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NOTA DO AUTOR
Este livro foi concluído no final de 2002. Recebeu
diversas revisões e sugestões, sendo submetido ao Prêmio
Tasso Fragoso - 2004, da Biblioteca do Exército (BIBLIEX),
onde foi premiado com a Menção Honrosa. Malgrado esforços
do autor, não foi possível publicá-lo.
O texto original foi preservado, apesar de,
eventualmente, existirem correções e atualizações a serem
feitas. Era uma questão de honestidade intelectual não
modificá-lo. Além disso, queria manter a visão do Capitão
Heitor quando escreveu “A Profissão Militar e a Preparação
para a Guerra – Uma visão Crítica”; não a do agora Major
Heitor.
Sete anos se passaram, incluindo a vivência de 1 ano na
Costa do Marfim, na África (2006), e a realização do Curso de
Comando e Estado-Maior (2007-2008), na ECEME, dentre
outros eventos significativos na minha vida profissional.
Obviamente, a visão se aprimorou, mas o ideal, a idéia, a
crença e o escopo expostos neste livro continuam os mesmos.
Torná-lo público, ao divulgá-lo na Internet, foi uma
forma de dividir essas idéias. Espero que seja útil no debate
sobre a profissão militar e a sua importância como vetor
fundamental na manutenção da soberania de um país.
Email: majheitor@gmail.com
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Dedicatória
SUMÁRIO
Introdução 5
Conclusão 121
QUADROS
GRÁFICOS
INTRODUÇÃO
Este livro tem por objetivo estudar alguns aspectos da profissão militar e a
preparação de um exército para a guerra, sua atividade-fim. O título adotado,
bastante amplo, foi proposital. Visou permitir ao autor flexibilidade para tratar dos
mais variados assuntos ligados ao profissional militar, inclusive permeando a obra
com opiniões advindas não só da leitura, mas da observação pessoal da rotina da
caserna.
Como filho e neto de militares, cedo travei contato com a carreira das armas.
Naturalmente, essa convivência me influenciou e acabei tornando-me um oficial do
Exército Brasileiro. Durante a minha formação, mais do que aprender os passos para
uma correta desmontagem de um fuzil, ou as características técnicas de um carro de
combate, de fácil consulta em manuais, o que realmente sempre me interessou foi a
arte militar. A História e a literatura militar me fascinaram e ainda me fascinam.
Como conseqüência, passei a ler e a estudar livros sobre o assunto.
Remonta aos anos como cadete da Academia Militar das Agulhas Negras,
algumas das leituras que mais me impressionaram e que começaram a talhar o meu
pensamento militar. Foi nessa época que li “Os Sete Combates do Vietnã” , “As
Ações das Pequenas Unidades Alemãs na Campanha da Rússia” , “A Guerra que
Eu Vi”, do General Patton, “Panzer Líder”, de Heinz Guderian, além de um clássico
sobre liderança, “A Arte de Ser Chefe” , de Gaston de Courtois. Tais livros me
estimularam tanto, que passei a dedicar-me ao assunto com afinco, mas sem
maiores ambições. Era movido apenas pelo prazer de ir descobrindo, a cada leitura,
novas facetas da minha profissão.
Durante anos, travei contato com diversos livros e assuntos. Muitos deles,
sem ligação imediata com a profissão militar. Essa pletora de informações acabaria,
evidentemente, por trazer conseqüências. Muitas positivas, e algumas negativas.
Das positivas, destaco esse livro. Devido ao grande número de idéias
colhidas ao longo de profícua leitura, veio a necessidade de analisá-las, ainda que
de forma bastante simplificada, e de ordená-las dentro de uma escala de valores
1
“as palavras voam, mas permanecem quando escritas”.
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própria. Disso, surgiu o meu pensamento militar, que nada tem de inovador ou
grandioso. Apenas é a minha forma de ver e entender as forças armadas,
notadamente a brasileira. O próximo passo só poderia ser a imensa e incontida
vontade em expor o que li de forma organizada, tecendo alguns comentários de
cunho pessoal. Assim nasceu a idéia deste livro.
Longe de buscar me equiparar aos grandes clássicos militares, este livro
busca apenas proporcionar uma leitura agradável e, o mais importante, incentivar as
pessoas a ler e a discutir a profissão militar.
Outra característica que destaco é o fato de ter utilizado durante o
desenvolvimento, passagens da História Militar do Brasil e de alguns países da
América do Sul, embora tenha me servido de muitos exemplos dos Estados Unidos
da América (EUA) e de países europeus, por razões óbvias. A razão de ter insistido
neste ponto deve-se ao fato de que a maioria das obras militares com as quais tive
contato foram escritas por autores dos EUA ou de países europeus. Embora não
tenhamos uma História Militar tão longa e dinâmica quanto desses países, preferi
colher em nosso próprio quintal, sempre que possível e pertinente, os subsídios
necessários para basear meus pontos de vista. A nossa História Militar tem muito a
nos oferecer em termos de ensinamentos.
Ψ ΨΨ
Se, por um lado disse que a leitura rotineira de obras de caráter militar
aumentou o meu interesse pela profissão das armas, por outro, devo dizer de forma
bastante honesta que me trouxe efeitos colaterais. O primeiro e mais patente deles
foi o de modificar a minha visão sobre o Exército Brasileiro. Se, no início, ela era
permeada por um idealismo exacerbado e crença cega nos caminhos que a
instituição trilhava – tão próprios dos jovens – durante a aquisição de novos
conhecimentos e pontos de vista, essa visão transmutou-se, tornando-se crítica, no
sentido de que há muito a se fazer para melhorar o nosso Exército. Mas, para que
isso aconteça, precisamos de uma base humana – civil e militar - que se disponha a
pensar o Exército e não simplesmente recebê-lo de uma geração, mantê-lo e passá-
lo para a geração seguinte.
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Ainda como efeito colateral, acabei por verificar que o estudo da História,
mais especificamente da História Militar em nosso Exército, ao longo dos anos, foi
relegado a um plano inferior ao que realmente merece.
Apesar do esforço hercúleo que a Biblioteca do Exército (Bibliex) vem
realizando ao longo dos anos, disponibilizando a um preço extremamente baixo
obras de qualidade tanto na área militar quanto em outras, notadamente da área
humanística, tenho verificado, nos mais diversos níveis hierárquicos, a falta de um
arcabouço cultural e histórico condizente com a situação de militar de carreira.
Ao contrário do que muitos pensam, esse embasamento não é mero verniz
cultural para ser utilizado durante reuniões sociais ou conversas amenas. É fator
indispensável para aquele militar que deseja entender sua profissão e o mundo que
o cerca, e realmente tornar-se um profissional completo. Será por intermédio do
estudo teórico da Arte Militar e de uma análise profunda dos fatos passados,
levando-se em consideração todos os fatores envolvidos no episódio militar, que um
profissional das armas poderá tomar decisões táticas e estratégicas, formular
doutrinas e resolver os problemas que certamente se apresentarão ao longo da vida
castrense.
Contudo, o que se vê, na maioria das vezes, são visões tecnicistas e
cartesianas em excesso. Costumo dizer que temos excelentes técnicos militares,
mas carecemos de pensadores militares. O militar brasileiro, malgrado os esforços
do Exército Brasileiro em implementar projetos de leitura, ainda lê muito pouco. E o
pior, tem dificuldade em interpretar aquilo que lê. Isso, como se sabe, é um reflexo
da cultura brasileira. No final de 2001, a mídia veiculou o resultado de um teste
realizado com diversos países do mundo sobre leitura e interpretação de texto. O
Brasil classificou-se em último lugar. Se o Exército Brasileiro é um extrato da
sociedade, esse problema não surpreende.
Essa tendência em se valorizar o militar executante, aquele que resolve os
problemas de forma rígida e dentro dos padrões preestabelecidos, sem a devida
análise teórica, sintetizada na cultura medieval pela expressão latina Magister dixit2,
é danosa e está por acabar. Com a modernização do ensino, percebe-se que as
escolas militares brasileiras estão valorizando muito mais a capacidade de o militar
resolver problemas de forma inovadora do que a simples decoreba ou a tentativa em
2
Significa “O mestre disse”. Frase da escola medieval, onde a palavra do professor não podia ser contrariada.
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adivinhar a chamada “resposta da casa”. Isso é um avanço, mas traz no seu bojo a
necessidade de alunos e instrutores mais preparados – entenda-se que leiam , leiam
e leiam cada vez mais. Para se atingir o mote “aprender a aprender”, tão na moda
nos estabelecimentos de ensino militares, a leitura crítica é indispensável.
Sobre isso, vale a pena ler a conclusão do artigo “Bulding Victory from the
Ground Up”, de Lon E. Maggart:
“Creativity and innovation from the entire force – not just from those at the top.
It is, therefore, incumbent on all of us to think about the future and to offer
suggestions on how to improve the mounted force.”3(grifo do autor)
3
MAGGART, Lon E. Bulding Victory from the Ground Up. Armor, Fort Knox, EUA: vol CV, nº 5, p. 6, set.-
out. 1996. "Criatividade e inovação da força inteira - não somente daqueles que estão no topo.Isso implica que
todos nós devemos pensar no futuro e oferecer sugestões sobre como melhorar a força" (tradução livre).
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4
Doutrina militar adotada pelo Exército Brasileiro, voltada para conflitos convencionais, excetuando-se a região
da Amazônia.
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5
Doutrina militar adotada pelo Exército Brasileiro, voltada para operações de Garantia da Lei e da Ordem.
6
Doutrina militar adotada pelo Exército Brasileiro, voltada para operações na Amazônia.
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vê, inúmeras são as perguntas, porém escassas são as respostas. Elas só serão
respondidas se houver uma cultura de leitura e de escrita.
Essa falta de fontes e de livros escritos por militares brasileiros permite que
outras idéias, francamente politizadas ou acobertando interesses diversos, distantes
da verdade histórica, sejam tidas como verdades irrefutáveis, em face da
inexistência de estudos mais elaborados e precisos.
Durante uma palestra seguida de debate que proferi na Universidade do
Contestado, em 2000, para todo os períodos do curso de História, pude comprovar a
visão distorcida que o público acadêmico tem sobre as Forças Armadas do Brasil.
Não me refiro apenas aos eventos de 64, sempre polêmicos e interpretados de
forma maniqueísta na maioria das instituições de ensino superior – em parte porque
a filosofia do “Grande Mudo” , defendida por alguns militares, deixou que as versões
tendenciosas se tornassem verdade no mundo universitário. Refiro-me a História do
Exército, sua atuação nos diversos pontos de inflexão da História do Brasil e na sua
destinação atual. Nem alunos nem professores tinham noções básicas sobre o
nosso glorioso Exército. A Amazônia, suas riquezas, o Sistema de Vigilância da
Amazônia (SIVAM), suas potencialidades e a razão da nossa preocupação com a
sua defesa não fazem parte do cabedal de conhecimento desses acadêmicos.
O que assusta é que daqui a alguns anos, uma parcela deles acabará por
ascender aos importantes cargos na administração do Estado. Aliás, é lícito pensar
que um desses acadêmicos dispersos nas universidades e faculdades do Brasil se
torne ministro da defesa nas próximas décadas e, conseqüentemente, nosso chefe.
A tendência atual é a de que, nos próximos anos, mais e mais civis comecem a se
envolver em processos decisórios que antes eram privativos dos militares. Se o
conhecimento deles for tendencioso em relação ao profissional militar, só se pode
esperar soluções distorcidas e que prejudiquem a Instituição, mesmo que sem
intenção.
Ψ ΨΨ
Para os poucos que lerão as páginas que compõem este livro, cabem
algumas advertências. Não esperem encontrar aqui soluções. Coloquei, de forma
intencional, mais dúvidas do que respostas. Diria, sem a menor possibilidade de
errar, que este livro busca mexer com conceitos arraigados, convidar pessoas
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7
“Receio homem de um só livro”. Ou seja, não é prudente aquele que confia em apenas uma opinião e não busca
outras fontes.
8
Razão pela qual algumas abreviaturas e termos de notório saber para militares estão explicados em várias notas
de rodapé.
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Armadas”. Ser um profissional não é um favor que o militar presta ao seu exército e
ao seu país, é um dever moral para todos os que têm fé na sua missão.
Ψ ΨΨ
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CAPÍTULO 1
“É preciso ser muito audacioso para dizer que a guerra está saindo de moda.”
John Keegan
9
“Sobre o direito da Guerra e da Paz”.
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Quadro nº 01
Atividades de defesa externa10
10
ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, Fundamentos doutrinários. Rio de Janeiro: ESG, 1997. p. 162.
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Área Comentário
# A produção agrícola no mundo em desenvolvimento aumentou 52% por pessoa.
# Desde 1800, os preços dos alimentos caíram mais de 90%. Em 2000 foram os mais
baixos da historia.
Fome #A ingestão diária de alimentos no Terceiro Mundo aumentou de 1.032 calorias (1961)
para 2.650 (1998), com previsão de chegar a (3.020) em 2030.
# As pessoas que passam fome no Terceiro Mundo caiu de 45% em 1949, para os atuais
18% em 2000. A tendência é de que caia para 12% em 2010 e 6% em 2030.
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# O El Niño causou prejuízos de US$ 4 bilhões nos EUA (1997-1998), mas proporcionou
Fenômenos
um lucro direto de US$ 19 bilhões com a redução de furacões e inundações de verão no
climáticos
Atlântico.
Pobreza # caiu mais os últimos 50 anos do que nos 500 anos anteriores.
# 30 anos em 1900
Expectativa de vida
# 67 anos em 2000
Quadro nº 02
11
Progresso humano
É importante dizer que fica difícil acreditar que o mundo “melhorou”, vendo o
noticiário da TV. Contudo, há uma tendência, já estudada, de o ser humano de hoje
prestar mais atenção às notícias ruins, descrendo nos bons desempenhos com
argumentos totalmente desprovidos de embasamento científico – “medíocres”
segundo Bjorn Lomborg12 - e esquecer-se que existem sim, entre a comunidade
científica, pesquisadores que buscam qualquer meio para conseguir verbas ou
justificar aquelas que recebem. Um exemplo de distorção não-intencional, segundo
Lomborg, mas que ocorreu, foi com a Worldwide Found for Nature (WWF). Em 1997
a WWF disse, em um artigo oficial daquela entidade, que dois terço das florestas
mundiais estavam perdidos para sempre. O percentual real, já se sabe, é de 20%.
Queira-se ou não, o mundo de hoje é muito melhor do que o de ontem. Por isto
mesmo, deveria haver comemorações diárias, mas o que se vê, são guerras cada
vez mais constantes e letais.
O pensamento de Paul Kennedy, quando diz que “a força relativa das
principais nações no cenário mundial nunca permanece constante, principalmente
em virtude da taxa de crescimento desigual entre diferentes sociedades, e das
inovações tecnológicas e organizacionais que proporcionam a uma sociedade maior
vantagem do que a outra.”13, vai ao encontro da idéia contida neste livro. As
transformações cíclicas pelas quais as sociedades passam no sentido de melhorar
as condições dos habitantes do globo muitas vezes provocam guerras.
11
Baseado no artigo de LOMBORG, Bjorn. Visão apocalíptica oculta progresso humano. The Guardian: O
Estado de São Paulo, São Paulo, 19 ago. 2001, p. 1-11. Organização do autor. Todos os dados são baseados em
informações oriundas da ONU.
