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A História Não Contada da

Psiquiatria:
Crueldade, Tortura,
Eugenia e Dano Cerebral

A entrevista do autor do livro


MAD IN AMERICA, Robert
Whitaker
para o site The Street Spirit
Entrevistado por Terry Messman

(tradução: José C B Peixoto)

Street Spirit: Quais razões levaram


você a escrever um livro sobre a história de maus tratos da
psiquiatria? Parece que quando você começou a trabalhar
em uma história para o Boston Globe se abriu uma porta
inusitada.
Robert Whitaker: Sim, essa foi uma história peculiar; tipo
de uma entrada pela porta dos fundos, realmente. Em 1998,
eu comecei a escrever sobre os problemas em testes clínicos
de medicamentos psiquiátricos. Naquele ponto, eu decidi
fazer uma série para o Boston Globe sobre os problemas na
pesquisa psiquiátrica. Enquanto eu estava fazendo aquela
série, eu acabei encontrando acidentalmente estudos de
resultados que eu julguei surpreendente.
Um desses estudos era da Organização de Saúde Mundial
que mostrava que os outcomes (conseqüências, resultados)
para as pessoas com problemas de saúde mental eram
muito, muito melhores nos países mais pobres do mundo. A
propósito, os resultados desse primeiro relatório eram tão
surpreendentes, que eles repetiram tal estudo, mas eles
apresentaram os mesmos resultados. Quando eu perguntei a
pessoas o porquê disso, ninguém podia me dar uma boa
resposta. Eles só diriam, "Oh, bem, as famílias são bondosas
por lá," ou "essas sociedades são gentis." Realmente não
parecia muito verdadeiro.

Spirit: Nos países desenvolvidos, supostamente nós


avançamos mais em terapias e medicamentos; e mesmo
assim os resultados são piores aqui, com muito mais
pessoas presas em uma crônica e eterna doença mental?
Whitaker: Exatamente. Dessa forma isso realmente abriu
uma questão interessante que ninguém estava respondendo.
Uma outra coisa chamou minha atenção quando eu comecei
a examinar aqueles estudos da Organização de Saúde
Mundial. O que ninguém, e eu quero dizer: ninguém,
mencionou era que o uso de drogas anti-psicóticas era muito
menor nesses países pobres onde as pessoas acabavam com
pouca freqüência continuando sob medicação.
Então aqui você teve esta disparidade. Você tem nosso
paradigma médico, aqui, neste país, que diz que o
tratamento medicamentoso ininterrupto para alguém
diagnosticado com esquizofrenia é absolutamente essencial.
E mesmo assim os resultados e as taxas de recuperação são
muito, muito mais altos nos países pobres onde eles não
seguiram tal paradigma. Isso obviamente levanta uma
pergunta: Existe algo errado com nosso paradigma?
O outro estudo que se encaixa com os já relatados foi feito
por pesquisadores da Escola Médica de Harvard que, em
1994, examinou para resultados ao longo de séculos para
pacientes com esquizofrenia, e concluíram que os resultados
realmente não melhoraram desde 1900, quando as terapias
empregadas eram “terapias da água”. Novamente, isso era o
oposto da história que nós contamos a nós mesmos. A
história que nós contamos para nós mesmos é que nós
estamos conseguindo drogas sempre melhores e nós
estamos conseguindo sempre melhores entendimentos da
"biologia" da doença esquizofrenia.

Spirit: Você é um dos poucos escritores que ousou desafiar


a história medicamente aceita de que as drogas anti-
psicóticas e os recentes medicamentos de última geração
são o único caminho para tratar o que denominamos
esquizofrenia.
Whitaker: Foi isso que realmente me atraiu para essa
história, o fato é que existe um sistema de crenças em pleno
vigor - que a propósito, eu compartilhava desse sistema
quando eu comecei este livro. Quando eu estava fazendo
aquela série para o Boston Globe sobre pesquisa psiquiátrica,
eu absolutamente acreditava no senso comum de que estas
drogas anti-psicóticas realmente melhoraram as coisas e que
elas totalmente revolucionaram a forma como nós tratamos
a esquizofrenia. Tais pessoas costumavam ser presas para
sempre, e agora embora talvez as coisas não fossem tão
boas, já seriam muito melhores. Era uma história de
progresso. Eu acreditei nisto, e eu acreditei que as drogas
eram essenciais e eram "como insulina para diabete," porque
foi assim que eu fui informado.

Spirit: O que levou você, então, a desenvolver uma crítica


tão ampla da história inteira da psiquiatria?
Whitaker: Eu fiz a série para o Boston Globe, e eu
realmente não fiquei satisfeito com que eu entendi até
aquele ponto porque existia um mistério lá fora que
precisava ser explorado, e é por isso que eu fiz o livro.

Spirit: Uma das revelações de seu livro é o modo de que ele


dá a voz para aos verdadeiramente sem voz. Os pacientes
testemunham sobre os efeitos devastadores do eletro-
choque, lobotomia, coma por insulina e drogas
neurolépticas. Suas vozes são surpreendentemente
diferentes daquilo que o establishment psiquiátrico reportou
sobre tais terapias.
Whitaker: Oh, isto é um grande ponto. Quando eu estava
fazendo essa primeira série no Globe, tudo isso começou a
ser publicado – de que a história do quão eloqüentes eram
as terapias, o quão essenciais eram os medicamentos, isso
não era compartilhado pelos próprios clientes. Então você
imediatamente percebe que existia uma perspectiva
diferente, uma compreensão diferente e uma história
diferente a ser informada.
Você fala sobre dar a voz aos sem voz. Quando eu comecei a
ler histórias de psiquiatria, as vozes daqueles que eram
tratados estavam absolutamente omitidas. Simplesmente
não estavam lá! O que é atordoante. Você pergunta às
pessoas por que tais vozes não estavam lá, e eles dizem,
"Bem, eles são testemunhas inconfiáveis." Ou, "Eles nem
sabem que estão doentes." Você sabe a história toda. Mas
isto é obviamente incrivelmente ridículo. É realmente
obsceno.

Spirit: Por que você acha "obsceno" que tais vozes foram
omitidas das histórias que você pesquisou?
Whitaker: Porque é como fazê-los não serem pessoas. Eles
não contam. Sua experiência não conta. Nós sabemos
quando você fizer algo semelhante para alguém, isto é um
ato obsceno, se isso foi feito para judeus ou escravos ou
qualquer pessoa oprimida. Nós viemos a entender que negar
experiência de alguém, negar isto, é uma coisa obscena a
ser feita. E ainda assim, para grupos como esse, como
sociedade, nós ainda não permitimos que eles falem por si
mesmos.
Pense sobre quem fala atualmente sobre doença mental
neste país. Raramente alguém denominado de mentalmente
doente fala por isso. Quando eles fazem um artigo no jornal
que será uma citação da NAMI [Aliança Nacional para
Doentes Mentais] com o ponto de vista da família, ou então
lá estarão as companhias farmacêuticas ou os médicos. Mas
com que freqüência você realmente consegue o ponto de
vista do paciente? É com muito pouca freqüência.
Isso foi uma das coisas que eu resolvi fazer, examinar a
história oficial através da história, porém contando o que os
pacientes por si mesmos estão dizendo sobre tais terapias. E
que seja permitido examinar, numa perspectiva histórica,
qual grupo parece ser mais preciso, mais verdadeiro - em
outras palavras, qual a história se sustentará com o passar
do tempo. Por exemplo, se você lembrar-se dos pacientes
submetidos ao eletro-choque nos anos 1940 que tiveram que
ser arrastados para fora da mesa. Bem, naquele momento,
claro, a história foi de que era isto seria bom para eles,
certo? Mas o que nós sabemos hoje? Nós sabemos que isso
foi tão abusivo quanto o inferno. Foi horrível.

Spirit: Naquele momento, os psiquiatras re-asseguravam ao


público que aquilo era absolutamente indolor e que oferecia
grande alívio aos seus sintomas; a despeito de que os
pacientes freqüentemente tinham que ser arrastados, e iam
esperneando e gritando para a sala do eletro choque...
Whitaker: Exatamente. E existe uma lição para ser
aprendida aqui: Se você ignorar a voz daqueles tão tratados,
você faz corre um grande perigo de cometer um dano real.
De fato, como nós vemos com o correr da história, a
perspectiva que vai se comprovar como verdade, é quase
inevitavelmente aquela daqueles que foram “tratados”. As
histórias dos próprios pacientes, cada vez mais, se parecerão
mais corretas e mais precisas, o que nos trará uma outra
perspectiva desse processo histórico. Você questiona sobre
dar vozes para aqueles sem direito de falar. Você não pode
contar com precisão a história da psiquiatria, a história dos
tratamentos para os mentalmente doentes neste país, sem
dar escuta para aqueles que foram sujeito dos tratamentos.
É altamente incompleto sem isto!

