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I. UM ITINERÁRIO ESPIRITUAL
De Damasco ao deserto, do deserto a Jerusalém e de Jerusalém para o
mundo!
1. Quaresma:
Como Paulo, e com Cristo, partir para o deserto!
Gal.1,15-17
“Mas, quando aprouve a Deus - que me escolheu desde o seio de minha mãe e
me chamou pela sua graça - revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie
como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana
alguma, nem subi a Jerusalém para ir ter com os que se tornaram Apóstolos
antes de mim. Parti, sim, para a Arábia e voltei outra vez a Damasco”.
À semelhança de Jesus, que depois do Baptismo, vai para o deserto, antes de começar
a sua missão, também Paulo parte para o deserto. Assim, ao seu primeiro arrebatador
e entusiástico início, seguem-se os tempos de silêncio e provação. É que a resposta à
vocação geralmente implica um distanciamento, uma verdadeira experiência de
escuridão e cepticismo (cf. Act. 9,8-9; 22,11.13).
A luz que atingiu Saulo-Paulo faz com que ele perceba, então, a gravidade do pecado
pessoal e aquele pecado radical que pesa sobre a condição humana: a isso ele se
refere, por exemplo, com acentos diversos, na Carta aos Romanos (cap. 7), quando
descreve a condição trágica do ser humano, sobretudo em relação à impotência de
fazer o bem que gostaria de praticar. O Senhor fá-lo intuir o quanto deverá sofrer por
causa de seu nome (Act.9,16).
Nesta perspectiva, Paulo conduz-nos ao deserto, para viver a Quaresma, como tempo
de consulta de Deus, tempo de confrontação, tempo de escuta, da voz mais íntima e
secreta de Deus. É curioso olhar para o significado da palavra deserto. Em hebraico,
deserto diz-se «midbar». Pode significar “lugar solitário”, mas também “eu falo”. O
deserto, ao mesmo tempo, é o lugar do silêncio e é o lugar de uma palavra que esse
silêncio guarda. Na Quaresma, a Igreja é chamada a uma experiência de deserto. É
uma experiência penitencial, de conversão e de revisão de vida. Nesse despojamento
experimentado e voluntário, a Igreja deve redescobrir a palavra que, em silêncio,
incessantemente é dita por Deus.
Gal.1,18-20
“18 A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer Cefas (Pedro),
e fiquei com ele durante quinze dias. 19 Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a
não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20O que vos escrevo, digo-o diante de Deus:
não estou a mentir”.
No calor desta maturação interior, São Paulo começa a anunciar Cristo com
entusiasmo. Fá-lo já em Damasco, onde o ódio dos judeus o obriga a fugir de maneira
quase rocambolesca (cf. Act. 9,23-25). Volta, pois, para Jerusalém, onde muitos discípulos
têm medo dele, não acreditando ainda que ele fosse um discípulo (Act. 9,26). Barnabé,
porém, acredita nele e toma-o consigo, ajudando-o a ser acolhido também pelos
outros. Entretanto, apesar dos esforços de Barnabé, Paulo vê-se obrigado a deixar
também Jerusalém, sobretudo por causa das claras insistências de seus irmãos na fé,
baseadas principalmente no temor de que a sua obstinação evangelizadora pudesse
provocar uma reacção ainda mais dura da perseguição em curso (cf. Act. 9, 27-30).
Confuso e humilhado, Saulo retorna para Tarso onde permanecerá por alguns anos (ao
menos até 43 d.C.), num estado espírito confuso, pesado e sombrio.
"Eis que subimos a Jerusalém" (Mc 10, 33). Com estas palavras o Senhor convida os
discípulos a percorrer com Ele o caminho que da Galileia leva ao lugar onde se
realizará a sua missão redentora. Este caminho para Jerusalém, que os Evangelistas
apresentam como o coroamento do itinerário terrestre de Jesus, constitui o modelo da
vida do cristão, empenhado em seguir o Mestre no caminho da Cruz. Cristo também
faz aos homens e às mulheres de hoje o convite a "subir a Jerusalém", participando
intimamente no mistério da sua morte e ressurreição.
Gal.1,21-24
“21 Seguidamente, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22 Mas não era
pessoalmente conhecido das igrejas de Cristo, que estão na Judeia. 23 Apenas
tinham ouvido dizer: «Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, como
Evangelho, a fé que então devastava.» 24 E, por causa de mim, glorificavam a
Deus”.
