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Rio de Janeiro
2008
Flávio Augusto Pereira Mello
Rio de Janeiro
2008
FLÁVIO AUGUSTO PEREIRA MELLO
Aprovada em ______________
_________________________________________
Prof. Dr. Jorge Soares Marques
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
_________________________________________
Profª Drª Lilia dos Santos Seabra
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
_________________________________________
Prof Dr Marcelo Motta de Freitas
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
DEDICATÓRIA
Aos meus pais postiços “Seu” José Fonseca e Dona Heloisa Helena, pelo
cuidado e compreensão nestes tempos difíceis.
Aos amigos Wladimir e Emiliana, pelos cutucões nas horas certas e incertas.
Assim, foi possível concluir os objetivos previstos nesta dissertação, dentre as quais
a proposta de zoneamento de oportunidades recreativas, a avaliação atualizada do
perfil do visitante e o mapeamento e roteirização de um novo circuito de trilhas.
Destaca-se que face às dificuldades de várias unidades de conservação em
atualizar seus planos de manejo, adequando-os às realidades que se desenvolvem,
este trabalho considera, entre estes e outros aspectos, a possibilidade de
estabelecer como ferramenta de gestão, a utilização da malha de trilhas existentes e
análise do espectro de oportunidades recreativas como vetores de ações de
conservação das massas florestais ou ecossistemas e consequentemente, a
atualização do zoneamento territorial e ambiental.
The Municipal Park in Nova Iguaçu (PNMNI) is an urban park, inserted in the BB-
Gericinó Mendanha, living environment in which approximately one million people. In
this sense some impacts may be perceived as over-use in the zone of intensive use
and that compromise the quality of visitation. To achieve this study, we tried to
enlarge the degree of involvement with the administration, so that the strategies of
exploration and collection of data that could be tested and implemented during the
work.
It was possible to complete the objectives set in this dissertation, among which the
proposed zoning of recreational opportunities, the assessment of the current profile
of visitor and mapping and roteirização of a new circuit of trails. It is that given the
difficulties of various units of conservation in updating their management plans,
adapting them to the realities that are developed, this study considers, among these
and other issues, the possibility of setting as a management tool, the use of existing
network of tracks and analyzes the spectrum of recreational opportunities as vectors
of actions for the conservation of mass or forest ecosystems and hence the update of
zoning and environmental area.
Figuras
Figura 01 Acessos ao Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu............. 22
Figura 02 Hipsometria do PNMNI............................................................... 30
Figura 03 Evolução de proposições para o modelo genético do Vulcão
de Nova Iguaçu/RJ..................................................................... 32
Figura 04 Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI........................... 43
Figura 05 O Turismo Alternativo................................................................. 63
Figura 06 Formação de imagens da Paisagem......................................... 89
Figura 07 Bio-ritmo das destinações de lazer e turísticas......................... 96
Figura 08 Análise sistêmica de Visitação no PNMNI................................ 117
Figura 09 Zoneamento territorial-ambiental: “cunha” da zona de uso
extensivo que se projeta na zona primitiva e áreas.................. 126
Figura 10 Oportunidades recreativas a partir da modificação do meio...... 131
Figura 11 Proposta para a Trilha da Varginha............................................ 153
Figura 12 Circuito de Trilhas proposto........................................................ 156
Figura 13 Proposta para Circular externa................................................... 158
Figura 14 Proposta para Circular interna.................................................... 160
Figura 15 Zoneamento de Oportunidades Recreativas no PNMNI............ 165
Mapas e Gráficos
Mapa 01 Localização geográfica do PNMNI e vias de acesso.............. 24
Gráfico 01 Visitantes por faixa etária – Temporada de Verão.................... 142
Gráfico 02 Visitantes por faixa etária – Temporada de Inverno................. 142
Gráfico 03 Motivação por faixa etária – Temporada de Verão................... 143
Gráfico 04 Motivação por faixa etária – Temporada de Inverno................. 144
Gráfico 05 Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes
no PNMNI........... ...................................................................... 161
Fotografias
Fotografia 01 Formações secundárias no Poço da sede................................ 36
Fotografia 02 Visitantes no Poço do Casarão (PNMNI).................................. 51
Fotografia 03 Rampa de Vôo Livre de Nova Iguaçu........................................ 51
Fotografia 04 Traçado do dique. Local: Poço do Escorrega............................ 55
Fotografia 05 Erosão em marmita. Local: Poço do Casarão............................ 55
Fotografia 06 Panorâmica da Varginha (a “cratera” do vulcão de Nova
Iguaçu-RJ)................................................................................. 125
Fotografia 07 Detalhe da bandeira................................................................... 129
Fotografia 08 Marcação da Trilha com visualização das bandeiras................. 129
Fotografia 09 Erosão e queimadas no Vale do Levi......................................... 138
Fotografia 10 Lixo na Trilha da Varginha.......................................................... 138
Fotografia 11 Voluntários instalando poleiro seco no vale do Levi................... 167
INTRODUÇÃO 17
7.0 Anexos
7.1 01: Site Amigos do Parque (PNMNI) .................................................... 187
7.2 02: Pesquisa “on line”: Fluxo e Dispersão de visitantes........................ 188
7.3 03: Pesquisa “on line”: Perfil e dispersão de operadoras de
ecoturismo no PNMNI............................................................................ 190
7.4 04: Pesquisa de Valoração econômica dos serviços de condução de
visitantes................................................................................................ 192
7.5 05: Proposta de Voluntariado................................................................ 194
7.6 06: Agenda........................................................................................... 195
17
INTRODUÇÃO
1
O qual registra, no artigo 225, que: [...] todos tem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum, do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
18
Cruz (2003) lembra ainda que a apropriação de espaços naturais pelo turismo
implica em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e
hospedagem; e que “em se tratando de unidades de conservação, algumas das
transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito
à abertura de trilhas ou a utilização de pré-existentes, ao longo das quais podem ser
instalados instrumentos de educação ambiental (p. 19)”;
As trilhas, objeto desta dissertação, vão muito mais além, pois ao promover e
facilitar o acesso a atrativos cria e consolida lugares e territorialidades; tanto para
uso direto da visitação quanto para proteção do patrimônio natural. Razão pela qual
o planejamento e manejo adequado das trilhas e seus roteiros possibilitam a
orientação e monitoramento da dispersão de visitantes, se convertendo assim em
importante ferramenta de gestão, fundamental para que unidades de conservação
cumpram o seu papel de conservação e preservação do patrimônio natural, dentro
dos padrões de sustentabilidade, assim como propiciar a apreciação e qualidade da
visitação por seus diferentes usuários.
