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Maio de 2009
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Relatório Final
Junho 2008
Equipe de Pesquisa: Andreia Marinho; Thais Lemos Duarte; Daniele Bragança de Souza; Daniele
Pereira; Sandra Regina Cabral.
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INTRODUÇÃO
por Conectas Direitos Humanos
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO................................................................................................................07
2. CONTEXTUALIZAÇÃO......................................................................................................07
9. CONCLUSÕES.....................................................................................................................26
APÊNDICE 1............................................................................................................................28
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3. OBJETIVOS, FONTES E Assim, foram estudados os Lau- alguns casos continham apenas
METODOLOGIA dos Necroscópicos elaborados e laudos (cadavéricos e às vezes de
O objetivo do presente estudo é assinados por médicos legistas outros tipos), e eles não costumam
triplo: de 23 Institutos Médico-Legais conter informação alguma sobre a
1. Estimar o impacto, em termos do Estado de São Paulo no pe- dinâmica dos fatos. Em suma, nem
de vítimas fatais, dos ataques do ríodo, cujas necropsias definiam sempre foi possível esclarecer os
PCC em maio de 2006 e das rea- a causa mortis como decorrente fatos que antecederam à morte
ções que eles suscitaram. de ferimentos por arma de fogo, nem, portanto, determinar se ela
2. Analisar as características da e também os Boletins de Ocor- era resultado dos ataques do PCC.
vitimização originada pelo epi- rência que descreviam fatos com- Será preciso abordar esta questão
sódio. patíveis com o critério de seleção. de forma indireta, em função das
3. Avaliar a existência de indícios informações disponíveis em cada
de execuções sumárias nesse Para que um caso fosse conside- caso.
período, com especial atenção rado era preciso contar ou com o
àquelas que pudessem ter sido B.O. ou com um Laudo Cadavérico. Assim, os B.O.s permitem conhecer
cometidas por agentes do Esta- Assim, os outros tipos de laudos em alguma medida as circunstân-
do. periciais foram utilizados como cias dos fatos, enquanto que os
dados complementares, mas ne- laudos cadavéricos contêm infor-
Para o primeiro objetivo, foram nhum caso foi aberto apenas com mações que podem ajudar a de-
solicitados os dados policiais com base nesse tipo de documentos, terminar a existência de intenção
o objetivo de criar uma série tem- entre outras razões porque eles homicida e de execução sumária.
poral de mortes por arma de fogo, não continham informação sufi-
dia a dia, nos últimos anos. Isto ciente sobre os fatos acontecidos. Os Boletins de Ocorrência permi-
permitiria estimar o número de tem extrair informações sobre di-
mortes esperadas nesse período Cumpre esclarecer que a principal versas dimensões, entre outras:
se não tivesse acontecido nada dificuldade para estudar os casos 1. O local, a data e a hora do
extraordinário —como foram os decorrentes dos ataques do PCC e fato.
ataques— e compará-lo com o das as reações provocadas é o fato de 2. O envolvimento de agentes
efetivamente acontecidas. Dado que estes casos não estão separa- públicos.
que os dados não foram forneci- dos nos documentos oficiais, in- 3. Apreensões de armas ou ou-
dos, foi preciso recorrer aos regis- clusive porque nem sempre é pos- tros objetos ou substâncias.
tros do Sistema de Informações sível saber se uma morte estava ou 4. O perfil das vítimas: cor, sexo,
de Mortalidade do Ministério da não relacionada com os ataques. idade, estado civil, nível de ins-
Saúde. Para o segundo e o terceiro Assim, os documentos analisados trução, etc.
objetivos, foram solicitados e ob- incluem também, por exemplo,
tidos, em boa parte, os seguintes homicídios gerados por conflitos Por sua vez, os Laudos Cadavéri-
documentos relativos às mortes interpessoais ou familiares, além cos contêm diversos indicadores
por arma de fogo acontecidas no dos decorrentes de diversos tipos médico-legais que podem apon-
período: de criminalidade. tar a existência ou não de execu-
a) laudos cadavéricos —que em ção sumária. Entre eles podemos
parte já tinham sido analisados A informação mais relevante de destacar:
pelo CRM; que dispomos para tentar esclare- 1. Distinção e localização anatô-
b) outros laudos periciais; cer quais casos correspondem aos mica dos orifícios de entrada de
c) Boletins de Ocorrência poli- ataques é o relato dos fatos no B.O., projéteis de arma de fogo.
ciais. quando existe, e o conhecimento 2. Caracterização da distância
do envolvimento de agentes pú- do disparo (à queima roupa ou
A princípio, o critério de inclusão blicos, seja como vítimas ou como à distância) pela presença de
de casos na pesquisa foi o seguin- responsáveis pelas mortes. Mesmo zonas de contorno no orifício de
te: episódios de morte de pessoas assim, o envolvimento de agentes entrada (tatuagem, esfumaça-
por arma de fogo no estado de São públicos em um episódio resultan- mento ou queimadura).
