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Viianny 1

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

#Dentro da suíte…

Alfonso: e aí? O que achou?

Anahí: maravilhoso! Eles decoraram tudo! — impressionada

Era uma suíte bem ampla, toda composta em tons alvos. Havia sido
decorada a pedido de Poncho. Pétalas incontáveis pelo chão, meia luz, aroma
misto de flores diversas… O incrível ali era que a parede do lado direito da
cama era formada por somente duas imensas portas de vidro que abriam
completamente, dando acesso a uma sacada de frente pro mar. Nesse exato
momento, inclusive, a brisa marítima adentrava todo o quarto, cercando os
corpos que se comprimiram num doce abraço.

Alfonso: espera que ainda falta um detalhe. — ligou o som, abriu uma garrafa
de vinho do Porto envelhecido (que acompanhava Sachertorte, tortinhas doces
Iaccarino e Mil-folhas com chocolate) e os serviu

Mais uma vez naquela noite se juntaram ao ritmo da melodia que se


espalhava por cada canto do quarto. A música tem um poder ainda
imensurável sobre a vida humana. Algumas delas são ouvidas e não
absorvidas. Muitos assim pensam… Não sabem é que a mente incorpora e
guarda a essência para quando mais for útil… Outras podem ser configuradas
em verdadeiros poemas ou mesmo textos de puro sentimento, já que todas as
palavras são sentidas, seja por quem interpreta, seja por quem ouve e chora…

Assim estavam Anny e Poncho… Sentindo os vultos do vento enquanto


a música acalmava o coração…

Há tempos eu sei que você está aqui. Eu esqueço os meus


medos sentindo você, meu querido. Vendo você perto de mim, eu
vejo minhas esperanças, o que o futuro me trará quando você
embrulhar suas asas e me pegar… Onde você e eu estivermos
juntos mais uma vez, nós dançaremos à luz do luar… Como
costumávamos fazer… E você estará sorrindo pra mim. Só então eu
serei livre, quando eu poderei ser… Eu posso ver seu rosto, seus
beijos… Eu ainda consigo sentir o sabor… Não se apagaram na
minha memória. Oh, como eu vejo sua estrela brilhando pra mim! Eu
faria qualquer coisa, se eu pudesse estar certa de onde você está…
Só então eu serei livre, então eu serei livre… Então me pegue!
Todas as noites, quando você está sonhando, eu estou aqui
vigiando de longe. E todas as vezes que eu sentir o amor, eu
fecharei meus olhos e sonharei onde você está… Eu ainda acredito,
eu tenho que acreditar… Eu ainda acredito que eu tocarei você
naquele doce dia… Que você me pegará lá! Onde você está? Oh,
onde você está? Eu estarei sempre esperando aqui… [Where you
are (adaptação) – Jessica Simpson & Nick Lachey]
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Anahí: não vamos nos separar, né?

Alfonso: como? — sem entender

Anahí: Jessica e Nick se separaram…

Alfonso: só que Anahí e Alfonso não vão se separar… Nós temos essa sina…
Vamos nos amar eternamente, não tinha percebido? — sorrindo docemente

Anahí: me promete?

Alfonso: apesar de que não precisa, eu prometo sim… Nós aqui não vamos
nos separar… Aconteça o que acontecer estaremos sempre juntos…

Nesse exato instante, Anny sentiu um calafrio diferente. Como uma brisa
que os envolvia num ritual mágico e obscuro. É certo que, pela circunstância do
local, muitas ventanias os cercavam em demasia agora, assim como muitas
ainda os envolveriam… Só que todas essas esperadas acendiam sentimentos
já bem experimentados antes, aceleravam as respirações e instigavam gozos
infindos. As outras, as desconhecidas, causavam medo. Medo e solidão
sentidos seguidos de um frio congelante e sufocante na coluna.

Anahí: preciso de ti…

Poncho a olhou fixamente. Sabia que algo se passava na mente de sua


amada, assim como também compreendia que o mais certo a fazer agora era
lhe mostrar seu amor. Talvez até ele também precisasse. Acariciou levemente
seu rosto, deixando que ela sentisse através de seu toque que estavam ali,
juntos, isso bastava…

Tomou-a então em seus braços, levando-a calmamente pra cama.


Deitou-a de forma bem delicada, afinal era sua boneca, sua princesa, sua vida.
Retirou os sapatos de ambos e por fim se posicionou ao lado dela. Com uma
de suas mãos, foi lhe tocando bem levemente o rosto, depois o braço, passou
por cima do vestido, chegou a uma das pernas, até que parou e fez todo o
trajeto contrário. Afastou alguns fios da frente de seu rosto, provavelmente
trazidos pelo vento ou por movimentos involuntários advindos do prazer.
Beijou-a apaixonadamente, quiçá como nunca tinha feito. Sentiu em seus
braços um abraço de gratidão, seguido de carícias nas costas de excitação.
Desceu os beijos molhados pro pescoço, enquanto apertava seus cabelos
agora nas mãos. De forma aleatória, os beijos chegaram ao ombro, após este
ser descoberto num bruto movimento de Poncho. Anny mexia muito as pernas
em sinal de aprovação e satisfação. Sentir os carinhos quentes de seu noivo
enquanto o vento forte adentrava suas roupas e provocava sua tez era uma
sensação angustiante e, ao mesmo tempo, alucinante.

Ele começou a beijar-lhe o colo e a região acima dos seios (parte esta
ainda coberta pelo vestido). Foi aí que começou a abrir botão pro botão. Fazia
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tudo pacientemente. A cada centímetro a mais em que o vestido se abria sobre
o corpo arrepiado de Anny, ele tratava de cobri-la com beijos que lhe
alcançavam a alma de tão doces e sinceros. Quando todos os botões estavam
livres de suas respectivas casa, Poncho seguiu com os beijos e as sugadas ao
longo das pernas. Acariciava-as de forma bem sutil, o que só provocava mais
inquietações em sua amada.

O sentimento de posse num relacionamento não é doentio quando se


refere ao amor. Não se é dono um do outro. É-se dono do amor de forma
conjunta. E é assim que se faz com esse amor o que o livre arbítrio permite.
Pisa-se, engana-se, magoa-se, maltrata-se, desgasta-se, destrói-se, alimenta-
se, sente-se, vive-se… Mas estejam onde estiverem, estarão sempre juntos…

Ensaiou algumas vezes o retorno ao dorso, mas em toas se perdia ao


olhar rapidamente bem nos olhos de Anny. Era um olhar bem diferente. Tinha
muita ternura, um pouco de melancolia e extrema paz. Ao finalmente criar
forças, levantou-a para retirar o vestido de vez. Em seguida, retirou sua camisa
e sua calça também. Nessa noite, em mais essa noite, o prazer dele só se
concretizaria em proporcionar-lhe o máximo de amor e entrega. Ela continuava
a encará-lo. Por mais que se sentisse tentada a fechar os olhos de excitação, a
se distrair com outro fio de cabelo que teimava em ir de encontro a seu rosto, a
se deliciar com a musculatura de seu amado, mas não… Sentia necessidade
de encontrar seus olhos, de lhe causar um sorriso doce de pura alegria e de
sentir as mãos juntas após um gozo triunfante.

Antes de deitá-la de volta, aproveitou para tirar o sutiã. Ela mesma


voltou a seu locus, abrindo os braços em sentido de entrega e convite. Foi aí
que Poncho esqueceu seus planos iniciais e seguiu seus instintos. Sugou cada
seio, um por vez. Ficou minutos fora de si. Até pediu desculpas ocultas por ter
se desvencilhado. Pelo olhar dela, que continuava a encará-lo firmemente,
Anny estava pronta e necessitava senti-lo agora, sem mais precedentes.

Assim é que logo se uniram completamente. Numa ação rápida e


trabalhada, retirou as peças íntimas de ambos e juntou os corpos. Apoiou-se
com os cotovelos na cama, finalmente ousou sentir de frente aquela mirada tão
profunda e iniciou os movimentos dentro dela. Não sabia se o que estava mais
profundo era o êxtase que sentia ou aquele olhar. Pensamentos davam lugar a
gemidos de satisfação. Ambos não conseguiam mais controlar a fúria dentro de
seus corpos. Sussurravam constantemente o quanto se amavam, o quanto se
desejavam, o quanto se necessitavam…

Pela terceira vez naquela noite se amavam. Experimentavam sentir o


acelerar do coração um do outro seguido da explosão do orgasmo. Estavam lá,
abraçados, se deliciando com algumas últimas estocadas isoladas, sentindo o
suor desaparecer em decorrência do forte e frio vento, de mãos dadas perdidas
em alguma curva do lençol… Poncho enterrou o rosto no ombro dela, sentindo
as derradeiras inquietações do corpo… Anny só desviou o olhar. Permaneceu
com o corpo imóvel após se acalmar do clímax, somente virando a cabeça
rumo ao horizonte. O olhar era o mesmo. Teve flashes de desejo, de alegria,
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de excitação, mas o plano de fundo era igual. Nem ela própria entendia.
Tentava decifrar o que se passava enquanto via uma e outra estrela brilhar
cintilante no firmamento. A brisa congelante inundava novamente o quarto,
após a ardência do prazer. Mechas movidas caíam sobre o rosto da loira,
fazendo-a nem perceber uma lágrima que desaguou involuntariamente entre os
fios.

Era um olhar de despedida…

Los Angeles, casa dos Herrera, 19/10/08, 11h18

Alfonso: bom dia! — disse entrava junto com Anny numa das salas, onde
estavam seus pais e Oscar

Oscar: olha só! Casal Herrera resolveu aparecer… — sorrindo muito, enquanto
continuava a mexer em seu notebook

Anahí: vocês tão esquisitos…

Alfonso: verdade…

Alexander: é besteira! Não liguem!

Linda: meu casal favorito, vocês bem que podiam ter avisado que iam voltar só
hoje… — fingindo estar chateada

Anahí: ai, desculpa, Linda! É que tava acostumada a sair e não deixar recado,
já que eu moro sozinha, né?

Linda: tem nada não, princesinha! Vocês já tomaram café-da-manhã?

Alfonso: já, mãe! Não se preocupe…

Lá, o pai de Poncho assistia a um telejornal. Entrou no intervalo,


iniciando várias propagandas. Uma em especial atraiu a atenção de todos eles.
Era o anúncio de um programa de fofocas de famosos que tinha como produto
de chamada um flagra de Anny e Poncho no hotel em que estavam em Malibu.

Linda: vocês tão famosos, hein? Revistas, TV…

Oscar: internet também, mãe… — sorrindo

Anahí: vocês tão falando de que? — sem entender

Oscar: ah não viram? Pois vejam! — deu pro irmão o notebook com um video
pausado deles no Aeroporto Internacional de Los Angeles, provavelmente
quando chegaram
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Anahí: tô me sentindo agora! — irônica

Alfonso: liga pra isso não, amor!

Anahí: e que história de revista é essa?

Linda: umas revistas aí que falam de vocês… Também é besteira… Ah, diga
pra sua mãe que ela tá linda!

Anahí: minha mãe? — assustada

Linda: é! Adorei a entrevista dela! Acho que vamos nos dar muito bem! —
animada

Alfonso: não tô entendendo…

Oscar: é melhor eles verem, mãe…

Linda sai rapidamente e volta com duas revistas na mão. Em uma delas,
era uma reportagem sobre flagras do novo casal Herrera, assim como
analogias a outros casais relâmpagos. Na outra, era uma entrevista exclusiva
da mãe de Anny contando tudo sobre o romance.

Anahí: eu quero matar alguém pra não ter que matar minha mãe! — disse com
muita raiva — Era só o que me faltava!

Alfonso: calma, Anny! Ela não disse nada comprometedor, só como a gente se
conheceu, como estamos hoje… — tentando acalmá-la

Linda: esquece isso, querida… Olha, vem aqui comigo! Comprei algo pra ti…

Anahí: comprou? — mudou de humor na mesma hora

Linda: é! Ontem à noite sai com algumas amigas e fizemos umas compras
básicas pelo shopping…

Anahí: e o que comprou pra mim? — animada

Alfonso: caso perdido… — disse baixo, balançando a cabeça negativamente

Oscar: todas são…

Linda: quando vi na loja me lembrei de ti na hora, aí resolvi comprar… Abre e


me diz se gostou.

Quando viu, Anny ficou maravilhada. Era um relógio Audemars Piguet


com pulseira rosa choque toda trabalhada em ouro branco e diamantes, visor
cercado por flores desenhadas em ouro branco e com detalhes em rubi,
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ponteiros rosa em contraste com o fundo branco e os números substituídos por
diamantes.

Anahí: amei, Linda! Brigada! — deu um abraço forte na sogra

Alfonso: e pra mim não tem presente não?

Linda: só uma mãe mais linda depois que saiu do cabeleireiro… Serve?

Alfonso: dá pro gasto…

Anahí: Poncho!

Alfonso: brincadeira! Sabiam que eu amo vocês duas?

Linda: sabia, Anny?

Anahí: eu não…

Linda: nem eu… Vem! Deixa eu te mostrar umas coisas no meu quarto… —
saíram

Oscar: quer curtir o fora ou perder mais uma partida pra mim?

Alfonso: Need For Speed?

Oscar: última versão… novinha em folha…

Alfonso: tô dentro! Só com uma correção, eu é que vou ganhar!

Teresina, praça de alimentação/ Theresina Shopping; 20/10/08; 19h52

Melanie: será que a Lala vai gostar desse presente? — hesitante

Dulce: qual mulher não adoraria um kit completo de sex shop?

Melanie: ela eu não sei, mas eu amaria! Se duvidar ainda fico com esse pra
mim e dou pra ela só o cartão de feliz aniversário…

Dulce: mas não vai não! Quero é ver a cara dela depois de abrir o presente. —
rindo

Melanie: pois eu não… Vai sobrar pra mim com certeza. E logo agora que
Anny tá viajando… Que dia ela chega?

Dulce: nessa quarta-feira. Tá lá no maior love com o Poncho enquanto eu fico


ralando aqui.
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Melanie — rindo: bem feito!

Dulce: valeu… Quando forem te enterrar, pode deixar que eu ajudo a cavar…

Melanie: ai, brigada, amiga! — falou com jeito de Paty

Dulce: ali não é o trio das bibas?

Melanie: aonde? — olhando mesa por mesa rapidamente

Dulce: em frente à Cookies.

Melanie: Cris assumiu? — surpresa

Dulce: não, mas vai acabar assumindo… Não desgruda daqueles dois! Se não
se convencer da coisa, é contagiado mesmo e creu! Já era! — rindo

Melanie: e eles se vêem tanto assim? — curiosa

Dulce: Vick me disse que só sabe que tem namorado por causa de roupas dele
na apê dela.

Melanie: mentira!?

Dulce: sério… Ela já até traiu ele, pra ver se ele desconfia, fica com ciúmes ou
algo do tipo. Estilo Madonna, falem mal, mas falem de mim…

Melanie: ah, não creio que seja só por isso! Pra mim foi questão de seca
mesmo… E das brabas! — rindo muito

Dulce: pensando bem… — riu maliciosamente, parando quando o garçom


trouxe os pedidos — E você, meu caro, me tire uma dúvida.

Garçom: sim, senhora. — todo gentil e sorridente

Dulce: namora, solteiro…?

Melanie: Dul! — deu um tapa na amiga

Dulce: espera, Mel! Deixa comigo…

Garçom: sou casado. — sem graça, pensando estar sendo cantado

Dulce: então… preferiria que sua mulher te traísse pra provocar ciúmes ou por
questões áridas?

Garçom: questões áridas? — sem entender


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Melanie: seca, meu chapa! Quando a cama é um túmulo, só serve pra
descansar em paz!

Garçom: minha esposa não me trairia…

Melanie: esses são os primeiros… — disse só pra si

Dulce: não me respondeu.

Garçom: olha, nesse caso, preferiria que fosse a primeira opção… Não me
vejo sem comparecer nesse aspecto. — sorriu timidamente se sentindo
triunfante na resposta

Dulce — segurando o riso: então você prefere ser motivo de ciúmes?

Garçom: eu sim! Com certeza! — seguro de si, orgulhoso e satisfeito

Melanie: cara, tu acaba de afirmar que prefere ser gay a ser brocha… Meus
parabéns! — irônica

Garçom: como? — com a cara no chão

Dulce: nada, ela é louca! Pode ir, aqui tá cheio, é bom cuidar das outras
mesas.

