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SÃO PAULO

Maio de 2009
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ANÁLISE DOS IMPACTOS


DOS ATAQUES DO PCC
EM SÃO PAULO EM MAIO DE 2006

Laboratório de Análise da Violência (LAV-UERJ)

Pesquisa encomendada por:


CONECTAS DIREITOS HUMANOS

Relatório Final
Junho 2008

Coordenadores: Ignacio Cano


Alberto Alvadia

Equipe de Pesquisa: Andreia Marinho; Thais Lemos Duarte; Daniele Bragança de Souza; Daniele
Pereira; Sandra Regina Cabral.
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INTRODUÇÃO
por Conectas Direitos Humanos

No dia 12 de maio de 2006, a organização criminosa “Primeiro Coman-


do da Capital” (conhecida pela sigla PCC) deflagrou uma série de rebeli-
ões em presídios em todo o estado de São Paulo, com a participação de
milhares de presos, que fizeram mais de uma centena de reféns.
Enquanto as rebeliões ocorriam no interior do sistema carcerário, pos-
tos, viaturas, delegacias de polícia, cadeias, presídios e diversos prédios
públicos foram alvos de ataques armados nos quais policiais e agentes
penitenciários eram alvos prioritários.

A polícia, então, reagiu. As folgas e férias foram canceladas e todo o


efetivo saiu às ruas. Instalou-se um clima de guerra e os dias que se
seguiram foram repletos de notícias sobre inúmeras mortes de dezenas
de “suspeitos”.

De 12 a 21 de maio de 2006, na chamada semana sangrenta, centenas


de pessoas foram mortas. A violência excessiva das ações policiais e a
explícita atividade de grupos de extermínio causaram grande preocu-
pação na sociedade civil. Em pouco tempo, articulou-se uma Comissão
Independente para acompanhar os casos de morte e as ações das
forças públicas.

A Comissão Independente foi composta pela Comissão de Direitos


Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Ministério
Público do Estado de São Paulo, Ministério Público Federal, Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Conselho Estadual de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE), Conselho Nacional
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CNDDPH), Ouvidoria de Polí-
cia do Estado de São Paulo, Conectas Direitos Humanos, Núcleo de Es-
tudos de Violência da Universidade de São Paulo, Centro Santo Dias de
Direitos Humanos, Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Tortura
Nunca Mais, Associação Cristã Contra a Tortura (ACAT), Comissão de
Direitos Humanos da OAB-SP, Movimento Nacional de Direitos Huma-
nos, Centro de Direitos Humanos de Sapopemba e Pastoral Carcerária,
dentre outros.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, em traba-


lho louvável, organizou um grande esforço interno e, com isso, acom-
panhou os médicos legistas e fiscalizou a elaboração dos laudos de
exames necroscópicos de todo o estado.
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A Conectas Direitos Humanos desde 2006 acompanha dois casos desta


semana: uma chacina que vitimou cinco pessoas no bairro Parque
Bristol e a morte de um adolescente em cumprimento de medida sócio
educativa na Fundação CASA. As duas investigações foram arquivadas
sem a identificação de responsáveis pelas mortes. Infelizmente, não são
casos isolados e após três anos das “mortes de maio”, a grande maioria
dos casos teve o mesmo resultado: arquivamento e impunidade.
Para que as “mortes de maio” não caiam no esquecimento, conta-se
agora com a valiosa pesquisa desenvolvida pela equipe do Laboratório
de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
sob a coordenação do Dr. Ignacio Cano.

A pesquisa foi desenvolvida com base nos boletins de ocorrência e lau-


dos periciais de mortes causadas por armas de fogo no período de 12 a
21 de maio de 2006 no estado de São Paulo. Foram analisadas ocorrên-
cias que totalizam 564 mortos e 110 feridos. No entanto, a dificuldade
de acesso à documentação referente ao período tornou impossível a
análise de todos os boletins de ocorrência e laudos periciais em tempo
hábil à sua publicação.

Conectas Direitos Humanos agradece especialmente ao esforço da


Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo (Ministé-
rio Público Federal) na coleta de dados e documentos imprescindíveis
para a concretização desta empreitada.

Agradece e homenageia às demais organizações da Comissão Inde-


pendente e, sobretudo, às centenas de famílias que jamais esquecerão
as mortes da semana sangrenta de maio de 2006, que lutam, em exem-
plar comprometimento com os direitos humanos, para a prevalência da
justiça e contra a impunidade.
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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO................................................................................................................07

2. CONTEXTUALIZAÇÃO......................................................................................................07

3. OBJETIVOS, FONTES E METODOLOGIA.....................................................................08

4. IMPACTO DOS ATAQUES DO PCC SOBRE O NÚMERO DE MORTES................09

5. VITIMIZAÇÃO NOS CASOS ESTUDADOS..................................................................09

6. OUTRAS CARACTERÍSTICAS DOS CASOS REGISTRADOS...................................15

7. PERFIL DAS VÍTIMAS FATAIS..........................................................................................18

8. ANÁLISE DOS LAUDOS NECROSCÓPICOS...............................................................19

9. CONCLUSÕES.....................................................................................................................26

APÊNDICE 1............................................................................................................................28
-6-
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1. APRESENTAÇÃO Paulo cancelou folgas e ficou em De fato, o governador de São Pau-


