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Florianópolis, 2005.
3
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado a graça de ter saúde e disposição para concluir um
curso de história.
inicio acreditou em meu projeto e por ter me dado o norte em vários momentos, enfim
do meu trabalho.
Aos meus colegas de turma, pelos anos de juventude que dividiram comigo, as
alegrias, angústias, os das provas, os lanches, os dias de estágio, nossas viagens, festas,
EPÍGRAFE
...
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................10
CAPÍTULO I ......................................................................................................14
CAPÍTULO 2 .....................................................................................................26
CAPÍTULO 3 ....................................................................................................43
REFERÊNCIAS .................................................................................................78
9
ANEXOS ............................................................................................................Erro!
Indicador não definido.
10
INTRODUÇÃO
crítica quanto as lacunas dessas histórias nos livros didático ou não, aparecendo em
forma de “textos fragmentados de poucas páginas e mais para dizer que fomos à guerra,
Fala-se muito do confronto bélico, dos heróis, das estratégias dos meses de
daqueles soldados que foram recrutados pela FEB, este silenciamento estaria
relacionado ao fato de que eram quase na sua totalidade pobres ou sem direito a uma
história? Ou, por que não voltaram com uma medalha no peito? Ou ainda, por que mais
selva amazônica?
pretensões de fechar o tema, este trabalho procura perceber como foram recrutados, os
11
borracha durante a Segunda Guerra), este não foi tomado por acaso, intenciona mostrar
Quanto à escolha do tema, uma das razões que mais pesou foi o ineditismo e a
pouca importância que foi dada ao segundo surto do extrativismo da borracha no âmbito
vitória: a borracha. Tal privação ocorreu devida o domínio japonês sobre os grandes
Para suprir esta carência foi tramada uma rede de interesses econômicos,
à Itália e ao front amazônico; estes últimos sujeitos desta história que pretendo contar,
apagamento da história.
Este trabalho está estruturado em três capítulos, sendo que na primeira parte,
1
FÁVERI, Marlene de. Memórias de uma (outra) guerra: Cotidiano e medo durante a Segunda Guerra
em Santa Catarina. Itajaí: Univali, Florianópolis: UFSC, 2004, p.20.
12
Mundial.
Assim, convido aos leitores para uma visita ao “inferno verde dos anos
que ainda permanecem com certa nostalgia do honroso título e do capital simbólico
CAPÍTULO I
Em l.939 a Polônia foi invadida por tropas alemãs numa campanha chamada:
atacaram a base aeronaval do Porto das Perolas no Havaí o “Pearl Harbor”, e diante
Alemanha e a Itália.
Congresso que a data do ataque seria marcada pela infâmia e que a guerra só acabaria
Estados Unidos na Guerra, formaram-se assim dois blocos: os Países Aliados formados
por: Estados Unidos, França e Inglaterra e os Países do Eixo formados por Alemanha,
Itália e Japão.
até este momento o presidente Getúlio Vargas não escondia sua simpatia pelas
relações diplomáticas com Hitler, por ter sido permitido as instalações de “Bases
vista dessas concessões, o Brasil passou a sofrer represálias, como os ataques constantes
aos nossos navios, promovidos por submarinos dos Países do Eixo, os quais causaram o
editado o Decreto-Lei nº 5255, em 01/09/42, que dispunha sobre a situação militar dos
Amazônico.6
(FEB.); enquanto a “FEB” deslocava seu pelotão para a Itália, outro contingente
consistia na extração de borracha e garantir a vitória das Nações Aliadas, na luta contra
2
EDITOR ABRIL. ALMANAQUE ABRIL. 2003.São Paulo: Editor Abril, 2003. CD-ROM
3
CORSI, Francisco Luiz. Estado Novo, Política Externa e Projeto Nacional. São Paulo: UNESP, 2000,
p.87.
4
FÁVERI, Marlene de. Op.cit., p.44.
5
Idem, p.43.
6
BENCHIMOL, Samuel. Romanceiro da Batalha da Borracha. Manaus: Imprensa Oficial, 1992, p.70.
16
sendo comercializado com os Estados Unidos pela ilhas da Malásia, todavia o Japão ao
dominar essas ilhas proibiu a venda desse produto aos Países Aliados.
recrutamento de tropas para numa operação de emergência colher látex nos seringais
amazônicos, quando ficou estabelecido que apoio logístico ficaria a cargo do Brasil e o
destaca Benchimol, “fornecem-se homens como coisas”, a quem pedir primeiro, sem
se há como alimentá-los.7
7
BENCHIMOL, Samuel.Op.cit.,p.74.
17
Brasil no final do século XIX. Para trabalhar na coleta do látex, essas correntes
população rural sertaneja, eles não tinham outra alternativa a não ser migrar. Grande
parte das bibliografias estudada sobre o tema, enfatiza que os nordestinos migram para
isso escondem a questão fundamental, que é a estrutura fundiária nordestina que vem ao
longo dos anos propiciando a expulsão de milhares de pessoas para outras regiões do
país.8 Um exemplo concreto e atual da questão fundiária é a morte da Irmã Doroty Mae
Pará.9
8
MEDEIROS, João Souza. Os Degredados Filhos da Seca. Petrópolis: Vozes, 1983, p.72.
9
BRASILIENSE, Ronaldo, PEDROSA, Mino.Até a próxima. REVISTA ISTO É, São Paulo, nº 1845,
pp.32-38, de 23 de fevereiro de 2005.
18
significava fortuna, mas para explorá-lo era necessário muito mão-de-obra para a coleta
colheita da safra.