Garçom: tá… — saiu desconfiado, ouvindo as risadas contidas das duas

Melanie: idiota! Tava se achando já! Vê se pode?! Todos os homens são iguais
mesmo… Não perdem a oportunidade de mostrar o ego…

Dulce: verdade… — falou meio aérea, enquanto olhava direto pra mesa de
Vagner, Rivanildo e Cristian

Melanie: o que tanto olha pra lá? — acompanhou a direção do olhar — O que
tá pensando mesmo?

Dulce: tô vendo o que eles tão falando. — disse sem tirar a vista de lá

Melanie: leitura labial?

Dulce: isso.

Melanie: como aprendeu?

Dulce: Anny me ensinou…

Melanie: faz parte da seita que vocês participam e que não pode me contar?

Dulce: não é uma seita, mas faz parte sim.


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Melanie: e o que eles tão falando?

Dulce: tão rindo muito, fica mais difícil. Faltei nessa aula… Tem alguma coisa a
ver com viagem… Estados Unidos…

Melanie: Vagner tá com cara de ciúmes.

Dulce: é? — olhou pra cara dele — É mesmo!

Melanie: Lala deve saber de alguma coisa. Ela é muito amiga da May, que é
muito amiga do Vagner…

Dulce: e essas fofocas correm que é uma beleza…

Melanie: me ensina como se faz isso?

Dulce: é mais por prática. Tem que aprender os movimentos da boca em cada
sílaba. Tenta aí!

Melanie: vamos lá então!

Dulce: olha pra boca do Rivanildo, que é quem mais fala ali.

Melanie: tá!

Dulce: agora vai repetindo tudo o que ele tá falando, eu vou acompanhar
também. Pode começar.

Melanie: não tô conseguindo entender nada…

Dulce: consegue sim! Concentra toda a atenção na boca dele e associa às


palavras que conhece. Tenta pelo menos…

Melanie: criança… casa…

Dulce: isso! Continua!

Melanie: campos… geminadas… Estados Unidos…

Dulce: aham! Tenta uma frase toda agora…

Melanie: gostava de empinar pica? Que imoral! Olha o que ele disse, Dul!
Tinha que ser a biba da TV! — revoltada e falando meio alto, o que fez
algumas pessoas as olhar

Dulce: imoral aqui é tu, minha filha… Ele disse pipa. Ele disse que gostava de
empinar pipa quando era criança…
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♥ Sólo déjate
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Melanie: ah foi? — morrendo de vergonha, escondendo o rosto do povo —
Sorry…

Teresina, casa de Lawyse, 21/10/08, 20h46

Lawyse chegou particularmente cansada esta noite. Passara o dia


trabalhando na organização de festas e mais festas de aniversário que se
esqueceu justamente do seu, que por acaso era hoje. Só se lembrou disso
quando encontrou um bilhetinho de Chris na porta de seu quarto. Ele pedia
desculpas por não poder esperá-la chegar, que tinha sido chamado
urgentemente na clínica.

Pelo jeito, a casa estava vazia. Seus pais estavam viajando. Deveria ter
alguma mensagem de parabéns na secretária eletrônica, indicando onde
estava seu presente desse ano. Mel com certeza também deve ter deixado
uma lembrança em seu quarto, só que nunca desperdiçaria uma noite só pra
entregá-lo. Depois veria isso. O que mais queria nesse exato momento era se
inundar nos lençóis de sua cama e desmaiar. Entrou no quarto, tomou um
relaxante banho e foi finalmente dormir.
Só que não conseguia. Seus olhos estavam pesados de tanto sono, mas
não conseguia dormir. Estava lá, deitada, enrolada, olhando pro teto na
esperança de alguma coisa cair sobre sua cabeça pra poder apagar de vez.
Escutou então a porta se abrindo. Deve ser Chris, pensou. Porém, não era. Viu
uma figura masculina adentrando seus aposentos. Pela escuridão do quarto só
iluminado pela lua não conseguia ver direito quem era. Poderia ser um ladrão.
Mas ladrões não usam ternos finos. Aquele caminhar… aquela boca sensual
sorrindo… só podiam ser de uma pessoa…

Lawyse: Poncho? — espantada

Z: Poncho não… essa noite sou Ponche… vou te embebedar de prazer… —


voz sedutora

Lawyse: tá louco?

Ponche: você dorme aqui? — olhando pelo quarto

Lawyse: todas as noites.

Ponche: essa não… — ele subiu na cama

Lawyse: olha, isso deve ser alguma brincadeira… — foi interrompida

Ponche: isso! Nós vamos brincar muito hoje!

Lawyse: quer descer da minha cama?


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Ponche: posso até descer… mas tu vem comigo…

Lawyse: eu vou ficar bem aqui!

Ponche: então eu também vou ficar… — se aproximou mais dela

Lawyse: só pode ser loucura da minha cabeça! Isso! Eu vou fechar os meus
olhos e quando abrir não vai ter mais nada acontecendo aqui… — fez o que
disse — Droga! Ainda tá aqui?

Ponche: claro, meu amor… e vou ficar muito mais tempo! — a beijou meio que
à força

A princípio Lawyse relutou o máximo que pôde. Não negava que sentia
uma atração pelo noivo da amiga, mas aquilo já estava além das suas virtudes
mais inatas. Ou estava sonhando ou estava no mais alto grau de insanidade. O
que a acalentava era saber que ele estava viajando por questão de força maior.
Vira essa tarde mesmo Anny lhe falando ao telefone. E pelo número inscrito no
aparelho, era realmente internacional a ligação. Além do mais, pelo mínimo que
conheceu dele, nunca a trairia dessa forma.

Estava cansada, querendo dormir, mas sem conseguir, com a ilusão de


um dos homens mais irresistíveis que conhecera lhe seduzindo, sozinha numa
casa enorme e silenciosa… Situação perfeita… Homem perfeito… Quem iria
resistir? Ela se afastou um pouco dele, lhe lançou um semi-sorriso e apertou a
boca de encontro à dele. Uma energia selvagem e incontrolável estava
surgindo dentro de Lawyse. Estava até certo ponto impaciente porque suas
mãos não eram tão céleres ao ponto de satisfazer seus desejos. Há muito
tempo não sentia o calor de um homem assim. Só agora se deu conta disso.
Talvez já tivesse se acostumado somente ao prazer em ver seus sonhos
materiais se realizando. A necessidade de libertar essa força lá bem interna era
mais que feroz. No momento em que ambos estavam nus, ela poderia muito
bem ter se sentado sobre seu membro viril e tê-los satisfeito. Só que ele não
permitiu. Segurou-a com mais força como que prevendo isso.

Ponche: tá com pressa? Ainda nem te olhei direito…

Lawyse: eu quero você… — com voz passiva

Ponche: eu sei… — ele se ajeitou e deixou uma de suas mãos percorre-lhe um


caminho reto desde um ombro até uma coxa

Lawyse: quero você em mim… — quase sem voz

Ponche: não, você quer só uma parte de mim… — disse pacientemente,


contrastando com a compulsão dela
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Ponche tomou-lhe um dos seios à boca. Era um carinho bem gentil, mas
que foi se convertendo em uma tortura incomensurável. Olhou em seus olhos e
viu uma mescla de medo e desejo. Ela tremia de excitação porque ele não a
deixava exalar tais sensações com atitudes. Segurava-a, forçando-a acumular
todas essas inquietações. Quando viu que já estava sem forças de tanta
excitação, uniu os dois corpos num movimento lento e gradual. O corpo de
Lawyse trepidava embaixo do dele. Se antes ele prendia-a, agora buscava
mais do que nunca soltá-la. Trabalhava com os quadris de forma imperante e
completa. Apertou fortemente seus ombros buscando mais equilíbrio. Sem
demora, ela sentiu o corpo implodir e ficar mole perante àquela tensão. Ele
novamente buscou sua boca, não cessou os movimentos. Colou os corpos. As
mãos dela deslizavam por suas costas, arranhando-as. Quando por mais uma
vez sentiu que as mãos dela escorregavam sem vida por sua pele, finalmente
se esvaziou por completo dentro dela.

Teresina, consultório da Dra. Rosângela Veloso, 22/10/08, 07h12

Rosângela: muito bem, Lawyse. A que devo sua visita logo tão cedo?

Lawyse — tremendo de nervosa: podemos ir pro divã? Sempre quis deitar


num… — até sorrindo ficava trêmula

Rosângela: ah, claro… Desculpe… Esqueci de perguntar… Mas é que


pacientes jovens como você geralmente preferem algo mais informal. Mas
vamos! — Lawyse sentou no divã e Rosângela numa poltrona ao lado

Passaram alguns minutos e nada de Lawyse se manifestar.

Rosângela: não veio aqui só pra sentar no divã, né? — sorrindo

Lawyse: é que tô sem coragem…

Rosângela: quer remarcar a consulta?

Lawyse: não! Não! Esse assunto não pode passar de hoje! — decidida

Rosângela: então vamos… me conte o que foi que houve…

Lawyse: é… eu acho que tô ficando louca…

Rosângela: ah, você tá ficando louca. Interessante… Continue…

Lawyse: ontem à noite eu tava sozinha em casa. Então apareceu o noivo de


uma amiga minha.

Rosângela: sim… até agora só vejo uma possível traição, não vejo loucura…
Mas continue…
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Lawyse: só que não era o noivo dela! Não podia ser! Ele tá há milhares de
quilômetros daqui… — explicou angustiada

Rosângela: já pensou na possibilidade de ele não ter viajado?

Lawyse: já, mas não tem como… Tenho certeza e provas que ele não está
aqui.

Rosângela: certo. Sim e então o que ele fez?

Lawyse: ele me seduziu.

Rosângela: o noivo da sua amiga que não está aqui te seduziu… Continue,
continue…

Lawyse: nós passamos a noite juntos… se é que me entende…

Rosângela: poderia ter sido um sonho?

Lawyse: sem chance… até porque acordei do jeito que fui dormir no seu
suposto sonho.

Rosângela: tem namorado?

Lawyse: isso não vem ao caso.

Rosângela: pelo contrário! Pode ser inclusive a explicação.

Lawyse: tá, não tenho. E daí? Já sabe o que tenho por acaso? — irônica

Rosângela: não, mas vamos continuar… O que mais aconteceu?

Lawyse: como o que mais? Quer mais que isso? Senhora, eu acabei de dizer
que transei com um espírito, uma alma, uma ilusão, uma assombração! Ah,
sabe de uma coisa, sei nem o que tô fazendo aqui! — se levantou pra pegar a
bolsa

Rosângela: volte aqui… não terminamos…

Lawyse: vai se catar vai! — saiu batendo a porta de raiva

Rosângela: mas essas mulheres de hoje em dia não sabem mais aproveitar a
vida… Tem um homem que vem à noite só pra satisfazer os desejos dela e
ainda fica reclamando! Eu, hein! Falando nisso deixa eu reservar o meu de hoje
á noite… Deixa eu me lembrar… Hoje quem vai tá na Rua Coelho de Rezende
é o Adônis…
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Teresina, promotoria, 22/10/08, 18h11

Lawyse: tudo bem, Jay? — agitada

Janete: sim… Algum problema?

Lawyse: por que?

Janete: tá meio nervosa…

Lawyse: preciso falar com Anny… Vim sem avisar porque ela não atende o
celular e…

Janete: tudo bem, Lala! Olha, ela tá em reunião agora, mas se quiser
esperar…

Lawyse: vai demorar?

Janete: acho que não, já começou faz tempo.

Lawyse sentou num dos sofás na recepção e ficou aguardando Anny.


Estava muito inquieta, olhava revistas, andava de um lado pro outro, olhava as
horas, voltava a ver revistas, serrava as unhas, cantava… Foram longos e
angustiantes poucos minutos, até que Anny e Dul saíram do elevador.

Lawyse: ai que bom!

Anahí: maninha! — abraçou bem forte a amiga

Lawyse: Anny, preciso falar urgente contigo…

Anahí: muito sério? — começando a ficar preocupada

Lawyse: é.

Anahí: vamos à minha sala então. Dul, depois continuamos sobre aquele
assunto. Jay, não me incomode por nada, tá?

Janete: ok, Anny.

Anahí: vamos, Lala. — as duas entraram na sala e se sentaram num dos sofás
— Pode falar, amorzinho…

Lawyse: primeiro eu quero te pedir perdão. Eu agi por impulso, devia ter me
controlado, rezado um rosário, ajoelhado em algum canto… — foi interrompida

Anahí: mana, eu não tô te entendendo…


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Lawyse: primeiro me perdoa? — praticamente implorando

Anahí: olha, perdão eu acredito que só Deus é quem pode dar… Eu posso te
desculpar com maior prazer, mas também só posso fazer isso se souber o que
é… Não se desculpa assim por nada…

Lawyse: tá… É que tô criando coragem pra contar…

Anahí: confia em mim, tá? Nós somos amigas… Seja lá o que for, se é mesmo
sincera essa amizade entre a gente, nada vai nos abalar. Pensa comigo, nem
minha irmã eu chamava de mana…

Lawyse: brigada por tudo… — um pouco mais aliviada

Anahí: agora vai. Me conta! Olha que é crueldade deixar uma curiosa com
curiosidade… — rindo

Lawyse: tá… — respirou fundo — Ontem, quando eu cheguei em casa, lá


depois de oito e meia, o Poncho tava lá.

Anahí: o Poncho na sua casa… tá… continua…

Lawyse: aí a gente transou. — se agitou de novo, enquanto Anny só a olhava


fixamente — Olha, eu sei que foi errado, afinal ele é teu noivo… Mas eu não
consegui me segurar! Não tô dizendo que tô sentindo algo por ele. Só que na
hora ali, ele veio contudo pra cima de mim… Se eu não cedesse, ele ia acabar
me enlouquecendo naquela cama! No começo, eu não quis, só que aí ele usou
todo o charme que um homem pode usar e não deu! Rolou! Foi mais forte que
eu! A culpa não foi só dele. Eu devia ter saído correndo pra fora de casa. Mas
às vezes penso que isso só ia mudar o lugar, não o ato, a gente ia acabar
transando do mesmo jeito… Fala alguma coisa, Anny! — desesperada

Anny não tinha conseguido se mover um só instante desde que a amiga


explodiu contando tudo. Ficou lá parada absorvendo cada palavra pronunciada
com uma técnica de mestre. A cada segundo, Lawyse aparentava estar mais
nervosa e ansiosa pela resposta da loira. O silêncio angustiante dilatou o
tempo entre as ações nesse momento. Lawyse olhava atentamente cada
mudança de traço no rosto da amiga, como que se preparando para o que
estava por vir. Foi então que uma atitude inesperada tomou conta do ambiente.
Anny começou a rir. E a rir muito. Não se lembrava de outro dia em que
sorrisse tanto assim. Dava altas gargalhadas que até Dulce, Jay e Ada, na
recepção, ouviam curiosas. Chegou a chorar de tanto rir. Sua barriga já até
doía e mesmo assim não conseguia parar. Só se acalmou quando viu uma
interrogação perdida pelo rosto aturdido de Lawyse. Demorou mais alguns
instantes para voltar à compostura de antes, controlando o riso ao máximo, até
que finalmente parou e chamou a amiga para um abraço.

Lawyse: eu tava com muito medo do que fosse acontecer… — se afastaram


Viianny 16

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: amiga, tem noção do que acabou de me contar?

Lawyse: tenho. Fui até numa psicóloga, mas não adiantou… Acho que porque
eu tinha que falar era contigo. Mas assim, como tem certeza que não era o
Poncho de verdade?

Anahí: simples. Porque nessa hora ontem a gente tava transando pela
webcam. — sorriu calmamente

Lawyse: ah tá…

Anahí: tudo certo então?

Lawyse: sim… — sorriu aliviada

Anahí: só mais uma coisa… Assim, sempre te disse que o Poncho é o próprio
fogo na cama… E lá? Foi tão quente assim também? — disse com cara de
tarada sorrindo

Teresina, hospital São Marcos, 24/10/08, 23h16

Chris*Ucker diz: sabe q adoro tc contigo?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: o mesmo que se passa
comigo…

Chris*Ucker diz: ñ tenho nem como agradecer td o q fez por mim

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: só que eu não fiz nada! Tudo
o que me contou foi novo pra mim. Não sabia nem o que te dizer…

Chris*Ucker diz: mas isso foi o melhor. Pq tu ficou do meu ld e m fez seguir em
frente ao meu modo. Assim eu pude tomar minhas próprias decisões e sem medo d m
arrepender pq foi algo meu. E tmb smp q keria descontar minha raiva tu botava aí uma
foto d uma ruiva qlqr e eu brigava à vtd.

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: kkkkkkkkkkkkkkkk

Chris*Ucker diz: sabe o q eu tava pensando?