Paulo entre os dias 12 e 21 de maio te em mortes também não garante 3. Presença de outras lesões não
de 2006. que se trate de um fato decorrente relacionadas com a ação de pro-
dos ataques do PCC. Por outro lado, jétil de arma de fogo.
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A fim de coletar todos os dados óbitos. No entanto, se partimos do 5. VITIMIZAÇÃO NOS CASOS
disponíveis, foi criado um formulá- suposto de que a tendência de re- ESTUDADOS
rio que reunia todos os elementos dução entre os anos 2003 e 2005 Esta seção é resultado das informa-
do fato. Um formulário diferente (uma redução algo superior a 20% ções registradas a partir das fontes
foi aplicado para cada um dos en- ao ano) se manteria também em utilizadas na pesquisa: Boletins de
volvidos em cada fato. Os pesqui- relação a 2006, então a estimativa Ocorrência e Laudos, como já foi
sadores preencheram os dois tipos para o conjunto do mês de maio explicado anteriormente.
de formulários após a leitura dos de 2006 seria de 420 mortes e,
laudos e dos B.O.s. Os formulários para um período de 10 dias dentro O número total de episódios regis-
foram posteriormente codificados do mesmo mês, seria de 135 óbi- trados que resultaram em mortos
e digitados em bancos de dados, tos por arma de fogo. por arma de fogo entre 12 e 21 de
um banco para os fatos e outro maio de 2006 foi de 401.
para os envolvidos. Considerando o número efetiva- Nesses 401 episódios acontece-
mente registrado de 564 mortes ram 564 óbitos por arma de fogo.
entre os dias 12 e 21 de maio de Além dos óbitos, foram registrados
4. IMPACTO DOS ATAQUES 2006, podemos concluir que esse outros envolvidos nos fatos. Deles,
DO PCC SOBRE O NÚMERO DE número é três a quatro vezes su- alguns foram feridos, mas outros
MORTES perior ao esperado, em função dos ficaram ilesos. A distribuição dos
Como já foi indicado, não foi possí- anos anteriores. Em suma, pode- envolvidos pelo tipo de dano é a
vel conseguir dados policiais para mos atribuir aos ataques do PCC seguinte (Tabela 2).
criar uma série temporal de mor- e às suas reações um balanço de
tos por arma de fogo no estado de aproximadamente 400 mortes. TABELA 2
São Paulo, dia a dia. Número de envolvidos nos
Obviamente, o impacto posterior Casos Estudados, por tipo de
Por isso, recorremos aos dados do a este período pode também ser dano sofrido
Sistema de Informações de Morta- significativo, em termos de vin- No %
lidade do Ministério da Saúde (DA- ganças, etc., mas não dispomos
Ferido 110 11.3
TASUS). De acordo com esta fonte, de dados ulteriores ao dia 21 para
tentar estimá-lo. Um ponto que Morto 564 58.0
o número de mortes por arma de
fogo durante o mês de maio dos ainda deve ser pesquisado é em Ileso 298 30.7
anos anteriores foi o seguinte (Ta- que medida os trágicos eventos Total 972 100.0
bela 1). de 2006 comprometeram, a mé- Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segu-
dio ou longo prazo, a tendência de rança Pública SP.