Essa pesquisa foi realizada pelo situação de alerta. Foram fecha- lo, Cláudio Lembo, afirmou no dia
Laboratório da Análise da Violên- das ruas próximas a delegacias e 20 de maio que alguns suspeitos
cia da Universidade do Estado do foi intensificado o patrulhamen- mortos poderiam ser inocentes e,
Rio de Janeiro/UERJ no período de to da cidade. Além disso, várias no dia 23, o então diretor do DEIC
janeiro de 2007 a maio de 2008, a favelas foram ocupadas. O resul- também fez declarações públicas
pedido e em colaboração com Co- tado desses ataques foi a morte no mesmo sentido. Paralelamen-
nectas Direitos Humanos. de diversos funcionários públicos te, algumas das declarações de
da área de segurança (policiais autoridades públicas e de alguns
civis e militares, guardas munici- setores sociais naqueles dias re-
2. CONTEXTUALIZAÇÃO pais, e agentes penitenciários) e clamando uma resposta policial
No mês de maio de 2006, entre os também a morte de muitos civis. contundente beiravam a legiti-
dias 12 e 21, diversos municípios mação de respostas extra-legais.
do Estado de São Paulo foram alvo Até a tarde do dia 18, o balanço
de ataques coordenados contra parcial divulgado pela Secretaria O Ministério Público do Estado de
agentes de estado e instituições de Segurança Pública de São Pau- São Paulo cobrou do Executivo
públicas, desencadeados pela fac- lo foi de 293 ataques. Dentre eles, os laudos cadavéricos das vítimas
ção criminosa denominada Primei- 82 ataques a ônibus; 56 a casas de para poder fiscalizar o acontecido.
ro Comando da Capital, o PCC. Ao policiais; 17 a bancos e caixas ele- Após uma resistência inicial, os
longo da semana, houve rebeliões trônicos. De acordo com a mesma laudos foram entregues e o Con-
em delegacias, casas de custódia e fonte, o saldo era de 41 agentes selho Regional de Medicina do
penitenciárias, ataques violentos públicos mortos, 107 civis mortos Estado de São Paulo produziu um
contra meios de transporte pú- em confronto, 38 agentes feridos relatório após a análise dos men-
blicos (ônibus, metrô), bancos e e 16 civis feridos. Além disso, 124 cionados laudos3 . Neste sentido,
outros prédios públicos, além de pessoas teriam sido presas e 146 o presente estudo pode ser con-
tentativas de execução de funcio- armas teriam sido apreendidas1. siderado como uma tentativa de
nários públicos que trabalhavam complementar o trabalho dos pe-
na área de segurança, várias delas Diversas organizações não gover- ritos do CRM, embora o conjunto
com saldo fatal. Como conseqüên- namentais registraram o temor de dados estudados aqui é mais
cia do clima de pânico gerado, di- de que os policiais, na sua reação amplo do que o utilizado pelo
versos prédios públicos fecharam perante os ataques, pudessem ter CRM, tanto pelo número de casos
as portas (prefeituras, comércios, cometido excessos ou atos ilegais. quanto pela variedade dos docu-
escolas, universidades, etc.), per- A Ouvidoria de Polícia de São Pau- mentos analisados. O mencionado
turbando de forma significativa lo manifestou a preocupação pelo relatório é baseado em 493 óbitos
o transporte e a vida nas cidades. aumento de execuções sumárias por arma de fogo entre os dias 12 e
cometidas por “grupos de pessoas 21 de maio de 2006, enquanto que
Foram registrados ataques na cida- encapuzadas”, o que poderia re- o presente estudo recebeu docu-
de de São Paulo e na Grande São crudescer o problema dos grupos mentos relativos a 564 mortes no
Paulo (Guarulhos, Santo André, de extermínio, desta vez com o mesmo período.
Jandira, Osasco, e Cotia), no litoral intuito de vingar os companheiros
(Guarujá, Praia Grande, Santos, São mortos e feridos. Vale lembrar que Daqui para frente, quando nos re-
Vicente, Cubatão) e no interior do os grupos de extermínio possuem ferirmos ao impacto conjunto tan-
estado (Araras, Marília, Campinas, uma longa tradição em São Paulo to dos ataques quanto das reações
Campo Limpo Paulista, Itapira, e contam tradicionalmente com a que eles provocaram, falaremos
Mogi Mirim, Ourinhos, Águas de participação de policiais (ver Bicu- apenas do ‘impacto dos ataques’
Lindóia, Piracicaba, Ribeirão Preto, do, 20022). para simplificar o texto.
Bauru, Santa Bárbara d´Oeste, São 1. NANI, Valéria. Secretaria de Estado de
José do Rio Preto, Várzea Paulista e Segurança Pública de São Paulo. SSP
divulga balanço dos últimos seis dias: 293
Presidente Venceslau). ocorrências. [Online] Disponível na internet
via http://www.ssp.sp.gov.br/home/noticia.
aspx?cod_noticia=8240.Arquivo capturado
A ação criminosa provocou a re- em 29 de dezembro de 2007. 3. Conselho Regional de Medicina do
ação da força policial e das auto- 2. BICUDO, H. (2002) Meu depoimento Estado de São Paulo (2006) Relatório de
sobre o esquadrão da morte. São Paulo: Análise de Laudos Necroscópicos dos IMLs
ridades. A Polícia Militar de São Martins Fontes. do Estado de São Paulo. CRM-SP.
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3. OBJETIVOS, FONTES E Assim, foram estudados os Lau- alguns casos continham apenas
METODOLOGIA dos Necroscópicos elaborados e laudos (cadavéricos e às vezes de
O objetivo do presente estudo é assinados por médicos legistas outros tipos), e eles não costumam
triplo: de 23 Institutos Médico-Legais conter informação alguma sobre a
1. Estimar o impacto, em termos do Estado de São Paulo no pe- dinâmica dos fatos. Em suma, nem
de vítimas fatais, dos ataques do ríodo, cujas necropsias definiam sempre foi possível esclarecer os
PCC em maio de 2006 e das rea- a causa mortis como decorrente fatos que antecederam à morte
ções que eles suscitaram. de ferimentos por arma de fogo, nem, portanto, determinar se ela
2. Analisar as características da e também os Boletins de Ocor- era resultado dos ataques do PCC.
vitimização originada pelo epi- rência que descreviam fatos com- Será preciso abordar esta questão
sódio. patíveis com o critério de seleção. de forma indireta, em função das
3. Avaliar a existência de indícios informações disponíveis em cada
de execuções sumárias nesse Para que um caso fosse conside- caso.
período, com especial atenção rado era preciso contar ou com o
àquelas que pudessem ter sido B.O. ou com um Laudo Cadavérico. Assim, os B.O.s permitem conhecer
cometidas por agentes do Esta- Assim, os outros tipos de laudos em alguma medida as circunstân-
do. periciais foram utilizados como cias dos fatos, enquanto que os
dados complementares, mas ne- laudos cadavéricos contêm infor-
Para o primeiro objetivo, foram nhum caso foi aberto apenas com mações que podem ajudar a de-
solicitados os dados policiais com base nesse tipo de documentos, terminar a existência de intenção
o objetivo de criar uma série tem- entre outras razões porque eles homicida e de execução sumária.
poral de mortes por arma de fogo, não continham informação sufi-
dia a dia, nos últimos anos. Isto ciente sobre os fatos acontecidos. Os Boletins de Ocorrência permi-
permitiria estimar o número de tem extrair informações sobre di-
mortes esperadas nesse período Cumpre esclarecer que a principal versas dimensões, entre outras:
se não tivesse acontecido nada dificuldade para estudar os casos 1. O local, a data e a hora do
extraordinário —como foram os decorrentes dos ataques do PCC e fato.
ataques— e compará-lo com o das as reações provocadas é o fato de 2. O envolvimento de agentes
efetivamente acontecidas. Dado que estes casos não estão separa- públicos.
que os dados não foram forneci- dos nos documentos oficiais, in- 3. Apreensões de armas ou ou-
dos, foi preciso recorrer aos regis- clusive porque nem sempre é pos- tros objetos ou substâncias.
tros do Sistema de Informações sível saber se uma morte estava ou 4. O perfil das vítimas: cor, sexo,
de Mortalidade do Ministério da não relacionada com os ataques. idade, estado civil, nível de ins-
Saúde. Para o segundo e o terceiro Assim, os documentos analisados trução, etc.
objetivos, foram solicitados e ob- incluem também, por exemplo,
tidos, em boa parte, os seguintes homicídios gerados por conflitos Por sua vez, os Laudos Cadavéri-
documentos relativos às mortes interpessoais ou familiares, além cos contêm diversos indicadores
por arma de fogo acontecidas no dos decorrentes de diversos tipos médico-legais que podem apon-
período: de criminalidade. tar a existência ou não de execu-
a) laudos cadavéricos —que em ção sumária. Entre eles podemos
parte já tinham sido analisados A informação mais relevante de destacar:
pelo CRM; que dispomos para tentar esclare- 1. Distinção e localização anatô-
b) outros laudos periciais; cer quais casos correspondem aos mica dos orifícios de entrada de
c) Boletins de Ocorrência poli- ataques é o relato dos fatos no B.O., projéteis de arma de fogo.
ciais. quando existe, e o conhecimento 2. Caracterização da distância
do envolvimento de agentes pú- do disparo (à queima roupa ou
A princípio, o critério de inclusão blicos, seja como vítimas ou como à distância) pela presença de
de casos na pesquisa foi o seguin- responsáveis pelas mortes. Mesmo zonas de contorno no orifício de
te: episódios de morte de pessoas assim, o envolvimento de agentes entrada (tatuagem, esfumaça-
por arma de fogo no estado de São públicos em um episódio resultan- mento ou queimadura).
Paulo entre os dias 12 e 21 de maio te em mortes também não garante 3. Presença de outras lesões não
de 2006. que se trate de um fato decorrente relacionadas com a ação de pro-
dos ataques do PCC. Por outro lado, jétil de arma de fogo.
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A fim de coletar todos os dados óbitos. No entanto, se partimos do 5. VITIMIZAÇÃO NOS CASOS
disponíveis, foi criado um formulá- suposto de que a tendência de re- ESTUDADOS
rio que reunia todos os elementos dução entre os anos 2003 e 2005 Esta seção é resultado das informa-
do fato. Um formulário diferente (uma redução algo superior a 20% ções registradas a partir das fontes
foi aplicado para cada um dos en- ao ano) se manteria também em utilizadas na pesquisa: Boletins de
volvidos em cada fato. Os pesqui- relação a 2006, então a estimativa Ocorrência e Laudos, como já foi
sadores preencheram os dois tipos para o conjunto do mês de maio explicado anteriormente.
de formulários após a leitura dos de 2006 seria de 420 mortes e,
laudos e dos B.O.s. Os formulários para um período de 10 dias dentro O número total de episódios regis-
foram posteriormente codificados do mesmo mês, seria de 135 óbi- trados que resultaram em mortos
e digitados em bancos de dados, tos por arma de fogo. por arma de fogo entre 12 e 21 de
um banco para os fatos e outro maio de 2006 foi de 401.
para os envolvidos. Considerando o número efetiva- Nesses 401 episódios acontece-
mente registrado de 564 mortes ram 564 óbitos por arma de fogo.
entre os dias 12 e 21 de maio de Além dos óbitos, foram registrados
4. IMPACTO DOS ATAQUES 2006, podemos concluir que esse outros envolvidos nos fatos. Deles,
DO PCC SOBRE O NÚMERO DE número é três a quatro vezes su- alguns foram feridos, mas outros
MORTES perior ao esperado, em função dos ficaram ilesos. A distribuição dos
Como já foi indicado, não foi possí- anos anteriores. Em suma, pode- envolvidos pelo tipo de dano é a
vel conseguir dados policiais para mos atribuir aos ataques do PCC seguinte (Tabela 2).
criar uma série temporal de mor- e às suas reações um balanço de
tos por arma de fogo no estado de aproximadamente 400 mortes. TABELA 2
São Paulo, dia a dia. Número de envolvidos nos
Obviamente, o impacto posterior Casos Estudados, por tipo de
Por isso, recorremos aos dados do a este período pode também ser dano sofrido
Sistema de Informações de Morta- significativo, em termos de vin- No %
lidade do Ministério da Saúde (DA- ganças, etc., mas não dispomos
Ferido 110 11.3
TASUS). De acordo com esta fonte, de dados ulteriores ao dia 21 para
tentar estimá-lo. Um ponto que Morto 564 58.0
o número de mortes por arma de
fogo durante o mês de maio dos ainda deve ser pesquisado é em Ileso 298 30.7
anos anteriores foi o seguinte (Ta- que medida os trágicos eventos Total 972 100.0
bela 1). de 2006 comprometeram, a mé- Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segu-
dio ou longo prazo, a tendência de rança Pública SP.