Viianny 17

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque
um salto alto e só ande na pose...” diz: fala

Chris*Ucker diz: acho q tá na hora da gnt se conhecer pessoalmente

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: não sei. Estou meio
insegura…

Chris*Ucker diz: mas p q?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: sei lá!

Chris*Ucker diz: assim vou pensar q é uma coroa tarada por médicos carentes…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: kkkkkkkkkkkkkkkk não é
isso… Só acho que não precisa ter tanta pressa… A gente só se
conhece há mais ou menos dois meses.

Chris*Ucker diz: pra mim isso é muito tmp. Aceita vai? Kero q nossa amizade saia
desse mnd virtual e seja mais real, entende?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: entendo sim… Tu se afastou
dos amigos por causa dela, não foi?

Chris*Ucker diz: não que eu tenha m afastado, só q evito sair com eles por causa dela.

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: ainda tem muita raiva?

Chris*Ucker diz: ñ, a raiva passou. Tem hora q chego a entender o ld dela. Agora
voltar pra ela é q ñ dá. Pelo menos por enkanto…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: eu duvido que não queira
voltar pra ela…

Chris*Ucker diz: kkkkkkkkkkkkkkkk

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: verdade! Aposto que quando
vai dormir só se lembra das noites que passaram juntos… E ainda
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
fica se perguntando se ainda vai ter ao menos uma última noite
com ela…

Chris*Ucker diz: como sabe disso td?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: já sofri por amor… E é por
isso que te aconselho a enterrar o orgulho e ser feliz…

Chris*Ucker diz: não consigo! Juro q já tentei!

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: não consegue ou não quer
conseguir?

Chris*Ucker diz: na vdd eu ñ keria msm… eu keria q ela sofresse do jeito q eu sofri
por saber q por culpa dela ñ tô hj aki com meu filho.

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: então uma mãe não sofre
pela perda do filho?

Chris*Ucker diz: claro q sofre! Só q ela ñ se importou com o q eu pensava!

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: ai, coração… Acho que deve
abandonar essa fantasia de justiceiro do mundo e viver!

Chris*Ucker diz: acha q eu seria feliz tendo q acordar td dia ao ld d alguém q matou
meu filho?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: só não é feliz quem não quer!
Além disso, muitos outros filhos podem vir… Só depende de ti…

Chris*Ucker diz: acha msm q eu devo procurar ela?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: eu acho que você deve seguir
seu coração e buscar a felicidade… Você é que acabou de dizer que
ser feliz significa ir atrás dela…

Teresina, promotoria, 07/11/08, 12h42


Viianny 19

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: me disseram que tem ligação pra mim… — chegando correndo até Jay

Janete: sim. Já passei pra tua sala.

Anahí: OK! Poncho deve tá chegando. Ele veio me buscar pra almoçar. Diz pra
ele me esperar aqui.

Janete: tá certo, Anny… — a loira saiu correndo pra sua sala, deixando a porta
aberta

Cláudia saiu de sua sala com vários papéis bagunçados em mãos e foi
até Jay.

Cláudia: Anny ainda tá aí? — mexendo aleatório e rapidamente nos papéis

Janete: tá na sala dela ao telefone.

As portas do elevador se abriram e Poncho adentrou o pavimento.


Imediatamente se encaminhou rumo a Jay.

Alfonso: e aí, Jay? Tudo bem?

Janete: muito bem sim! E você?

Alfonso: ótimo! Cadê a Sra. Herrera?

Cláudia: não sabia que sua mãe estava aqui…

Alfonso: também não sabia que você se metia na conversa dos outros,
Cláudia… — disse calmamente — E então, Jay?

Janete: na sala ao telefone. Pediu pra você esperar…

Janete: tudo bem… — sentou num dos sofás

Cláudia: pois se pra mim não tem recado, eu vou entrar… — entrou a sala da
chefa — Oh, Anahí! — gritou ao ver que não foi nem vista, já que a loira estava
concentrada mexendo no computador e falando ao telefone

Anahí: o que quer? — já com raiva por ser interrompida — Não, não é com
você. Acabei de ver o e-mail e já vou imprimir… — falou com a pessoa do outro
lado da linha

Cláudia: eu preciso… — foi interrompida

Anahí — gritando após tapar a entrada de som do aparelho: Jay! Tira essa
mulher daqui! Eu tô ocupada agora!

Cláudia: o que pensa que tá fazendo?


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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Anahí: gastando melhor meu tempo! — começou a gritar de novo enquanto


analisava um papel recém impresso — Jay!

Alfonso: deixa comigo, Anny! — gritou da recepção

Cláudia: isso aqui tá que nem a casa da mãe Joana! Grita mais vai! Meus
tímpanos aplaudem! — irônica

Anahí: olha, aqui não é a casa da mãe Joana, mas é a sala da mãe Anahí e eu
quero que você saia daqui! — acentuou mais a voz no final da frase

Alfonso: vamos, Anny! — falou se aproximando da porta da sala

Poncho vinha caminhando reto de um ponto que já permitia certa


visibilidade do ambiente no interior da sala. Andava de forma elegante, sem
deixar escapar um ruído da sola dos sapatos. Foi sua voz cada vez mais
próxima que fez Anny se apressar em amassar e jogar numa gaveta qualquer a
tal folha que analisava. Foi uma atitude imatura e espontânea, seguida de uma
aparência desconfiada e um pouco nervosa.
Ela era uma mulher inteligente, sabia se manter na linha tênue entre a
frieza e a emoção. Sabia o seu lugar e os seus riscos. Corria-os
conscientemente. Por isso talvez seja que manteve a compostura diante da
possível revista de Cláudia. Ou pior, do possível reparo de Poncho…

Anahí: tá tudo certo. Muito obrigada! — desligou o telefone

Alfonso: se Cláudia quer ficar aqui, deixa ela aí! Vamos embora!

Anahí: boa idéia, amor! — pegou a bolsa e saiu de mãos dadas com o noivo

Cláudia: ei, vocês vão me deixar aqui sozi… — sua voz foi barrada pelo bater
da porta — Vai me pagar, Anahí Giovanna! E não é promessa furada de vilã de
novela mexicana, sua descendente de quinta!

Janete: falando sozinha, Cláudia? — disse após entrar na sala sem ser notada

Cláudia: eu? Eu não! E tu aqui é o que?

Janete: só vim avisar que vou indo, mas se quiser continuar aqui plantada na
sala da Anny, fique à vontade… Depois vocês se acertam pessoalmente…

Cláudia: e tu pensa que é quem pra vim me intimidar desse jeito?

Janete: só estou repassando uma ordem da Anny… — deu de ombros

Cláudia: pois diga pra ela… — foi interrompida

Janete: tchau, Cláudia… — saiu batendo a porta


Viianny 21

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Cláudia: até essa funcionariazinha cabo de vassoura usada me trata assim?


Isso já é demais! E vamos ver o que tanto essa loira puro osso esconde… —
começou a remexer nas gavetas — Tá aqui! — desamassou o papel — O que?
Era isso? Coisa mais sem graça! Mas deixa que eu cuido disso! — pegou um
papel e começou a escrever — Poncho com certeza vai dar um jeito de pegar
esse papel… E vai encontrar um lindo bilhete de Tony Monford… Acho que
ainda me lembro mais ou menos da letra dele… Isso… Um beijo… — falava
enquanto escrevia — Saudações… T. Monford! — amassou o papel e o jogou
no chão, levando consigo o verdadeiro bilhete

Saiu da sala e se acomodou na recepção. Ligou pra Poncho, que estava


na recepção térrea com Anny conversando animadamente com Dulce e Jay.

Alfonso: que foi? — disse desgostoso

Cláudia: oi, Poncho! Olha, liguei pra avisar que sua noivinha esqueceu o
celular na sala…

Alfonso: espera… Anny, você esqueceu o celular na sala?

Anahí: deixa eu ver… — vasculhou sua bolsa — Acho que sim… Não tô
encontrando…

Alfonso: vou buscar… — desligou o celular e seguiu para o andar pelo


elevador

Ao chegar, encontrou Cláudia na maior calma na recepção lendo um


jornal.

Cláudia: vocês me tratam do pior jeito possível e olha só o que eu faço… —


falou sem deixar de olhar pro que lia

Alfonso: cadê o celular?

Cláudia: na sala dela ora! Sou colega não empregada!

Visivelmente irritado, ele entrou na sala da loira e iniciou a busca pelo


aparelho. Encontrou-o perto do computador. Numa passagem de vista pelo
chão, ao tomar pela mão o celular, mirou um papel amassado e jogado.
Lembrou-se da cena de agora há pouco. Anny agitada tentando esconder
alguma coisa. Devia ser aquilo. Seu instinto investigador foi mais forte, então
pegou o respectivo papel. Relutou em abri-lo na dúvida se iria encontrar algo a
mais que comprometesse sua doce Anny, mas não conseguiu se conter. A
dúvida o levaria à loucura ou o deixaria no mesmo abismo que separa o certo
do errado. Leu atentamente cada palavra. Várias vezes… Guardou o bilhete e
saiu.
Viianny 22

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Quando as portas do elevador se fecharam, Cláudia correu pra sala de
Anny. Vibrou ao ver que Poncho levara consigo o falso papel e, antes que
fosse tarde, colocou de volta no lugar o verdadeiro.

Cláudia: não vou cortar seu cabelo, Anahí… Mas vou ferir sua alma…

* 1 MÊS DEPOIS... *

Teresina, American Bar, 05/12/08, 20h11

Christopher sempre foi um cara muito tranqüilo. Tinha um jeito manso


que conseguia encantar variadas categorias de mulheres. Aproximava-se delas
com a mais humilde das intenções e, quando menos esperavam, já estavam
caidinhas por ele. Até Anny passou por seus braços. Não que tivessem tido
algum relacionamento. Simplesmente numa tarde incomum resolveram trocar
experiências de cunho amoroso. Assim é que ele conheceu Dulce e voltou
seus joguinhos de sedução exclusivamente para ela. Desde o primeiro instante
teve a certeza de que uma forte ligação havia ali. Um laço talvez não alcançado
com outras… Um laço não desejado com outras…

Necessitava estar ali naquela mesa naquele momento. Adiara já aquele


encontro o máximo que poderia. Um dia a mais e não teria as medidas certas
em suas atitudes dali em diante.

Combinaram um código. Cindy viria de vestido vermelho e ele estaria


com uma rosa em mesma tonalidade pronto para lhe presentear.

Com Cindy criou uma forte amizade. Sinceramente desejou sentir as tão
famosas borboletas a cada nova conversa. Sinceramente desejou parar de
sofrer. Conheceu Dulce e logo se apaixonou. As coisas não deram certo por
duas vezes. Tinha a tese de que isso acontecera porque não eram amigos de
verdade. Eles só se amavam e pronto. Não tinham uma relação de
cumplicidade ou de companheirismo. Queria tentar algo novo. Ou então
conseguir refutar essa teoria. Amizade era algo certo entre ele e Cindy. Talvez
nascesse um amor ao cruzarem seus olhos pela primeira vez.

Quanto mais perto na hora combinada chegava, mais se mostrava


nervoso e agitado. Nem as duas doses de Whisky 12 anos o acalmaram.
Começara inclusive a pensar negativamente. Criara tantas expectativas para o
dia de hoje. O tão esperado dia. Queria de verdade seguir um novo rumo na
vida. Uma nova estrada na qual voltar atrás significasse de imediato lembrar
dias felizes e saber que mais deles são certos no amanhã.
Viianny 23

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Numa atitude meio desesperadora, tirou a visão do copo de bebida e
encarou a entrada. No momento em que Cindy pusesse os pés no bar, ele
acordaria a rosa que repousava encima da mesa e lhe receberia logo na
entrada do local. Foi assim que avistou vários casais que também estavam por
ali. Uns no balcão conversando animadamente entre um beijo e outro. Outros
em mesas alternando prováveis declarações de amor regadas a beijos
molhados com danças num palco discreto em certa área do bar.

Lembrou-se de Dulce. Não queria. Mas se lembrou. Ver aquele casal ali
na frente se encarando docemente o levou á cena de quando a pediu em
namoro anos atrás. Será que era isso que eles estavam fazendo agora? Será
que aquele homem segurará sua mão tão fragilmente como ele mesmo fizera
há anos? Será que as palavras mais lindas e os sentimentos mais puros se
materializaram naquela mesa do lado? Não queria. Mas se lembrou de Dulce.
Lembrou-se da noite, após o pedido de namoro, em que insistiu que eles
deveriam experimentar uma valsa. Relutante, mas ela aceitou. Ensaiaram
alguns passos, mas depois se deixaram levar por seus instintos. Os outros que
curtissem suas faltas de jeito. Bons tempos aqueles… Foi com esse
pensamento involuntário que finalmente entendeu o que tanto Cindy tentava
lhe fazer entender. Só não é feliz quem não quer. Aí está a chave de tudo. Ele
é que só se lembrava dos momentos ruins com Dulce. Momentos ruins que
sempre existem entre casais que se amam. Sua vontade agora era correr de
encontro a sua amada, mas algo tinha que ser resolvido ainda. No mínimo,
devia um “muito obrigado” a Cindy.

Mostrava agora uma feição sorridente e animada. Como quem espera


pelo encontro (ou, no caso, reencontro) com seu grande amor. Só mais uns
instantes, Chris… Repetia a si mesmo. Em breve poderia ir de encontro
novamente com Dulce.

Admirava calmamente a rosa quando um foco de imagem vermelha


surgiu longe. Ficou meio receoso em encará-la. Vinha caminhando em sua
direção de forma bem provocante. Parecia até que já o conhecia, assim como
sua apreciação por um bom rebolado. Aproximava-se cada vez mais, na
mesma velocidade com que abaixava o olhar como um pré-adolescente em
seu primeiro encontro formal. Sentia-se o mais tolo dos homens, covarde e
sem ação. Se não fosse por uma voz conhecida lhe direcionando uma
mensagem, sua cabeça chegaria ao chão. Uma voz conhecida… Uma voz
muitas vezes ouvida… Uma voz saudosista… A voz de Dulce…

Christopher: Dulce? — espantado

Dulce: algum problema? — sem entender a surpresa

Christopher: não, imagina… Mas é que eu não esperava que… — não


conseguia se expressar direito

Dulce: qual o problema de eu vir encontrar com Mel aqui? Só porque ela é tua
irmã? Ainda somos amigas sabia?
Viianny 24

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Christopher: o que? — agora ele é que não entendeu nada — Do que tá


falando?

Dulce: tchau, Chris! — saiu em direção às costas dele

Ele a seguiu com o olhar. Entendeu tudo quando Dulce abraçou Mel em
outra mesa. O que parecia fácil agora se complicava. Só tinha que bater um
papo amigável com Cindy e cair fora, pra se acertar com sua ruivinha. Mas e
agora? Dulce veria de camarote toda a cena. Com certeza sacou que se
tratava de um encontro pela rosa estacionada na mesa. Ou ela ficaria com
raiva por isso ou pensaria que ele queria brincar com seus sentimentos, caso
lhe pedisse pra voltarem a namorar…

Nunca é tarde pra voltar atrás. Isso é verdade. Mas não é certo que se
vá alcançar o tão desejado final feliz só voltando no tempo. A vida só é simples
pra quem não faz parte dela…

Dulce: bridaga por ter me avisado… Quero só ver o que ele tá aprontando
agora…

Melanie: esquece meu maninho, Dul! Não vale a pena ficar sofrendo assim…

Dulce: de qualquer modo eu vou sofrer, então que seja do modo mais prático…

Melanie: e o que pretende?

Dulce: saber quem é a fulana ora! Não vou conseguir ficar me remoendo de
dúvida! Quero sim saber quem é… E se hoje eu souber que ele tá feliz com
ela, prometo sair com Bruno no sábado.

Melanie: combinado?

Dulce: quer que eu faça pink promise?

Melanie: não! Não precisa! — aterrorizada com a hipótese

Dulce — rindo: entendi… Gostou do meu vestido?

Melanie: tá lindo! Deu certo contigo… Tu tem a pele bem clara… Fica bem
destacado… O único problema é que cabelo vermelho com vestido vermelho
não é muito legal…

Dulce: pior é que é verdade…

Melanie: e por que veio assim?

Dulce: bonequinha de vudu, pensa aqui comigo. Eles não se viram ainda.
Devem ter combinado algum modo de se reconhecerem. A única opção em
Viianny 25

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
que eu poderia ter mais chance de acertar era vindo toda de vermelho. O mais
lógico então seria um vestido. E aqui estou.

Melanie: e agora? Acertou ou não?