Mesmo aqueles que não quisessem sair do nordeste, eram compelidos, através
houve casos de embarque à força, em que o marido foi enviado para o norte e a mulher
10
para o sul”. O Governo dava incentivo a esses migrantes nordestinos oferecendo
350 mil pessoas, e o trabalho desses migrantes elevou a produção da borracha que em
Amazônia. .
pode ser considerado um símbolo dessa época, nele as elites amazonenses assistiam a
10
MEDEIROS, João Souza. Op.cit., p.74.
19
exibido em 1895, atualmente vendido aos turistas, como lembrança da época áurea. São
muitos os espaços e monumentos que dão sentido ao mito “Belle Époque” a arquitetura
a literatura regional, a memória, dão uma visão do cotidiano desse período fausto de
modelos femininos vindos de Paris. Os bancos estavam sempre lotados, havia hotéis
com estilo e luxuosas pensões “alegres”, onde os ricos comerciantes se deliciavam nas
11
LIMA, Cláudio de Araújo. Coronel de Barranco. 2 ed. Manaus: Valer 2002: 90
12
Guia Turístico da agência de Turismo CVC, em 19/11/2001, na cidade de Manaus/AM.
13
LIMA.Cláudio Araújo.Op.cit.,p. 77.
20
pelo escocês Johon Bayd Duntop, ocorrido no mesmo ano mesmo ano em que Brasil
Punhado de Vidas”. O autor denuncia o modelo de sociedade dos seringais que subtrai
pela esperança e constrói uma critica sobre a forma primitiva e brutal do capitalismo
predominante na Amazônia. 14
14
CASTRO, Aristófanes, Um punhado de vidas. Manaus: Valer /OAB-AMAZONAS-2001
21
sobre a Borracha.
Assim descreveu:
borracha aplicada sobre um tecido o tornava encerado e podia ser utilizada para luvas de
bomba, roupa para mergulho, saco para bolacha, a grande idéia do cientista foi
transformar a matéria prima da borracha em uma nova indústria, mas a dificuldade era
também ligas que seguravam as meias das senhoras. E assim foram surgindo fábricas
15
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de O cotidiano e a sociedade da borracha. São Paulo: Atual. 1997,
p.11.
22
de Thomas Hancock, tido como o pai da industria da borracha, por ter conseguido
industrializada e aclimatada e seu uso foi possível em qualquer parte do mundo desde a
16
Apud: FIGUEIREDO.Aldrin Moura de. Op.cit.,p.6 .
17
idém, P. 27-34.
18
VULCANIZAÇÃO: nome dado ao processo de vulcanização da borracha vem de vulcano, deus
mitológico protetor do fogo e da metalurgia na região da Roma Antiga. Essa analogia deve-se ao fato da
vulcanização empregar enxofre e calor num processo semelhante à metalurgia. Dicionário XIMENES,
Sérgio, mini dicionário de Língua Portuguesa. São Paulo: Ediouro, 2000, p 970.
23
Rio Amazonas.
que ocorrera com a China e outros países da Ásia, agilizou a ocupação da região e
É importante observar que estas migrações do século XIX eram compostas por
famílias, diferente da migração dos recrutas (soldados da borracha), nas quais só era
19
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Op.cit.,p.48-53.
20
MORAIS Raimundo: Na Planice Amazônica: Belo Horizonte: Itatiaia 1987, p.124.
21
BENCHIMOL, Samuel.Op.cit.p.81.
24
Inglaterra. No ano posterior a esta abertura foi assinado o tratado de Aycucho entre o
Brasil e a Bolívia que definia a livre navegação pelos Rios da Amazônia e concedia ao
Amazônia; a frota era composta por 34 navios. Ao contrário dos navios brasileiros,
ofereciam conforto, higiene e boa alimentação aos passageiros; pouco tempo depois
estas empresas se uniram e criaram ligações diretas entre o porto de Manaus e portos da
22
MORAIS, Raimundo.Op.cit.,p.126.
23
BENCHIMOL, Samuel Op.cit.,p.121.
24
Indochina (Indochine, 1992. França) Direção: Régis Wargnier.
25
miséria se abateu nos seringais e nas cidades, culminado com “a gripe espanhola que
produziu uma pequena camada social que vivia da intermediação. Na Amazônia, não
aconteceram as alterações como no centro do país, com a produção do café que era
baseado nas relações de produção do tipo salarial, das quais resultaram em expansão do
25
MARTINELLO, Pedro. A borracha e suas conseqüências para o Vale amazônico. São Paulo. USP.
1985 P. 82.
26
BRITO, Nara Azevedo de, La dansarina: A gripe espanhola. História, Ciências Saúde-Manguinhos.
Vol, 5. Rio de Janeiro, ago. 1998, p.28.
26
CAPÍTULO 2
poder estava nas mãos de Getúlio Vargas, que governou o Brasil por 15 anos (1930-
como um plano comunista para a tomada do governo por meio de uma insurreição
armada, o Chamado “Plano Cohen, Getúlio Vargas se dirigiu a nação para comunicar e
27
DOTTORI, Ella Grinsztein; MATTOS, Ilmar Rohloff de, SILVA, José Luiz Werneck da. Brasil, uma
história dinâmica. São Paulo: Nacional, 1975, p.274.