Spirit: Uma de suas surpreendentes percepções diz respeito


a quantos tratamentos psiquiátricos deliberadamente
utilizavam "terapêutica prejudiciais ao cérebro." Isto é uma
linha comum que liga o eletro-choque, o coma por insulina, a
lobotomia e as drogas neurolépticas. Estas terapias são
propositadamente projetadas para danificar o funcionamento
mais sofisticado do cérebro, e o público não conhece isto.
Ainda atualmente, os psiquiatras admitem que estes
tratamentos "trabalham" deliberadamente incapacitando
funções mais elevadas do cérebro.
Whitaker: Sim, e mais uma vez, isso parece assombroso.
Existe uma linha comum entre os tratamentos e as
intervenções médicas ao longo dos últimos 200 anos, a cada
época, sempre pareciam funcionar. Se você fosse um médico
e você estivesse dando uma destas terapias: vamos dizer
que seja uma sangria, ou se você está prendendo alguém
em uma “cadeira tranqüilizante” ou você está dando choques
50 vezes ou você está envenenando alguém com uma
terapia convulsiva com metrazol - você precisa acreditar que
tudo isso funciona.
Então a linha comum que você começa a descobrir é como
eles definem o que é eficiência ao lidar com um doente
mental: a eliminação de sintomas. Abatendo os sintomas
você não vê estes tipos de fantasias selvagens, e pelo menos
eles não estão exibindo as alucinações e o comportamento
que podem estar perturbando aos outros.
Então como eles fazem isto? Bem, está posto que você pode
derrubar aquelas alucinações, paranóia, pensamentos
selvagens, ouvir vozes, etc. Você pode abater tudo isso
diminuindo a função do cérebro, o que faz sentido porque o
cérebro é necessário estar em operação para que os
pensamentos funcionem deste modo. E isso que você vê de
tempos em tempos repetidamente na psiquiatria - coisas do
tipo que debilitam pessoas, coisas que derrubam os
processos cognitivos mais elevados. Questões que realmente
vieram a serem usufruídas na primeira metade do século 20,
quando nós tivemos o florescente movimento da eugenia
neste país, que desvalorizou completamente o mentalmente
enfermo como ser humano, que os enxergavam como se
fossem ameaças para a saúde social.

Spirit: A psiquiatria tentava “avançar" assaltando o cérebro


com o eletro-choque ou a lobotomia, e agora com a mais
nova geração de neurolépticos: as drogas atípicas - que são
de fato um ataque ainda mais severo ao funcionamento
químico das funções mais elevadas do cérebro e ao sistema
de transmissão da dopamina.
Whitaker: Nenhuma dúvida que sobre isto. E isso realmente
foi conseguido na medida em que nós aprendemos mais
sobre o cérebro a partir do início do século 20. Agora você vê
a agressão, vamos dizer, nos anos 1940, tornando-se muito
mais explícita. Se você voltar e ler os jornais médicos
naquele tempo quando eles eram mais honestos, você verá
pessoas que escrevem sobre as "terapêuticas prejudiciais ao
cérebro" (“brain-damage therapeutics”). Era assim que era
denominado.

Spirit: Essa é uma frase incrivelmente desumana.


Whitaker: Mas eram as palavras da época, não são minhas
palavras. E eles contariam sobre como eles tiveram essa
evolução desde o eletro-choque. O que eles diriam sobre o
eletro-choque é isto, que abatia as funções mais elevadas do
cérebro para um breve período; entretanto como as pessoas
se recuperavam desse trauma, as ilusões e as alucinações
retornavam. Então eles diriam que você tem que fazer
repetidamente o eletro-choque 30, 40, 50 vezes, então se
estabelecia um dano cerebral, em essência, isso se tornaria
permanente.
Então nós conseguimos a lobotomia que, obviamente, estaria
desconectando a maior parte do cérebro que nos torna um
ser humano, o que nos distingue de primatas mais inferiores.
Nós desconectamos essa região e nós sabemos que isto é
um dano cerebral, mas o que eles diziam àquela época? Era
tratado como uma milagrosa terapia do cérebro e o sujeito
que inventou isto [Egas Moniz, um neurologista português]
conseguiu o Prêmio Nobel em medicina. Mas era realmente
curioso como eles falavam a respeito dos pacientes naquele
tempo. Eles falavam sobre abater pessoas até um "nível
mais baixo de Ser." Isso era considerado um bom resultado.

Spirit: Embora eles estivessem eliminando muita de sua


personalidade, suas emoções, sua memória – até, às vezes,
sua habilidade física para funcionar. Acabar em um estado
vegetativo era racionalizado como um bom resultado?
Whitaker: Exatamente.

Spirit: Como a psiquiatria declarou que isto era um


benefício? Porque as pessoas ficavam mais sossegadas nos
asilos psiquiátricos?
Whitaker: Basicamente, essa é a resposta. Eles ficariam
mais quietos nos asilos, mais fáceis de administrar, e isto foi
realmente a resposta. Em resumo, é isso.

Spirit: E após uma lobotomia, talvez eles não tivessem


tantas alucinações porque para tal se exige um intelecto
além da capacidade de imaginação e das emoções para que
alguém viva naquele mundo interno de fantasias.
Whitaker: Exatamente. Na verdade, você veria Walter
Freeman, que era o promotor pioneiro de lobotomia neste
país, fazendo exatamente aquela declaração. Eles diriam:
Correto, existiria um pouco de prejuízo nisso e as pessoas se
tornavam menos criativas; elas, subitamente, não ficariam
mais interessadas em tocar o piano. Ele falaria sobre como
alguns de seus pacientes, que antes de lobotomia, amavam
tocar piano, ou adoravam fantasiar sobre que a história, de
como seria, digamos, se os índios americanos tivessem
ganhado. Em outras palavras: pensamentos extraordinários,
pensamentos interessantes, pensamentos criativos,
pensamentos poéticos.
E eles diriam: correto, você perde tudo aquilo; mas em
compensação, nós conseguimos uma pessoa mais facilmente
administrável. Freeman diria que eles não têm mais emoções
fortes. Eles gostam de comer e eles engordam. Mas eles não
se incomodam, e eles realmente não se importam com ter
interações sociais, assim eles não são de fato, mais tristes, e
isso era visto como muito bom. Eles eram mais fáceis de ser
impedidos de fugir, e mais dóceis para as normas asilares, e
provavelmente mais baratos também.

Spirit: As drogas anti-psicóticas foram, possivelmente, um


caminho mais preciso para danificar o cérebro ao corromper
o sistema de transmissão da dopamina. O que, basicamente,
resultava era o mesmo: as funções mais nobres do cérebro
eram subjugadas e o indivíduo se tornaria mais vegetativo.
Essa seria a linha comum e é por isso que alguns pacientes
comparam estas drogas como lobotomias químicas?
Whitaker: Isso era uma linha comum, e não foram apenas
os pacientes que chamaram as drogas de lobotomias
químicas. Nos anos 50, quando as drogas entraram, a
cirurgia da lobotomia ainda era vista como uma coisa
positiva. Esse era o sistema de crenças da época, lembra? O
inventor da lobotomia acabou por ganhar um Prêmio Nobel
no início dos anos 50 quando estava sendo introduzidas tais
drogas. Nós estávamos ainda usando repetidos eletro-
choques. Nós ainda estávamos agarrando truculentamente
os pacientes, perseguindo-os corredor abaixo, e os
prendendo em amarras, e os forçando ao eletro-choque.
Então as drogas entram em cena e é realmente fascinante a
leitura da literatura médica daquele tempo, porque eles
falavam sobre como as drogas como Thorazine (no Brasil:
Clorpromazina, (Amplictil®)), Haldol e demais neurolépticos
provocavam uma mudança num indivíduo -- uma mudança
semelhante àquela obtida com a lobotomia. E isso era
percebido de um modo muito positivo.
As pessoas ficaram mais quietas, menos comprometidas
emocionalmente com seu meio ambiente? Sim, e isso era
visto positivamente. Eles se tornaram mais letárgicos em
seus movimentos? Sim, e isso era visto como bom. Eles se
importaram menos com eles mesmos, o que é uma função
dos lóbulos frontais? Sim, e isso era visto positivamente.
Fisiologicamente, ao perseguir esse aspecto, e nós
conhecemos isso, realmente, é dessa forma que as drogas
neurolépticas funcionam. Elas bloqueiam profundamente a
transmissão de dopamina. Por exemplo, se você pegar um
macaco e fizer uma lobotomia, e assistir como se comporta;
e por outro lado, se nós dermos a outro macaco
clorpromazina e bloquearmos a transmissão da dopamina do
lóbulo frontal, você observará um comportamento bem
semelhante. A diferença principal é que a lobotomia não
danifica o controle motor, considerando que isso as drogas
também fazem. É por isso que essas drogas resultam em
sintomas da Síndrome de Parkinson, discinesia tardia, e
todas aquelas outras deficiências orgânicas motoras que
evoluem com o passar do tempo. De certa forma, os
neurolépticos standards são mais amplos em suas
capacidades de reduzirem a atividade mental do cérebro do
que as lobotomias frontais.