Dulce: acho que sim, porque ele me olhou de um jeito que pensava que era eu
a tal fulana.

Melanie: nossa!

Dulce: pois é… Agora temos que esperar ela chegar… Enquanto isso, vamos
curtir… O que quer pedir?

O tempo foi passando e Chris não sabia o que fazia. Se ia embora pra
não zangar Dulce ou ficava em respeito a Cindy. Logicamente Dulce tinha mais
importância em sua vida, mas se tratava de uma questão de respeito. Pedira
tanto por esse encontro que o mínimo esperado seria que comparecesse. A
dúvida o consumia o tempo todo. Este então foi passando sem nem perceber.
Dulce também estava feito louca na outra mesa. Imaginava até algumas cenas
dela dando uma surra na tal rival. Tentava esquecer o assunto conversando
com Mel só que, à medida que um assunto acabava, a realidade voltava a
pairar. E a ansiedade inundava seus pensamentos. Pensava que aquilo tudo
não fosse acabar nunca, tamanha era a lerdeza no transcorrer da noite. Em
meio a pensamentos vagos e suposições infindas, eis que viu uma figura
suspeita adentrando o estabelecimento.

Dulce, Mel e até Chris não conseguiam acreditar no que viam. A reação
imediata de Dul foi começar a rir, principalmente depois de entreolhar a cara de
espanto dele. Mel também não agüentou e caiu na gargalhada. Era seu irmão,
mas ali não tinha como resistir. Até porque sentiu que essa era a vontade dele
também diante da situação.

Era uma figura, sem dúvida, muito chamativa. Atraiu olhares desde que
pisou com o primeiro pé ali. Um brilho que chegava a cegar os mais próximos.
Uma ousadia digna de mestre. Um olhar profundo capaz de hipnotizar o mais
ogro dos homens. Não foi à toa que levara Chris tão facilmente na conversa a
ponto deste imaginar alguma possível relação futura. Via-se ali de forma
transparente uma mulher com todas as qualidades desejadas pelos homens.
Isso se fosse uma mulher…

Quando se recuperou um pouco do susto, ele segurou a rosa sobre as


pernas. Sentia-se totalmente envergonhado pelos rastros de risadas que ouvia
de Dulce e sua irmã. Por que não fui embora? Era o que se perguntava sem
parar… E o pior é que não sabia o que fazer! Cindy já vinha caminhando
rondando as mesas. Certamente caçando a rosa vermelha que lhe indicava. Aí
é que ficou mais pálido que defunto. O sangue todo lhe descera aos pés.

Dulce: faz alguma coisa, Mel! — rindo muito, sem conseguir parar
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Melanie: tá…

Mel se levantou e buscou Chris pra sua mesa. Ele deixou sem perceber
a rosa jogada na cadeira. Sentia seus olhos rentes ao chão de tanto embaraço
por tudo. Na cabeça delas, ele marcara um encontro com uma desconhecida
pensando estar em uma transação lucrativa, no entanto, o ouro era falso. Era
só pau pintado de dourado.

Dulce: não sabia que tinha mudado de lado, Chris… — ainda rindo

Melanie: não contou nem pra mim, maninho! — fingindo estar magoada —
Logo eu que podia te arrumar vários gatinhos…

Christopher: sem piadinhas, por favor… — querendo rir também, mas sem dar
o braço a torcer

Dulce: tá! Assunto encerrado… — séria — Mas posso te fazer uma última
pergunta?

Christopher: tá… — aceitou pelo tom sério com que ela falou

Dulce: assim… Você ainda é donzela?

Pronto. Elas se acabaram de rir de novo. Dulce tinha consciência de que


seria um constrangimento desnecessário. Mas não conseguiu segurar mais
essa demonstração de dotes humorísticos. E o ato ao que pareceu não foi visto
como mal intencionado, já que o próprio Chris se entregou a umas boas
risadas. Isso resultou até numa sensação de cumplicidade entre os três. A
ruiva teve a impressão de que estava mais perto do que imaginava de ficar
com seu grande amor de novo, mas preferiu não criar ilusões. O que teria que
acontecer, mais cedo ou mais tarde, sucederia…

Como já estavam ali, resolveram curtir a noite. Conversaram bastante


sobre basicamente nada. Beberam à vontade. Dançaram. Trocaram
segredinhos típicos do décimo drinque. De vez em quando surgia um clima
diferente entre Dulce e Chris. Do tipo que se Mel não interrompesse, a mesa
serviria de cama. Aliás, ela era a mais lúcida dos três. Já se acostumara ao ar
alcoólico da vida. Era perita no assunto. Por isso talvez seja que foi a única a
avistar uma mulher (mulher mesmo…) vestida em vermelho andando
timidamente por entre as mesas.

Tinha um encanto especial, mas o usava de forma quase imperceptível.


Aparentava ser alguém bem recatado, apesar de que mesmo assim atraía
olhares gulosos dos homens e maquiavélicos de suas acompanhantes. Ali foi
representada uma cena típica de novelas românticas ao extremo. Todos se
encantavam com a mocinha, que não se interessava por nenhum deles
enquanto só surgiam mais vilãs. Na verdade, ela parecia caçar algo ou alguém.
Caminhava perdida em meio às tantas pessoas que freqüentavam o bar. Ia e
voltava. Circulava e depois recuava. Estava sem rumo. Até que algo a fez parar
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
e seguir numa direção definida. Uma rosa. Uma rosa vermelha caída sobre
uma cadeira. Pegou-a, cheirou-a dando uma circulada com o olhar pelo
ambiente ao redor e foi embora em seguida, levando-a.

Apenas mais um segredinho que Mel só dividiria com sua lápide. A


versão encontro com traveco parecia bem mais divertida para conversas em
família…

Teresina, apartamento de Poncho, 07/12/08, 18h53

Oscar: então vai abrir o jogo com ela hoje? — ao telefone com Poncho

Alfonso: vou… Fiquei de ir ao apê ela…

Oscar: vai com calma na hora! Gostaria de tá aí contigo agora, mas o vôo foi
cancelado. Só vou chegar aí amanhã…

Alfonso: tá agora aonde?

Oscar: num hotel em São Paulo. Consegui vaga só no vôo de quatro horas da
manhã. Vou descansar agora e depois volto pro aeroporto.

Alfonso: é, faz isso… É uma viagem cansativa dos Estados Unidos pra cá.
Bem… já vou indo… Combinei de ir lá depois das sete. Quando chegar
amanhã me liga que vou te pegar no aeroporto.

Oscar: tá certo. Boa sorte! Tchau…

Alfonso: tchau… — desligaram

Teresina, apartamento de Anny, 07/12/08, 19h26

Anahí: oi, mãe! Tá ocupada? — ao telefone com Marichelo

Marichelo: pra você nunca, coração… Aconteceu alguma coisa?

Anahí: não… Só liguei porque queria ouvir tua voz… Tô morrendo de


saudade…

Marichelo: também tô… Aquela minha viagem rápida só serviu como aperitivo.
Vai tirar férias nesse final de ano?

Anahí: não vai dar, mãe… Ainda não… Mas em julho é certeza…
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♥ Sólo déjate
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Marichelo: ah, não, Anny! Já vai fazer dois anos que tu não tira férias! E tudo
por causa desse mistério todo que tu não me conta! — contrariada

Anahí: calma, mamita! Tudo vai acabar! Só falta bolar uma estratégia pra
chegar de surpresa… A minha parte mesmo já terminei só que não posso me
ausentar enquanto tudo não for resolvido!

Marichelo: tudo bem… Ah, nem te conto! Andei dando umas prensas por aí e
descobri o que tanto Cláudia fez quando veio aqui.

Anahí: e o que foi?

Marichelo: contratou um investigador pra saber o que eu fazia. Acredita nisso?

Anahí: muito cretina!

Marichelo: e o pior? O tal detetive disse que eu tinha 54 anos! — reforçou a


voz no final da fala

Anahí — rindo muito: então as plásticas não tão servindo não… Tá é mais
velha…

Marichelo: já conversei com Dr. Rey! Ele me garantiu que isso não deve ter
sido uma avaliação de quando o sujeito me viu…

Anahí: é… Ele deve ter pego isso com alguém…

Marichelo: alguém que quer que eu tenha um coma estético isso sim…
Quando eu soube disso, fiquei tão abismada! Sabe aquela cara de espanto?

Anahí: sei…

Marichelo: então, pensei até que fosse romper meu último preenchimento!
Imagina aí eu com a cara toda torta! Eu teria que fazer um transplante de face!

Anahí: não exagera, né?

Marichelo: não é exagero! Se duvidar, seria um transplante de cabeça toda,


não só de rosto…

Anahí: bom que te dariam outro cérebro… — rindo

Marichelo: só porque tá longe acha que não pode receber umas belas
palmadas é, amorzinho?

Anahí: cuidado para não deformar a mão também! — rindo muito

Marichelo: verdade! Sabia que eu fiz uma tattoo na mão? — animada


Viianny 29

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: era só o que faltava… — videofone começou a tocar — Ah, mãe, tenho
que ir… Poncho deve ter chegado!

Marichelo: ah tá… Fui trocada por uma máquina de sexo… Vai lá! Aproveita e
goza bastante!

Anahí: pode deixar… Te amo! Depois te ligo! Tchau!

Marichelo: tchau, coração! Também te amo muito, muito! — desligaram

Anny foi toda saltitante atender a porta, após verificar que era mesmo
Poncho à sua espera. Ao abri-la, pulou logo em seus braços lhe beijando de
surpresa. Quando se deram conta, já estavam deitados no sofá sob carícias
muito provocantes. Poncho então se lembrou do que tinha em mente para esta
noite e foi parando o beijo.

Anahí: que foi? Alguma fantasia pra realizar hoje?

Alfonso: pode ser… — adorando a idéia — Mas antes precisamos conversar.


— sério

Anahí: tudo bem… — se sentaram no sofá — Ah, antes que eu me esqueça,


vamos jantar hoje no apê da Dulce… Tia Blanca convidou…

Alfonso: tá certo. — sem coragem de começar a falar

Anahí: pode falar, amor… — ele se levantou e começou a andar ansioso —


Algum problema?

Alfonso: olha, primeiro quero deixar bem claro que te amo acima de tudo…

Anahí: também te amo, Poncho… Mas não tô te entendendo…

Alfonso: eu já sei de tudo… ou quase tudo… não tenho certeza…

Anahí: tá… Mas tudo o que? De que tá falando?

Alfonso: da tua ligação com a máfia das armas e aqueles assassinatos…

Anahí: o que? — chocada

Alfonso: eu quero te ajudar, Anny! Te tirar disso tudo! Não me interessa o que
tu já fez de errado nem o que tá planejando e muito menos se deve pagar por
isso… Só quero te livrar desse mundo de crimes!

Anahí: Poncho, espera bem aí um minuto… — tentou se levantar, mas não


conseguiu — Tu tem consciência do que tá falando?
Viianny 30

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Alfonso: tenho, Anny… Infelizmente tenho… Não sei como chegou até esse
Tony Monford e também não quero saber… Só sei que eu tô aqui e vou te
ajudar… — se ajoelhou na frente dela — Olha pra mim.

Anahí: como pôde, Poncho? Como pôde vasculhar por aí pra me incriminar?
— triste

Alfonso: confesso que errei quando fiz isso… Só que eu tinha que te proteger
do que quer que fosse! Tenta me entender!

Anahí — gritando: como quer que eu te entenda? — começou a chorar

Alfonso: eu não consegui me segurar, Anny! Faz parte da minha profissão! —


ficando em pé novamente — Além disso, como eu ia conseguir ficar quieto
sabendo que tu poderia tá em perigo? Eu não sou um idiota pra ver tu se
afogando e não te salvar! — começando a se alterar

Anahí: então desde o começo sabia que eu já tava em perigo? Só investigou


mesmo pra passar o tempo? Ah, por favor! Minta direito ao menos…

Alfonso: tá certo… Mas então eu ia ficar na dúvida? Eventos estranhos, saídas


misteriosas, coisas escondidas… Lógico que eu não tinha como suspeitar! —
irônico

Anahí: se não era da tua conta não precisava se envolver…

Alfonso: então preferiria que fosse um procurador, por exemplo, que


descobrisse isso tudo?

Anahí: tá me ameaçando, Poncho? Teria coragem de me denunciar? — ele


ficou calado — Responde! — gritou

Alfonso: não sei… — deu de ombros, olhando pro nada

Ela se encolher sentada no sofá. Tentava segurar o choro só que não


conseguia. Além de se sentir a pior mulher do mundo, também tinha
encontrado o pior homem pra lhe ser companheiro. Ótima combinação,
pensava. Fechava os olhos no intuito de tentar comprovar que nada daquilo era
verdadeiro. Um pesadelo, um filme a que estivesse assistindo, um mau
pensamento, tudo menos a realidade.

Alfonso: Anny, eu só quero te ajudar…

Anahí: me ajudar? Pegando arquivos do meu notebook? Trocando


confidências com minhas arquinimigas? Investigando minha vida?

Alfonso: como soube? Como sabe disso? — espantado


Viianny 31

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: sou mais esperta do que imagina… Eu sei de tudo, Poncho… pelo
menos tudo o que me envolve…

Alfonso: então sabia disso tudo que eu ia atrás?

Anahí: sabia… — se levantou, andou até a varanda pra respirar um pouco de


ar fresco e voltou — E foi isso o que mais me machucou…

Alfonso: não entendi…

Anahí: eu te deixei livre pra pensar o que quisesse. Teve dois caminhos a
seguir… E escolheu ir contra mim… Mesmo me amando como diz que me
ama, veio aqui me acusar… — derramou algumas lágrimas

Alfonso: mas é o que tudo indica! Como quer que eu vá contra as evidências?

Anahí: não importa as evidências! Não importa o mundo! Que todos se lixem!
Mas tu tinha que tá do meu lado! — gritou esta última frase sentindo as
lágrimas na garganta

Alfonso: é por isso que eu tô aqui! Droga!

Anahí: pensei que viesse aqui me prender… — irônica

Alfonso: eu vim aqui pra gente pensar em algo juntos… Fugir… Sei lá!

Anahí: ah, agora quer fazer algo junto comigo? Mas na hora de vasculhar por
aí nem pensou em mim… nem pensou na gente…

Alfonso: até parece que tu ia me contar tudo se eu viesse aqui perguntar…

Anahí: não, não iria mesmo… Eu tentei te poupar o máximo que pude! Acha
que eu me sentiria bem sabendo que tu corria perigo por aí?

Alfonso: e desde quando omitir protege?

Anahí: se sente mais protegido quem não sabe que corre perigo…

Alfonso: ah, não vem com essa, Anny! Olha só eu aqui! Sabia de muito e tô
tão vivo quanto tu!

Anahí: tá vivo por minha causa… — falou baixo

Alfonso: o que foi que disse?

Anahí — respirou fundo: na tua cola estão dez seguranças disfarçados…

Alfonso: como?
Viianny 32

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: eu contratei pra te deixar fora… Tu não sabe com quem tá se
metendo… Tá alimentando cobra e matando coelho…

Alfonso: quer dizer que nesse tempo todo eu era vigiado?

Anahí: só nas ruas.

Alfonso: ah, deixa ver se eu adivinho… O vendedor de bombons?

Anahí: era um deles sim…

Alfonso: por isso que em tudo que era lugar tinha um… Então, estamos
quites…

Anahí: quites uma ova! Eu não fiz nada contra ti um só segundo! Até tirei todas
as informações desse caso lá da promotoria…

***
27/08/08

Anny: Dulce, temos outro problema. Eu tinha saído pra pegar água, que a minha
tinha acabado. Quando saí, deixei uns papéis do caso Monford na mesa…

Dulce: acha que ele viu?

Anny: acho não, tenho certeza. Principalmente depois que vi esse papelzinho aqui
— apanhou um pedaço de papel no chão — cair. Olha só. Não só viu, como leu e
anotou o nome do Tony pra investigar. Ele é obcecado por justiça. Conheço esse
perfil. É daqueles que se ver uma formiga atravessando a faixa no sinal verde dá
voz de prisão.

Dulce: e o que vamos fazer? — preocupada

Anny: não tem outra saída. O jeito é eliminar… — triste

***

Alfonso: e acha que eu fui o pior dos homens em ir apurar as coisas pra te
ajudar?

Anahí: não preciso de ajuda, muito menos uma ajuda que quer me jogar na
guilhotina…

Alfonso: quando vai entender que o que mais quero é te ajudar?