TABELA 4
Entre os 972 envolvidos há 660 O índice de Número de vítimas por dia e dano
civis (68%), 251 policiais militares letalidade Data do Fato Dano
(26%), 27 policiais civis (3%) e 34 —número
Ferido Morto Ileso TOTAL
agentes do estado que não são de mortos
policiais (agentes penitenciários, dividido 12 de maio de 2006 6 22 3 31
bombeiros, etc.). No total dos 401 pelo número 13 de maio de 2006 26 62 39 127
episódios registrados, 275 (69%) de feridos — 14 de maio de 2006 29 118 61 208
não mencionavam a presença de não é muito 15 de maio de 2006 21 89 39 149
agentes do estado. É importan- diferente 16 de maio de 2006 5 81 66 152
te lembrar que o fato de que os para os dois
17 de maio de 2006 6 68 62 136
documentos não mencionem a coletivos,
participação de agentes públicos 4,5 para os 18 de maio de 2006 7 22 13 42
não significa que ela não possa agentes pú- 19 de maio de 2006 0 13 6 19
ter acontecido, apenas que não há blicos e 5,2 20 de maio de 2006 7 6 0 13
registro nesse sentido. Os grupos para os civis, 21 de maio de 2006 0 2 0 2
de extermínio são o exemplo mais o que indica Total 107 483 289 879
dramático de uma possível parti- um equilí-
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
cipação de policiais sem registro brio entre os
oficial. dois tipos de
vitimização.
Dentre os casos em que há regis-
tro da participação de agentes Analisando a vitimização aconte- O Gráfico 1 mostra a evolução di-
públicos, aproximadamente em cida dia a dia, fica evidente que a ária das vítimas letais no período.
85% deles os agentes se encontra- maioria das mortes e ferimentos Nota-se que a linha cresce até 14
vam de serviço e apenas em 15% acontece entre os dias 14 e 17, sen- de maio e, a partir daí, começa
estavam de folga. De acordo aos do o dia 14 o de maior gravidade. um descenso progressivo que fica
documentos, na maioria dos ca- Vale lembrar que 68 dos 401 casos acentuado depois do dia 17. Final-
sos tratava-se de policiais de baixa (17%) não continham informação mente, do dia 19 de maio em dian-
patente (soldados e sargentos); só sobre a data exata e, portanto, não te as mortes estão abaixo do pata-
em 6 casos foi registrada a partici- podem fazer parte desta análise mar do dia 12, início do período.
pação de tenentes e houve apenas (Tabela 4).
GRÁFICO 1
um caso envolvendo um capitão.
Número de mortes por arma de fogo, por dia
Apesar dos ataques contra agen-
tes públicos acontecidos naqueles
dias, a grande maioria das vítimas
é civil. A vitimização de acordo
com o tipo de vítima revela os se-
guintes resultados (Tabela 3).
Um elemento interessante é que a mais de dez mortos para cada feri- O seguinte passo é estudar a vi-
evolução de feridos e mortos não do nos dias 16 e 17. Isto indica um timização simultaneamente de
é paralela no tempo. Os feridos são grau de letalidade muito superior acordo com o dia e o tipo de víti-
especialmente elevados apenas nestes dois últimos dias, que seria ma. Os resultados são os seguintes
até o dia 15, mas as mortes conti- compatível com uma atuação di- (Tabela 6).
nuam altas até o dia 17. A tabela ferenciada, mais condizente com
5 mostra a razão entre mortos e execuções sumárias que deixam Um dado revelador é que enquan-
feridos dia a dia, e revela um valor muitas mortes e poucos feridos to os agentes públicos são mor-
entre 2 e 4 nos três primeiros dias, (Tabela 5). tos, sobretudo, nos dias 12 e 13
que se eleva repentinamente a (e em menor medida, 14), os civis
falecem fundamentalmente nos
dias 14 a 17. Este quadro é com-
TABELA 5 patível com o cenário de uma sé-
Número de vítimas por dia e dano rie de ataques contra agentes nos
FERIDOS MORTOS RAZÃO DE dias iniciais, com muitas vítimas
MORTOS SOBRE entre eles, e uma série de opera-
FERIDOS ções de represália realizadas por
12 de maio de 2006 6 22 3.7 policiais nos dias seguintes, com
13 de maio de 2006 26 62 2.4 um alto número de vítimas civis.
14 de maio de 2006 29 118 4.1 A conclusão mais clara é que a
15 de maio de 2006 21 89 4.2 letalidade dos civis não acontece
basicamente durante os ataques
16 de maio de 2006 5 81 16.2
contra policiais ou agentes pe-
17 de maio de 2006 6 68 11.3 nitenciários, mas num momento
18 de maio de 2006 7 22 3.1 posterior, provavelmente em in-
19 de maio de 2006 0 13 - tervenções realizadas por policiais.