Spirit: Incrível. Os elogiados neurolépticos são mais


destrutivos do sistema motor do que as lobotomias?
Whitaker: Bem, eles seriam absolutamente destrutivos ao
sistema motor. Quando a clorpromazina e o haloperidol
foram introduzidos, eles realmente afirmavam que você
saberia que foi alcançada uma boa dosagem quando você
começar a obter sintomas de Parkinson.

Spirit: Então sintomas do Parkinson seria o resultado


desejado?
Whitaker: Exatamente. Você manejaria as doses desses
medicamentos até que um indivíduo estivesse conseguindo
tremores e mostrasse dificuldades de iniciar os movimentos
voluntários. Nesse ponto, eles diriam, "Ah! nós obtemos uma
dose eficiente." Ocorreu uma conferência psiquiátrica famosa
em 1956 em que eles disseram que isto é o sinal: nós
aumentamos a dose até ser obtido o Parkinson.
Agora por que nós conseguimos o Parkinson? Você chega ao
Parkinson porque você está criando com as drogas a mesma
deficiência na transmissão de dopamina que você consegue
com a doença propriamente dita. Então não é realmente só
um efeito colateral. O problema com o sistema motor é um
efeito direto. Os sintomas de parkinson são absolutamente
um efeito direto da queda da transmissão da dopamina. E
nós já sabemos o quão profundo isso é. As drogas bloqueiam
algo entre 70 a 90 por cento de um tipo particular de
receptor de dopamina, o receptor D2.
Dessa forma as drogas bloqueiam mais ou menos 80 por
cento de seu nível normal de dopamina. E você consegue
sintomas da Doença de Parkinson quando você perdeu mais
ou menos 80 por cento dos neurônios dopaminérgicos no
cérebro. Então você está criando a mesma deficiência. Não é
um efeito colateral – é um efeito direto.

Spirit: Então os sintomas do Parkinson são efeitos


deliberadamente pretendidos, uma vez que eles sabem que
isso é inevitável?
Whitaker: Bem, isso não só é inevitável, como é parte do
tratamento! Realmente, esse é o meio de examinar os
neurolépticos comuns. Primeiro, nós temos uma droga que,
como um efeito direto, diminui sua capacidade de controlar
os movimentos. Segundo, como um efeito direto, derruba a
atividade no sistema límbico do cérebro onde nós
estabelecemos as respostas afetivas para o mundo. É por
isso que indivíduos sob uso de clorpromazina e haloperidol
não estão muito comprometidos (com o meio ambiente).

Spirit: Eles são emocionalmente “planos”, freqüentemente


muito distantes.
Whitaker: Sim, porque você está subjugando essa parte do
cérebro. Então finalmente, ao subjugar os lobos frontais,
você tem pessoas que não estão muito motivadas, porque é
nos lobos frontais o local onde nós nos importamos conosco
mesmos e temos preocupação com o futuro. Portanto, esses
são efeitos diretos. Então essa é a questão, seria como um
efeito colateral, o que nós conseguimos como redução dos
sintomas psicóticos, alucinações e vozes?
Nós temos todas estas perdas: redução dos movimentos,
redução dos sentimentos e afeto, redução da habilidade de
gostar da si mesmo. É por isso que muitos pacientes
odiavam estas drogas, Amplictil® e Haldol®. Absolutamente
odiavam.
Agora temos a próxima surpresa. Você iria pelo menos
considerar cuidadosamente isto, você conseguiria uma
redução dos sintomas almejados de psicose, especialmente
considerando o quanto nós temos com todos esses efeitos
negativos. Mas a coisa mais surpreendente é isto, com o
passar do tempo, ao invés de obter uma redução na psicose
nas pessoas tratadas com estas drogas e sob este
paradigma, você realmente vê um aumento comparado ao
grupo de pacientes tratados com placebo!
Então, mesmo em relação aos sintomas alvo, que
supostamente nós estamos derrubando com estas drogas,
com o passar do tempo você percebe uma enfermidade
ainda mais crônica. Isso completa este retrato do quanto é
assombrosamente injusto esse paradigma. Nós conseguimos
todos estes efeitos negativos sendo impostos às pessoas que
tiveram o infortúnio de terem esses diagnósticos; mas no
final, mesmo quanto aos sintomas alvo, você vê maior
cronicidade na psicose. Você percebe o fracasso sob qualquer
olhar que dirija a tal tratamento.

Spirit: Você entende que deve ser por isso que os estudos
da OMS mostraram que os pacientes nos Estados Unidos são
mais propensos à uma esquizofrenia de longo curso em
relação aos pacientes de países pobres onde não estão
sendo prescritos neurolépticos pelo resto da vida dessas
pessoas?
Whitaker: Penso que seguramente essa é resposta correta.
O que acontece, no curso natural daqueles diagnosticados
com esquizofrenia, numa boa porcentagem, se não tratados
com as drogas, é que eles melhoram ou se recuperam.
Durante o estudo da OMS, só 16 por cento de pacientes em
países subdesenvolvidos são mantidos sob uso de drogas,
ainda assim eles tiveram aproximadamente 65 por cento na
categoria dos melhores resultados. Até em nossos próprios
estudos, se você reportasse aos tempos quando eram
tentadas alternativas sem o uso de medicamentos, você
veria mais de 50 por cento de bons resultados em follow-ups
de dois anos a de três anos.
Se você examinar para o espectro natural das pessoas
diagnosticadas com esquizofrenia ou desordem esquizo-
afetiva, e se você não os tratasse com drogas, algo ao redor
de pelo menos 50 por cento, após um período de seis meses
a um ano, se recuperaria e continuaria com suas vidas. Mas
o que acontece uma vez que você os põe sob estas drogas, e
os mantém sob essas drogas, você os empurra para uma
cronicidade vitalícia! Eu acredito que existe acachapante
evidência que mostra que é isto que realmente acontece. É
por isso que a Organização de Saúde Mundial encontrou esta
diferença nos resultados - crônicos nos Estados Unidos
contra muitas pessoas que se recuperam nos países mais
pobres.

Spirit: Seu livro documenta como essas drogas funciona ao


induzir uma patologia no cérebro corrompendo um
neurotransmissor, a dopamina. Atualmente o retrato que a
psiquiatria apresenta ao público seria de que aquelas drogas
anti-psicóticas realmente funcionam como “cura” à psicose,
ou funcionam ao harmonizar uma química cerebral
desorganizada. Você ficou surpreso com a amplitude de tais
pretensões?
Whitaker: Enquanto eu estava fazendo a pesquisa, poderia
haver essas constantes surpresas, de maneira que eu não
podia acreditar no que eu estava encontrando. Essa é uma
delas, e isso é absolutamente assombroso. Ainda me
assombra. É fraude médica – essa é a única maneira de se
descrever isso.
A história, como você disse, era que eles sabiam que essas
drogas bloqueavam a atividade da dopamina, e de forma
muito profunda. Então eles construíram a hipótese de que as
pessoas com esquizofrenia deveriam ter dopamina demais
em seu cérebro para ficar assim; e então ao bloquearem
esse neurotransmissor, nós estaríamos ajudando a
“equilibrar” a química do cérebro. Isto é a história que está
ainda sendo divulgada, de que os neurolépticos são “como
insulina para diabete.” Assim se construiu tal história, e você
pode ler isto em livros de ensino médico nos anos 80. De
maneira interessante, entretanto, ao mesmo tempo em que
isso estava sendo dito, nos anos 80, toda a evidência
mostrava exatamente o oposto. A evidência demonstrava
que antes dos medicamentos, as pessoas com esquizofrenia
não tinham uma química anormal da dopamina.
Então os medicamentos neurolépticos bloqueiam o sistema
da dopamina - em outras palavras, eles estão criando uma
anormalidade neste importante neurotransmissor. Em
resposta, o cérebro tenta lidar com aquele bloqueio de duas
maneiras. Inicialmente, ele tenta liberar mais dopamina, e
em seguida o cérebro começa a destruir a sua habilidade de
fazer isto. Então ele cria de fato mais receptores de
dopamina. Então se você olhar para o cérebro de uma
pessoa que tem estado sob uso de neurolépticos, eles tem
muito mais receptores de dopamina que o normal.
Você realmente está criando o muito problema - muitos
receptores de dopamina - que seria a explicação de como se
iniciaria a esquizofrenia. Seu cérebro agora fica hipersensível
à dopamina - em outras palavras, fica anormal. Nós já
tínhamos descoberto por volta de 1979 como o seu cérebro,
quando criava estes receptores extras de dopamina,
realmente se tornava mais vulnerável para a psicose. Então
em 1979 nós realmente tínhamos uma boa noção, na
literatura de pesquisa, de que esta história toda de que as
drogas normalizaram a química cerebral era uma mentira; e
nós também já sabíamos que nós estávamos colocando o
cérebro para fora de seu modo normal de funcionar, e que
isso levaria à uma maior vulnerabilidade para a psicose.