2
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a população da Baixada Fluminense,
em 2000 era estimada em aproximadamente três milhões de pessoas, destacando que Mesquita possui 182.495
habitantes e Nova Iguaçu 830.672; municípios onde o parque se localiza, totalizando em torno de um milhão de
pessoas em seu entrono imediato.
19
Gerais:
· Oferecer subsídios para os processos de planejamento, implantação e
manejo de trilhas em Unidades de Conservação
· Oferecer subsídios para caracterização e padrão de dispersão de
visitantes em Unidades de Conservação
3
Cuja divulgação é favorecida pela constante exposição na mídia que indiretamente tem induzido o aumento do
fluxo de visitantes.
20
Específicos:
· Mapeamento e seleção de caminhos e trilhas no interior do Parque,
que possam ser utilizados para atividades regulares de lazer na
natureza e ecoturismo, de modo a incorporar administrativamente as
áreas já consolidadas informalmente pelos visitantes.
· Sugerir roteiros de trilhas a ser sinalizado e implantado pela
administração do PNMNI nas zonas de uso intensivo, extensivo e de
relevante interesse4.
· Gerar subsídios para o zoneamento turístico do PNMNI, considerando
o atual zoneamento territorial e ambiental, através da análise
preliminar de acessibilidade e potencialidades turísticas nas áreas com
trilhas roteirizadas no presente trabalho.
4
Zona de relevante interesse para a gestão da UC: é uma área de aproximadamente 59,5 hectares que foi
incorporada ao PNMNI no ato de sua criação. Nela estão localizadas a Guarita de entrada, represa Epaminondas
Ramos e Pedreira desativada São José.
21
1.1.1 Acessos:
Praça do
Kaonze
Estação de
Há uma ligação não oficial Juscelino
e sem pavimentação até
a Estrada da Cachoeira
utilizada pela comunidade
local.
Clube de
Mesquita
NOVA IGUAÇU N
LEGENDA:
Limites:
Município de Mesquita
MESQUITA
7477
658
Mapa 01 Localização geográfica do PNMNI e vias de acesso
Fonte: Modificado de D08 – Localização Geopolítica e Vias de Acesso, em Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –
SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, 2001.
Adaptado por Flávio A. P. Mello, 2007.
25
UC, por sua caracterização como não residentes, identificadas através de cadastro
social realizado através da Secretaria de Ação Social do município.
1.3.1 Clima
Embora esse critério, por seu caráter sazonal, não caracterize completamente
as condições ambientais do local ele fornece indicações bastante aproximadas dos
aspectos climáticos e a influência de fatores locais nas encostas dos maciços, como
o avanço da ocupação urbana e o descontrolado processo de desmatamento, tem
ocasionado variações sensíveis nas condições climáticas ambientais (micro-clima da
região), como é percebido na vertente iguaçuana do maciço.
1.3.2 Geomorfologia
Este maciço está integrado nas bacias dos rios Sarapuí e Guandu-Mirim que
drenam para as macrobacias da Baía de Guanabara e da Baía de Sepetiba,
ocorrendo dois tipos de drenagem: retangular e pinada. O padrão retangular é
conseqüência da influência exercida por falhas, pelo sistema de juntas ou fraturas,
constituindo numa variedade de drenagem treliça, como os rios Cabuçu, Guandu do
Sapê e alguns afluentes da margem direita do rio Mesquita. O tipo pinada está
relacionado aos gnaisses do embasamento que contornam o maciço e às rochas
alcalinas, mostrando uma forma paralela como os afluentes do rio Guandu do Sena
(Costa op. cit.). A figura 02 apresenta as altitudes e unidades de relevo da região do
Parque.
30
Cabe destacar que, a hipótese do Vulcão de Nova Iguaçu, tida como uma
referência por vários operadores informais de turismo, e também adotada por várias
atividades sociais e de educação ambiental realizadas por várias instituições, não
possuem sustentação em artigos científicos devidamente revisados, sendo
caracterizado mais como uma “lenda urbana”. As pesquisas geológicas
recentemente publicadas em periódicos científicos qualificados revelaram a
inexistência do cone vulcânico, cratera vulcânica, derrames de lava, fluxos
piroclásticos e bombas vulcânicas.
Figura 03: Evolução de proposições para o modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu/RJ
Fonte: Motoki, A., Soares, R., Netto, A.M., Sichel, S.E., Aires, J.R., Lobato, M. 2007. Reavaliação do
modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu, RJ: origem eruptiva ou intrusão subvulcânica? Revista
Escola de Minas, Ouro Preto, v. 60-3.
33
1.3.3 Biodiversidade
1.3.3.1 Flora
5
SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Plano de Manejo do Parque
Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –2001 pag 32
34
1.3.3.2 Fauna
6
SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Plano de Manejo do Parque
Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –2001 pag 36
39
7
“Conheça melhor a Mata Atlântica” Fonte: MMA/ASCOM e Wellton Máximo, Repórter da Agência Brasil.
Capturado em 12/02/2007. http://www.ecolnews.com.br/lei_da_mata_atlantica.htm
8
Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Anexo aos padrões de certificação
florestal (Ministério do Meio Ambiente - maio de 2003).
40
9
Dados não publicados do autor Jorge Antônio Lourenço Pontes - pontesjal@hotmail.com
42
Zona Uso extensivo 380,3 38,3 Vide mapa do zoneamento (Figura 04)
Deve-se observar com especial atenção as áreas das zonas de uso especial
e intensivo, que somam aproximadamente 4,7 % da área do PNMNI e recebem
atualmente quase a totalidade da visitação; ao passo que a zona de uso extensivo,
com área em torno de 38,3% extremamente sub-utilizada. Na figura 04, são
evidenciadas as zonas criadas e sua localização no PNMNI:
43
Legenda
Zona de Uso Especial
Zona de Recuperação
Zona de Uso intensivo
Zona de Uso extensivo
Zona primitiva
Zona Intangível
MESQUITA
A trilha prevista para ligar a Trilha do Pau Pereira à Pedra do Quilombo (da
Contenda) não foi projetada ou implantada, havendo apenas a referencia de
“planejada”. As referências às trilhas do Mendanha e outras que poderiam conduzir
ao Parque do Mendanha e Gericinó, assim como a outras localidades da APA do
Gericinó-Mendanha, são caminhos já existentes e não foram considerados nesta
dissertação em função de sua localização, próxima e mesmo dentro das zonas
primitiva e intangível; cujo estímulo ao fluxo de visitantes seria ilegal, conforme o
zoneamento territorial e ambiental vigente, e nocivo à proteção destas áreas nobres,
devendo ser mantidas como trilhas de trabalho (fiscalização e pesquisa).
