uma continuada luta, que terminou pela sua saída
inesperada e violenta desta diocese, O s atritos e con-
tratempos que tempestuosamente surgiram devem em
boa parte atribuír-se à perseguição que moveu à s
sociedades secretas, em virtude de ordens emanadas
do govêrno central e de acordo com a s autoridades
locais, parecendo contudo que o prelado levou muito
longe a execução dessas ordens, e dêste modo conci-
tou a má vontade de muitos individuos e até do pró-
prio clero, como se vê de u m a célebre carta publicada
em Londres, n o Campeão Português, n o a n o de 1822.
Foi um dos prelados que mais diligentemente se
empenharam em melhorar a situação do Semhnario
Diocesano, tanto nas suas condições materiais como n o
aproveitamento moral, religioso e ciêntifico dos alunos,
devendo-se aos seus aturados esforços a mudança que
se fêz dêsse estabelecimento de instrucão para o Colé-
gio dos Jesuítas, tendo-se realisado a sua abertura
com u m solene e desusado aparato. Perante o govêr-
n o central e a «Mesa da Consciência e O r d e m ~
revindicou para os prelados desta diocese o direito da
nomeação dos beneficias eclesiásticos, elaborando a
tal respeito u m notavel documento, que merecia tornar-
-se conhecido.
92 DIOCESE DO FUNCHAL

N o mês de Julho de 1796, a pedido de D. José


d a Costa Torres, apresentava o govêrno português
à Santa Sé, a sua transferência para a diocese de
Elvas, e poucos mêses depois saía apressada e vio-
lentamente do Funchal de uma maneira estranha
e misteriosa, sendo a casa em que então habitava, a
residencia da P e n h a de França, cercada, alta noite,
por u m grupo de individuos, que o forçaram a embar-
car imediatamente no cais da Pontinha e a seguir
para Lisboa em u m navio, que a pequena distancia
do porto aguardava a sua chegad-
P o r 1806 foi transferido do bispado de Elvas para
a arquidiocese de Braga e ali faleceu a 26 de Agosto
de 1813, tendo 73 anos de idade. Foi o 18." Bispo
do Funchal.

87 -- 1790- C u r r a l das F r e i r a s -O convento de


Santa Clara tinha uma pequena capela dedicãda a
Santo Antonio n a grande propriedade do Curral das
Freiras, que era pertença do referido mosteiro. Nessa
capela se instalou a séde da freguesia, criada pelo
alvará de 17 de Março de 1790 e desmembrada da de
Santo António. A igreja paroquial foi construída
nos principios do século XIX. Orago: N." S." do
Livramento.

88-1798 Luís R o d r i g u e s d e V i l a r e s - N O
- D.
principio do ano de 1798 tomou posse da diocese do
Funchal o prelado D. Luís Rodrigues de Vilares, que
tinha sido confirmado no consistorio de 29 de Julho do
ano anterior. N o s seus doze anos de episcopado
revelou-se sempre u m ,pastor zeloso e dedicado n a
direcção do seu rebanho, a r c ~ n d onobre e heroicamente
com a s prepotencias de que foi vitima. Com a ocupação
da Madeira por tropas inglêsas no ano de 1801, o
governador e capitão-general intimou a evacuação do
Colégio dos Jesuítas, onde funcionava o Seminario
Diocesano, para o alojamento daquelas tropas, ao que
o prelado ofereceu u m a tenaz oposição, cedendo perante
a violencia empregada. Com a saída das forças britâ-
nicas, D. Luís Rodrigues de Vilares não deixou de
insistir porfiosamente pela restituição do Colégio, mas
não conseguiu ser atendido. Este facto e ainda outras
circunstâncias não bem conhecidas levantaram um
grave conflito entre as duas autoridades superiores do
arquipélago, tendo o governador praticado a desme-
dida violencia de levar o prelado a saír apressada-
mente, em forçado exílio, para a freguesia do Santo
da Serra n o dia 18 de Junho de 1803. O estranho
caso provocou a maior sensação n a Madeira e ainda
em Lisboa, vindo sem demora a esta ilha u m dos
mais considerados juizes da Relação, proceder a uma
investigação judicial, e por tal motivo saíram para a
capital nos dias 10 e 11 de Dezembro do ano referido
o prelado diocesano e o governador e capitão-general,
cada um em seu navio de guerra, resultando da rigo-
rosa sindicancia a demissão e uma grande censura ao
governador e o regresso de D. Luís Rodrigues de
Vilares ao exercicio do seu cargo.
Foi o 19." Bispo do Funchal e faleceu nesta cidade
a 1 de Outubro de 1810, sendo sepultado n a capela-
-mór da S é Catedral.

89 -1803 - A grande aluvião --A grande alu-


vião ocorrida a 9 de Outubro do ano de 1803, causando
94 D I O C E S E DO FUNCHAI,

os maiores prejuizos e ertragos e tirando a vida a


alguns centenares de individuos, foi das mais tremen-
das calamidades que teem assolado a Madeira. E n t r e
êsses prejuízos conta-sr o d a completa destruição da
igreja paroquial da freguesia de Santa Maria Maior,
comumente chamada de Nossa Senhora do Calhau,
situada n a margem da ribeira de João Gomes, entre
O actual Mercado dos Lavradores e o grande fonte-
nario que ali se encontra próximo. 0 serviço religioso
da freguesia começou a exercer-se n a capela de São
Tiago, pertença da Câmara Municipal, que passou
então a ser a nova igreja paroquial. Essa calamidade
determinou o voto solene da instituição da festa do
Patrocinio de Nossa Senhora do Monte, sob cuja
especial protecção se colocou a cidade do Funchal,
como já ficou referido n a data de 1565 (Freguesia
do Monte).
É ocasião oportuna de recordar que a igreja de
Nossa Senhora do Calhau foi mandada construir
pelo infante D. Henrique, que a ela se refere no seu
testamento, dizendo que «estabeleceu e ordenou a
primeira igreja de Santa Maria da I l h a da Madeira».
Edificou-se, sob a direcção do primeiro capitão-dona-
tario e pelos anos de 1438, n o local em que se formara
O mais denso núcleo de população. A s aluviões de
1611 e de 1707 causaram-lhe grandes estragos, sendo
duas vezes parcialmente reconstruida, e a grande e
memoravel enchente de 9 de Outubro de 1803 deixou-a
totalmente arrasada, passando o serviço religioso a
exercer-se n a igreja de São Tiago, como já ficou refe-
rido. A provisão régia de 10 de Março de 1805 deter-
minou que cuidadosamente se conservassem as suas
ruínas, como memoria da grande calamidade ocorrida
n o ano de 1803, mas essa determinação não foi res-
S I N O P S E CRONOLOGICA Y5

peitada e n o seu local se construíu um mercado n o


ano de 1835. Vid. n." 32 (1521) e n." 59 (n." 1632).

90 -1811-D. Joaquim de Menezes e ~ t a í d e


-Poucos mêses depois da morte do prelado D. Luís
Rodrigues de Vilares, o patriarca eleito de Lisboa
nomeou o bispo de Meliapor D. Joaquim de Menezes
e Ataíde vigario apostólico e governador da ciiocese
do Funchal. O cabido da Sé, a quem competia fazer
a indicação do vigario capitular, protestou contra essa
nomeação, suscitando-se u m grave e demorado con-
flito, que veiu a terminar com a ratiíicação da mesma
nomeação feita pelo govêrno da metrópole. O prelado
Ataíde só asstimiu pessoalmente a direcção desta dio-
cese n o mês de Agosto de 1812. Tudo em breve ficou
sanado e nos anos de 1814 e 1815 o clero e a s mais
qualificadas pessoas da Madeira pediram a nomeação
do mesmo prelado para bispo do Funchal, o que n ã o
se verificou. Dedicou-se com zelo ao exercicio do seu
ministerio, mas levantaram-se dificuldades com o
governador geral por motivos de ordem politica,
criando-se uma corrente de má vontade, que levaram
o prelado a pedir a sua transferencia para a diocese
de Elvas. Quando preparava a sua saída, foi violen-
tadamente forçado a embarcar dentro de duas horas
de tempo, com grande estranheza de toda a populacão,
n o dia 22 de Fevereiro de 1821. Foi bispo de Elvas e
morreu de passagem n a cidade de Gibraltar a 5 de
Novembro de 1828.
F o i verdadeiramente notavel a sua acção como
provedor da S a n t a Casa, e a êle se deve a construção
do importante aqueduto da Fundoa, o alargamento do
edificio e a elaboracão do seu eregimenton, conside-
96 DIOCESE D O FUNCHAL

rado o primeiro do país, àlém de outros melhora-


mentos, conservando-se ainda hoje o seu retrato, em
tamanho natural, n a sala das sessões da Irmandade
da Misericordia.

91 --I813 --Capela do Senhor dos Milagres-


E m mais de u m lugar se afirma que ao realizar-se o
primeiro desembarque dos mais antigos colonizadores
nas p ~ a i a s de Machico e ao celebrarese ali o santo
sacrificio da missa, (Vid. n." 2 ) se fizera a promessa
da erecção de uma capela naauele local, como acção
de graças pela recente descoberta e começo do povoa-
mento e também para impetrar do céu auxilios
especiais para a grande eniprêsà que ia iniciar-se.
Atribui-se ao primeiro capitão-donatario de Machico
Tristão Vaz a iniciativa da sua construção, que deve
ter sido nos principios do segundo quartel do século
XV. A o estabelecer-se a Confraria da Misericordia,
nos principios do século XVI, tomou esta posse da
capela e nela instalou a sua séde, procedendo à s u a
completa reedificação e em mais amplas proporções
nos fins do século XVI ou principios do século
seguinte. T i n h a primitivamente o nome de Capela de
Cristo, passando mais vulgarmente a chamar-se Capela
do Senhor dos Milagres.
Como é sabido, a grande aluvião de 9 de O u t u -
bro de 1803 reduziu a capela a u m montão de escom-
bros e arrastou para o alto mar a veneranda imagem,
que milagrosamente se conservou sem o menor dano
e foi encontrada por um navio dos Estados Unidos
da America, que dela fez piedosa entrega à Sé Cate-
dral do Funchal onde se conservou até o ano de 1813,
em que foi restituída à sua antiga capela, onde actual-
mente se acha.
Tem-se muitas vezes chamado aMonumento His-
t ó r i c o ~a essa veneranda capela, e n a verdade o é,
porque comemora o feliz descobrimento da Madeira,
o auspicioso início da s u a colonização e o portentoso
milagre operado com a imagem, que nela religiosa-
mente se conserva. E* um pequeno monumento, que
deve inspirar a todos os madeirenses os sentimentos
do maior respeito e d a mais devotada veneração.
(Vid. os números 2 e 6).

92-1820 - D. B e r n a r d i n o d e Brito - Foi viges-


simo bispo do Funchal D. João Joaquim Bernardino
de Brito, confirmado pela Santa Sé a 28 de Agosto
de 1819 e tomou posse do seu cargo, por procuração,
a 14 de Maio do ano seguinte, cometendo o govêrno
do bispado ao cónego dr. João Manuel da Costa e
Andrade. Faleceu em Lisboa a 26 de Julho de 1820,
antes de vir para a Madeira e tendo apenas dois
meses de episcopado.

93-1822-D. Francisco de Andrade-Desem-


penhava a s funções de pároco da freguesia de S ã o
Nicolau de Lisboa D. Francisco José Rodrigues de
Andrade, quando a 21 de Setembro de 1821 foi confir-
mado bispo desta diocese, assumindo pessoalmente a
direcção dela n o 1 dia de Março de 1822. N ã o é de
estranhar que houvesse tido um episcopado eriçado
das maiores dificuldades, sabendo-se que êle decorreu
n o período revolto de 1820 a 1834, tão agitado pelas
98 DIOCESE DO FUNCHAL

mais desencontradas paixões políticas. N ã o pôde ou


não soube manter-se em uma situação de cautelosa
imparcialidade, tendo n o espaço de dois mêses publi-
cado duas pastorais, em que defende, com a mais
manifesta contradição, os direitos de D. Miguel e de
D. Pedro a o trono de Portugal.
S a í u da Madeira, poucos dias depois d a procla-
mação do govêrno constitucional nesta ilha, em direc-
ção à Itália e ali se acolheu a o convento de São
Bartolomeu, em Promentario, perto de Genova, onde
veio a falecer a 2 de Maio de 1838.
Foi o 21.0 Bispo do Funchal.

94-1829 -Horrível Sacrilégio- N a noite de


6 para 7 de Novembro dêste ano, cometeu-se u m
horrível e sacrílego desacato n a igreja parocjuial d a
freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, tendo u m
grupo de individuos profanado a píxide cjue encerrava
O Santissimo Sacramento e roubado muitos objectos
valiosos destinados às funções do culto. O abomina-
vel atentado consta pormenorisadamente do opúsculo
citado n o Dicionario Bibliografico Português (VII-252)
sob o titulo de c<Sentença da Relação de Lisboa, con-
tra Jacinto Fernandes e mais septe reos, culpados de
roubo e desacato n a igreja da Graça do Funchal.
Foram seis enforcados e o último foi degradado
(Datada de 6 de Março de 1830) Impressa em Lisboa,
n a Typ. de J. B. Miranda. Fol. de 11 pa8.a
O estranho caso produziu a maior sensação
em toda a ilha, sendo ordenadas pela autoridade
eclesiástica preces de desagravo em todas as igrejas e
capelas. (Vid. Elucidário Madeirense 1-350).
Facto idêntico se tinha dado na freguesia dos
Prazeres n o ano de 1827, mas de que n ã o temos
notícia circunstanciada.

95-1834-Antonio A l f r e d o Braga-Com O
advento do govêrno constitucional saíu d a Madeira
em direcção à Itália, n o mês de Junho de 1834, o
bispo diocesano D. Francisco José Rodrigues de
Andrade, tendo alguns mêses depois, e por decreto de
7 de Novembro do mesmo ano, sido nomeado ugover-
nador temporal do bispadoz. o egresso Antonio Alfre-
do de S a n t a Catarina Braga, que esteve à testa da
diocese até os princípios do ano de 1840. Como por
essa calamitosa época aconteceu em outros bispados
do continente com identícas nomeações feitas pelos
govêrnos da. metrópole, muito deixou a desejar a
administração diocesana de S a n t a Catarina Braga,
sendo pouco honrosas a s tradições que durante muitos
anos perduraram entre nós a seu respeito. E n t r e
outros, praticou o acto escandaloso de ir
ao convento de São Bernardino, em Câmara de
Lôbos, e fazer queimar, com grande aparato, a estátua
de Fr. Pedro d a Guarda, o Santo Servo de Deus,
que ali se venerava n a respectiva igreja, como u m a
manifestação de eloquente apoio à expulsão das ordens
religiosas, que h a pouco tinha sido decretada.

96-1836 -P r o s e l i t i s m o P r o t e s t a n t e -Ante-
riormente a esta época, vários propagandistas de seitas
protestantes tentaram introduzir entre nós a s suas
doutrinas, foi, porém, o dr. Roberto Kalley o primeiro
que verdadeiramente conseduiu exercer nesta ilha u m
activo e eficaz proselitismo, causando em varias fre-
100 DIOCESE DO FUNCHAL

guesiàs a s maiores perturbações n o seio de muitas


familias, que chegaram a o ponto de produzirem por
vezes alterações da ordem pública. A s lutas liberais, a
expulsão das ordens religiosas, a deficiencia de clero e
ainda outras causas prepararam um ambiente favora-
vel à propaganda tenaz e persistente feita por u m
homem de rara eloquencia oratoria, médico abalisado e
munido com fartas s u b v e n ç ~ e sdas sociedades bíblicas,
em u m meio onde a f é católica, pelos motivos aponta-
dos, tinha esmorecido bastante nos corações dos fiéis.
A-pesar disso, foi enérgica a oposição oferecida pelo
clero madeirense a essa propaganda, lutando denoda-
damente, conforme o permitiam as circunstâncias, pela
pureza da doutrina de que eram ministros.
O dr. Kalley, n o período decorrido de 1838 a 1846,
conseguiu criar bastantes adeptos, a o mesmo tempo
que os ânimos se iam excitando e se formava u m a
corrente que lhe era adversa, quando n o dia 9 de
Agosto daquele último a n o u m a multidão invadiu a
residencía do fanático propagandista, que procurou n a
fuga a salvação e saiu imediatamente para Inglaterra.
O s artigos «Kalley>i e «Proselitismos Protestante* do
Elucidário Madeirense dão uma noticia dêsses suces-
sos, a que só sumariamente nos podemos referir nêste
lugar.