TABELA 1 diminuição dos homicídios que o


Número de Mortos por estado de São Paulo vinha experi- O primeiro elemento que chama a
Arma de Fogo, no mês mentando nos últimos anos. atenção é o reduzido número de
de Maio por Ano feridos comparados com as mor-
Uma ressalva que precisa ser men- tes, o que poderia ser um sinal de
Ano Mortos por Arma de Fogo
cionada em relação aos resultados um elevado grau de letalidade. No
2003 923 apresentados nesta seção é que entanto, não podemos esquecer
2004 723 eles procedem da comparação de que o critério de inclusão de ca-
2005 546 duas fontes diferentes: o Ministério sos é a morte de pessoas por arma
Fonte: Sistema de Informações de Mortali- da Saúde para os anos anteriores, de fogo (não apenas o ferimento),
dade. Ministério da Saúde. e os B.O.s e os laudos policiais para razão pela qual só entram os fe-
2006. Quando forem divulgados rimentos de outras pessoas que
Tomando como referência o ano os dados do Ministério da Saúde acontecem junto com uma vítima
de 2005, com um total de 546 para 2006 será possível elaborar fatal. Dessa forma, a comparação
mortes por arma de fogo no mês uma comparação ainda mais pre- entre mortes e ferimentos fica cla-
de maio, poderíamos estimar as cisa, usando a mesma fonte para ramente enviesada na direção das
mortes durante um período de 10 os dois momentos. primeiras.
dias dentro desse mês como uma
fração de 10/31 do valor total, o
que representaria um total de 176
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TABELA 4
Entre os 972 envolvidos há 660 O índice de Número de vítimas por dia e dano
civis (68%), 251 policiais militares letalidade Data do Fato Dano
(26%), 27 policiais civis (3%) e 34 —número
Ferido Morto Ileso TOTAL
agentes do estado que não são de mortos
policiais (agentes penitenciários, dividido 12 de maio de 2006 6 22 3 31
bombeiros, etc.). No total dos 401 pelo número 13 de maio de 2006 26 62 39 127
episódios registrados, 275 (69%) de feridos — 14 de maio de 2006 29 118 61 208
não mencionavam a presença de não é muito 15 de maio de 2006 21 89 39 149
agentes do estado. É importan- diferente 16 de maio de 2006 5 81 66 152
te lembrar que o fato de que os para os dois
17 de maio de 2006 6 68 62 136
documentos não mencionem a coletivos,
participação de agentes públicos 4,5 para os 18 de maio de 2006 7 22 13 42
não significa que ela não possa agentes pú- 19 de maio de 2006 0 13 6 19
ter acontecido, apenas que não há blicos e 5,2 20 de maio de 2006 7 6 0 13
registro nesse sentido. Os grupos para os civis, 21 de maio de 2006 0 2 0 2
de extermínio são o exemplo mais o que indica Total 107 483 289 879
dramático de uma possível parti- um equilí-
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
cipação de policiais sem registro brio entre os
oficial. dois tipos de
vitimização.
Dentre os casos em que há regis-
tro da participação de agentes Analisando a vitimização aconte- O Gráfico 1 mostra a evolução di-
públicos, aproximadamente em cida dia a dia, fica evidente que a ária das vítimas letais no período.
85% deles os agentes se encontra- maioria das mortes e ferimentos Nota-se que a linha cresce até 14
vam de serviço e apenas em 15% acontece entre os dias 14 e 17, sen- de maio e, a partir daí, começa
estavam de folga. De acordo aos do o dia 14 o de maior gravidade. um descenso progressivo que fica
documentos, na maioria dos ca- Vale lembrar que 68 dos 401 casos acentuado depois do dia 17. Final-
sos tratava-se de policiais de baixa (17%) não continham informação mente, do dia 19 de maio em dian-
patente (soldados e sargentos); só sobre a data exata e, portanto, não te as mortes estão abaixo do pata-
em 6 casos foi registrada a partici- podem fazer parte desta análise mar do dia 12, início do período.
pação de tenentes e houve apenas (Tabela 4).
GRÁFICO 1
um caso envolvendo um capitão.
Número de mortes por arma de fogo, por dia
Apesar dos ataques contra agen-
tes públicos acontecidos naqueles
dias, a grande maioria das vítimas
é civil. A vitimização de acordo
com o tipo de vítima revela os se-
guintes resultados (Tabela 3).

Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.


TABELA 3
Número de vítimas por tipo e dano
No de Agentes Públi- No de Agentes Públi- No de Civis No de Civis Feridos
cos Mortos cos Feridos Mortos
59 13 505 97
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
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Um elemento interessante é que a mais de dez mortos para cada feri- O seguinte passo é estudar a vi-
evolução de feridos e mortos não do nos dias 16 e 17. Isto indica um timização simultaneamente de
é paralela no tempo. Os feridos são grau de letalidade muito superior acordo com o dia e o tipo de víti-
especialmente elevados apenas nestes dois últimos dias, que seria ma. Os resultados são os seguintes
até o dia 15, mas as mortes conti- compatível com uma atuação di- (Tabela 6).
nuam altas até o dia 17. A tabela ferenciada, mais condizente com
5 mostra a razão entre mortos e execuções sumárias que deixam Um dado revelador é que enquan-
feridos dia a dia, e revela um valor muitas mortes e poucos feridos to os agentes públicos são mor-
entre 2 e 4 nos três primeiros dias, (Tabela 5). tos, sobretudo, nos dias 12 e 13
que se eleva repentinamente a (e em menor medida, 14), os civis
falecem fundamentalmente nos
dias 14 a 17. Este quadro é com-
TABELA 5 patível com o cenário de uma sé-
Número de vítimas por dia e dano rie de ataques contra agentes nos
FERIDOS MORTOS RAZÃO DE dias iniciais, com muitas vítimas
MORTOS SOBRE entre eles, e uma série de opera-
FERIDOS ções de represália realizadas por
12 de maio de 2006 6 22 3.7 policiais nos dias seguintes, com
13 de maio de 2006 26 62 2.4 um alto número de vítimas civis.
14 de maio de 2006 29 118 4.1 A conclusão mais clara é que a
15 de maio de 2006 21 89 4.2 letalidade dos civis não acontece
basicamente durante os ataques
16 de maio de 2006 5 81 16.2
contra policiais ou agentes pe-
17 de maio de 2006 6 68 11.3 nitenciários, mas num momento
18 de maio de 2006 7 22 3.1 posterior, provavelmente em in-
19 de maio de 2006 0 13 - tervenções realizadas por policiais.
20 de maio de 2006 7 6 0.9
21 de maio de 2006 0 2 - Uma forma de exemplificar este
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
desequilíbrio é calcular a razão
entre civis mortos e agentes pú-
blicos mortos, dia a dia. Enquan-
TABELA 6 to há certa semelhança nos dois
Número de vítimas por dia e tipo de vítima primeiros dias, o número de civis
Dias Agentes públicos Agentes públicos Civis Civis mortos para cada agente morto
mortos feridos mortos feridos ultrapassa os 10 a partir do dia 14
12/05/2006 10 3 12 3 e atinge um valor de mais de 20 no
13/05/2006 23 8 39 18 dia 17 (o indicador já não pode ser
mais calculado a partir do dia 18,
14/05/2006 8 1 107 28
pois não há mais agentes mortos
15/05/2006 5 0 84 21 dessa data em diante). Os dias de
16/05/2006 6 1 75 4 maior desequilíbrio entre civis e
17/05/2006 3 0 65 6 agentes públicos coincidem tam-
18/05/2006 0 0 22 7 bém com os dias de maior letali-
19/05/2006 0 0 13 0 dade, em que, como já foi explica-
do, a razão entre mortos e feridos
20/05/2006 0 0 6 7
é mais desfavorável (Tabela 7).
21/05/2006 0 0 2 0
Sem data 4 0 80 3

Total 59 13 505 97
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
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TABELA 7
Razão entre Civis mortos e Agentes mortos por dia
Dias Civis mortos Agentes Razão entre Civis
públicos mortos e Agentes
mortos Públicos mortos
12/5/2006 12 10 1.2
13/05/2006 39 23 1.7
14/05/2006 107 8 13.4
15/05/2006 84 5 16.8
16/05/2006 75 6 12.5
17/05/2006 65 3 21.7
18/05/2006 22 0 -
19/05/2006 13 0 -
20/05/2006 6 0 -
21/05/2006 2 0 -
Sem data 80 4 20.0
Total 505 59 8.6
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.

da sua residência. Esta categoria criminosa organizada.


Mais uma vez, os dados são com- está subdividida em quatro de e) Acidentes ou casos de mor-
patíveis com operações de repre- acordo com o autor: tes por bala perdida, isto é, de
sália por parte de agentes públi- 1. Autor individual pessoas que não participavam
cos que provocam um alto grau de 2. Autoria de um grupo enca- diretamente no confronto, nem
letalidade. puzado, relevante para testar como autores nem como alvos.
as alegações da atuação de
A partir das informações existen- grupos de extermínio, com Infelizmente, em mais de 40%
tes nos documentos oficiais, foi possível participação de poli- dos casos não existia informação
desenvolvida uma tipologia dos ciais, que costumam atuar en- suficiente para poder discernir
fatos, para tentar compreender capuzados; qual seria o tipo, de forma que
melhor a sua dinâmica. Os tipos 3. Autoria de um grupo não en- a amostra para esta análise fica
considerados foram os seguintes: capuzado; significativamente reduzida. Em
a) Confronto entre a polícia e su- 4. Autoria de policiais, explicita- vários casos, campos relevantes
postos criminosos, seja durante mente reconhecida nos docu- do Boletim de Ocorrência fica-
o serviço policial ou quando o mentos. vam sem preencher ou o relato
policial encara um crime durante c) Ataques contra Delegacias ou não era suficientemente esclare-
sua folga; Batalhões. Neste caso, trata-se cedor.
b) Execução Sumária, na qual há de um ataque indiscriminado
uma intenção prévia ao fato de contra uma instituição policial. Entre os casos com informação
matar aquela pessoa. Nesta si- Mesmo que possa resultar em suficiente para estabelecer a tipo-
tuação, o agressor não costuma mortes de agentes públicos, a di- logia, a categoria mais comum é
dar à vítima chance de defesa. No ferença com respeito à execução a execução sumária. O número de
caso de policiais como autores, sumária é que a agressão não é execuções cometidas por grupos
estes episódios podem refletir, planejada nem executada contra de pessoas encapuzadas é signi-
por exemplo, o homicídio contra policiais concretos, mas contra ficativo e sublinha os temores ex-
alguém que já foi preso ou está prédios policiais. pressados pela Ouvidoria de Polí-
desarmado. No caso de policiais d) Conflito inter-individual, de- cia. Em segundo lugar, aparecem
como vítimas, podemos men- corrente de brigas ou outros os confrontos policiais. Há ainda
cionar as execuções cometidas problemas entre pessoas, não 12 casos de ataques a prédios poli-
contra agentes públicos perto relacionados a uma atividade ciais com vítimas fatais (Tabela 8).
- 13 -

