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1) INTRODUÇÃO
• Ao longo deste ano pastoral vamos ouvir e falar muito sobre S. Paulo. Muito diferente do
ano do congresso missionário. Parece que a única coisa que mobiliza os cristãos, começando
pela hierarquia, é o que diz o Papa.
• Não vamos fazer uma história da vida de Paulo.
• Não vamos ter a pretensão de sairmos daqui, nem no fim do ano, especialistas de S. Paulo.
Vamos tentar compreender melhor a amplitude da sua dimensão evangelizadora, O porquê
de ser apóstolo dos gentios.
Anunciar JC
o Ai de mim se não evangelizar – 1Cor 9,16
o Evangelizar os que não conhecem JC – Gal 1,16
3) O QUE O MUDOU?
• Lucas diz que foi a caminho de Damasco, uma queda de cavalo. JC falou-lhe e
identificou-se como sendo Jesus a quem Paulo persegue. – Act 9
• Paulo fala muito pouco do que lhe aconteceu e nunca conta como foi mas só a sua
interpretação:
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o Gal 1,15: Quando aprouve a Deus revelar a seu filho em mim, para que o anunciasse entre
os gentios…
o 1 Cor 15,8: em último lugar apareceu-me também a mim como a um aborto. (1Cor 15,8)
Conclusão:
• Um encontro, uma experiência de JC, que Paulo reconhece como única e profunda.
• Esta experiência é a base, o núcleo central, o ponto de partida à volta do qual vai girar o
resto de toda a sua vida.
4) CONSEQUÊNCIAS
• Jesus crucificado é o Messias: kerygma: cruz-ressurreição-aparição (1 Cor 15,3-5)
Esse acontecimento fê-lo mudar de vida. Agora só uma coisa conta: JC! E JC crucificado. É
ele a nossa salvação e deve ser anunciado.
A crucifixão, “escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1 Cor 1,23), não é
muito anunciada pelos outros apóstolos. Só Paulo a toma como centro do seu anúncio, é o
seu evangelho.
O Messias não devia morrer. Se morreu foi voluntária e gratuitamente. E para que seja
salutar para todos tem que ser uma morte que abarque todos. Daí a morte dos últimos, para
atingir a todos (Fil 2,6-11).
O anúncio não é do que Jesus disse ou fez (Paulo só cita 3 vezes Jesus), mas a sua própria
identidade: MESSIAS que se revela na cruz
• As suas energias são canalizadas numa outra direcção: anunciar JC sempre e em todo o
lugar. A submissão a Cristo implica o dever de o proclamar no mundo pagão porque a lei já
não é necessária para a salvação.
“Se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou. Eis que surgiram
coisas novas” (2Cor 5,17).
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5) A MISSÃO PARA S. PALO
• Não é baptizar. S. Paulo baptizou só meia dúzia de pessoas durante a sua vida.
• Paulo está convicto de ter sido escolhido, chamado para os gentios (como Pedro para os
Judeus). Ele é “embaixador de Cristo e porta-voz de Deus” (2Cor 5,20). Por isso “ai de
mim se não evangelizar” (1Cor 9,16). Não é uma lei, obrigação mas uma consequência da
sua fé, da resposta ao amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus. O fruto do seu anúncio
deve levar as pessoas a “deixar-se reconciliar” com Deus (2Cor 5,20).
• Ele é um fundador de comunidades e não de manutenção. Quando tem que ficar muito
tempo numa comunidade é porque há algo que não corre normalmente (problemas, doenças,
dificuldades de viagem, …). Aí fica inquieto e não realizado (estadia em Éfeso). Na longa
controvérsia com os Coríntios, é mesmo acusado de viajar demais.
6) METODOLOGIA MISSIONÁRIA
• A comunidade como ponto de referência. É ela que irradia, envia. Como de Tessalónica a
palavra de Deus e a fé em Deus se propagavam por todos os lugares (Cf 1Ts 1,6-10). É em
seu nome e em união com ela que os missionários evangelizam. Mesmo na disputa com os
judaizantes e depois da separação de Antioquia, Paulo procura a comunhão de uma
comunidade referência (Éfeso) e a comunhão com a igreja mãe, Jerusalém (colecta). Isto
permite uma comunhão de fé, de identidade e ao mesmo tempo anunciar a verdadeira BN
(não a sua, mas aquela que lhe foi incumbida, que recebeu).
• Por isso Paulo procura de preferência os grandes centros urbanos. Pela concentração de
população era mais fácil aí manter uma ou mais comunidades. Elas se encarregariam de
irradiar o evangelho por outras povoações.
• Pela mesma razão, Paulo só anunciava o evangelho onde Cristo não era conhecido. Ele
lançava os alicerces do edifício que depois devia crescer (Rm 15,20ss; cf 1Cor 3,10ss).
• Dirige-se de preferência às sinagogas, tanto aos Judeus como aos simpatizantes. É a partir
dos conhecimentos destes que chega depois “aos de fora”
7) ESTRATÉGIAS MISSIONÁRIAS
• Ficar só o tempo necessário em cada lugar, para não ser peso, nem impedir o crescimento e
para favorecer o surgimento de líderes.