27
Parafraseando Corsi “Vargas era o senhor da situação”,28 ascendeu o poder com o apoio
dos tenentes e oligarquias agrárias insatisfeitas com a República Velha, essas duas
para se fortalecer no poder, esta política era caracterizada como populismo ou como
unidade da nação.”29
econômico, baseado na exploração dos recursos naturais. O grupo social que apoiou e
levou Getúlio Vargas ao poder em 1930 (os tenentes a burguesia industrial a classe
poder, Getúlio Vargas teria que seguir uma política que fosse favorável a esses grupos e
imprensa o oficio do jornalismo era por ele chamado de “sacerdócio cívico”. Atribuía
grande importância na formação da opinião pública, para que ela seja corpo e alma e um
só pensamento brasileiro.”31
28
CORSI, Francisco Luiz, Estado Novo: Política Externa e projeto Nacional, São Paulo:UNESP,.2000.
29
FÁVERI, Marlene de. Op.cit.,p.484.
30
LENHARO, Alcir. Sacralização da política. Campinas, São Paulo: Papirus, 1986 p.38.
31
LENHARO, Alcir. Nova política do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria J Olympio, 1938, p.300.
28
intervinha nos meios de comunicação que não fossem favoráveis ao regime imposto. O
rádio foi o instrumento utilizado em larga escala para difundir a idéia de unicidade de
Estado forte e da ideologia nacionalista pelo clima e pelo teor simbólico que alcançava
patriotismo e dos ideais militaristas. Para estes o rádio passa a ser parte integrante do
universo simbólico, representado pela nação. Portanto este veículo de comunicação foi
um aliado eficaz no projeto de Getúlio Vargas, naquele momento, pois se utilizava dele
para uso político e para levar aos rincões do país o programa Hora do Brasil, produzido
Alexandre Marcondes Filho se utilizava desse horário para falar ao povo brasileiro das
entretanto o rádio, por ser considerado popular, foi o meio de comunicação mais
expressivo da época e assim garantiu a presença de Getúlio Vargas nas residências mais
32
LENHARO, Alci.r Op.cit.,p. 39.
33
FÁVERI, Marlene de Op.cit.,p.342.
29
marcante do rádio”.34 E assim o poder de Getúlio Vargas foi sendo construído através
nação ela própria, mas a imagem que dela estava se formando, gestando um sentimento
cultural.
veículo de propaganda das idéias oficiais está contido na frase do diretor geral do DIP
(...): “O rádio chega até onde não chegam à escola a imprensa, isto é, aos pontos
34
BRANDI, Paulo. Vargas: da vida para a História. Rio de Janeiro: Zahar Editores S. A, 1983, p.141.
35
Idem, p. 142.
30
“Marcha para Oeste”, esta pretensão está evidente no pronunciamento feito por Getúlio
veremos a seguir:
(...) Nada nos deterá nessa arrancada, que é o século XX, a mais
alta tarefa do homem civilizado: conquistar, dominar os vales
das grandes torrentes equatoriais, transformando a sua força
cega a sua fertilidade extraordinária em energia disciplinada. O
Amazonas, sob o impulso fecundo da nossa vontade e do nosso
trabalho, deixará de ser afinal um simples capítulo da história da
terra, e equiparado aos outros grandes rio retornar-se-á um
capítulo da história da civilização.36
Esse discurso nos permite pensar na pretensão do governo brasileiro em firmar o
Brasil como uma potência econômica equiparada as grandes nações ditas “civilizadas”,
vivia” numa atmosfera construída pelo governo de Getúlio Vargas e pelos meios de
36
BENCHIMOL, Samuel. Op.cit.,p.70.
31
Alemanha, Itália e outros países que chegaram à revolução capitalista com atraso,
impediria a expansão Imperialista Americana,. Corsi observa que: “Vargas era o senhor
posição definida, oscilava ora a favor do Eixo, ora a favor dos Aliados, embora
Aliados. Esta linha de autonomia foi mantida até 1940, quando “A guerra fechou a
perdeu boa parte dos mercados europeus, ficando vulnerável as pressões norte-
americanas”.39
37
JUNQUEIRA, Mary Anne. Ao Sul do Rio Grande. Bragança Paulista: EUSF,1991,p.63.
38
CORSI, Francisco Luiz. Op.cit.,p.287.
32
européia.
América latina.
A influencia dos países do Eixo, era temida por vários motivos, esses países não
Unidos instalaram no Brasil uma agencia “Office of the coordinator of comercial and
esta agência foi idealizada e coordenada pelo multimilionário Nelson Rockfeller, e era
também criou o programa “Repórter Esso”, patrocinado pela Standard Oil, Companhia
de sua propriedade, este programa tornou se conhecido pelas chamadas: “Alô, Alô
repórter Esso, testemunha ocular da história”, esta chamada dava credibilidade aos
noticias divulgadas.
39
CORSI, Francisco Luiz, Op.cit.,p.287.
40
FÁVERI, Marlene de.Op.cit.,p.39.
33
intervenção militar, isso fica explicito na fala do presidente Roosevelt, que logo após
sua posse na presidência dos Estados Unidos afirmou “Bons vizinhos devem cumprir
tratados”.41
num esforço de Guerra produzirem borracha para suprir a industria bélica americana em
41
AQUINO, Maria Aparecida de. América vai à Guerra.In COGGOLI, Osvaldo.( org.) Segunda
Guerra Mundial. São Paulo: Xamã, UM. Editora e Gráfica. SP: 1995. 192.
34
produtoras de borracha, nas Ilhas da Malásia, trouxe preocupações aos Países Aliados
guerra.
Diante dessa situação o presidente dos Estados Unidos nomeou uma comissão
de guerra, esta comissão concluiu que: o produto mais crítico e o problema mais urgente
Aliados.