97-1840 -Januario Camacho- O decreto de


de 26 de Fevereiro de 1840 nomeou o madeirense
Januarío Vicente Camacho governador desta diocese,
sendo pelo Cabido eleito vigario capitular n o mês de
Março do mesmo ano. Como o seu antecessor Antonio
Alfredo, também n ã o deixou n a Madeira a s mais hon-
rosas tradições d a sua administração dioceeana.
Apresentado bispo de Castelo Branco, não foi
confirmado pela Sànta S é nem recebeu a' sagração
episcopal, a-pesar-de revestir a sua assinatura com a
rubrica de Dom Januario Vicente Camacho, Bispo
Eleito.

98-1844-D. José Xavier Cerveira e Sou-


sa-D. Francisco José Rodrigues de Andrade saíu
da Madeira e renunciou a mitra em 1834 e sòmente pas-
sado dez anos é que foi provido êste bispado com a
apresentação e nomeação de D. José Xavier de Cer-
veira e Sousa, que exercia o professorado n a Univer-
sidade de Coimbra. A 14 de Junho de 1843, 2 de
Junho e 8 de Julho de 1844 foi respectivamente con-
firmado, sagrado e entrou nesta diocese, que governou
durante quatro anos incompletos, tendo logo à sua
chegada que defrontar-se com a tremenda crise reli-
giosa que assolava esta ilha: o activo proselitismo
protestante exercido pelo fanático propagandista e
abalisado médico dr. Roberto Kalley, de que nos
ocupamos em outro lugar desta pequena resenha
historica. Trabalhou o prelado dedicadamente em
combater essa nociva propaganda, nias não encontrou
grandes auxiliares nos esforças que para isso ernpresou.
Foi transferido para a diocese de Beja n o ano de
1848 e depois para o bispado de Vizeu, que renunciou,
recolhendo-se à sua casa de Mogofores, ande morreu
a $5 de Março de 1862.
Foi o 22.' Bispo do Funchal.

99-1848 -Criação de freguesias - N a peque-


n a ermida da Verã-Cruz, que existia n a freguesia das
102 DIOCESE DO FUNCHAL

Achadas da Cruz, criou-se u m « curato P dependente


da colegiada da Calheta, que foi extinto em 1577.
Pelo alvará de 28 de Dezembro de 1676 fez-se a cria-
ção de u m curato n a paróquia do Pôrto do Moníz
com obrigação do respectivo serventuario residir n a s
Achadas d a Cruz. Passou a ser freguesia autónoma
a datar do alvará de 24 de Julho de 1848. A capela
de Nossa Senhora do Livramento, a actual igreja
paroquial, foi notavelmente melhorada e acrescentada
com o importante donativo que lhe legou o distinto
f i l h o d a freguesia Manuel de Pontes Câmara
-
( 1815 1882).
Como a anterior, também a paróquia de S ã o
Roque do Faial foi criada pelo alvará de 24 de Julho
de 1848, tendo sido estabelecido um curato n a fregue-
sia do Faial, por alvará de 11 de Fevereiro de 1746,
para prestar serviço em S ã o Roque, mas sem obriga-
ção de residencia. P o r 1551 Crístovão Pires construíu
ali uma pequena capela da invocação de S ã o Roque,
que serviu de igreja paroquial até o a n o de 1927, em
que o respectivo pároco Daniel Nicolau de Sousa fez
construír a actual igreja à custa da maior dedicação
e dos mais diligentes esforços.
Pela mesma data e pelo citado diploma de 1848,
deu-se a criação da freguesia Quinta Grande, onde
desde o a n o de 1820 existia a séde de u m acurato*
n a capela de Nossa Senhora dos Remédios, depen-
dente das paróquias de Câmara de Lôbos e do Cam-
panário, que n a sua área abrangia alguns sitios
povoados das referidas freguesias. A capela f o i cons-
truída n o a n o de 1601 e acrescentada e melhorada
passados três séculos, isto é n o a n o de 1901.
A i n d a outra freguesia se criou em 1848 e pelo
alvará de 24 de Julho d.este ano-a da Ribeira d a
Janela. Teve, porém, um curato criado n o a n o de 1773
com serviço religioso e residência mais ou menos per-
manente do serventuário, embora n a dependência do
pároco do Pôrto do Moniz. A primitiva ermida foi
edificada em 1699, acrescentada em 1754 e transfor-
mada em capela-mór, a que se acrescentou o corpo
principal n o ano de 1879 e que agora serve de igreja
paroquial. Orago: N. S. da Incarnação.
U m a quinta freguesia se constituíu pelo ano e
pelo decreto, que acima ficam citados: a do Jardim
do Mar. E todavia certo que desde 1734 e por decreto
to de 15 de Novembro dêsse ano foi criado u m
ucuratoa, mas cujo serventuário não tinha ali resi-
dência permanente, que sómente se tornou obrigatória
em 1836. A pequena capela de Nossa Senhora do
Rosário foi demolida e substituída n o ano de 1907
pela actual igreja paroquial, que representa u m autên-
tico milagre de esforço sobrehumano do pároco Cesar
Martinho Fernandes, como se pode ver n o Elucidá-
rio Madeirense.
Verdadeiramente como freguesia autónoma, data
do ano de i848 a criação d a de Santo António da Serra,
embora ali existisse u m a c u r a t o ~com capelão de resi-
dência desde o a n o de 1813, mas n a dependência dos
párocos das freguesias de S a n t a Cruz e de Machico.
E m 1836 foi constituída em séde de paróquia com a
anexação da freguesia da Água de Pena, a o ser esta
suprimida, mas sòmente em 1848 é que o Santo d a
Serra conieçou a gosar os previlégios de freguesia
independente. Desde os fins do século XVI existia ali
uma capela dedicada a Santo António, que foi
reconstruída em 1851 e à qual, transformada em cape-
la-mór, o consul americano fêz acrescentar o corpo da
igreja e construíu o amplo adro. N o ano de 1803 o
104 DIOCESE DO FUNCHAL

governador e capitão general José Manuel da Câma-


r a fêz deportar para o Santo da Serra o bispo dioce-
sano D. Luis Rodrigues de Vilares, que ali perma-
neceu cêrca de quatro meses, tendo o facto causado a
maior sensação em toda a Madeira e ainda n o conti-
nente português. (Vid. n.O 88)

100-1850- Igreja do Colégio - N o local em


que hoje se encontram a igreja de São Evangelís-
t a (Colégio) e o quartel de infantaria n." 19 cons-
truíram os jesuítas, pelos anos de 1578, u m a pequena
igreja e umas modestas casas, em que instalaram a s
suas residências e o colégio que lhes ficava anexo. A
edificação da actual e magestosa igreja e das diversas
dependências que constituíram o seu amplo Colégio
sòmente teria começado nos princípios do século XVII,
estendendo-se a definitiva conclusão das obras até aos
meados do mesmo século. Ê o mais vasto e belo
templo da diocese depois da S é Catedral, não só pela
s u a arquitectura e imponente frontaria como pelas
suas decorações interiores. Foi sempre u m centro da
mais acendrada piedade até o ano de 1759, em que se
deu a expulsão dos jesuítas, sendo então cerradas as
suas portas, que de novo se abriram com a instalação
do Seminário Diocesano realizada n o a n o de 1788.
Treze anos mais tarde ficou o templo interdito com a
chegada das tropas inglêsas de ocupação, que o trans-
formaram em igreja calvinista, e seguidamente se
encerraram a s suas portas por largo lapso de tempo.
A o benemério governador civil José Silvestre Ribeiro
se deve a sua restauração, empregando para isso os
mais diligentes e aturados esforços, sendo restituído
à s funções do culto católico por 1850. (Víd. n." 46).
101-1850-A-D. Manuel Martins Manso-
Desde 16 de Novembro de 1850 a 13 de Junho
de 1858, esteve à testa da diocese o bispo D. Manuel
Martins Manso, que foi respectivamente apresen-
tado, confirmado e sagrado a 18 de Abril de 1849,
28 de Maio e 8 de Outubro de 1850. Deixou n a
Madeira as mais honrosas tradições, sendo muito
sentida a sua transferência para o bispado da G u a r -
da no ano de 18%. O anotador das «Saudades» diz:
«culto e virtuoso o bispo Martins Manso foi o
Bom Pastor n a diocese do Funchal e da mesma
maneira n a da Guarda,. Foi o 23." Bispo do Fun-
chal e faleceu n a cidade da Guarda n a idade de
85 anos.

102 -1859 - D. Patrício Xavier de Moura -


Transferido da diocese de Cabo Verde, tomou posse
da do Funchal a 28 de Maio de 1859 e nela deu
entrada a 18 de Setembro do mesmo ano. N ã o teve
u m episcopado feliz, devido em parte a o facto de
manifestar as suas predilecções partidárias em desfa-
vor da política con-trária, de fazer nomeações eclesiás-
ticas que feriram os direitos de alguns pretendentes,
de supostas ou verdadeiras desconsiderações havidas
para com o Cabido etc., o que tudo lhe acarretou gra-
ves dissabores e não pecjuenas dificuldades n a sua
administração. N o entretanto, são inteiramente justas
estas palavras, que se encontram nas páginas do
« Elucidário Madeirense »: «D. Patrício Xavier de
Moura foi u m prelado zeloso não só pela integridade
dos pre.vi1égios e regalias da igreja e especialmente
pela observancia da disciplina canónica, mas ainda
pela propaganda da doutrina católica, pela austeri-
106 DIOCESE D O F U N C A A L

dade de vida do seu clero e pelo exacto cumpximento


das leis eclesiásticas ».
P o r 1870 D. Patrício de Moura pediu a nomea-
cão de u m coadjutor com futura sucessão, que recaíu
n o cónego e dr. Aires de Ornelas, e retirou-se d a
diocese, tendo falecido em Lisboa a 19 de Setembro
de 1872. Foi o 24." Bispo do Funchal.

103-1862 -Hospício da Princesa D. Maria


Amélia -A 4 de Fevereiro de 1853, faleceu n o F u n -
chal a princesa D. Maria Arnélia, filha da imperatriz
D. Amélia, viuva de D. Pedro IV. Êsse infausto
acontecimento levou a excelsa imperatriz a perpetuar
entre nós a saudosa memória da malograda princesa
com a obra grandiosa da fundação e sustentação de
u m hospital para tuberculosos, que recebeu os pri-
meiros doentes n o dia 4 de Fevereiro de 1862, entre-
gando a fundadora a direcção de todos os serviços de
enfermagem, de administração e religioso à s duas con-
gregações instituídas pelo grande patriarca d a carida-
de S. Vicente de Paulo-as Irmãs de Caridade e os
padres da Congregação da Missão. O s serviços pres-
tados pelo «Hospício da Princesa D. Maria A m é l i a ~ ,
nos seus setenta anos de existência, aos tuberculosos
pobres da nossa terra teem sido, sob todos os aspec-
tos, absolutamente modelares, sem a menor quebra do
mais acendrado zelo e da mais abnegada dedicação,
por parte de todo o pessoal que ali trabalha n o tra-
tamento dêsses doentes.
A s beneméritas Irmãs de Caridade não limitaram
a sua acção aos serviços hospitalares e criaram ali
u m a obra não menos profícua para as classes menos
favorecidas da Madeira- um orfanato, em que muitos
centenares de crianças teem encontrado o mais cari-
nhoso amparo corporal e a mais sã educação do espí-
rito, e ainda várias escolas de instrução primária onde
já passaram alguns milhares de alunos, que dificil-
mente encontrariam em outra parte os rudimentos
das primeiras letras. Também levantaram ali uma
vasta capela, onde se realizam todos os actos do culto
com a maior edificação e proveito dos fieis, desenvol-
vendo os capelães do estabelecimento hospitalar a
mais salutar e eficaz propaganda religiosa.
Como acima se disse, os primeiros doentes deram
entrada n o Hospício D. Amélia a 4 de Fevereiro
de 1862, mas poucos mêses depois o hospital fechou
a s suas portas, porque a s irmãs de caridade foram
despotica e arbitráriamente expulsas de todo o país, o
a u e n a Madeira foi motivo de sentida consternação.
Conservou-se encerrado o hospício durante nove anos
e reabriu n o mês de Novembro de 1871, sob a direc-
f i o das mesmas congregações religiosas com que tinha
iniciado os diversos serviços hospitalares.
Tem esta casa de caridade uma bela capeIa, para
uso privativo do seu pessoal e dos doentes ali inter-
nados, que tem a invocação de Nossa Senhora das
Dores, sendo a respectiva e primorosa imagem oferta
do infeliz Príncipe Maximiliano, depois imperador do
.
México e que ali foi barbaramente fuzilado n o ano
de 1867.

104-1869-Junta Governativa do Bispado-


P e l a s a í d a desta diocese do prelado D. Patrício
Xavier de Moura, foi 30ano de 1869 nomeada u m a
c< Junta Governatíva do Bispado», composta de três
eclesiásticos, que pela sua atitude discordante das leis
108 DIOCESE D O FUNCHAL

d a igreja e da prática das verdadeiras manifestações


de piedade mereceu não sòmente a censura do clero e
dos fieis, como também incorreu n o desagrado de todo
o episcopado português e ainda do representante da
S a n t a Sé. Tornou-se célebre e causou verdadeiro
escândalo a circular de 26 de Janeiro de 1870, em que
eram condenados diversos actos de religião n a mais -
inteira oposição com os ensinamentos da Igreja Cató-
lica e da doutrina dos seus teólogos e doutores. O
estranho caso foi censurado pela imprensa local e
particularmente pelo jornal lisbonense O Bem Publi-
co, em que o grande polemista católico Sousa Mon-
teiro ve'rberou energicamente o inaudito proceder da
referida «Junta Governativa ». Sôbre o assunto é
digno de Iêr-se o interessante opúsculo «Breves refle-
xões àcerca da circular de 26 de Janeiro de 1870 do
Presidente da Junta Governativa do Bispado do Fun-
chal aos párocos desta diocese», publicado em Lisboa
n o a n o de 1870, em que a antiga e genuína doutrina
d a Igreja é defendida com o maior aplauso e verda-
deiro conhecimento do assunto.

105--1871-D. A i r e s de O r n e l a s - D O S onze O U
doze madeirenses que cingiram a mitra, foi D. Aires
de Ornelas de Vasconcelos o único aue exerceu o
episcopado n a sua terra natal. PrÒposto pelo bispo
D. .Patrícia Xavier de Moura para seu coadjutor e
sucessor, foi confirmado a 6 de Março de 1871 e rece-
beu a sagração episcopal a 7 de Maio do mesmo ano,
havendo pouco dias depois assumido a direcção inte-
rina desta diocese, que sòmente se tornou efectiva a
27 de Outubro de 1872, após o falecimento daquele
prelado. Pouco rnais de três anos durou o seu episco-
pado, em clue sempre revelou o acendrado zêlo da s u a
f é e os altos primores do seu espírito e do seu cora-
ção, não sem ter arcado com graves dificuldades no
exercício do seu ministério. Foi verdadeiramente n a
fndia, como metropolíta da arquidiocese de Gôa, que
mostrou as suas eminentes qualidades de infatigável
apóstolo, contraindo a grave doença que o prostou n o
túmulo aos 43 anos de idade. Faleceu em Lisboa a
28 de Novembro de 1880, sendo os seus restos mor-
tais trasladados para a capela de Santo António da
nossa Sé Catedral, antigo jazigo da s u a família, n o
ano de 1903. Foi o 25." Bispo do Funchal.