A vitimização O contraste entre a vitimização


TABELA 8 acontecida em provocada por grupos não enca-
Tipologia dos Fatos função da tipo- puzados e por grupos encapuza-
Freqüência % logia dos fatos é dos, com um número muito supe-
Confronto policial 75 18.7 apresentada na rior de vítimas civis no caso destes
Execução Sumária: Individual 44 11.0 Tabela 9. últimos, é compatível com a sus-
Execução Sumária: Grupo 38 9.5
peita de que membros das institui-
Não-Encapuzado Assim, os agen- ções policiais poderiam estar, por
tes públicos trás dos capuzes, participando de
Execução Sumária: Grupo 32 8.0
Encapuzado morrem, so- grupos de extermínio.
bretudo, como
Execução Sumária: Policiais 3 .7
conseqüência Um dado que chama a atenção é
Ataques contra Delegacias 12 3.0 de ataques de que nos ataques contra delegacias
ou Batalhões grupos não en- e batalhões o número de mor-
Conflito Inter-individual 5 1.2 capuzados e de tes dos civis, presumivelmente os
Acidente ou bala perdida 3 .7 confrontos poli- atacantes que ainda possuíam a
Outros 15 3.7 ciais. Os ataques vantagem do fator surpresa, é su-
Desconhecido 174 43.4 contra delega- perior ao número de vítimas poli-
cias e batalhões ciais, pelo menos de acordo com
Total 401 100
também provo- os registros oficiais.
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
cam um núme-
ro significativo A próxima tabela mostra a distri-
Dentre os 75 casos de confronto de vítimas policiais. Por sua vez, buição dos diferentes tipos de fa-
policial, os documentos permi- os civis morrem em maior medi- tos por dia, durante o período con-
tiram constatar que em 37 deles da como resultado de confrontos siderado (Tabela 10).
os policiais estavam em patru- policiais e de execuções sumárias,
lhamento rotineiro, em 15 casos particularmente as cometidas por
responderam a um chamado dos grupos encapuzados.
cidadãos e apenas 8 corresponde-
ram a operações especiais.
TABELA 9
Número de Vítimas de acordo com o Tipo de Vítima e a Tipologia dos Fatos
No de Agen- No de Agen- No de Civis No de Civis
tes Públicos tes Públicos Mortos Feridos
Mortos Feridos
Confronto com a polícia 16 7 118 4
Execução Sumária: 3 0 50 7
Individual
Execução Sumária: Grupo 16 2 35 27
Não-Encapuzado
Execução Sumária: Grupo 1 0 53 31
Encapuzado
Execução Sumária: Policiais 1 0 4 0
Ataques contra Delegacias 9 1 10 3
ou Batalhões
Conflito Inter-individual 0 0 6 0
Acidente ou bala perdida 1 0 2 0
Outros 1 0 21 19
Desconhecido 11 3 206 6
Total 59 13 505 97
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
- 14 -

TABELA 10
Número de Casos de acordo com a Tipologia e a Data
Data do Tipologia do Fato
fato Con- Execução Execução Execução Execução Ataques Conflito Acidente Outros Desco- Total
fronto Sumária: Sumária: Sumária: Sumária: contra Inter-in- ou bala nhecido
com a Individual Grupo Grupo Policiais Delegacias dividual perdida
polí- Não-Enca- Encapu- ou Bata-
cia puzado zado lhões
12/05/2006 2 4 4 2 0 2 0 0 0 4 18
13/05/2006 8 6 9 0 0 5 1 1 1 14 45
14/05/2006 12 6 11 7 1 0 0 1 4 32 74
15/05/2006 10 7 3 6 0 1 1 0 1 33 62
16/05/2006 22 2 6 5 0 1 1 0 0 15 52
17/05/2006 11 4 3 5 0 1 0 1 2 19 46
18/05/2006 2 3 2 3 0 1 0 0 0 7 18
19/05/2006 3 2 0 0 1 0 0 0 0 5 11
20/05/2006 1 0 0 1 0 1 0 0 0 3 6
21/05/2006 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
Desconhe- 4 10 0 2 1 0 2 0 7 42 68
cida
Total 75 44 38 32 3 12 5 3 15 174 401
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.

O quadro que estes dados reve- ção suficiente para determinar sua Em suma, confirma-se o quadro de
lam pode ser resumido da forma tipologia também aumenta nas uma série de ataques contra poli-
seguinte. Os ataques indiscrimi- mesmas datas em que se incre- ciais concentrados, sobretudo, nos
nados contra policiais acontecem, mentam os confrontos policiais dois primeiros dias, seguidos de
sobretudo, nos dias 12 e 13. As e as execuções, incluindo as co- uma reação dupla: operações po-
execuções sumárias cometidas metidas por encapuzados, o que liciais e intervenção de grupos de
por indivíduos e por grupos não reforça a suspeita de que uma extermínio encapuzados, ambas
encapuzados correspondem mais proporção significativa pode cor- particularmente intensas durante
do que nada aos dias 13 ao 15. responder, na verdade, aos casos os quatro dias que se seguiram aos
Por sua vez, o ponto mais alto dos descritos anteriormente. ataques dos dois primeiros dias.
casos de mortes em confronto po-
licial e pela atividade dos grupos Uma análise paralela, no entanto Maiores detalhes dos cruzamentos
encapuzados pode ser situado mais precisa, pode ser realizada entre tipo de vítima, tipo de fato
entre os dias 14 a 17. Em outras contabilizando as vítimas por tipo e data podem ser conferidos no
palavras, o cenário é condizente de fato e data, ao invés de conside- Apêndice 1.
com mortes de civis que são re- rar apenas os fatos como na tabe-
sultado não exatamente da reação la anterior. Alguns dos resultados
dos agentes públicos no momento mais destacados são os seguintes:
em que estes estavam sendo ata- a) 7 dos 9 agentes públicos mor-
cados, mas, sobretudo, de opera- tos em ataques contra prédios
ções policiais, presumivelmente policiais morreram entre os dias
de represália, acontecidas nos dias 12 e 13 de maio;
posteriores. Da mesma forma, a b) 93 das 118 mortes de civis em
atuação dos grupos encapuzados, confrontos com a polícia tiveram
dentro dos quais há suspeita da lugar entre os dias 14 e 17 de maio;
participação de policiais, também c) 43 dos 53 civis executados por
se produz como uma represá- grupos encapuzados acontece-
lia aparente aos ataques iniciais. ram também nesse mesmo perí-
O número de casos sem informa- odo: 14 a 17 de maio.
- 15 -

6. OUTRAS CARACTERÍSTICAS Quanto ao tipo TABELA 12


DOS CASOS REGISTRADOS de local, a grande Número de Casos por Tipo de Local
maioria dos epi- Freqüência %
Como já foi mencionado, os ca- sódios acontece,
Via pública 241 60.1
sos estão bastante repartidos por como caberia espe-
rar, na via pública, Estabelecimento comercial 27 6.7
toda a geografia paulista, sendo
que a cidade de São Paulo con- ou em prédios de Residência 24 6.0
centrou menos de 20% deles. Em acesso público. Um Prédio Público 15 3.7
algo mais de um quarto dos casos, pequeno número Presídio 7 1.7
os documentos não permitiam es- de casos acontece Veículo Particular 5 1.2
tabelecer o município em que o na residência das ví-
Outro 1 .2
fato tinha acontecido (Tabela 11). timas (Tabela 12).
Não consta 81 20.2
Total 401 100.0
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.

TABELA 11
Número de Casos de Morte por Arma de Fogo Registrados no período, por Município
Número % Número % Número %
de Casos de Casos de Casos
Americanó- 1 0.2 Itapecerica 3 0.7 Santana de 1 0.2
polis da Serra Parnaíba
Arujá 2 0.5 Itapevi 5 1.2 Santo Amaro 3 0.7
Barueri 1 0.2 Itaquaque- 6 1.4 Santo André 8 2.0
Bertioga 1 0.2 cetuba Santos 15 3.7
Birituba 1 0.2 Jaçanã 1 0.2 São Ber- 2 0.4
Mirim Jandira 6 1.5 nardo do
Brasilândia 2 0.5 Jardim Her- 1 0.2 Campo
Campinas 1 0.2 culano São José do 3 0.7
Jundiaí 4 0.9 Rio Preto
Campo 2 0.5
Limpo Leme 1 0.2 São José dos 4 0.9
Campos
Capaicuíba 1 0.2 Limeira 3 0.7
São Mateus 2 0.4
Capão Re- 1 0.2 Marília 1 0.2
dondo São Paulo 69 17.2
Mauá 6 1.5
Caraguata- 5 1.2 São Sebas- 2 0.4
Mogi das 4 1.0
tuba tião
Cruzes
Carapicuíba 10 2.4 São Vicente 12 2.9
Osasco 18 4.4
Cosmópolis 1 0.2 Serrana 1 0.2
Pacaembu 1 0.2
Diadema 4 1.0 Sorocaba 1 0.2
Parada 1 0.2
Embu 1 0.2 Taipas Suzano 7 1.7
Ferraz de 1 0.2 Parelheiros 1 0.2 Taboão da 2 0.4
Vasconcelos Serra
Parque São 1 0.2
Franco da 1 0.2 Lucas Taubaté 1 0.2
Rocha Peruíbe - SP 1 0.2 Ubatuba 5 1.2
Guariba 1 0.2 Poá 5 1.2 MUNICÍPIO 113 28.0
Guarujá 12 3.0 DESCONHE-
Praia Grande 2 0.5 CIDO
Guarulhos 23 5.7 Ribeirão 5 1.2
Total 401 100.0
Hortolândia 1 0.2 Preto
Itaim Bibi 1 0.2
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
- 16 -

A grande maioria das mortes por GRÁFICO 2


arma de fogo neste período acon- Número de Casos segundo o Horário dos Fatos
tece no fim da tarde e no começo
da madrugada. Assim, 80% dos ca-
sos com horário conhecido (22%
do total não contavam com esta
informação) tiveram lugar entre as
6 horas da tarde e às 7 da manhã
(Gráfico 2).