Spirit: Mas eles não informaram ao público?


Whitaker: Sabe, naquele momento, a obrigação moral de
medicina era informar aquilo para os pacientes. Pelo menos
você teria que ser honesto sobre isto, e você teria que
investigar isto. Você está pronto para isso? Em 1998, essa é
a peça final deste quebra-cabeça, a Universidade da
Pennsylvania fez um estudo MRI em que eles estudavam
pessoas medicadas com neurolépticos. Eles encontraram que
realmente os cérebros daquelas pessoas muito tratadas
começavam a exibir mudanças no volume cerebral. Então
você começa a ver uma redução dos lobos frontais e um
crescimento dos gânglios basais.
Então agora nós estamos vendo mudanças morfológicas no
cérebro. E aqui está a prova concludente: eles verificaram
que aquelas mudanças no volume do cérebro eram
associadas com uma agravação dos sintomas alvo. Então o
quebra-cabeça agora todo se fecha, não é mesmo? Isso se
coaduna com o estudo da Organização Mundial da Saúde.
Isso informa porque as pessoas estão ficando crônicas -
porque você está dando a elas um agente que causa uma
anormalidade na função do cérebro, e essas mudanças
causam no cérebro uma psicose ainda pior.
Spirit: E isso prende os pacientes ao que se chama, a longo
prazo, de “esquizofrenia medicada.”
Whitaker: Oh, exatamente. O que acontece depois destas
mudanças se estabelecerem é que você não pode sair destas
drogas facilmente, porque você fica com um cérebro
alterado. Então quando você largar dessas drogas, e você
tem uma recaída e se torna psicótico novamente, eles
dizem; “Ahá, veja, você precisa das drogas!” Mas na
verdade, o que nós temos são pessoas que ficaram com
mudanças cerebrais e é por isso que eles não estariam
ficando bem quando eles fossem abruptamente retirados
dessas drogas.

Spirit: Um dos efeitos colaterais do neurolépticos é a


discinesia tardia, uma forma severa de déficit motor
orgânico. Sua pesquisa mostrou como um cientista do NIMH,
George Crane, advertiu sobre a discinesia tardia por anos,
porém foi ignorado pela Associação Psiquiátrica Americana,
que negligentemente recusou divulgar essa advertência. O
que isso revela sobre “consentimento informado”?
Whitaker: Nós estamos falando sobre a história em que
você vê um grupo de pessoas de modo algum tratadas de
acordo com os valores que nós habitualmente acreditamos.
Primeiro, a discinesia tardia não é somente uma inaptidão
motora. Isto é como parece; você percebe o movimento
rítmico da língua constantemente se movendo em suas
bocas e você verá desfigurantes tiques faciais, além de
outros movimentos como tiques constantes das mãos e pés.
Então isso se parece com sintomas físicos, mas muitos
estudos verificaram que você está realmente tendo uma
ampla e generalizada deficiência orgânica cognitiva, um tipo
amplamente difundido de deficiência orgânica permanente
no cérebro. Isto é a coisa mais horrível que pode acontecer
com um ser humano.
Agora me deixe falar sobre a história de como nós
advertimos as pessoas sobre isso. Os primeiros sinais disso
surgiram nos anos 1950. Os estudos e correspondências
começaram a aparecer sobre este estranho acontecimento.
Aproximadamente cinco por cento das pessoas colocadas sob
essas drogas começavam a desenvolver a discinesia tardia
ainda o curso do primeiro ano de uso.
George Crane, um psiquiatra e pesquisador do Instituto
Nacional de Saúde Mental (NIMH), começou a tentar dar o
sinal de alarme sobre isso no final dos anos 1960. Ele
comparava isso a doenças como doença de Huntington, que
é uma doença horrível, uma enfermidade devastadora. Crane
dizia que nós estávamos vendo aquele tipo de deficiência
orgânica.
Bem, a psiquiatria não queria ouvir sobre isto, o FDA não
queria ouvir sobre isto. Eles não queriam nem mesmo
colocar essa advertência nas embalagens desses
medicamentos. Mas Crane continuou a bater nessa tecla, e
finalmente você começou a ver o FDA disposto a colocar essa
advertência. Mas agora a Associação Psiquiátrica Americana
não está disposta a reconhecer isto; porque reconhecer isto
é para reconhecer que seus populares medicamentos, dos
quais eles são tão orgulhosos, estariam causando este
abominável dano. E, claro, você tem processos judiciais
prontos para criarem asas na espera de que eles admitam
isso.
Isso remonta até aos anos 1980s quando a APA decide
enviar uma correspondência que adverte aos seus próprios
membros. Eles estudam isto e promovem forças tarefa, mas
eles continuam adiando e se escamoteando. Até que os
processos começam a serem instalados de forma que a APA
finalmente libera esse rótulo de advertência.

Spirit: Naquela altura, o senso comum acreditava que as


drogas neurolépticas eram seguras e muito efetivas. Os
psiquiatras e a mídia popular reportavam isso, repetidas
vezes, por décadas.
Whitaker: Pense sobre o engodo sob o qual estamos
conversando. E você sabe que consegue os piores resultados
em crianças e nas pessoas de idade avançada, que
pareceram ser as mais vulneráveis para a discinesia tardia.

Spirit: E mesmo assim eles estavam dando estas drogas


para os delinqüentes juvenis e assim criando adolescentes
inválidos?
Whitaker: Realmente, reflita sobre isto. E eles recebiam
uma droga que numa certa porcentagem acabaria criando
uma forma permanente de deficiência orgânica cerebral. E
você também estava observando mortes precoces com estas
drogas, morte súbita. A deslealdade com os seres humanos
nesse momento é inominável.

Spirit: Políticos soviéticos dissidentes confinados em


instalações psiquiátricas daquele país descrevem que
estiveram sendo involuntariamente medicados com
neurolépticos, e que tinham nisso a pior forma de tortura. A
mídia dos Estados Unidos e oficiais do governo ficavam
horrorizados com esse tratamento e denunciavam isto como
abuso aos direitos humanos, agora fica óbvio que fizemos
exatamente aquilo que clamávamos contra pacientes aqui
nos Estados Unidos. pois os neurolépticos seriam
terrivelmente prejudiciais. Como nós falhamos em fazer essa
conexão, de que a mesma coisa estava acontecendo por
aqui?
Whitaker: A capacidade que os poderosos têm em qualquer
país, e para um grupo médico como os psiquiatras, de iludir
a si mesmos é infinito. O poder governante e os médicos
vêem a si mesmos como fazendo o bem, e é mais fácil ver
pessoas em um país estrangeiro fazendo coisas ruins. Como
você classifica isto?
O New York Times, em reportagens com as audições
relacionadas ao tratamento de dissidentes soviéticos, disse
que dar essas drogas neurolépticas tornavam as pessoas
vegetativas. O New York Times dizia que isso era uma forma
de “câmara de gás mental.” Mas eles encobriram a pesquisa
sobre o tratamento forçado com medicamentos às pessoas
mentalmente doentes nos Estados Unidos e eles divulgarão
sobre como as drogas são reconhecidas em serem
amplamente eficazes.
Como você pode dizer que o uso de neurolépticos como o
Haldol® seria uma forma de tortura para dissidentes
soviéticos, e ao mesmo tempo há pessoas nos Estados
Unidos sendo tratadas sob uma forma sob as quais se
poderiam fazer exatamente as mesmas acusações? Uma
mesma droga, quando é dada para uma pessoa soviética,
nós afirmamos que é uma tortura; mas quando essa droga é
oferecida para alguém em nosso país, nós afirmamos que é
uma benesse.
É ultrajante. Então se diz que um enfermo mental “não sabe
que isso é conveniente para ele.” Então eles são submetidos
a ficarem uma vez mais sem voz! Nós respeitamos a visão
de um dissidente, de como ele percebe essa questão, mas
nós não respeitamos uma pessoa mentalmente enferma. Nós
negamos seu ser. Nós negamos sua realidade subjetiva.
Como uma sociedade, nós mentimos para nós mesmos. Nós
nos iludimos de uma forma ou de outra, e a nossa
capacidade de nos iludir é notável.

Spirit: Seu livro relata como os psiquiatras deram


mescalina, LSD, e anfetaminas para pacientes não
informados, o que deliberadamente piorava seus sintomas,
mas mesmo assim não os informando desse perigo. Por que
você acusa que tais experiências violam o Código de
Nuremberg, que foi criado em resposta às experiências
médicas nazistas?
Whitaker: Isto foi minha iniciação em toda essa história. Eu
cheguei acidentalmente a estas experiências projetadas para
tornar as pessoas piores. Eu não poderia acreditar nisto.
Aquilo não fazia sentido. O Código de Nuremberg emergiu
frente às terríveis experiências nazistas realizadas naquela
época na Alemanha. Basicamente, você não deveria causar
qualquer dano a um paciente em tratamento médico; e
mesmo que você o colocasse em perigo, a premissa
fundamental é que deve ser permitido que eles tenham pleno
conhecimento do que está acontecendo, e da forma mais
honesta possível, você tem que informá-los de quaisquer
riscos. Você não pode mentir para eles sobre o propósito de
experiências, e você não pode mentir para eles sobre os
riscos!