106 -1873 ---«Saudades da Terra» - Como é


sabido, o padre Gaspar Frutuoso falecido em 1591 n a
ilha de São Miguel deixou inédita a vasta obra Sau-
dades da Terra, que se tornou afamada pelas valiosas
notícias e informações que encerra àcêrca dos arqui-
pélagos da Madeira, Açores, Cabo Verde e Canárias,
a-pesar-dos erros e deficiências, que nela se encon-
tram. O dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo tomou a
arrojada iniciativa da publicação do livro segundo
dessa obra, que se ocupa da Madeira, apondo-lhe u m
largo e inapreciável trabalho de crítica e de comentá-
rio, com o aditamento de u m a importante documenta-
ção, que tornou o livro de Frutuoso o mais copioso e
o mais autorizado estudo que existe sôbre a história
do nosso arquipélago. E dele fazemos aqui especial
menção, porque as anotações do dr. Alvaro de Aze-
vedo, nos forneceram muitos e preciosos elementos
para a elaboração desta «Sinopse Cronológica», que
não poderiam ser fàcilmente encontrados em outra
parte.
110 DIOCESE DO FUNCHAL

N ã o podemos aceitar sem reserva algumas das


considerações apresentadas pelo ilustre comentador
das Saudades da Terra, a o ocupar-se de assuntos que
mais de perto tocam à disciplina da igreja católica e
à s ordens religiosas, mas injustiça seria não prestar
esta ligeira homenágem à memória do ilustre investi-
gador, que nos úItimos anos da sua existência modi-
ficou profundamente a s suas opiniões àcêrca dos
assuntos a que aqui fazemos referência.
A s ccsaudades da Terra, foram publicadas n o
a n o de 1873 em u m volume de 900 e tantas páginas,
pertencendo 600 delas ao pecúlio dos docum~ntos,
notas e comentários d a proficiente lavra do dr. Alva-
ro de Azevedo. A 2." edição das ~ S a u d a d e s ~
p~, bli-
cada em 1925, não oferece um grande interesse, por
n ã o vir acompanhada das notas que enriquecem a
primeira edição.

107-1874-Associaqão C a t ó l i c a do F u n c h a l
- N o a n o de 1874 fundou-se n o Funchal uma asso-
ciação composta de indivíduos de diversas classes
sociais e destinada a defender e a propagar a doutri-
n a católica por meio da imprensa, conferências, prá-
tica dos actos religiosos, etc., que se instalou em casa
própria e fez sair o jornal A Verdade n o ano de 1875,
que se publicou durante alguns anos e era impresso
em oficina pertencendo à mesma associação. Foi u m
dos seus fundadores e principal colaborador do jornal
o dr. João Baptista de Freitas Leal, que durante mui-
tos anos e sempre com o maior zelo e desinteresse
lhes prestou os mais relevantes serviços.
O s estatutos desta associação receberam a apro-
vação do governador civil, por alvará de 10 de Agos-
to de 1874 e da autoridade eclesiástica por provisão
de 21 do mês e ano referidos.

108-1875 -- Imprensa Católica -Realizara-se


n o ano anterior a fundacão da Associação Católica
do Funchal e foi esta agremiação que promoveu a
publicação do primeiro jornal católico, o semanário
intitulado A Verdade, havendo saído a 23 de Janeiro
de 1875 e que logrou ter mais de vinte anos de exis-
tência. Foi seu principal redactor o dr. João Baptista
de Freitas Leal, que activa e desinteressadamente se
dedicou à sua publicação, como o havia feito com
respeito à fundação e vida social e religiosa da Asso-
ciação Católica do Funchal.
P a r a as acanhadas condiç8es do meio, não foram
poucas nem de somenos importância a s publicações
periódicas que teem aparecido n o Funchal e das quais
damos uma brevíssima notícia por ordem cronológica:
1885-«Domingo Católico », publicação quinzenal,
saindo o Primeiro número em Fevereiro de 1885 e o
último em Dezembro de 1899;
1894-«Boletim Mensal d a O b r a Diocesana de
São Francisco de S a I e s ~ ,mensal, de 1894 a 1897;
1897-c<Correio do Funchal*, diário, de 1997 a 1899;
1901-«Quinzena Religiosa » quinzenal, de Janei-
ro de 1901 a Setembro de 1910, reaparecendo em
Fevereiro de 1911 e suspendendo a publicação em
Janeiro de 1912;
1906-«O Jornal», de 1906 a 1910;
1912-«Boletim Eclesiástico da Madeira », men-
sal, de 1912 a 1919;
1912-«Boletim Eclesiástico da Madeirar>, men-
sal, de 1912 a 1919;
112 D I O C E S E D O FUNCHAL

1914-«Paróquia de Santo António do F u n c h a l ~ ,


quinzenal, de Março de 1914 a Janeiro de 1916;
1919-« A Esperança», quinzenal e mensal, de
1919 a 1938;
1921-«Vida Diocesanas, quinzenal e mensal,
de 1921 a 1930, com várias interrup~ões;
1921-«Correio da Madeira », diário e depois
semanal, pubIicando-se durante alguns anos;
1932-« 0 Jornal », que começou a publicar-se n o
ano de 1927, mas que sómente em 1932 tomou uma
feição acentuadamente católica, iniciando-se então a
«Série II» da sua publicação.
N o ano de 1906 estabeleceu-se a « O b r a da Boa
Imprensa'», destinada a auxiliar a s publicações de
caracter católico desta diocese, que recebeu a aprova-
ção da autoridade eclesiástica por provisão de 6 de
Dezembro do ano referido, não tlogrando ter uma
longa duração.

109-1875 -A- Conferências de São Vicente


de Paulo- E s t a bela instituição desempenha o mais
completo exercício da caridade cristã, porque alia à
distribuição do pão material salutares ensinamentos
das verdades religiosas, procurando sempre conciliar o
relativo bem-estar do corpo com a prática necessária
e eficaz dos preceitos evangélicos. A 17 de Janeiro
de 1875, devido à acção de alguns católicos e sob a
direcção do dr. João Baptista de Freitas Leal, fundou-
-se n o Funchal a primeira Conferência de São Vicen-
te de Paulo, qae se instalou n a freguesia de S. Pedro,
em umas dependências da casa da Associação Católi-
ca, que h á pouco se tinha fundado nesta cidade. N ã o
foi próspera a vida desta primeira Conferência e só
passados alguns anos é que a sua acção tomou maior
desenvolvimento e se desdobrou n a criação de outras
a Conferências similares.
Foi, porém, nos últimos dez anos que essa bela
instituição de caridade alargou benèficamente por toda
a diocese os seüs inapreciáveis benefícios, devido
sobretudo ao incessante trabalho e à criteriosa orien-
tação do dr. Romano de Santa Clara Gomes, presi-
dente do Conselho Central das «Conferências», que
promoveu a instalação de muitas delas, para o que
tem percorrido várias vezes a s mais distanciadas fre-
guesias, fazendo uma tenaz propaganda, com a sua
eloquente e persuasiva palavra, dos serviços de ordem
temporal, moral, religiosa e social, que prestam essas
instituições.

110-1876 -Damas de Caridade -Com séde


n o aHospício da Princesa D o n a Maria Amélian,
estabeleceu-se n o ano de 1876 a Associação das
Damas de Caridade, que, destinando-se a fins idênti-
cos aos das Conferências de S ã o Vicente de Paulo,
tem levado a esmola material ao seio de inúmeras
famílías, o conforto da religião a tantos transviados
do caminho do dever, realisado a revalidação de
uniões ilícitas, promovido a administração de baptis-
mos e de outras práticas religiosas e chamado a o
seio da Igreja muitas pessoas que dela andavam
afastadas.
A esta benemérita Associação, que continúa n o
incansavel trabalho de bem fazer, teem pertencido e
pertencem ainda algumas das mais distintas senhoras
d a sociedade funchalense.
114 DIOCESE DO FUNCHAL

111-1877 -D. Manuel Agostinho Barreto -


E n t r e a longa e distinta pleiade de que ocu-
param o sólio episcopal do Funchal, figura em logãr
proeminente o nome de D. Manuel Agostinho Barre-
to. Foi apresentado pelo govêrno Iportuguês a 8 de
Junho de 1876, confirmado pela S a n t a S é a 29 de
Setembro do mesmo ano, sagrado a 4 de Fevereiro
de 1877 e deu entrada nesta diocese a 22 dos últimos
mês e ano referidos. Possuía em alto grau os inve-
javeis dotes de u m verdadeiro apóstolo, aliados às
mais austeras e intransigentes qualidades de curacter,
que se completavam com a prática fervorosa de
todas as virtudes cristãs, tornando-se o mais perfeito
e acabado modêlo de homem, de cidadão e de sacer-
dote nos diversos aspectos da sua vida e par-
ticular A sobredourar esses raros e inaprecíaveis
méritos, eram de apontar a s u a vasta cultura intelec-
tual, a s u a dominadora e persuasiva eloquencia, a
parca modéstia do seu viver, o maior despreendimen-
to dos bens terrenos, o apurado tacto governativo, o
amor constante a o trabalho e o seu espírito eminen-
temente reformador, que dão uma ideia aproximada
das privilegiadas qualidades com que a Divina Provi-
dência tão largamente o dotara. Depois de 34 anos
do mais solícito e frutuoso episcopado faleceu nesta
cidade a 26 de Junho de 1911, achando-se os seus
restos mortais sepultados n o adro da pequena capela
d a P e n h a de França. E m outros números dêste ligei-
ro estudo teremos que nos referir a alguns dos actos
mais salientes d a s u a administração episcopal. Foi o
26.' Bispo do Funchal.

112-1877-A-Seminário Diocesano- E m u m a
notícia muito sumária (n." 45-1566) fez-se menção
dos diversos edifícios ocupados pelo Seminário Dioce-
sano n s sua já longa existência de trezentos e tantos
anos. A importância do assunto leva-nos a dedicar-
-lhe neste lugar u m mais largo desenvolvimento,
embora talvez em manifesta desproporção com outras
matérias tratadas nesta Sinopse.
Como já ficou dito foi o prelado D. Jerónimo
Barreto, que n o período decorrido de 1575 a 1585 pro-
cedeu à instalação do Seminário Diocesano nas ime-
diações da residência episcopal e ao qual consagrou
sempre o mais desvelado interesse. N a d a se sabe com
respeito ao seu funcionamento interno e ao quadro
dos seus estudos, presumindo-se que os alunos fre-
quentavam os cursos de humanidades e de teologia,
que os jesuítas mantinham n o seu Colégio.
A D. Jerónimo Barreto sucedeu o distinto prela-
do D. Luís Figueiredo de Lemos (1586-1606), que fez
a mudança do Seminário para umas dependências do
novo paço à rua do Bispo, de que ainda existem a
capela de S ã o Luís e os restos de u m antigo claustro.
Essa mudança deve ter-se realisado nos primeiros
anos do século XVII, tendo também êste prelado
olhado com o maior zelo pelos progressos espirituais
e materíais do novo instituto.
A l i permaneceu cêrca de cem anos e nos princí-
pios do século XVIII passou o seminário a instalar-
-se em mais favoraveis condições, numas casas desti-
nadas a u m pequeno convento, fundado em 1626, pelo
cónego Manuel Afonso Rocha, n a r u a que ficou
conhecida nome de Mosteiro Novo, realizando
esta mudança o prelado D. José de Sousa Castelo
Branco (1678-1721), que procedeu à conveniente adap-
tação do edifício para o seu novo destino e fez elabo-
116 DIOCESE DO FUNCHAL

rar u m regulamento interno para a melhoria de todos


os serviços.
D. Fr. João do Nascimento (1741-1753) foi u m
dos prelados que mais relevantes serviços prestou a o
Seminário Diocesano, não sòmente alcançando u m
importante acrescentamento à dotação a n u a l concedi-
da pelo Estado, mas sobretudo operando uma notavel
reforma em todo o funcionamento dessa casa de edu-
cação eclesiástica e estabelecendo uma mais rigorosa
selecção n a admissão dos alunos, além das alterações
que introduziu nos diversos cursos que ali se profes-
savam e que eram então de três anos de humanidades
e três de filosofia e teologia.
Encontrava-se esse estabelecimento n u m relativo
estado de prosperidade e satisfazendo regularmente o
seu fim, quando o violento terremoto de 31 de Março
de 1748 deixou o edificio em tão adiantado estado de
ruína, que obrigou o seu encerramento, e por tal
motivo andaram os estudantes durante dôze anos à
mercê da sorte e por diversos lugares, como o velho
ermitério dos fransciscanos em São João da Ribeira e
ainda outros, voltando as casas da rua do Mosteiro
Novo, n o ano de 1760, a serem restituídas ao seu
primitivo serviço, depois de largamente reparadas.
Inapreciaveis serviços ficou o seminário a dever
ao prelado D. José de Castro Torre (17871796) e por
isso ainda hoje o seu retrato se conserva n u m a das
principais salas do edificio. Antes de vir tomar posse
do seu bispado, conseguiu a cedência do Colégio e
igreja de São João Evangelista para a instalação do
Seminário, pela carta régia de 13 de Agôsto dé 1787,
realizando-se a sua abertura solene a 13 de Março do
a n o seguinte. Pela esmerada escolha do pessoal direc-
tor, pelo novo regulamento e melhores condições da
sua existência, elevou o instituto a u m a altura a que
êle nunca tinha chegado, sendo por isso que algures
se lê, embora erradamente, que êle fora o seu fun-
dador. (Vid. n." 86)
Quando n o ano de 1801 se deu a ocupação da
Madeira por tropas inglêsas, o governador D. José
Manuel d a Câmara impôs a o prelado diocesano
D. Luís Rodrigues de Vilares e a-pesar dos enérgicos
protestos dêste, a imediata remoção do Seminário do
Colégio dos Jesuítas para outro local, o que sem
demora se verificou com a instalação provisória dos
serviços daquela casa de educação nas arrrinadas
dependências do velho Pato Episcopal, transforman-
do-se o Colégio em quartel e a igreja em templo do
culto protestante. Passada uma dezena de anos ou
pouco mais, voltou o Seminário a instalar-se nas
casas da rua do Mosteiro Novo.
Pouco se conhece àcêrca da vida interna do Semi-
nário n o período que vai da sua saída do Colégio até
o fim do primeiro quartel do século XIX, sabendo-se
n o entretanto que o prelado D. Luís Rodrigues de
Velares e o vigário capitular D. Joaquim de Meneses
e Ataíde introduziram alterações n o regime discipli-
n a r e n o quadro dos estudos. Quando em 1835 se
criou O liceu do Funchal, passaram os seminaristas a
cursar obrigatóriamente a s aulas secundárias que ali
funcionavam, como preparatórios indispensaveis para
a matrícula nas disciplinas teológicas.
N o ano de 1861 começou a funcionar u m curso
regular de teologia de dois anos, que em 1874 passou
a ser de três e que perdurou até o ano de 1924.
Temos subordinado estas linhas à data de 1877,
porque foi verdadeiramente neste ano que o Seminá-
rio Diocesano começou a passar pela mais completa e
118 DIOCESE D O FUNCHAL

radical transformação, que nele se operou em toda a


sua já longa existência de quási quatro séculos. A
reforma dêsse instituto de formação eclesiástica cons-
t i t u í ~ a mais assediante preocupação do prelado
D. Manuel Agostinho Barreto. Chegado à s u a dioce-
se em fins de Fevereiro daquele a n o e logo nos pri-
meiros dias do mês de Outubro seguinte abria o
Seminário, conservando apenas do antigo funciona-
mento o curso trienal de teologia. Operara-se, como
por encanto, esta notavel remodelação: a criação de
u m curso completo de preparatórios, a mais rigorosa
disciplina em todos os serviços internos da casa, ini-
ciara-se a prática da mais fervorosa piedade religiosa
com a frequencia dos sacramentos e de outros actos
do culto, ministrava-se a mais eficaz e salutar instru-
ção religiosa independente da que era professada n o
curso teológico e exercia-se a mais escrupulosa admi-
nistração nos diversos actos e negócios de caracter
meramente temporal. D. Manuel Barreto encontrara
n o padre Ernesto Schmitz, capelão do Hospício d a
Princesa D. Maria Amélia, o mais valioso e dedica-
do auxiliar, parecendo que a D i v i n a Providência
expressamente lhe enviara esse sábio e austero sacer-
dote, para que podesse realizar com o maior fruto e
aproveitamento a obra que empreendera. E m breve
se fizeram sentir os resultados dessa profunda e salu-
t a r reforma, em todas a s manifestações da actividade
religiosa desta diocese.
A obra tão auspiciosamente iniciada não podia
satisfazer a s inteiras aspirações do ilustre prelado
pela lamentavel falta de u m mais vasto e apropriado
edificio, em que os múltiplos serviços de uma casa de
instrução e educação religiosa, a rigorosa observância
das melhores condições higiénicas e u m relativo bem
estar dos seus moradores, se pudessem inteiramente
manter, embora dentro dos apertados limites, que a s
circunstâncias ocorrentes poderiam permitir.
Aprouve a Deus que essa ideia fôsse dentro de
pouco tempo uma bela realidade, fazendo o prelado
levantar u m grandioso edificio, em que dispendeu
com a mais despreendida abnegação u m legado que
lhe fora feito e ainda todos os parcos haveres de que
podia dispor. Fôra para esse fim aproveitado o local
do velho edificio do convento de Nossa Senhora da
Incarnação, que pela sua situação e larga cêrca ofere-
cia a s condições exigidas para a construção projecta-
da. Lançada a primeira pedra no mês de Novembro
de 1906 e achando-se concluída metade do grandioso
edificio, para êle se fêz a transferência d~ Seminário
nos princípios do mês de Outubro do a n o de 1909,
onde apenas permaneceu até meados do mês de Ágôs-
to de 1912.
A chamada lei da separação, de 20 de Abril
de 1911, extinguira o Seminário do Funchal, passan-
do o edificio para a posse do Estado, que o cedeu à
Junta Geral do distrito, para nele se instalar u m a
escola destinada a raparigas, e que a mesma Junta
Geral adquiriu por compra para o funcionamento das
suas diversas repartições n o a n o de 1919.
Embora o decreto de 25 de Abril de 1927 consi-
derasse ilegal a cessão feita à Junta Geral e houvesse
restituído a esta diocese o edificio da Incarnação,
sòmente passados seis anos e após uma porfiosa luta
é que n o mês de Outubro de 1933 o Seminário Dio-
cesano começou novamente a funcionar n a s casas que
para esse fim mandou construir o prelado D. Manuel
Agostinho Barreto.
120 DIOCESE D O FUNCHAL