20 de maio de 2006 7 6 0.9
21 de maio de 2006 0 2 - Uma forma de exemplificar este
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
desequilíbrio é calcular a razão
entre civis mortos e agentes pú-
blicos mortos, dia a dia. Enquan-
TABELA 6 to há certa semelhança nos dois
Número de vítimas por dia e tipo de vítima primeiros dias, o número de civis
Dias Agentes públicos Agentes públicos Civis Civis mortos para cada agente morto
mortos feridos mortos feridos ultrapassa os 10 a partir do dia 14
12/05/2006 10 3 12 3 e atinge um valor de mais de 20 no
13/05/2006 23 8 39 18 dia 17 (o indicador já não pode ser
mais calculado a partir do dia 18,
14/05/2006 8 1 107 28
pois não há mais agentes mortos
15/05/2006 5 0 84 21 dessa data em diante). Os dias de
16/05/2006 6 1 75 4 maior desequilíbrio entre civis e
17/05/2006 3 0 65 6 agentes públicos coincidem tam-
18/05/2006 0 0 22 7 bém com os dias de maior letali-
19/05/2006 0 0 13 0 dade, em que, como já foi explica-
do, a razão entre mortos e feridos
20/05/2006 0 0 6 7
é mais desfavorável (Tabela 7).
21/05/2006 0 0 2 0
Sem data 4 0 80 3
Total 59 13 505 97
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
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TABELA 7
Razão entre Civis mortos e Agentes mortos por dia
Dias Civis mortos Agentes Razão entre Civis
públicos mortos e Agentes
mortos Públicos mortos
12/5/2006 12 10 1.2
13/05/2006 39 23 1.7
14/05/2006 107 8 13.4
15/05/2006 84 5 16.8
16/05/2006 75 6 12.5
17/05/2006 65 3 21.7
18/05/2006 22 0 -
19/05/2006 13 0 -
20/05/2006 6 0 -
21/05/2006 2 0 -
Sem data 80 4 20.0
Total 505 59 8.6
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
TABELA 10
Número de Casos de acordo com a Tipologia e a Data
Data do Tipologia do Fato
fato Con- Execução Execução Execução Execução Ataques Conflito Acidente Outros Desco- Total
fronto Sumária: Sumária: Sumária: Sumária: contra Inter-in- ou bala nhecido
com a Individual Grupo Grupo Policiais Delegacias dividual perdida
polí- Não-Enca- Encapu- ou Bata-
cia puzado zado lhões
12/05/2006 2 4 4 2 0 2 0 0 0 4 18
13/05/2006 8 6 9 0 0 5 1 1 1 14 45
14/05/2006 12 6 11 7 1 0 0 1 4 32 74
15/05/2006 10 7 3 6 0 1 1 0 1 33 62
16/05/2006 22 2 6 5 0 1 1 0 0 15 52
17/05/2006 11 4 3 5 0 1 0 1 2 19 46
18/05/2006 2 3 2 3 0 1 0 0 0 7 18
19/05/2006 3 2 0 0 1 0 0 0 0 5 11
20/05/2006 1 0 0 1 0 1 0 0 0 3 6
21/05/2006 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
Desconhe- 4 10 0 2 1 0 2 0 7 42 68
cida
Total 75 44 38 32 3 12 5 3 15 174 401
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
O quadro que estes dados reve- ção suficiente para determinar sua Em suma, confirma-se o quadro de
lam pode ser resumido da forma tipologia também aumenta nas uma série de ataques contra poli-
seguinte. Os ataques indiscrimi- mesmas datas em que se incre- ciais concentrados, sobretudo, nos
nados contra policiais acontecem, mentam os confrontos policiais dois primeiros dias, seguidos de
sobretudo, nos dias 12 e 13. As e as execuções, incluindo as co- uma reação dupla: operações po-
execuções sumárias cometidas metidas por encapuzados, o que liciais e intervenção de grupos de
por indivíduos e por grupos não reforça a suspeita de que uma extermínio encapuzados, ambas
encapuzados correspondem mais proporção significativa pode cor- particularmente intensas durante
do que nada aos dias 13 ao 15. responder, na verdade, aos casos os quatro dias que se seguiram aos
Por sua vez, o ponto mais alto dos descritos anteriormente. ataques dos dois primeiros dias.
casos de mortes em confronto po-
licial e pela atividade dos grupos Uma análise paralela, no entanto Maiores detalhes dos cruzamentos
encapuzados pode ser situado mais precisa, pode ser realizada entre tipo de vítima, tipo de fato
entre os dias 14 a 17. Em outras contabilizando as vítimas por tipo e data podem ser conferidos no
palavras, o cenário é condizente de fato e data, ao invés de conside- Apêndice 1.