12
idem
13
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Transformação Econômica e Conflito Militar de
1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1991. p. 1.
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8000 7191
7000
em milhões de barris
6000
5000
4000
3000
1935 1935
2000
803 985
1000
0
Brasil Rússia China Japão EUA
Gráfico nº 01
Consumo de petróleo - 200217
17
Fonte: APPENZELLER, Tim. O Fim do Petróleo Barato. National Geographic, São Paulo, Editora Abril, ano
5 , nº 50, junho 2004. Organização do Autor.
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A Guerra e os Números
Entre 1740 e 1974 existem 234 anos de intervalo, com 366 grandes conflitos.
Desses dados, somente foram considerados: 1) As guerras estrangeiras e civis; 2)
As ocupações pela força; 3) As invasões militares: 4) As revoluções; 5) As revoltas e
insurreições; 6) Os massacres, quase genocídios; 7) Os confrontos violentos de
valor importante. Os demais conflitos, embora em grande número e causadores de
mortes, não foram considerados.
Desta forma, verifica-se que se teve neste período uma média de 1,56
conflitos por ano. Como os conflitos se superpõem no tempo, infere-se que em
determinadas épocas, havia mais de dois conflitos acontecendo simultaneamente.
18
Dados retirados de BOUTHOUL, Gaston, CARRERE, René. O Desafio da Guerra: dois Séculos de Guerra
– 1740-1974. Rio de Janeiro: Bibliex, 1979. p. 18. passim. Organização do autor.
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Países
México Burundi Turquia
Colômbia Ruanda Afeganistão
Senegal Uganda Paquistão
Serra Leoa Sudão Índia
Nigéria Etiópia Sri Lanka
Angola Somália Mianmar
Namíbia Eritréia Rússia
Rep Democrática do Congo Geórgia Filipinas
Israel Argélia Indonésia
EUA Haiti Peru
Reino Unido Espanha Yugoslávia
Iraque Irã China
Quadro nº 06
Conflitos atuais em andamento19
19
Foram selecionados países que apresentam diversos tipos de conflitos: guerra interna, externa, ações de
terroristas etc, em diversos níveis de gravidade: latente, eventual, constante, guerra declarada, guerra não-
declarada.
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20
Fonte: OS tentáculos do terror. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 set. 2001, p. 1-9. Organização do autor.
29 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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TOFFLER, Alvim. Guerra e Antiguerra: sobrevivência na aurora do terceiro milênio. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1995. p. passim.
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Prisioneiros e
Mortos Feridos
Envolvidos desaparecidos
I GM II GM I GM II GM I GM II GM
Total dos
5.079.522 9.166.255 12.800.706 3.468.402 4.116.590 2.794.551
Aliados
Total das
Potências do 3.386.200 5.380.108 8.388.448 8.741.000 3.629.829 13.670.464
Eixo
Total Geral 8.465.722 14.546.363 21.189.154 12.209.402 7.746.419 16.465.015
Quadro nº 08
Perdas Militares nas duas Guerras Mundiais
22
Eric Hobsbawn , fornece sua idéia sobre essa terrível “estatística da morte”.
Segundo ele, das 74 guerras internacionais ocorridas entre 1816 e 1965, as quatro
que mais mataram ocorreram no século XX: as duas guerras mundiais, a guerra do
Japão contra a China (1937-9) e a Guerra da Coréia. Todas elas, somadas,
mataram, pelo menos, 1 milhão de pessoas.
Ou seja, comparando-se tais números, chega-se a pelo menos duas
conclusões: o século XXI não será, em princípio, um século de paz total. Muitos
problemas entre países ainda estão por ser resolvidos e novos surgirão. É lícito
supor que parcela considerável destes problemas não será solucionada por acordos
diplomáticos.
Uma estatística do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo
(SIPRI), divulgou que somente no ano de 1990 existiam 31 conflitos em andamento
no mundo.
Ainda sobre números da guerra, deve-se levar em conta o custo econômico,
além das perdas humanas. As estatísticas são várias e discordantes. Mas, segundo
a Enciclopédia Barsa, o custo militar da Segunda Guerra Mundial ultrapassou 1
trilhão de dólares. O dano material causado às propriedades privadas beirou 800
bilhões de dólares e custaram mais de 4.700 barcos mercantes, num total de 21
milhões de toneladas brutas. Além disto, deve-se acrescentar os gastos que não se
findaram com o término da guerra. A ONU, só nos EUA, estima que gastou com
22
HOSBAWN, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. passim.
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Quadro nº 09
23
Custo Direto das Guerras Mundiais
- Não há ocorrência de dados
... Dados não disponíveis
(a) Registro do Congresso Norte-Americano, 14 de abril de 1932
(b) Custo estimado pela URSS US$ 485.000.000.000
(c) Dados referentes a 1943
23
Baseado em dados da Enciclopédia Barsa. Passim. Organização do autor.
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1200
Em US$ bilhões
1000
800
600
400
200
0
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
24
Gráfico nº 02
Gastos Militares Globais
24
Extraído do jornal O Globo, de 10 de junho de 2004, pg 31, artigo: Conflitos que custam caro, do editor.
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Em %
30
20
10 4 4 4 5
0
Unido
EUA
Japão
China
Reino
Países
França
Outros
(153)
25
Gráfico nº 03
Gastos por países em 2003
Gastos em Bilhões
Países
de Dólares
Estados Unidos $396.1
Rússia $60.0
China $42.0
Japão $40.4
Reino Unido $34.0
Arábia Saudita $27.2
França $25.3
Alemanha $21.0
Brasil $17.9
Índia $15.6
Itália $15.5
Coréia do Sul $11.8
Iran $9.1
Israel $9.0
Taiwan $8.2
Canadá $7.7
Espanha $6.9
Austrália $6.6
Holanda $5.6
Turquia $5.1
Cingapura $4.3
Suécia $4.2
Emirados Árabes Unidos $3.9
25
Fonte: jornal O Globo, de 10 de junho de 2004, pg 31, artigo: Conflitos que custam caro, do editor.
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Polônia $3.7
Grécia $3.3
Argentina $3.1
Paquistão $2.6
Noruega $2.8
Kuwait $2.6
Dinamarca $2.4
Bélgica $2.2
Colômbia $2.1
Egito $2.1
Vietnam $1.8
Iraque $1.4
Coréia do Norte $1.3
Portugal $1.3
Líbia $1.2
Republica Tcheca $1.1
Filipinas $1.1
Luxemburgo $0.9
Hungria $0.8
Síria $0.8
Cuba $0.7
Sudão $0.6
Iugoslávia $0.5
Quadro nº 10
Gastos com defesa26 (orçamento fiscal)272829
26
Fonte: International Institute for Strategic Studies e (DoD) Department of Defense (EUA)
27
Os dados tem como fonte os orçamentos fiscais da maioria dos governos, enquanto outros são estimativas.
28
Os gastos militares nunca podem ser dados como certos, geralmente há mais de uma fonte com valores bem
diferentes, apenas para citar um exemplo temos a Rússia cujos valores estimados partem dos 20 bilhões de
dólares e chegam a ultrapassar os 100 bilhões, desde os tempos da União Soviética os valores oficiais divulgados
pelos russos são cerca de um terço das estimativas do ocidente
29
Os valores estimados para Líbia, Hungria, Síria, Iugoslávia entre outros parecem ser bem abaixo dos valores
reais.
36 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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30 23,9
25
% do PIB
20
15
10 1,8 1,6 1,6 1,5 4,11 1,2 3
5 0,91
0
le
la
i
ai
il
ua
as
in
ue
hi
gu
g
nt
Br
C
ez
ru
ra
ge
U
Pa
n
Ar
Ve
Gráfico nº 04
Gastos Militares dos Principais países latinos (PIB)31
30
Fonte: Almanaque Abril 2003 (dados considerados de 2000)
31
Fonte: Almanaque Abril 2003 (dados considerados de 2000)
37 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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584 588
119 82 6,4 3,2
II GM
I GM
Iraque -
Golfo -
Americana
Americana
Vietnã
1991
Hispano-
2003
Civil
Gráfico nº 05
Custo de guerras envolvendo os EUA. Valores em bilhões de dólares32.
32
REDAÇÃO, da. Custos de Guerra. Revista Época, São Paulo: Editora Globo, nº 316, de 7 de junho de 2004. p.
16.
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que ela não está, historicamente, ligada ao homem é, no mínimo, questionável sob
vários pontos de vista.
Mas, se o homem não é belicoso, como explicar a reação agressiva de
monges budistas contra a invasão chinesa no Tibet, em 1950? Ou a reação
extremamente violenta dos monges em acontecimentos ocorridos na região citada
na década de 90? Através da mídia, foi possível ver os “pacíficos e frugais” monges
quebrando móveis na cabeça de outras pessoas.
O estado de paz, diz o coração dos homens, é a regra para a humanidade. A
guerra é sua exceção. Entretanto, vive-se mais na exceção do que na regra.
A Declaração de Sevilha33, assinada em 1986, na Universidade de Sevilha,
condenou veementemente a natureza bélica humana. Ela contém cinco artigos,
todos iniciando com “É cientificamente incorreto...”. Sem exceção, todos os artigos
condenam qualquer caracterização do homem como naturalmente violento.
Essa importante e séria declaração, sem dúvida alguma possui validade.
Contudo, ela não responde à razão pela qual o homem se mantém num estado
belicoso constante. Parece que ela é muito mais uma mensagem positiva,
condenando a guerra e tentando convencer as pessoas a olhá-la sob o ângulo da
anormalidade, do que um estudo conclusivo sobre a não-violência humana.
Os inúmeros, profundos e antagônicos estudos publicados sobre a guerra
mostram a sua importância. Se assim não fosse, por que tantas mentes iluminadas
dedicaram-se e dedicam-se ao seu estudo? Evidentemente, não há dúvida da
relevância da pesquisa da famosa e universal indagação “Por que os homens
lutam?”.
Muitas idéias sobre a guerra e suas causas foram ventiladas por intermédio
de livros. Mas quais delas definem com exatidão a guerra?
Flagelo da humanidade advindo do pecado original, cujo ponto inicial seria o
assassinato de Abel por Caim. Um estado inseparável do estado da natureza,
segundo Thomas Hobbes, no século XVII. Fenômeno coletivo entre os “insetos
sociais”, assim definido por André Corvisier. Ato de violência, cuja finalidade é
obrigar o adversário a fazer nossa vontade; continuação da política por outros meios,
definição tão batida e desvirtuada de Clausewitz. Diferença entre príncipes ou
Estados que é decidida pelas armas. Talvez uma definição mais abrangente de
33
Reunião de estudiosos ocorrida em 1986 que procuraram discutir, entre outros assuntos, a problemática da
guerra.
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guerra satisfaça, como a de Engels e Marx, que diziam que a guerra era de natureza
essencialmente econômica, diplomática e psicológica, e que só em última instância
deveria ser, também, de natureza militar. A negativa de Von Seeckt é também
interessante, dizendo que a guerra não é a continuação da política por outros meios;
é a falta da política. Quem sabe, a inversão feita por Lenine, inferindo que será a luta
permanente de classes, onde a paz é a continuação da guerra por outros meios?
Kant diz que a humanidade deve percorrer o caminho sangrento das guerras, para
chegar um dia à paz. Finalmente, uma frase do General William Tecunseh
Sherman, que viveu a guerra durante praticamente toda a sua vida adulta. Disse ele:
“Estou farto da guerra. Sua glória é pura quimera [...] A guerra é o inferno”34. Talvez
seja isso que a guerra represente: um inferno criado pelos homens.
O fato é que o homem possui sentimentos pacíficos e belicosos debatendo-se
no seu íntimo. As condições e o meio em que vive irão determinar qual deles irá
aflorar com maior intensidade. Dizer que o homem é pacífico por natureza é, ainda,
uma proposição cheia de falhas.
A teoria do “Bom selvagem”, mitificada por Thomas Morus, na sua obra
Utopia, em 1516, servia-se da América como contraponto aos hábitos belicosos e
individualistas dos europeus da época.
Essa obra empolgou diversos estudiosos que queriam demonstrar que se o
homem vivesse longe dos vícios e cobiças existentes na Europa daquela época, ele
tornar-se-ia um ser pacífico por natureza.
Todavia, tal tese caiu por terra quando se verificou que os índios do Brasil, por
exemplo, apesar de viverem em total isolamento dos problemas morais europeus,
faziam guerras, praticavam antropofagia e matavam sem necessidade. O trecho
selecionado da carta de Américo Vespúcio35 é bastante ilustrativo. Havia seis dias
que o comandante da expedição, Gonçalo Coelho, mandara desembarcar dois
marinheiros para entrar na mata e tentar negociar com índios da tribo Potiguar.
Naquele dia, a praia se encheu de mulheres. Gonçalo envia, então, dois batéis com
homens a bordo. Quando o primeiro marinheiro desembarcou, algumas mulheres o
cercaram e começaram a apalpá-lo. Ato contínuo, uma mulher que havia se
escondido em um pequeno monte, corre na direção do marinheiro e desfere-lhe um
34
Apud KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo: Companhia das Letras: Bibliex, 1996. p. 22.
35
Parte da famosa Lettera escrita por Vespúcio em Lisboa a 4 de setembro de 1504 e endereçada a Piero
Soderini, importante figura política de Florença.
41 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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36
BUENO, Eduardo. Náufragos, Traficantes e Degredados: as Primeiras expedições ao Brasil,1500-1530. Rio
de Janeiro: Objetiva, 1998. p.45.
37
idem. p.94.
42 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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É de se imaginar que neste lugar perdido, a guerra jamais iria ter lugar. O seu
povo não conhecia outras terras e vivia daquilo que era extraído da ilha. Porém, lá
existiu uma guerra que praticamente dizimou a população. Dos 7.000 habitantes
(número máximo estimado), foram encontrados apenas 111 pessoas em 1722 pelo
viajante holandês Roggeveen38. Isso tudo se deveu a um estado de guerra
impressionante, quando, por motivos ainda não comprovados, a população dividiu-
se em dois grupos e passou a guerrear. Sinais colhidos posteriormente, denunciam
a existência de guerra endêmica e de canibalismo, bem como a confecção de
fortificações rudimentares, tais como túneis, abrigos individuais e cavernas fechadas
com pedras polidas para proteger famílias. Em uma das extremidades da ilha foi
encontrada uma vala cavada para separar uma península com a finalidade de
defesa estratégica.
Europeus, índios, polinésios e tantos outros povos diferentes, fizeram a
guerra, cada um ao seu modo, sem saberem da existência dos demais. Será que
ainda se pode afirmar que o homem é pacífico por natureza?
Por outro lado, não se pode afirmar que o homem sempre será belicoso. As
transformações culturais pelas quais ele vem passando podem ser um indício de que
se caminha para um estado de menos guerras e mais compreensão.
38
KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo: Companhia das Letras: Bibliex, 1996. p. 43.
39
John Mueller, cientista político americano. Apud KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo:
Companhia das Letras: Bibliex, 1996. p. 77.
43 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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40
Apud KELLET, Anthony. Motivação para o Combate. Rio de Janeiro: Bibliex, 1987. p. 255 – 258.
41
Renomados pesquisadores sobre o comportamento humano.
44 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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42
KELLET, Anthony. Motivação para o Combate. Rio de Janeiro: Bibliex, 1987. p. 255-259.