Anahí: me ajudaria mais não se metendo nas minhas coisas… Pensei que
tivesse me livrado daquele velho que ficava no teu cargo antes… Olha só! Pra
substituir vem o Zorro com a espada da justiça…

Alfonso: depois não me entende! Olha só o que acabou de me dizer? O que


quer que eu pense?
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Anahí: eu queria que confiasse em mim! Poncho, tu acabou de me chamar de


assassina!

Alfonso: quer um jogo limpo então?

Anahí: até que enfim entendeu!

Alfonso: tá, então lá vai… Que tanto interesse é esse por Tony Monford?

Anahí: como é que é?

Alfonso: isso mesmo! Eu devia ter desconfiado que tinha mais coisa por trás
disso… Adrenalina, né? Não é isso o que todos dizem? Só que pra ti tinha uma
emoção extra! Me diz aí… quantas vezes transou comigo pensando nele? —
ela não conseguiu se controlar e lhe deu um tapa na cara, com direito a estalo
e ardência instantânea

Anahí: tá pensando que sou o que? Uma vadia é isso? — totalmente


transtornada — Tá me chamando de vadia, seu imbecil? — gritando

Alfonso: você que pediu sinceridade… — se defendeu apesar de se sentir


chateado consigo mesmo

Anahí: ah é? Então me responde essa… O que tu é então? Transando comigo


achando que eu pensava era no Tony? — falou com cara de nojo — Ah, já sei!
Já que eu tô com essa vadia porque não me aproveitar? Melhor do que trepar
por aí com uma puta de beira de rua! — bastante irritada

Alfonso: sabe que eu não seria capaz disso…

Anahí: claro que não! Depois de me chamar de assassina e rapariga, tu é um


santo! — debochando da cara dele — Sabe o que me dá raiva? É que eu sabia
que ia acabar me envolvendo contigo, mesmo sentindo que podia ser a maior
burrada da minha vida!

Alfonso: essa conversa não tá legal… Estamos com a cabeça muito quente…
Vamos parar um pouco aí, sim?

Ela só virou a cara e deitou num dos sofás. Imaginava que poderia
algum dia ter uma briga séria com Poncho, mas não daquela maneira, com
todas essas acusações. Lágrimas eram inevitáveis. Das duas partes. Ele não
sabia que iria doer tanto assim falar daquela maneira com sua amada. Pensara
em ter uma conversa civilizada, mas com Anny nada é previsível. Ela reagiu da
pior maneira possível. Fora que nem ousou se defender em nenhum momento.
Isso o angustiava ainda mais. Ou ela realmente era culpada da forma como ele
falara (tornando o silêncio um sinal de consentimento) ou a situação era mais
grave do que ele calculara, ao ponto de nem numa situação extremista como
Viianny 34

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
esta ela ousasse contar a verdade. Não sabia o que pensar. Foi sincero
durante a maior parte do tempo, e isso só o atrapalhara.

Depois de alguns instantes, Anny resolveu quebrar o silêncio…

Anahí: por que isso tá acontecendo, Poncho? — voz triste

Alfonso: não sei… Juro que não queria que isso acontecesse…

Anahí: e por que então começou essa conversa?

Alfonso: vai dar uma de infantil agora?

Anahí: assassina, vadia, infantil… Continue… — irônica

Alfonso: eu não agüentava mais conviver com isso ora!

Anahí: você que começou indo atrás de coisas sobre mim… Poderia ter
evitado tudo isso…

Alfonso: será que não entende que era uma obrigação minha ir atrás disso
tudo?

Anahí: obrigação em nome de que? Da tua reputação de corno? —


começando a se alterar de novo

Alfonso: obrigação comigo mesmo! Obrigação pelo nosso amor! Nós somos
noivos, Anny!

Anahí — gritando: eu aceitei um noivo! Eu quis ter um noivo! Eu até pedi pra
ter um noivo! Não um detetive particular! — agitada

Alfonso: só que não tinha como separar as duas partes…

Anahí: que sorte a minha, né? O pacote veio completo!

Alfonso: se coloca no meu lugar por um segundo sequer. O que faria?

Anahí: eu jogaria na tua cara desde o primeiro instante em que tivesse algo
errado…

Alfonso: duvido… — balançando a cabeça em sinal negativo — Tá dizendo


isso porque não sabe como eu tô me sentindo agora… que fiz isso tudo só
pensando no teu bem…

Anahí: tá! Tudo bem! Vamos fingir que eu acredite… Agora me diz… como?
Como ia me ajudar? Satisfazendo a tua curiosidade?
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Alfonso: isso eu não sei! Vim aqui hoje, agora exatamente pra isso! A única
solução que eu tinha em mente era fugir, ir embora, pra gente se mudar pra um
lugar bem longe… só nós dois…

Anahí: não sou nenhuma criminosa pra andar fugindo por aí… e nem tu, pelo
menos até onde sei… Também não sou mulher de correr do inimigo. Se ele
vier, eu dou um tiro no meio da fuça e outro entre as pernas. Quero ver se me
pega assim…

Alfonso: juro que antes quando eu te ouvia falando essas coisas até ria… Mas
porque pensava que era pura brincadeira…

Anahí: e agora não? Então por que não tem medo? Já que tem tanta
convicção de que eu saio por aí brincando de tiro ao alvo…

Alfonso: porque eu te amo…

Anahí: boa resposta… — tentando se manter firme

Alfonso: e sei que você também me ama…

Anahí: isso agora não importa!

Alfonso: pelo contrário, Anny… Isso é o que mais importa…

Anahí: não, não importa mais… Você acabou de me mostrar que de nada
adiantou tudo o que nós construímos juntos… Porque na verdade você nunca
esteve do meu lado…

Alfonso: isso não é verdade.

Anahí: é o que tá dizendo, mas não é o que aconteceu de fato. O amor basta.
Basta sim… Mas isso se dele surgirem os sentimentos complementares. A
lealdade, por exemplo…

Alfonso: acha que não fui leal?

Anahí: não acho, tenho certeza… E digo mais, seria melhor que viesse aqui
me dizer que não me amava mais… Porque o que eu tô sentindo agora é bem
pior que isso…

Alfonso: só é pior se tu quiser que seja pior. A gente se ama? Sim, pois
pronto!

Anahí: acha que eu me sentiria bem ao teu lado a partir de agora? Tendo que
sempre ficar na dúvida se vou ser alvo de mais especulações? Não há mais
confiança entre a gente, Poncho!

Alfonso: da minha parte há sim!


Viianny 36

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Anahí — irônica: ah é! Sem dúvida! Acha que sou uma assassina, que já
cometi vários crimes, que te traí… Com certeza confia em mim…

Alfonso: não é bem assim, Anny…

Anahí: ah! Pense o que quiser… Não quero mais saber de nada! Que se dane
também!

Alfonso: é assim que vai ser? Acabou assim?

Anahí: acabou desde o dia que começou a desconfiar de mim… Isso se um dia
isso começou de verdade… Me responde só uma coisa. Essa história de
noivado foi só mesmo pra me vigiar?

Alfonso: claro que não! Eu te amo! Até isso não entende mais?

Anahí: de você não espero mais nada… Tanto que me custou aceitar que te
amava e agora me acerta dessa forma… Obrigada, Alfonso Herrera! —
derramou uma lágrima, que limpou logo em seguida

Alfonso: fala isso pela história da tua irmã? — se segurando pra não chorar

Anahí: falo isso por tudo! Sempre tive dúvida se realmente eu seria uma
mulher com um amor pra contar… Pois é… Eu tenho… Eu tinha, melhor
dizendo…

Alfonso: e ainda tem! Anny, nós nos amamos! Isso é uma besteira perto do
que sentimos…

Anahí: besteira? Como acha que tô me sentindo por dentro? Eu acabei de


cruzar a linha entre o inferno e o nada, Poncho! Se tu, que me conheceu mais
do que muitos, fez isso comigo, chegou aqui já certo que eu era uma pessoa
mais que desprezível, o que será que o mundo ainda me dará? Vou ser
linchada por aí? Quer começar logo não? Vai! Atira a primeira pedra! Me bate!
Me xinga! Me atira pela janela! O que tá esperando?

Alfonso: estou esperando você parar de se sentir a vítima da história… —


seco

Anahí: ah é? Até que pode ser sabe o porquê? Porque eu quero sentir pena de
você! — começou a chorar de novo — Não é isso o que todas as mocinhas
falam? Pena? E sabe por que eu quero sentir pena? Porque pena é um dos
piores sentimentos que existe… E eu queria me sentir pior do que já tô me
sentindo! Porque só assim vou me sentir justificada por ter escolhido tão mal
uma pessoa pra amar…

Alfonso: me perdoa, Anny! — só agora ele se tocou do que viria pela frente e
começou a se descontrolar e chorar abertamente
Viianny 37

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Anahí: só Deus, Poncho… Desculpar eu até posso… Mas não me pede isso
hoje… Porque meras palavras agora não servem de nada. Só meu coração
pode te desculpar… Só que primeiro, eu tenho que juntar todos os pedaços
que você acabou de separar…

Alfonso: não fala assim, Anny…

Anahí: não dá! Simplesmente não dá! O que você tá sentindo aí, eu tô sentindo
aqui dentro de mim! E pra eu ser feliz um dia, vou ter que me reerguer longe de
ti…

Alfonso: não exagera, não é bem assim…

Anahí: exagero? Há um ano eu já tinha em mente o tanto de gatos que ia criar


na minha eterna solteirice… Ir a festas na companhia da minha sombra,
enquanto os outros curtiam seus lares alegres e felizes. Aí eis que surge você,
o típico galã, pra bagunçar minha vida… Eu me entreguei pra ti como nunca
tinha feito! Dividi segredos contigo! Abri minha vida! Sabe quantos namorados
meus conhecem minha mãe? Nenhum, Poncho! Nenhum! Sabe quantos
dormiram na minha cama? Nenhum! Eu te coloquei dentro da minha vida…
Contigo fui eu mesma… E recebo uma bomba nas costas! — limpou o rosto
cheio de lágrimas — Sabe qual meu maior desejo agora? Que você suma de
vez da face da Terra… Só assim eu também sumo e não sofro mais… — ela
pegou a bolsa e já ia saindo do próprio apartamento

Alfonso: Anny, espera! — a agarrou pelo braço e trancou a porta — Você não
pode fazer isso comigo! — desesperado

Anahí: foi você que fez… Me solta!

Alfonso: o braço eu solto… Você não…

Poncho a abraçou com força e juntos começaram a chorar. Agarraram-


se com desespero. Pode ser algo contraditório, mas o maior refúgio em
momentos de profundo sofrimento como este estava um no outro. Seguraram-
se como se o mundo atrás estivesse desabando e só assim teriam proteção, ou
então essa era a proteção que queriam. Num ato sem pensar, uniram seus
lábios. Um beijo apaixonado, mas não como os de antes… Esse tinha mais
sentimento. Como se tivesse valendo por todos os beijos que daqui pra frente
não dariam… Como se esse fosse servir de lembrança. A lembrança de um
amor único, um amor certo, mas que a partir de agora estaria vivo apenas no
oculto: no passado (através das doces lembranças), no presente (dentro dos
corações eternamente apaixonados) e quem sabe no futuro (na plenitude de
cada rastro de esperança). Um amor entre uma mulher cabeça dura, que não
queria dar o braço a torcer, e um homem que encontrou finalmente a pessoa
perfeita que criara em sua mente. Um amor impossível? Talvez… Mas de
qualquer forma, era amor…
Viianny 38

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Aos poucos ela foi se soltando e caminhando rumo à varanda, sem, no
entanto, adentrá-la. Respirou fundo, enxugou o rosto com as costas das mãos,
murmurou algumas palavras que se assemelhavam a pedidos de força
direcionados a si mesma, portanto não identificadas, e se virou para encará-lo.

Anahí: você precisa ir… — fez uma pequena pausa, voltando a falar logo em
seguida — Alfonso…

Alfonso: não consigo! Não posso! Não quero! Dói muito pensar que ao fechar
aquela porta provavelmente nunca mais volte a abri-la.

Anahí: pensasse nisso antes de bater hoje aqui… — tentando se manter firme
— Antes que vá acho que tenho que te agradecer… Vivi os momentos mais
felizes da minha vida ao teu lado… Apesar de agora todos eles fugirem da
minha memória, algum dia eu lembrarei todos os detalhes, todas as palavras…
Peço desculpas também, porque nesse dia, um dia que eu vou esperar
ansiosa, nesse dia vou ter muita raiva de ti… Porque não me mostrou como te
esquecer…

Poncho andou lentamente até ela, fez menção em silenciosamente lhe


tocar o rosto, mas sua mão perdeu a coragem e o rumo no meio do caminho,
caindo de volta rente a seu corpo desajeitado e sem forças. Por um segundo,
gravou em sua mente uma última imagem de Anny com os olhos incrivelmente
azuis e os cabelos elegantemente desajeitados e movimentados pela brisa fria
que circundava em sua volta, parecendo inclusive estar ali menos como mera
figurante. Virou-se e foi rumo à porta… Não se atreveu a olhá-la solitária na
sala num derradeiro piscar de olhos. Seguiu em frente, mas deixando-a onde
sempre estará… Em seu coração…

Teresina, apartamento de Dulce, 07/12/08, 21h36

Dulce: ah, mãe! Agüento mais esperar não! — inquieta no sofá

Blanca: quê?! — distraída assistindo a um filme de suspense

Dulce: eles não chegam nunca! E algo me diz que eu devo ir lá! Na verdade,
isso já faz um bom tempo, mas alguém tá me prendendo aqui… — irônica

Blanca: deixa eles, Dul!

Dulce: ah, claro! Eles lá se saciando e a gente aqui morrendo de fome!


Perfeito! Vou lá e é agora! — saiu antes de a mãe esboçar alguma opinião

Chegando ao andar, diante do apartamento, já notou algo estranho. A


porta parecia estar destravada, só encostada, o que não era nada normal se
tratando de Anahí Giovanna. Ela empurrou a porta bem devagar, com cuidado,
se protegendo de algum flagra de sexo selvagem em pleno chão da sala. Ao
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déjate amar ♥
invés disso, encontrou uma Anny chorosa deitada no sofá, com os olhos bem
vermelhos e inchados.

Dulce: Anny! — correu pra abraçar a amiga

Anahí: Dul… — pronunciou o nome da amiga entre soluços e suspiros


profundos

Dulce: loira, calma pelo amor de Deus! — angustiada — Respira fundo e tenta
se controlar!

Anahí: não dá, Dul! Ele veio aqui me acusar! Ele duvidava de mim!

Dulce: mas como? De que ele te acusou?

Anahí: de assassina!

Dulce: quê? — incrédula

Anahí: por pouco não me chamou de assassina… E também de vagabunda…


— se entristeceu mais ao lembrar as palavras dirigidas por Poncho

Dulce: canalha! — com muita raiva — Mas deixa, Anny! Quando ele descobrir
a verdade, vai se arrepender de tudo… Mas não chora mais, Barbie! Sabe que
odeio te ver assim! Cadê minha amiga valente e forte?

Anahí: deve tá dormindo por aí…

Dulce: pois vou já acordar… — tentando animar a loira

Anahí: não me deixa sozinha, Dul…

Dulce: não vou, pequena! Mas me diz uma coisa. E agora? Brigaram de vez?
— meio receosa em perguntar

Anahí: eu não ia agüentar conviver com ele, Chuck! Não dá!

Dulce: só que isso não é tão possível assim… O departamento em que ele
trabalha não é tão digamos que desligado de assuntos da promotoria…

Anahí: por isso é que vou viajar logo na próxima semana… — decidida

Dulce: como? Tem certeza?

Anahí: não posso ficar na mesma cidade que ele, Dul… Não agora…

Dulce: mas e as investigações?


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Anahí: consigo uma autorização especial e deixo tudo nas tuas mãos… Não
tem mais nada a ser feito mesmo…

Dulce: tá certo… Vamos jantar agora?

Anahí: tô sem fome…

Dulce: não mesmo… Se tu não vai pra lá, ela vem pra cá… E vou dispensar
minha mãe, ela vai ter encher de perguntas e não ia ajudar em nada…

Anahí: pede desculpa pra ela então…

Dulce: tá… Ah nem te conto… Mãe marcou tua consulta…

Anahí: como é que é?

Dulce: ela viu o cartãozinho da Dra. Lúcia em cima da minha cama e logo me
encheu de perguntas… Tive de dizer que era pra ti, senão ela me comia viva
na hora de preocupação…

Anahí: aí ela marcou?

Dulce: na mesma hora! Só não falou com a própria Dra. porque, pelo que
entendi, ela tava ocupada…

Anahí: tô é lascada… Já tô vendo…

Teresina, consultório da Dra. Lúcia Matos, 10/11/08, 10h13

Dulce: Anny, calma, é só uma consulta!