113 -1877- B - lnterdicto no Cemiterio -- P o r


provisão de 16 de Março dêste ano, o prelado dioce-
sano D. Manuel Agostinho Barxeto lançou o inter-
dicto n o Cemiterio das Angústias. T i n h a sido negada
sepultura eclesiástica a u m indivíduo que se suícidara
n o dia quatro do referido mês, ordenando, porém, a
Câmara Municipal que o seu cadaver fosse inumado
n o recinto destinado aos católicos, levando o prelado,
n o cumprimento das leis canónicas, a lançar esse
interdicto, o que causou a maior sensação n o nosso
meio. N o domingo imediato e poucos dias depois de
haver chegado a esta cidade, subiu D. Manuel Barre-
to a o púlpito d a Sé Catedral e ocupou-se largamente
do assunto com grande desassombro e uma arrebata-
dora eloquencia, produzindo n o auditório a mais
extraordinária admiração. U m jornal do Funchal tra-
tou d a questão com muita acrimonia e violência,
sendo as suas afirmações refutadas n o interessante
opúsculo « A Sepultura Eclesiástica e os S u í c i d a s ~
publicado n o Pôrto e escrito pelo advogado Dr. Cas-
siano Neves.
O Cemitério das Angústias havia sido benzido a
8 de Julho de 1838 e a respectiva capela a 15 de
Dezembro de 1844. O s últimos enterramentos realiza-
dos neste cemitêrio foram a 24 de Abril de Abril
de 1942.

114-1884-Congregagão de N. S. das Vitó-


rias -M a r y Jane Wílson, de nacionalidade inglêsa,
que fixara residência n a Madeira por 1880, fundou
uma congregação religiosa diocesana n o ano de 1884,
a que deu o nome de Irmãs Franciscanas de Nossa
Senhora dás Vitórias. Esta congregação, que particu-
larmente se destina aos trabalhos hospitalares e da
instrucão primária à s crianças pobres, tem prestado
entre nós os mais relevantes serviços, que todos sem
excepção reconhecem, e sempre com o maior zêlo e a
maior dedicação, não sendo hoje possivel dispensar-
-se a sua benéfica acção n a direcção dos estabeleci-
mêntos de assistência que lhes estão confiados.
Mary Jane Wilson nasceu n a Índia Inglêsa a
3 de Outubro de 1840 e faleceu n a Madeira a 18 de
Outubro de 1916, tendo-se realizado a trasladação dos
seiis restos mortais para a capela da casa central
daquela Congregação a 15 de Abril de 1939. (Vid.
atElucidário Madeirensem I1-565).

115-1888 - J u n t a s de P a r ó q u i a - E m toda a
história dêste arquipélago, não se encontra u m perío-
do de tão graves perturbações da ordem pública como
o que decorreu em alguns meses dos anos de 1887
e 1888. O Código Administrativo de 1886 concedia a s
Juntas de Paróquia mais amplas faculdades de admi-
nistração local, e logo neste distrito uma mesquinha
política de «campanário » fizera propalar que essas cor-
porações se iam estabelecer entre nós com o fim de
lançar novas contribuições e impostos. Foi um incên-
dio que lavrou por toda a parte e que em várias
freguesias revestiu o aspecto de sangrenta tragédia,
em que u m consideravel número de pessoas sofreram
os maiores vêxames e maus tratos, ferimentos mais
o u menos graves e até algumas perderam a vida. A
força armada teve várias vezes que intervir e não
poucos indivíduos caíram varados pelas balas. Espa-
lhara-se malèvolamente que em diversas freguesias a s
Juntas de Freguesia realizavam a s suas sessões n a s
i6
122 DIOCFSE DO FUNCYAL

igrejas e nas residências dos párocos, vendo-se alguns


dêstes n a dura contingência de abandonar temporá-
riamente a s suas paróquias, não sem passarem por
grandes de~considera~õese aviltantes ultrajes. Êste
movimento revoltoso ficou conhecido pelo nome de
Parreca, que era u m a corrutela da palavra Paróquia.

116--1898-Obra de São Francisco de Sales


- P o r Provisão Episcopal de 27 de Julho de 1893 foi
aprovada a « O b r a de São Francisco de Salesn, que
se organizara n o ano anterior e que particularmente
se destinava à criação e sustentação de escolas, em
que a par da instrução primária se ministrasse o
ensino religioso, combatendo-se assim a errónea dou-
trina protestante, que se estava activamente fazen-
do em algumas escolas e fóra delas. U m ano depois
d a organização dessa bela obra diocesana já funcio-
navam nove escolas com cêrca de 500 alunos. Foi
progressivamente crescendo e chegou a atingir u m
notável desenvolvimento, estabelecendo-se n a maioria
das paróquias e mantendo o funcionamento de algu-
mas dezenas de escolas. Prestou relevantes serviços a
essa meritória obra o padre Xavier Prevot, da Con-
gregação da Missão e professor do Seminário, que
durante alguns anos dirigiu a publicação do aBoletím
Mensal Diocesano da O b r a Católica de S ã o Francis-
co de S ~ l e s » ,que foi muito apreciado n o nosso meio.
N ã o teve larga duração essa relativa prosperidade e
em breve veiu a cair em uma acentuada decadencia.
O prelado D. Manuel Agostinho Barreto prote-
geu desveladamente essa obra, sendo ocasião de lem-
brar que êle criara e sustentara algumas escolas e que
até em uma das dependências do paço episcopal ins-
talou um curso diurno e outro noturno de instrução
primária, que tiveram larga frequencia.

117-1895-Pão de S a n t o A n t ó n i o - A obra
do uPão de Santo Antónion, h á muito florescente em
alguns países estrangeiros, era desconhecída n a Madei-
ra, tendo-se estabelecido n a freguesia suburbana do
Funchal que conserva o nome do grande taumaturgo
português, n o ano de 1895, por ocasião das festas
centenárias e devido à iniciativa do padre Teodoro
João Henriques. Também se estabeleceu em outras
paróquias, mas cremos que a sua existéncia não per-
durou por largo tempo.
I? ocasião de recordar que naquela freguesia se
celebraram com o maior brilhantismo e por dias
sucessivos as festas comemorativas daquele centenário,
promovidas pelo referido sacerdote e que ali atraí-
ram milhares de pessoas vindas de toda a ilha.

118-1896 - Irmãs Franciscanas Missionárias


O decreto de 12 de Março de 1896 cedeu à Asso-
ciação Auxiliar das Missões Ultramarinas o velho
convento de Santa Clara, para ali se instalar a comu-
nidade religiosa das «Irmãs Franciscanas Missioná-
rias de Maria» com o fim especial de promover a
formação do pessoal feminino destinado ao serviço
das missões ultramarinas espalhadas em diversos pon-
tos das colónias portuguesas. Estabeleceram também
nas dependências do mosteiro u m colégio, que se tornou
muito frequentado. E m 1901 tomaram a direcção dos
serviços hospitalares da Misericórdia do Funchal, onde
permaneceram poucos meses, em virtude da atitude
124 DIOCESE DO FUNCHAL

violenta assumida pela respectiva comissão adminis-


trativa. O s acontecimentos políticos do ano de 1910
obrigaram as Irmãs Franciscanas Missionárias a sair
da Madeira, mas o decreto de 25 de Janeiro de 1927
tornou a ceder os restos do velho convento a essa
comunidade, que zelosamente continua a manter os
serviços de que anteriormente estava encarregada,
além de sustentar a bela e utilíssima obra de u m a
«creche», em que centenares de crianças pobres rece-
bem diáriamente alimento do corpo a par dos princí-
pios elementares da instrução literária.

119-1900- lrmãsinhas dos Pobres-No ano


de 1900 fundaram a s beneméritas religiosas das Irmã-
sinhas dos Pobres u m asilo destinado a albergar
pobres velhos e inválidos, para o que muito contri-
buiram o prelado D. Manuel Barreto e o padre
António José Macedo, tornando-se desde logo conhe-
cido e elogiado o excelente serviço que essas religiosas
estavam prestando entre nós. Estabeleceram o Asilo
dos Velhinhos em u m prédio à Calçada do Socorro,
que em breve se tornou de acanhadas acomodações,
passando a instalar-se n a casa onde agora funciona
a Escola Industrial António Augusto de Aguiar.
Com o decreto d a expulsão das ordens religiosas,
foi encerrado esse Asilo em 1911, que então alberga-
va cêrca de oitenta pobres, saindo a s religiosas para
França n o mês de Abril do ano referido.
A Junta Geral tomou o encargo de manter a
existência dêsse asilo, que n o ano de 1937 foi trans-
ferido para umas casas n a Calçada de Santa Clara,
estando a ordem franciscana de Nossa Senhora das
Vitórias n a direcção dessa casa de caridade.
-
120 -1906 - Capela Monumento - AS come-
morações festivas que se celebraram em todo o orbe
católico por ocasião do quinquagéssimo aniversário
da definição do dogma da Imaculada Conceição tive-
r a m repercussão n a Madejra e revestiram uma desusa-
da imponência nas diversas manifestações do culto
que por essa ocasião se realizaram. O assinalado fac-
to, que então se festejara e a maneira aparatosa como
ele foi solenizado entre nós, despertaram a ideia da
construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora
d a Conceição, que ficasse perpetuando essas comemo-
rações e fosse também uma manifestação de ardente fé
católica dos madeirenses por aquela verdade da nossa
religião. O pequeno templo, levantado n o sítio das Ba-
bosas da freguesia do Monte, foi desde logo conhecido
pelo apropriado nome de Capela- Monumento, que ain-
da conserva, havendo-se feito a sua solene inauguração
n o a n o de 1906. A edificação desta capela deve-se prin-
cipalmente ao comendador Luís de Betencourt Miranda,
chefe da secretaria da Câmara Municipal do Funchal.

121-1911 -Morte de D. Manuel Barreto -- A


26 de Junho de 1911 faleceu n a residencía da P e n h a
de França o eminente prelado desta diocese D. Manuel
Agostinho Barreto. Havia dois anos que tinha reali-
sado inteiramente a mais assediante aspiração de
todo o seu apostólico episcopado -a construção de
um amplo e apropriado edifício para a instalação do
seu seminário-quando a chamada lei da separação
de 20 de Abril de 1911 o veiu ferir profundamente
com a extinção daquela casa de ensino religioso e
com a s outras medidas violentas que logo começaram
a ser postas em execução.
126 DIOCESE DO FUNCHAL

Embora possuisse u m ânimo forte e resoluto,


sempre abroquelado para os grandes combates com
u m a ardente fé religiosa e com a paz de uma cons-
ciência imaculada, é certo, porém, que a s lutas passa-
das, os trabalhos aturados do seu apostolado e os
setenta e seis anos de u m a provecta idade abalaram
profundamente o seu espírito e alquebraram ainda
mais a s forças do seu já depauperado organismo.
Passados dois amargurados mêses, rendeu a alma a o
Creador n a sua tão modesta e querida residência d a
P e n h a de França. Foi uma tremenda provação, que
ele soubera suportar com a mais conformada resigna-
ção cristã, oferecendo-a à Divina Providência como
holocausto propiciatário em resgate das proprias fal-
tas e também pelas prosperidades dos seus queridos
diocesanos, que ele deixara em triste e desamparada
orfandade.
Dispondo que os seus restos mortais fossem inu-
mados n o adro d a pequena capela da Penha, fez-se
para ali a respectiva trasladação a 26 de Junho
de 1923, volvidos doze anos após o dia do seu fale-
cimento.
N a s adatasm 1877 e seguintes fazemos referência
a alguns actos do seu episcopado.

122-1913-Juventude Católica - N o dia 7 de


Setembro dêste ano inaugurou-se solenemente a asso-
ciação de jovens, que teve o nome de aJuventude
Católica» e que durante alguns anos se evidenciou
n o nosso meio pelas sessões de estudo e de propagan-
da que promoveu entre os rapazes, constituindo u m
frutuoso elemento em favor dos salutares princípios
defendidos pela Igreja Católica.
Entre outras iniciativas sobresai a da vinda a o
Funchal de alguns ilustres oradores promovida por
essa agremiação, que pronunciaram eloquentes e eru-
ditas conferências, produzindo n o nosso meio a s mais
salutares e perduraveis impressees. N o ano de 1924
discursaram n o Teatro Municipal o dr. Manuel Gon-
çalves Cerejeira, actual cardial-patriarca de Lisboa, o
distinto advogado dr. António Lino N e t o e o grande
jornalista J. Fernando de Sousa (Nemo). N o ano
de 1925 o dr. António de Oliveira Salazar, actual
chefe do govêrno, e o dr. Mario de Figueirêdo, pro-
nunciaram algumas conferências em uma das depen-
dências do Paço Episcopal, sendo muito apreciadas e
aplaudidas.

123 -1908 - P.' Ernesto Schmitz -Êste ilustre


sacerdote deixou o seu nome estreitamente ligado à
história eclesiástica dêste arquipélago pelos relevantes
serviços que prestou como director do Seminário Dio-
cesano, a que já atraz fizemos ligeira referência,
como capelão do Hospício da Princesa D. Maria
Amélia, da capela da P e n h a de França, e da Igreja
do Colégio, como prègador evangélico em muitas fre-
guesias da ilha e como o mais prestimoso cooperador
de todas as iniciativas e obras de caracter religioso,
que n o seu tempo se desenvolveram entre nós. O
seu acendrado zelo e a s suas eminentes virtudes, uma
vasta e profunda cultura, o amor pela ciência, o pro-
fundo conhecimento das línguas e ainda o prestígio
pessoal de que gosava, tudo era incondicional e desin-
teressadamente posto ao serviço da causa sacrosanta
a que dedicara toda a sua activa e frutuosa existên-
cia. Viveu n a Madeira cêrca de 25 anos, saindo
128 DIOCESE D O FUNCHAL

em 1908 e morrendo em Haifa, n a Ásia Menor, a


3 de Dezembro de 1922.