O tempo pascal deverá ser aproveitado para despertar o ardor missionário, à
semelhança de Paulo que parte pelo mundo, a anunciar o Evangelho. É Barnabé, o
amigo do coração, que livra Paulo da provação e o lança, no grande empenho
missionário.
Com uma iniciativa tão livre quanto audaciosa, vai buscar Saulo a Tarso e leva-o
consigo para Antioquia, onde reside uma comunidade que o quer, pois lá a missão
floresce para além de todas as expectativas e os discípulos - em Antioquia foram
chamados pela primeira vez de cristãos - têm necessidade de ajuda no serviço da
pregação do Evangelho. Seguir-se-ão as grandes viagens missionárias de Paulo, com
inumeráveis provações e consolações (cf. 2 Cor. 11,24-28).
Através de todas estas experiências, unificadas pelo amor a Cristo e pela força
recebida da sua graça, vai-se realizando em Paulo uma espécie de transfiguração:
disso é testemunha o grande e comovente discurso em Mileto, que o capítulo 20 dos
Actos dos Apóstolos narra. É um discurso de despedida, quase um testamento do
apóstolo, e que, de certa forma, resume a sua vida. Desde o exórdio é comovente:
"Vós sabeis ... ", diz Paulo, mostrando ser alguém bem conhecido entre os seus. Os
factos falam por ele: viveu o seu ministério com intensa participação emotiva, com
imenso amor a Cristo e aos seus, com profunda humildade para com os outros, para
consigo mesmo e para com Deus (cf. Act 20,18ss).
O círio pascal, coluna de cera, de algum modo, evoca essa outra coluna de
fogo, que acompanhava Israel no seu êxodo (Ex.13,21), isto é, no seu caminho,
pela noite, até se tornar o símbolo da luz de Cristo, vivo e ressuscitado.
Sabemos e conhecemos da Liturgia da Vigília Pascal todo o seu simbolismo e
como ele é cuidadosamente preparado para ser levado em procissão e
colocado num candelabro adequado.
Esta decoração do círio deverá ser feita em família, para que este seja
apresentado à comunidade (na quinta-feira santa ou na sexta, conforme os
casos; cf. esquema) e integrado numa cruz luminosa, a traçar no chão da
Igreja, ou num dos seus acessos (cf. esquema).
1. ESQUEMA GERAL
Aqui apresentamos e resumimos a proposta semanal, cuja dinâmica assenta
em 4 passos simples: consultar, gravar, viver e rezar a Palavra de Deus,
que é farol dos nossos passos e luz dos nossos caminhos (Sl 118 [119], 105).
São Paulo resolveu “não consultar” de imediato criatura alguma, mas desloca-
se para o deserto, lugar da escuta e da revelação da Palavra. Nesse sentido,
sugerimos, para cada semana, a consulta da Bíblia, em família. Apresentam-se
três citações breves, de cada uma das leituras dominicais. Mas pode escolher-
se apenas aquela leitura, que ilumina mais directamente o sentido do símbolo
a gravar. Eis algumas palavras que justificam o sentido da nossa escolha:
• 1ª Semana:
15
Quando cobrir a Terra de nuvens e aparecer o arco nas nuvens, recordar-me-
ei da aliança que firmei convosco e com todos os seres vivos da Terra, e as
águas do dilúvio não voltarão mais a destruir todas as criaturas
I Pe.3,21
21
Isto era uma figura do baptismo, que agora vos salva, não por limpar
impurezas do corpo, mas pelo compromisso com Deus de uma consciência
honrada, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo,
Mc.1,12-13
12 13
Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. E ficou no deserto
quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos
serviam-no.
• 2ª Semana:
Gen.22,9-13
9
Chegados ao sítio que Deus indicara, Abraão construiu um altar, dispôs a
lenha, atou Isaac, seu filho, e colocou-o sobre o altar, por cima da lenha.
10 11
Depois, estendendo a mão, agarrou no cutelo, para degolar o filho. Mas o
mensageiro do Senhor gritou-lhe do céu: «Abraão! Abraão!» Ele respondeu:
12
«Aqui estou.» O mensageiro disse: «Não levantes a tua mão sobre o menino
e não lhe faças mal algum, porque sei agora que, na verdade, temes a Deus,
visto não me teres recusado o teu único filho.»
Rom.8,35
35
Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?A tribulação, a angústia, a
perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?
Mc.9,7
7
Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem
fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.»