Anahí — andando de um lado pro outro: tu sabe muito bem que eu não
consigo me acalmar quando venho ver essa velha… — nervosa

Dulce: ah é… Até hoje não entendo essa implicância que tem com ela. E
também não entendo por que continua vindo aqui se não gosta dela.

Anahí: continuo vindo porque não conheço uma médica melhor que ela e
também não tô com tempo de caçar outra, já tava adiando essa consulta há
quase um mês. E não é implicância não…

Dulce: e é o que então?

Anahí: vai dizer que não se lembra que por culpa dela a tia Blanca soube que
eu não era mais virgem? E depois? Tá se lembrando do dia que ela me
mandou fazer uma mamografia? E que ela fez questão de ir lá pra ela mesma
fazer o exame em mim? Ela deformou todo o meu silicone! Tive que trocar as
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próteses… Dul, ela quer destruir a minha vida! Se duvidar, foi ela que
envenenou a cabeça do Poncho…

Dulce: faz-me rir… Quanto drama! Ela só faz o trabalho dela, Anny… E faz
muito bem, por sinal. Ela cuida de ti e te trata tão bem…

Anahí: o trabalho dela é caçar doenças, não deixar doenças… E eu não gosto
do jeito que ela me trata…

Dulce: ela é tão amável contigo, o que tem de errado nisso?

Anahí: Dul! Ela fica falando, me chamando de princesa enquanto fica metendo
coisas você sabe onde! Pra mim isso é um estupro! — nessa hora, uma mulher
passou por perto, ouviu e se aproximou mais

Mulher: e por que a senhora não denuncia?

Anahí: o que? — espantada

Mulher: minha irmã passou por isso. Eu te entendo.

Anahí: passou é?

Mulher: foi. Olha, não tenha medo. Ele não pode lhe fazer nada de mau. Só
porque é teu marido não quer dizer que seja teu dono. Vá na delegacia… Não
destrua mais tua vida…

Anahí: ah tá… Obrigada! — a mulher saiu — Eu hein…

Dulce: essa foi boa… — segurando o riso

Atendente: Sra. Anahí Puente, pode entrar.

Anahí: vamos, Dul.

Dulce: eu não… — começou a ler uma revista

Anahí: vamos, Dul! — em tom de ordem

Dulce: lê rê lê rê? — cantarolou a música dos escravos interrogando

Anahí: lê rê lê rê… — as duas entraram no consultório

Lúcia: que prazer em revê-las, minhas princesas! — toda delicada

Dulce: como vai, Dra. Lúcia?

Lúcia: melhor agora… E você, Anny? Sempre calada…


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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: eu estou bem… — forçando um sorriso

Lúcia: soube que está noiva…

Anahí: prefiro não comentar sobre isso… — séria

Lúcia: entendo. Já deve tá cansada desses jornalistas em cima querendo


saber de tudo. Minha filha é modelo. Sempre me liga dos Estados Unidos
contando das novas dos paparazzi… — passou um bom tempo relatando
casos enquanto Anny revirava os olhos e Dulce tentava se interessar pela
conversa pra não dar mais razão à amiga

Anahí: (pensando) ainda bem que o preço da consulta não é dado pela hora
que a gente fica aqui… Pagar pelas besteiras que ela fala seria o fim…

Lúcia: mas vamos ao que nos interessa. A consulta é só sua né, Anny?

Anahí: sim. Dulce veio somente pra me acompanhar.

Lúcia: seu histórico data a última consulta há cinco meses. Não deve ser
rotina, certo?

Anahí: não, não é…

Lúcia: então me conte. Estou aqui pra te ajudar no que puder.

Anahí: há algo de errado com meu ciclo.

Lúcia: desde quando?

Anahí: mais ou menos três meses…

Lúcia: e por que não veio aqui antes, minha querida? — preocupada

Anahí: eu viria algumas semanas atrás, só que o trabalho puxou muito e fui
adiando… Só agora pude vir…

Lúcia: não deixe o trabalho te dominar, princesa! Viva mais! Curta mais!

Anahí: engraçado, até onde sei você fica aqui até às oito da noite… —
sarcástica

Dulce: Anny! — deu um tapa escondido na amiga — Desculpa, Dra. É que ela
tá preocupada aí fica assim…

Lúcia: tudo bem. Eu entendo. Mas me fale o que há exatamente de errado com
seu ciclo?
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♥ Sólo déjate
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Anahí: tá errado é que não há nada de ciclo. Em setembro não veio, em
outubro veio só que nada normal e em novembro também não veio.

Lúcia: anormal em que sentido?

Anahí: só foi um dia e ainda assim muito pouco. Pra ser mais clara, só foram
uns pingos e pronto.

Lúcia: mas veio no período previsto? Tá tomando o anticoncepcional?

Anahí: tô sim. Tia Blanca não me deixa esquecer. E não. Não veio no período
certo.

Lúcia: deve ser algum problema na formação do endométrio. Algum


hormônio… Por algum fator a sua taxa de estrogênio ou progesterona deve ter
reduzido. Aí nesse caso teremos que combater tanto a baixa taxa como as
causas, pra não acontecer mais vezes. Vou chamar uma enfermeira pra colher
seu sangue e depois prosseguimos com a consulta. Daqui a pouco já teremos
o resultado. Enquanto isso, vamos fazer uma ultrassonografia pra ver o estado
do útero e ovários.

Minutos depois, Anny tinha acabado de abafar um palavrão em


decorrência do gelado gel usado no procedimento do exame. Dulce, sempre ao
lado da loira, teimava em segurar o sorriso. Anny tinha uma expressão de
indignação e incômodo estampado no rosto. Poderia até jurar que a amiga
preferiria star no escritório com uma pilha de papéis pra estudar, ao telefone
com Rivanildo e sob a mira de uma arma do que numa consulta com a Dra.
Lúcia. E é por isso que exigia mais da médica do que talvez fizesse com outro
qualquer. Provavelmente ali acontecia a prova de fogo da ginecologista. Se
tudo se resolvesse como num passe de mágica, a implicância recuaria. Só que
nada se resolve com mágica, em outras palavras, a implicância não tinha prazo
de validade.

Após olhar, analisar e fazer todas as caras possíveis, silenciosamente,


Dra. Lúcia se pronunciou. Aparentemente, ela procurou obter o máximo de
certeza possível antes de transmitir seu parecer.

Lúcia: olha, alguma coisa em tudo isso, em toda essa história, está errada.

Anahí: tá me chamando de mentirosa? — seca e direta

Lúcia: não, princesa. Não é nada disso. Mas é que não faz sentido.

Dulce: fala logo, Dra.! — impaciente

Lúcia: essa manchinha aqui… — apontou no monitor — Ela é a causa disso


tudo.
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déjate amar ♥
Dulce: e o que é? Um cisto? Mioma? Ectrópio? — falou rápido, curiosa,
espantando as outras duas — Qual é, gente?! Eu assisto a muitos filmes, tá?
— na defensiva

Anahí: acabe logo com essa dúvida… — angustiada, segurando firme a mão
de Dulce, como que pedindo forças

Lúcia: juro como isso eu não esperava, e acho que nem vocês, mas… — fez
suspense — Você vai ter um baby, Anny! — falou toda animada

Na mesma hora, Anny deixou a mão cair da de Dulce. As duas ficaram


sem ação. A ruiva criou forças quase instantaneamente e se concentrou em
ajudar a amiga. Para a loira, a notícia veio como uma explosão nuclear. A
bomba atingiu o alvo e aos poucos foi aglutinando todo o resto. Na sua cabeça,
as últimas palavras da Dra. Lúcia iam e voltavam sem parar. Como sussurros
incessantes e independentes que ecoavam pela mente, que agora revivia
flashes de todos esses três meses… O acerto de contas na sala de arquivo, o
sonho premonitório, o olhar de Poncho sob reflexo da lua após mais um
orgasmo, as pétalas de flores no resort, as lágrimas que inundavam suas mãos
naquela última briga aparentemente definitiva e, agora, essa brincadeira das
irmãs Parcas… Por mais que insistisse, sua boca seca engolia todas as
tentativas de pronunciar alguma palavra. Sentiu quando Dulce novamente
agarrou e beijou sua mão trêmula, enquanto interpretava sua expressão
incrédula no rosto. A médica notou o clima que surgia após o anúncio,
desfazendo logo a animação e deixando-as livres para sorver a novidade.

Dulce: não tem como tá errado?

Lúcia: não. Assim que o resultado do sangue tiver pronto, podemos confirmar
isso. Anny, vista-se que eu quero conversar contigo lá na minha sala. — Anny
se vestiu e foi com Dulce encontrar a médica

Anahí: algum problema? — totalmente perdida, aérea

Lúcia: pelo que entendi essa gravidez não veio em boa hora. Só que esse feto
não tem nada a ver com todas as complicações desse mundo que ainda não é
dele. Quero que me prometa que a partir de agora em tudo o que fizer vai
pensar nesse filho. Peço isso não só como médica, mas também como mãe.
Esse sangramento que teve é normal pra situação, só que exigiria repouso
imediato na época e cuidados redobrados a partir daquele dia. Teve sorte de
não ter abortado. Por isso é que a sua gestação é considerada de médio a alto
risco. Não por motivo patológico e sim por precaução. Temos que primar pela
vida desse novo ser e uma das primeiras medidas é nada de fortes emoções
ou preocupações. — começou a mexer no computador — Seus exames já
estão aqui no sistema.

Dulce: uma dúvida. Ela tá de quantos meses?


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Lúcia: pelo resultado do sangue, que confirma a gestação, são doze semanas
e três dias.

Dulce: e não era pra ter enjôos, náuseas…? Essas coisas?

Lúcia: algumas mulheres não sentem nada. Também varia de uma gravidez
pra outra. Pelo que vejo aqui nesse resultado, Anny está com uma taxa alta de
hemoglobina e anticorpos… Só que não foi detectada nenhuma infecção… —
pensativa — Tem tido insônia, Anny?

Anahí — parou pra pensar um pouco, forçando a cabeça a se focar na


pergunta e se distrair menos: acho que em algumas noites sim… Não lembro
direito, mas creio que tive insônia em umas noites. Não encontrei sonífero nem
calmante, aí apelei mesmo pra chás e suco de maracujá…

Lúcia: boas opções… Então, essas taxas altas devem ter resultado do excesso
de uma vitamina do complexo B, a B6. É o único motivo que vejo em comum
aqui… Ah, e voltando ao questionamento de Dulce, por coincidência essa
vitamina alivia ou até evita todos esses sintomas.

Dulce: mas e a barriga? Anny tá com a cintura sarada de sempre!

Lúcia: na primeira gravidez, a barriga costuma demorar a aparecer. Mas isso


também depende da gestante. Lembrei da minha mãe que me dizia que barriga
pequena é sinal de filho grande… Olha, eu sou obstetra e poderia emendar
uma outra consulta agora mesmo. Só que você não parece nada bem, Anny.
Precisa descansar e absorver essa idéia de ser mãe. Quero que vá pra casa,
tente relaxar, se alimentar direitinho e ficar quietinha. Seu filho precisa de você
bem…

Anahí: tá certo. Obrigada por tudo. — levantou se despedindo e saiu, sendo


seguida por Dulce

#Instantes depois…

Anny entrou rápido em seu apartamento, correndo direto pra sua cama.
Agarrou-se a um dos travesseiros enquanto olhava fixamente para um ponto
vago e longínquo. Dulce, que a acompanhara incessantemente, a seguiu com
calma. Limitou-se ao espaço da porta do quarto, analisando a situação e
tentando descobrir quais as melhores palavras a serem ditas nesse momento.
Deitou ao lado da amiga, tocando de leve seus cabelos desajeitados. Via
algumas lágrimas indo contra a sua vontade, rolando por seu rosto.

Dulce: eu estive do teu lado quando foi suspensa pela primeira vez. Lembra?
Acho que até hoje aquele alpinista de rodapé deve tá com a cara torta. E
quando a gente fez aqueles dois tarados da 4ª série beijar o poodle da tia Mari
pensando que era a gente? A tia quase morreu porque disse que o Sansão
tava sendo influenciado a tendências homossexuais… A gente quase fez xixi
na roupa com o piti da tua mãe. — Anny esboçou um sorriso — Lembra o dia
Viianny 46

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que a gente ficou com aqueles irmãos gêmeos? Era o nosso primeiro beijo. Ah,
mas não pense que me esqueci da safadeza que eles fizeram com a gente.
Eles trocaram de lugar pra ficar com as duas ao mesmo tempo. Mas se
arrependeram sem dúvida! Não lembro exatamente como foi tudo, só sei que
colocamos cocô de cachorro na mochila deles. Por um mês ninguém queria
chegar perto deles… — disse segurando o riso — O fogo na escola não vou
nem comentar… Mas os motivos foram bem válidos. Já pensou se nossos pais
descobrissem aquela nota baixa em matemática? A gente pescou a prova toda
uma da outra e mesmo assim só tiramos quatro. E quando a gente chegou em
Teresina? Tu não sabia falar nada de português! Lembra aquele dia em que a
gente torrou vinte mil reais em menos de uma hora só com roupas? — rindo —
Não sei se percebeu, mas o que mais disse até agora foi o termo “a gente”. E é
isso que você tem que ter em mente a partir de agora… Você não está
sozinha! Tá me ouvindo, Anny?

Como resposta, Dulce recebeu um abraço bem forte regado a lágrimas


sinceras e doídas. O que mais Anny queria era apagar tudo o que passou
depois que conheceu Poncho. Admitia com muita tristeza que isso
representaria abrir mão também dos momentos mais felizes de sua vida até
então. Apagar Poncho significaria, além disso, apagar tudo de si. Tudo o que
um dia ele marcou a fogo com seu coração. E agora, fora a dor que restara,
também lhe cabia um filho. Um filho que fora feito com todo o amor que se
possa imaginar e que viria justamente quando o sentimento mais presente era
a dor.

Dulce: chora, Barbie! Acaba logo com toda essa angústia!

Anny então se partiu em lágrimas como uma criança desprotegida e sem


rumo. Como se todas as aflições se reunissem ali naquele momento. Todos os
medos e as dúvidas também. Fechava os olhos e só se via num campo imenso
vazio. Por mais que corresse, parecia estar sempre no mesmo lugar. Para uma
mente atordoada até que essa visão parecia sensata, já que o problema estava
nela mesma, não no que a cercava…

Aos poucos foi se acalmando e relaxando mais sob os braços de Dulce.


Agora esta poderia agir.

Dulce: Anny, eu sei que isso pode parecer difícil, mas temos que ser racionais
nem que seja por um instante pra entender tudo o que tá acontecendo.

Anahí: tem razão.

Dulce: primeiro, uma pergunta que não sai da minha cabeça. Como ficou
grávida?

Anahí: também não sei. Pelo que entendi, foi numa das nossas primeiras
relações que tudo aconteceu. Quem sabe até a primeira…
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déjate amar ♥
Dulce: ah, já sei! Tu tinha parado de tomar a pílula! Pra funcionar tem que
seguir à risca!

Anahí: não. Realmente eu parei, mas voltei depois… — olhando desconfiada


pro lado

Dulce: como assim voltou? — surpresa

Anahí: digamos que eu já previa que ia acabar transando com ele…

Dulce: safada! — rindo da cara de Anny sem graça — Fazendo jogo duro e já
planejando as noites com ele!

Anahí: mais ou menos isso… — disfarçando a vergonha enquanto brincava


com a estampa da fronha

Dulce: então se tu tomou tudo direitinho… — parou pra pensar — Cadê eles?
Ainda têm?

Anahí: sabe que sempre compro várias caixas… Ainda têm, estão no
banheiro…

Dulce: vou pegar… — ela foi, pegou uma caixinha própria pra guardar
comprimidos e voltou

Anahí: ainda têm muitos. Devo ter comprado umas dez caixas… Faz tanto
tempo que nem me lembro.

Dulce: não consigo me acostumar com esse comprimido grande. Na minha


cabeça todas as pílulas são pequenininhas.

Anahí: não sei por que… — distraída

Dulce: mas tem algo errado aqui… — olhando com cuidado pros remédios

Anahí: o que?

Dulce: pera… tô pensando… — forçando a mente — Ei, Anny… Lembra a


primeira vez que Dra. Lúcia te receitou esse anticoncepcional aqui?