Foi procurado nos documentos se


havia alguma menção a testemu-
nhas dos fatos acontecidos, para
além dos envolvidos diretamente.
Dado que o preenchimento dos
Boletins de Ocorrência nem sem-
pre é suficientemente claro nem Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
detalhado, não é fácil obter esta
informação de forma inequívoca. preservar o local. Das 316 vítimas pesquisas no Rio (Cano, 1997) mos-
De qualquer forma, pouco mais de mortais levadas ao hospital, sabe- traram que ao menos 49% das víti-
um terço dos documentos analisa- se que 23 delas chegaram mortas mas fatais de confrontos policiais
dos (39%) fazia menção à presen- e 264 vivas, morrendo logo poste- que foram socorridas já chegavam
ça de testemunhas civis. Embora riormente. mortas no hospital.
a exatidão dessa proporção não
possa ser garantida, pelos argu- No caso de confrontos policiais com Dentro do total de 401 casos, 76
mentos expostos acima, este dado vítimas civis fatais, 73 no total, 78% apresentam evidências de apreen-
é uma alerta no sentido de que deles mencionavam o transporte sões de armas de civis. Um total de
o relato dos documentos oficiais até o hospital. Considerando estas 139 armas foram apreendidas, na
pode ser considerado como uma vítimas civis mortas em confrontos sua grande maioria pistolas ou re-
versão baseada em informações policiais (um total de 118), mais de vólveres, embora figurem também
parciais, com freqüência oficiais, e 65% delas chegaram vivas no hos- 7 fuzis ou metralhadoras e 1 grana-
não necessariamente como uma pital. Estes dois últimos elementos da. Assim, apesar de que as armas
tradução exata da realidade. não permitem concluir que exista de repetição e grosso calibre pos-
em São Paulo uma prática policial, suem grande presença nos meios
Entre os episódios definidos como observada no Rio de Janeiro, de de comunicação, a grande maioria
“Confronto policial”, a proporção encaminhar para o hospital os ca- das armas com as quais os homi-
de casos com testemunhas era dáveres das vítimas de confrontos, cídios são cometidos parecem ser
algo superior (47%) ao geral e tam- inviabilizando assim a preceptiva armas curtas (Gráfico 3).
bém maior do que a encontrada perícia do local. Por exemplo, as
em pesquisas sobre letalidade po- GRÁFICO 3
licial no Rio de Janeiro (17%: Cano, Tipo de Arma de maior calibre apreendida em cada Caso
19974), por exemplo.

Um total de 62% dos casos anali-


sados faz menção ao fato de que
alguma das vítimas foi socorrida
para o hospital. O socorro só faz
sentido se existe a esperança de
que a vítima não tenha falecido
ainda, pois caso contrário os agen-
tes públicos deveriam se limitar a

4. Cano, Ignacio (1997) Letalidade da Ação


Policial no Rio de Janeiro. ISER. Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
- 17 -

As armas apreendidas apresenta- Apenas uma minoria dos casos Os resultados parecem indicar que
vam, em média, 5 projéteis defla- apresentava registros de laudos os policiais falecidos foram sur-
grados. Essa média, contudo, está periciais, embora, como já foi dito, preendidos e não tiveram tempo
influenciada pela existência de al- podem existir laudos não registra- de usar sua arma. Já no caso dos
guns valores isolados muito altos. dos nos documentos consultados. civis mortos, uma parte deles par-
De fato, quase a metade de todas Os mais freqüentes foram os relati- ticipou dos confrontos armados.
as armas (46%) apresentavam até 4 vos às perícias das armas. Entre as Entre os sobreviventes, uma mi-
projéteis deflagrados, o que suge- 55 realizadas, encontraram-se 43 noria apresentou vestígios de ter
re tiroteios relativamente curtos. armas aptas para disparo, 37 que atirado. Contudo, é preciso insistir
tinham efetuado um disparo re- em que o exame residuográfico é
Além das armas, um total de 13 cente e 11 armas municiadas. Este de confiabilidade limitada e não
casos registraram apreensão de quadro confirma que muitas des- é recomendado como prova con-
explosivos e 8 casos registraram sas armas foram, de fato, utilizadas sistente pelos peritos nos últimos
apreensão de drogas, quase todos em confrontos armados. anos.
eles classificados dentro da tipolo-
gia de confrontos policiais. A seguir, foram registrados 54 lau- Entre as outras perícias realizadas,
dos de resíduos de pólvora nas destacam as perícias do local do
Em cada caso, foram registrados e mãos dos envolvidos, com os se- crime e os laudos balísticos.
analisados os laudos periciais de guintes resultados (Tabela 14).
diverso tipo que foram encami-
nhados. Obviamente, não é possí-
vel afirmar que os laudos registra- TABELA 14
dos representem a totalidade dos Resumo de resultados dos Laudos Residuográficos,
efetivamente realizados nestes in- por Caso e Tipo de Vítima
quéritos, apenas aqueles que esta-
Tipo de Vítima Casos com alguma Víti- Casos com alguma Víti-
vam registrados nos documentos
ma (desse tipo) com ma (desse tipo) com
a que tivemos acesso. Resultado Positivo Resultado Negativo
POLICIAIS FALECIDOS 0 16
Mesmo assim, esta informação da
uma idéia de que tipos de provas POLICIAIS SOBREVIVEN- 8 52
podem existir para esclarecer estas TES
mortes. CIVIS FALECIDOS 13 57
CIVIS SOBREVIVENTES 3 12
O resumo dos laudos encontrados Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
pode ser observado na seguinte
tabela (Tabela 13).
Das 23 perícias do local realizadas,
4 acharam vestígios de sangue, 5
TABELA 13 encontraram projéteis e 3 cartu-
Laudos periciais registrados, por Tipo chos ou estojos. Esta perícia do lo-
Número de % sobre o total cal é de extrema importância para
Casos de casos o esclarecimento dos fatos, mas
PERÍCIA DA ARMA 55 13,7% em ocasiões fica prejudicada pelo
PERÍCIA DO LOCAL 23 5,7% fato de que a vítima, ainda viva, é
removida para o hospital, ou pela
LAUDO BALÍSTICO 23 5,7%
falta de preservação do local. No
LAUDO RESIDUOGRÁFICO 54 13,5% conjunto de casos analisados, hou-
LAUDO TOXICOLÓGICO 7 1,7% ve menção de remoção para o hos-
PERÍCIA DE VEÍCULO 7 1,7% pital em 250 casos. Assim, caberia
OUTROS LAUDOS 2 0,5% esperar uma perícia de local de, no
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP. mínimo, os 151 casos restantes,
mas apenas 23 foram registradas.
- 18 -

7.PERFIL DAS VÍTIMAS GRÁFICO 4


FATAIS Número de Vítimas Fatais por Faixa Etária

Aproximadamente 96%
dos falecidos eram ho-
mens e o resto mulheres.
A idade era conhecida
apenas em dois de cada
três casos. Entre eles, pre-
dominam, como caberia
esperar, os jovens. Mais
de 80% dos mortos eram
menores de 36 anos (Grá-
fico 4).

A idade média dos ca-


sos conhecidos foi de 27
anos e meio, o que coin-
cide com o perfil geral
das vítimas de homicí-
dio no Brasil, que corres-
ponde a homens jovens.

Em relação à cor, a meta-


de dos mortos com infor-
mação válida era de cor Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
branca e a outra metade
parda ou preta (Gráfico 5).
Apenas um terço das vítimas mor-
tais tem informação sobre o seu
GRÁFICO 5
nível educacional. Entre elas, mais
Número de Vítimas Fatais por Cor
de 70% estudou só até o primei-
ro grau. Só três entre os falecidos
tinham estudos universitários,
o que confirma que as vítimas
possuem uma origem de classe
média-baixa e baixa, que é tam-
bém o perfil característico das
vítimas de homicídio no Brasil.

A informação sobre o estado civil


está disponível para 6 de cada 10
falecidos. Entre eles, 78% são sol-
teiros. Diversas pesquisas mostram
que os solteiros, de fato, apresen-
tam um maior risco de vitimização
letal do que o resto da população.

Os documentos estudados re-


gistram antecedentes criminais
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP. apenas para 6% das vítimas fatais,
mas é possível que existam outros
casos que não foram notificados
- 19 -