Spirit: Ainda hoje, e em repetidas vezes, tem sido isso o


que psiquiatras dos Estados Unidos têm feito para com seus
pacientes. Eles conduziram experiências muito arriscadas
com drogas e lobotomias sem alertá-los sobre os riscos.
Whitaker: Nenhuma dúvida que sobre essa questão. Eles
diriam para si mesmos que eles só estavam tornando seus
pacientes “um pouquinho piores” uma vez que lhes
administrassem LSD, mescalina ou anfetaminas, na
expectativa de que eles aprenderiam algo a mais sobre a
química da doença, e isso valeria a pena. E eles ainda
afirmariam que, de qualquer forma, estas pessoas são
loucas, então como poderia ser possível informar-los o que o
médico vai fazer? Foi assim que eles racionalizaram sobre
isto em suas próprias mentes.
Logo você percebe que você não está tratando tais pessoas
como seres humanos. Você não está dando a eles os
mesmos direitos ou aplicando o mesmo sistema de valor.
Então está errado, está terrivelmente errado. Isso viola o
Código de Nuremberg. Então você vê este padrão de
exploração, nesse momento percebe o quão grotesco isso se
tornou. Eles poderiam enumerar qual a porcentagem de
pessoas já psicóticas que se tornaram ainda muito piores por
usarem anfetaminas. Supostamente, isso poderia ensinar
algo sobre o sistema de neurotransmissor. Isso ainda assim
não seria a verdade, mas era isso que continuavam dizendo
a si mesmos.

Spirit: Você descreveu um homem diagnosticado como um


neurótico, não um psicótico, cujos sintomas eram tensão e
inabilidade para relaxar. Ele recebeu mescalina
deliberadamente para ativar as alucinações e o pânico, após
isso ele foi lobotomizado e novamente dado mescalina. Isso
é absolutamente chocante.
Whitaker: Paul Hoch [diretor de pesquisa do Instituto
psiquiátrico do Estado de Nova Iorque] descobriu que você
poderia tomar uma pessoa neurótica e levá-las à psicose
com LSD e mescalina. Então ele decidiu lobotomizar esses
indivíduos para ver se eles ainda poderiam ficar psicóticos.
Então ele os lobotomizou, e então deram a eles mescalina e
LSD. Se ele não pudesse torná-los psicóticos, então ele
confirmaria que uma psicose pode ser localizada em algum
lugar do cérebro que você inutilizou. Reflita sobre isto!
Ele acabou de sacrificar aquelas pessoas! Aquelas pessoas
ficavam neutralizadas, como um honroso sacrifício para a
pesquisa, tanto quanto você sacrificaria um gato. E ninguém
se importaria. E você sabe o que é mais interessante? Após o
livro ser publicado, imaginei que aconteceria algo junto a
imprensa sobre isto. Mas ninguém se importou. Eu já dei
muitas, muitas entrevistas, e você é uma das primeiras
pessoas a me perguntar sobre isto.

Spirit: Você verificou que esses tipos de experiências


continuaram por 50 anos?
Whitaker: Em 1998, você podia ainda encontrar
experiências onde eles tomariam pessoas agitadas em
quartos de emergência, um primeiro episódio. Então vamos
dizer que você tem uma criança, e ela está em grande
dificuldade, e eles fariam uma experiência nela, ao invés de
fazer algo que pudesse dar suporte e auxílio à sua
perturbação afetiva. Pelo contrário, eles dariam a ele
anfetaminas ou Ritalina®, para observar se isso o tornaria
ainda pior. Imagine isto!
Então, no final de contas, quando você olhar para o
"consentimento informado" (informação de ficha de
atendimento), às vezes eles diriam aos pacientes que eles
estavam administrando medicamentos. Mas você nunca iria
ver no "consentimento informado" de que eles estariam
administrando um agente medicamentoso cuja expectativa é
torná-los pior. Então esta pesquisa está sendo feita em uma
arena de mentiras, a única maneira de fazer isso. É um
sistema de crenças que não reconhece este grupo das
pessoas como seres humanos.

Spirit: Este tratamento dados aos pacientes de saúde


mental como humanos inferiores nos leva em sua pesquisa à
eugenia. A filosofia da eugenia levou a Alemanha nazista a
decidir que, certas raças ou grupos de indivíduos eram
biologicamente inferiores, o que conduziu à eutanásia tanto
os pacientes com doença mental tanto como indigentes,
junto com indivíduos judeus e poloneses. Mas não teria sua
pesquisa demonstrado que o movimento da eugenia na
América desempenhou um papel importante na segregação
do mentalmente inválido em instituições e promovendo uma
esterilização contra a vontade deles, pois assim eles não
podiam procriar?
Whitaker: A história da psiquiatria leva você a uma história
social surpreendente nos Estados Unidos propriamente, uma
história que nós não discutimos muito entre nós mesmos.
Então se você for a uma escola Americana, e eles lhe
aborrecem ao ensinar sobre eugenia, isso será informado em
associação com a história da Alemanha nazista. Você não
ouvirá nada sobre isso em associação com os Estados
Unidos. De fato, eu aposto que você pode perguntar a umas
100 pessoas nas ruas, e muito poucas terão qualquer noção
de que os Estados Unidos tiveram seu período eugênico.
Spirit: É verdade que foi o movimento eugênico dos Estados
Unidos que influenciou profundamente a Alemanha nazista?
Whitaker: A eugenia efetivamente iniciou aqui mesmo nos
Estados Unidos, não foi na Alemanha nazista. Ela foi iniciada
como uma “ciência”. Foi aqui onde foram criados os primeiros
passos das políticas sociais baseados na eugenia. Nós
começamos ao dizermos que um doente mental não podia
casar. Nós divulgamos que um doente mental teria um gene
defeituoso, e que a doença mental seria um distúrbio
causado por um gene recessivo, como os olhos azuis. Eles
diziam que para manter esse "gene da loucura" aprisionado,
além de evitar que eles se casassem, nós precisamos
prendê-los.
Então os asilos foram modificados, deixando de ser lugares
onde, teoricamente, haveria abrigo e refúgio para que as
pessoas pudessem ser cuidadas e retornar de volta à saúde,
o que seria a idéia original dos idos dos anos 1800. Eles se
tornaram lugares onde nós trancaríamos os doentes mentais
porque nós não os queríamos nas ruas, onde eles poderiam
ter filhos e legar seu "gene de loucura."
Como parte disto, nós começamos a por as pessoas em
asilos e não permitindo mais que eles saíssem de lá. Como
nós fizemos isto? Nós começamos a acreditar que você não
podia melhorar de uma doença mental. Considere que nos
anos 1800, você veria que mais de 50 por cento das pessoas
que entravam em um asilo mental seriam liberados nos
próximos 12 meses, e muitos nunca mais voltariam. De
repente você identifica que na primeira metade do século 20,
as pessoas seriam colocadas em asilos e não seriam largados
por anos ou décadas, até que eles ultrapassassem sua “idade
reprodutiva”.
E quem nós estamos prendendo? Bem, seriam os imigrantes
os mais prováveis de serem postos nos asilos, são os pobres,
são os afro-americanos. Então, em outras palavras, é quase
todo mundo exceto a classe dominante, basicamente, que
seria mais provável de ser rotulado e diagnosticado e ser
preso nesses asilos por anos. Assim, seguindo essa linha
para a frente e verificando como a eugenia absolutamente
moldou e, de algum modo, continua a moldar nosso modelo
de tratamento, sempre desvalorizando essas pessoas. Sob as
políticas da eugenia nós dissemos, “Eles são uma ameaça
para nós.” Nós começamos a falar sobre o doente mental
como um câncer social que precisa ser cortado fora do
organismo político. De fato, foi aqui, neste país, onde os
médicos pela primeira vez começaram a conceber a hipótese
de matar um enfermo mental, uma morte por benevolência.

Spirit: Sim. Morte por clemência "com gases adequados" em


"instituições eutanásicas" como um médico americano
declarou.
Whitaker: Sim, com gases apropriados. No longíquo 1921, a
legislatura de Connecticut viaja a um asilo, e um homem que
era algemado em uma cama de ferro foi exibido como um
caso de "matar por clemência." E isto foi reportado no New
York Times como absolutamente compreensível. Não existiria
nenhuma afronta. Isto parecia ser plenamente correto antes
de Hitler chegar ao poder.

Spirit: E psiquiatras proeminentes imitaram essa linha


eugênica de que os pacientes mentais eram geneticamente
deficientes e defendiam a esterilização compulsória?
Whitaker: Exatamente! Com certeza essas esterilizações
forçadas teriam muito apoio entre populares psiquiatras. Eu
diria o seguinte, como o movimento da eugenia começou a
tomar lugar nos anos 1920, e realmente deslanchou, você
vai reconhecer que houve um grupo dissidente de psiquiatras
que começa a dizer que aquilo era terrível. Então você
realmente vê a psiquiatria se dividir entre as décadas de
1920 e 1930, e alguns começavam a protestar contra aquilo.
Mas em geral, existiam certamente muitos psiquiatras que
estavam dando suporte para esta idéia, de esterilização
forçada, e efetivamente faziam isso.