43
Global position System. Sistema também conhecido como NAVSTAR. Utiliza sinais de vinte e quatro
satélites em órbita estacionária. Proporciona precisão de até onze metros para lançamento de mísseis e bombas
“inteligentes”. O sinal disponível para o público em geral contém um erro programado de noventa e oito metros.
Um segundo sinal, só pode ser decodificado por equipamento militar norte-americano.
45 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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O campo espacial, que sofreu intensa pressão na Guerra Fria, foi o que mais
influenciou os avanços tecnológicos. Hoje, os satélites KH-11 (tira fotografias
extremamente nítidas de pessoas na Terra), Magnum (proporciona escuta de
conversas telefônicas estrangeiras), LACROSSE (colhe imagens de radar de
qualquer território da Terra), Jumpseat (detecta transmissões eletrônicas), além do
projeto Nuvem Branca (detecta navios inimigos em alto mar) são armas criadas para
a guerra convencional que auxiliam no salvamento de pessoas, no incremento de
avançadas tecnologias de comunicações, além de auxiliar o combate ao
narcotráfico.44
No que se refere à componente econômica, é preciso que se diga que uma
guerra “aquece” determinados setores da economia. Após o atentado de 11 de
setembro de 2001, os EUA aplicaram entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões para as
Forças Armadas. Some-se a isso, mais US$ 33 bilhões de aumento no orçamento
da defesa para 2002 . Como se não bastasse, há a intenção de o Pentágono solicitar
entre US$ 15 bilhões e 25 US$ bilhões, a título de verba adicional45. Todo esse
dinheiro será convertido em compra de armamentos, combustível, víveres e toda a
gama de necessidades, inclusive pesquisa de alta tecnologia, que dá suporte às
Forças Armadas dos EUA, gerando emprego.
Ainda no campo econômico, após esse atentado terrorista, segundo o jornal
Folha de São Paulo, a taxa de juros caiu de 3,5% para 3%, o Federal Reserve (BC
dos EUA) injetou US$ 100 bilhões na economia para aumentar a liquidez bancária,
além de injetar US$ 15 bilhões no setor aéreo e acenar com a possibilidade de
colocar mais US$ 71 bilhões de incentivo fiscal para a construção de ferrovias de
alta velocidade para minimizar as possibilidades de ataques terroristas similares. É
um reaquecimento pontual jamais visto na história econômica do mundo.
O próprio Brasil, com a revisão da política econômica dos EUA, já conseguiu
importantes passos na reunião da Organização Mundial do Comércio em Doha.
Muitas das barreiras comercias e problemas sobre subsídios dos países europeus
começam a ser desatados, haja vista a necessidade de os países ricos olharem com
mais atenção os países pobres. Isso nada tem a ver com bondade repentina. Mas
44
Para se aprofundar, ler o Cap. 12 de TOFFLER, Alvim. Guerra e Antiguerra: Sobrevivência na Aurora do
Terceiro Milênio. Rio de Janeiro: Bibliex, 1995.
45
Segundo DAO, James. Crise impulsiona indústria bélica. The New York Times: Folha de São Paulo São,
Paulo, 23 set 2001. p. 1-4.
46 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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com a visão clara de que, se os ricos não dividirem melhor a riqueza, outros
atentados podem acontecer provenientes de áreas menos assistidas. Alvos
compensadores não faltam.
Outro aspecto positivo de um conflito é a necessidade de os países
envolvidos em rever suas políticas, tanto externa como interna. Embora ainda
prematuro de ser analisado, uma das conseqüências mais positivas do atentado aos
EUA em setembro de 2001, é a necessidade desse país rever sua política
isolacionista (incrementada por Bush) e parcial. Isso já pode ser notado em vários
aspectos, destacando-se a nova posição dos EUA em relação à Palestina e outras
áreas do Oriente. Como se vê na opinião de Avram Noam Chomsky, lingüista
americano, em entrevista para a Folha de São Paulo em 22 de setembro de 2001:
Ψ ΨΨ
48 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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CAPÍTULO 2
O Pensamento do Guerreiro
“Os soldados não são como os outros homens – eis a lição que aprendi de uma vida entre guerreiros.”
John Keegan
“Se você matar alguém, tudo bem, faz parte. Se alguém do seu grupo morrer,
também faz parte. Você teme mais o isolamento do que as balas dos inimigos. Seus
companheiros são tudo para você. E a presença da morte é sempre boa: mostra que
você está vivo”46
46
HAAG, Carlos. A Síndrome do Golfo. Jornal Valor Econômico, Rio de Janeiro, 21 mar. 2001. p. 12.
Depoimento de Anthony Swofford, ex- fuzileiro naval dos EUA, combateu na Guerra do Golfo de 1991,é
professor de literatura em Portland e autor do livro ”Jarhead: A Marine’s Chronicle of the Gulf War”.
49 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Para esse homem, valem as palavras de Gaston Bouthoul, que dizia que não
há guerra quando o sangue não corre. É essa constatação que faz um homem em
combate acordar e entender que está, efetivamente, numa guerra: sangue correndo.
É sobre ele que vai convergir todo o impacto de infinitos fatores que somente
uma guerra é capaz de produzir. Sobre seus ombros, independente do lugar que
ocupa na hierarquia militar, é que irão se abater toda uma série de fatores que só
uma guerra pode infligir ao ser humano, e que na maioria das vezes não está escrito
nos manuais de campanha.
Assunto vasto, polêmico, inconclusivo no seu todo, mas que acomete as
mentes dedicadas ao seu estudo de uma necessidade especulativa impossível de
ser contida no peito.
O Profissional Militar
47
idem
50 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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O militar é o único que hipoteca a sua vida desde o início da sua caminhada
profissional. Não que os demais não possam – muitos o fazem – dar sua vida em
determinada situação. Contudo, um militar o faz de imediato, esperando ou não, que
chegue o momento em que lhe será cobrado na íntegra o seu juramento. Para que
se tenha a verdadeira noção da profundidade de um juramento feito por militares,
colocamos o juramento feito pelos mangoday (guerreiros) do exército de Gengis
Khan e o do Exército Brasileiro.
48
LORA, Juan Boza de. Profissão e Sentido Profissional Militar. Military Review (edição em português), EUA:
ECEME/EUA, Vol. LXX, nº 1, p. 76, 1º Trim. 1990.
52 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Inúmeras obras têm sido escritas sobre a guerra. Cada uma delas vê o
combate sob um determinado ângulo. Algumas estudam ou descrevem campanhas
ou batalhas específicas, como Dionísio Cerqueira em “Reminiscências da Guerra do
49
Estudiosos europeus suspeitam que o material usado na fabricação desta munição possa estar causando câncer
em soldados, além de vômitos, dor de cabeça e fadiga precoce. Está sendo chamada de “síndrome dos Bálcãs”.
50
“Equipamentos podem falhar; mas, as mentes podem improvisar, analisar e ajustar” (tradução livre).
53 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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“Nenhum plano operacional pode ser planejado com certeza além do primeiro
engajamento com o inimigo. É uma ilusão pensar que podemos planejar toda uma
54 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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51
KRAUSE, Michel D. Moltke e as origens da arte operacional. . Military Review (edição em português), EUA:
ECEME/EUA, Vol. LXX, nº 4, 4º Trim. 1990. p. 54.
52
HAAG, Carlos. A Síndrome do Golfo. Jornal Valor Econômico, Rio de Janeiro, 21 mar. 2001. p. 12. Relato de
Joel Turnipseed, ex- fuzileiro naval dos EUA, combatente da Guerra do Golfo de 1991, filósofo e autor do livro
“Baghdad Express”.
55 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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alguns procuram perseguir uma formatação que não existe. Caso isso fosse
possível, ela seria uma arte simples – o que não é. Bastaria atacar de três para um e
a vitória seria certa. Fogos sincronizados e profundos teriam como resultado a
quebra da linha de suprimento inimiga. Superioridade tecnológica e experiência em
combate trariam uma vitória cirúrgica e insofismável.
Todavia, a História Militar nos mostra que Vietnã, Azincourt, Lawrence da
Arábia, na sua “guerra fluída” contra os turcos, Yom Kippur, Coréia e Afeganistão
(contra a ex-URSS) dentre outros, são fatos históricos de inegável constrangimento
para os “matemáticos” da guerra. Não que eles estivessem errados por completo,
mas porque outros vetores, como o humano, torna esta equação passível de
resultados diferentes daquele “calculado”.
A batalha de Farsália (48 a 47 a.C.) é um caso típico em que o mais forte
perde para o mais fraco, desafiando as projeções matemáticas. Esta batalha deu-se
entre Caio Júlio César (100-44 a.C.) e Pompeu. Ambos, após a morte de Crasso, em
53 a.C., passaram a disputar o governo do Império Romano. Caio derrotou-o nessa
batalha, malgrado estar em profunda desvantagem numérica: 25 mil infantes (cerca
de 9 legiões) e mil cavaleiros, contra 50 mil infantes (cerca de 18 legiões) e 7 mil
cavaleiros.
A batalha de Ilipa (206 a.C.), entre Públio Cornélio Cipião, o Africano, (234-
183 a.C.) e Aníbal (247-183 a.C.) é outro bom exemplo. Cipião contava com 45 mil
infantes e 3 mil cavaleiros, venceu Aníbal e o exército cartaginês composto por 70
mil infantes, 4 mil cavaleiros e 32 elefantes. Com essa batalha, Aníbal foi
definitivamente derrotado53 e deu-se o término da segunda Guerra Púnica.
Um caso atual corrobora os argumentos acima. Após a Guerra de 1967
(Guerra dos Seis Dias), o General Donn A. Starry54, do Exército dos EUA, frisou que
“os coeficientes iniciais não determinam o resultado de uma guerra. Não faz
diferença quem está em vantagem ou desvantagem numérica”55. O que realmente
conta, segundo Starry, é a iniciativa de um dos contendores. Os escalões atrás de
escalões, tão ao gosto dos chineses, não são necessariamente mais eficazes.
Essa afirmação foi fruto da mentalidade americana até 1984, que afirmava:
53
Aníbal suicidou-se antes de ser capturado pelos romanos ao fim dessa batalha.
54
Junto com o General Don Morelli, criaram o que eles mesmos chamaram de “Doutrina Ar-terra”.
55
Apud TOFFLER, Alvim. Guerra e Antiguerra: Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1995. p. 66.
56 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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56
TOFFLER, Alvim. Guerra e Antiguerra: Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1995. p. 66.
57
CLAUSEWITZ, Carl von. On War, Princeton, 1976. Apud FREYTAG-LORINGHOVEN, Hugo von. O Poder
da Personalidade na Guerra. Rio de Janeiro: Bibliex, 1986. p. 59.
57 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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58
Para entender o ponto de vista de Keegan acerca da necessidade de simplificação da guerra, ler KEEGAN,
John. A Face da Batalha. Rio de Janeiro: Bibliex, 2000. p. 22. passim.
58 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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a situação, adotar uma linha de ação (atacar, retrair, desbordar etc) e informar ao
seu comandante a linha de ação tomada o mais rápido possível, sem vacilações.
Quando realizar um salto de pára-quedas, ao tocar o solo, deve ter o seu armamento
à mão e reunir-se com o seu grupo no mais curto prazo e combater. Enfim, são
atitudes automatizadas inerentes ao militar e fundamentais para que a operação em
que ele esteja envolvido tenha as mínimas possibilidades de sucesso.
Todavia, ele deve ser capaz de fazer mais. Deve ter capacidade de analisar
todas as variantes que lhe aparecerem e tomar uma decisão que na maioria das
vezes não consta dos manuais nem pode ser treinada na paz.
Iludir o inimigo com artifícios e ardis, demonstrar mais poder do que possui,
arrastando galhos nas areias do deserto para levantar poeira e dar a impressão de
que uma coluna de viaturas leve é uma coluna de blindados, como fizeram ingleses
e alemães na 2ª Guerra Mundial. Lançar bonecos de pára-quedas, dando a
impressão de que o número de combatentes é maior do que o que realmente existe.
Ou, quem sabe, lançar o corpo de um falso major, de nome Willian Martin, nas
proximidades do rio Huelva, no sudoeste da Espanha, com falsos planos para
enganar os alemães quanto ao verdadeiro local do desembarque aliado na Sicília
em 10 de julho de 1943 como fizeram os aliados na 2ª Segunda Guerra Mundial.
Certamente, tais artifícios não constavam dos manuais. Foram frutos de decisões de
homens que ultrapassaram os ditames regulamentares e foram capazes de ampliar
suas possibilidades decisórias a fim de atingir seus objetivos de forma inesperada e
criativa.
Mas como saber quando o militar deve ser um autômato e quando deve ser
um analista criativo e versátil?
Muitos fatores irão levar o combatente a tomar um ou outro caminho. Todos
conhecem frases do tipo : “Você não é pago para pensar, mas para executar.” Ou,
quem não ouviu: “Aqui nós defendemos a democracia, porém não a praticamos.”?
São expressões que estão arraigadas em muitos exércitos e acabam influenciando o
homem na sua decisão, tornando-o mais ou menos criativo.
Às vezes se cobra iniciativa, impetuosidade e outros atributos de
personalidade dos subordinados extremamente importantes para um exército.
Todavia, esquece-se de que tais atributos são minados de forma inconsciente em
muitos exércitos, no seu nascedouro, ou seja, nas escolas militares. Os exércitos
59 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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árabes são bastante conhecidos pela falta de criatividade e arrojo de suas tropas,
fruto de uma instrução extremamente rígida, inflexível e automatizada.
Com o passar do tempo, os militares, na sua maioria, adquirem o bom-senso
e passam a tomar decisões criativas e acertadas. Porém, o problema é que são os
mais novos, em geral, que sofrem as maiores pressões em combate. Isso porque
são eles que estão no front, vendo os “olhos do inimigo” e recebendo toda sorte de
fogos sobre suas cabeças.
Disso tudo, pode-se dizer, usando uma frase de John Keegan, em seu livro
“Uma História da Guerra”, que ”os soldados não são como os outros homens”.
Embora a guerra mantenha laços com todos as outras expressões do poder (política,
econômica, psicossocial, ciência e tecnologia), ela possui características que a torna
diferente na sua condução e no seu pensamento. Qualquer tentativa de se equiparar
militares a civis é perda de tempo e grave erro de análise. Trata-se de uma cultura
diferente, quase quixotesca, onde os mais altos valores morais são evidenciados ao
máximo.
O combatente profissional é, sem dúvida alguma, uma classe especial de
homem. Classe essa que existe há milhares de anos e continuará existindo por
muitos outros, de formas e maneiras diferentes, adaptando-se às mudanças do
tempo. Todavia, sempre conservará seus valores de sacrifício pessoal e coletivo em
prol de um grupo maior, chamado Nação. A consideração de Yen Tzu, em 493 a.C.,
sobre Ssu-ma Jang-chu, são conclusivas sobre o perfil de um bom soldado: “O
comandante ideal reúne cultura e temperamento bélico; a profissão das armas exige
uma combinação de dureza e suavidade”.