com mortes de civis que são re- rar apenas os fatos como na tabe-
sultado não exatamente da reação la anterior. Alguns dos resultados
dos agentes públicos no momento mais destacados são os seguintes:
em que estes estavam sendo ata- a) 7 dos 9 agentes públicos mor-
cados, mas, sobretudo, de opera- tos em ataques contra prédios
ções policiais, presumivelmente policiais morreram entre os dias
de represália, acontecidas nos dias 12 e 13 de maio;
posteriores. Da mesma forma, a b) 93 das 118 mortes de civis em
atuação dos grupos encapuzados, confrontos com a polícia tiveram
dentro dos quais há suspeita da lugar entre os dias 14 e 17 de maio;
participação de policiais, também c) 43 dos 53 civis executados por
se produz como uma represá- grupos encapuzados acontece-
lia aparente aos ataques iniciais. ram também nesse mesmo perí-
O número de casos sem informa- odo: 14 a 17 de maio.
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TABELA 11
Número de Casos de Morte por Arma de Fogo Registrados no período, por Município
Número % Número % Número %
de Casos de Casos de Casos
Americanó- 1 0.2 Itapecerica 3 0.7 Santana de 1 0.2
polis da Serra Parnaíba
Arujá 2 0.5 Itapevi 5 1.2 Santo Amaro 3 0.7
Barueri 1 0.2 Itaquaque- 6 1.4 Santo André 8 2.0
Bertioga 1 0.2 cetuba Santos 15 3.7
Birituba 1 0.2 Jaçanã 1 0.2 São Ber- 2 0.4
Mirim Jandira 6 1.5 nardo do
Brasilândia 2 0.5 Jardim Her- 1 0.2 Campo
Campinas 1 0.2 culano São José do 3 0.7
Jundiaí 4 0.9 Rio Preto
Campo 2 0.5
Limpo Leme 1 0.2 São José dos 4 0.9
Campos
Capaicuíba 1 0.2 Limeira 3 0.7
São Mateus 2 0.4
Capão Re- 1 0.2 Marília 1 0.2
dondo São Paulo 69 17.2
Mauá 6 1.5
Caraguata- 5 1.2 São Sebas- 2 0.4
Mogi das 4 1.0
tuba tião
Cruzes
Carapicuíba 10 2.4 São Vicente 12 2.9
Osasco 18 4.4
Cosmópolis 1 0.2 Serrana 1 0.2
Pacaembu 1 0.2
Diadema 4 1.0 Sorocaba 1 0.2
Parada 1 0.2
Embu 1 0.2 Taipas Suzano 7 1.7
Ferraz de 1 0.2 Parelheiros 1 0.2 Taboão da 2 0.4
Vasconcelos Serra
Parque São 1 0.2
Franco da 1 0.2 Lucas Taubaté 1 0.2
Rocha Peruíbe - SP 1 0.2 Ubatuba 5 1.2
Guariba 1 0.2 Poá 5 1.2 MUNICÍPIO 113 28.0
Guarujá 12 3.0 DESCONHE-
Praia Grande 2 0.5 CIDO
Guarulhos 23 5.7 Ribeirão 5 1.2
Total 401 100.0
Hortolândia 1 0.2 Preto
Itaim Bibi 1 0.2
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
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As armas apreendidas apresenta- Apenas uma minoria dos casos Os resultados parecem indicar que
vam, em média, 5 projéteis defla- apresentava registros de laudos os policiais falecidos foram sur-
grados. Essa média, contudo, está periciais, embora, como já foi dito, preendidos e não tiveram tempo
influenciada pela existência de al- podem existir laudos não registra- de usar sua arma. Já no caso dos
guns valores isolados muito altos. dos nos documentos consultados. civis mortos, uma parte deles par-
De fato, quase a metade de todas Os mais freqüentes foram os relati- ticipou dos confrontos armados.
as armas (46%) apresentavam até 4 vos às perícias das armas. Entre as Entre os sobreviventes, uma mi-
projéteis deflagrados, o que suge- 55 realizadas, encontraram-se 43 noria apresentou vestígios de ter
re tiroteios relativamente curtos. armas aptas para disparo, 37 que atirado. Contudo, é preciso insistir
tinham efetuado um disparo re- em que o exame residuográfico é
Além das armas, um total de 13 cente e 11 armas municiadas. Este de confiabilidade limitada e não
casos registraram apreensão de quadro confirma que muitas des- é recomendado como prova con-
explosivos e 8 casos registraram sas armas foram, de fato, utilizadas sistente pelos peritos nos últimos
apreensão de drogas, quase todos em confrontos armados. anos.