51
Fotografia 02: Visitantes no Poço do Casarão Fotografia 03: Rampa de Vôo Livre de Nova Iguaçu
Flávio A. P. Mello : fev./2008. Fonte: Guia 4 Ventos Brasil
10
Contagem da População 2007, Resultados preliminares: Nova Iguaçu: 844.583 habitantes. Mesquita: 185.552
habitantes. Fonte: IBGE - Censo Demográfico
11
Bouldering ou escalada em bloco de pedra ou falésias. Atinge os mais altos graus de dificuldade técnica entre
todas as formas de escalada, geralmente realizado em rochas de até cinco metros de altura e sem o uso de
cordas. Fonte: http://ibahia.globo.com/irado/corpo_materia.asp?modulo=33&codigo=19892&tit=esporte
53
12
“Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu”. Elaborado pela equipe do LAB LET –
Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
54
qualificados de modo geral; os quais têm se estabelecido com mais vigor na zona de
uso extensivo, notadamente na Pedreira Desativada São José e na região
conhecida como Pedra do Quilombo (ou da Contenda), operando quase que
exclusivamente atividades de rapel, sendo que nesta última não há participação
efetiva do PNMNI na gestão deste espaço.
13
Segundo a classificação da UNESCO (2005): “Geoparque é uma unidade de conservação, em que há
preservação e gestão científica do patrimônio geológico integrado à conservação da fauna e da flora”. Fonte:
Projeto Geoparques - Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2004)
57
Para Dumazedier (1979:171), "o espaço de lazer será cada vez mais
necessário para o equilíbrio humano de cidades cada vez maiores, constituídas por
uma população cada vez mais rica, cada vez mais instruída, e que trabalha cada vez
menos". Boullón (2004) considera o lazer, além de direito do cidadão, tanto um meio
para este encontrar a liberdade e a criatividade, quanto um recurso para a formação
permanente da pessoa e ainda um veículo para estimular o desenvolvimento social e
cultural. Malta (2008:67) entende por sua vez que o conceito de lazer transcende o
de tempo disponível, porque agrega o elemento atividade a ser exercida, ou seja, o
lazer utiliza a fração de tempo livre destinada a descansar o corpo e o espírito de
modo ativo.
Assim, frente aos excessos da vida moderna, várias estratégias de lazer são
engendradas, dentre as quais se destaca o “Nadismo” cujo objetivo é o de
proporcionar a experiência de parar e dedicar-se totalmente ao ócio. O movimento
foi criado pelo designer Marboh (Marcelo Bohrer) em Londres, em 2005, visando
58
Fontes de Própria, adquirida com outras pessoas, pela mídia ou fortuita. De forma geral, a
informação mídia é quem mais influencia na participação em atividades recreativas;
Quadro 02: Fatores que influenciam na participação dos visitantes em atividades recreativas
Fonte: Malta, R. (2008:72). Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.
59
Benefícios de São percebidos pelos usuários que ficam satisfeitos em saber que os
preservação recursos naturais estão sendo preservados e que existem oportunidades de
recreação. Estes benefícios se relacionam basicamente com a conservação
da diversidade e da qualidade ambiental, a proteção de características
cênicas, a conservação de áreas naturais e preservação de áreas para
pesquisas científicas;
Quadro 03: Tipos de benefícios gerados mediante a participação dos visitantes em atividades
recreativas em áreas naturais.
Fonte: Malta, R. (2008:73). Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.
Ultimamente uma nova e mais ampla visão vem sendo construída, que vai além do
valor ambiental intrínseco que as áreas protegidas possuem, ou seja, além da
beleza estética (contemplação). Elas estão sendo encaradas também como fonte de
oportunidades de renda e trabalho para as comunidades que vivem em seu interior
e/ou entorno; como fonte de desenvolvimento social para jovens, fonte de saúde
pública e também como um poderoso agente gerador de capital social (Costa et al.
2008:115).
caminhar é apenas uma maneira lenta e ineficiente de nos aproximar daquilo que os
olhos já viram. O pé é escravo do olho, o que faz com que o caminhar torne-se
chato, uma mera questão de cobrir distâncias. Quando podemos manter a tensão
entre o pé e olho, embarcamos numa abordagem circular e indireta. O pé leva o
olho, o olho instrui o pé, alternadamente. O caminhar assume o movimento da alma,
por que, como disse o grande filósofo Plotino, o movimento da alma não é direto.
O autor prossegue afirmando que qualquer trilha fácil, cênica e que traga
satisfação ao visitante além de se prestar ao lazer, indica que caminhar por trilhas é
uma aventura essencial para o ser humano, pois oferece “a incerteza do desfecho, a
excitação de novas descobertas e a magia de revelar em si novas habilidades e
forças de cuja existência ele não suspeitava” e autor destaca ainda que psicólogos
apontam que esta busca por aventura – distante da aventura inconseqüente e sem
sentido – está ligada a um nível de risco calculado, consciente, que permite uma
resposta cerebral de satisfação e ampliação da percepção.
2.1.3 Ecoturismo
O turismo tem sido abordado por vários autores sob diferentes aspectos,
incluindo deste as questões sociais e econômicas quanto as ambientais. Para Garcia
(2007: 113):
Pires (2002), por sua vez, considera que o turismo na natureza pode ser
dividido em dois grandes grupos, sendo um deles composto pelo ecoturismo e o
outro composto pelo turismo de aventura. Fennell (2002:46), entretanto, refere à
ambigüidade de separar o turismo na natureza (a viagem para apreciar as áreas
naturais não desenvolvidas ou a vida selvagem) das outras formas de turismo, visto
que todos dependem e utilizam os recursos naturais, e nem todos são compatíveis
com o meio ambiente:
14
Trekking têm sido um termo genérico, utilizado principalmente pelas operadoras de turismo de aventura e
ecoturismo para designar os deslocamentos em trilhas, as quais são o atrativo ou parte da atividade principal.
65
2.1.4 Geoturismo
Existem trekkings curtos e longos. O termo hiking, comumente utilizados na América, refere-se a caminhadas
longas. Contudo, o termo trekker se generalizou como sinônimo de quem utiliza trilhas por lazer ou esporte.