Importante se faz dizer que o combatente profissional aqui relatado é o militar
pertencente a uma organização estruturada, organizada e legitimada pela lei de um
país. Outras tropas, embora tenham combatido em guerras ao longo da história,
como os cossacos e os partzanos, não podem ser considerados militares
profissionais. Embora até utilizassem técnicas militares, terem na sua organização
alguma similitude com os exércitos regulares, tratava-se apenas de hostes
guerreiras, sem objetivos muito definidos e despidos de qualquer amparo legal que
legitimasse suas ações. Podem até servir como exemplos específicos a fim de se
colher lições sobre sua atuação, mas de forma nenhuma podem ser confundidos
com militares. Seria uma injustiça com últimos.
60 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Ψ ΨΨ
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CAPÍTULO 3
A Guerra e a Humanidade
“Sobre a pergunta se a guerra é arte ou ciência, a resposta a ser dada é que é uma
profissão.”
Engels e Marx
59
Dilema macroeconômico, que juntamente com o dilema Consumo X Investimento, trata dos problemas
econômicos relevantes da atualidade.
60
Segundo MACCORMICK, T. China Market: America’s Quest for Informal Empire. Chicago, 1967. Apud
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Transformação Econômica e Conflito Militar de
1500 a 2000.Rio de Janeiro: Campus, 1991. p. 512.
62 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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X=Y
Destinação da expansão das possibilidades de produção prioritariamente para a
SEGURANÇA. Os padrões de vida podem regredir, tornando o governo
insustentável ao longo dos anos. O paradoxo de uma máquina bélica eficiente,
porém cara e em descompasso com as precárias condições de vida da
população podem levar aos distúrbios internos.
Ex: ex- URSS, Coréia do Norte, China
X<Y
Destinação da expansão das possibilidades de produção prioritariamente para o
BEM-ESTAR. Os padrões de vida podem aumentar. A inexistência de forças
armadas condizentes com o alto nível de conforto populacional, provocando
cobiça de outros países, pode conduzir a conflitos externos em que o país não
tenha as condições de defender o modo de vida adotado.
Ex: Kuweit, Suíça
X>Y
Eixo do X = Bem-estar
Eixo do Y = Segurança
Quadro nº 12
Dilema Espadas versus Arados
61
JUNIOR, José Arbex. Onde o nome da religião é petróleo. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 set. 2001, p. 9.
62
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Transformação Econômica e Conflito Militar de
1500 a 2000.Rio de Janeiro: Campus, 1991. p. 2.
64 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
dirá se pode ou não haver a guerra e, se esta for declarada, qual será a sua
amplitude.
A história mostra que os exércitos se prepararam e continuam se preparando
para a eventualidade de um conflito. Os diversos fatores que podem deflagrar uma
guerra são intimamente ligados ao fator econômico e à necessidade de
desenvolvimento dos países. Como esse desenvolvimento implica em tensões com
outras nações, tudo leva a crer que a guerra continuará a acompanhar a
humanidade por muitos anos.
Os Exércitos na Paz
“As bases principais de todos os Estados – sejam novos, antigos ou mistos – são as boas leis e os bons exércitos.
E porque não pode haver boas leis onde não há bons exércitos e onde há bons exércitos convém haver boas leis,
deixarei de lado a discussão das leis e falarei dos exércitos”.
Maquiavel
65
Apud MINERVINO, Oacyr Pizzotti. Forças Armadas em tempo de paz: reflexões. A Defesa Nacional, Rio de
Janeiro: Bibliex, nº 760, p. 41 – 42, abr. – jun. 1993.
68 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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“Na última guerra precisamos de quatro anos para nos aprontarmos... Quando
levei a 2ª Divisão para o noroeste da Europa ela tivera quatro anos de árduo
treinamento. Treinamos dia e noite; pensei que ela estivesse tão perfeita quanto era
possível, como instrumento de combate. Quando entramos na luta em Falaise e
Caen esbarramos logo com as experientes tropas alemãs e sentimos que não
66
GAULLE, Charles De. Por um Exército Profissional. Rio de Janeiro: José Olympio: Bibliex, 1996. p. 56 – 57.
70 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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poderíamos nos comparar com eles... Não teríamos tido sucesso não fosse o apoio
de fogo, aéreo e de artilharia. Tínhamos mourejado durante quatro anos...e levamos
cerca de dois meses para colocar a Divisão em ordem e dizer que éramos uma
organização militar que podia lutar.”67
Ψ ΨΨ
67
Apud KELLET, Anthony. Motivação para o Combate. Rio de Janeiro: Bibliex, 1987. p.100.
71 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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CAPÍTULO 4
Os Recursos Humanos
Quadros
“A guerra é uma arte de execução e do que o Exército precisa é de oficiais aptos ao serviço, oficiais
robustos, enérgicos, conhecedores da profissão, convictos de sua missão militar, social e política,
como oficiais de verdade”
Marechal José Pessôa Cavalcanti de Albuquerque
68
Apud ARARIPE, Tristão de Alencar. Expedições militares contra canudos: seu aspecto moral. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1985. p. 13. Trecho da carta do General Solon Ribeiro comandante do 3ª Distrito Militar (Bahia) às
autoridades estaduais, repudiando a maneira com que o exército era tratado e das condições de escassez de
material e instrução para tal empreitada. Publicada no Jornal do Comércio de Recife, em 23 de abril de 1897.
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O interessante é que tal distorção não é prerrogativa dos níveis mais elevados
de um exército. A narrativa abaixo, bastante sucinta, mas extremamente reveladora,
mostra situação semelhante.
69
BRAYNER, Floriano de Lima. A Verdade Sobre a FEB. Memórias de um Chefe de Estado-Maior na
Campanha da Itália. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 17.
75 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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se esquivavam ao dever de lutar pela Nação que só lhes dera alegrias, para serem
substituídos pelos pobres de fortuna, pelos que da terra mãe só provaram travosos
frutos.”70 (grifos do autor)
“Os britânicos perderam uma geração – meio milhão de homens com menos
de trinta anos – notadamente entre suas classes altas, cujos rapazes, destinados
como gentleman a ser os oficiais que davam o exemplo, marchavam para a batalha
à frente de seus homens e em conseqüência eram ceifados primeiro. Um quarto dos
alunos de Oxford e Cambridge com menos de 25 anos que serviam no exército
britânico em 1914 foi morto. “ (grifo do autor)
70
HENRIQUE, Elber de Mello. A FEB Doze Anos Depois. Rio de Janeiro: [s.n.t], 1957. p. 34.
71
HOSBAWN, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. p. 34.
76 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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72
Palavras de Dionísio Cerqueira, apud IZECKSOHN, Vitor. O Cerne da Discórdia. A Guerra do Paraguai e o
núcleo profissional do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1997. p. 163.
77 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Formação de Oficiais
“Sua missão continua imutável, determinada, inviolável. E ela é vencer nossas guerras...Na guerra não há
substituto para a vitória.”
General Douglas MacArthur dirigindo-se para os formandos de West Point em 1962
de suas armas, além de diminuir a eficiência operacional de sua fração. Mas existem
soluções e ele deverá encontrá-las. O uso de meios auditivos e visuais para
coordenar sua fração é uma das várias respostas possíveis. Fumígenos, bandeirolas
e sinais manuais serão necessários. O importante é que ele continue cumprindo a
sua missão. Se ele confiou o cumprimento da missão somente no rádio ou não
possui a iniciativa necessária, terá problemas...
Contudo, após vencer tais dificuldades, ele irá valorizar outras técnicas de
coordenação e irá agregar a sua bagagem profissional maior capacidade de
responder a problemas desconhecidos.
Ainda durante a minha permanência como oficial na AMAN73, foi montado um
exercício de força-tarefa de subunidade num quadro de aproveitamento do êxito74.
Ela contava com cerca de 12(doze) carros blindados. À medida que realizávamos o
exercício, as quebras e panes de muitos carros eram inevitáveis, haja vista a idade
dos mesmos.
Esse fato me chamou a atenção, pois achei que o instrutor-chefe deveria ter
suspendido o exercício por algumas horas para que os carros quebrados fossem
manutenidos. Todavia, as quebras continuaram e o exercício também. Ele só
interrompeu o exercício quando contávamos apenas dois carros em condições de
uso. Após a manutenção, o treinamento continuou e chegou-se ao final conforme
planejado.
Durante a análise pós-ação do exercício, o instrutor-chefe explicou-nos sua
decisão. Sabia que poderia parar o exercício por algumas horas e manutenir os
carros para que os cadetes em função de comandante de pelotão sempre tivessem
seus pelotões completos. Mas ele deixou uma pergunta: “Será que em combate nós
poderíamos pedir um tempo ao inimigo para manutenir os nossos carros?”
Evidentemente que não.
Foi uma lição formidável para mim e, acredito, para os demais oficiais e
cadetes envolvidos. Não importam os meios disponíveis em combate, a missão deve
ser cumprida de qualquer forma. Esse espírito deve ser aprendido na escola de
formação! Os exércitos precisam de oficiais que tenham capacidade de responder
aos imponderáveis da guerra sem titubear e manter-se no cumprimento da missão.
73
Academia Militar das Agulhas Negras. Estabelecimento de ensino militar de nível superior que tem como
missão formar o oficial de carreira combatente do Exército Brasileiro.
74
Tipo de operação ofensiva que ocorre logo após o êxito de um ataque. Visa infligir ao inimigo mais baixas e
diminuir suas possibilidades de se reorganizar para um contra-ataque.
81 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Nesse momento, Zwicka fora avisado pelos carros que o acompanhavam que
se aproximava uma coluna de blindados sírios equipados com pequenas luzes
laterais. Às 21:20 horas, avistou na estrada o primeiro carro sírio, O primeiro tiro, a
curta distância, pôs em chamas o inimigo, mas o choque fez com que seu sistema
de comunicações entrasse em pane. Zwicka sinalizou para que o carro mais próximo
se aproximasse; trocou de lugar com o oficial que o comandava e ordenou-lhe que o
seguisse e que o imitasse em tudo que fizesse. Após percorrer poucas centenas de
metros, verificou que perdera seu acompanhante; ao galgar uma elevação, avistou
na estrada três carros sírios com pequenas luzes laterais acesas. Três tiros rápidos
e os três irromperam em chamas, que arderam por toda noite. 75(grifos do autor)
75
HERZOG, Chaim. A Guerra do Yom Kippur. Rio de Janeiro: Bibliex, 1977. p. 121. Para se aprofundar nesse
combate, onde o Ten Zwicka combateu durante 20 horas ininterruptas, consultar p. 111 – 136, incluindo fotos.
82 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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76
Para saber mais sobre essa batalha ler HERZOG, Chaim. A Guerra do Yom Kippur. Rio de Janeiro: Bibliex,
1977. p.148 – 161.
83 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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ininterruptas. O cansaço era tamanho que quando Avigdor falava com o seu oficial
de operações, este adormeceu no rádio.
Foi neste momento que o TC Yossi, comandando o que restara da Brigada
Barak (onze carros), penetrou na defesa de Avigdor e proporcionou-lhe algum
reforço. A 7ª Brigada encontrava-se com apenas sete carros dos cem iniciais.
Observadores israelenses verificaram que os sírios estavam recuando e
detendo o ataque. As perdas estavam sendo inaceitáveis para eles. O que sobrou da
7ª Brigada mais as tropas da Brigada Barak, indo contra qualquer lógica,
deflagraram um pequeno contra-ataque contra as forças sírias que se retiravam.
Destruíram ainda, carros e transportes inimigos. Ao atingir um fosso anticarro,
pararam o contra-ataque. A 7ª Brigada atingira o limite das possibilidades física e
mental dos seus homens e mecânicas dos carros.
O que levou a 7ª Brigada a conseguir realizar empreitada tão magnífica?
Determinação do seu comandante, liderança em todos os escalões, adestramento
de altíssimo nível, profundo conhecimento das possibilidades do equipamento, são
algumas razões. Sabedores que o inimigo possuía um equipamento melhor, trataram
de usar o limite máximo dos que possuíam. Tabelas de tiro foram preparadas,
roteiros de tiro minuciosamente confeccionados, fossos anticarros escavados,
criteriosa utilização do terreno, ocupando elevações que lhes possibilitava
comandamento sobre o oponente. A isso tudo, chamamos de adestramento bem
feito e forte liderança e criatividade dos oficiais.
As narrativas acima mostram a importância de um exército possuir oficiais
bem formados. As iniciativas do Tenente Zwicka e do TC Avigdor não foram acaso
ou exceção. Outros relatos confirmam que os atos protagonizados por estes
militares eram a regra das Forças de Defesa de Israel (FDI). Apesar de que só a
vitória interessava aos israelenses, já que a derrota significava o fim do Estado de
Israel, o resultado positivo para Israel foi fruto de formação militar bem feita e sob
duras condições de execução.
Verifica-se, desta forma, que a formação dos quadros deve ser preocupação
constante dos comandantes de um exército. O espectro que abrange a manutenção
de elevados padrões no seu seio vão desde justiça na distribuição de recompensas,
passando por elevado grau de exigências intelectuais, físicas e morais, desaguando
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Adestramento da Tropa
“Se muito perdemos, muito ainda temos;
Se não dispomos da força que outrora
Movia céu e terra, o que somos, somos:
Um grupo coeso, corações heróicos,
Fracos no tempo e na vida, mas prontos:
Lutar, buscar, chegar, jamais ceder.”
77
Importante ressaltar que tratamento duro não significa humilhação e a quebra da auto-estima do militar. Isto
seria covardia em relação ao subordinado, além de formar militares desvirtuados.
85 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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78
MINISTÉRIO DO EXÉRCITO. Evolução da Arte da Guerra e do Pensamento Militar no Século XX.
Coletânea do C Prep EsCEME. Rio de Janeiro: A Escola, 1997. Organização do autor.
86 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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79
Sistema de Vigilância da Amazônia. Projeto desenvolvido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, juntamente com O Comando da Aeronáutica e Ministério da Justiça. Tem por objetivo
zelar pela Amazônia Legal.
87 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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80
Caxias teve importante papel, mais uma vez, no sentido de preparar a tropa, organizando-a em equipamento,
adestramento-a e proporcionando os apoios necessários. Sua capacidade de planejamento foi fundamental para
os êxitos obtidos nas campanhas lideradas por ele.
88 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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81
Oficiais que não cursaram a Escola Militar.
82
Maria Odília Silva Dias, apud IZECKSOHN, Vitor. O Cerne da Discórdia. A Guerra do Paraguai e o núcleo
profissional do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1997. p. 164.
89 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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83
idem, p. 164.
84
GUDERIAN, Heinz. Panzer Líder. Rio de Janeiro: Bibliex,1966. p. 13. Para saber mais sobre a criação da
força blindada alemã consultar op. cit. p. 4 – 39.
85
Special Air Service.
86
Special Boat Service.
90 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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87
YOUNG, Desmond. Rommel. Rio de Janeiro: Arte Nova: Bibliex, 1975. p. 51.
93 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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“(...) Mas ele escapou mais por sorte do que por raciocínio, segundo
funcionários da OTAN89 na Itália. Em vez de “fazer tudo certo” durante os seis dias
que passou em território inimigo, O’Grady fez tudo errado. Militares da OTAN
disseram que foi um milagre os sérvios e os bósnios não o terem prendido. Se ele
tivesse seguido as instruções, teria sido salvo dias antes. (...) A série de erros
cometidos por O’Grady começou quando ele decolou, usando apenas uma camiseta
sob seu uniforme de vôo. Ele deveria estar preparado para um frio intenso e talvez
ter que ficar fugindo por dias. Seus colegas confirmaram que os sérvios apontaram o
radar para seu avião F-16 várias vezes antes de derrubá-lo. “Deveria ter fugido
imediatamente”, disse um piloto. Mas ele continuou a voar num círculo previsível a
15 mil pés, até que um míssil sérvio derrubou seu avião. Ao aterrissar, ele deveria
ter contatado a chefia de vôos com um pequeno rádio de sobrevivência, mas não
88
Viatura Blindada de Combate. Nome técnico como são chamados os carros de combate sobre lagarta.