44
In: MARTINELLO, Pedro. Op.cit.,p. 88
45
Foto encontrado na biblioteca municipal Dr. Cyro Escobar de Ji-Paraná/RO - Paraná, RO.
36
toneladas de anuais.46
como: borracha, aniagem, babaçu, cacau, café, castanha, linters de algodão mamona
timbó.
Minas gerais, e de início foi destinado U$ 5.000.000 (cinco milhões de dólares) para
46
MARTINELLO, Pedro.Op.cit.,p.93.
37
2º) O preço básico fixado foi de 39 cents por libra –peso FOB
Belém, para a qualidade fina lavada:
47
MARTINELLO, Pedro. Op.cit.,p.108.
38
e o governo americano:
Esse acordo pode ser considerado como o inicio da batalha pela borracha para
Carioca, num artigo publicado em 03/06/42 comentava que o governo brasileiro num
48
Apud: MARTINELLO, Pedro. Op.cit.,p.104.
39
Para por em prática esses acordo da extração da borracha em larga escala, foi
onde recrutou jovens, principalmente das regiões semi-áridas do sertão nordestino, com
metáfora de soldados para lutar no front dos seringais amazônicos. Para o Brasil este foi
49
Idem, p.109.
50
SEINTEINFUS, Ricardo. A Entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre:
EDIPURS, 2000, p. 281.
40
gêneros toda a área de produção da borracha.Tão logo foi concretizado o plano para
concorresse para a aquisição de um montante cada vez maior da borracha natural. Estes
objetivos foram divulgados por um jornal do sul dos e Estados Unidos, que naquele
51
BENCHIMOL, Pedro. Op.cit.,p.84.
41
ela coube total responsabilidade pelo desenvolvimento das fontes e suprimento pela
comercialização do produto produzido fora dos Estados Unidos, o raio de ação dessa
agência era sentido em todas as atividades que envolviam esta operação desde o setor de
estação de rádio se envolvia até na compra de mulas para transporte de carga nos
seringais”.
situação e a agência brasileira teve uma atuação secundária, inclusive os acordos eram
dentre outras coisas, abastecer o mercado de borracha e neste esforço de guerra, vir a
52
DEPARTMENTS OF STATE, Foreign. Relations of the United States, v5,143, citado por
MARTINELLO, Pedro Op.cit.,p.116.
53
Idem, p. 123.
42
Entretanto, para que isto fosse possível era necessário que diversos homens se
capítulo a seguir.
.
43
CAPÍTULO 3
por atos de agressão contra bens do Estado brasileiro e contra a vida e bens de
seus portos.55
laços de amizade com Hitler e com os paises formadores do Eixo, torpedearam navios
54
FÁVERI, Marlene de. Op.cit.,p.519.
55
SEITENFUS, Ricardo. Op.cit.,p.315.
44
de 25.334 Soldados para a libertação da Itália, pela primeira vez um contingente latino
americano saía para uma guerra fora do seu continente”.57 O Decreto nº 10.385 de 31 de
56
FÁVERI, Marlene de. Op.cit.,p.44.
57
AQUINO, Maria Aparecida de. A América vai à Guerra In: COGGIOLA, Osvaldo. Op.cit.,p.192.
58
BOBIO, Pedro Coletânea de Legislação, São Paulo: LEX LTDA.
58
NEVES, Abel. Amazônia. Rondônia: Regional Ano VI, 1992, p. 72.
45
guerra tão importantes quanto aqueles que iriam para o Front-Europeu e o “exército da
amplamente divulgadas, apelos eram veiculados nos rádios e jornais, como este,
59
Idem.p.89.
60
LENHARO, Alcir. Op.cit.,p.86.
61
CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL de 1937. p.13.
62
Jornal, O ACRE. Rio Branco: nº 47, 1º de maio de 1943. Acervo particular da autora
46
pelo seu estilo carismático e excelente comunicador não hesitava em utilizar seus dons
queda de Paris, diante das tropas nazistas representou um avanço das novas democracias
teatro de esforço de guerra constituía o eixo das preocupações daqueles que desejam a
O soldado era construído pelo o discurso ideológico e para ser útil era necessário
63
POMPEU, Renato. Um homem de muitas faces. Caros Amigos, São Paulo, nº 21, ago. 2004, p.04-05.
64
Jornal: O ACRE, nº 742 de 20/05/43 – Rio Branco- Acre Acervo da autora.
47
“nas guerras modernas não fazem parte somente os soldados que estão nos campos de
forte bravo e corajoso, o tipo ideal para defender a humanidade. Argumentos como
estes, circulavam nos jornais e rádios, como o que foi divulgado no Correio do Ceará,
em março de 1942.
65
Jornal: O ACRE, Idem.
66
MACEDO, Tibério Kimel de. Eles Não Viveram em Vão: A saga dos pioneiros do Batalhão dos Ermos
e dos Sem Fim-Porto Alegre: Est. Edições. 2003:47
67
Jornal CORREIO DO CEARÁ, nº 84, mar., 1942, Fortaleza, Ceará. Citado por: BENCHIMOL,
Samuel Op.cit.,p. 61.