• 3ª Semana:
Nesta semana, lemos uma das versões dos Dez mandamentos (1ª leitura),
como expressão da aliança. São Dez palavras que dão sentido e valor à nossa
vida. Neste sentido, podíamos gravar no círio, o livro, lembrando o AT e o NT,
onde se condensam as palavras da antiga e da nova aliança. Fica o desafio a
escolher entre as Cartas de São Paulo, dez palavras luminosas, para a vida. Eis
um simples exemplo, mas que não esgota nem limita a escolha:
1. Rom.13,8: Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros. Pois
quem ama o próximo cumpre plenamente a lei.
2. I Cor.13,13: Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de
todas é o amor.
3. I Cor.9,16“Ai de mim se eu não evangelizar. ”
4. II Cor.4,12: Em nós opera a morte, e em vós a vida!
5. Gal.2,20; Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim!
6. Gal. 5,1 Foi para a liberdade que Cristo nos libertou
7. Ef.5,8,28 Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo!
8. Fil.1,21;2,5: É que, para mim, viver é Cristo!
9. Col.3,2 Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra!
10. II Tes.3,10: Se alguém não quer trabalhar também não coma!
Ex.20,1-3
1 2
Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: «Eu sou o Senhor, teu Deus,
3
que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão. Não haverá para ti
outros deuses na minha presença.
I Cor.1, 22-23
22
Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria,
23
nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura
para os gentios.
Jo.2,15-16
15
Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as
ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-
16
lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não
façais da Casa de meu Pai uma feira.»
• 4ª Semana:
II Cron.36,23
23
«Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os
reinos da terra e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém,
cidade de Judá. Quem de vós pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus,
seja com ele, e se ponha a caminho.»
Ef.2,4-5
4Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou,
5
precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida
com Cristo - é pela graça que vós estais salvos
Jo.3.19-21
19
E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as
20
trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal
odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam
21
desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a
tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.»
• 5ª Semana:
A promessa do coração novo e da nova aliança (1ª leitura) pode ser associada aos
vários anéis das algemas, que iremos gravar no círio. Paulo passou por muitas prisões
(II Cor.11,23), em Filipos (Act.16,23), em Jerusalém (Act.21,33), em Cesareia
(Act.23,23), em Roma (Act.28,20.30); em Éfeso (I Cor.15,32; II Cor.1,1.8-9). Teve de
comparecer diante de vários tribunais, em Corinto (Act.18,12), em Jerusalém
(Act.22,20) e em Cesareia (Act.24,1.2). São vários os simbolismos que se podem dar à
imposição do anel: sujeição, pertença, firmeza, fidelidade. Por isso, se utilizou
sobretudo para expressar a atitude dos que contraem matrimónio. O anel entre os
esposos cristãos tem uma referência acrescentada ao amor nupcial e à aliança entre
Cristo e a sua Igreja: não é estranho, portanto, que o anel nupcial se chame também
«aliança». Podemos olhar para estes anéis das algemas, como anéis que evocam a
aliança e compromisso do amor seja com Deus, seja com o próximo. O amor prende
porque cativa e se deixa cativar, mas liberta, porque nos abre aos outros! Podemos
recordar aqui como Paulo é homem livre, sendo prisioneiro de Cristo e como Cristo é
um homem livre, na obediência ao Pai (2ª leitura).
Jer.31,33
33
Esta será a Aliança que estabelecerei, depois desses dias, com a casa de
Israel - oráculo do Senhor: Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no
seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
Heb.5,8-9
9
Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu e,
tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação
eterna,
Jo.12,24
24
Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não
morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.
Semana Santa
Limitamo-nos aqui a destacar alguns pensamentos bíblicos, desde o Domingo
de Ramos ao Tríduo Pascal, na certeza de que a Liturgia da Semana Santa é já
suficientemente rica de símbolos e mensagens.
Ramos
Fil.2,6-11
6
Ele, que é de condição divina,não considerou como uma usurpação ser igual a
7
Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo.
Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado
8
como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e
9
morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe
10
concedeu o nome que está acima de todo o nome, para que, ao nome de
Jesus,se dobrem todos os joelhos,os dos seres que estão no céu,na terra e
11
debaixo da terra; e toda a língua proclame:"Jesus Cristo é o Senhor!", para
glória de Deus Pai.
Quinta-feira Santa
I Cor.11,23-26
23
Com efeito, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus
24
na noite em que era entregue, tomou pão e, tendo dado graças, partiu-o e
disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim».
25
Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a
nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória
26
de mim.» Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste
cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.