nos documentos disponibilizados. equipe de pesquisa utilizou ou-


Mesmo levando-se em conside- tro desenho do corpo humano, TABELA 15
ração a falta de informação nos semi-transparente e superposto Número de orifícios de entrada
documentos, fica evidente que ao original, para codificar as áre- de projétil de arma de fogo, por
os confrontos não acontecem na as anatômicas da mesma forma cadáver
tentativa de prender suspeitos co- em todos os casos. Entretanto, Freqüên- % % acu-
nhecidos com mandato judicial, nem todos os laudos cadavéri- cia mulado
mas em combates com opositores, cos contavam com os desenhos 1 52 11.6 11.6
quase sempre desconhecidos. da figura humana, razão pela
2 70 15.7 27.3
qual esta análise será restringida
3 69 15.4 42.7
apenas àqueles laudos com esse
8. ANÁLISE DOS LAUDOS tipo detalhe; 4 63 14.1 56.8
NECROSCÓPICOS • Caracterização da distância dos 5 43 9.6 66.4
disparos (a curta distância ou à 6 48 10.7 77.2
Foram obtidos e processados um distância) pela presença de zo- 7 30 6.7 83.9
total de 447 laudos necroscópicos nas de contorno no orifício de
8 17 3.8 87.7
relativos a mortos por arma de entrada: disparos à queima-rou-
pa (com orifícios de entrada com 9 20 4.5 92.2
fogo no período considerado.
tatuagem, esfumaçamento ou 10 10 2.2 94.4
O propósito da análise dos laudos queimadura), efetuados a menos 11 7 1.6 96.0
necroscópicos é o exame de pos- de 50cm de distância, são o indi- 12 6 1.3 97.3
síveis indícios de execuções su- cador mais claro de execução; 13 4 .9 98.2
márias nos episódios acontecidos. • Presença de outras lesões não
14 2 .4 98.7
Nesse sentido, os parâmetros mais relacionadas com a ação de pro-
jétil de arma de fogo: embora seja 16 1 .2 98.9
relevantes são os seguintes:
• Número de disparos: um núme- possível que algumas vítimas de 18 1 .2 99.1
ro elevado de orifícios de entra- confronto armado sofram outras 19 1 .2 99.3
da correspondentes a projéteis lesões (equimoses, etc.) na que- 20 1 .2 99.6
de arma de fogo são um indício da, após ter sido atingidas pelos 22 1 .2 99.8
de execução; disparos, quando a proporção
27 1 .2 100.0
• Localização anatômica dos ori- de mortos com outras lesões é
grande, isto pode revelar que Total 447 100.0
fícios de entrada de projéteis de Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segu-
arma de fogo: em confrontos algumas delas foram golpeadas rança Pública SP.
armados, espera-se um maior antes de serem executadas.
número de impactos no tórax
frontal, que é área de máxima A distribuição do número de ca- no Rio de Janeiro (4,3) em que há
superfície do opositor. Disparos dáveres de acordo com o número forte suspeita da existência de
freqüentes na região posterior, de orifícios de entrada de projétil execuções sumárias.
pelas costas, revelam que a ví- de arma de fogo (PAF), ou seja, de
tima provavelmente estava fu- acordo com o número de disparos Como já foi explicado, a análise
gindo e não confrontando quem que impactaram o corpo da pes- da localização dos disparos só é
atirou sobre ela. Da mesma for- soa, foi a seguinte (Tabela 15). possível para aquelas vítimas cujo
ma, um elevado número de dis- laudo dispõe do desenho da figura
paros na cabeça também é forte Mais de metade dos mortos foi humana com a marcação dos orifí-
indicador de execução sumária. atingida por mais de 3 projéteis, e cios de entrada. Assim, a amostra
Os dados sobre a localização dos aproximadamente 10% deles teve para esta análise diminui para 362
disparos foram analisados a par- mais de 8 impactos, o que sugere mortos.
tir do desenho da figura humana tentativa de execução. A média de
que acostuma acompanhar ao projéteis por cadáver é de 4.8, um O número de balas que atingiu
laudo cadavérico e que marca valor bastante elevado, superior cada região anatômica pode ser
os orifícios de entrada e saída inclusive ao encontrado em pes- resumido da forma seguinte (Grá-
dos projéteis de arma de fogo. A quisas sobre confrontos policiais fico 6).
- 20 -

A área mais atingida é, como cabe-


GRÁFICO 6
ria esperar, o tronco. No entanto, a
Número de Orifícios de Entrada de PAF por Região Anatômica
proporção de disparos que impac-
tou na cabeça das vítimas é muito
elevada, pois para cada dois dis-
paros no tronco há um na cabeça
(800 versus 405), o que revela que
em muitos casos a intenção do
autor foi mesmo matar a vítima e
condiz com a hipótese de um alto
número de execuções sumárias.
De fato, 60% dos cadáveres apre-
sentavam pelo menos um disparo
na cabeça.

A tabela (Tabela 16) e o gráfico5


(Gráfico 7) abaixo permitem ava-
liar as regiões anatômicas dos im-
pactos de forma mais detalhada.

Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.


TABELA 16
Número de Orifícios de Entrada de
PAF por Região Anatômica
Número Total
de Orifícios
Anterior Tórax 395 GRÁFICO 7
Anterior Cabeça 229 Número de Orifícios de Entrada de PAF por Região Anatômica
Posterior Dorsal 197
Posterior Cabeça 157
Anterior Abdômen 136
Anterior Braços 113
Anterior Pernas 98
Posterior Braços 88
Posterior Pernas 67
Posterior Lombar 61
Posterior Mãos 30
Lateral Cabeça 19
Anterior Mãos 17
Lateral Tórax 6
Lateral Braços 5
Lateral Pernas 4
Lateral Abdômen 4
Lateral Mãos 1
Lateral Dorsal 1 Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança
Pública SP.

5. O gráfico não contém as áreas de menor


freqüência para facilitar a visualização.
- 21 -

Entre todas as áreas, a que repre- Em seguida, vamos analisar esses em maior medida, de tentativas de
senta maior preocupação é a área indicadores de uso excessivo da execução.
posterior da cabeça, com mais de força de acordo com a data, o tipo
150 disparos, uma área de altís- de vítima e o tipo de fato. Por outro lado, o número de dis-
sima letalidade e muito difícil de paros varia significativamente em
ser atingida num confronto arma- A média de orifícios de entrada por função do tipo de fato, como mos-
do genuíno. Nesse sentido, outro vítima evolui da forma seguinte dia tram a tabela (Tabela 18) e o gráfi-
ponto importante é que o número a dia (Tabela 17). co (Gráfico 8) seguintes.
de disparos na região posterior da
cabeça é próximo do número da TABELA 17 TABELA 18
região posterior dorsal, que é Número médio de orifícios de Número médio de orifícios de en-
uma área de muita maior super- entrada de PAF por vítima, trada de PAF por vítima, segundo
fície e menor letalidade. Um to- segundo o dia o Tipo de Fato
tal de 27% das vítimas apresenta Data do Média de Núme- Tipologia do Média Número
pelo menos um disparo na parte Fato orifícios de ro de fato de Orifí- de Víti-
posterior da cabeça. entrada Vítimas cios de mas
12 de maio 5.73 15 Entrada
No cômputo total, os cadáveres de 2006 Desconhecido 4.88 184
apresentaram 988 orifícios na 13 de maio 4.56 41 Confronto 3.62 94
região frontal e 600 na região de 2006 com a polícia
posterior, isto é, podemos esti- 14 de maio 4.75 96
mar que de cada cinco disparos, Acidente ou 2.33 3
de 2006 bala perdida
quase dois foram pelas costas,
15 de maio 4.58 73 Execução 4.45 47
o que revela uma clara tentati- de 2006
va homicida em muitos casos. sumária: indi-
16 de maio 4.61 64 vidual
Com efeito, 57% dos cadáveres
de 2006 Execução su- 7.11 37
apresentam pelo menos um dis-
paro na região posterior. 17 de maio 5.12 58 mária: grupo
de 2006 não encapu-

18 de maio 4.61 18 zado
Aproximadamente um de cada
10 cadáveres, 48 no total, apre- de 2006 Execução su- 5.59 44
19 de maio 2.63 8 mária: grupo
senta sinais de disparos feitos à
de 2006 encapuzado
queima-roupa, o sinal mais claro
de execução. Um total de 41 ca- 20 de maio 1.75 4 Execução 7.67 3
de 2006 sumária: poli-
dáveres tem ao menos um orifí-
ciais
cios de entrada com tatuagem, Total 4.68 377
12 têm ao menos um orifício de Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segu- Conflito inte- 2.75 4
rança Pública SP. rindividual
entrada com esfumaçamento e
3 têm ao menos um orifício de en- Não parece existir uma tendência Ataques con- 2.69 13
trada com queimaduras, este últi- clara de mudança no tempo relati- tra Delegacias
ou Batalhões
mo produto de um cano da arma va ao número de disparos. A única
muito próximo da pele da vítima diferença perceptível é uma redu- Outros 5.56 18
ou encostado. ção nos últimos dois dias, mas o Total 4.77 447
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança
número de casos nesse período é Pública SP.
Das 48 vítimas, seis têm dos orifí- pequeno demais para estabelecer
cios e uma tem três orifícios com conclusões.
disparos à queima-roupa. Os eventos com maior número
O número médio de orifícios de de disparos são, conforme cabe-
Um total de 75 vítimas fatais (17%) entrada é superior para as vítimas ria esperar, as execuções sumárias
apresenta lesões adicionais diferen- que eram agentes públicos (6,3) cometidas por grupos de qualquer
tes das provocadas pelas armas de do que para o resto (4,6). Isto su- espécie, pois, com alta probabili-
fogo. gere que os agentes públicos, po- dade, mais de um agressor atirou
liciais sobretudo, foram vítimas, simultaneamente contra a mesma
- 22 -

vítima. As vítimas de confrontos GRÁFICO 8


com a polícia sofrem um menor Número médio de orifícios de entrada de PAF por vítima,
número de disparos, o que é con- segundo o Tipo de Fato
dizente com a expectativa de que
os confrontos policiais, ao menos
na maioria dos casos, são confron-
tos verdadeiros e não tentativas
de execução. Os ataques contra
Delegacias ou Batalhões também
provocam um menor número de
disparos nas vítimas, no mesmo
patamar que os conflitos inter-
individuais, como era esperado.
Por último, embora o número de
casos seja muito pequeno, o me-
nor número de tiros corresponde
a acidentes ou balas perdidas, cir-
cunstâncias em que a vítima não
foi atingida intencionalmente.
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
A evolução das áreas ana-
TABELA 19
tômicas atingidas, dia a dia,
Proporção de Vítimas com ao menos um disparo na região posterior
é relativamente variável,
ou na cabeça, por dia
mas sem uma tendência
clara ao longo do período. Data do Fato ao menos um com ao menos
A tabela seguinte (Tabela disparo na região um disparo na
posterior cabeça
19) mostra a proporção das
vítimas que apresentam ao 12 de maio de 2006 % de vítimas com 46 77
menos, respectivamente, Número de vítimas 13 13
um disparo na região pos- 13 de maio de 2006 % de vítimas com 54 62
terior, ou um disparo na Número de vítimas 37 37
cabeça. A variação de uma
14 de maio de 2006 % de vítimas com 60 65
data para outra é maior
no caso dos disparos na Número de vítimas 75 75
cabeça, mas também não 15 de maio de 2006 % de vítimas com 55 57
há uma tendência clara, Número de vítimas 60 60
pois a uma diminuição ini- 16 de maio de 2006 % de vítimas com 45 41
cial segue um aumento a Número de vítimas 51 51
partir do dia 15. Por outro
17 de maio de 2006 % de vítimas com 64 62
lado, no começo e no final
do período, os totais são Número de vítimas 47 47
pequenos demais para es- 18 de maio de 2006 % de vítimas com 50 75
tabelecer uma tendência Número de vítimas 12 12
confiável. 19 de maio de 2006 % de vítimas com 57 86
Número de vítimas 7 7
A proporção de vítimas
20 de maio de 2006 % de vítimas com 75 25
com disparos que indi-
cam intenção de matar, Número de vítimas 4 4
nas costas e na cabeça, é Sem data % de vítimas com 64 64
semelhante para os civis e Número de vítimas 56 56
os agentes públicos, mas Total % de vítimas com 57 60
levemente mais alta nes-
Número de vítimas 362 362
tes últimos. Isto confirma, Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
- 23 -