eles classificados dentro da tipolo-
gia de confrontos policiais. A seguir, foram registrados 54 lau- Entre as outras perícias realizadas,
dos de resíduos de pólvora nas destacam as perícias do local do
Em cada caso, foram registrados e mãos dos envolvidos, com os se- crime e os laudos balísticos.
analisados os laudos periciais de guintes resultados (Tabela 14).
diverso tipo que foram encami-
nhados. Obviamente, não é possí-
vel afirmar que os laudos registra- TABELA 14
dos representem a totalidade dos Resumo de resultados dos Laudos Residuográficos,
efetivamente realizados nestes in- por Caso e Tipo de Vítima
quéritos, apenas aqueles que esta-
Tipo de Vítima Casos com alguma Víti- Casos com alguma Víti-
vam registrados nos documentos
ma (desse tipo) com ma (desse tipo) com
a que tivemos acesso. Resultado Positivo Resultado Negativo
POLICIAIS FALECIDOS 0 16
Mesmo assim, esta informação da
uma idéia de que tipos de provas POLICIAIS SOBREVIVEN- 8 52
podem existir para esclarecer estas TES
mortes. CIVIS FALECIDOS 13 57
CIVIS SOBREVIVENTES 3 12
O resumo dos laudos encontrados Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP.
pode ser observado na seguinte
tabela (Tabela 13).
Das 23 perícias do local realizadas,
4 acharam vestígios de sangue, 5
TABELA 13 encontraram projéteis e 3 cartu-
Laudos periciais registrados, por Tipo chos ou estojos. Esta perícia do lo-
Número de % sobre o total cal é de extrema importância para
Casos de casos o esclarecimento dos fatos, mas
PERÍCIA DA ARMA 55 13,7% em ocasiões fica prejudicada pelo
PERÍCIA DO LOCAL 23 5,7% fato de que a vítima, ainda viva, é
removida para o hospital, ou pela
LAUDO BALÍSTICO 23 5,7%
falta de preservação do local. No
LAUDO RESIDUOGRÁFICO 54 13,5% conjunto de casos analisados, hou-
LAUDO TOXICOLÓGICO 7 1,7% ve menção de remoção para o hos-
PERÍCIA DE VEÍCULO 7 1,7% pital em 250 casos. Assim, caberia
OUTROS LAUDOS 2 0,5% esperar uma perícia de local de, no
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança Pública SP. mínimo, os 151 casos restantes,
mas apenas 23 foram registradas.
- 18 -
Aproximadamente 96%
dos falecidos eram ho-
mens e o resto mulheres.
A idade era conhecida
apenas em dois de cada
três casos. Entre eles, pre-
dominam, como caberia
esperar, os jovens. Mais
de 80% dos mortos eram
menores de 36 anos (Grá-
fico 4).
Entre todas as áreas, a que repre- Em seguida, vamos analisar esses em maior medida, de tentativas de
senta maior preocupação é a área indicadores de uso excessivo da execução.
posterior da cabeça, com mais de força de acordo com a data, o tipo
150 disparos, uma área de altís- de vítima e o tipo de fato. Por outro lado, o número de dis-
sima letalidade e muito difícil de paros varia significativamente em
ser atingida num confronto arma- A média de orifícios de entrada por função do tipo de fato, como mos-
do genuíno. Nesse sentido, outro vítima evolui da forma seguinte dia tram a tabela (Tabela 18) e o gráfi-
ponto importante é que o número a dia (Tabela 17). co (Gráfico 8) seguintes.