Sexta-Feira Santa
Jo.19,40-41
40
Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os
41
perfumes, segundo o costume dos judeus. No sítio em que Ele tinha sido
crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém
tinha sido sepultado.
Eis algumas palavras breves, que esclarecem o sentido destes símbolos e a sua
gravação, no círio:
• Semana Santa: Gravar a Cruz da qual disse São Paulo: «Quanto a mim,
de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo». Paulo
abraçou com todo o amor a Cruz de Cristo, nas suas tribulações, calúnias,
sofrimentos, prisão e, por fim, no seu martírio. Gravar entre os braços da
Cruz, cada um dos números que integram 2009.
Nota prática:
A palavra círio vem do latim, cereus, de cera (produto das abelhas). Na Liturgia
cristã, ao falar-se das «velas», alude-se ao uso humano e ao sentido simbólico
que os círios produzem. O círio mais importante é o que se acende na Vigília
Pascal, como símbolo de Cristo-Luz, e que se coloca sobre uma coluna elegante
ou candelabro adornado. O Círio Pascal é, desde os primeiros séculos, um dos
símbolos mais expressivos da Vigília. No meio da escuridão (toda a celebração
se faz de noite e começa com as luzes apagadas), de uma fogueira
previamente preparada acende-se o Círio, que tem uma inscrição em forma de
cruz, acompanhada da data do ano e das letras Alfa e Ómega – a primeira e a
última do alfabeto grego –, para indicar que a Páscoa de Cristo, princípio e fim
do tempo e da eternidade, nos atinge com força sempre nova, no ano concreto
em que vivemos. Tem menor importância a pinha de incenso que também se
pode incrustar na cera, simbolizando as cinco chagas de Cristo na cruz. Este
Círio, «pela verdade do sinal, deve ser de cera, novo cada ano, único,
relativamente grande, nunca artificial, para poder evocar que Cristo é a luz do
mundo». Na procissão de entrada da Vigília, canta-se por três vezes a
aclamação ao Círio: «A luz de Cristo. Graças a Deus», enquanto,
progressivamente, se vão acendendo as velas dos presentes e as luzes da
igreja. Depois, coloca-se o Círio na coluna ou candelabro, que vai ser o seu
suporte, e proclama-se à sua volta, depois de o incensar, o solene Precónio
Pascal. Além do simbolismo da luz, tem também a de oferenda, como cera que
se gasta em honra de Deus, espalhando a sua luz: «Aceitai, Pai santo, este
sacrifício vespertino de louvor, que, na solene oblação deste círio, pelas mãos
dos seus ministros Vos apresenta a santa Igreja. Agora conhecemos o sinal
glorioso desta coluna de cera, que uma chama de fogo acende em honra de
Deus […] Nós Vos pedimos, Senhor, que este círio, consagrado ao vosso nome,
arda incessantemente para dissipar as trevas da noite.» O mesmo que vão
anunciando as leituras, orações e cânticos, di-lo o Círio com a linguagem
diáfana da sua chama viva. A Igreja, a esposa, sai ao encontro de Cristo, o
Esposo, com a lâmpada acesa na mão, gozando com Ele na noite vitoriosa em
que se anunciará – no momento culminante do ¬Evangelho – a grande notícia
da sua Ressurreição. O Círio estará aceso em todas as celebrações, durante as
sete semanas da Cinquentena, ao lado do ambão da Palavra, até à tarde do
domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o Tempo Pascal, convém que o
Círio se conserve dignamente no baptistério, e não no presbitério. Durante a
celebração do Baptismo deve estar aceso, para tomar dele a luz das velas dos
novos baptizados. Também se acende o Círio Pascal, junto ao féretro, nas
exéquias cristãs, para indicar que a morte do cristão é a sua própria Páscoa.
Assim, utiliza-se o simbolismo deste Círio, no Baptismo e nas exéquias, no
princípio e na conclusão da vida: o cristão participa da luz de Cristo, ao longo
de todo o seu caminho terreno, como garantia da sua definitiva incorporação
na Luz da vida eterna.
A Luz de Damasco
A luz de Damasco
é um tombar do trigo,
um cairdo grão
– cega tanto como os olhos
De um homem perseguido
quando se volta
para nós!
Proposta elaborada por Pe. Amaro Gonçalo (Pároco de Nossa Senhora da Hora), Pe. José Araújo
(Pároco de Vila Cã e Codal, de Vale de Cambra) e António Madureira (Leigo, Director do SDEIE).