48
até concessão de uniformes para aqueles que seriam encaminhados ao front dos
seringais.
não tinha noção do trabalho e nem mesmo sabia para onde seria levado nessa operação
de guerra. Nas memórias de Raimundo Aguiar, alistado no Ceará em 1943, com 19 anos
para produzirem borracha em nome do esforço de guerra, esta operação denota uma
além do rádio, dos jornais a imagem foi largamente utilizada para reforçar e agilizar o
recrutamento de jovens para essa operação. Neste sentido, o artista plástico Jean Pierre
68
AGUIAR, Raimundo, 80 anos foi soldado de borracha, recrutado na localidade de Canindé, trabalhou
no seringal setenta no antigo território de Guaporé, hoje estado de Rondônia, aposentou se em 1991,
depoimento concedido a autora, em 08/01/2005, na cidade de Ji-Paraná/RO.
49
69
Chabloz foi contratado pelo DIP, como chefe de desenhos publicitários de SEMTA,
atribuições, uma delas consistia em criar biotipos para a seleção dos candidatos ao
exército da borracha.
muito em voga na época da guerra, entre os seus projetos havia o esboço de um corpo
“normal” como protótipo a ser comparado aos corpos dos nordestinos, esses biotipos
apresentava pescoço longo, a medida do tórax era igual a medida do abdômen, os pêlos
não podiam ser abundantes e deviam obedecer um tipo de implantação masculina, dessa
pensamento medico higienista em sua vertente eugênica e essa idéia era aceita por
intelectuais brasileiros, entre eles Renato Kehl, Rui Barbosa e Fernando Azevedo
como uma subcategoria e esta classificação era determinada pelo biotipo de seus corpos,
que não correspondiam aos padrões que preconizavam um corpo saudável, robusto e
disciplinado.70 Era desconsiderada toda a miséria física e social, que estava inserida a
69
CHABLOZ, Jean Pierre, nascido em 1910 em Lausanne, Suíça e falecido em 1984 na cidade de
Fortaleza, ceará em 1984. Disponível em <http// www.newton.fritas.non.br.Textos.154.asp > acesso em
04 de fev. 2005
70
SOARES, Carmem, Educação Física: Raízes Européias e Brasil, Campinas, SP: Autores Associados,
2001. p.81.
50
disgenopata. Era considerado o mais próximo do normal por apresentar tronco longo e
reconstituição física e moral. Segundo Rui Barbosa “A ginástica, além de ser o regime
desqualificação dos corpos que não atingissem o ideal normal, proposto pela medicina
uma vez como afirma Fernando Azevedo “um organismo sadio e de músculos
adestrados é de certa forma mais fácil a moralizar que uma máquina humana
enfraquecida e emperrada.” 72
71
BARBOSA Rui. Obras completas, Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, V.10, T.2, 1946,
p.47.
51
eugenia, como estratégia para dar uma feição ao ‘nação brasileira”, a fealdade descrita
expressa “Um povo se estiola e degenera quando no seu seio, os inferiores tem mais
filhos que os capazes e bem dotados(...)”, a aplicação das leis eugênicas, “eram
imagens de infra homens são perceptíveis nas imagens de Chabloz que ao desqualificar
“inferioridade”.
realizados nas quadras de esporte dos quartéis, os recrutas, além de praticar exercícios,
72
AZEVEDO, Fernando.Da educação Física. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos. 1960, p.238.
73
Ramos, Maria Bernadete.Corpo e Cultura. São Paulo: PUC, 2002,p 293-297.
74
KEHL, Renato. Porque sou eugenista. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1937, p. 54.
52
que os submetia aos preceitos regulares e obediência sem hesitação aos chefes. Lembra
Foucault que “as disciplinas são técnicas para assegurar a ordenação das multiplicidades
Foucault nos ensina que: “na segunda metade do século XVIII, o soldado se
tornou algo que se fabrica, de uma massa informe, de um corpo inapto fez-se a máquina
submetidos.
diferentes daqueles que iriam enfrentar na Amazônia com os seringais nativos, onde a
75
SOARES, Carmem. Op.cit.,p.65.
76
FOUCAULT, Michel.Vigiar e punir: nascimento da prisão.Petrópolis: Vozes, 198, p.179.
77
FOUCAULT, Michel, Op.cit.,p.117.
53
colher esses frutos e dessa forma estava também contribuindo para a vitória da guerra
que estava sendo travada. A propaganda foi exercida sem limites para atrair milhares de
Diante dos cálculos feitos por técnicos americanos faltava mão de obra. Em toda
da exploração da borracha. Portanto foi necessário realizar uma mega operação para
transportar esse contingente e num regime de urgência abastecer os Paises Aliados. Para
a cargo do governo brasileiro e o apoio financeiro caberia aos Estados Unidos, a Rubber
do látex. O Brasil tinha também pressa em ver resolvida suas pendências econômicas,
78
NEVES, Abel. Op.cit.,p. 63-70.
54
Foi formada uma comissão para conduzir os soldados para as margens do Rio
como animais sofrendo fome e humilhações e nesta odisséia, rumo ao inferno verde,
muitos adoeciam.80
“numa calça de mescla azul, uma blusa de morim branco, um chapéu de palha, um par
de alparcatas de rabicho, uma caneca de flandres, um prato fundo, um talher, uma rede,
e um saco de estopa no lugar da mala, como presente do presidente Getúlio Vargas, uma
79
Apud:NEVES,Abel. Op.cit.,p.82-84.
80
Idem, p.75.
81
BENCHIMOL, Samuel, Op.cit.,p.92.