124-1912 -Doutrina Cristã - P o r provisão da


autoridade eclesiástica de 24 de Julho de 1912 foi
estabelecida nesta diocese a «Confraria da Doutrina
Cristã», especialmente destinada a fomentar e a auxi-
liar o ensino dos principais rudimentos d a doutrina
cristã nas igrejas e capelas e a promover a criação
de centros de catequese nos sítios das paróquias em
que se tornasse necessário fazê-lo. O s respectivos
estatutos foram publicados n o «Boletim Eclesiástico»
de i de Agosto do a n o referido.

125 -1915 - D. António Manuel Pereira Ribei-


ro-É actual e vigéssimo sétimo bispo do Funchal o
excelentíssimo e reverendíssimo senhor D o m António
Manuel Pereira Ribeiro, que n a qualidade de prelado
se encontra n a direcção dos servicos eclesiásticos des-
t a Diocese desde o a n o de 1915, havendo sido eleito
Vigário Capitular e Governador do Bispado pela
morte do seu antecessor, ocorrida a 26 de J u n h o
de 1911. Nomeado pela S a n t a Sé a 2 de Outubro
de 1914, recebeu a sagração episcopal n a cidade de
Viana do Castelo a 7 de Fevereiro de 1915 e tomou
posse do seu elevado cargo, por procuração, a 18 do
mês e ano referido. Chegou à Madeira a 7 de Março
do mesmo a n o e n o dia 14 realizou a sua entrada n a
S é Catedral. Nasceu em 1879, formou-se n a faculda-
de !de teologia da universidade de Coimbra n o ano
de 1900 e foi nomeado cónego da S é do Funchal em
o a n o de 1905.
Sé Catedral do Funchal
Datas mais memoráveis

1 4 8 5 - P o r Carta de 5 de Junho deste ano, fêz o


duque de Beja D. Manuel, como grão-mestre da
Ordem de Cristo, cedência do terreno necessário, n o
Campo do Duque, para a edificàção da «Igreja
Grande P.
1488-0 alvará-régio de 21 de Outubro autorisou
a arrecadação de u m imposto, sob o nome de apenas*,
destinado à nova construção.
1493-Data conjectura1 do início das respectivas
obras, que tiveram u m a larga duração.
1493- 1521-Dentro dêste período de tempo
expediu D. Manuel, como grão-mestre da Ordem de
Cristo e depois como monarca, vários diplomas,
criando receitas e concedendo diversas aisenções» a
favor da futura Catedral, sendo a êle que principal-
mente se deve a s u a construção.
1508-0 bispo titular D. João Lobo procedeu à
benção do novo templo, ainda em atrazada constru-
ção, e para êle se fêz a transferência d a séde da paró-
quia, que então era n a igreja de Nossa Senhora do
Calhau.
1516-No a n o de 1514, com a criacão da diocese,
foi a «Igreja G r a n d e « transformada em S é Episco-
pal, sendo benzida pelo bispo titular de D u m e
D. Duarte a 18 de Outubro de 1516.
1518-1521 -A oferta da conhecida e preciosa
130 DIOCESE DO FUNCHAL

cruz, feita pelo rei D. Manuel, que é uma maravilha


da ourivesaria portuguesa do século XVI, deve fixar-
se aproximabamente por esta época.
1533-E criado o arcebispado do Funchal, com
quatro bispados sufraganeos, sendo a nossa Catedral
elevada à categoria de S é - A r q u i e p i s ~ o ~ a havendo
l, o
arcebispado sido extinto n o a n o de 1551.
1566-Com o terrível saque dos huguenotes
franceses sofreu a S é Catedral muitos ultrajes e pro-
fanações e foi também objecto de sérias danificações
em diversas obras de arte.
1578-Realizou-se neste templo com notável
brilho o primeiro sínodo diocesano, em que foram
p r o m u l g a d a s u m a s « Constituições Diocesanas n,
publicadas n o a n o de 1585 em u m volume de
XVI-188 páginas e que hoje constituem uma grande
raridade bibliográfica.
1608-Morre o prelado D. Luís Figueiredo de
Lemos e foi sepultado n a S é Catedral, tendo também
a l i a sua última jazida os bispos D. Gabriel de
Álmeida falecido n o ano de 1674, D. Fr. António
Teles da Silva (1682), D. Fr. João do Nascimen-
t o (1753), D. G a s p a r Afonso d a Costa Bran-
dão (1784), D. Luís Rodrigues de Vilares (1810) e
D. Aires de Ornelas de Vasconcelos (1880).
1630-Aproximadamente por esta época come-
çaram a s obras da conclusão da capela-mor com o
seu belo apainelamento e interessante cadeirado.
1730-1740 -Neste decenio se procedeu à cons-
trução da sacristia-mór e d a casa capitular e suas
dependências.
1748-0 terremoto ocorrido neste a n o causou
bastantes estragos n o edifício da Sé, especialmente n a
s u a torre e frontaria.
SINOPSE C R O N O L ~ G I C A 131

1755 - E m torno desta época se procedeu à intei-


r a reedificação da capela do Santíssimo Sacramento,
tendo a antí8a sido demolida.
1775 -E colocado u m relógio n a torre da S é
Catedral, aue em 1922 foi substituído por outro ofe-
recido por u m subdito estrangeiro, tendo a colecção
de sinos ali existente sido adquírida n o ano de 1812.
1805-É sepultado nesta igreja, em lùgar que se
ignora, o ilustre pintor português Francisco Vieira,
conhecido por «Vieira Portuense ».
1940-É, inaugurado o «Museu Diocesano de
Arte Sacra#, que ficou instalado nas salas d a Casa
Capitular.
Estes dados cronológicos foram extratados do
opúsculo intítulado A Sé Catedral do Funchal.
(Vid. os n."-6, 29 e 30).

Bispos do Funchal

O primeiro bispo do Funchal foi D. Diogo


Pinheiro, desde 1514, ano da criação da Diocese,
até 1526, ano do falecimento dêste prelado, que não
chegou a visitar o seu bispado (Vid. os n.'-5 e 30
desta Sinopse).
2.0 Bispo e único Arcebispo D. Martinho de Por-
tugal, de 1533, ano da elevação do Bispado a Arqui-
diocese, até à morte dêste prelado n o ano de 1547.
Também não veiu ao seu arcebispado. (Vid. n."' 34
e 36).
1 32 DIOCESE DO FUNCHAL
- -
3." Bispo D. Fr. Gaspar do Casal (1552-1556).
Não chegou a vir a o Bispado. (Vid. n." 39).
4." Bispo D. Jorge de Lemos (1556-1569). Foi o
primeiro prelado diocesano que residiu na Madeira.
(Vid. n." 41).
5." Bispo D. Fernando de Távora (1570-1573).
Nunca veiu à diocese. (Vid. n." 47).
6.' Bispo D. Jerónimo Barreto. (1574-1585)-
(Vid. n." 49).
7." Bispo. D. Luís Figueiredo de Lemos (1586-
-1608). Faleceu no Funchal. (Vid. n." 53).
8." Bispo D. Fr. Lourenço de Távora (1510-1617).
(Vid. n." 55).
9." Bispo D. Jerónimo Fernando (1618-1650).
(Vid. n." 56).
10."Bispo D. Fr. Gabriel de Almeida (1671-1674).
Morreu na Madeira. (Vid. n.' 67).
11." Bispo D. Fr. António Teles da Silva (1675-
-1682). Faleceu no Funchal. (Vid. n." 68).
12." Bispo D. Estevão Brioso de Figueiredo (1685-
-1689). (Vid. n." 71).
13." Bispo D. Fr. José de Santa Maria (1690-
-1697). (Vid. n." 72).
14." Bispo D. José de Sousa Castelo Branco (1698-
1721). (Vid. noo73).
15." Bispo D. Fr. Manuel Coutinho (1725-1738).
(Vid. n." 75).
16." Bispo D. Fr. João do Nascimento (1741-1753).
Morreu no Funchal. (Vid. n." 78).
17." Bispo D. Gaspar Afonso da Costa Bran-
dão (1757-1784). Faleceu nesta ilha. (Vid. n." 82).
18." Bispo D. José da Costa Torres (1787-1796).
(Vid. n." 86).
19." Bispo D. Luís Rodrigues de Vilares (1798-
-1810), Morreu n o Funchal. (Vid. n." 88).
20." Bispo D. João Joaquim Bernardino de Bri-
to (1820). Faleceu em Lisboa nesse ano, antes de
ter assumido pessoalmente a Direcção da Diocesé.
(Vid. n." 92).
21." Bispo D. Francisco José Rodrigues de Andra-
de (1821-1834). Neste último ano, em virtude dos
acontecimentos políticos que então se deram, saíu para
a Itália e lá faleceu. (Vid. n." 93).
22." Bispo D. José Xavier Cerveira e Sou-
sa (18841848). (Vid. n." 98).
23." Bispo D. Manuel Martins Manso (1850-1858).
(Vid. n." 101).
24." Bispo D. Patrício Xavier de Moura (1859-
-1872). (Vid n." 102).
25." Bispo D. Aíres de Ornelas de Vasconce-
los (1872-1874.). Faleceu em Lisboa e foi sepultado
n a S é do Funchal. (Vid. n." 105).
26.0 Bispo D. Manuel Agostinho Barreto (1877-
-1911). Morreu n o Funchal em 1911 e jaz n o adro da
capela da P e n h a de França. (Vid. n.OY11, 112, i13
e 121).
27." Bispo D. António Manuel Pereira Ribeiro,
prelado diocesano em exercício, desde o ano de 1915.
(Vid. n." 125).
134 DIOCRSE D O F U N C f i A L

Bispos Madeirenses

Foram filhos ilustres do nosso arquipélago e dis-


tintos membros do episcopado católico os seguintes
prelados: D. Fr. Miguel dos Santos, D. Cristovão
Moniz, D. N u n o de Aguiar, D. Manuel de Noronha,
D. Sebastião de Morais, D. Mateus de Abreu Perei-
ra, D. João Henriques Moniz, D. Manuel Joaquim
Gonçalves de Andrade, D. Aires de Ornelas de Vas-
concelos, D. Ernesto Sena de Oliveira, D. Estevão
Pedro de Alencastre e D. Teodósio Clemente de
Gouveia.
N o s volumes do Elucidátio Madeirense deixámos
exarados os mais salientes traços biográficos dêsses
doze prelados, mas nas páginas desta Sinopse dare-
mos apenas a seu respeito umas rápidas notas, em
virtude d a brevidade que importa guardar, como o
temos feito àcêrca de outros assuntos aqui tratados.
D. Fr. Miguel dos Santos, segundo nos informa
Henrique Henriques de N o r o n h a nas suas acredíta-
..
das « Memórias Seculares e Eclesiásticas. », ainda
inéditas, (El. Madeirense-I-389), foi bispo de S ã o
Tomé e filho de Diogo Colaço de Abreu e de
D. Maria Chamorrà, sem indicar quaisquer outros
dados biográficos, que permitam u m a mais completa
identificação dêste prelado.

D. Cristóvão Moniz, o mais antigo prelado madei-


rense de que alcançámos segura notícia, era filho de
Vasco Moniz, u m dos primitivos povoadores da
Madeira, que teve grande casa em Machico, cunhado
de Bartolomeu Perestrelo, primeiro capitão donatário
da ilha do Pôrto Santo, e tio de Felipa Moniz, mulher
do grande navegador Cristóvão Colombo. Gaspar
Frutuoso diz-nos passageiramente que «Cristóvão
Moniz, frade carmelita era bispo de anel*. E m u m
antigo livro manuscrito da Câmara Eclesiástica desta
Diocese deparámos com a informação, que temos por
fidedigna, dando-nos a interessante notícia de que era
4 bispo titular e natural desta ilha*.

D. Nuno de Aguiar, neto de João Gonçalves Zar-


go, nasceu n a freguesia de S. Martinho, segundo
afirmam alguns nobiliários, e acompanhou D. Afon-
so V n a tomada de Arzila e Tanger. Havendo sido
criado um bispado com séde nesta última praça, foi
nele provido N u n o de Aguiar como seu primeiro
prelado, nras não teve ali larga permanência. Antes
da criação da diocese do Funchal, pretendeu anexar o
nosso arquipélago ao seu bispado de Tanger, mas a
isso se opuzeram energicamente a Ordem de Cristo e
OS donatários da Madeira, confiados n a próxima cria-
ção de uma diocese com séde nesta ilha, como em
breve veiu a suceder. D. N u n o havia sido monge
cisterciense e exercera elevados cargos n o sua Ordem.
Morreu n o ano de 1491.

D. Manuel Noronha, era filho de João Gonçal-


ves d a Câmara, segundo capitão donatário do F u n -
chal, e, como o precedente, também neto de João
Gonçalves Zargo, tendo nascido n o Funchal pelos
fins do século XV e falecido n a cidade de Lamego a
23 de Setembro de 1569. Residiu em R o m a durante
alguns anos e gosou ali da especial privança do gran-
de papa Leão X, tendo sido seu secretário particular.
Regressando a Portugal, foi nomeado bispo de Lame-
136 DIOCESE DO FUNCHAL

go, sendo considerado como u m dos mais ilustres


prelados dessa diocese. Dele se ocupa com alevanta-
dos louvores D. Joaquim de Azevedo n o livro «His-
tória Eclesiástica d a Cidade e Bispado de Lamegov.

D. Sebastião de Morais, nasceu n o Funchal


em 1534, entrou n a Companhia de Jesus em 1550,
foi confirmado bispo de Funay, n o Japão, em 1587 e
morreu em Moçambique, quando ia a caminho d a
sua diocese, a 18 de Agosto de 1588. Exerceu impor-
tantes cargos n a ordem religiosa a que pertencia,
como o de provincial e de visitador, e foi escolhido
para acompanhar à Itália D. Maria, neta do rei
D. Manuel, quando esta princesa foi a l i contrair
matrimónio. Escreveu e publicou o livro «Vita e
morte de la Serenissima Maria di Portugal10 Prince-
pessa d i P a r m a e Placensaa de que se fizeram várias
edições. Deixou algumas obras inéditas mencionadas
n a Biblioteca Lusitana de Barbosa Machado.

D. Mateus de Abreu Pereira, viu a luz do dia


a 8 de Agosto de 1756 e foi confirmado bispo d a
diocese de S ã o Paulo, n o Brasil, a i7 de Junho
de 1795 e sagrado a 12 de Setembro do a n o seguinte,
havendo falecido a 5 de Março de 1824. Foi u m prela-
do que prestou assinalados serviços à sua diocese,
dizendo Candido Mendes de Almeida, n a sua obra
«Direito Civil Eclesiástico Brasileiro», que êle muito
concorreu para a independência do Brasil. Publicaram-
-se alguns disctírsos proferidos por ocasião das soleni-
dades que se realizaram para festejar o aniversário da
sagração episcopal ctêste prelado, sendo u m deles do
grande orador sagrado Fr. Francisco de Monte Alverne.
D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade nas-
ceu n a então freguesia do Campanário e hoje freguesia
da Quinta Grande a 14 de Março de 1767 e foi sagra-
do bispo para a diocese de São Paulo a 28 de Outubro
de 1827, tendo falecido naquela cidade a 26 de Maio
de 1847. Desconhecemos quaisquer outras particulari-
dades d a vida'dêste prelado. E r a tio do grande civilista
brasileiro dr. Francisco Justino Gonçalves de Andrade
e do dr. cónego João Jacinto Gonçalves de Andrade,
ambos madeirenses e lentes da faculdade de direito n a
Universidade de São Paulo.