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• Responsabiliza os novos convertidos. Descobrir homens e mulheres zelosos e confiar neles
para animadores.
• Procurar em cada lugar converter alguém que tenha espaço onde a comunidade se possa
reunir.
• Ter alguém que o possa receber em sua casa nos primeiros tempos para ter tempo de se
dedicar ao anúncio.
• Não ser um peso à comunidade, não aceitar ajuda da comunidade onde está para ficar livre,
sem obrigações (problema por não ter aceite ajuda de Corinto e ter aceite de Filipos).
8) OS FRUTOS DO ANÚNCIO
• A comunidade que acolhe o evangelho torna-se uma “carta de Cristo” (2Cor 3,3). Isto é,
ao acolher o evangelho na fé, encarnou de tal modo a sua mensagem que esta se manifesta
nela ao vivo. É como uma carta cujo autor é Cristo e na qual Cristo revela todo o seu amor.
• A comunidade é baptizada na morte de Cristo. Salva pela sua ressurreição a comunidade
testemunha o evangelho que recebeu “… entregai os vossos membros, como armas de
justiça, ao serviço de Deus” (Rm 6,13). O baptismo, início de uma vida nova, compromete-
nos (Rm 6,12-14).
• Passar das trevas para a luz. “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz do Senhor” (Ef
5,8). Tornamo-nos luz, se reconhecermos Cristo como Senhor e a ele nos entregamos.
• Participar da mesa do Senhor para formar um só corpo (1Cor 10,14-22).
• Testemunhas vivas da graça de Deus que se encontra no crente (2Tim 1,6-14).
• Revestir-se da caridade que é o vincula da perfeição (Col 3,12-17) porque imitação da
caridade perfeita de Cristo.
9) CONCLUSÕES
• Paulo é um homem das encruzilhadas e das fronteiras. O sábio é um Methórios “aquele que
está sobre a fronteira”. Assim é Paulo.
• Com Paulo, o cristianismo tem de tornar-se sem fronteiras. Com ele, o cristianismo ganha a
amplidão que o próprio Jesus prometera: “Ide pois, fazei discípulos de todos os povos,
baptizando-os … ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado” (Mt 28,19-20).
“Em Cristo já não há judeu nem grego, …”; “tornei-me tudo em todos para ganhar
alguns…”
• O mundo Paulino tem um centro imutável: Jesus. Um centro fixo num pensamento móvel.
“Tudo considero esterco…” (Fil 3)
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• A salvação já está a correr. Fomos baptizados na morte e ressurreição de Cristo. A salvação
começou com Cristo, agora é a cada um de a continuar, de a traduzir na realidade.
PAULO E JESUS
Experiência de Jesus: para ele é idêntica à de Pedro e à dos outros a quem Jesus apareceu depois da
ressurreição (1 Cor 15).
Relatos de aparição: 1) Jesus estava morto e perdera-se a esperança. 2) Jesus intervém. 3) Jesus
oferece um sinal da sua identidade. 4) o(s) discípulo(s) reconhece(m) Jesus. (Jo 20,11-16; Lc 24,13-
42).
Paulo já tinha pensado em Cristo (de um modo que agora se envergonhava) “à maneira humana”
(2Cor 5,16)
É Jesus quem toma a iniciativa (Fil 3,12-46). “Fui alcançado por Cristo”.
Cristo substitui a lei. Se Jesus é o Messias, então o tempo da lei chegou ao fim. Os gentios já não
eram diferentes dos Judeus no que diz respeito à sua esperança da salvação.
Gal 1,15-16 –do ponto de vista de Paulo a sua submissão a Cristo implicava, ao mesmo tempo,
aceitação do dever de o proclamar como Senhor, no mundo pagão.
A personalidade de Jesus tornou-se uma parte fundamental das suas pregações orais (2Cor 11,4) e a
base dos seus ensinamentos éticos (Gal 6,2). O comportamento de Jesus era tão claro que podia ser
imitado (1Cor 11,1), ao ponto de, no seu estilo de vida, espelhar conscientemente a “vida de Jesus”
(2Cor 4,10)
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Paulo cita Jesus 3 vezes: 1Cor 7,10-11; 9,14; 11,23-25. Mas as alusões aos seus ensinamentos
abundam nas suas cartas.
Uma das características da pregação de Paulo era o seu enfoque no facto de Jesus ter morrido por
crucifixão. Não há indícios disto nem em Pedro nem nos outros apóstolos. As pregações da igreja
primitiva sublinhavam a morte de Jesus e o seu significado salvífico, mas mantinham-se
resolutamente silenciosas quanto à forma como Jesus tinha morrido (1Cor 15,3-5).
Jesus, o Messias, não precisava de morrer, se morreu foi porque quis, por opção, por mim (Gal 1,4;
2,20) – “filho de Deus que me amou e se entregou por mim”
Tornou-se apóstolo dos gentios por causa da crucifixão de Jesus (1Cor 2,2; cf Fil 2,8; Col 1,20).
A morte de Jesus é o único acontecimento da vida de Jesus ao qual Paulo volta vezes sem conta. É a
chave para o significado da sua vida: o que torna cada pessoa genuinamente humana é o sacrifício
de si mesmo, demonstrado em Cristo.