55
borracha e iniciavam a viagem que poderia demorar mais de três meses, incluindo aí
paradas á espera de transporte. Pior que o desconforto era o perigo de ir a pique no meio
do mar. Em caso de naufrágio, havia nos bolsos internos uma pequena provisão de
bolachas e água, e nos casos de captura, uma cápsula de cianeto para escapar da
classe.84
viajantes:
difícil imaginar a vida nos seringais onde a lei era imposta pelo seringalista a quem os
ali (nos seringais) uma anomalia sobre a qual nunca é demasiado insistir. É o homem
82
MENEZES, Geraldo, 79 anos, “soldado da borracha”, aposentado, residente na Linha MC 7, do
municipio de Ji-Paraná/ RO. Entrevista concedida a autora, no dia 12/01/2005.
83
DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA Manaus, 23 de agosto de 1943 p 284. Citado por: MARTINELLO,
Pedro. Op.cit.,p.274.
84
Idem, p. 84.
85
Apud: MARTINELLO, Pedro Op.cit.,p.230.
86
CUNHA, Euclides: A Margem da História.Porto. Lello & irmãos, 1941, p.51.
57
frutos, entretanto a realidade demonstrou ser a bem diferente, pois o corte da seringa,
látex e os cuidados que deveriam ter para não tornar a árvore infértil. Enquanto não
ter habilidade no manejo com o corte da seringa, era necessário um certo tempo para se
e americano, também não havia moeda corrente, a borracha era a moeda de troca, e essa
transação tornava os soldados reféns dos seringalistas, além dos baixos preços pago ao
látex e do alto preço pago pelos mantimentos, armas, munição e remédio como
demonstra uma dessas contas cedida pelo “soldado da borracha” , Francisco Antonio de
Souza:88
88
MARTINELLO, Pedro.Op.cit.,p.285.
58
1944
J.R.AGUIAR
31/12/1944- Janeiro de 1994 DÉBITO CRÉDITO
Recebi do Sr. Francisco Antonio de Souza, 42 peles 2.682,00
de borracha de marca FS 2.235 kgs, 111.60
Sernambi 185 kgs 275,00
55 dias serviços prestados 5,00 _______
Cr$ 3.068,60
TOTAL :....................................................................
adversidades impostas; primeiro por não dominar a técnica do trabalho, também não
tinham opção de escolha para moradia, em média suas cabanas eram separadas umas
casca da árvore, para não torna-la infértil, alem das técnicas da coleta era também
estipulado o.tempo necessário para que o látex escorresse por sobre a incisão até atingir
Após uma jornada diária 10 horas de trabalho, para cortar aproximadamente 150
vezes até pelo vizinho da colocação, estabelecendo com esta prática, formas rígidas de
controle social dos homens e do espaço, conforme relato em que foi protagonista:
89
Entrevista concedida ao prof, Pedro Martinello por João Avelino da Silva, no dia 21 de janeiro de 1982,
em Rio Branco, Acre. MARTINELLO, Op.cit.,p.260.
90
NEVES, Abel. Op.cit.,p., p.92.
60
Este fato registra e mostra à saciedade, a que tipo de exploração, coação moral e
medo, insegurança, fome, doença, e solidão e morte este foi o palco do front amazônico,
da selva pela sua sobrevivência e até pela fome, e na maioria das vezes não tinha
permissão para cultivar a fração mínima de um hectar de terra que o governo lhe
cultivo da sua roça;o patrão também estipulava a quantidade mínima diária de produção
de borracha e para atingir a cota ,alguns tinham que começar a coleta de madrugada, só
realizadas a coleta para garantir a produção e evitar desavenças com os patrões, tidos
como donos da verdade os que promoviam a justiça e podiam até mesmo, decretar a
morte.
por exemplo, se o trabalhador não cumprisse a cota de produção, como castigo não teria
acesso ao barracão (armazém), o que implicava na falta de gêneros básicos como: sal,
91
Apud: MARTINELLO, Pedro. Op.cit.,p 287.
92
Segundo Abel Neves, saco cauchutado seria um saco de algodão embebido no látex e defumado,
ficando impermeável produzido manualmente pelo coletor é próprio parar carregar o látex líquido.
NEVES, Abel. Op.cit.,p., 1986, p.77 .
61
Outras vezes o seringueiro passava necessidade devido à falta de água nos igarapés
(pequenos afluentes do Rio Amazonas) que servem de estradas desde a sede do seringal
vendida por cr$25, 00, aos soldados da borracha a mesma arma era vendida por
cr$100,00.94
despesas, ma isto não era observado. Os conflitos que por ventura ocorressem ficavam
sem solução não havia órgão para dirimir os conflitos financeiros entre os contratantes.
93
NEVES, Abel, Op.cit.,p.79.
94
Idem, p.83.
62
(janeiro e fevereiro), porém o preço de pagamento somente lhe era dado a conhecer no
final do ano com o acréscimo exorbitante. O soldado por não ter conhecimento de seu
saldo ou débito se tornava um permanente devedor não podia abandonar o seringal com
dividas pela temida prisão do toco, onde o soldado era amarrado, açoitado e morto.
não ter se rebelado bem como os motivos que fizeram com que ele permanecesse nos
demonstrou que o “soldado da borracha” não era tão submisso assim ou entusiasta com
história regional.
Estes homens recorreram ao Padre José Carneiro Lima, que prontamente redigiu
escrita convocou os padres José Carneiro de Lima e seu irmão Padre Peregrino e os
95
Pela: bola de borracha defumada. NEVES, Abel. Op.cit., p.91.