89
Organização do Tratado do Atlântico Norte.
95 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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90
BELLAMY, Chistopher. Piloto dos EUA foi salvo apesar de seus erros. Trad de Lise Aron. Folha de São
Paulo, São Paulo, jun. 1995. p. 8.
91
Simulador Integrado Múltiplo a Laser. Esse sistema, colocado em cada homem e viatura, permite saber
quando um alvo foi atingido e por quem. Além disso, controla o número de tiros dados e quem acertou cada
alvo. Possibilita, inclusive, a descoberta de fratricídio durante os treinamentos.
96 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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92
Operação militar que visa colher dados sobre uma determinada estrada e suas adjacências para subsidiar
comandos superiores no planejamento de outras operações de maior envergadura.
93
Missão típica da Força Aérea que consiste em sobrevoou ao longo de um eixo (estrada, por exemplo) com a
finalidade de destruir alvos inimigos compensadores.
94
Relatório Final Operação AMAN, do 1º Grupo de Aviação de Caça, 31 Mar 95-19 Mai 95.
95
Deslocamento de grandes massas de ar de maneira repentina e violenta, em todas as direções. Este efeito
provoca danos ao corpo humano mais ou menos graves em função da distância de arrebentamento da munição.
97 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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confusão gerada na formação foi grande. Verificou-se o quão difícil é para uma tropa
responder a um ataque deste tipo. Aprendeu-se, ainda, que nem sempre o uso de
fumígenos para mascarar uma tropa é a melhor solução. Ele pode proporcionar um
resultado inverso, ou seja, denunciar TODAS as nossas viaturas para a aviação.
O mesmo deve ocorrer com o pessoal de apoio no que tange ao
adestramento. Eles merecem um treinamento rigoroso e dentro das condições que
encontrarão em combate. As equipes de manutenção devem ser adestradas a
reparar danos sob condições de pouquíssima visibilidade, pois em combate não
poderão acender holofotes sob o risco de chamar para si o fogo inimigo. O trabalho
de ressuprimento deve ser feito com disciplina de ruídos e luzes, os comboios
devem ser treinados para transitarem com limitada velocidade e visibilidade, mesmo
que isso implique em que o café da manhã só chegue na frente de combate na hora
do almoço. Provavelmente será assim mesmo no combate.
Durante a Guerra das Malvinas/Falklands, em 1982, verificou-se o quanto é
importante adestrar tropas para combater em situações de contingência. Os
Argentinos ficaram vivamente impressionados com a capacidade dos ingleses em
executar movimentos a pé, em terrenos rochosos, com lama profunda, totalmente
equipados, combater e vencer.
O deslocamento de 80 km através de pântanos, sob nevascas e temperaturas
inclementes, realizado pelas tropas inglesas na parte setentrional das Falklands
Orientais demonstra a importância de um bom adestramento. Mesmo levando-se em
conta que os ingleses possuíam equipamentos individuais modernos para
protegerem-se do frio, esta façanha só foi alcançada com treinamento anterior duro
e sob condições próximas da realidade. Aqueles que já realizaram marchas longas
sabem que mesmo com o melhor equipamento, o que concorre para que a tropa
atinja seu objetivo em condições de combate é o treinamento. O equipamento ajuda,
mas não resolve o problema. Como afirmou Gary L. Guertenr, em seu artigo “A
Guerra dos 74 Dias: Nova Tecnologia e Velhas Táticas”:
soldados nos quartéis durante longos períodos de seus ciclos de instrução.”96 (grifo
do autor)
96
GUERTNER, Gary L. A guerra dos 74 dias: nova tecnologia e velhas táticas. Military Review (edição em
português), EUA: ECEME/EUA, Vol. LXIII, nº 2, 2º Trim. 1983. p. 78.
97
EJÉRCITO ARGENTINO. Conflicto Malvinas. Tomo I – desarrollo de los Acontecimentos. Buenos Aires:
Ejército Argentino, 1983. p. 17 - 18.
99 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Outro aspecto que não pode ser esquecido é a grande pressão, notadamente
psicológica, que os membros de um Estado-Maior sofrem. Se tudo der certo, o
98
idem. p. 177.
99
BRAYNER, Floriano de Lima. A Verdade Sobre a FEB. Memórias de um Chefe de Estado-Maior na
Campanha da Itália. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 46.
100 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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mérito é da tropa que combateu. Se algo der errado, será culpa do planejamento do
Estado-Maior:
100
Idem, p. 50.
101
Um Estado-Maior do nível brigada para cima é, via de regra, composto pelos seguintes oficiais: oficial de
pessoal (E1), oficial de inteligência (E2), oficial de operações (E3), oficial de logística (E4) e oficial de
comunicação social (E5).
101 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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102
BRAYNER, Floriano de Lima. A Verdade Sobre a FEB. Memórias de um Chefe de Estado-Maior na
Campanha da Itália. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 524-525.
103
MATTOS, Carlos de Meira. Castello Branco e a Revolução. Rio de Janeiro: Bibliex, 1994. p. 188.
103 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Liderança
“Reconhece-se o verdadeiro chefe por este sinal: sua simples presença é, para os homens que ele
dirige, um estímulo para se superarem a serviço da causa comum.
Substitua-se “presença” por “lembrança” e teremos o grande chefe.
Gaston de Courtois
Sun Tzu, cujo nome individual era Wu, nasceu no Estado de Ch’i. Sua Arte da
Guerra chamou a atenção do Ho Lu, Rei de Wu. Ho Lu disse-lhe: “Li atentamente
seus 13 capítulos. Posso submeter sua teoria de dirigir soldados a uma pequena
prova?”
Sun Tzu respondeu “Pode”.
O rei perguntou: “A prova pode ser feita em mulheres?”
A resposta tornou a ser afirmativa e então trouxeram 180 senhoras do
palácio. Sun Tzu dividiu-as em duas companhias e colocou duas concubinas
favoritas do rei na direção de cada uma delas. Depois mandou que todas pegassem
105 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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lanças e falou-lhes assim: “Suponho que saibam a diferença entre frente e costas,
mão direita e esquerda?”
As mulheres responderam: “Sim”.
Sun Tzu prosseguiu: “Quando eu disser sentido, têm de olhar diretamente
para frente. Quando eu disser Esquerda volver, têm de virar para a sua mão
esquerda. Quando eu disser Direita volver, precisam virar-se para sua mão direita.
Quando eu disser Meia-volta volver, vocês têm de virar de costas”.
As moças tornaram a concordar. Tendo explicado as palavras de comando,
ele colocou as alabardas e achas-d’armas em forma, para começar a manobra.
Então, ao som dos tambores, deu a ordem “Direita volver”, mas as moças apenas
caíram na risada.
Sun Tzu disse, paciente: “Se as ordens de comando não foram bastante
claras, se não foram totalmente compreendidas, então a culpa é do general”. Assim,
recomeçou a manobra e, desta vez, deu a ordem “Esquerda volver”, ao que as
moças quase arrebentaram de tanto rir.
Então ele disse: “Se ordens de comando não forem claras e precisas, se não
forem inteiramente compreendidas, a culpa é do general. Porém, se as ordens são
claras e os soldados, apesar disso, desobedecem, então a culpa é dos seus oficiais.
Dito isso, ordenou que as comandantes das duas companhias fossem decapitadas.
Ora, o Rei de Wu estava olhando do alto de um pavilhão elevado e quando
viu sua concubina predileta a ponto de ser executada, ficou assustado e mandou
imediatamente a seguinte mensagem: “Estamos neste momento muito contentes
com a capacidade do nosso general de dirigir suas tropas. Se formos privados
dessas duas concubinas, nossa comida e bebida perderão o sabor. É nosso desejo
que elas não sejam decapitadas.”
Sun Tzu retrucou, ainda mais paciente: “Tendo recebido anteriormente de
Vossa Majestade a missão de ser o general de suas forças, há certas ordens de
Vossa Majestade que, em virtude daquela função, não posso aceitar”. Conseqüente
e imediatamente mandou decapitar as duas comandantes, colocando prontamente
em seu lugar as duas seguintes. Isso feito, o tambor tocou mais uma vez para novo
exercício. As moças executaram todas as ordens, virando para a direita ou
esquerda, marchando em frente, fazendo meia-volta, ajoelhando-se ou parando com
precisão e rapidez perfeitas, não se arriscando a emitir um som.
106 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
Depois disso, o Rei de Wu viu que Sun Tzu sabia como comandar um
exército e nomeou-o general.
Evidentemente, este exemplo não é aplicável aos dias de hoje. No entanto, é
ainda atual na medida em que mostra que é possível aplicar a liderança em qualquer
grupo humano. O que deve ser levado em consideração são as ferramentas
utilizadas para se atingir os objetivos. A liderança de um pelotão de soldados utiliza
meios diferentes daqueles usados para se liderar comandantes de unidade, por
exemplo.
A figura do líder é tão importante que Napoleão disse:
“Os gauleses não foram conquistados pelas legiões romanas, mas por César.
Não foram as muralhas de Cartago que fizeram tremer os soldados romanos, mas
Aníbal. Não foram as falanges macedônias que chegaram à Índia, mas Alexandre.
Não foi o Exército francês que atingiu o Weser e o Inn, mas Turenne. A Prússia não
se defendeu por sete anos, contra as três maiores potências européias, com seus
soldados, mas com Frederico, o Grande.”105
104
TZU, Sun. A Arte da Guerra. Org. Adap. James Clavell. Trad. José Sanz. São Paulo: Record, 1996. p. 10 –
13.
105
LANNING, Michael Lee. Chefes, Líderes e Pensadores Militares. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999. p. 12.
107 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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O General Patton, um chefe que embora tenha pautado sua vida profissional
por balançar ora no campo da personalidade positiva e ora no personalismo
negativo, demonstrou o quanto é importante, mesmo em tempos de paz, possuir
coragem moral e colocar sua carreira em jogo pelos subordinados, merece ser
citado em uma passagem como instrutor em Fort Riley:
“Certa vez, quando eu era instrutor em Fort Riley, realizei em minha casa uma
festa só para homens e oferecida aos integrantes da turma do segundo ano.
Evidentemente fizemos muito barulho, mas ninguém se portou como bêbado, nem
106
HART, Liddell. O Outro Lado da Colina. Rio de Janeiro: Bibliex, 1980. p. 12.
108 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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107
PATTON JR, George S. A Guerra que eu Vi. Rio de Janeiro: Bibliex, 1979. p. 334.
108
Fernão de Magalhães morreu em combate na ilha de Mactan (Filipinas), no Índico, em 27 de abril de 1521,
não conseguindo completar sua missão.
109 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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109
“Os amotinados estavam para descobrir que desafiar Magalhães era ainda mais perigoso do que a
tempestade mais violenta no mar. ...Em seguida, ordenou a que o corpo de Mendoza fosse esquartejado. O
procedimento complicado e grotesco geralmente começava com a vítima na forca, e, quando estivesse apenas
parcialmente estrangulada, era cortada. O executor ou um assistente fazia uma incisão no abdômen do
condenado, removia seus intestinos e, inacreditavelmente, os queimava na frente da vítima semimorta.” Citado
em BERGREEN, Laurence. Além do Fim do Mundo. A Aterradora circunavegação de Fernão de Magalhães.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. Pg 155.
110
Tortura comum naquele período, constituída de cinco estágios. No último estágio a vítima tinha pesos
amarrados aos membros com a finalidade de arrancar, em vida, os membros do condenado. San Martín sofreu os
cinco estágios.
111
Magalhães obrigou o criado de Quesada a executar a sentença sob pena de, também, decapita-lo.
111 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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muitas situações, ser duro e frio, como Magalhães e Sun Tzu, dentre outros, foram
ao seu tempo.
De concreto, depreende-se que a tibieza, a falta de comprometimento com a
missão recebida, a vaidade, a fraqueza de caráter, a falta de visão prospectiva, a
prepotência, a inexperiência, o desvirtuamento dos objetivos da Instituição e o bom-
mocismo são inimigos peremptórios da liderança. Corroem as estruturas e
esfacelam qualquer exército.
Outro aspecto que deve ser cuidado dentro de um exército são as falsas
lideranças. Surgem, via de regra, dos vícios de liderança. A mais grave distorção de
liderança é o bom-mocismo, comum em muitos exércitos. Essa prática, que tem por
princípio evitar a tensão com o subordinado e com o superior, deixando que
transgressões sejam cometidas sob a capa de serem pouco importantes ou que não
justificariam as conseqüências, é danosa e corroí qualquer sistema baseado na
disciplina. O seu mote é a omissão; o seu produto, a indisciplina. Ela é danosa à
medida que nivela bons e maus militares em um único conjunto, desestimulando a
dedicação e o sacrifício, visto que para o comandante bom-moço, todos são sempre
iguais.
André Rebouças, primeiro-tenente de Engenharia durante a Guerra do
Paraguai, disse sobre alguns poucos, mas despreparados chefes da época, a sua
dificuldade em servir homens assim: “Sofrer tais chefes, meu bom Deus, é
indubitavelmente o maior sacrifício que faço persistindo em continuar até Humaitá
esta Campanha.”112
Por intermédio da leitura de obras sobre chefia e liderança, somadas à
experiências de diferentes militares que me foram relatadas, acabei por simplificar os
tipos de chefias. Dividi-as em três categorias, não necessariamente estanques. Ela
não é fixa, podendo ora ser mais ou menos evidenciada. Além disso, não possui
grandes fundamentos teóricos nem se baseia em um exército específico. Como
disse, é mais dedutiva do que qualquer outra coisa. São simples, mas sintetizam a
personalidade do chefe.
Na esmagadora maioria das vezes, os integrantes do primeiro grupo não
passam de incompetentes e descomprometidos com a força a que pertencem.
Mascaram sua falta de preparo profissional e coragem moral sob o manto de
112
IZECKSOHN, Vitor. O Cerne da Discórdia. A Guerra do Paraguai e o núcleo profissional do Exército
Brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1997. p. 133.
112 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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113
BRAYNER, Floriano de Lima. A Verdade Sobre a FEB. Memórias de um Chefe de Estado-Maior na
Campanha da Itália. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 3.
114
idem. p. 17.
113 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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115
MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe: Comentários de Napoleão Bonaparte. Rio de Janeiro: Hemus:
Bibliex 1998. p. 210.
114 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Napoleão é, sem sombra de dúvida, um bom exemplo desse tipo de chefe. Dotado
de genialidade militar e política, não tem rival na História Militar quando o assunto é
liderança. O seu carisma mítico sempre fascinou. Ao se ler o livro “Napoleão 1812”,
que tratava da Campanha na Rússia e do seu malogro, logo percebe-se que as
potencialidades de líder de Napoleão superavam em muito aquilo que a maioria
pensava. Ele conduziu cerca de 600.000 homens para o interior da Rússia, foi
derrotado, obrigado a abandonar parte considerável dos seus homens na heróica
travessia do rio Berenzina. Voltou com apenas 30.000 homens. Qualquer homem,
em qualquer tempo, seria severamente punido e sofreria revolta de toda a
população. Exceto Napoleão. Permaneceu na chefia do exército e do país ainda por
cerca de dois anos, deixando o poder somente em 11 de abril de 1814. A liderança
do “pequeno cabo”116, superava até desastres como o ocorrida na Rússia.