Spirit: Algumas destas práticas foram então emuladas na


Alemanha nazista por seus psiquiatras e executadas com
extrema energia.
Whitaker: Sim, exatamente. Você percebe os dominós
caírem adiante. O que aconteceu foi que o movimento
nazista chega ao poder em 1933 e os eugênicos, que
participam do governo de Hitler, mantém estreitas relações
com os eugênicos Americanos. Eles até mesmo falavam
sobre ir para a escola aprender com o programa de
esterilização da Califórnia e - isto é fascinante - os nazistas
alemães diziam que a Califórnia estava fazendo um bom
trabalho de esterilização em seus doentes mentais, mas não
existia suficiente proteção, não existia suficiente proteção
legal no modo como a Califórnia fazia isto!
Eles queriam ter certeza que existiria algum tipo de processo
legal na Alemanha nazista. Eles realmente disseram que eles
iriam fazer seu programa de esterilização, mas somente,
com mais justiça. Ou seja, eles imaginaram que eles
poderiam colocar em prática um programa mais humanitário
e mais legal para a esterilização forçada. E finalmente eles
começam a esterilizar pessoas em larga escala. Bem, no final
os eugênicos americanos começaram a reclamar que os
alemães estão nos ganhando em nosso próprio jogo.

Spirit: Nossos eugênicos realmente invejaram os nazistas


pela sua eficiência em esterilizar os pacientes psiquiátricos?
Whitaker: Realmente. Nossos eugênicos aqui estariam
reclamando que eles estavam nos ultrapassando. Por isso
nós acabamos por enviar pessoas para lá para estudar o
quão a Alemanha nazista estava progredindo em seu
processo de esterilização. Qual é o primeiro grupo que a
Alemanha nazista finalmente mata? É o grupo dos
mentalmente enfermos. Foi onde a eutanásia foi iniciada.
Então, evidentemente, eles expandiram isso para judeus e
outros, mas isso começou com os doentes mentais.
Então você segue essa história adiante, e o que você tem
aqui é a criação americana de um sistema de crenças que,
terrivelmente, desvalorizava o mentalmente doente. E a
partir daí você vê políticas sociais surgirem sobre essa
desvalorização - esterilização forçada e segregação social.
Então você vê a Alemanha nazista promover e implementar
essas questões. E nos anos iniciais do Nazismo, 1933, '34,
'35, você não vê a América dizendo que é horrível. Os
eugênicos da América estavam dizendo que nós precisamos
acompanhar os alemães!
Outra coisa muito inquietante. Quando as esterilizações
tiveram o apogeu neste país? Nos anos 1940 e 1950s. Como
nós lutamos contra os nazistas nos anos 1940, nós não
examinamos nosso próprio quintal e não percebemos que
nossos próprios programas de esterilização eram parte
integrante da mesma ideologia.
Spirit: Parte do mesmo sistema de valor que tratava com
desprezo os pacientes mentais como se fossem seres
inferiores?
Whitaker: Exatamente. Então nós continuamos com nossas
esterilizações depois que os alemães pararam. E, de fato,
esta terapêutica prejudicial ao cérebro - eletro-choque
forçado, terapia convulsiva com metrazol e lobotomia - eles
definitivamente surgem dentro da era da eugenia onde você
desvalorizava aquelas pessoas. Bem, os alemães, depois que
a Segunda Guerra Mundial terminou, estavam tentando lutar
contra seu passado nazista, e muitos alemães consideravam
a lobotomia com um horror, porque eles viam isto como algo
consistente daquele passado eugênico. Mas enquanto isso,
nós estávamos tratando isto como uma forma medicinal de
cirurgia cerebral. Nós estávamos ainda violentamente
esterilizando pacientes, impondo eletro-choques, lobotomias
- nós não examinamos nosso próprio passado eugênico,
desgraçadamente.

Spirit: Você também documenta como os psiquiatras nos


Estados Unidos têm um precário registro de
acompanhamento que é desproporcionalmente maior nos
diagnósticos de doença mental severa para americanos que
fossem pessoas muito pobres ou africanas.
Whitaker: Quando você conversa sobre diagnosticar alguém
como esquizofrênico, por exemplo, um elemento subjetivo
pode entrar em jogo porque você tem um médico com uma
determinada visão de mundo, geralmente um branco,
julgando outra pessoa. É muito claro ao longo do século 20
que a maioria daqueles que foram diagnosticados como
esquizofrênicos seriam americanos pobres ou afros
descendentes.
Eles teriam feito um estudo onde eles teriam a descrição de
um grupo de sintomas que seria mostrado para médicos, e a
única coisa diferente na informação seria a cor da pele da
pessoa. Quando eles fizeram isto, e o sujeito é um homem
preto, é diagnosticado um esquizofrênico, entretanto se
fosse um homem de pele branca é fornecido um diagnóstico
mais aprazível. Um mesmo conjunto de sintomas, porém se
for um indivíduo branco, que eles imaginam que eles estão
avaliando, o diagnóstico se torna mais favorável. Existe
muito elemento subjetivo no diagnóstico, e claramente existe
um elemento político também, porque nós tendemos a dizer
que aqueles que não compartilham nossas visões são
insanos!

Spirit: E o pobre e sem teto, que pode perceber e agir


diferentemente de nós, e estando lidando com estresse que
nós não compreendemos exatamente, pode acabar
parecendo um “alucinado”.
Whitaker: Lógico. Às vezes se você examinar para aqueles
diagnosticados como esquizofrênicos, o que você vê é que,
muitas vezes, um rótulo é colocado em pessoas que
possivelmente não sejam fisicamente atraentes. É incrível
reconhecer isso. E se você for pobre, e você tem estresses e
você não tem um abrigo, como você vai agir? Pense sobre
isso. Como você vai agir se você tivesse uma criança para
criar, mas você não tem qualquer trabalho, não tem qualquer
lugar para ficar, não tem bons relacionamentos - você pode
ser arruinado pelo estresse. Qualquer um sob tais
circunstâncias poderá não conseguir se arranjar muito bem.

Spirit: Estressado, deprimido, hostil, são todas situações


muito compreensíveis dadas às condições que eles
enfrentam na rua, mas não talvez seja plenamente
compreensível para alguém da classe alta, um psiquiatra
branco que está à procura de sinais de doença mental.
Whitaker: Exatamente, então você entra com roupas sujas
ou algo assim e isso se adiciona negativamente ao quadro. E
finalmente neste tópico, o que está acontecendo com
crianças sob tutela hoje? Se você é colocado numa
instituição infantil você no mínimo consegue um diagnóstico
de doença mental. Em um estudo, 80 por cento das crianças
sob cuidados institucionais estavam sendo medicados com
antidepressivos, Ritalina® e anti-psicóticos. Neste país, nós
praticamos chegamos à situação de que os pobres, ou
egressos de famílias dissolvidas, onde você tem que ser
colocado em um albergue, significa que você é, ao final, um
doente mental. Você está obtendo esse diagnóstico que se
anexa a você. É por isso que nós estamos vendo crianças
com dois de idade sendo diagnosticados como psicóticos.

Spirit: E então a profecia se torna auto-infligida porque a


medicação prenderá você neste padrão disfuncional.
Whitaker: Dez anos atrás, as companhias farmacêuticas
divulgaram que elas precisariam expandir seu mercado para
as drogas psiquiátricas, e quem eles buscaram? As crianças,
porque é mercado em aberto. E eles têm sido muito bem
sucedidos nisto. Se você desenhar fizer um gráfico sobre o
uso de drogas em crianças, verá que é explosivo. E o que
nós temos hoje? Nós temos uma "crise" de crianças loucas,
de enfermidades psiquiátricas no meio das crianças.
Em outras palavras, 10 anos mais tarde, o uso de
medicamentos em crianças não levou a menos problemas
entre elas, pois existe uma grande demonstração de que os
problemas psiquiátricos estão explodindo entre as crianças.
O que só faz sentido se você entender que as drogas
realmente causam anormalidades nas funções dos
neurotransmissores, e quando você fizer eles usarem essas
drogas, você fica com sérios problemas psicológicos e
sentimentais. Então nós, de forma muito clara, conseguimos
com este difundido uso de medicamentos psiquiátricos, criar
uma população continuadamente em expansão de crianças
que são psiquiatricamente transtornadas – e isso é
conseguido a partir dos tratamentos.