de disparos na região posterior da
cabeça é próximo do número da TABELA 17 TABELA 18
região posterior dorsal, que é Número médio de orifícios de Número médio de orifícios de en-
uma área de muita maior super- entrada de PAF por vítima, trada de PAF por vítima, segundo
fície e menor letalidade. Um to- segundo o dia o Tipo de Fato
tal de 27% das vítimas apresenta Data do Média de Núme- Tipologia do Média Número
pelo menos um disparo na parte Fato orifícios de ro de fato de Orifí- de Víti-
posterior da cabeça. entrada Vítimas cios de mas
12 de maio 5.73 15 Entrada
No cômputo total, os cadáveres de 2006 Desconhecido 4.88 184
apresentaram 988 orifícios na 13 de maio 4.56 41 Confronto 3.62 94
região frontal e 600 na região de 2006 com a polícia
posterior, isto é, podemos esti- 14 de maio 4.75 96
mar que de cada cinco disparos, Acidente ou 2.33 3
de 2006 bala perdida
quase dois foram pelas costas,
15 de maio 4.58 73 Execução 4.45 47
o que revela uma clara tentati- de 2006
va homicida em muitos casos. sumária: indi-
16 de maio 4.61 64 vidual
Com efeito, 57% dos cadáveres
de 2006 Execução su- 7.11 37
apresentam pelo menos um dis-
paro na região posterior. 17 de maio 5.12 58 mária: grupo
de 2006 não encapu-
18 de maio 4.61 18 zado
Aproximadamente um de cada
10 cadáveres, 48 no total, apre- de 2006 Execução su- 5.59 44
19 de maio 2.63 8 mária: grupo
senta sinais de disparos feitos à
de 2006 encapuzado
queima-roupa, o sinal mais claro
de execução. Um total de 41 ca- 20 de maio 1.75 4 Execução 7.67 3
de 2006 sumária: poli-
dáveres tem ao menos um orifí-
ciais
cios de entrada com tatuagem, Total 4.68 377
12 têm ao menos um orifício de Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segu- Conflito inte- 2.75 4
rança Pública SP. rindividual
entrada com esfumaçamento e
3 têm ao menos um orifício de en- Não parece existir uma tendência Ataques con- 2.69 13
trada com queimaduras, este últi- clara de mudança no tempo relati- tra Delegacias
ou Batalhões
mo produto de um cano da arma va ao número de disparos. A única
muito próximo da pele da vítima diferença perceptível é uma redu- Outros 5.56 18
ou encostado. ção nos últimos dois dias, mas o Total 4.77 447
Fonte: B.O.s e Laudos. Secretaria Segurança
número de casos nesse período é Pública SP.
Das 48 vítimas, seis têm dos orifí- pequeno demais para estabelecer
cios e uma tem três orifícios com conclusões.
disparos à queima-roupa. Os eventos com maior número
O número médio de orifícios de de disparos são, conforme cabe-
Um total de 75 vítimas fatais (17%) entrada é superior para as vítimas ria esperar, as execuções sumárias
apresenta lesões adicionais diferen- que eram agentes públicos (6,3) cometidas por grupos de qualquer
tes das provocadas pelas armas de do que para o resto (4,6). Isto su- espécie, pois, com alta probabili-
fogo. gere que os agentes públicos, po- dade, mais de um agressor atirou
liciais sobretudo, foram vítimas, simultaneamente contra a mesma
- 22 -
Estes civis mortos em confronto No entanto, o valor dos indicado- Por outro lado, vale lembrar que
com a polícia apresentavam um res ainda é preocupante e revela os B.O.s representam, naturalmen-
mínimo de um disparo e um má- que, ao menos em alguns casos, te, a versão oficial dos fatos, a dos
ximo de 12, com uma média de 3,7 há claros indícios de uso excessivo agentes públicos, pois na maioria
disparos por cadáver. Este valor é da força por parte da polícia e há deles não há testemunhas civis
inferior ao do total dos casos e a possibilidade de existência de ca- para corroborá-los.
dos confrontos policiais no Rio de sos de execução sumária. Por outro
Janeiro, mas ainda é superior ao lado, vale lembrar que os casos de 2
que caberia esperar, supondo que confronto policial são aqueles em
em geral um ou dois disparos são que há evidências da participação Os ataques do PCC e as respostas
suficientes para imobilizar a vítima. de policiais, mas não significa que decorrentes dos mesmos entre os
não existam outros episódios em dias 12 e 21 de maio de 2006 pro-
A proporção de vítimas com dispa- que não possa haver envolvimen- vocaram que o número de mortes
ros pelas costas (26%) é sensivel- to de policiais, sobretudo de forma por armas de fogo fosse 3 a 4 vezes
mente inferior à do total dos casos oculta. superior ao número esperado para
e à dos confrontos no Rio de Janei- esse período, estimado com base
ro, mas o valor é ainda superior ao nos dados do Sistema de Informa-
esperado. 9. CONCLUSÕES ções de Mortalidade do Ministério
da Saúde. No total, o saldo atribu-
A proporção de vítimas com dis- 1 ível a este episódio pode ser esti-
paros na cabeça (24%) apresenta mado em aproximadamente 400
um resultado semelhante ao dos O presente estudo está baseado, mortos, exclusivamente nesses 10
disparos na região posterior. fundamentalmente, em laudos dias e sem prejuízo de um impac-
cadavéricos e Boletins de Ocor- to adicional nos dias posteriores. É
A proporção de vítimas com dis- rência relativos a mortes por arma de extrema importância que seja
paros à queima-roupa (3,8%) tam- de fogo acontecidas no estado de pesquisado em que medida estes
bém é inferior à encontrada no São Paulo entre os dias 12 e 21 de dramáticos eventos invertiram a
total dos casos e no Rio, mas é cla- maio de 2006. Um total de 564 tendência de queda dos homicí-
ramente superior ao que deveria, mortes foram registradas nos do- dios no estado de São Paulo nos
pois, a princípio não deveria haver cumentos que foram fornecidos últimos anos.