mais uma vez, que as víti- TABELA 20


mas fatais policiais sofrem Proporção de Vítimas com ao menos um disparo na região
em maior grau tentativas de posterior ou na cabeça, por Tipo de Vítima
execução sumária (Tabela
É agente público? Ao menos um disparo na Ao menos um dispa-
20). região posterior ro na cabeça
Não % de vítimas com 57 60
Como caberia esperar, os
disparos nas costas e na ca- Número de vítimas 332 332
beça são mais freqüentes Sim % de vítimas com 60 63
justamente nos episódios Número de vítimas 30 30
classificados como tentati- Total % de vítimas com 57 60
vas de execução, especial- Número de vítimas 362 362
mente aqueles cometidos
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
por grupos, nos quais é
provável que vários atira-
dores tenham atingido a TABELA 21
vítima simultaneamente. A Proporção de Vítimas com ao menos um disparo na região
proporção de disparos sus- posterior ou na cabeça, por Tipo de Fato
peitos de execução é bem Data do Fato Ao menos um Ao menos um
menor nos casos de mortos disparo na região disparo na
em confronto com a polícia, posterior cabeça
no entanto é ainda superior Desconhecido % de vítimas com 63 68
ao que caberia esperar, par-
Número de vítimas 143 143
ticularmente no relativo aos
disparos pelas costas, que Confronto com a % de vítimas com 27 26
polícia Número de vítimas 82 82
deveriam ser mais raros (Ta-
bela 21).
Acidente ou bala % de vítimas com 67 33
perdida Número de vítimas 3 3
A evolução dos casos com
orifícios de entrada com ta-
tuagem, esfumaçamento ou Execução sumária: % de vítimas com 73 70
individual Número de vítimas 40 40
queimadura, isto é, com dis-
paros à queima-roupa, não
apresenta uma tendência Execução sumária: gru- % de vítimas com 75 75
po não encapuzado Número de vítimas 32 32
clara no tempo (Tabela 22).
Execução sumária: % de vítimas com 78 72
grupo encapuzado Número de vítimas 32 32

Execução sumária: % de vítimas com 100 100


policiais Número de vítimas 3 3

Conflito interindividual % de vítimas com 100 0


Número de vítimas 1 1
Ataques contra Dele- % de vítimas com 00 75
gacias ou Batalhões Número de vítimas 12 12

Outros % de vítimas com 71 86


Número de vítimas 14 14
Total % de vítimas com 57 60
Número de vítimas 362 362
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
- 24 -

TABELA 22 O único resultado mais des-


Número de Vítimas com disparos à queima-roupa, por dia toante é a redução dos ca-
Data do Fato Presença de disparos à Total Razão entre casos com sos de disparos à queima-
queima-roupa e sem queima-roupa roupa no dia 15 e no dia 19,
Não Sim embora neste último caso
o número de vítimas seja
12 de maio de 2006 13 2 15 0.15
de qualquer modo bastan-
13 de maio de 2006 33 7 40 0.21 te reduzido.
14 de maio de 2006 86 10 96 0.12
15 de maio de 2006 68 2 70 0.03 Os disparos à queima-rou-
16 de maio de 2006 57 7 64 0.12 pa são relativamente mais
17 de maio de 2006 47 7 54 0.15 freqüentes contra agentes
públicos do que contra ci-
18 de maio de 2006 15 3 18 0.20
vis (Tabela 23).
19 de maio de 2006 8 0 8 0.00
20 de maio de 2006 3 1 4 0.33 Um em cada dez civis e um
Sem data 60 9 69 0.15 em cada quatro agentes
públicos foram vítimas de
Total 390 48 438 disparos efetuados a curta
distância. Isto confirma o
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
resultado anterior de que
TABELA 23 os agentes públicos, mais
Número de Vítimas com disparos à queima-roupa, por Tipo de Vítima do que nada policiais, quan-
do são mortos, são vítimas
Agente Presença de disparos Total Razão entre casos com e sem
em maior medida de execu-
Público? à queima-roupa queima-roupa
ções sumárias.
Não Sim
Não 362 41 403 0.11 O cruzamento dos disparos
Sim 28 7 35 0.25 a curta distância com o tipo
Total 390 48 438 de fato não é muito revela-
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
dor, pois 26 das 48 vítimas
afetadas por orifícios com
sinais de queima-roupa cor-
TABELA 24
respondem a episódios de
Número de Vítimas com disparos à queima-roupa, por Tipo de Fato tipo desconhecido. A segunda
Tipologia do fato Presença de disparos à Total categoria mais freqüente são
queima-roupa as execuções sumárias, de di-
Não Sim Não versos tipos, como poderia se
Desconhecido 154 26 180 esperar (Tabela 24).
Execução sumária: grupo não encapuzado 27 8 35
O dado mais preocupante, pela
Execução sumária: grupo encapuzado 37 4 41
ótica dos direitos humanos, é
Confronto com a polícia 90 4 94
a existência de 3 civis mortos
Ataques contra Delegacias ou Batalhões 10 3 13 com disparos à queima-roupa
Execução sumária: individual 45 2 47 em confronto com a polícia e
Execução sumária: policiais 3 0 3 outros 3 civis com disparos à
Conflito interindividual 4 0 4 queima-roupa mortos em ata-
ques a delegacias e batalhões.
Acidente ou bala perdida 3 0 3
Esse é o indício mais claro, até
Outros 17 1 18 agora, de que algumas das in-
Total 390 48 438 tervenções policiais podem ter
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP. se traduzido em execuções su-
márias.

- 25 -

As vítimas com lesões diversas das tecem, como seria de


produzidas por arma de fogo con- se esperar, em episó- TABELA 26
centram-se sobretudo, nos dias 14 dios de execução su- Número de Vítimas com lesões diferentes
a 17 de maio, mas o número de ca- mária (Tabela 26). às provocadas por PAF,
sos é pequeno (Tabela 25). segundo o Tipo de Fato
Por último, realizamos Tipologia do fato Número de
TABELA 25 uma análise dos da- Vítimas
Número de Vítimas com lesões dos médico-legais dos Desconhecido 31
diferentes às provocadas por civis mortos em episó- Confronto com a polícia 12
PAF, segundo o dia dios de confronto com Execução sumária: 8
Data do Fato Número a polícia, que repre- individual
de Vítimas sentam um total de 78
Execução sumária: grupo 9
12 de maio de 2006 2 vítimas. Os resultados não encapuzado
13 de maio de 2006 6 são comparados com
Execução sumária: grupo 10
os do conjunto das ví-
14 de maio de 2006 18 encapuzado
timas de todos os tipos
15 de maio de 2006 10 de fato e também com Execução sumária: policiais 1
16 de maio de 2006 12 os das vítimas civis de Conflito interindividual 1
17 de maio de 2006 11 confrontos policiais no Ataques contra policiais 0
18 de maio de 2006 3 Rio de Janeiro durante Outros 3
19 de maio de 2006 2 os anos 90 (Cano, 1997, Total 75
op. Cit.) (Tabela 27). Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
20 de maio de 2006 1
Sem data 10
Total 75
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segu-
rança Pública SP.

Das 75 vítimas com este TABELA 27


tipo de lesões, 66 são civis Indícios médico-legais de execução sumária nos Confrontos Policiais,
e 9 agentes públicos. Isso no Total dos Casos e no Rio de Janeiro
significa que, de acordo
São Paulo- Maio São Paulo- Rio de Janeiro
com as necropsias ana- 2006: Confrontos Maio 2006: 1993-1996:
lisadas, 16% dos civis e policiais Total Confrontos
24% dos agentes públicos Policiais
apresentavam lesões in- Média de Disparos por 3,7 4,8 4,3
compatíveis com arma de Cadáver
fogo. Mais uma vez, este
Proporção de vítimas com 26% 57% 65%
dado indica que a proba- pelo menos um disparo na
bilidade das vítimas poli- região posterior
ciais terem sofrido execu- Proporção de vítimas com 24% 60% 61%
ções sumárias é maior do pelo menos um disparo na
que a das vítimas civis. cabeça
Proporção de vítimas com 3 em 78 60 em 362 40 em 697
Uma boa parte destas le- disparos à queima-roupa (3,8%) (16,6%) (5,7%)
sões ocorre em episódios
Proporção de vítimas com 10 em 78 35 em 362 222 em 697
de tipo desconhecido. No lesões adicionais e diferen- (12,8%) (9,7%) (31,8%)
entanto, o fato de que 10 tes às provocadas por PAF
mortos civis apresentem
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP. (Cano, 1997, op. cit.)
lesões dessa forma após
confrontos com a polícia
é um dado relevante. No
resto, muitos casos acon-
- 26 -