63
Brasil”.
o sul do Estado de Santa Catarina, sob alegação de um clima mais ameno e temperado.
manifestando sua inquietude perante a tensão que reinava na região do Alto Purus, os
Para conter essa rebelião foi necessário muito esforço persuasão para acalmar os
até cinco meses sem ver uma pessoa, não possuía rádio, não recebia notícias, anos após
a guerra ter terminado, muitos soldados nem sequer sabiam, acreditavam estar ainda
servindo a Pátria em prol dos Países Aliados, como também não sabiam que Getúlio
Maria do Socorro Menezes: o seu marido era natural do Estado da Paraíba, serviu o
Brasil como “soldado da borracha” , foi acometido de cegueira muito jovem, e afirmou
ainda ter conhecido dois companheiros de seu marido que também eram soldados da
borracha, e que ficaram cegos, afirmou também que só veio saber que a fumaça da
defumação da borracha produz cegueira, muitos anos após seu marido ser acometido
98
Apud: CORSI, Op.cit.,p.214.
99
Maria do Socorro Menezes, 76 anos, residente na linha MC 7, Estado de Rondônia.Depoimento
concedido a autora, em janeiro de 2005.
65
climáticas, chuvas torrenciais altas umidade, e muitas vezes o trabalho do corte era
perdido pela chuva inesperada que misturava água ao látex o que impedia a coagulação.
traiçoeiras, nas estradas de corte e muitas vezes na própria cabana onde residiam,
temiam também o envenenamento dos córregos pela raiz de timbó ( cipó tóxico),
Outro temor dos soldados era os animais, como a onça que rondava os seringais,
há relatos de que muitos deles tiveram que lutar corpo a corpo com esse animal, e
também as cobras eram muito temidos pelas suas picadas e até pelo estrangulamento da
E neste “front” tão ou mais terrível que o front europeu, o soldado enfrentava a
exclusivamente para o extrativismo, tudo que não se referisse a esta atividade era
proibido ao soldado, desde o cultivo de uma pequena roça no entorno de seu barraco,
Muitas vezes o soldado passava muitos meses sem avistar uma pessoa (homem e
às vezes anos sem avistar uma mulher ou mesmo uma criança). Toda e qualquer
atividade que não fosse o extrativismo era perigosa por representar risco à produção e
prejuízo ao seringalista, (patrão), este era o senhor absoluto, tinha poder de vida e até de
100
NEVES, Abel, Op.cit.,p.82.
66
literalmente a venda através de contrato por tempo determinado. Há relatos de fatos com
alguns seringalistas que traziam mulheres dos prostíbulos de Fortaleza, Manaus, e até da
Bolívia para serem literalmente vendidas aos soldados por tempo determinado.A venda
sobre o papel das mulheres nos seringais, quando muito se referem às bravatas com as
101
LIMA, Cláudio Araújo.Coronel de Barranco. Manaus: Valer, 2002, p. 120.
67
era a borracha, o contrato para aquisição de uma mulher para o período de um ano era
sociedade dos seringais deu se de diversas formas, uma delas é um tipo de prostituição,
da borracha” nas colocações. Estas mulheres eram trazidas de Cobija, na Bolívia, ou dos
“soldado da borracha”, como tudo era regido por cláusula, havia também uma cláusulas
que em caso de surra ou mau tratos a mulher retornava ao barracão para servir a outro
mulheres eram compradas como mercadoria e pagas com borracha que ela mesma
Esses enfrentamentos por certo não foram fáceis de viver: era preciso
sobreviver, inventar formas de driblar desde a natureza, seus perigos, como aplacar a
102
SILVA, Amizael Gomes. Conhecer Rondônia. Porto Velho: M&M, 1998.p.116.
68
natureza inóspita, usura do patrão, e o trabalho como esforço de guerra jamais foram
A primeira idéia que se tem é de considerar que os seringueiros são todos iguais
Dos direitos garantidos aos “soldados da borracha” muito pouco foi cumprido,
pois restou a estes soldados somente o descaso do Governo Federal, bem como o
ao front amazônico, somente 10% deles retornaram as suas origens, sendo que
enviados ao front Europeu.Na selva amazônica 50% dos soldados pereceram motivados
103
Idem. Op.cit.,p.116.
104
MARTINELLO, Pedro. Op.cit.,p. 43.
69
como prêmio ou indenização sendo que o mesmo aconteceu com seus familiares.
Brasileira que lutaram na Itália, após o seu retorno, foram amparados pela Constituição
Federal de 1946 no seu artigo 178, e regulamentado pela Lei nº 5315, de 12 de setembro
• Pensão especial.
Restam alguns poucos, para os quais batalha da borracha ainda não terminou, não
tiveram vitória nem reconhecimento e os que pereceram não tiveram sequer um túmulo.
sobreviventes e familiares. Em certos lugares ainda possuem “status”, pois seus nomes
são lembrados em nomes de ruas, escolas, como exemplo a Escola Julio Guerra, Escola
orgulho que muitos descendentes e familiares ostentam em relação ao seu pai ou avô ter
pelo descaso dos órgãos governamentais a que foram relegados. Hoje quase se foram
todos os que foram recrutados: um ou outro sobrevivente ainda narra sua historia,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Paraná, pela primeira vez ouviu falar e conheci os velhos ““soldado da borracha” ”, fiz
amizade com alguns deles e seus familiares, entre os quais destaco Dona Mocinha é
uma paraibana alta, negra, aparentemente 65 anos, na época (não possuía certidão
nascimento), embora não soubesse ler era muito esperta, falava e se expressava muito
bem.