66
geológico, bem como possibilitar sua conservação. Tal atividade utiliza feições
geológicas como atrativo turístico, divulgando a geodiversidade da região turística,
sendo útil, portanto, para promover a associação com as atividades de
ecoturismo, unindo, assim, a bio e a geodiversidade.
Cabe destacar que, de modo geral, os sistemas não isolados são mais
comuns e mantém relações com os demais sistemas do universo no qual funcionam,
podendo ser classificados em abertos quando há constante troca de energia e
matéria (recebendo e perdendo) ou fechados quando há permuta de energia
(recebem e perdem), mas não de matéria, a qual tende a se manter constante.
Estes conceitos são importantes para a compreensão das trilhas não só como
um fenômeno geográfico (uma alteração morfológica na paisagem, indutora de
territorializações e lugares), mas, principalmente, como um fenômeno dinâmico, que
pode ser identificado como um subsistema dentro de um sistema maior (UC) e sobre
o qual é necessário avaliar suas relações com os demais subsistemas, como por
exemplo o subsistema formado pelos usuários e o subsistema formado pela flora e
fauna local, assim como seus efeitos internos sobre os demais e consequentemente
ao sistema do parque como um todo.
72
15
O equilíbrio é uma relação (um processo) que se estabelece entre os componentes de um sistema, dentro de
uma escala percebida ou determinada (Aurélio, Dicionário Eletrônico Século XXI).
73
16
A termodinâmica é o paradigma da teoria fenomenológica que não se atém somente em descrever fenômenos
de calor, mas propriedades mais gerais que servem de base para a compreensão do comportamento sistêmico
do meio ambiente. Mota (2006) refere que a Primeira Lei da Termodinâmica, ou lei da conservação, compreende
a relação entre calor e trabalho, afirmando que a matéria e energia não podem ser criadas ou destruídas, mas
somente transformadas. Toda forma de energia precisa de trabalho para a sua transformação.
17
A energia disponível ou livre de um sistema é aquela que pode ser transformada em trabalho. A energia
latente de um sistema é a que é tornada inútil para realizar trabalho.
77
18
Entropia também pode ser interpretada como a medida de utilização de massa e energia em um sistema, onde
a entropia mínima caracteriza energia/massa disponível e máxima onde toda a energia/massa esta
comprometida.
78
Garcia (op. cit. 2007:123) reforça ainda que a especialização de lugares para
experienciar atividades distintas, tais como: se desligar e perder os vínculos
com a rotina através do deslocamento, adquirir novo ânimo para atividades
cotidianas, desfrutar de ambiente diferenciado em contanto com o meio natural, ou
mesmo divertir-se junto a familiares e amigos; enfim, são motivações que irão
reivindicar áreas e equipamentos específicos atrelados aos hábitos cotidianos
incorporados pela sociedade. Portanto o planejamento do espaço turístico19 é
condição para a territorialização das atividades previstas.
19
Podemos ampliar como espaço de lazer, visto que o turismo e suas vertentes podem ser interpretadas como
uma manifestação de lazer. Nota do autor
83
Conti e Cruz (apud Costa 2006 p. 19) concordam que o turismo participa em
suas múltiplas manifestações da produção do espaço geográfico introduzindo
objetos definidos e/ou aproveitando os recursos pré-existentes, viabilizando práticas
e implicando na reorganização espacial em função de uma nova demanda.
Destacam ainda que a diferenciação das condições geográficas de um determinado
local pode se constituir em um forte atrativo, tendo a geomorfologia um papel
importante na geração de fluxos ecoturísticos.
Costa (op. cit: 35) complementa que no ecoturismo, os atrativos que oferecem
ao visitante maior experiência e vivência da natureza são as trilhas, mas que exigem
uma infra-estrutura de manejo apropriada à demanda de seus usuários,
principalmente quando em áreas de elevado potencial. Guardando as devidas
proporções, no ecoturismo as atividades e espaços configuram a imagem como um
valor fundamental, seja através da vivência da paisagem que transporta satisfações
e sentimentos, seja através da documentação fotográfica.
Neste aspecto, cabe referir que a fotografia, por exemplo, cria referências e
significados nem sempre condizentes com a realidade que de fato existe e sob a
qual a vida se manifesta muito além da percepção do turista e de seu operador.
84
“Planejar um destino turístico significa estruturá-lo para que a atividade possa gerar
empregos, renda, consumo e, conseqüentemente, aumentar a qualidade de vida do
85
município. A cidade é boa para o turismo quando é boa para quem nela vive. O
planejamento turístico prevê o controle e organização dos impactos positivos
gerados pela indústria turística. O conceito de sustentabilidade deverá nortear o
planejamento de um núcleo receptor, pois integra e valoriza e preserva seu
patrimônio histórico, natural, cultural e social. Dividindo-se em oito etapas:
Inventário; Análises tendenciais; Definição de objetivos; Criação de estratégias;
Seleção de vocação; Estratégias para atingir os objetivos vocacionais;
Implementação do plano estratégico e Avaliação” (BOITEUX; WERNER, 2003:20)
onde o procedimento correto não é impor a cada atrativo natural o uso que se
considera mais conveniente de acordo com critérios desenvolvimentistas; deve-se
antes (uma vez estabelecidas as necessidades de crescimento do setor em relação
à incorporação de novos atrativos naturais ou à expansão do empreendimento
turístico dos que estão sendo explorados) identificar quais se prestam melhor a cada
tipo de uso. Outra possibilidade é partir de cada atrativo e determinar o tipo de
desenvolvimento que admite. Boullón (2002:226)
20
Wilderness: natureza selvagem
21
Segundo Diegues (1988), a preservação é o ato de preservar a natureza, sem a presença do homem, de forma
a manter um espaço natural, separado do espaço ocupado pelo homem.
87
Lobo & Moretti (op.cit) destacam que para o ecoturista habitual – aquele que
viaja para as mais diferentes áreas naturais buscando uma experiência mais direta
no contato com a natureza – a artificialização pode ser um problema, dado que as
facilidades desestimulam este tipo de turista a fazer suas viagens, mas para os
ecoturistas eventuais, facilidades são necessárias como suporte à vivência de
experiências, mesmo tênues junto à natureza, onde a sensação plena de segurança
e o conforto estão em primeiro plano.