Estes civis mortos em confronto No entanto, o valor dos indicado- Por outro lado, vale lembrar que
com a polícia apresentavam um res ainda é preocupante e revela os B.O.s representam, naturalmen-
mínimo de um disparo e um má- que, ao menos em alguns casos, te, a versão oficial dos fatos, a dos
ximo de 12, com uma média de 3,7 há claros indícios de uso excessivo agentes públicos, pois na maioria
disparos por cadáver. Este valor é da força por parte da polícia e há deles não há testemunhas civis
inferior ao do total dos casos e a possibilidade de existência de ca- para corroborá-los.
dos confrontos policiais no Rio de sos de execução sumária. Por outro
Janeiro, mas ainda é superior ao lado, vale lembrar que os casos de 2
que caberia esperar, supondo que confronto policial são aqueles em
em geral um ou dois disparos são que há evidências da participação Os ataques do PCC e as respostas
suficientes para imobilizar a vítima. de policiais, mas não significa que decorrentes dos mesmos entre os
não existam outros episódios em dias 12 e 21 de maio de 2006 pro-
A proporção de vítimas com dispa- que não possa haver envolvimen- vocaram que o número de mortes
ros pelas costas (26%) é sensivel- to de policiais, sobretudo de forma por armas de fogo fosse 3 a 4 vezes
mente inferior à do total dos casos oculta. superior ao número esperado para
e à dos confrontos no Rio de Janei- esse período, estimado com base
ro, mas o valor é ainda superior ao nos dados do Sistema de Informa-
esperado. 9. CONCLUSÕES ções de Mortalidade do Ministério
da Saúde. No total, o saldo atribu-
A proporção de vítimas com dis- 1 ível a este episódio pode ser esti-
paros na cabeça (24%) apresenta mado em aproximadamente 400
um resultado semelhante ao dos O presente estudo está baseado, mortos, exclusivamente nesses 10
disparos na região posterior. fundamentalmente, em laudos dias e sem prejuízo de um impac-
cadavéricos e Boletins de Ocor- to adicional nos dias posteriores. É
A proporção de vítimas com dis- rência relativos a mortes por arma de extrema importância que seja
paros à queima-roupa (3,8%) tam- de fogo acontecidas no estado de pesquisado em que medida estes
bém é inferior à encontrada no São Paulo entre os dias 12 e 21 de dramáticos eventos invertiram a
total dos casos e no Rio, mas é cla- maio de 2006. Um total de 564 tendência de queda dos homicí-
ramente superior ao que deveria, mortes foram registradas nos do- dios no estado de São Paulo nos
pois, a princípio não deveria haver cumentos que foram fornecidos últimos anos.
nenhum caso de disparo à quei- sob o critério acima mencionado.
ma-roupa em confrontos policiais. 3
Não é possível separar com exa-
Já a proporção de vítimas com le- tidão quais episódios correspon- As mortes por arma de fogo no pe-
sões diferentes às provocadas por dem exatamente aos ataques (e as ríodo considerado acontecem es-
PAF (12,8 %) é algo mais alta do respostas aos mesmos) e quais são palhadas por todo o Estado de São
que a encontrada no conjunto dos devidos a outros tipos de violên- Paulo, geralmente na via pública no
casos, mas ainda inferior à encon- cia. A narrativa dos fatos que apa- fim da tarde ou no começo da ma-
trada no Rio de Janeiro. rece nos Boletins e a participação drugada. As armas de civis apreen-
ou não de agentes públicos são didas nesses episódios são sobretu-
Em suma, os indicadores médico- elementos que ajudam, indireta- do armas curtas e com um número
legais correspondentes às vítimas mente, a este propósito. No entan- reduzido de projéteis deflagrados,
civis falecidas em confronto com to, não foi possível obter o B.O. em o que sugere tiroteios curtos.
a polícia não são tão negativos todos os casos, e em muitos deles
quanto os encontrados no conjun- o relato dos fatos não é suficiente- 4
to dos casos, entre os quais há nu- mente esclarecedor. Por outro lado,
merosos episódios de execuções a participação de agentes públicos As vítimas fatais desses eventos
sumárias reconhecidas, e estão ain- também não pode ser estabeleci- são quase todas de sexo masculi-
da mais distantes dos encontrados da para além de toda dúvida em no, jovens, com reduzida escolari-
nos confrontos policiais no Rio de todos os casos, particularmente dade, solteiros e, aparentemente,
Janeiro nos anos 90, contexto em considerando a possibilidade de sem antecedentes penais. Esse é o
que as evidências de execuções su- que alguns policiais participem de perfil geral das vítimas de homicí-
márias eram muito contundentes. forma oculta. dio no Brasil.
- 27 -

5 porção de execuções sumárias: de força em confrontos policiais


média de 4,8 disparos por vítima durante o período não sejam tão
Embora os ataques contra agentes fatal; 60% delas com pelo menos negativos quanto os encontrados
públicos fossem o estopim do epi- um disparo na cabeça; 27% com no conjunto total de casos, ou
sódio, o número de civis mortos nes- pelo menos um disparo na nuca; quanto os registrados no Rio de Ja-
ses dias é sensivelmente maior do 57% delas com ao menos um dis- neiro, eles ainda são superiores ao
que o de agentes públicos mortos. paro na região posterior. De cada que caberia esperar, e apontam a
cinco disparos que impactaram as existência de uso excessivo da for-
Os ataques a delegacias e bata- vítimas, aproximadamente dois ça por parte da polícia em alguns
lhões e as mortes de agentes pú- foram feitos na região posterior, e casos. Nesse sentido, a indício mais
blicos aconteceram sobretudo nos para cada 2 disparos que atingiram claro de execução sumária nas in-
primeiros dias: 12 e 13 de maio. Por o tronco encontramos um disparo tervenções policiais é a existência
sua vez, as mortes de civis em epi- que atingiu a cabeça. Estes dados de 3 civis mortos em confronto
sódios que podem ser caracteriza- revelam que muitas dessas mortes com a polícia e 3 civis mortos após
dos como confontos com a polícia não aconteceram em confrontos ataques a delegacias e batalhões,
ou como execuções por grupos armados, mas em execuções em todos eles com disparos à queima-
encapuzados são mais freqüentes que a vítima não teve chance de roupa.
nos dias imediatamente posterio- defesa ou estava tentando escapar.
res: 14 a 17 de maio. Os autores en- O dado mais contundente neste
capuzados pretendem esconder sentido é a presença de 48 vítimas
suas identidades, provavelmente (1 em cada 10, aproximadamente)
por serem figuras identificáveis ou com sinais de disparos à queima-
com relação costumeira com as roupa, que dificilmente acontece-
pessoas ou com o local dos fatos. riam num confronto real.
Essa é uma característica tradicioal
dos grupos que trabalham como 7
justiceiros, em outras palavras, dos As tentativas de execução são mais
grupos de extermínio, dentro dos freqüentes e mais claras contra as
quais há registro histórico da par- vítimas que eram agentes públi-
ticipação de policiais. cos, como revela o fato de que o
número de disparos e a proporção
A conclusão principal que se pode de disparos na cabeça e na região
derivar é que as mortes de civis posterior, bem como a proporção
não aconteceram fundamental- de disparos à queima-roupa, se-
mente durante os ataques a po- jam superiores aos encontrados
liciais, como conseqüência da nas vítimas civis. O exame dos resí-
defesa destes últimos, mas em in- duos residuográficos, embora não
tervenções posteriores, que pode- seja uma prova muito confiável,
ríamos qualificar como represálias. apontou ao fato de que muitos
Estas intervenções são protagoni- dos policiais mortos não tiveram
zadas tanto por policiais, nos mes- tempo de utilizar a sua arma para
mos dias,como por grupos enca- se defender.
puzados. Esse resultado reforça a
suspeita de que agentes públicos 8
possam ter participado em grupos
de extermínio para vingar a morte Uma comparação dos dados mé-
dos companheiros. dicos legais nos casos classificados
como confronto policial com os
6 encontrados no resto dos casos,
e com os registrados em confon-
Os dados médicos legais contidos tos policiais no Rio de Janeiro nos
nos laudos cadavéricos apresen- anos 90, revelou o seguinte. Embo-
tam um cenário de uma alta pro- ra os indicadores de uso excessivo
- 28 -

APÊNDICE 1
Número de Vítimas por Tipo de Vítima, Tipo de Fato e Data,
para alguns tipos de fatos selecionados

Confronto com a polícia Execução Sumária: Individual Execução Sumária: Grupo


Não-Encapuzado
DATA Agentes Agentes Civis Civis Agentes Agentes Civis Civis Agentes Agentes Civis Civis
Públicos Públicos Mortos Feridos Públicos Públicos Mortos Feridos Públicos Públicos Mortos Feridos
Mortos Feridos Mortos Feridos Mortos Feridos
12/5/2006 1 0 3 1 2 0 2 0 4 2 0 0
13/05/2006 6 6 11 2 1 0 6 3 9 0 3 11
14/05/2006 1 0 24 0 0 0 6 1 3 0 12 4
15/05/2006 2 0 14 1 0 0 12 3 0 0 3 7
16/05/2006 6 1 35 0 0 0 2 0 0 0 12 1
17/05/2006 0 0 20 0 0 0 5 0 0 0 3 1
18/05/2006 0 0 2 0 0 0 3 0 0 0 2 3
19/05/2006 0 0 3 0 0 0 2 0 0 0 0 0
20/05/2006 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
21/05/2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Desconhe- 0 0 5 0 0 0 12 0
cida
TOTAL 16 7 118 4 3 0 50 7 16 2 35 27


Execução Sumária: Ataques contra Delegacias ou Desconhecido
Grupo Encapuzado Batalhões
DATA Agentes Agentes Civis Civis Agentes Agentes Civis Civis Agentes Agentes Civis Civis
Públicos Públicos Mortos Feridos Públicos Públicos Mortos Feridos Públicos Públicos Mortos Feridos
Mortos Feridos Mortos Feridos Mortos Feridos
12/5/2006 0 0 2 2 3 0 0 0 0 1 5 0
13/05/2006 0 0 0 0 4 1 4 1 2 1 12 1
14/05/2006 1 0 12 6 0 0 0 0 2 1 44 1
15/05/2006 0 0 13 7 2 0 1 0 1 0 38 3
16/05/2006 0 0 7 3 0 0 1 0 0 0 17 0
17/05/2006 0 0 11 4 0 0 1 0 3 0 21 1
18/05/2006 0 0 3 4 0 0 2 0 0 0 10 0
19/05/2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 0
20/05/2006 0 0 1 5 0 0 1 2 0 0 3 0
21/05/2006 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Desconhe- 0 0 2 0 3 0 50 0
cida
TOTAL 1 0 53 31 9 1 10 3 11 3 206 6
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