Anahí: acho que sim… — sem entender

Dulce: a gente fez uma piadinha quando ela te deu uma amostra grátis…

Anahí: verdade! Foi engraçado. Eu disse que ia combinar com o quarto da


princesa Anny de tão cor de rosa que era… — rindo

Dulce: isso! Tá aí o problema, ou melhor, a solução! Esse comprimido não é


rosa, é vermelho! Olha bem! — entregou um exemplar à loira
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Anahí: é vermelho! Então o que é isso? Eu não comprei remédio algum!

Dulce: mas minha mãe comprou… — concluindo — E entre eles um


suplemento de vitaminas, dentre elas…

Anahí: vitamina B6…

Dulce: exato!

Anahí: tá explicado então…

Dulce: miga, a Dra. ainda não sabia que vocês tinham terminado…

Anahí: e por que saberia? Ela vive enfurnada ali…

Dulce: sei lá! Eu não vejo esses programas de fofocas, mas acredito que
devem ter mencionado alguma coisa… sei lá…

Anahí: não, ninguém sabe de nada.

Dulce: tá de plantão na TV é?

Anahí: não. Simplesmente tenho meus contatos. — distraída

Dulce: como assim? Não me contou nada disso!

Anahí: devo ter esquecido. Eu tenho uns amigos que são repórteres…

Dulce: já vi que tem dedo do Vag nisso…

Anahí: só um pedacinho do dedo, na verdade… Ele é familiarizado com uns aí


e realmente eu tenho uma amiga que é repórter. Prometi a ela que daria uma
entrevista exclusiva depois que desse o fora daqui, enquanto isso ela abafava
todos os rumores que aparecessem…

Dulce: e quem é essa amiga?

Anahí: Cindy.

Dulce: quem? — se lembrando do episódio com Chris

Anahí: Cindy. Algum problema?

Dulce: não, é que esse nome é meio diferente… — disfarçando a dúvida

Anahí: mudando de assunto… Tenho algo importante pra fazer…

Dulce: o que?
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Anahí: esse filho tem um pai, Dul…

Dulce: um pai que não merecia ter esse filho… — séria

Anahí: não merece, mas tem… Não posso mudar o DNA do meu filho,
docinho. — calma, acariciando a barriga sem nem perceber

Dulce: já parou pra pensar que pode se ferir mais ainda ao rever aquele traíra?

Anahí: mais ferida não posso ficar.

Dulce: você talvez não, mas seu baby sim…

Anahí: o que quer dizer?

Dulce: Dra. Lúcia falou bem claro que tu não pode sofrer nenhuma emoção
forte pra não prejudicar o meu sobrinho fofo…

Anahí: é só eu me controlar e pronto!

Dulce: ah sim, claro! Tu vai lá civilizadamente encontrar o traidor da tua vida,


que por acaso tu ama sem medidas, olha bem nos olhos dele e diz que tá
grávida dele. Ele pode ter duas reações. Numa primeira, diz que já que tu fez
tudo aquilo que ele pensa que tu fez pode muito bem ter se enroscado com
outros homens… Tu se descontrola, desmaia e já era filho! Numa segunda, ele
fica muito feliz, emocionado até… Vocês decidem que dias cada um fica com a
criança, como ela será educada, e enquanto isso tem que conviver com a
futura mulher dele e os filhos dele… Como é lindo, né? A família feliz!
Enquanto isso teu travesseiro morre afogado com as lágrimas… Isso, conta lá
pra ele, vai em frente… — irônica

Anahí: mas não é certo, Dul!

Dulce: e quem aqui faz só o que é certo? Pensa nesse filho, Anny! Não pode
arriscar a vida dele assim! Tá certo que tu sabe ser a pessoa mais fria da face
da Terra, só que querendo ou não tu ainda ama ele! Vai mesmo conseguir
olhar bem naqueles olhos brilhantes e naquele sorriso lindo sem derramar uma
lágrima e sem se sentir abalada?

Anahí: sinceramente não… — derramou uma lágrima solitária

Dulce: então estamos conversadas…

Anahí: mas Dul… — foi interrompida

Dulce: nada de Dul… Quando tu voltar de viagem vai lá ao escritório dele e aí


talvez mostre pra ele o baby… Mas enquanto eu for a tia desse herdeiro ele
não vai correr perigo! — a loira a olhou entristecida — Anny, eu tô fazendo isso
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déjate amar ♥
porque não quero que quando for dormir à noite chore por alguma burrada
irreversível que tenha feito… Dói muito aqui… — apontou pro coração — E não
sara nunca… Tá certo que eu só tenho 27 anos, não sei quase nada da vida,
mas de algo eu tenho certeza… Não há dor que supere a perda de um filho,
principalmente quando você mesma é a culpada por isso… E mais uma
coisa…

Anahí: o que?

Dulce: parabéns, mamãe!

Teresina, 13/12/08

Esta segunda-feira parecia até calma para as mudanças que


começariam a partir dessa semana. A garoa, juntamente com a brisa quase
congelante, presenciava o milagre dos 20° em pleno início de crepúsculo no
centro da capital do Meio-Norte nordestino. As ruas estavam pouco desertas.
Algumas almas se atreviam a sair espontaneamente de suas casas, circulando
rápido entre os becos e as esquinas e protegendo o corpo dos efeitos de mais
um iminente verão chuvoso. A movimentação razoavelmente agitada era uma
tentativa de cópia — fajuta — da vida no faroeste (tudo calmo com
aglomerados de feno ou folhas arrastados pelo vento, até que um fenômeno
acontece e quebra a rotina parada no tempo).

Em outras palavras, o andamento das ações estava meio estático. Como


se a vida tivesse se restaurando. Provavelmente isso acontecia por fatos
anteriores que ainda precisavam ser bem assimilados, sendo que a eles está
subordinado todo o transcorrer da história daqui pra frente, tal como vem sido
descrito nos livros das áreas humanas.

Dulce. Ela, que sempre fora a amiga perfeita da loira, resolveu


finalmente assumir seus erros passados e se dar uma nova chance. Sofreu até
mais do que merecia, se é que alguém merece realmente sofrer. Tudo isso foi
até esquecido na noite de ontem, quando estava nos braços de seu amado
Chris. Sim, eles voltaram… E ainda mais completos pra se entregarem de vez
a esse amor. Ele, depois da confusão no American Bar, deixou uma mensagem
de agradecimento e despedida no MSN para Cindy e, em seguida, a bloqueou.
Não queria nada mais que o lembrasse aquele episódio, bastavam as
brincadeiras (provavelmente eternas) de Dulce e Mel. Elas prometeram guardar
este segredo. E ele acreditou. Não deve ter visto a ligação delas pra Anny, Lala
e May lá mesmo no bar.

Christopher. Felicidade total depois da reconciliação com Dulce. E


justamente numa época em que ela precisava mais dele, por causa da
separação de Anny e Poncho. Com muito custo aceitou guardar o segredo da
gravidez da loira. Na verdade, a ruiva só conseguiu essa proeza com ameaças
furadas de rompimento. Foi aí que ele teve mais certeza que a amizade delas
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déjate amar ♥
estava no ápice da pirâmide. Algo que ele entendia bem. Porque ali era apenas
e tão só um laço de irmandade, assim como ele e suas irmãs, talvez até mais
fortes, já que elas se escolheram.

Poncho. Não queria perder o grande amor de sua vida. Nem sabia o que
fazer pra falar a verdade. Estava perdido e sem noção de rumo a seguir. A
única certeza que tinha era que queria voltar pra Anny. Estava dando um
tempo pra que ela refletisse melhor sobre a situação. O amor que ela sentia por
ele daria um jeito de enterrar mágoas desnecessárias. Tinha que fazê-lo.
Enquanto isso vegetava. Do trabalho pra casa. Às vezes passava de propósito
em frente ao prédio da promotoria. Queria se sentir mais perto dela, apesar de
que assim sempre vai estar. Não de corpo, mas de alma. A presença do irmão
o ajudou bastante. Serviu como apoio, como proteção… Assim conseguiu
seguir em frente…

Anny. Era fantástico o carinho que já tinha pelo filho. Na verdade, filha.
Ela tinha certeza que era uma menina. Como? Só o milagre da vida podia
responder… O nome já estava escolhido. Seria Sophie, como sua irmã. Com
essa linda homenagem, pretende construir uma relação forte que não tinha
com sua irmã falecida. Talvez tenha encontrado nisso um refúgio. Pensar em
sua princesinha como o conserto de um erro anterior, pra não ter que se
lembrar como o fruto de um erro bem mais recente e doloroso…

Teresina, apartamento de Poncho, 13/12/08, 16h42

Oscar já estava cansado de não fazer nada no apartamento de Poncho.


Assistiu à televisão, ouviu música, fuçou em seu laptop, arrumou seus
pertences mais uma vez, circulou pelo imóvel à busca de algo… Com muita
impaciência, resolveu mexer agora no notebook do irmão. Também não
encontrava nada de interessante pra fazer. Foi verificar os e-mails. Na caixa de
entrada tinha um aviso sobre a disponibilidade da atualização do anti-vírus.
Resolveu curtir a emoção de um download mega a mega. Após o processo, foi
testar a nova versão do programa. Ele restaurava arquivos infectados, não os
apagando. A surpresa veio na listagem de arquivos recuperados. Dentre eles,
estavam aplicativos ocultos da pasta que poncho copiara do notebook de Anny.
Só que ele não se lembrava de ter visto nenhum assim. Foi por isso que voltou
lá na cópia e selecionou a opção “mostrar arquivos ocultos”. Apareceram
centenas de aplicativos. Em cada um deles, informações codificadas surgiam.
Usando alguns suportes que conhecia sobre bloqueio de senhas, conseguiu
visualizar finalmente os arquivos no formato certo. todos eram relatórios sobre
uma investigação ultra-secreta sobre tráfico e assassinatos ocasionais que
englobava pessoas de vários países, com ligações inclusive no FBI. Ali
provavelmente eram os dados já coletados até então. Ao que tudo indicava, a
investigação estava praticamente concluída. Tinha até os nomes dos suspeitos,
com ficha de dados e infrações. Dentre eles, um bem conhecido das suas
conversas com Poncho…
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Oscar: então é você que tá por trás disso? — quase chocado — Tenho que
falar com Anny agora! — pegou a chave do apartamento e saiu depressa

***

Dulce: não vai levar tudo não? — ajudando a amiga a arrumar sua bagagem

Anahí: não precisa. Mammy com certeza já comprou um closet inteiro depois
que liguei avisando que tava indo pra lá…

Dulce: isso é verdade! E agora que vai ser vovó?!

Anahí: quero só ver… aposto que já contratou até arquiteto pro quarto da
minha bonequinha… — rindo

Dulce: uma coisa me surpreendeu, dona Anahí…

Anahí: o que?

Dulce: tu encarou tão bem essa gravidez! Pensei que fosse rodar a baiana,
fazer um escândalo… essas coisas…

Anahí: tá me chamando de barraqueira?

Dulce: o que acha? — irônica

Anahí: acho que tá muito saidinha pro meu gosto… Mas falando sério, não me
adiantaria em nada quebrar o pau agora, já tô grávida mesmo… E também o
que mais importa é minha lindinha… Nada mais…

Dulce: mas eu acho que vai ser um menino… — mentindo, só pra provocar

Anahí: pois então vai ter alma feminina… — as duas riram

Dulce: pronto?

Anahí: sim… Vamos logo, não quero me despedir daqui… Chega de choro!

Dulce: vamos em qual carro?

Anahí: no meu… Ah, Dul, quero que fique andando no meu carro também, pra
ele não ficar parado…

Dulce: sim, senhora…

Anahí: e Chris?

Dulce: vai nos encontrar com Lala e Mel lá no aeroporto. Eita, lembrei agora!
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♥ Sólo déjate
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Anahí: que foi?

Dulce: uma coisa que me esqueci de trazer da promotoria… Vou ligar pro Chris
e pedir pra ele ir lá e depois seguir pro aeroporto… — discou o número —
Chris?

Melanie: sim, meu amor! — engrossando a voz

Dulce: vai te catar, Mel! Passa pro Chris.

Melanie: tá dirigindo, brasa ambulante…

Dulce: então diz pra ele ir lá na promotoria e pegar pra mim uns papéis com a
Adinha…

Melanie: mas tu só serve pra dar trabalho, hein?! Nunca vi igual!

Dulce: tchau, vuduzinha! — desligou na cara da amiga

Melanie: ah, essa tem troco depois! Chris, Dul mandou tu pegar um papel com
a Ada lá naquilo que chamam de promotoria…

Christopher: mandou foi? Tá certo… (pensando) Essa tem troco…

Lawyse: mas isso não vai atrasar a gente?

Christopher: não, o vôo só é às 19h30. Tem muito tempo pra chorar ainda…

Lawyse: cala a boca, Chris! — pegando mais um lenço na caixa

***

Oscar havia pego um táxi até a promotoria. Só lá se lembrou de ligar pra


Poncho, a outra parte interessada na história.

Oscar: Poncho? — agitado

Alfonso: que foi, cara? — preocupado

Oscar: vem agora na promotoria! Eu descobri umas coisas e acho que isso
pode aliviar teu problema com Anny…

Alfonso: o que descobriu, Oscar?

Oscar: vem pra cá agora! Aqui te explico tudo! — desligou, se aproximando do


balcão de recepção do térreo — Com licença, em que andar fica a sala de
Anahí Puente?

Recepcionista: identidade, por favor…


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♥ Sólo déjate
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Oscar: como?

Recepcionista: só posso permitir sua entrada ou dar informações depois que


verificar e registrar seus dados no sistema…

Oscar: ah sim… — entregou a carteira de identidade

Recepcionista: é parente do Sr. Alfonso Herrera? — falava enquanto mexia no


computador

Oscar: irmão.

Recepcionista: certo. Pronto. — entregou o documento de volta — Pode


repetir a pergunta, por favor?

Oscar: em que andar fica a sala de Anahí Puente?

Recepcionista: ah sim, fica no penúltimo, mas acho que… — foi interrompido

Oscar: obrigado… — já foi saindo

Recepcionista: mas, senhor… — foi ignorado por Oscar, que já entrava no


elevador — Esse pelo menos agradeceu, pena que não me esperou terminar.
Subiu de graça, já que a Sra. Anahí não veio hoje… Mas me fala, Renata,
quando podemos nos encontrar de novo? — jeito sedutor

Renata: ah, não sei… — se fazendo de difícil

***

Christopher: quem vai descer? — estacionando o carro em frente à promotoria

Melanie: eu vou contigo… Quero mexer as pernas…

Lawyse: então eu vou também… Vou ficar aqui sozinha não!

Os três irmãos desceram do veículo e se encaminharam ao prédio.


Como já eram conhecidos, passaram tranquilamente pela recepção. Mas só
Lawyse é que subiu até o andar da cunhada. Chris e Mel ficaram esperando no
térreo, conversando com Renata e Carlos (recepcionistas).

Tudo parecia normal e calmo como todo final de tarde. Pombos voando
até o horizonte depois de pousos extravagantes na praça em frente ao velho,
mas reformado, prédio da promotoria. O sistema hierárquico adotado por Anny
desde o início de seu comando estava dando maravilhosos resultados. E
realmente é uma forma de direção que quase sempre resulta em organização e
bons frutos, mas desde que sob uma liderança justa, interessada e
responsável.
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déjate amar ♥

A conversa corria alegre e descontraída na recepção do térreo. O


movimento aumentou um pouco. Talvez por causa de espertinhos que fugiam
do começo de chuva e se refugiavam nos estofados impecáveis da entrada.
Como era uma estrutura pública, não podiam ser convidados a se retirarem.
Alguns mais inquietos começaram a circular pelo ambiente. Por mais incrível
que seja, outros aproveitaram pra resolver pendências ali somente por causa
da leve chuva que caía.

No entanto, certo homem chamou uma atenção especial dos


recepcionistas, que acabaram pedindo alerta para os seguranças presentes.
Ele se aproximava do elevador e logo recuava. Carlos, por várias vezes, só
pensou em falar alguma coisa. Trabalhar com a massa era complicado. Já
levara várias reclamações leves. Por isso sempre hesitava nas tentativas de
agir. Vendo que a situação não ia se acalmar, interferiu. Por várias vezes,
chamou elegantemente pelo homem agitado, que nem manifestava reação
diante do chamado.