“O lugar, como categoria filosófica, não trata de uma construção objetiva, mas algo
que só existe do ponto de vista do sujeito que o experiencia”...... “Assim, o lugar é o
referencial da experiência vivida, pleno de significado; enquanto o espaço global é
algo distante, de que se tem notícia, correspondendo a uma abstração”.
Opinião compartilhada por Pinheiro (op. cit. 2004) que refere o Turismo como
uma das atividades a se beneficiar de paisagens (seu maior produto) que são
percebidas e os sonhos construídos antes mesmo da viagem. Assim sendo, quando
a oferta turística como conjunto de atrativos, bens e serviços disponibilizados ao
visitante existe para atender necessidades em suas viagens, torna-se clara então a
importância na compreensão sobre as imagens do que se estará ofertando. Nogué
90
22
Existem várias interpretações de capacidade de carga ou de suporte, mas todos remetem o conceito de
referência de limiar para determinado parâmetro onde ultrapassado se pervertem as características originais ou
desejáveis.
92
representado na Figura 07, onde o ciclo 01 é o previsto e o ciclo 02, o ocorrido. Este,
por sua vez, é aquele em que as oportunidades são percebidas com pouco ou
nenhum diagnóstico, cuja exploração é iniciada sem os cuidados necessários para a
devida consolidação, situação que recorre em muitas unidades de conservação,
onde não se percebe o planejamento estratégico da gestão da visitação e recursos
paisagísticos.
Costa (2006:4) refere que “as trilhas são os únicos meios de acesso às
Unidades de Conservação e que elas oferecem oportunidade do contato efetivo com
a natureza ...” Cole, et al. (apud Passold, 2002) refere que em áreas naturais
protegidas, as trilhas promovem o acesso e oportunidades recreacionistas e ainda
protegem os recursos e atrativos ao definir as áreas de acesso e uso. Contudo, em
todas estas atividades a ação antrópica altera o espaço natural modificando. Sendo
a atividade turística valorizada como consumidora de espaços, a lógica de produzir e
consumir representa um problema a ser administrado, principalmente quando se
trata de atividades ecoturísticas que por definição, pretendem a sustentabilidade
para a manutenção dos lugares como fonte de trabalho e recursos.
Costa (op. cit., p. 46), indica que uma trilha pode ter várias funções sendo
principal a de deslocamento. Coloca ainda que bem planejadas, possibilitam
mudanças de valores, principal alicerce da educação ambiental. Destaca também
que as trilhas podem ser de diferentes tipos, podendo ser classificadas quanto à
função, forma, grau de dificuldade e declividade do terreno. Ressalta também que
muitas trilhas e caminhos hoje utilizados para o ecoturismo; foram tradicionalmente
utilizadas por determinadas comunidades, para se locomoverem. Atualmente as
99
No caso das trilhas, Lechner (2004) ressalta que muitos impactos podem ser
reduzidos e alguns eliminados com o conhecimento dos processos que atuam na
área de implantação e manejo. De fato, alguns impactos sempre vão existir, desde a
implantação que se caracteriza como tal, até as alterações mais sutis, decorrentes
do uso das trilhas e da reacomodação da biota e do solo como resposta à alteração
introduzida. Embora não seja objeto deste trabalho o aprofundamento nas múltiplas
100
“corredor turístico de estada” pode ser adaptado para a trilha que se constitui de um
atrativo em si, proporcionando a oferta de diferentes serviços e produtos em sua
extensão.
mata, tal mudança pode ser evidenciada por um aumento da penetração da luz solar
e maior incidência de ventos.
Paciência & Prado (Op. cit) referem não haver padrões claros quanto à
penetração das alterações micro-climáticas das bordas que podem ser percebidas
no interior dos fragmentos, citando diversos estudos que demonstram a distância de
penetração destas alterações que podem chegar de 10 a 40m. Estes efeitos são
percebidos de maneiras diferentes pelos vários extratos, observando-se próximo à
borda, um incremento da mortalidade das espécies arbóreas florestais de grande
porte, ao mesmo tempo, verifica-se que há um aumento das espécies pioneiras e
tolerantes às condições climáticas do ambiente alterado.
A revisão de Magro & Talora (2006) confirmaram que as áreas sujeitas ao uso
recreacional eventualmente mostram sinais de deterioração dos seus recursos e
implicam ainda a redução da biomassa das plantas e a cobertura do solo; a
diminuição na densidade de ervas, arbustos e plântulas e a substituição de espécies
menos tolerantes por aquelas mais tolerantes ao impacto do pisoteio; e mudanças
associadas ao solo que são freqüentemente menos óbvias, mas não menos
importantes, uma vez que ao longo do tempo eles podem conduzir a um declínio no
vigor das plantas e a uma redução na biomassa da fauna do solo.
23
Parênteses do autor
108
O valor econômico dos recursos ambientais (VERA), por sua vez, pode ser
interpretado como valor de uso (VU) e valor de não-uso (VNU). Os Valores de uso
podem ser desagregados em:
109
· Restrita ao leito
· Incluindo o efeito de borda (corredor e áreas mais profundas conforme
referido por Paciência & Prado (op.cit.)25
· Incluindo o leito, o efeito de borda e a fragmentação induzida pelos
recortes promovidos pela implantação dos circuitos de trilhas;
interferindo assim na dinâmica regional como um todo.
26
SN: Modalidade de pesquisa qualitativa que se caracteriza por partir da ação sem nenhuma assunção teórica,
pela participação do investigador na situação e o uso da metodologia etnográfica como método de recoleção de
dados. A expressão foi acunhada por K. Lewin (1890-1947), que assinala três traços típicos: participação,
impulso democrático e contribuição à mudança social. Fonte: Tesauro na Filosofia da Educação
114
27
Este controle têm por base a administração, podendo ser via funcionários da guarita, por exemplo.
117
a
c
28
Sub-Sistemas: (A) Visitantes e não visitantes autorizados. (B) Visitantes e não visitantes não autorizados e
invasores. (C) Visitantes identificados. (D) Visitantes identificados em áreas permitidas. (E) Visitantes
identificados e não identificados em áreas proibidas.
119
Com exceção das comunidades de vôo livre, foram enviadas mensagens para
as seis comunidades que possuem atividades de visitas ao PNMNI, notadamente a
região da rampa de vôo livre e Pedra da Contenda. Com chamada em 07/09/2007,
decorridos 120 dias, houve poucas manifestações. Credita-se a esta situação o fato
de que as comunidades encontradas no site de relacionamentos “Orkut”, embora
possam ter listados numerosos membros, muitos fazem parte de várias
comunidades similares e pela datação e volume das mensagens trocadas,
percebeu-se que provavelmente o acesso a estas comunidades parecem não ser
constante. Deste modo, confirma-se a pouca eficiência deste veículo para
mobilização em causas não tão importantes e relevantes para todos.