D. João Henriques Moniz nasceu n a cidade do


Funchal no último quartel do século XVIII e era pró-
ximo parente dos distintos madeirenses dr. Lourenço
José Moniz, dr. Patrício Moniz e dr. Jaime Constan-
tino de Freitas Moniz. P o r motivos políticos, foi envol-
vido n a alçada que veiu à Madeira n o a n o de 1828 e
exilado para o arquipélago de Cabo Verde. Com o
advento do govêrno constitucional, continuou a residir
naquelas ilhas, e em 1844 veiu a Lisboa afim de ser
sagrado bispo d a diocese de Cabo Verde e depois de
u m curto episcopado faleceu n a ilha de São Tiago a
i de Julho de 1847. N ã o foi feliz a sua administração
episcopal e teve que lutar com insuperáveis dificuldades,
sucumbindo a o pêso das maiores contrariedades e dos
mais amargurados desgostos. E r a formado em canones
e tinha sido eleito senador pela Madeira para a legis-
latura de 1840 a 1842.

D. Aires de Ornelas de Vasconcelos nasceu n a


freguesia da Sé desta cidade, n o ano de 1837 e per-
tencia a uma das mais antigas e nobres famílias d a
Madeira. Doutorou-se n a faculdade de teologia n a
18
138 DIOCESE D O FUNCHAL

Universidade de Coimbra em 1860, e regressando de


Roma, onde assistira a algumas sessões do Concílio
do Vaticano, foi apresentado bispo, sendo confirmado
como titular de Gerasa e recebendo a sagração epis-
copal a 7 de Maio de 1871. Assumiu logo o govêrno
interino desta diocese, n o impedimento do bispo efec-
tivo D. Patrício Xavier de Moura, tendo por morte
dêste prelado passado à efectividade do cargo, que
exerceu até os fins de 1874, saindo desta ilha em
princípios do ano seguinte, para desempenhar as altas
funções de arcebispo de Goa e de Primaz do Orien-
te. Após u m breve episcopado, veiu a falecer em Lis-
boa a 28 de Novembro de 1880, tendo apenas 43 anos
de idade. P o r muitos títulos foi um grande e ilustre
prelado, que tanto n a Madeira como n a Índia deu
eloquentes provas da sua grande cultura, da sua zelo-
sa administração episcopal, da sua ardente dedicação
pela propagação evangélica e pela mais acendrada
prática de tôdas a s virtudes cristãs. Modelos de boa
linguagem, de ardente zêlo e de fervorosa piedade
são os seus discursos e pastorais, que se acham ~ u b l i -
cados em u m grosso volume e precedido de uma larga
e bem elaborada biografia.

D. Estevão Pedro de Alencastre era natural da


vizinha ilha do Pôrto Santo, havendo nascido a
3 de Novembro de 1876 e seguido com seus pais para
o arquipélago de Hawai, Sandwich, n o ano de 1882.
E n t r o u n a ordem religiosa dos Sagrados Corações de
Jesus e M a r i i e feitos os estudos preparatórios naque-
las ilhas, cursou a s matérias eclesiásticas n a Bélgica e
n a Holanda. Regressando a Honolulu e sendo orde-
nado de presbítero, exerceu com muito zêlo a s fun-
ções do seu ministério e n o ano de 1924 foi confir-
mado e sagrado como bispo titular de Arabissus,
havendo assumido em 1926 o lugar de Vigário Apos-
tólico do arquipélago hawaiano e revelando sempre os
altos dotes de u m distinto e virtuoso prelado. Faleceu
h á poucos anos n o arquipélago de Hawai, onde près-
tou relevantes serviços, gosando ali do maior prestí-
gio e da mais acendrada estima.

D. Ernesto Sena de Oliveira viu a luz da exis-


tência n a freguesia de Santa Luzia desta cidade a
30 de Abril de 1892. Frequentou os Seminários
do Funchal e de Santarem e formou-se n a faculda-
de de filosofia e de teologia n a Universidade Gre-
goriana. Depois de exercer o professorado e vários
serviços ecle~iásticos,foi em 1931 nomeado arcebispo
titular de Mitilene e investido n o cargo de Vigário
Geral do Patriarcado de Lisboa, que desempenhou
até o ano de 1944, em que assumiu a direcção da
diocese de Lamego.

D. Teodósio Clemente de Gouveia nasceu n a fre-


guesia de São Jorge a i3 de Maio de 1889. Depois de
haver cursado o Seminário do Funchal, frequentou a
Universidade Gregoriana e nela se formou n a s facul-
dades de Teologia e Direito Canónico, fazendo tam-
bém estudos especiais sobre assuntos de .ordem social
n a Itália e n a Bélgica. Exerceu n a Madeira funções
eclesiásticas e n o professorado, sendo então escolhido
pelo episcopado português para director do Colègio
Português em R o m a e reitor da igreja portuguesa de
Santo António da mesma cidade. N o mês de J u n h o
de i936 foi nomeado por P i o XI bispo titular de
Leucia e prelado de Moçambique. A o serem recente-
mente criadas nesta possessão portuguesa a s novas
140 D I O C E S E D O FUNCHAL

dioceses da Beira e de Nampula, e elevada a prelazia


já ali existente à categoria de arquidiocese com séde
n a cidade de Lourenço Marques, foi dela nomea-
do arcebispo o prelado D. Teodósio Clemente de
Gouveia.

Comunidades Religiosas

Ordem Seráfica-Foi a mais antiga e a que


teve mais larga expansão nesta diocese, havendo pres-
tado excelentes serviços à causa da religião.
N o s números 2, 4, 5, 10 11, 13, 18, 22, 31, 62, 64,
66, 76 e 77 desta Sinopse ficam sumàriamente expos-
tos os factos que mais interessam à história da sua
benéfica àcção neste bispado. Com a violenta expul-
são das ordens religiosas n o a n o de 1834, os francis-
canos tiveram de abandonar a s suas casas monásti-
cas, como aconteceu n o resto do país, mantendo-se a
clausura das freiras até a morte da última religiosa.
E m u m livro escrito n a língua italiana e publi-
cado em Tortona n o ano de 1702, encontrámos u m a
breve notícia àcêrca das ordens religiosas então exis-
tentes n a Madeira e nela se diz que os religiosos
franciscanos eram em número de trinta, tendo o con-
vento de S a n t a Clara «duzentas monjas e cem con-
versas e o da Incarnação cento e cinquenta religiosas
e quarenta conversas n.
Desde o ano de 1936 existe uma pequena comu-
nidade franciscana n a residência anexa à capela de
Nossa Senhora da P e n h a de França, que ali e n a
capela de São Paulo mantém u m activo e permanen-
te serviço religioso, além das funções eclesiásticas, que
zelosamente desempenham em outras igrejas e capelas.

C o m p a n h i a de Jesus-Como atrás ficou dito


nos números 46, 48 e 100, a Companhia de Jesus teve
uma florescente comunidade nesta cidade, com o seu
grande Colégio e magestosa Igreja, que perdurou des-
de o ano de 1569 até o dia 16 de Julho de 1760, em
que !abandonaram esta ilha pela expulsão decretada
pelo marquês de Pombal, deixando entre nós as mais
honrosas tradições.

C a r m e l i t a s -- A ordem Terceira do Carmo foi


primeiramente estabelecida n a capela do convento da
Incarnação, transferindo em 1660 a sua séde para a
igreja do Carmo, ano em que se concluíu a sua cons-
trução. Estabeleceu-se n a residência anexa uma comu-
nidade de religiosos regulares da ordem carmelitana,
mas ignoramos a época precisa da sua fundação e
quando deixou de existir, conjecturando-se que não
teve uma larga existência. N o entretanto sabe-se que
nos princípios do século XVIII tinha seis religiosos,
em cujo número deveriam entrar os irmãos leigos.

C a p u c h i n h o s -Como a Ordem Carmelitana, jul-


gamos que a ordem religiosa dos Capuchinhos tam-
bém não alcançou uma larga duração. O s dois reli-
giosos que a fundaram nesta diocese tiveram para
isso que lutar com grandes dificuldades, ainda levan-
tadas por membros de outras ordens monásticas.
Estabeleceram-se n o a n o de 1698 em umas casas doa-
das por Belchior Rodrigues Calaça, natural da ilha
do Pôrto Santo, talvez parente do cónego Henrique
142 DIOCESE D O FUNCHAL

Calaça, fundador do convento da I n c a r n a ~ ã oe natu-


r a l [da mesma ilha. N ã o conseguimos colher outras
informações.

Irmãs de Caridade - D a comunidade religiosa


das «Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo»,
estabelecida nesta diocese n o ano de 1862 e dos exce-
lentes serviços que teem prestado, já demos notícia n o
n.O 103 dêste pequeno estudo, para onde remetemos o
leitor.

Congregação da Missão-Pela mesma época,


os sacerdotes d a congregação da Missão» chamados
Lazaristas assumiram o desempenho de todos os ser-
viços religiosos privativos do « Hospício d a Princesa
D. Maria Améliãw, tornando-se desde logo a respec-
tiva capela um centro da mais afervorada Piedade.
Construída a capela adjunta ao Orfanato; foram para
ela transferidos os diversos actos do culto destinados
ao público, que ali acode pressuroso às diferentes prá-
ticas d a religião. O s Padres Lazaristas mantiveram
durante muitos anos com o maior aproveitamento dos
fieis o culto religioso n a capela de P e n h a de França e
foram valiosos auxiliares n o ensino e em outros ser-
vi<;~~ n o Seminário Diocesano.

Congregação de Nossa Senhora das Vitórias


-No número 114 démos já uma breve notícia da
comunidade religiosa privativa desta diocese, fundada
n o ano de 1884, que tem o nome de Nossa Senhora
das Vitórias.

Irmãs Missionárias de Maria - P o r decreto de


12 de Março de 1896 concedeu o govêrno à Congregação
das «Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria D o
antigo convento de Santa Clara para a criação de u m
instituto destinado a preparar o pessoal feminino
empregado n a s nossas missões do ultramar. Iniciaram
essas religiosas os seus trabalhos no ano referido e
fizeram a instalação de u m colégio para raparigas,
que foi muito frequentado. E m 1901 tomaram a
direcção dos serviços hospitalares da Misericórdia,
que dentro de pouco tempo tiveram de abandonar,
em virtude da atitude sectária e violenta da respecti-
va Comissão Administrativa. N o a n o de 1910 saíram
da Madeira, ao ser publicada a lei draconiana da
expulsão das Ordens Religiosas.
O decreto de 2.5 de Janeiro de 1927 cedeu à
«Associação Auxíliar das Missões » as diversas depen-
dências dêsse convento para os mesmos fins consigna-
dos n o decreto de 12 de Março de 1896, confiando à
referida Congregação todos os serviços respeitantes à
instalação e direcção dêsse colégio.
A 3 de Maio de 1929 iniciaram essas incansáveis
religiosas uma obra notável de assistência:-uma
«créche»-, em que alguns centenares de crianças
passam uma parte considerável do dia com a indis-
~ e n s á v e lalimentação, educação moral e religiosa e
primeiros rudimentos de instrução.

Irmãsinhas dos Pobres- A benemerita comu-


nidade religiosa « Irmãsinhas dos Pobres » estabele-
ceu-se n o Funchal n o ano de 1900, fundando u m a
casa de caridade destinada a albergar velhos e decré-
pitos, que em número de quarenta ficaram instalados
em u m prédio situado n a Calçada do Socôrro. Muito
concorreram para esta fundação, que teve o nome
de «Asilo dos Velhinhos», o ~ r e l a d o diocesano
144 DIOCESE D O FUNCHAL

D. Manuel Agostinho Barreto e o padre António


José de Macedo. O número sempre crescente de asi-
lados determinou em breve a sua transferência para o
prédio em que actualmente funciona a Escola Indus-
trial e Comercial, terminando, porém, a inexcedivel
acção de zelo e de dedicação ali exercida com a expul-
são das religiosas em 1910, que em número de doze
saíram da Madeira, n o mês de Abril de 1911, em
direcção à cidade francesa de Latour.

O r d e m de S. João de D e u s - - N o ano de 1922


fundaram os religiosos da Ordem de São João de
Deus uma casa de saúde n o sítio do Trapiche, fre-
guesia de Santo António, sendo para ela transferidos
todos os alienados do sexo masculino que se acha-
vam internados n o «Manicómio Câmara Pestana,
Procederam à adaptação dos velhos e arruinados edi-
fícios, fizeram novas construções e operaram uma
completa remodelação em todos os serviços hospitala-
res, tornando o novo Manicómio u m a instalação ver-
dadeiramente modelar e sendo já proverbial a maneira
carinhosa como são ali tratados todos os doentes.
Fizeram demolir a antiga capela, que foi substi-
tuída por outra de mais largas proporções e que pres-
ta u m assinalado serviço aos moradores das suas ime-
diações, em virtude da distância a que se encontra da
igreja paroquial. E dedicada a São João de Deus e
está aberta a o serviço do público desde o ano de 1936.

Irmãs Hospitalares-I? de recente data a exis-


tência nesta diocese da comunidade religiosa das
«Irmãs Hospitalares do Sagrado Coração de Jesus*,
que n o mês de Maio de 1925 tomou a direcção dos
servisos hospitalares do «Manicómio Càmara Pesta-
na», destinado ao tratamento dos doentes do sexo
feminino atacados de alienação mental, sendo absolu-
tamente modelar a acção que ali teem exercido essas
relígiosas, não sòmente pelo seu zêlo e acendrada
dedicação, como ainda pela reconhecida competência
n o desempenho de todos os trabalhos que Ihes estão
confiados. O número de doentes, que em 1926 era
de 64, ascendeu a 286.nos fins do ano de 1943.

Padroeiros da Diocese

Desde a s primeiras manifestações do culto, pelos


anos de 1425 até o ano de 1521, em que o apóstolo
São Tiago Menor foi solenemente escolhido por Prin-
cipal Padroeiro da diocese do Funchal, como já ficou
sumàríamente referido nos números 32 e 59 dêste
estudo, e com mais desenvolvimento se pode ver
nas «Saudades da Terra » e no << Elucidário Madeiren-
se», apenas se encontra a vaga notícia de que nos prin-
cípios da colonização fora a ilha da Madeira dedica-
da a Santa Maria Nossa Senhora e a do Pôrto
Santo ao apóstolo São Pedro e à virgem martir San-
ta Catarina.
A partir da mesma época, foram considerados
como a Padroeiros Menores » os bemaventurados São
Sebastião e São Roque, fazendo-se menção dêsses votos
em antigos calendários diocesanos e sendo, em outro
tempo, dias santificados de preceito, os dias 20 de
Janeiro e 16 de Agosto, consagrados pela Igreja a
honrar a memória dos mesmos bemaventurados. Hou-
19
146 DIOCESE DO FUNCHAL
--
ve particular devoção pelo primeiro e algumas capelas
lhe foram dedicadas em diversas freguesias.
E m 1803, poucos dias depois da grande aluvião
de 9 de Outubro dêsse ano, realizou-se n a S é Cate-
dral a consagração desta ilha e em especial da cidade
do Funchal à Virgem Nossa Senhora do Monte, ins-
tituindo-se posteriormente a festa do Patrocínio de
Nossa Senhora do Monte, em virtude de concessão
pontifícia, como já deixámos referido em número 42
dêste opúsculo. (Vid. «Voto à Santíssima Virgemu
n o Eluc. Mad.)

Culto Mariano

Proporcionalmente à população, área e condições


do meio, pode afirmar-se que em nenhuma região
do nosso país se generalizou com tanta largueza
e com tamanho fervor o culto religioso prestado
em honra da Santíssima Virgem Nossa Senhora,
como em toda a nossa diocese. Bastará lembrar que
das cinquenta freguesias em. que se encontra divi-
dido o arquipélago, vinte teem Nossa Senhora
como sua padroeira e lhe são dedicadas as respectivas
igrejas paroquiais. E m u m pequeno bosquejo históri-
co, que temos elaborado àcêrca das igrejas e capelas
edificadas neste bispado, fazemos menção de cêrca de
quatrocentas, destacando-se em número superior a
duzentas a s que exclusivamente foram consagradas ao
culto da Padroira de Portugal. Sobre êste assunto
publicou o cónego dr. Mrnuel Gomes Jardim u m a
conferência, que encerra dados muito interessantes,
sendo publicada n o diário de Notícias» do Fun-
chal, de 29 de Março a 17 de Abril de 1942.