Spirit: Vamos examinar esses novos anti-psicóticos atípicos


que estão sendo chamados de drogas maravilhosas. Por
décadas, a história oficial era que o eletro-choque e a
lobotomia não causariam dor para os pacientes e
melhoravam suas vidas. Só depois que se passaram muitos
anos que o público reconheceu a extensão das amplas
seqüelas que aquilo causou. Posteriormente o mesmo tipo
clamor mundial foi feito contra os medicamentos
nerolépticos, o que se seguiu à revelação dos seus terríveis
efeitos colaterais. Você está preocupado que o mesmo
padrão esteja agora sendo aplicado a partir das declarações
de que os atípicos - drogas como Zyprexa®, Clozaril® e
Risperidal® - sejam drogas maravilhosas?
Whitaker: Claro que estou. Está óbvio que eles têm efeitos
colaterais. Alguns pontos que nós precisamos saber sobre
essas novas drogas, os atípicos. Em primeiro lugar, os testes
clínicos que os examinaram foram totalmente falsos. Eles
foram projetados para fazer as drogas antigas parecerem
ruins e as novas drogas parecem boas. Isto está vindo à tona
agora, pelo fato de que esses estudos pintaram um retrato
exageradamente bom dos atípicos. Eles podem não ser tão
eficazes; e eles parecem ter, por outro lado, tantos efeitos
colaterais quanto o mais antigo dos neurolépticos. Dessa
forma pode-se dizer que existe bastante razão para se
preocupar. Agora que nós já os temos há oito ou dez anos,
nós já estamos descobrindo todos os tipos de problemas.
A boa notícia é que em algumas circunstâncias, em que
estão sendo usadas dosagens mais baixas destes atípicos, e
uma vez continuando com dosagens mais baixas, tais
substâncias parecem ser menos problemáticas. Eles não
subjugam de forma tão extrema o sistema da dopamina
como as drogas mais antigas. Isso é bom e esperançoso.
A parte negativa é o seguinte: eles claramente mentiram
sobre que estas drogas fazem. Elas são drogas poderosas e
elas trabalham em vários sistemas de neurotransmissores. E
eles claramente são problemáticos. Com olanzapine
[comercializada como Zyprexa®], você vai perceber isto.
Tanto quanto a discinesia tardia, que acaba se instalando
com o uso normal dos tradicionais neurolépticos, a diabete,
em muitas vezes, está lá com o olanzapine. E a diabete é
uma ameaça à vida, e reduz a expectativa de vida. Então
você dá aquela droga para uma criança de 12 anos de idade,
ou de 15 anos de idade, ou de 18 anos de idade e todos eles
desenvolvem diabetes e ganham uns 40 quilos de sobrepeso
- isto é uma coisa muito perniciosa.

Spirit: Eu ouvi advogados de saúde mental dizer que o


imenso ganho de peso é um grande problema, mas eu não
sabia que o Zyprexa estava ligado com a diabete e as altas
taxas de açúcar no sangue antes de ler seu livro.
Whitaker: Isto é demais. Deixe-me dizer a você o quão
grave isto pode ser. Você percebe este ganho de peso de 40
quilos e, em um estudo recente, em seis semanas, três por
cento inicia uma diabetes, o que é demais. É por isso que eu
digo que isso está a sua espreita. Em primeiro lugar, ao
ganhar 40 quilos em seis meses ou algo em torno disso, isto
é um sinal de perturbação orgânica metabólica; você tem
algo profundamente errado, algo em seu metabolismo que
foi horrivelmente enlouquecido. Agora, a diabete que se
desenvolve em seis semanas, isto é um problema real,
certo?
Agora, de forma muito curiosa, quem começou a divulgar
isso? Seus competidores, pessoas que trazem novas drogas
para comercializar, estão agora reunidas e diziam que com a
olanzapina (Zyprexa) você está conseguindo um problema
enorme como a diabetes (risos). Então, por exemplo, em
Boston há pouco tempo atrás, ocorreu um destes jantares de
fantasia onde os médicos vão ser treinados. Bem, era
patrocinado por um dos competidores da Eli Lilly, e se
levantava o problema da diabetes com olanzapina. Se você
conversar com os psiquiatras que são honestos sobre isso,
eles dirão que o problema com diabete e olanzapina é
enorme.
Agora nós temos um problema duplo. Uma vez que nós nos
convencemos que a olanzapina é uma droga tão importante,
e nós estamos dando isso para muitas pessoas, nós estamos
agora expondo pessoas a uma deficiência orgânica
metabólica, ganhos enormes de peso e diabete que
claramente não são a "doença" ou a base dos problemas
psíquicos que estavam se iniciando. Olhe para como nossa
sociedade está abraçando a olanzapina, dando isto para
crianças com dois anos de idade. Você pode conceber isso,
dar a uma criança de dois anos um antipsicótico que pode
torná-lo diabético e obeso? Bem, nós estamos fazendo isto!

Spirit: Esses são efeitos colaterais que podem encurtar em


muito a expectativa da vida...
Whitaker: Oh, claro! Quarenta quilos? Diabetes? Você está
falando sobre uma sentença de morte. Sem dúvida. Existiria
outro estudo sobre o qual ninguém quer conversar, em que
as crianças submetidas ao olanzapina terminam com uma
atrofia no córtex cerebral. Agora os pesquisadores disseram
que isso seria um sinal do processo da doença. Bem, eu diria
que, se você examina tais estudos o que você tem, não é
nada menos que a mesma coisa que já conhecíamos com os
antigos neurolépticos - você tem mudanças cerebrais, neste
caso a perda de córtex cerebral que é associado ao inicio do
uso de tais medicamentos.

Spirit: Da mesma forma que os competidores do Zyprexa®


estão assinalando seus defeitos, a mesma coisa aconteceu
anteriormente com os neurolépticos. Os psiquiatras
ignoraram as reclamações dos pacientes a respeito do uso
de neurolépticos por quatro décadas, e até ignoraram as
audiências do senador Birch Bayh, que em 1975 alertou a
tais efeitos terríveis. Demorou até os anos 1990s quando
finalmente se admitiu que dois terços dos pacientes sob uso
de neurolépticos tinham "sintomas persistentes de
Parkinson." Seu livro assinala que eles só admitiram isso
porque os novos atípicos estavam sendo lançados e eles
quiseram mostrar como eles eram superiores aos
neurolépticos antigos.
Whitaker: Certo. De repente se torna um incentivo
econômico admitir o fracasso das drogas velhas. E é isso que
estaria acontecendo novamente. Agora outros médicos estão
sendo pagos para elogiar em demasia as novas drogas, e
essas companhias claramente querem ter uma droga que é
competitiva ao olanzapina, então existe um incentivo
econômico para reconhecer que ela é associada com a
diabetes. E eu garanto a você, o que quer nós dissermos
sobre os riscos atuais, nós sabemos que é menosprezado.

Spirit: Novas terapias podem ser tomadas como


maravilhosos tratamentos porque eles não têm os efeitos
ruins semelhantes aos antigos tratamentos; mas
freqüentemente, o fato é que os efeitos colaterais são
diferentes e levam anos para emergir. Naquele período
anterior aos novos efeitos colaterais ficarem evidentes, as
companhias farmacêuticas estariam livres para reivindicar
que eles não têm qualquer efeito deletério.
Whitaker: Você sabe o que mais, eu acredito honestamente
que de certa maneira as novas drogas são piores. O que
você está vendo são alguns benefícios sob dosagens mais
baixas. Você poderia supor que eles seriam mais
problemáticos porque eles estão agindo em um número
maior de sistemas de neurotransmissores. Eles estão
prejudicando a transmissão de serotonina, a transmissão de
dopamina, eles afetam outros neurotransmissores. Elas são
realmente drogas com uma ampla atuação.
Pelo menos tão problemático é que a tentativa de sair do uso
desses novos atípicos parece ser, talvez, mais difícil do que
com as drogas mais velhas. Uma vez que estamos falando
sobre múltiplos sistemas metabólicos sendo afetados, você
tem que se perguntar se você vai passar por momentos
ainda mais decisivos para uma morte precoce.
Por outro lado, as pessoas estão sendo submetidas ao uso de
quatro ou cinco drogas concomitantes. A razão de elas
estarem sob quatro ou cinco drogas é porque uma primeira
droga está causando tantos problemas, que eles precisarão
receber um segundo, e prescreverão outros mais para
mascarar ou antagonizar os efeitos ruins. Então, se torna
comum nas prescrições atuais o uso de um antidepressivo e
um atípico. Então o atípico derruba sua atividade da
serotonina e o antidepressivo eleva essa atividade. Parece
bizarro. É como prender um indivíduo em duas direções
opostas.