Um exemplo brasileiro é, indubitavelmente, Caxias. Sua visão militar e política
impressionam. Sua concepção política era clara: manter a integridade da Nação a
qualquer custo; sua visão militar, ainda mais contundente na Guerra do Paraguai:
“restabelecer a disciplina militar, preservar a natureza da instituição, que por
determinação constitucional, deveria ser “essencialmente obediente”.117 Quantos
militares não só no Brasil, mas em outras partes, poderiam igualar-se a Caxias no
sentido de andar entre o fio da política e do Exército sem se ferir?
Enriquecendo ainda mais com exemplos brasileiros, destacamos a figura
ímpar do General Euclydes Zenóbio da Costa, comandante da Infantaria brasileira.
Segundo Lima Brayner, era “zeloso de suas tradições de bravura e de grande
realizador...Troupier impetuoso e heróico...amava o perigo e gostava de desafia-lo.
Era sempre garantia de êxito nas missões difíceis.” Continuando, disse sobre
Zenóbio, “Chefe que pedia missão e partia, sem perda de tempo, para a execução,
dando exemplo de destemor, pois estava sempre junto aos escalões mais
avançados.118” Diversos outros oficiais que serviram com Zenóbio destacam sua
capacidade de liderança e visão de conjunto.
116
Alcunha obtida frente as demonstrações de coragem que Napoleão brindava suas tropas, como na batalha de
Lodi, onde conduziu pessoalmente uma carga de baionetas por uma ponte contra forças austríacas. Os soldados
franceses que não estavam acostumados a esse tipo de exemplo por parte de altos oficiais, apelidaram o bravo
chefe de 1,62m de altura dessa forma.
117
IZECKSOHN, Vitor. O Cerne da Discórdia. A Guerra do Paraguai e o núcleo profissional do Exército
Brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1997. p.139 – 140.
118
BRAYNER, Floriano de Lima. A Verdade Sobre a FEB. Memórias de um Chefe de Estado-Maior na
Campanha da Itália. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 166. Para saber mais sobre a opinião de
115 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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grande e respeitado chefe militar que desfrutava Zenóbio, ler p. 59 – 60, 140, 145, 164, 209, 259, 275, 316, 327,
331, 358, 399, 401, 406 – 407, passim. op. cit.
116 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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119
Ação Cívico-Social. É um tipo de ação desenvolvida por militares que visa proporcionar aos locais menos
assistidos, de forma temporária, serviços que minimizem as carências existentes. Consta de apoio médico,
sanitário e de palestras sobre temas variados de interesse geral.
117 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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120
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) fabricada nos EUA sobre lagarta. Pode transportar cerca
de 11 homens equipados, inclusive atravessando rios.
118 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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poder falar nada. Isso causou um constrangimento enorme. Se, por um lado, a
liderança do general aparentemente elevou-se, por outro custou a liderança dos
seus comandantes de unidade, pois a impressão que poderia ter ficado era a de que
os comandantes não teriam competência para liderar seus tenentes em um simples
exercício. Evidentemente, esta não foi a intenção daquele general, mas foi o que
transpareceu para nós, imaturos tenentes à época.
Uma outra solução seria o general chamar os comandantes, expedir suas
diretrizes e observações e cada um deles transmitir aos seus tenentes e capitães à
luz do terreno e considerando as respectivas zonas de ação. Horas depois, no
almoço, o resultado era o esperado: desconforto e certa revolta com o general por
ter exposto o nosso comandante, mesmo sem querer fazê-lo.
A presença do chefe, na rotina diária e nas mazelas do combate, é
fundamental. Disso não se duvida. Mas é preciso que, quanto mais graduado for o
oficial, mais cuidado tome. Nos níveis mais altos, ela deve ser mais subjetiva do que
objetiva. Ela deve impulsionar, inspirar e encorajar.
Já que usou-se Patton para um exemplo negativo de liderança, será utilizado,
desta vez, numa oportunidade altamente positiva em que ele soube conduzir a
liderança inata da sua personalidade. Ele mesmo a descreve:
cumprir sua missão, e quase oitenta por cento desta missão consiste em elevar o
moral de seus homens.”121 (grifo do autor)
Este trecho mostra que Patton não interferiu diretamente nos homens que ali
lutavam. Apenas mostrou que se o comandante do exército não tinha medo de ser
atingido, por que os demais teriam? Foi uma atitude corajosa e perigosa, pois ele
poderia ter perecido naquela praia. Mas as circunstâncias, de total premência e risco
para os futuros combates, justificavam a posição dele. Note-se que ele não quebrou
a liderança dos seus comandantes, ao contrário, inspirou-os a prosseguir na missão.
Antes de encerrar esse tópico, não se pode deixar de falar sobre o tenente.
Durante três anos trabalhei diretamente com cadetes na Academia Militar das
Agulhas Negras. Neste tempo, vi o quanto é difícil conscientizar os nossos futuros
oficiais da importância de uma liderança firme.
De todos os postos e graduações, a liderança do tenente que comanda um
pelotão é, talvez, a mais difícil e importante, portanto a que merece maior atenção
por parte dos comandantes mais antigos. Vale a pena lembrar que vários autores
sobre a 2ª Guerra Mundial destacam o papel importante do tenente à frente do seu
pelotão. Muitos dizem que, em determinados momentos, foi uma “guerra entre
pelotões”.
Os atributos naturais do tenente, tais como energia, preparo físico e
juventude, dentre outros, o ajudam nessa tarefa. Contudo, não lhe confere êxito
instantâneo na liderança de pequenas frações.
Além dos predicados naturais supracitados, é preciso que ele tenha um
preparo profissional consistente, adquira no mais curto prazo maturidade e firmeza
de propósitos, além de cultivar o idealismo, a humildade e outros atributos que lhe
permitam compensar a sua maior desvantagem: a inexperiência.
Todos os militares que já comandaram um pelotão sabem o choque que se
sente ao receber o primeiro comando na vida. São homens, mais ou menos
experientes, que passam a depender substancialmente daquele jovem recém-saído
de uma escola. Os olhares se voltam para ele, procurando extrair de início alguma
coisa sobre o novo comandante. Todos os seus aspectos externos passam, então, a
serem avaliados: apresentação individual, voz de comando, maneira de falar,
121
PATTON JR, George S. A Guerra que eu Vi. Rio de Janeiro: Bibliex, 1979. p. 336.
120 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Ψ ΨΨ
122 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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CAPÍTULO 5
Os Recursos Materiais
Equipamentos
“Desde que Vulcano ensinou aos homens a arte de forjar o ferro, até o período moderno, a couraça dominava os
campos de batalha. Estar protegido, ou crer nisto, pelo menos, que tranqüilidade para o indivíduo e, por
conseguinte, que virtude!”
Charles De Gaulle
maiores para ser fundido. Além disso, verificou-se que este metal, para obter a
dureza necessária às armas, deveria ser malhado no calor e temperado com água.
Após esses aperfeiçoamentos tecnológicos no seu trato, este se espalhou pelo
mundo, possibilitando que muitos povos dominassem a arte de fundição e fabricação
de equipamentos.
O ferro abriu horizontes maiores na arte da guerra. Além das armas
individuais, ele passou a ser utilizado na construção de bigas, armaduras, lanças,
pontas de flechas e outros aperfeiçoamentos nas armas e nas fortificações. Deu-se
a vitória dos romanos, protegidos por espadas, elmos, couraças e distribuídos
taticamente no terreno em formações compactas, contra os bárbaros germânicos,
dispersos no terreno, aliando a bravura no seu estado mais puro e ingênuo com
armas rústicas e escudos de madeira.
Posteriormente veio o aço, ao fundir-se o ferro com o manganês. Esta liga,
ainda mais dura, mais resistente à corrosão e mais leve, proporcionou avanço
surpreendente nos equipamentos, notadamente nos navios e viaturas.
Desse ponto, com o domínio tecnológico cada vez mais apurado, chegou-se
às modernas ligas de alumina, carboneto de silício, diboreto de titânio, spectra122,
kvelar, policarbonato acrílico e tantas outras.
Hoje, ligas leves e ultra-resistentes, como as utilizadas nos aviões F-117
americanos, munições de dureza impressionante, como as de titânio e urânio
empobrecido, e blindagens reativas123 são comuns em muitos exércitos.
As munições com estojos consumíveis, o desenvolvimento do canhão
eletromagnético, que proporciona uma velocidade de até 5.000 m/s à munição, o
canhão “Electrothermal” que, ao invés de carga de projeção, utiliza um propelente
não explosivo acionado eletronicamente, as munições “inteligentes”, conhecidas
como MERLIN, são algumas das novidades que já estão ou em breve estarão sendo
testadas nos campos de batalha.
Somente para que se imagine o impacto que toda essa tecnologia vai impor
ao campo de batalha moderno, tomemos como exemplo uma munição para carros
de combate que alcance a velocidade de 5.000m/s. Considerando mil metros como
distância média de engajamento de um carro de combate por outro inimigo; do
122
Tipo de blindagem feita de materiais têxteis altamente resistentes a impactos.
123
Tipo de blindagem feita com blocos de explosivos colocados na parte frontal dos carros de combate. São
particularmente eficazes contra munições cinéticas.
124 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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124
Os EUA desenvolveram um superácido para combate específico para sabotar viaturas sobre rodas inimigas.
Injeta-se o agente no pneu e em vez de rodar 80.000 km, um conjunto de pneus militares começa a desfazer-se
em menos de 80 km. Citado em ALEXANDER, John B. Armas Não-letais. Alternativas para os conflitos do
século XXI. Rio de Janeiro: Welser-Itage: Condor, 2003. p. 104.
125
Manta de prata anticarro. Ao serem lançadas sobre viaturas, impedem que os motoristas enxerguem a estrada.
125 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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126
Tecnologia utilizada em aviões de combate modernos. Alia alta velocidade das aeronaves, elevado teto de
operação, material de grande absorção de ondas de radares e engenharia e arquitetura da aeronave avançada,
marcada por perfil baixo e silhueta discreta. Este conjunto de medidas confundem os radares, dando a impressão
que a aeronave é “invisível” aos radares inimigos. O avião F-117 (EUA) é um exemplo que utiliza este tipo de
tecnologia.
127
Joint Surveillance and Attack Radar System (Sistema conjugado de Radar de Vigilância a Ataque a Alvos).
Trabalha junto com aviões AWACS (Airborne Warning and Control System [Sistema de Aviso e Controle
Aerotransportado]). Este conjunto realiza varreduras no céu (360 graus) em busca de aviões, mísseis e outros
alvos de interesse da tropa envolvida.
128
Minas anticarro. Este tipo de mina destina-se a produzir baixas em veículos sobre rodas e sobre lagartas,
obstruindo estradas e diminuindo a velocidade de deslocamento de comboios.
129
Minas antipessoal. Este tipo de mina destina-se a produzir ferimentos nos membros inferiores de
combatentes.
130
ALEXANDER, Bevin. A Guerra do Futuro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999. p. 53.
126 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Deve-se ter em mente que não será a tecnologia embutida nos armamentos
que irá garantir a vitória. A tecnologia dos armamentos atuais, crescendo de forma
geométrica, não pode ser levada a um plano maior do que aquele que realmente
merece.
O Major - General Lon Maggart, ex-comandante do U.S Army Armor Center,
aborda esse assunto da seguinte forma:
“Our soldiers are the best in the world because our Army takes care of them
from the ground up, with tough, realistic training, opportunities for advancement, skill
and professional development, and quality support for them and their families. Make
no mistake: Operation Desert Storm was not won by high technology or smart
weapons. It was won by tough, smart soldiers, who knew their equipment and fought
with skill and bravery, because they knew the Army would take care of them. Our
soldiers are the bone, the muscle, and the lifeblood of our Army, our country - and it
will never be any other way.”131
131
MAGGART, Lon E. Bulding Victory from the Ground Up. Armor, Fort Knox, EUA: vol CV, nº 5, p.6, set.-
out. 1996. “Nossos soldados são o melhores do mundo porque nosso Exército os leva do chão ao topo, com
treinamento duro, realístico, oportunidades para avançar na carreira, desenvolver habilidades profissionais, e
apoio de qualidade para eles e suas famílias. Não cometa um erro de avaliação: a operação Tempestade de
Deserto não foi ganha por tecnologia avançada ou armas inteligentes. Foi ganho por soldados duros, inteligentes
que conheciam os seus equipamentos e lutaram com habilidade e coragem, porque eles sabiam que o Exército
cuidaria deles. Nossos soldados são o osso, o músculo, e a essência de nosso Exército, do nosso país - e nunca
será de outro modo”. (tradução livre).
132
MAGGART, Lon E. Your Mind is Your Primary Weapon. Armor, Fort Knox, EUA: vol CV, nº 4, p.5, jul-
ago. 1996. “Quanto mais sofisticadas as nossas máquinas se tornam, torna-se mais importante que nós prestemos
atenção em nossa arma principal - as mentes dos soldados que guiam estas máquinas".(tradução livre).
127 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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133
TOFFLER, Alvim. Guerra e Antiguerra: Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1995. p. 92. Para se aprofundar em dados estatísticos e detalhamento de armas e sistemas de armas,
recomenda-se a leitura da op. cit. e ALEXANDER, Bevin. A Guerra do Futuro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999.
128 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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O segundo ponto a ser analisado diz respeito ao natural desgaste que tais
equipamentos sofrem em combate. Sua durabilidade é curta, necessitando de
manutenção complexa e durante tempos regulares. O então secretário da Marinha
Americana, James Webb, em 1987, já abordava o assunto na revista Parede, de 5
de julho:
134
MAGGART, Lon E. Your Mind is Your Primary Weapon. Armor, Fort Knox, EUA: vol CV, nº 4, p.5, jul-
ago. 1996. “É fácil ficar impressionado com tecnologia do carro de combate M1A2 Abrams. Sua arma principal
precisa, sua visão térmica e controle de fogo computadorizados, seu poderoso motor, e sua arquitetura digital é a
melhor no mundo. Mas, sem os quatro tripulantes, que têm o conhecimento, a coragem, e o desejo de encontrar e
destruir o inimigo, todas as qualidades dessa grande máquina de guerra serão desperdiçadas”. (tradução livre).
135
Apud BERENS, Robert J., Fuzis, audácia e capacidade de durar na ação – ainda os fatores decisivos. Military
Review (edição em português), EUA: ECEME/EUA, Vol. LXVIII, nº 2, p. 55-56, mar-abr. 1988.
130 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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136
ALEXANDER, Bevin. A Guerra do Futuro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999. p. 63.
132 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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137
mísseis terra-ar de fabricação soviética
133 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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O primeiro foi um erro tático, já que os sírios não usaram a mobilidade que
tais baterias permitiam. Optaram por mantê-las enterradas no terreno por mais de
um ano. A instrução russa recomendava que as baterias deveriam ser adestradas
para realizarem contínuas mudanças de posição. Mas os sírios acharam que era
desnecessário. A grande gama de aparatos tecnológicos seria suficiente para vencer
Israel, mesmo parado. Quando o ataque começou e as baterias começaram a ser
destruídas, uma a uma, os seus operadores eram incapazes de movimentá-las e
mantê-las atirando. Além do que, Israel já as havia detectado com antecedência.