29
Conforme informação de funcionários da portaria.
122
30
Coloca-se a expressão “cunha” por que a Estrada da Cachoeira ao atingir as Ruínas do Clube Dom Felipe,
quase que literalmente divide a Zona primitiva em duas, evidenciado o fenômeno de Fragmentação florestal já
comentado neste trabalho.
125
Legenda
Zona preferencial
para “Trekkers”
01 Complexo do Vulcão:
01 Pedra da Contenda -
Varginha - Vale do Levi
02 Acesso è Rampa de
Vôo Livre: Estrada do
02 Tatu-Gamela
03 Vale do Mata-Fome
“Cunha” da Estrada
03 da Cachoeira
Figura 09: Zoneamento territorial-ambiental destacando a fragmentação induzida pela zona de uso extensivo (como uma “Cunha”) que se projeta na zona primitiva e áreas com
potencial para uso de trekkers
Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida –
SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67.
Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.
127
Para a seleção do caminho mais adequado ao uso como trilha turística, foram
estabelecidos alguns critérios para a seleção do mesmo e depois ser procedido o
registro com o uso do GPS. Na avaliação visual, foi identificado que muitas das
“trilhas” dos bois coalescem em trilhas mais regulares, que por sua vez tendem a
manter por grandes extensões, gradientes em torno de 5 a 15% (positivas e
negativas). Na prática, os bois, diferentemente de muitos usuários de unidades de
conservação, não gostam de atalhos e tendem a obedecer as curvas de nível em
seu deslocamento. Muitos caminhos, de fato, se entrecruzam e muitas vezes
terminam abruptamente. Assim, optou-se então pela seleção prévia de pontos de
referencia chaves e em seguida a avaliação das melhores opções de caminhos,
buscando identificar os segmentos que fossem mais regulares, mantivessem em sua
extensão declividades não superior a 15% e ainda, que fosse possível interligá-los
sem grandes obras de construção ou manutenção.
Fotografia 07: Detalhe da bandeira Fotografia 08: Marcação da Trilha com visualização das bandeiras
Localização e seleção de trilhas com sinalização alternativa
Flávio A. P. Mello (2007). Local: Vale do Levi / PNMNI.
Aplicação
Área Descrição
Operação Imediata Subsídio
Visitantes Perfil do visitante
Padrão de dispersão
Ordenamento Trilhas e atrativos selecionados
da malha de Roteiros sugeridos
trilhas Valoração econômica dos serviços de condução
Zoneamento Alteração do zoneamento territorial ambiental
Zoneamento de oportunidades de lazer
Ordenamento das ambiências da Zona de uso
intensivo (até o Casarão)
Apoio à Site
Gestão Voluntariado Projetos
Mutirões
Temporada de Verão
Temporada de Inverno (de montanhismo)
Pesquisa permanente de perfil e dispersão
Observações:
A coluna Aplicação diz respeito ao grau de interação com a administração do parque, onde “em operação”
relaciona os produtos e sugestões já em andamento; “imediata”, item disponível para aplicação e “subsídio”
refere informação que pode auxiliar na compreensão do assunto em questão.
O subitem “Gestão” relaciona duas condições: “imediata” onde a UC pode aplicar já ao tomar conhecimento mais
detalhado. A condição “subsídio” alerta que a informação deve ser utilizada para estudos complementares ou
aprofundamentos da temática.
Quadro 08: Produtos gerados na dissertação
Flávio A P Mello 2008
Zona de Uso Extensivo 394,1 38,3 Envolve as áreas mais antropisadas, principalmente
com capoeiras e pastagens degradadas. Estende-
se do Casarão ao Clube Dom Felipe e ocupa os
vales do Levi e Varginha.
Áreas degradadas com solos expostos localizadas
Zona de Recuperação 21,2 2,0 nas zonas de uso Intensivo e Extensivo. Oriundas
de antigos sítios antes da formação do PNMNI
Zona Primitiva 384,1 37,3 Área com alto grau de conservação, envolve a Zona
Intangível. A área de uso extensivo se projeta
fortemente fragmentando esta massa florestal em
duas partes.
Zona Intangível 182,8 17,7 Matas preservadas de cotas mais elevadas. É um
núcleo envolvido pela Zona primitiva
Total de área de
566,9 52,0
visitação controlada
Fotografia 09: Erosão e queimadas no Vale do Levi Fotografia 10: Lixo na Trilha da Varginha
Flávio A. P. Mello. 09/2007 Flávio A. P. Mello.09/2007
atalho que dá acesso à cachoeira Véu da Noiva em sua porção superior (a “Janela
do Céu’) e poço da Natureza, a aproximadamente 800 metros após Casarão.
No caso do PNMNI, sendo uma unidade relativamente nova e por não ter
concluído diversos aspectos do plano de manejo, a massificação do eixo dos poços
da Estrada da Cachoeira entre a Represa e o Casarão, acabou sendo estimulada
indiretamente pela falta de investimentos, visto que ao se analisar o entorno, o
140
O objeto de estudo deste trabalho são as trilhas e como elas podem colaborar
para o estabelecimento de um novo zoneamento de lazer e turístico, de modo a
interferir em diversos aspectos da visitação, como sazonalidade, motivação e
alteração do perfil médio do visitante. Neste sentido as observações de campo
caracterizaram, em um primeiro momento, os subgrupos atuantes no PNMNI nos
aspectos referidos. Contudo, através da realização de questionários, se buscou
confirmar estas observações e informações complementares.
Segundo dados cedidos pelo PNMNI, nas duas temporadas (de Verão –
dezembro de 2007 a fevereiro de 2008 e de Inverno – maio a julho de 2008) o
Parque recebeu aproximadamente 18.393 visitantes, com 12.563 no verão e 5.830
no inverno aproximadamente. Deste volume, foi definida uma massa amostral de
1%. Deste trabalho, embora nem todas as suas correlações tenham sido exploradas,
pode-se destacar os resultados onde foram caracterizados 05 grupos distintos de
visitantes quanto à ocupação do espaço e sazonalidade.