Em nossas conversas, falávamos muito sobre a sua vida nos seringais e sobre os
seus causos, dizia que veio da Paraíba com 12 pra 13 anos trazida para um seringalista,
que havia andado por muitos seringais da Amazônia, tendo servido tanto aos soldados
bonito o leite escorrer na tijelinha, lembrava que seus filhos foram criados com farinha
Contava que as mulheres iam pro seringal “pra acarinhar homem” e trabalhar
também; Dona Mocinha se dizia solteira e que fora muito judiada por essas andanças
em seringais: entre as dificuldades que narrava, sempre me chamou atenção o fato de ter
enfrentaram uma Amazônia, muito mais selvagem do que aquela que eu estava
descobrindo, nos idos da década de 80; despertou o meu interesse em saber mais sobre
estas pessoas, sobre o que as motivou a irem enfrentar aquela imensidão verde, como
falasse sobre essas pessoas. Entretanto o que me impressionou foi que todo o material
encontrado tratava apenas sobre a floresta amazônica em si, por ser a maior de todas
la, passando da Hiléia ao “inferno verde” dos anos quarenta, “paraíso dos aventureiros”,
“terra dos minerais” “pulmão do mundo” e muitos outros. É inegável que estas são
expressões que retratam a realidade ao mesmo tempo provocam fascínio pela descrição.
Ainda destacamos que essas expressões nos dão conta dos modos e dos olhares pelos
Entretanto, pouco ou nada se encontra sobre a realidade social das pessoas que lá
viveram, e vivem, que desbravaram aquelas matas, pessoas estas que também fizeram a
história do país e que foram esquecidas, pois a floresta amazônica, com sua
biodiversidade, sua imensidão verde, sua fauna e flora, despertavam mais interesse aos
pobres muitos deles analfabetos, residentes em casas de “pau a pique” - nas quais a
parede e o teto eram e ainda são feitos de folhas de palmeira entrelaçada e o assoalho
de chão batido, o prato do dia farinha d’água e quando conseguiam tinham uma carne
para comer- proveniente de caça na floresta, entre outras dificuldades que encontravam
no interior da floresta).
expansão na Europa.
tecido pelo capital internacional e o governo brasileiro, foi travada a batalha da borracha
o Front Europeu, outro contingente com o dobro de recrutas se deslocou para o Front
lutava conta os inimigos do Eixo, o segundo trabalhava para suprir carência da borracha
seringalistas.
mais de trinta mil soldados a perderem suas vidas nos seringais, enquanto os (in)
abandono, não lhe foram dadas condições nem mesmo de retornar as origens e a grande
maioria nem soube quando a guerra terminou, muitos deles permaneceram por anos na
Tais homens, não foram sequer reconhecidos como heróis nacionais, como
historiografica, como se esta batalha que travaram não tivesse espaço na amplitude da
epopéia amazônica.
para que as futuras gerações saibam que os heróis expedicionários não foram somente
os que se alistaram na FEB e lutaram no front europeu, mas sim que outro exército foi
para o interior do país, ajudar na luta contra os países do Eixo, e sofreram tanto quanto
ou mais que aqueles que foram lutar em outro continente, é que espera que o tema
autores, para que esta “ legião de esquecidos “ não continuem a margem da historia,
pais.
Termino dizendo que este trabalho não teve a pretensão de se esgotar este tema,
ao contrário, quis contar uma parte da historia do Brasil, dar visibilidade aos sujeitos
que, sem possibilidades de uma vida menos dura foram seduzidos por promessas de
narra sua historia, teimando resistir o esquecimento, Talvez a historia não fosse
escritura inventava o passado”.105 Marc Ferro, nos ensina que “controlar o passado
sendo este trabalho foi um meio para dar visibilidade à história e ao aspecto social desse
105
MARTINEZ, Tomáz Eloy. Santa Evita. Tradução Sergio Molina. Saõ Paulo: Companhia das Letras,
1996, p.152.
75
essa legião de esquecidos também merecem o seu lugar na história como também os
FONTES DA PESQUISA
a) Jornais:
Brazil, on the march. The South American journal, 28 de dezembro 1942. nº 26,.
v.CXXXIII.
b) Revistas:
c) Imagens
Cartazes de Propaganda:
Acordo de Washington-figura 02
Fotos:
Soldados uniformizados-figura 08
d) Memórias
77
e) Filmes:
f) Cd-Room:
EDITORA ABRIL. ALMANAQUE ABRIL. 2003.São Paulo: Editor Abril, 2003. CD-
ROM
78
REFERÊNCIAS
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194.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
BRANDI, Paulo. Vargas: da vida para a História. 2 ed. Rio de Janeiro: ZAHAR
EDITORES S. A 1983.
BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: A gripe espanhola. História, Ciências Saúde-
Manguinhos. Vol, 5. Rio de Janeiro, agosto, 1998.
CORSI, Francisco Luiz. Estado Novo: política externa e projeto nacional.São Paulo:
UNESP, 2000.
79
DOTTORI, Ella Grinsztein; MATTOS, Ilmar Rohloff de, SILVA, José Luiz Werneck
da. Brasil, uma história dinâmica. São Paulo: Nacional, 1975.
JUNQUEIRA, Mary Anne. Ao Sul do Rio Grande. Bragança paulista: EDUSF, 2000.
KEHL, Renato. Porque sou eugenista. Rio de janeiro: Livraria Francisco Alves, 1937.
MACEDO, Tibério Kimmel, Eles não viveram em vão. Porto Alegre: Edições, 2003
PRADO, Maria Lígia Coelho. Ser ou não ser um bom vizinho: América Latina e
Estados Unidos durante a guerra. São Paulo: Revista USP, 1995.p.52-61.