O segundo erro, este de adestramento, foi a falta de conhecimento do
equipamento no que se refere às emissões de radiação por parte dos controladores
sírios de SAM. Como não estavam adestrados da forma necessária, os sírios
emitiam mais radiações do que o necessário para engajar as aeronaves israelenses.
Tal fato tornou fácil o trabalho de Israel. Não só a localização, mas também a
“assinatura digital” das baterias foram descobertas pelas FDI. Bastou um trabalho de
interferência eletrônica para anular todo o aparato tecnológico da Síria.
Antes mesmo do desastre ocorrido no vale do Bekaa, os sírios já haviam tido
uma lição neste sentido. Contudo, não aprenderam com ela. Em 1967 estavam
equipados com carros de combate modernos e certos de uma vitória contra os
israelenses. Todavia, o resultado foi diferente do esperado. Embora possuíssem
viaturas mais modernas, praticamente todos os seus carros que foram engajados em
combate foram destruídos. A causa deste revés foi a de que acharam que com os
carros novos, não necessitariam de espaldões para protegê-los. Os israelenses, em
atitude ofensiva, puderam engajar facilmente os carros de combate sírios, sem a
proteção adicional de espaldões de areia. Suas tripulações haviam sido mal
adestradas e acreditavam que os novos carros de combate iriam suprir suas
deficiências, inclusive nas instruções básicas de organização do terreno. Na Guerra
do Yom Kippur, em 1973, contra Israel, foram vítimas, mais uma vez, deste mesmo
tipo de armadilha.
A agressividade pessoal e a capacidade combativa individual ou de pequenos
grupos, tendo em vista a posse de equipamentos modernos, também não garantem
vitória. Ainda na guerra do Yom Kippur, pode-se verificar tal assertiva num trecho de
Chaim Herzog, em seu livro “A Guerra do Yom Kippur”, na sua parte conclusiva.
134 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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138
HERZOG, Chaim. A Guerra do Yom Kippur. Rio de Janeiro: Bibliex, 1977. p. 374.
135 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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“The Army will field the best equipment money can buy to win on the
battlefields of the 21 st Century. But at same time, we must understand that
advanced technology alone will not solve all of our problems. I believe that the best
weapon available to the monted force is one that already exists between the ears of
ours soldiers – the brain. A trained and educated mind is the most important weapon
on the battlefield today and will be well into the future.139”(grifo do autor)
139
MAGGART, Lon E. Your Mind is Your Primary Weapon. Armor, Fort Knox, EUA: vol CV, nº 4, p.5, jul-
ago. 1996 “O Exército vai se exercitar com o melhor equipamento que o dinheiro pode comprar para vencer nos
campos de batalha do Século XXI. Mas ao mesmo tempo, nós devemos entender que a tecnologia avançada
sozinha não resolverá todos os nossos problemas. Eu acredito que a melhor arma disponível para equipar um
força é uma que já existe entre as orelhas dos nossos soldados - o cérebro. Uma mente treinada e educada é a
arma mais importante no campo de batalha hoje e no futuro”. (tradução livre).
136 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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profissão militar. Um militar sabe que, ao escolher a profissão das armas, o desgaste
físico e psicológico, o conforto limitado, e a escassez de recursos serão companhias
rotineiras durante sua vida castrense. Porém, é imperioso que a Nação lhes pague
de forma justa. A sua vida atribulada, com exercícios que lhes toma boa parte do
tempo, viagens e outras tarefas que não o permite cumprir um expediente similar às
demais profissões, torna-o dependente de um soldo que atenda suas necessidades
normais.
Em tempo de paz, os soldos, forma pela qual se chama o salário dos
militares, tendem a ser cada vez menores, visto que a sociedade não reconhece a
necessidade do seu trabalho facilmente.
Caso esse exército pertença a um país que sofreu alguma intervenção direta
das Forças Armadas no campo político, o problema se torna mais contundente. É o
caso de diversos países da América Latina, África e Ásia. O poder político civil,
subseqüente ao militar, numa atitude de revanchismo ou de necessidade política
para manter a sua lógica governante de oposição “histórica” aos “governos
ditatoriais”, impõe sacrifícios econômicos aos militares de maneira geral.
Se, por um lado, tal atitude possa ser considerada natural, haja vista as
feridas abertas durante um regime mais duro, por outro, os governantes que assim o
fazem, se esquecem da importante função política e social das Forças Armadas em
tempo de paz. Elas são, dentro do Poder Nacional, uma expressão fundamental que
ancora ou, no mínimo, lastreia diversas decisões de Estado.
Leia-se a transcrição do texto abaixo, referente ao Exército russo, para que se
tenha uma visão prática das conseqüências de uma tropa mal remunerada e com
investimentos escassos com o passar dos anos, às vésperas da 1ª Guerra Mundial.
do país e, por isso, serão ultrapassados pelos acontecimentos, quando forçoso lhes
for tomar decisões de cunho político.
O corpo de oficiais pode ser considerado bom, no seu conjunto. A ampliação
e excelente rendimento de suas escolas de formação, de aperfeiçoamento e de
especialização têm produzido bons resultados. Bem instruídos e profissionalmente
capazes, apegados à tropa e, sobretudo valentes, os oficiais são verdadeiros
condutores de homens. Contudo, o corpo de oficiais não apresenta homogeneidade.
Superada a clássica e universal competição de armas, distingue-se uma rivalidade
de classes entre os oficiais com e sem o curso de estado-maior.
Os oficiais têm origens sociais muito heterogêneas. A posição social do
oficial é das mais modestas. Soldos baixíssimos, péssimas guarnições, desprestígio
público e obrigação de manter uma representação condigna, só tendo compensação
no amor à profissão. Sua situação econômica e a implacável vigilância política
fazem-nos correr sérios riscos de estagnação e conformismo. Muitos deles, por
ambição, amor ao estudo ou reação contra a ignorância, candidatam-se ao Curso de
Estado-Maior. Sendo o número de aprovados muito reduzido, é natural que surja um
grande número de descontentes e frustrados que hostilizam o Quadro de Estado-
Maior.”140 (grifos do autor)
140
Apud MINERVINO, Oacyr Pizzotti. Forças Armadas em tempo de paz: reflexões. A Defesa Nacional, Rio de
Janeiro: Bibliex, nº 760, p. 40 – 41, abr. – jun. 1993.
138 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Mostrou-se, inclusive, militares que, por absoluta falta de dinheiro, foram obrigados a
levar famílias inteiras para bordo de navios ou para morarem dentro das próprias
unidades. Quais serão os reflexos disso para a eficiência das forças armadas russas
no futuro próximo? Quantos anos os russos levarão para conseguir colocar suas
instituições militares num estado de eficiência compatível com os interesses do
Estado? Certamente décadas e gerações de militares serão necessárias.
Quanto menos coesa for a tropa, quanto mais mal paga, menos eficiente ela
será. Além disso, menos estímulo existirá no seu seio para que os seus quadros se
aperfeiçoem.
A falta de salários condizentes, aliada à impossibilidade jurídica de o militar
realizar outros serviços que completem as necessidades econômicas dele e de sua
família, acabam por desvirtuar certas atitudes. Passa a ser normal a esposa possuir
um negócio em seu nome (juridicamente a maioria dos exércitos não autoriza que o
militar gerencie qualquer tipo de negócio), mas que na realidade é “tocado” pelo
próprio militar.
Apenas como curiosidade, quando o futuro presidente do Brasil, Ernesto
Geisel era tenente e Secretário de Obras do governo paraibano, passou por uma
fase difícil, em que os militares eram mal pagos e tinham que recorrer a subterfúgios
para complementar os salários. Aliado a isto, havia a crescente politização dos
quadros militares. No caso de Geisel, a solução foi montar uma sociedade com o
industrial Drault Ernanny, para atuar na área de cimento.141
Este quadro acarreta desgaste ao militar, refletindo na perda pelo interesse
em algumas atividades militares que possam prejudicar o andamento do negócio
fora da caserna (exercícios no campo, por exemplo), além de trazer-lhe problemas
de ordem social, já que pouco tempo passa com a família. Some-se a isso os
problemas intrínsecos, tais como abuso do álcool e outras drogas, problemas
psicológicos (depressão, agressividade, irresponsabilidade) e o aumento da prática
de atos ilícitos por parte do pessoal militar. Alguns países da ex-URSS são exemplos
típicos nesta direção. Parcela expressiva dos seus quadros, segundo a mídia,
encontra-se em situação similar ao descrito acima.
Além do mais, pelas suas qualidades morais e intelectuais, quando ocorre a
desvalorização do militar, uma grande parte de militares extremamente capazes não
141
MORAIS, Fernando. Chatô, o Rei do Brasil. São Paulo: Schwarcz, 1994. p.321.
139 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Ψ ΨΨ
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CAPÍTULO 6
Outros aspectos
Criada a pasta da defesa, uma das principais tarefas do Ministro passou a ser
a de estabelecer novos conceitos estratégicos para o País. Com o entrosamento das
Forças Armadas à estrutura ministerial civil do Governo, não cabe mais a elas
determinar isoladamente, como ocorria no passado, seus objetivos e missões.
Compete ao Ministro da Defesa, com base nas premissas ditadas pelo Presidente da
República, elaborar as diretrizes de alto nível que irão orientar a configuração do
sistema de defesa nacional. Esta tarefa, que se encontra em andamento, deverá
basear-se na avaliação racional dos arranjos vigentes e considerar seu eventual
reequacionamento, à luz dos condicionantes internos e externos que deverão afetar
o País nas próximas décadas.”142
142
Palestra proferida pelo Ministro Geraldo Quintão, em 28 de agosto de 2000, aos alunos do Instituto Rio
Branco, sobre o tema “Defesa, Diplomacia e o Cenário Estratégico Brasileiro”
142 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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143
Uma importante característica da colonização espanhola foi o belicismo exacerbado, oriundo dos séculos de
lutas entre espanhóis e mouros na península Ibérica.
143 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
“Ninguém assegura que seja normal, em qualquer país, quer seja ele
considerado democrático ou socialista, que o exército dirija ou oriente a Nação. Mas
ninguém pode ignorar a utilidade ou mesmo a necessidade desta anormalidade
quando ela for ditada pelos interesses nacionais postos em risco.” ·144
144
FREYRE, Gilberto. Forças Armadas e Outras Forças. Recife: Imprensa Oficial, 1965. Apud HAYES, Robert
Ames. Nação Armada. A Mística Militar Brasileira. Rio de Janeiro: Bibliex,1991. p. 219.
145
Discurso proferido em 1966, quando era governador eleito. Apud HAYES, Robert Ames. Nação Armada. A
Mística Militar Brasileira. Rio de Janeiro: Bibliex,1991. p. 219.
144 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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146
SILVA, Ernani Ayrosa da. Memórias de um Soldado. Rio de Janeiro: Bibliex, 1985. p.164.
145 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
147
Departamento de Ordem Política e Social.
148
Apud MATTOS, Carlos de Meira. Castello Branco e a Revolução. Rio de Janeiro: Bibliex, 1994. p. 180 –
181. Trecho da carta de Castello Branco a Costa e Silva, de 02 de junho de 1965.
146 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
sinceros alegam que isso se impõe, diante da incapacidade das instituições políticas
na resolução dos problemas da Nação.
As Forças Armadas têm capacidade política para empreenderem a solução
dos problemas políticos e administrativos da Nação?
Ou se deseja, na realidade e simplesmente, que elas, num regime de
ditadura, mantenham uma facção no poder e custodiem uma outra facção?149”
(grifos o autor)
149
Idem. p. 189.
150
CONTREIRAS, Hélio. Militares: confissões: Histórias Secretas do Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
p.121. Depoimento do General Antonio Carlos de Andrada Serpa, chefe do Departamento Geral de Pessoal do
Exército no governo Figueiredo.
151
idem. p.78 – 79. Depoimento do Brigadeiro Octávio Moreira Lima, chefe do Departamento de Ensino da
Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR) em 1969 e ministro da Aeronáutica do governo
Sarney.
147 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Segundo Samuel Huntington, em sua obra The Soldier and the Nation,
existem dois tipos de controle civil sobre os militares. O primeiro ele denomina
subjetivo, ou seja, ele acontece quando um grupo civil controla os militares em
proveito do próprio grupo. Isso torna os militares verdadeiras guardas pretorianas
dos interesses de um grupo político civil que não representa, necessariamente, os
interesses nacionais. Obviamente é uma distorção.
A outra denominação é o controle objetivo. Consiste na simples
profissionalização das forças armadas, de forma que ela atenda especificamente aos
interesses da Nação, sendo neutros e politicamente estéreis. Nesse ponto, ele diz “O
corpo de oficiais altamente profissionalizado encontra-se pronto para sustentar as
aspirações de qualquer grupo civil que exerça autoridade legítima no interior do
Estado.”·
O fato é que tentar colocar o papel dos militares em um patamar abaixo do
que realmente ele representa dentro de um país é erro de avaliação e falta de
conhecimento da história.
Os militares sempre ocuparão, dentro da política do Estado, um papel
importante. Quanto mais desenvolvida e amadurecida politicamente for a Nação,
melhor esse papel será compreendido e executado de forma natural, sem colisões.
O controle civil sobre os militares é natural e saudável. Contudo, este controle
deve ser de tal forma que não desvirtue a instituição e nem a coloque em níveis
inferiores ao que realmente lhe cabe. Essa conscientização, principalmente nos
países que saíram de regimes sob tutela militar, é fundamental a fim de que não
propicie intervenções ainda mais contundentes no futuro.
A América Latina vem passando por esse processo com relativa sabedoria.
As tensões estão sendo esvaziadas e os poderes políticos atuais, na medida em que
o tempo passa, vêm equilibrando essas forças. Na África e no Oriente, encontram-se
os maiores problemas nesse sentido. Nações que se encontram na infância
democrática têm tido problemas para redimensionar o papel dos militares no
contexto nacional e de construir instituições sólidas, em harmonia com a cultura
local. As expressões política e econômica, principalmente, não conseguem
responder, no nível necessário, aos anseios populacionais. Grupos políticos civis
brigam pelo poder, dissociando a capacidade de muitos países. Essa disputa interna
irresponsável acaba obrigando ou estimulando militares a tomar o poder a fim de
manter a soberania e evitar confrontos internos sangrentos. Entretanto, muitos
148 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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152
JALALI, Ali A. Reconstituindo o Exército Nacional do Afeganistão. Military Review (edição em português),
EUA: ECEME/EUA, Vol. LXXXIII, nº 3, 3º Trim. 2003. p. 33.
149 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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153
JALALI, Ali A. Reconstituindo o Exército Nacional do Afeganistão. Military Review (edição em português),
EUA: ECEME/EUA, Vol. LXXXIII, nº 3, 3º Trim. 2003. p. 33.
154
Em maio de 2002 as Forças Especiais dos EUA iniciaram cursos de treinamento e adestramento de batalhões
no Afeganistão, numa tentativa de criar um exército nacional coeso. Cada curso dura 10 semanas e forma 600
homens.