nenhum caso de disparo à quei- sob o critério acima mencionado.
ma-roupa em confrontos policiais. 3
Não é possível separar com exa-
Já a proporção de vítimas com le- tidão quais episódios correspon- As mortes por arma de fogo no pe-
sões diferentes às provocadas por dem exatamente aos ataques (e as ríodo considerado acontecem es-
PAF (12,8 %) é algo mais alta do respostas aos mesmos) e quais são palhadas por todo o Estado de São
que a encontrada no conjunto dos devidos a outros tipos de violên- Paulo, geralmente na via pública no
casos, mas ainda inferior à encon- cia. A narrativa dos fatos que apa- fim da tarde ou no começo da ma-
trada no Rio de Janeiro. rece nos Boletins e a participação drugada. As armas de civis apreen-
ou não de agentes públicos são didas nesses episódios são sobretu-
Em suma, os indicadores médico- elementos que ajudam, indireta- do armas curtas e com um número
legais correspondentes às vítimas mente, a este propósito. No entan- reduzido de projéteis deflagrados,
civis falecidas em confronto com to, não foi possível obter o B.O. em o que sugere tiroteios curtos.
a polícia não são tão negativos todos os casos, e em muitos deles
quanto os encontrados no conjun- o relato dos fatos não é suficiente- 4
to dos casos, entre os quais há nu- mente esclarecedor. Por outro lado,
merosos episódios de execuções a participação de agentes públicos As vítimas fatais desses eventos
sumárias reconhecidas, e estão ain- também não pode ser estabeleci- são quase todas de sexo masculi-
da mais distantes dos encontrados da para além de toda dúvida em no, jovens, com reduzida escolari-
nos confrontos policiais no Rio de todos os casos, particularmente dade, solteiros e, aparentemente,
Janeiro nos anos 90, contexto em considerando a possibilidade de sem antecedentes penais. Esse é o
que as evidências de execuções su- que alguns policiais participem de perfil geral das vítimas de homicí-
márias eram muito contundentes. forma oculta. dio no Brasil.
- 27 -
APÊNDICE 1
Número de Vítimas por Tipo de Vítima, Tipo de Fato e Data,
para alguns tipos de fatos selecionados
Execução Sumária: Ataques contra Delegacias ou Desconhecido
Grupo Encapuzado Batalhões
DATA Agentes Agentes Civis Civis Agentes Agentes Civis Civis Agentes Agentes Civis Civis
Públicos Públicos Mortos Feridos Públicos Públicos Mortos Feridos Públicos Públicos Mortos Feridos
Mortos Feridos Mortos Feridos Mortos Feridos
12/5/2006 0 0 2 2 3 0 0 0 0 1 5 0
13/05/2006 0 0 0 0 4 1 4 1 2 1 12 1
14/05/2006 1 0 12 6 0 0 0 0 2 1 44 1
15/05/2006 0 0 13 7 2 0 1 0 1 0 38 3
16/05/2006 0 0 7 3 0 0 1 0 0 0 17 0
17/05/2006 0 0 11 4 0 0 1 0 3 0 21 1
18/05/2006 0 0 3 4 0 0 2 0 0 0 10 0
19/05/2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 0
20/05/2006 0 0 1 5 0 0 1 2 0 0 3 0
21/05/2006 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Desconhe- 0 0 2 0 3 0 50 0
cida
TOTAL 1 0 53 31 9 1 10 3 11 3 206 6
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