Dias Santificados

O sínodo diocesano realizado a 18 de Outubro


de 1578, em que foram promulgadas umas Consti-
uições dêste bispado, aprovadas pelo prelado D. Jeró-
nimo Barreto, por decreto de 4 de Maiode 1579,
fixou nesta Diocese o elenco dos dias santos de guar-
da, além dos domingos, em que é imposta a obri-
gação da assistência à missa e a abstenção de todo o
trabalho. E r a m os seguintes: Circumcisão, Epifânia,
São Sebastião, Purificação, S. Matias Ap., Anunciação,
do meio dia de 5." a 6." feira santa, três oitavas da
Páscoa, São Filipe e São Tiago Menor, Invenção da
Santa Cruz, Ascensão, duas oitavas de Pentecoste,
Corpo de Deus, S. João Baptista, S. Pedro e São Pau-
lo, Visitacão, São Tiago Maior, N. S. das Neves,
S. Lourenço, Assuncão, S. Bartolomeu Ap., Nativida-
de de N. S., S. Mateus Ap., S. Miguel Arcanjo, S. Si-
mão e S. Judas, Todos os Santos, S. André Ap., Con-
ceição, Expectação, S. Tomé Ap., N a t a l e a s três
oitavas seguintes.
E m 1678, n o episcopado de D. Fr. António Teles
da Silva passaram a ser dias santos de preceito a s fes-
tas de S. José, S. António e Santana, e posteriormente
foi ainda essa lista acrescentada com a s festas do Cora-
ção de Jesus, São Roque, Rosário e S. Silvestre. N o
148 DIOCESE DO FUNCHAL

ano de 1803, a o ser o Funchal pôsto sob a especial


protecção de Nossa Senhora do Monte, foi estabeleci-
d a a festa do «Patrocínio de Nossa Senhora do
Monte* com vígilia e dia santo de guarda, a obser-
var-se a 9 do mês de Outubro.
P o r breve de 15 de Janeiro de 1796, concedido
por P i o VI a pedido do bispo D. José da Costa Tôr-
res, ficaram os dias santos de preceito reduzidos nes-
t a diocese aos seguintes: N a t a l e primeira oitava,
Circuncisão, Epifânia, Páscoa e primeira oitava,
Corpo de Deus, Ascensão, S. João Baptista, S. Pedro
e S. Paulo, S. Tiago, Todos os Santos, Purificação,
Anunciação, Assunção, Natividade, Conceíção e o
Patrono o u T i t u l a r do lugar.
Outras modificações se estabeleceram ainda poste-
riormente, estando a o presente em vigor a relação dos
dias santificados constantes do « Calendariump em
uso nesta diocese.

Missões Evangélicas

A permanente acção doutrina1 desempenhada


nas freguesias pelos párocos e seus coadjutores rece-
be sempre u m notável desenvolvimento com a s mis-
sões evangélicas, que em geral são exercidas por mem-
bros de ordens religiosas adestrados n o árduo tra-
balho da prègação e n a mais salutar direcção
désses tão abençoados e frutuosos retiros n a vida
espiritual das populações. Muitos prelados desta dio-
cese teem sido extremamente zelosos em enviar
esses missionários à s paróquias, devendo fazer-se
menção especial de D. Manuel Coutinho (1725-1738)
que, após a sua chegada, promoveu u m a larga missão
em muitas igrejas, aproveitando a passagem de u n s
religiosos capuchos por esta ilha, que tiveram como
f e r v o r o s o s auxilíares os franciscanos madeirenses,
havendo estes em anos subsequentes continuado a
acção frutuosa iniciada por aqueles religiosos. O bis-
po D. Fr. João do Nascimento, franciscano, (1741-
-1753), fêz-se acompanhar, n a sua vinda, por dois
confrades, afamados prègadores do tempo, que duran-
te dois anos exerceram com outros religiosos u m
grande e frutuoso apostolado. Foi ainda maior o ser-
viço que neste particular prestou o ilustre prelado
D. Gaspar Afonso da Costa Brandão, fazendo-se
também acompanhar de dois sacerdotes da Congrega-
ção da Missão, os quais durante dez anos ininterrup-
tos se dedicaram aos mais árduos trabalhos de uma
intensa e profícua evangelização. Como já em outro
lugar tivemos ocasião de dizer, esses dois padres laza-
ristas, nas muitas prègações em várias templos da cida-
de, nas missões das freguesias, nos exercícios espiri-
tuais a o clero, nas visitas canónicas aos conventos
presididas pelo n o fomentar e fazer reviver
a s práticas de ~ i e d a d e , exerceram por toda a parte
uma acçao eminentemente cristã e conseguiram des-
pertar u m extraordinário e perdurável fervor religioso.
N o ano de 1809 e n o episcopado de D. Luiz
Rodrigues de Vilares, demorou-se algum tempo nesta
ilha Fr. Francisco do Sagrado Coração de Jesus, frade
barbadinho, de nacionalidade italiana, que percorreu
várias freguesias e visitou o Pôrto Santo, n o exercí-
cio de uma missão evangélica, da qual não alcançá-
mos outros pormenores.
150 D I O C E S E D O FUNCHAL

Várias causas e entre as quais deve destacar-se a


extinção das ordens monásticas, fizeram estancar por
dilatados anos os frutos produzidos pelas missões
religiosas, fazendo-as vigorosamente restaurar e tor-
nando-se delas u m ardente paladino o grande prelado
que foi D. Manuel Agostinho Barreto. Logo n o ano
imediato ao da sua chegada, deu início a esse indis-
pensável apostolado, que além de despertar o mais
fervoroso entusiasmo entre os povos, foi também
a principal fonte de u m grande resurgimento religioso
n o seio da maior parte das paróquias. Esse movimen-
to continuou em todo o seu largo episcopado e per-
durou até os tempos que vão decorrendo.
Anteriormente à criação da Diocese (1514) e nos
séculos XVI e XVII foram a s paróquias visitadas
muitas vezes pelos religiosos franciscanos, como mis-
sionários evangélicos e enviados pela autoridade ecle-
siástica, mas não alcançámos notícias pormenorizadas
àcerca dessas missões.

Bispado e Arcebispado

I? sabido que a Ordem de Cristo, por autoridade


da Santa S é , exercia nas terras que os portugueses iam
descobrindo toda a jurisdição eclesiástica, com o pri-
vilegio de nullius diocesis, a qual se estendia até os
remotos confins do Oriente. Extinta a Vigararia de
Tomar, séde dessa Ordem, e criado o Bispado do
Funchal em 1514, transitaram para os respectivos pre-,
lados diocesanos todas essas faculdades, que n o dizer
da própria bula da instituição se alargavam «desde o
Cabo Bojador até à Índia». (Vid. os n."", 14, 19,
25 e 34).
N o ano de 1533 foi este Bispado elevado à alta
categoria de Arquidiocese, abrangendo a sua jurisdi-
ção a mesma área que conservara como Diocese e
tendo como bispados sufragâneos, Angra, Cabo Ver-
de, S. Tomé e Goa, criados n o ano de 1534. Dois anos
depois, em 1536, a diocese de G o a passou a fazer
parte da província eclesiástica de Lisboa e desagrega-
da da do Funchal. E em 1551 .é extinto o arcebispado
pela bula Super universas orbis ecclesias, que teve a
curta existência de 18 anos.
E r a então a nossa diocese constituida pelas ilhas
da Madeira e do Pôrto Santo, pelos dois pequenos
grupos das ilhas das Desertas e das Selvagens e pela
colónia de Arguim n a costa do Senegal, o que tem
perdurado até os nossos dias, com excepção do domí-
nio ultramarino do golfo de Arguim, que só honorig-
camente se tem considerado como pertencendo à juris-
dição eclesiástica do Funchal.

Desertas e Arguim

O Infante D. Henrique refere-se n o seu testamen-


to à «igreja aue estabeleci n a ilha Deserta», mas a
verdade é que ali existiu apenas uma pequena ermida,
servida por u m sacerdote n o período mais activo da caça
e da pesca e por u m tempo muito limitado. N a s « Cons-
tituições Diocesanas» de 1597 faz-se referência a uma
152 DIOCESE D O FUNCHAL

determinação episcopal do ano de 1566, ordenando que


ali permanecesse em todos os anos u m sacerdote nos
meses de Novembro e Dezembro e nas duas semanas da
Semana Santa e da Páscoa, o que parece não se obser-
vou com rigor.

A soberania. conservada por Portugal sobre a ilha


de Arguim e o território fronteiro n a costa africana
não teve uma larga duração, passando o seu domínio
sucessivamente aos ingleses, franceses e holandeses,
ignorando-se também quando ali terminaria a jurisdi-
cão eclesiástica do bispo desta diocese. Sabe-se apenas
Gue as «Constituições Diocesanas » decretadas em i5W
pelo prelado D. Luiz Figueiredo de Lemos, nas consti-
tuições i." 2." e 3." do título XVI, estabelecem uma
«ouvidoria» em Arguim e fixam as atribuições dos
que exercesem esse cargo, que aproximadamente corres.
ponde aos dos actuais arciprestes.

Aljube e Alçadas

Quando o clero gosava o privilégio de foro pri-


vativo, havia também uma casa especial para a deten-
ção o u aprisionamento dos eclesiásticos, conhecida
pelo nome de Aljube, existindo ainda n o Funchal
u m a rua que o recorda. Foi estabelecido por meados
do século XVI e criado o lugar de «aljubeiro» n o
ano de 1562.
A s alçadas que por motivo político vieram à
Madeira nos anos de 1823 e 1828 e aqui procederam
a largas devassas envolveram bastantes sacerdotes,
sendo alguns condenados a prisão e encerrados n o
Aljube e outros deportados para as colónias portu-
guesas. Entre estes contam-se o dr. João Henriques
Moniz, que foi bispo de Cabo Verde, o cónego e
antigo governador do bispado Jerónimo da Silva
Pinheiro, o distinto advogado cónego Gregório de
Medina e Vasconcelos e o jornalista padre Dr. João
Espínola de Macedo.
Esse forçado exílio faz lembrar que n o a n o
de 1913 e sob a acusação de transgredirem a s leis da
república foram o padre João Vicente de Faria e
Sousa, pároco da freguesia do Monte, expulso da
Madeira por u m ano, e o padre Carlos de Freitas,
pároco da ilha de Pôrto Santo, proibido de residir n a
mesma ilha por igual período de tempo.

Outras Capelas Antigas

N o s n."', 4, 6, 20, 23, 42 e 59 dêste opúsculo,


deixámos uma breve notícia das mais memoráveis
capelas edificadas n o século XV e princípios do sécu-
lo seguinte, devendo ainda fazer-se menção especial
da antiga capela de Nossa Senhora dos Anjos, man-
dada construir, segundo uns, pela infanta D. Beatriz,
em 1474, como administradora da Ordem de Cristo, e
segundo outros por Martim Afonso nos princípios do
século XVI. Fica n o sítio que ainda hoje conserva o
nome de Ánjos, n a freguesia dos Canhas, tendo sido
em outro tempo um centro de grande devoção e à
20
154 DIOCESE DO FUNCHAL

qual Fr. Agostinho de S a n t a Maria dedicou u m capí-


tulo n a sua conhecida obra Santuário Mariano. Esta-
va em adiantada ruína e foi restaurada n o a n o
de 1892.
O u t r a capela digna de especial menção é a de
São Bartolomeu, que se encontrava nas proximidades
da actual Ponte do Torreão e foi construída por
Gonçalo Anes de Velosa n o ano de 1497, tendo ane-
x a uma pequena «albergaria» para clérigos pobres.
Foi ali que se estabeleceram os jesuítas em 1569 e n o
ano seguinte foi visitada por Santo Inácío de Aze-
vedo, martirisado nas alturas das Canárias, como ficou
referido n o n." 48.
É u m a capela muito antiga, e a sua construção
deve remontar-se aos fins do século XV, a de Nossa
Senhora das Neves, que ainda se encontra n o sítio
dêste nome, freguesia de São Gonçalo, embora talvez
nada reste da edificação primitiva, havendo sido quá-
si inteiramente reconstruída nos fins do século passa-
do. Deve-se a sua fundação a João Afonso Malheiro,
u m dos mais antigos povoadores, e nela se estãbele-
ceu um curato, servindo de séde à paróquia de São
Gonçalo, quando criada n o a n o de 1574.

Ecesiásticos mais distintos

Aproveitando especialmente a s informações de


caracter biográfico fornecidas pela biblioteca Lusita-
na,, c Diccionário Bibliográfico P o r t u g u ê z ~ ,«Sauda-
des da Terra» e o ~ E l u c i d á r i oMadeirensen, damos
uma sucinta notícia, por ordem cronológica, dos mais
distintos membros do clero secular e regular naturais
dêste arquipélago, com exclusão dos que atingiram a s
honras prelatícias, àcêrca dos quais já deixámos esbo-
~ a d aunia breve resenha histórica.
Luiz Gonçalves da Câmara (1518-1575. I?, o céle-
bre aio do rei D. Sebastião, escolhido para êste cargo
pela sua vasta cultura e eminentes virtudes. Lente e
reitor da Universidade de Coimbra, amigo e confiden-
te de S ã o Inácio de Loiola, assistente da Companhia
de Jesus e gosando de grande influência e prestígio
nas esferas do poder, nunca ambicionou cargos nem
honrarias, tendo até abandonado a corte para ir a o
norte de África entregar-se a o penoso trabalho do
resgate dos cativos, expondo hèroicamente a s u a vida.
Martim Gonçalves da Câmara.. E r a irmão do pre-
cedente e como êle também exerceu o professorado n a
Universidade de Coimbra, desempenhando o elevado
cargo de ccescrivão de puridade», então a mais alta
culminância da governação pública, tendo-se já afir-
mado que, além do marquês de Pombal, ninguém
dispusera ainda n o nosso país de mais largos poderes
n a acção governativa do Estado. E r a sacerdote secu-
lar, mas n o fim da vida recolhera-se n a casa dos
jesuítas em Lisboa, onde faleceu n o último quartel do
século XVI.
Manuel Álvares (1526-1583). É, o conhecido gra-
mático actor da célebre De Institutione Grammati-
ca..., destinada ao estudo da língua latina, da qual
nos diz Edgar Prestage que foi traduzida em todas
as línguas e dela se fizeram mais de quatrocentas
edições. Depois dos Lusíadas, nenhuma obra de autor
português logrou ser traduzida e reeditada tantas
vezes. Foi u m dos mais distintos membros da Com-
156 DIOCESE D O FUNCHAL