Pr/Ver Out/Inv
Grupo Motivação Local de concentração (T° >) (T° <)
Jovens, universitários e Lazer e ecoturismo: “Vulcão” de Nova Iguaçu,
adultos, principalmente de cons. de paisagens e Pedra da Contenda.
Nova Iguaçu dos mirantes e Caminhadas à rampa de
práticas desportivas: Vôo Livre
rapel e escalada
Famílias e adolescentes Lazer: banhistas e Vários poços, pequenas
do entorno, moradores de caminhada/passeio cachoeiras e
Mesquita e Nova Iguaçu represamentos do rio
Dona Eugênia
Principalmente adultos do Prática desportiva: Rampa de Vôo Livre, cujo
Rio de Janeiro Vôo Livre acesso se dá pela estrada
do Tatu-Gamela.
Instituições de Mesquita, Diferentes atividades Eixo da Estrada da
Nilópolis, Nova Iguaçu de complementação Cachoeira até o Casarão.
(Educadores dos 3 níveis) pedagógica Algumas atividades até o
(interpretação e EA). Clube Dom Felipe
UERJ, UFRRJ, UFRuRJ, Pesquisadores e Represa Epaminondas
ESTÁCIO, UNIG... acadêmicos com Ramos, Eixo da Estrada
produção de trabalhos da Cachoeira até o
escolares, Casarão, e algumas
monografias, atividades até o Clube
dissertações, etc. Dom Felipe
Pr./Ver. (T° >): Primavera / Verão (Temperaturas maiores)
Out./Inv. (T° <): Outubro /Inverno (Temperaturas menores)
Quadro 13: Visitantes, motivação, espaço e sazonalidade
Fonte. Mello, Flávio A. P. 2007
Prat. Acadêmicas
6 (> 60)
Cer. Religiosas
05 (45-60) Trilhas
Caminhada
04 (35-44) Banho
03 (25-34)
02 (15-24)
01 (<14)
0 2 4 6 8 10 12
Prat. Acadêmicas
6 (> 60)
Cer. Religiosas
05 (45-60) Trilhas
Caminhada
04 (35-44) Banho
03 (25-34)
02 (15-24)
01 (<14)
0 2 4 6 8 10 12
4.3.1 Reordenamento das ambiências nas zonas de Uso Especial, Intensivo e área
de relevante interesse do PNMNI
Para tanto, foi sugerido para este espaço de lazer, o nome de “Circuito das
águas”, como subsídio ao manejo diferenciado deste, e ainda, futuras propostas e
iniciativas de turistificação. Extrapolando o diagnóstico31 das ambiências do Parque
conduzidos pela Equipe do Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos da UFRJ,
buscou-se agrupar nove conjuntos de ambiências, agrupando as mais próximas
entre si, como unidades de gestão, visando orientar a administração a tratar de
maneira diferenciada lugares com identidades complementares e próximas. Desta
forma, estes agrupamentos de ambiências visam caracterizar lugares e
territorialidades que possam receber tratamento e atenção diagnóstica diferenciada,
como por exemplo, estudos individualizados de perfil de visitantes, estudos de
capacidade de suporte local, estruturação de infra-estruturas de apoio
personalizadas, etc.
31
Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e
Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. p 07 - Setembro /outubro de 2004.
147
Mirante
do Alto Rio Dona Eugênia
Estrada da Cachoeira
Trilhas
Casarão
Pau Pereira
Poço das
Cobras
Pic-nic 01
Sede
Antes da
sede
Entrada Pedreira
Quadro 15: Ambiências das Zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI
Fonte: Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Equipe do LAB LET – Laboratório
de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. p 07 - Setembro /outubro de
2004. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.
149
Destaca-se que nos trabalhos de seleção, foram considerados os vales por onde
passam as trilhas, como unidades geomorfológicas de referência. Foram
identificadas e selecionadas então as seguintes vias (trilhas, estradas e atalhos) de
interesse conforme exposto no quadro 17:
2º segmento
Vale da Varginha
1º segmento
Tr. de serviço
Vale do Levi
Alteração de traçado
com destaque ao
Mirante do Levi
O traçado original existe por ser mais curto e historicamente, era utilizado pela
população local como rota de acesso à Varginha e áreas limítrofes. Sugere-se que o
trecho seja mantido como “trilha de serviço”, isto é, mantida operacional para
funcionários e fiscalização como via de rápido acesso às trilhas da Contenda e
segundo segmento da Trilha da Varginha. Deve haver sinalização restritiva para
orientação dos visitantes. Cabe destacar que neste trecho, inicio da micro-bacia
onde se localiza a nascente do córrego do Levi, se recomenda a implantação de
projeto de reflorestamento tanto para proteger e recuperar os pontos de erosão
como revitalizar a nascente aí localizada.
Cabe destacar que na Pedreira desativada São José foi reaberta uma trilha
antiga, resgatando um mirante de fácil acesso (300 metros da entrada do Parque) e
maior capacidade de visitantes, na zona de visitação intensiva, servindo como
155
A trilha do Pau Pereira, embora tenha sido pensada para receber um público
médio, inclusive crianças e idosos, deve ter seu traçado corrigido, principalmente m
sua porção próxima a ponte da Curva, cujo aclive supera os 35%, limitando, por
conseguinte o perfil do visitante.
Estrada do
Tatu-gamela MIRANTE DA
PEDREIRA VIGNÉ
Trilha da Trilha da
Contenda Varginha
Estrada do Tatu-gamela
Trilha da
Acesso à rampa de Vôo Livre
Pedreira
Trilha do Pau
Pereira GUARITA DE
ENTRADA
Estr. da Cachoeira
Seção de visitação intensiva
CLUBE
DOM FELIPE
Legenda
Mirante da
Complexo Pedreira Vigné
N do “Vulcão”
Atrativo de
referência
Circular
interna
Guarita de
entrada
SEDE
Trilha do
Mata-fome Estrada da Cachoeira
Seção de visitação intensiva
Mirante do Alto Casarão
Legenda
N
Atrativo de
Praça referência
do Boi
Circular
Trilha da interna
Pedra da Varginha.