Spirit: Clozaril é outro novo atípico extremamente elogiado,


porém eu também já ouvi relatórios de que ele tem
perigosos efeitos colaterais.
Whitaker: Claro que quando o Clozaril® (no Brasil:
Leponex®, NT), ou clozapina, foi desenvolvido inicialmente
por volta dos anos 1970, eles não iriam destacar isto, porque
ele era visto apenas como muito perigoso. O interessante
com clozapina é, algumas pessoas dizem que essa
substância parece produzir a melhor mudança em termos de
agilidade mental e comportamento mental em um reduzido
subgrupo de pessoas, embora se trate de uma droga
terrivelmente sedativa. Você obtém ganho de peso com a
clozapina, o que é claramente um problema.
É profundamente sedativa. Você tem os mesmos sinais da
olanzapina (Zyprexa®) de perturbação metabólica.
Adicionalmente, você pode fazer uma depleção
potencialmente fatal das células brancas do sangue
(leucócitos). Ironicamente (rindo) - e isso mostra o grau de
desenvolvimento que temos com as droga antipsicóticas -
você podia redigir um artigo divulgando que a clozapina
ainda é o melhor medicamento, a despeito de todos aqueles
problemas!

Spirit: Parece que a psiquiatria ainda é um campo de


estudos que precisa se transformar para se tornar em uma
ciência real. Não produziu nadas exceto vários modos de
tranqüilizar e transformar pessoas em vegetais. O “insight”
verdadeiro não foi alcançado, as reais terapias não foram
alcançadas. Não conseguiu ir além da capacidade de
danificar o cérebro para aquietar certos sintomas.
Whitaker: E finalmente, alguns dos homens fortes de certos
jornais científicos estão dizendo exatamente isto. Eles
admitem que desde a introdução das drogas psicotrópicas
nos anos 1950, os resultados realmente não melhoraram; e
em segundo lugar, os resultados à longo prazo (outcomes)
realmente não melhoram mais do que eles já eram há 100
anos atrás. Em terceiro lugar, eles admitem que nós, de fato,
não temos a menor idéia de por quais razões se inicia a
esquizofrenia. Isto é realmente renovador, porque ao admitir
que você não sabe nada, isso é um começo.

Spirit: Você documentou como a indústria farmacêutica,


altamente lucrativa, corrompeu a independência do processo
de testes com drogas, mesmo nas universidades.
Whitaker: O dinheiro das empresas farmacêuticas flui para
as universidades, ele financia aqueles que fazem pesquisa e
aqueles que estudam sobre as drogas e emitem relatórios.
Aqueles que recebem o dinheiro sabem que o jogo é mexer
com a história para refletir positivamente essas drogas. E
você distorce isto em todos os passos do processo, desde os
passos iniciais de planejamento desses testes, o que resulta
em completa corrupção do sistema.

Spirit: Sua pesquisa verificou que as companhias


farmacêuticas exaltam em demasia os benefícios e ignoram
os efeitos colaterais dos medicamentos em suas
apresentações e anúncios publicitários?
Whitaker: Sim. O que leva a uma falsa história. Leva a uma
história que exagera ou engana a eficiência das drogas e
esconde os problemas. Isso só pode levar a uma medicina
ruim, porque não dá um retrato acurado do medicamento.

Spirit: Um dos poucos momentos entusiasmantes do seu


livro é a prática do "tratamento moral" em instalações
humanitárias operadas por certos religiosos (Quakers) na
Inglaterra e na Pennsylvania nos anos 1800. O que nós
ainda podemos aprender nos dias de hoje com esse tipo de
tratamento moral?
Whitaker: Existem duas lições do tratamento moral. Uma é
que simplesmente se tratando pessoas de um modo
humanitário, tratando aqueles que nós chamamos de
"mentalmente doentes" da mesma maneira que nós
trataríamos qualquer outra pessoa, implicará em um
benefício. As pessoas respondem positivamente para a
afabilidade, ao exercício, e a boa comida. As pessoas
respondem positivamente para um ambiente onde elas são
estimadas. Então essas posturas são terapêuticas, e isso não
deveria deixar-nos assombrados. No momento em que você
diz que o "doente mental" é simplesmente parte da
humanidade, eles são como nós, então, é óbvio que você
espera que eles respondam favoravelmente, porque todos
nós respondemos bem para esse tipo de situação - tendo um
lugar para ficar, amizade e amor. De fato, se você não tiver
aquelas coisas, pessoas "normais" começam a ficar doentes.
A segunda coisa que você aprende com tratamento moral do
passado, é que nossa visão moderna de enfermidades
mentais classificadas como sérias - "uma vez esquizofrênico,
sempre um esquizofrênico" – ou seja: que isso é de alguma
forma uma desordem física permanente, no final não é
verdade. Muitas pessoas podem cair a uma psicose e
melhorar, e ficando bem para o resto de suas vidas. Por isso
você consegue esta diversidade de resultados nos anos 1800
que mostram que a história nós estamos contando para nós
mesmos de que a esquizofrenia é uma perturbação
permanente para qualquer pessoa - isto é uma mentira. Não
é verdade. É uma mentira que remove a esperança de forma
desnecessária das pessoas que caem a esse momento difícil,
e isto é cruel.

Spirit: Qual tem sido a reação do “establishment”


psiquiátrico para com seu livro?
Whitaker: A reação dos psiquiatras, de seu poder, tem sido
hostil. Eu tenho sido menosprezado em diferentes
publicações. Porém, tem sido ataques pessoais. Eles
disseram que eu era um "bom jornalista que fiz bobagem,"
ou coisas do gênero. Eles não atacaram o que eu publiquei,
os fatos, a verdade. Não houve ninguém que assinalou uma
citação errônea ou um abuso do estudo - nada disto. Zero.
Ponto. Nem mesmo quando eu escrevi sobre os testes
corruptos com as medicações - nada. Nenhum desafio a isso.
Zero. Então o fato é que eles me atacam, pessoalmente, mas
não contestam o que eu escrevi propriamente e não dizem:
"ele estava errado aqui." Isto é bastante esclarecedor.
Existem alguns psiquiatras que são críticos da psiquiatria que
se sentiram encorajados pelo livro. Mas isso tem sido uma
minoria distinta de psiquiatras que reagiram desse modo
(risos). Mas o que existe realmente é uma hostilidade.

Spirit: Foi uma experiência assustadora ser tratado com


desprezo pelos poderosos?
Whitaker: Não, tem sido absolutamente a experiência
jornalística mais recompensadora da minha vida, sem
dúvida. A razão é porque aqueles que haviam ficado sem
voz, por assim dizer, com quem nós conversamos sobre isso,
têm sido gratos e maravilhosos em deixar-me conhecê-los e
apreciaram que alguém contasse suas histórias. Isto é uma
coisa maravilhosa que aconteceu. É um privilégio ser capaz
de poder contar essa história. Eu me sinto honrado por isto.
É uma instância de fazer jornalismo onde você está
afligindo o confortável e confortando o afligido.
Finalmente, você conhece grandes pessoas. Pessoas que
passaram por essas situações e retornam do outro lado da
sanidade, com sua dignidade intacta, sendo surpreendentes
seres humanos - e corajosos acima de tudo.

Spirit: Qual tem sido a reação da imprensa popular para seu


livro?
Whitaker: A reação da imprensa popular foi de mudez. A
imprensa recebe realmente como legado um pouco de crítica
em meu livro. As revisões nos jornais foram discretas, como:
"Ele fez alguns bons pontos, porém ele foi longe demais."

Spirit: Como todos os profetas que foram longe demais.


Whitaker: (Risos) O que você vê nessas revisões dos jornais
é geralmente uma defesa do “status quo”.

Spirit: Não balance o barco.

Whitaker: Você pode balançar isto um pouco, mas não


balance demais. E realmente não balance esta história, este
paradigma que nós nos convencemos de chamar de
progresso. Os revisores não ousariam tratar os estudos da
OMS; eles simplesmente não tratam disso em suas revisões.
Isso mostra que eles tiveram uma necessidade de filtrar o
que a história pode nos contar, e eles fazem isso não
reportando qualquer evidência maldita.

Tradução: José Carlos Brasil Peixoto

Nota original do editor: Essa entrevista se foca no livro de Robert


Whitaker “MAD IN AMERICA (Louco na América)”, e esclarece a
história não contada de técnicas psiquiátricas de tortura e de
crueldade, e mostra como aquelas técnicas anteriores evoluíram
para o atual arsenal psiquiátrico. Essa é uma entrevista anterior que
pré-dataria essa nova entrevista do Street Spirit com Whitaker
sobre suas pesquisas mais recentes, intitulada "Drogas
Psiquiátricas: Um Assalto à Condição Humana." Ambas as
entrevistas foram divulgadas na edição de agosto de 2005 do Street
Spirit porque, tomada juntas, elas fornecem uma avaliação completa
de práticas de tortura da psiquiatria do passado e sua arriscada
super confiança nas perigosas e tóxicas drogas da atualidade.

Street Spirit 1515 Webster St,#303 Oakland, CA 94612Phone: (510) 238-8080,


ext. 303

© 2002-2005 Street Spirit. Todos os direitos reservados.


Editor: Terry Messman
Link original:
http://www.thestreetspirit.org/August2005/madinterview.htm

AGUARDE:
"Drogas Psiquiátricas: Um Assalto à
Condição Humana."
Nas próximas semanas nesse site!
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Fonte:
http://www.umaoutravisao.com.br/madinamerica.htm
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