panhia de Jesus e escreveu outras obras, algumas das


quais Gcaram inéditas. Nas$eu n a freguesia da Ribei-
r a Brava e morreu em Evora a 30 de Dezembro
de 1583.
Manuel Constantino. Doutorado em Salamanca e
professor em R o m a n a «Universidade da Sapiêncian,
cultivou com brilho vários géneros literários e publi-
cou algumas obras, todas n a língua latina, incluindo
uma sobre a Madeira, intitulada Insula Materiae.. .,
das quais faz menção a «Biblioteca Lusitana*. Gosou
de grande consideração n a capital do mundo católico,
onde viveu largos anos e onde faleceu a 3 de Novem-
bro de 1588.
Leão Henriques. Foi u m distinto membro da
Companhia de Jesus e nesta ordem religiosa exerceu
os mais elevados cargos. Confessor e conselheiro do
Cardial-Rei D. Henrique, gosou do maior prestígio e
inff uência, sem haver abusado da situação p r e d o m i ~
nante a que ascendera. E r a natural da freguesia da
Ponta do Sol e morreu em Lisboa a 8 de Abril
de 1859.
Fr. António da Visitação (1546-1606). Religioso
carmelitano, que se notabilizou como orador e culti-
vou também distintamente a poesia, deixando várias
obras inéditas, segundo nos informa a «Biblioteca
Lusitana D.
Toão Pinto Vitória. Distinto membro da ordem
carmelitana, que sob o suposto nome de Juan Cri-
sóstomo Garriz publicou algumas obras ascéticas em
língua espanhola, que veem mencionadas n a aBiblio-
teca Lusitana». Faleceu em Espanha no ano de 1631.
Fr. Gregório Baptista. Pertencia à Ordem Seráfi-
ca e nela se distinguiu como lente e prègador, haven-
do publicado várias obras e alguns volumes de ser-
mões, que mereceram ser traduzidos em espanhol e
em italiano. Pelo que nos referem Barbosa e Inocên-
cio foi u m dos mais distintos madeirenses da segun-
d a metade do século XVII, tendo falecido em Cspa.-
n h a depois do ano de 1640.
r . Remígio de Assunção. E r a monge cister-
ciense e exerceu n a sua ordem os mais elevados car-
gos, gosando n o seu tempo de grande nomeada como
homem de vasta cultura. Tinha-se doutorado n a
faculdade de teologia e deixou inéditas algumas obras
que veem mencionadas n a Biblioteca Lusitana. Nas-
ceu n a freguesia de Santa Cruz e morreu n o conven-
to de Alcobaça n o ano de 1654.
Francisco de Castro. Doutorado em teologia, ser-
viu como vigário das freguesias de S. Pedro e de
S. António. Grangeou a fama de notável orador e
publicou alguns dos seus discursos. Indo procurar às
ilhas de Cabo Verde remédio para a elefantiase, ali
morreu n o ano de 1665.
António Veloso de Lira (1616-1691). Doutor em
teologia, cónego da Sé e governador dêste bispado,
era considerado como um dos mais ilustres madeiren-
ses do seu tempo. Publicou o interessante livro Espe-
lho de Lusitanos, de clue se fizeram algumas edições,
havendo deixado várias obras inéditas. Nasceu n a
freguesia da Calhêta e morreu no Funchal a 4 de
Janeiro de 1691.
Francisco Valhadolid (1640- 1700) Barbosa Ma-
chado e Joacjuim de Vasconcelos fazem menção mui-
to honrosa dêste sacerdote madeirense como distinto
cultor da arte musical, deixando muitas composições,
que esses autores enumeram, especialmente de música
sacra.
Pedro Correia Barbosa. Foi professor, cónego e
158 DIOCESE DO FUNCHAL

vigário geral dêste bispado e considerado u m dos


maiores prègadores do seu tempo, tendo publi-
cado alguns dos seus sermões, sendo um deles
editado em 1697, ano em que também fundou a
capela de São Francisco das Furnas, n o Caminho de
S. António.
Manuel Rodrigues. Êste sacerdote secular, que
segundo se lê em Barbosa Machado teve uma vida
muito agitada atravez de vários países da Europa e
da América do Sul, fixou residência n a cidade de
Lisboa e ali se entregou com grande brilho ao minis-
tério do púIpito, tendo sido publicados muitos dos
seus sermões, de aue faz elogiosa menção o citado
bibliógrafo. Havia nascido n o ano de 1695.
João Francisco Lopes Rocha (i747 -1819). Forma-
do n a faculdade de canones, deão e governador do
bispado, gosou da maior consideração n o nosso meio
pela sua r a r a cultura, tornando-se célebre uma exten-
s a carta, que escreveu ao ministro Seabra e Silva
em 1817 e que sòmente foi publicado em Londres no
Campeão Portuguez u m ano depois d a sua morte,
relatando a s lutas que mantivera com o prelado dio-
cesano D. José da Costa Tôrres.
João Crisóstomo Espínola de Macedo. Seguiu os
princípios proclamados pela Revolução do Pôrto
de 1820 e foi eleito deputado por êste arquipélago,
tendo redigido o segundo jornal que se publicou n o
Funchal e publicado alguns opúsculos em linguagem
muito violenta, que lhe acarretaram os mais vexato-
rios desgostos. Morreu n o ano de 1828.
João Manuel de Freitas Branco (1773-1831).
Como pároco, professor, deputado e jornalista eviden-
ciou os altos dotes do seu talento e da sua cultura.
Envolvido n a alçada miguelista de 1828, conseguiu
ausentar-se para o R i o de Janeiro e ali faleceu n o
a n a de 1831.
Gregório Nazianzeno de Medina e Vasconcelos.
(1787-1858). O cónego Medina era formado em leis e
exerceu com brilho a advocacia n o Funchal, distin-
guindo-se como um hábil jornalista e sendo eleito
deputado pela Madeira.
António João de Lessa (1774-1858). Sendo já
presbitero, saíu da Madeira para o Brasil e ali se
entregou activamente às lutas l>olíticas e foi duas
vezes eleito deputado, conquistando notável prestígio
e influência. Publicou u m livro intituIado Cartas de
Cantagalo, cidade onde residiu muitos anos. E m u m
volume de 160 páginas e com o título de «Esbôço
biográfico do Padre António João de Lessan, narra-
-se a vida agitada dêste eelesiástico, que era natural
d a freguesia da Madalena do Mar. Morreu em 1858.
Vicente Nery da Silva. Perdurou por largos anos
a fama do cónego N e r y como prègãdor e plantefário.
Possuindo invulgares dotes orãtórios e notável apti-
dão para a polémica, abusou do púlpito e da impren-
sa, publicando muitos .opúsculos, em que sobresai a
mais descabida verrina. Morreu n o ano de 1860.
Caetano Alberto Soares (1790-1867). Formado em
leis e exercendo o professorado e a advocacia n o
Funchal, foi eleito deputado por êste arquipélago.
P a r a subtrair-se a possiveis perseguições políticas,
ausentou-se para o R i o de Janeiro e ali se dedicou à
carreira do foro, em que alcançou grande reputação.
E r a natural da freguesia do Pôrto da Cruz.
Januário Vicente Camacho (1792-1872). Deão,
Vigário Capitular, deputado e par do reino, gosou de
grande influência política, mas não deixou honrosas
tradições como governador dêste Bispado. (Vid. n." 97).
160 D I O C E S E D O FUNCHAL

António Joaquim Gonçalves de Andrade. E r a


considerado como u m dos mais distintos madeirenses
do seu tempo, pelas suas reconhecidas virtudes e vas-
t a cultura intelectual. O deão Andrade deixou erudi-
tas notas n a tradução das Metamorphoses de Ovídio
feita por Castilho e n a 2." edição da «História Insu-
lanan do padre António Cordeiro, além de outros
trabalhos literários. Foi u m dos mais valiosos auxi-
liares do prelado Cerveira e Sousa n o combate a o
proselitismo protestante (vid. n . ' 9 6 e 98) e da impe-
ratriz D. Amélia nos preparativos da fundação do
«Hospício da Princesa D. Maria Améliav. Faleceu
em Lisboa a 16 de Janeiro de 1868.
António João de França Bettencourt (1827-1882).
Doutorou-se em teologia e nesta faculdade exerceu o
professorado n a Universidade de Coimbra, publican-
do em u m volume a sua tese de concurso com o
título de «Verdade Filosófica do Mistério da Incar-
nação*. Foi u m dos mais distintos redactoras da anti-
ga Revista de Teologia. E r a natural da freguesia da
Calhêta e faleceu em Coimbra no ano de 1882.
José Gonçalves de Aguiar. Bacharel em teologia
e desembargador da cúria patriarcal, residia habitual-
mente em Lisboa e ali publicou alguns dos seus dis-
cursos e o Tratado da Penitência, em u m volume de
860 páginas, havendo colaborado em várias revistas e
jornais. Nasceu n a vila de Câmara de Lôbos n o ano
de 1831.
-
Feliciano João Teixeira (1843 1896). Cónego d a
Sé do Funchal e professor do Seminário Diocesano,
representou a Madeira em duas sessões legislativas,
sendo transferido para uma conezia da Sé Arquiepis-
copa1 de Évora n o ano de 1888 e faleceu naquela
cidade a 2 de Maio de 1896.
Patrício Moniz (1820-1898). O dr. Patrício Moniz
e o jesuíta Manuel Fernandes de S a n t a n a foram a s
mais altas mentalidades dos sacerdotes madeirenses
do século XIX, que neste lugar imperiosamente exi-
giriam largas e merecidas referências, se uma imposta
brevidade nos permitisse fazê-lo, como desejaríamos.
Patrício Moniz, depois de formado em direito civil
pela faculdade de Paris e de doutorado em teologia
pela a Universidade Pontificia » de Roma, fixou resi-
dência n a cidade do R i o de Janeiro e a l i se entregou
activamente ao serviço da Igreja n a prédica, n o magis-
tério, n o jornalismo e cultivo das letras, dedicando-se
de modo particular ao estudo das mais trescendentes
questões filosóficas, em que foi mestre consumado,
como O prova o seu livro Teoria da Afirmação Pura.
Publicou dois volumes com diversas produções literá-
rias e alguns dos seus discursos, tendo uma larga
colaboração em diversos jornais e revistas. Faleceu
em Lisboa a 28 de Fevereiro de 1898.
António Vicente Varela (1854- 1903). Bacharel
em teologia, cónego e professor do Seminário Dioce-
sano, dedicou-se activamente ao jornalismo, em que
sustentou porfiosas e inglórias campanhas, a s quais
lhe acarretaram os mais graves prejuísos e malque-
renças. Publicou alguns volumes, cujos assuntos não
desmentiram a s conhecidas lutas jornalísticas. Nasceu
n a freguesia da P o n t a do Sol e faleceu n o Funchal a
12 de Dezembro de 1903.
Alfredo Cesar de Oliveira (1840-1908). Cónego,
professor, orador, político e jornalista, adquiriu com
o seu raro talento e atraentes qualidades pessoais a
maior influência n o nosso meio, sendo algumas vezes
eleito deputado por êste arquipélago. Transferido para
uma conezia d a S é de Evora, faleceu naquela cidade
21
162 DIOCRSE DO FUNCHAL

a 14 de Abril de 1908. Foi o fundador do «Diário de


Notícias*, cujo primeiro número saiu a 11 de Outu-
bro de 1876. E r a natural da vila de S a n t a Cruz.
Manuel Fernandes de Santane (1864-.1910). Mem-
bro ilustre d a Companhia de Jesus, tinha frequenta-
do os afamados centros de cultura científica e lititerá-
rios, que a sua Ordem possuía em Espanha, n a
Alemanha e n a Holanda, adquirindo uma das mais
vais vastas ilustrações então conhecidas. Trabalhador
infatigavel, entregou-se apaixonadamente a o estudo,
a o apostolado católico, à defésa dos princípios religio-
sos n o campo científico e às lutas da imprensa, pro-
duzindo uma obra verdadeiramente notável, devendo
especializar-se os dois volumes O Materialismo em Face
da Sciencia e a Apologetica (Curso de Religião), de
que apenas foi publicado o primeiro volume. Faleceu
em Lisboa a 3 de Maio de 1910.
João Joaquim Pinto (1851-1919). Formado em
teologia pela Universidade de Coimbra e exercendo o
professorado n o Seminário Diocesano, foi o último
sacerdote que desempenhou o importante cargo de
deão da nossa S é Catedral. Possuía larga cultura e
publicou algumas obras sobre assuntos teológicos. Nas-
ceu n a freguesia do Pôrto do Moniz e faleceu n o
Funchal a 11 de Fevereiro de 1919.
D e todos êstes ecleriásticos se encontra u m a notí-
cia mais desenvolvida nas páginas do Elucidário
Madeirense.

Monumentos

E r a a S é Catedral o único edifício que entre nós


estava classificado como monumento nacional. Sòmen-
te a partir de 1940 -e 1943 é que também se acham
considerados como tais a igreja de S ã o João Evange-
lista (Colégio) e a igreja de Santa Clara e.depen-
dências do velho mosteiro, além do Palácio de
São Lourenço e da Casa da Alfândega. Pela mesma
época receberam a c1assif;cação de «imóveis de inte-
resse público» mais treze igrejas e capelas e conside-
radas ainda de ainteresse públicon diversas obras de
arte, que se encontram em alguns templos desta dio-
cese. N o Elucid. Mad. 11-394, vem publicada a rela-
ção completa dêsses «monumentos» e aimóveis de
interesse público».
É ocasião de fazer-se uma ligeira referência a o
monumento erigido a Nossa Senhora da P a z n o sítio
do Terreiro da Luta, freguesia do Monte, solenemen-
te inaugurado n o ano de 1927, e ao do Sagrado Cora-
ção de Jesus, n a P o n t a do Garajau, inaugurado n o
mesmo ano e mandado construir pelo conselheiro
Aires de Ornelas.
Índiee a1fabétieo

Aljube e Alçadas-pag. 152.


Aluviào de 1803- n.06 89, 91.
D. Ambrósio (Bispo) -n.O 36.
António Alfredo-n.0 95.
Arcebispado-n.0 34 e pag. 150.
Arguim -Vid. Desertas.
Associação Católica -n.O 107.
Athaíde (Bispo D. Joaquim) -n.O 90.
Bispado e Arcebispado-pag. 150.
Bispos do Funchal- pag. 131.
Bispos Madeirenses -pag. 134.
Bom Jesus (Igreja e Recolhimento) -n.O 65.
Brites da Paixão -n.0 77.
Cabido da Sé-n.0 26.
Capelas Antigas -,n.Os 4, 6, 20, 23 e pag. 153.
Capela- Monumento-n.0 120.
Câmara Elesiástica- n.0 43.
Carmo (Igreja do)-n.0 63.
Cemitério (Interdicto) -n.O 113.
Colegiadas -- n.O 40.
Colégio (Igreja do) -n.O 100.
Colonização (Comêço da) -n.O 1.
Comunidades Religiosas-5, 10, 11, 13, 18, 31, 62, 64, 66, 76,
77, 114, 118, 119 e pag. 140.
Conferências de S. Vicente de Paulo -n.O 109.
Consolação (Capela da)-n.O 61.
Constituições e Sínodos- n.O 51.
Culto Mariano -pag. 146
Damas de Caridade-n." 110.
Desembarque (Primeiro) -n.O 2.
Desertas e Arguim-pag. 151.
-
Dias Santificados pag. 147.
166 DIOCESE DO FUNCHAL

Diocese (criação da) -n.O 25.


Domínio Filipino -n.O 52.
D. Duarte (Bispo)-n.0 30.
Eclesiásticos mais distintos- pag. 154.
Embaixada ao Papa -n.O 28.
Freguesias-n.os 4, 8, 17, 24, 38, 42, 50, 70, 79, 87 e 99.
D. Henrique (Infante) -n.= 9.
Hospício da Princesa D. Maria Amélia-n.0 103.
Imprensa Católica -n.o 108.
Januário Camacho-n.' 97.
Junta Governativa do Bispado -n.O 104.
Juntas de Paróquia-n.0 115.
Juízo das Capelas-n.0 16.
Juventude Católica-n.0 122.
Lobo (Bispo D. João)-n.0 21.
Maçonaria-n.0 83.
Milagres (Capela dos) n.OQ, 91.
Misericórdia (Irmandade)-n.0 27.
Missões Evangdlicas-pag. 148.
Monumentos- pag. 162.
Mosteiro Novo-n.0 58.
Nossa Senhora do Calhau (Igreja de) n.O 89.
Nuno Cão -n.0 14.
Obra de S. Francisco de Sales-n.O 116.
Ordem de Cristo-n.0 7.
Paço Episcopal- n.0 78 e 81.
Padroeiros -pag. 145.
Pão de S. António-n.0 117.
Penha de F r a n ~ a(capela da)-n.O 57.
Pôrto Santo-n.OS 8, 35, 74.
Primeiras Freguesias- n.O 4.
Primeira Igreja- n.O 3.
Proselitismo Protestante-n.os 96 e 98.
Quarenta Mártires- n.O 48.
Sacrilégio -n.O 94.
D. Sancho ( Bispo) -n.O 37.
Santa Catarina- n.O 3.
Santo Servo de Deus-n.oV0 e 22.
São Tiago -n.OS 32 e 59.
Saque dos Corsários Huguenotes -n.0 44.
Saudades da 'Terra-n.os 54 e 106.
Schmitz (padre E.)n.O 123.
Sé Catedral-29, pag. 129.
Seminário-n.os 45, 112.
Senhor dos Milagres-n.O 15.
Sinodos-Vid. ..
Constituições
Tremor de Terra -n.O 80.
Zargo (João Gonçalves) - n.O 12.

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