Contenda Trilha da
Varginha
Estrada da
Pedreira Cachoeira
São José
Trilha do Pau
Pereira
Possível traçado
de trilha de ligação Trilha da
Contenda
Circular
Interna
Trilha do
Pau Pereira
Sede
Estrada da
Casarão Cachoeira
OBS:
Para a Circular interna é necessário a construção de uma variante da trilha do Com esta variante cria-se um roteiro com aproximadamente quatro quilômetros
Pau Pereira à Trilha da Contenda. Em consultas informais com antigos (unindo o primeiro segmento da Trilha da Varginha no vale do Levi, a parte inicial
moradores soube-se da existência de vestígios de um antigo traçado. da Estrada da Cachoeira e parte d trilha do Pau Pereira
161
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Origem Conhece as Pagaria por Pagaria por Pagaria por Pagaria por
trilhas para o passeios de 2 passeios de 4 passeios de 6 lembranças do
Vulcão horas horas horas PNMNI
Nova Iguaçu Mesquita Nilópolis Belfort Roxo Rio de Janeiro Outros Estados
Para criar uma referência quanto às respostas, foi inserida uma pergunta
quanto ao conhecimento das trilhas do parque, usando como referência a região do
“vulcão”, mais conhecida e onde se localizam a maioria das trilhas selecionadas
neste estudo. Das perguntas relacionadas nos questionários, dentre outras
informações coletadas, ressalta-se as seguintes:
Deve-se observar que na área (2), as zonas delimitadas pela linha tracejada
em verde, diz respeito à proposta de mudança de classe deste segmento da Zona
de Uso Extensivo para Zona em Recuperação Especial, com fins de se proteger a
Zona primitiva. Esta mudança de classe visa minorar os efeitos de fragmentação
induzida pela “cunha” que a Estrada da Cachoeira representa para o tecido florestal,
que são ampliados com a visitação mantida nos moldes de uma zona de uso
extensivo.
Neste sentido, a visitação nestas áreas devem ter caráter mais restrito, sendo
utilizadas principalmente para fins de pesquisa e de turismo especializado cujo viés
principal seja a observação e conservação, como observação de fauna e turismo
científico, principalmente neste momento, em que os diagnósticos ambientais são
insuficientes e os recursos humanos e materiais não permitem um adequado
controle da visitação.
Desta forma, o maior volume fica concentrado na Área 01, nas zonas mais
alteradas, mas com grandes cenários devido as encostas recobertas por vegetação
rala e pastagens degradadas, as quais são grande promotores do consumo de
paisagem através de caminhadas.
165
Legenda:
Zoneamento proposto aplicando o ROS:
32
Fotografia 11: Voluntários instalando poleiro seco Fotografia 12: Voluntários transportando em corrente
no vale do Levi material para mutirão na trilha do Levi
Flávio A. P. Mello: 2007 Flávio A. P. Mello: 2007.
As datas são divulgadas no link “Agenda” (anexo 06) com inscrições também
via internet. No ano de 2008, foram realizados 5 mutirões de manejo de trilhas, 4
mutirões de manutenção do Viveiro de mudas florestais e 6 passeios guiados,
32
Poleiros secos são uma estratégia de conservação onde se introduz pontos de descanso e observação para
aves, principalmente em zonas descampadas, de modo induzir a dispersão de sementes veiculadas por aves em
pontos dirigidos.
168
Fotografia 13: Alunas do curso Técnico em Meio Fotografia 14: Pesquisadores e alunos voluntários no
Ambiente, do Colégio Pres. Kennedy em Belfort projeto “Diversidade dos Morcegos do PNMNI”.
Roxo, coleta de dados na Pedreira São José Preparativos para a subida ao P4
Foto de Flávio A. P. Mello : 2008. Foto de Flávio A. P. Mello : 2008.
169
Fotografia 15: Funcionário e voluntária abordando Fotografia 16: Mutirão relâmpago de coleta de lixo no
usuários poço do Casarão
Foto de Flávio A. P. Mello : 2008. Foto: Flávio a p Mello: 2008
170
Fotografia 17: Visitantes na Pedreira São José Fotografia 18: Carlos Papel, fotógrafo amador
durante a ATM-2008 expondo fotos do PNMNI durante a ATM 2008
Foto de Flávio A. P. Mello: 2008. Foto de Flávio A. P. Mello: 2008.
171
5.0 CONCLUSÕES
Por suposto que esta condição, de proteção integral, não deve ser impeditiva
para o estabelecimento da visitação, pois esta também cumpre sua função social e
cultural, contudo, a atenção, quanto aos impactos presentes e futuros, deve ser
considerada, não só nas trilhas, espaços de lazer e de contemplação, mas também
em seus efeitos deletérios por contigüidade, como é o caso dos eventos percebidos
na fragmentação florestal induzidas pela abertura ou manutenção destas vias e
espaços.
6.0 BIBLIOGRAFIA
AURÉLIO, Dicionário Eletrônico Século XXI. Versão 3.0. Editora Nova Fronteira e a
Lexicon Informática. 1999
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 2. ed. São Paulo: Senac, 1998.
DIAS, Reinaldo. Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas, 2003.
IBAMA, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. Lista nacional das Espécies da Fauna
Brasileira Ameaçadas de Extinção. www.ibama.gov.br/fauna/extincao.php
Capturado em 10/03/2007
MARBOH. Nadismo : uma revolução sem fazer nada / Marcelo Bohrer. Porto
Alegre : Verbo Jurídico, 2008.
MENEZES JR., L.F. (2008). Morcegos da Serra do Mendanha, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil (Mammalia, Chiroptera). Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro. 74p.
MOTOKI, A., Soares, R., LOBATO, M., PETRAKIS, G.H., NETTO, A.M., SICHEL,
S.E., AIRES, J.R. Rumo da educação ambiental com base na geológica
regional de Nova Iguaçu, RJ: de acordo com desenvolvimentos científicos ou
desejos populares do vulcão ? Amigos do Parque Natural Municipal de Nova
Iguaçu Edição eletrônica, 18p. 2007.
184
MOTOKI, A., Soares, R., NETTO, A.M., SICHEL, S.E., AIRES, J.R., LOBATO, M.
2007. Reavaliação do modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu, RJ:
origem eruptiva ou intrusão subvulcânica? Revista Escola de Minas, Ouro
Preto, v. 60-3.
PAZINI, Ana Paula. Trilhas na Serra do Japi - Março de 2007 Blog Trilhas e
Versos. http://trilhaseversos.blogspot.com/2007/03/trilhas-na-serra-do-japi-maro-de-
2007.html. Capturado em 15/10/2008.
VIEIRA, A.C., KLEIN, V.C. Vulcão de Nova Iguaçu, o vulcão brasileiro. CREA-RJ,
2004. 10p. (inédito)
7.0 Anexos
7.1 Anexo 01: Site AMIGOS DO PARQUE