Carlos: (pensando) deve ser é doido esse aí…

Então, um elegante homem se encaminhou das poltronas para o balcão


de atendimento. Eram alguns metros de distância que separava esses
ambientes, sendo que o local dos recepcionistas era fincado na parede (de um
lado havia o corredor para os elevadores e do outro um acesso para copa e
outras salas). Carlos já se posicionou mais elegante ainda, tanto por respeito
como por uma boa apresentação. O sujeito se aproximou já sorrindo, fazendo o
recepcionista se aliviar mais por parecer ser alguém educado e que
provavelmente não causaria problemas. Abriu então um sorriso de volta,
mostrando gentileza. Só que logo em seguida o sorriso foi desfeito porque o
cara tirou um revolver do paletó e apontou em direção a Carlos. Na mesma
hora, foram ouvidos barulhos de armas sendo destravadas e apontadas pra
todos na recepção. Numa armação perfeita, todos os civis estavam cercados
por capangas. Foi então que entraram mais dezenas deles pela porta principal.
Estes se direcionaram aos elevadores e escadas correndo.

Chefe: todos caladinhos, que a gente só veio aqui pegar uma vadia loira que
anda atrapalhando o serviço… — gritando

As mulheres começaram a se desesperar. Antes veio o choque, agora o


medo. Os homens tentaram se fazer de durões, mas alguns estavam
visivelmente apavorados, enquanto outros só curtiam paralisados o frio na
espinha dorsal. Chris abraçou bem forte a irmã como proteção. Temia pela
irmã que estava em outro andar, mas com ela só mesmo rezando poderia
ajudar. Mel tremia quase que descontroladamente. Era durona, corajosa,
ousada, mas numa situação dessas deixou aflorar seu lado mais inocente.

Nos andares últimos ainda não tinha confusão. Lala tentava encontrar
juntamente com Ada os documentos que Dulce pediu, só que aparentemente
eles haviam sumido. Enquanto isso, Oscar estava como um louco tentando
Viianny 56

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
convencer Jay a dizer onde Anny estava. Todos estavam na recepção do
andar. Houve até certa troca de olhares entre a irmã de Chris e o irmão de
Poncho, isso sem se conhecerem. Situação inconveniente essa. Os dois
estavam mais que apressados. Lala pra seguir logo pro aeroporto e Oscar pra
não ter que cruzar com pessoas erradas por ali e resolver logo essa situação.
Quando os elevadores se abriram, saíram vários homens encapuzados e com
roupas numeradas visivelmente, apontando armas de grosso calibre em
direção a todos.

Alguns se dividiram e saíram entrando pelas salas. Os demais faziam a


guarda. As mulheres (em suma maioria no recinto) já foram logo gritando
desesperadas e sem controle.

537: cala a boca! — gritando, só que nenhuma delas obedecia, tamanho era o
pânico — Depois não diga que não avisei…

Num golpe certeiro, o capanga atirou em Hilda, que caiu sobre o balcão
já formando uma poça enorme de sangue.

537: alguém mais quer chumbo aí? — gritando, fazendo todas se calarem
forçadamente — Assim tá melhor!

Num gesto desinteressado, Oscar pegou Lala pela mão e a levou em


direção a uma parede. Sentaram nervosos no chão juntos. O capanga viu, só
que não reclamou porque não pareceu que tal ato fosse atrapalhar seus
planos. Até porque também entendeu o lado da jovem em não querer
permanecer vigiando um corpo jorrando sangue. Besteira… — pensava. Só
direcionou aos dois um olhar bem frio, indicando que só esse movimento foi
permitido, os outros seriam reprovados e devidamente penalizados.

No térreo, o chefe estava só esperando seus subordinados voltarem


com a mercadoria da vez enquanto brincava de mirar a arma na cabeça de
Carlos. Este, que não esboçou nenhuma reação, estava tentando pensar em
algo pra ajudar os colegas, principalmente depois de ouvir tiros em andares
acima. Lembrou-se então do alarme de segurança que ficava embaixo de sua
bancada. Foi tentando acioná-lo com os pés. Não podia mostrar nenhuma
agitação que gerasse desconfiança. Tentou de todas as formas, até que
finalmente conseguiu apertar o botão vermelho e imediatamente uma sirene
soou no local, além de emitir uma chamada de socorro na central de polícia. O
tal comandante do bando ficou atônito com o barulho e os flashes vermelhos a
sua volta. Ficou distraído com as pessoas que começavam a se agitar
novamente, dando espaço pra Carlos, Renata, Chris e Mel correrem pra área
oposta ao elevador e seguirem pra uma saída escondida que ficava na lateral
do prédio.

Melanie: ai, meu Deus! Chris! Lala tá lá dentro! — desesperada

Christopher: calma… Temos que ter muita calma agora… A polícia já deve tá
vindo…
Viianny 57

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥

Carlos: isso. Agora temos que nos esconder… A gente já foi visto, pode ser
que eles resolvam atirar pelas janelas…

Christopher: isso… Vamos ficar atrás dos carros! — correram pra se esconder

***

Anahí: Dul, tira esse CD e deixa no rádio mesmo… — pediu enquanto dirigia

Dulce: algum programa especial?

Anahí: não, só mesmo pra matar a saudade…

Dulce: tá legal…

A ruiva então sintonizou em uma rádio com uma programação mais


jovem e despojada. Estavam tocando algumas músicas mixadas, quando de
repente começa uma chamada de plantão jornalístico. Um jornalista bastante
educado então notificou uma invasão ainda não apurada na promotoria do
estado. Na mesma hora, Anny parou de repente o carro. Quase fecha o trânsito
na avenida rumo ao aeroporto. Pra reverter a situação, procurou logo um
acostamento e estacionou.

Anahí: ouviu o que eu ouvi? — tentando permanecer fria

Dulce — chocada: Chris… Eu mandei o Chris ir lá… — digerindo ainda a


notícia

Anahí: vamos já checar isso… — pegou outra via e foi dirigindo rumo á
promotoria

***

Alfonso: mas o que tá acontecendo aqui? — fechou a porta do carro


estranhando a quantidade de policiais cercando a área

Poncho usou sua autoridade de corregedor e conseguiu informações


com o delegado ali presente. Ficou meio apreensivo ao saber o que estava
acontecendo, já que ali deveriam estar algumas das pessoas que mais amava
(seu irmão e Anny). Ao longe avistou a figura chamativa de Mel e foi até ela. Lá
encontrou Chris e os dois recepcionistas.

Alfonso: por favor, não me digam que Anny tá lá dentro?

Christopher: não, Poncho…

Carlos: mas o irmão do senhor tá… — receoso


Viianny 58

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Alfonso: pois é… — apreensivo — Ele que me chamou urgente… E Dulce?

Melanie: não! — nervosa — É a Lala que tá lá… — abraçou forte Chris

Alfonso: eu vou ficar por ali pra saber de mais informações e tentar ajudar…
— saiu

***

Anahí: liga pra ele, Dul! — estacionou o carro longe, já que grande parte do
local foi cercado e protegido

Dulce: isso… — tremendo, discou o número — Ai, não atende!

Anahí: vamos ver mais perto… Ah, espera… — voltou no carro e pegou uma
arma escondida embaixo do banco — É melhor ficar prevenida…

Dulce: tu que sabe…

Elas seguiram com cautela até a frente da promotoria. Sempre se


escondendo atrás dos carros. Chegaram até bem onde estavam os policiais,
que já as conheciam e só as cumprimentaram com um aceno preocupado.

Anahí: liga de novo, Dul!

Dulce: tá… — voltou a discar, mas sem obter sucesso

***

734: oh, 537! Já varri o andar todo e nada da piranha por aí…

537: e agora? Tem mais gente nas salas?

734: só umas dondocas irritantes…

537: traz pra cá então…

O capanga voltou trazendo Raquel e Julieta.

537: né essa loira aí não? — apontando com a arma pra Julieta

734: acho que não… A outra era mais bonitona.

537: mas e se for? Sabe que esse povo faz maior esculhambação hoje em dias
com as fotos… Tem um tal de foto short que arruma tudo…

734: sei não, cara…


Viianny 59

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
537: na dúvida… — apontou a arma pra Julieta, que logo começou a implorar
pra não morrer — É tu, dona, a que manda aqui nesse barraco?

Julieta: sou eu não, moço… — muito nervosa — Quem manda aqui é a Anahí!

537: acho que é esse nome aí mesmo… Mas bem que podia ser tu essa tal de
Anahí, branquela!

Julieta: mas não sou eu, senhor! — chorando

734: acho que né ela não…

537: vamos ver se é ela… — atirou em Raquel, bem do lado de Julieta, que
logo gritou de medo — É ela ou não?

Julieta: não…

537: tá certo… Se depois a gente descobrir que é tu, vai virar peneira,
madame… — ela só fez que sim com a cabeça — Agora vai lá pra parede!
Quero mais ver tua cara de fuinha não! — ela correu pra perto de Ada

734: e agora? Chefe vai dar maior bronca na gente…

329: ei, 537! Vem aqui na janela! — ele foi — Aquela ali perto do carro não é a
que a gente veio atrás?

537: qual?

329: ali! Aquela ao lado da de cabelo de fogo…

537: é! Ouvi falarem de algo sobre ela ter uma amiga assim… Deve ser ela
mesmo! Já pensou numa promoção por matar essa loira? — rindo — Vão tratar
a gente como rei! Deixa que eu cuido disso… Minha pontaria é melhor… —
posicionou a arma em direção a Anny

Lawyse — gritando: não! Minha amiga não!

Lala saiu correndo em disparada rumo ao 537. Jogou o corpo contra ele,
fazendo o disparo se desviar e atingir uma árvore. Eles então começaram uma
luta desigual sobre o controle da arma. Os outros nem se atreviam a interferir,
até porque com certeza seriam alvo de críticas mortais por insinuar que contra
uma mulher o superior poderia ganhar. A irmã de Chris tentava impedir que o
capanga mirasse de novo pra sua amiga. Em sua cabeça, conseguiria fazê-lo
soltar a pistola no chão e chutá-la pra Oscar, que com certeza saberia bem
melhor como agir. Só que o cara era bem mais forte que ela, só conseguia era
ficar cansada por investir pesado nas suas tentativas de golpes, enquanto
segurava as mãos dele. Estava tão centrada no plano de tirar a arma das mãos
dele que nem se tocou da direção pra qual ela apontava. Foi aí que 537 usou
sua experiência e apertou o gatilho. Lala caiu no chão aos poucos, enquanto
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déjate amar ♥
mãos e pernas se desenganchavam do bandido. Oscar ficou desesperado.
Criara ali entre o terror uma ligação com ela. Não podia nem tentar ajudá-la ou
simplesmente chorar junto a seu corpo.

Do lado de fora, Anny viu o movimentar estranho de alguns galhos numa


árvore. Foi conferir de perto e encontrou uma bala pregada no tronco. Voltou
pra trás da viatura e ficou a analisar a provável origem do tiro. Concentrou
olhares pra uma movimentação estranha numa das janelas do andar de sua
sala. Isso só aumentava suas suspeitas de que tudo aquilo acontecia por sua
causa.

537: idiota! Me fez perder um tiro! Mas agora vai amargar no hospital!

329: deve ter é morrido…

537: morreu não… Conheço a morte… Essa aí ainda não deu passagem… A
gente tem é que dar um jeito nisso… A gente perdeu a loirinha… E agora? —
pensando

329: e se a gente apagar outro no lugar dela? — olhando rápido entre os que
tavam lá na recepção daquele andar

537: a branquela? — apontando com a arma pra Julieta

329: não, que tal alguém importante?

537: é… — olhou pro lado de fora — Que tal aquele engomadinho ali? —
apontando pra Poncho

329: o que tá ali falando com os policiais?

537: esse mesmo… Tem jeito de ser importante… Parece que tá é mandando
nos tiras!

329: já era então! Manda brasa… Ainda bem que a chuva já passou…

357 novamente mirou com sua arma. Dessa vez, na direção de Poncho.
Só não esperava que Anny estivesse já na cola dele também. Com extrema
habilidade e analisando os passos do bandido, já estava preparada pra agir,
mesmo talvez contrariando as ordens da polícia. Na verdade, depois que vira
Poncho se aproximando, se escondeu ainda mais atrás do carro, até porque
coincidia com o momento em que quase levou um tiro. Ao ver a intenção do
capanga na janela de seu andar, nem pensou duas vezes e disparou com sua
arma. Acertou em cheio o alvo. 357 caiu na mesma hora sobre os pés de seu
comparsa. A bala pegou bem na cabeça. Formando mais uma poça de plasma
pelo carpete luxuoso.

329: gente, vamos vazar! Chefe deve tá só esperando a gente pra bolar um
plano…
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déjate amar ♥

Todos então entraram nos elevadores. Ainda dispararam alguns tiros


enquanto as portas se fecharam, mas os outros estavam alertas e desviaram a
tempo. Oscar correu e pegou o corpo de Lala nos braços.

Oscar: você! — olhou pra Ada — Tem outra saída por aqui?

Ada: tem! É pelos fundos do andar!

Oscar: então vamos! — saíram junto com Julieta, que ainda estava apavorada

***

Anahí: tá tentando ainda, Dul?

Dulce: tô, mas não atende mesmo…

Anahí: já ligou pras irmãs?

Dulce: isso! Vou tentar a Mel… — discou

Melanie: Chris, tá tocando meu celular… Atende?

Christopher: tá… Me dá… — recebeu o aparelho — É Dul! Oi, amor!

Dulce: Christopher!? Ai, graças a Deus! — aliviada — Tava muito preocupada


contigo! Tu não atendia o celular e… — angustiada

Christopher: calma, Dul… Eu deixei meu celular no carro. Onde é que tu tá?

Dulce: atrás de uma viatura…

Christopher: vocês tão aqui? — olhando em direção a um monte de policiais

Dulce: claro que sim! Acha que um vôo é mais importante que a vida do meu
amor?

Christopher: Poncho tá por aqui…

Dulce: já vi… Na verdade, a gente tá se escondendo dele…

Christopher: então é bom vocês irem embora enquanto é tempo… Eu te deixo


informada em como anda tudo por aqui… Mas tira a Anny daqui…

Dulce: por que? Sabe como ela ama esse lugar…

Christopher: pois então lavo minhas mãos sobre minha sobrinha e essa
viagem… Ajudei em tudo o que pude, mas não posso mais enganar meu
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amigo! Ele também é meu amigo, Dul! Sei o quanto tá sofrendo… Se vocês
não saírem, ele desconfiar e vier me perguntar, eu abro o jogo…

Dulce: tá, Chris… — desligou — Anny, está tudo bem… Vamos pro
aeroporto… Tem um vôo te aguardando.

Anahí: não posso abandonar a promotoria, Dul!

Dulce: ah, pode sim… Vamos… Ou quer que eu chame o pai da minha
sobrinha?

Anahí: não vale… — levantou zangada do chão

Dulce: vamos, dona mandona…

Anahí: ainda diz que eu que sou a mandona… — irônica, enquanto caminhava
rumo ao carro

Dulce: lógico que é! Eu sou a chantagista, você a mandona…

Anahí: olha que eu tô armada…

Dulce: ai, que medo…

Anahí: é bom ter mesmo…

***

Oscar, Ada e Julieta corriam desesperados por uma saída de


emergência. Lala não sangrava muito, mas um tiro já era motivo bastante pra
se preocupar. Eles andavam por um corredor cheio de curvas e intercalado por
escadas. Só faltavam uns dois pavimentos pro térreo. Foi aí que entraram
numa sala de almoxarifado. Não era muito grande, só que estava cheia de
coisas velhas, o que deixava o caminho mais complicado. De longe, avistavam
uma mesa ao lado de uma porta. Só que para a surpresa deles, alguém estava
pacientemente sentado por lá, com uma arma sobre o móvel.

Oscar: você! Pensa que engana quem aqui? Eu já sei de tudo!

X: é mesmo? Ah, então vou ter que te matar, meu caro… Mas primeiro ela! —
atirou em Ada, que caiu jorrando sangue sobre caixas com jornais e revistas —
E você também, Julieta… Tem balinha pra você também!

Nem deu tempo Julieta esboçar alguma reação e logo foi atirando nela,
que caiu perto de Ada, só que no chão.

Oscar: pensa que vai ficar impune é? Assim como eu descobri, outros também
vão vir!
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X: sabia que calado você é mais bonito? E sem roupa deve ser mais ainda…
Olha, confesso que só não transo contigo depois que te matar porque não
posso sujar minha roupa… Que pena, né?

Ela mirou bem na cabeça e atirou. Orçar foi mais rápido e desviou do
tiro. Só que não calculou a trajetória do desvio e acabou batendo forte com a
cabeça em um armário de ferro, caindo de lado no chão sob Lala. X só se
aproximou o bastante pra ver a poça de sangue junto à cabeça dele e sorriu
vitoriosa, pensando ter acertado o tiro. Sentou-se novamente na mesa a serrar
as unhas, enquanto esperava seus comparsas se acertarem com a polícia…

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