150 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
155
O qual teve as análises mais cautelosas sobre o ataque desferido contra o Iraque em 2003. Provavelmente,
tomou esta atitude exatamente por ser militar, ter participado da Guerra do Golfo de 1991 e saber em
profundidade das dificuldades em se combater inimigo altamente motivado pela religião, pelos costumes
muçulmanos e em território conhecido.
151 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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156
LUDWIG, Antonio Carlos Will. Democracia e Ensino Militar. São Paulo: Cortez, 1998. p. 105.
157
idem. p. 108.
152 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
158
idem. p.102 – 103.
153 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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que ele está “louco” e tentam modificar a Constituição para tirá-lo do poder. Onde
está, dentro desse turbilhão de opiniões, a tão propalada isenção militar, dentro de
“uma formação democrática”, segundo escrito no texto em destaque? Em lugar
algum, porque isso não existe da forma em que o autor tenta induzir. O que leva as
forças armadas a intervirem ou não, como já foi dito, não é o fato de ela ter ordem
unida em seu currículo ou não; ou o fato de a Constituição dizer que ela não pode
participar da Defesa Interna.
O que dá certeza a um país de que suas forças armadas irão cumprir sua
missão constitucional são inúmeros fatores, muito mais grandiosos e importantes do
que determinadas modificações no ensino: maturidade política, confiança da
população na capacidade dos políticos em resolver crises, identificação com os
valores nacionais etc.
Na sua obra “Dever Militar e Política Partidária”, o General Estevão Leitão de
Carvalho, trata do assunto de forma magistral. Destaco o seguinte trecho:
159
CARVALHO, Estevão Leitão de. Dever Militar e Política Partidária. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1959.
p.11.
155 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
sociais e mundanas.” Mas de todas essas, a que mais se presta ao nosso estudo é a
sua definição com base na sociologia: “Corpo orgânico estruturado em todos os
níveis da vida social, com base na reunião de indivíduos que vivem sob determinado
sistema econômico de produção, distribuição e consumo, sob um dado regime
político, e obedientes às normas, leis e instituições necessárias à reprodução da
sociedade como um todo; coletividade.”
Como se vê, os militares não são uma sociedade, mas sim um estamento,
intimamente ligado à sociedade como um todo.
No que se refere à expressão “sociedade civil”, o mesmo Aurélio nos
esclarece: “Associação que não tem por finalidade objeto atos de comércio.”
É bem verdade que os militares, por características inerentes à sua profissão,
são regidos por leis e regulamentos específicos. Contudo, isso, por si só, não os
coloca na posição de uma “sociedade”.
Esse esclarecimento se faz necessário na medida em que se verifica em
alguns estudos a classificação dos profissionais militares como “sociedade”.
Não é possível separar militares da Nação. Um não existe sem o outro. Além
disto, é preciso que se entenda que os militares, na maioria dos países, são uma
amostra da sociedade. Mesmo porque, nunca é demais lembrar, que antes de ser
um militar, o homem ou a mulher já eram cidadãos, com seus deveres e direitos
claramente especificados em leis. O fato de ele vestir uma farda, não lhe tira tais
deveres e direitos. Ao contrário, atribui-lhe ainda mais responsabilidades perante o
seu país.
O caso do Brasil é exemplar. Para se entrar nas suas Forças Armadas como
um militar de carreira, os oficiais e sargentos devem, em alguma fase, prestar um
concurso público. Desta forma, garante-se que o acesso à carreira das armas é
universal, independendo de qualquer tipo de discriminação. Sendo assim, o seu
contingente profissional é uma amostra da sociedade brasileira, com suas
qualidades e deficiências.
Não se trata, portanto, de uma casta, de um grupo privilegiado ou de ser
estranho ao tecido social, como tenta conduzir o raciocínio de Ludwig, em seu livro
“Democracia e Ensino Militar”. Diz o autor:
“No caso brasileiro isso é um fato tradicional – que a origem social dos oficiais
encontra-se nos setores privilegiados da sociedade – e os dados apresentados
156 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
Típica falácia. Se a maioria dos oficiais, como está escrito no seu livro161,
pertence a pais divididos em 25% de oficiais, 6% comerciantes, 4% de funcionários
públicos, 2% de advogados e engenheiros, isso só reflete que estes possuem as
qualidades de ensino necessárias para o ingresso –em concurso público – na
AMAN. Além do mais, afirmar que Os setores dominantes têm consciência de que a
força das armas deve estar nas mãos de grupos leais e confiáveis162, equivale a
firmar que o concurso é manipulado para atingir esse fim – coisa que não é!
A negação da importância dos militares em um determinado país,
normalmente, é um contraponto a um período em que eles tiveram papel
preponderante nos negócios do Estado: guerras, revoluções, golpes militares, etc. A
França, após a 1ª Guerra Mundial, é um caso típico. As idéias pacifistas levadas a
pontos extremados e dissociados da realidade da Europa naquele momento e, como
disse o coronel Macedo de Carvalho, na introdução de “Por um Exército Profissional”
de Charles de Gaulle, dominada por uma “psicose antimilitarista” sem precedentes,
acabou ofuscando a realidade e levando a França a uma retumbante derrota no
início da 2ª Guerra Mundial.
O mais interessante nesse episódio foi que a Alemanha, mesmo arrasada
com o término da 1ª Guerra Mundial, tomou um caminho contrário ao francês. Tratou
de organizar suas forças armadas e preparar-se para a guerra que viria anos depois.
Evidentemente diversos fatores contribuíram para isso: cultura germânica, visão
política, sentimento de revanche, necessidade do “espaço vital” e muitas outras. O
fato é que a Alemanha viu que nunca poderia sobreviver como Nação sem um
exército que desse suporte para as decisões políticas mais críticas.
Conclui-se, parcialmente, no que se refere às relações entre militares,
políticos e a sociedade em tempo de paz, que a participação militar no contexto
político de um Estado é fundamental. O grau de equilíbrio entre eles vai depender da
maturidade política do país e da profissionalização das forças armadas.
160
LUDWIG, Antonio Carlos Will. Democracia e Ensino Militar. São Paulo: Cortez, 1998. p. 23.
161
Idem. p. 23.
162
Idem. Ibidem.
157 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
História Militar
“Quando um Chefe do Estado-Maior Imperial escreveu que” nunca teve tempo para estudar em detalhes a
História Militar “foi como se o Presidente da Real Academia de Cirurgiões tivesse dito que nunca tivera tempo
para estudar anatomia ou praticar dissecação”
B.H. Liddell Hart
do Exército dos EUA. Atuou de forma magistral durante a Primeira Guerra Mundial,
comandando um exército nas Forças Expedicionárias Americanas naquela
oportunidade. Foi impulsionador da modernização do ensino no Exército dos EUA e
modificou, com a sua maneira de liderar, paradigmas aceitos até então. Simples,
humilde e compenetrado, sabia tratar seus homens com respeito e sincera
admiração. Não foi um carreirista, ao contrário, sabia da efemeridade da sua
posição. Era um daqueles homens que têm sempre uma pequena lanterna acesa,
procurando ajudar as pessoas a atingir sus objetivos. Não era obstáculo, mas
impulsionador dos seus subordinados.
Apesar de pertencer a um exército estagnado e com enormes problemas, o
estudo diuturno da guerra possibilitou-lhe “se libertar do pequeno e estático exército
de áreas remotas que havia ingressado em 1879163”. Nos seus primeiros 20 anos no
exército, a maior unidade tática existente era um regimento pouco afeito aos
exercícios de campanha, foi capaz de comandar com brilho raro um exército na
Primeira Guerra Mundial. Boa parcela desse sucesso, dizia ele, era graças ao
estudo da História Militar. Como disse Lidell Hart, “Ligget evitou a estagnação devido
ao seu interesse pela leitura”164. Isso tudo sem incorrer no erro de muitos militares,
pois foi capaz de misturar o conhecimento teórico com a prática de campanha,
dando a sinergia necessária para que obtivesse êxito nas batalhas de Chauteau-
Thierry, Mosa-Argona e as alturas de Barricourt, dentre outras.
Sua característica marcante foi a de estudar sempre para o que chamava de
“próximo conflito”. Dizia ele:
“(...) competia a todos os oficiais, seja qual fosse a patente, desenvolver uma
preparação eficaz para o exercício do comando, através de contínuos estudos e
reflexões. Ninguém sabe quão cedo um cidadão pode ser convocado para o serviço
militar em defesa de seu país. Muito pode ser aprendido através de um estudo
inteligente de história militar e ninguém pode acomodar-se achando que está bem-
preparado para as grandes responsabilidades de uma guerra.”165 (grifos do autor)
163
BIGELOW, Michel E. Aprendendo e Fazendo. Military Review (edição em português), EUA: ECEME/EUA,
Vol. LXXIX, nº 1, 1º Trim. 1999. p. 35.
164
Apud BIGELOW, Michel E. Aprendendo e Fazendo. Military Review (edição em português), EUA:
ECEME/EUA, Vol. LXXIX, nº 1, 1º Trim. 1999. p. 33.
165
BIGELOW, Michel E. Aprendendo e Fazendo. Military Review (edição em português), EUA: ECEME/EUA,
Vol. LXXIX, nº 1, 1º Trim. 1999. p. 34.
160 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Cerca de 01:30 hora, enquanto soprava um vento leste gelado, cinco vultos
aproximaram-se de duas sentinelas alemãs, próximo da ponta leste da localidade e
gritaram de uma certa distância: “Alô, 477º Regimento! Alô camarada!” Os alemães
que, em virtude da neve levantada pelo vento, podiam apenas ver até uns 20 metros
de distância, ao chegarem eles a uma distância de 10 metros, gritaram: “Alto!
Avance a senha!” A resposta foi ”Não atire! Somos camaradas alemães“... e
continuaram a avançar. As sentinelas perceberam, nesse momento, um certo
número de homens a cerca de 25 metros atrás dos cinco soldados que se
aproximavam. Uma vez mais, gritaram:” Avance a senha ou atiramos!” Novamente, a
resposta foi ”Não atire, somos camaradas alemães!” Enquanto isso, os 5 russos em
uniforme alemães já estavam a 6 metros de distância e passaram a atirar granadas
de mão que feriram uma das sentinelas alemãs. A outra sentinela disparou seu fuzil
para dar o alarme, mas ao fazê-lo foi abatida pelos russos que imediatamente
avançaram em direção à primeira casa, seguidos pelo grosso da patrulha de
combate.166
166
ESTADOS UNIDOS,Army. Ação das Pequenas Unidades Alemãs na Campanha da Rússia. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1987. p.28.
161 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
167
DE GAULLE, Charles. Por um Exército Profissional. Rio de Janeiro: José Olympio: Bibliex, 1996. p. 135.
168
Embora os alemães tenham vencido na Batalha de Creta, na 2ª GM, as pesadas baixas sofridas pelos pára-
quedistas, levaram alguns generais alemães a acharem que o uso de grandes formações pára-quedistas era um
erro.
162 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
Ψ ΨΨ
163 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
CONCLUSÃO
169
“Quia nominor leo”
Fedro
Ψ ΨΨ
171
DE GAULLE, Charles. Por um Exército Profissional. Rio de Janeiro: José Olympio: Bibliex, 1996. p.138 e
139.
166 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Inconclusiva, na medida em que não há, nem do lado daqueles que explicam
a guerra como fenômeno social, nem daqueles que a condenam como aberração
comportamental, argumentos definitivos e contundentes que esgotem o assunto. A
cada fato histórico, novas indagações são feitas, novos posicionamentos são
tomados e novas argumentações e teorias são postas a prova.
Relativa, visto que varia em função dos valores da pessoa ou do grupo de
pessoas que a estuda e procura responder a essa clássica indagação. Religião,
ideologia política, formação humanística, profissão, época, cultura são algumas das
inúmeras variáveis que influenciam sobremaneira na resposta a nossa indagação.
Tito Lívio, já teorizando sobre o relativismo da guerra, dizia que “A guerra é justa
para aqueles aos quais é necessária e as armas são santas quando nelas
unicamente reside a esperança”172(grifo do autor)
Um exemplo atual desse relativismo foi a reposta dos habitantes dos EUA
diante dos ataques terroristas em 11 de setembro. Expressões como “guerra justa”,
“eixo do mal”, “retaliação proporcional”, “defesa da honra americana”, enfim,
palavras de ordem comuns aos radicais e extremistas mulçumanos surgiram no seio
daquela que se diz a população mais democrática e respeitadora dos direitos
individuais do mundo. Existe maior direito individual para um ser humano do que a
vida? Seres humanos são apenas os americanos? A chamada “guerra justa” não
seria a mesma “guerra santa” dos mulçumanos radicais? Isso tudo só demonstra o
relativismo das posições face ao momento que vivem os envolvidos e à dificuldade
que encerra o assunto.
Ora, se é uma resposta difícil, inconclusiva e relativa, o que se pode fazer?
Continuar estudando a guerra de forma cada vez mais ampla, buscando
mecanismos que a evitem é uma boa maneira para se entender e minimizar o
impacto que a guerra impõe à humanidade.
Além disso, é preciso, como foi visto no desenvolvimento desse livro,
preparar-se para a guerra pari passu com as tentativas de evitá-la, entendendo que
esta preparação é, também, uma forma de se dissuadir povos a entrarem em
conflito. Enquanto não existirem instrumentos ou fatos que afastem os conflitos
bélicos da face da Terra, todos os países têm o dever de preparar-se para ela. Não
se trata de corrida armamentista, idealismo bélico ou qualquer outro termo que
172
Apud MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe: Comentários de Napoleão Bonaparte. Rio de Janeiro: Hemus:
Bibliex 1998. p.215.
167 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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Ψ ΨΨ
168 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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“Um príncipe deve, portanto, ter como único objetivo, único pensamento e
única preocupação a guerra e sua regulamentação e disciplina, pois é a única arte
que compete a quem comanda, detendo tão grande valor que não somente mantém
os que nascem príncipes no poder, como também muitas vezes faz ascender a
esse grau os homens de condição ordinária.” 173( grifo do autor)
177
Apud ALEXANDER, Bevin. A Guerra do Futuro. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999. p. 203.
178
MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe: Comentários de Napoleão Bonaparte. Rio de Janeiro: Hemus:
Bibliex 1998. p. 113. Napoleão comentaria em Elba, sobre esta colocação de Maquiavel: “Que segredo lhes
revela, Maquiavel! Porém eles não te lêem nem lerão jamais!
179
Idem. p. 114. “Desgraçado do estadista que não as lê!“, segundo comentário de Napoleão.
170 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
Protocol 2003RJ 7820
que possa estas evitar e aqueles imitar; e, sobretudo, deve agir como alguns
grandes homens do passado, que tomaram como modelo um homem que antes
deles fora louvado e glorificado...”
Um príncipe sábio deve observar maneiras semelhantes e jamais permanecer
ocioso nos tempos de paz, mas sim fazer destes tempos um capital de que se possa
valer na adversidade, a fim de que quando sua sorte mudar o encontre pronto para
resistir-lhe.”180 (grifos do autor)
Eis é a nossa missão: si vis pacem, para bellum181. Ou alguém ainda duvida?
Ψ ΨΨ
180
Idem. p. 115.
181
“Se queres a paz, prepara-te para a guerra.”
171 Reg EDA Nr 294.483, Lv 534, Fl 143
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