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Resumo: O objetivo deste trabalho é entender a relação estabelecida entre o público e o privado, segundo o
discurso veiculado nos jornais de Diamantina, procurando entender a ótica feminina nestes documentos. É fato
que a sociedade moderna se “intimizou” e os padrões que regiam o espaço privado serviam como base para se
entender o espaço público. A discussão sobre a mulher que se insere na relação do público e do privado, em
termos do discurso moralista imposto, denota uma clara tentativa de “modelar”, de “padronizar” o
comportamento individual feminino, escapando à mulher o controle de seu corpo e de seus desejos. Desta
maneira, a resistência feminina que se opera, é em favor da privatização do corpo da mulher, na qual lançava-se
mão de um mecanismo muito eficiente: a moda. Desencadeava-se, porém, um processo de transição dos
costumes, que pode ser interpretado como uma crise nas instituições básicas da sociedade – a família e a igreja.
Este processo exigiu uma melhor adequação das instituições ao novo perfil feminino. Assim, a mulher só
conseguiu modificar o espaço íntimo/privado quando se representou diferentemente no espaço público,
promovendo a necessidade de se estabelecer novos padrões de comportamento social feminino.
I
Padrões de comportamento feminino
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“o primeiro e o principal ensinamento que se deve dar às filhas é o catecismo (...). 2º.
Devem-se-lhes ensinar o serviço doméstico, como se faz um bom prato de comida,
como se lava a roupa bem lavadinha, como se arruma a casa bem arrumadinha (...).
3º. Devem as mães cuidar que as filhas não vão aos bailes nem cinemas (...). Em
quarto, e último lugar, toda mãe não deve permitir às suas filhas essa perda de tempo,
horas tão exageradas, que a ninguém ilude”.
(Pão de Santo Antônio, 17/10/1926, n 15, ano XIX).
II
O discurso que publiciza o íntimo e homogeneiza
o comportamento feminino
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O discurso jornalístico moralizador, também se preocupou com o “excesso” de
sensualidade que as mulheres vinham demonstrando. Este discurso representava a presença de
um mecanismo desestruturador da ordem moral, por isso ele estava endereçado às mães de
família, responsáveis por sua prole. Talvez este fosse o motivo de se combater “as liberdades
femininas”, empreendendo a padronização do corpo e das atitudes da mulher no espaço íntimo
e público da atuação feminina. Ao se construir esta “modelagem” para o corpo feminino,
operou-se uma publicização do comportamento da mulher socialmente aceitável no ambiente
público e privado, tendo o jornal como o veículo de transmissão eficaz.
O espaço público da Igreja era, por vezes, um local de encontros e de namoros. Este
era essencialmente um espaço de sociabilidade que passava por um processo direcionado à
padronização e adequação do comportamento social feminino aos padrões morais vigentes. O
jornal ‘O Norte” de 1906, relatava o comportamento ideal da mulher nestes locais, lançando
mão da comicidade para alcançar a todos os leitores.
“Depois do terço duas velhas beatas vão seguindo devagarinho pela rua acima, estão
muito embrulhadas nos chales escuros, com o rosário enroscado nas mãos e
conversam baixo. Diz uma dellas:
Ocê reparou aquelle moço de roupa clara que estava quase de costa pr’o altar?
Credo, Deus me perdôe...
São uns damnados estes moços da cidade – responde a outra – a gente pensa que elles
vae na egreja rezar, Qua!
Reza nada, são uns diabos! Não porque é que elles olham p’ra gente, cruz!
O’ia. Vi dizendo que isto chama baleação, cousa de namoro...
Crédo! – exclama a outra beata enrolando mais o chale no hombro – Commigo elles
perde tempo! Não quero mais casar, sou mãe de filhos... (01/01/1906, n 27, ano I)
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Esta tentativa de padronização aponta para o desejo de publicização do comportamento
feminino, pois o discurso jornalístico moralizador objetivava conseguir melhor
comportamento, de forma geral, de todos os que frequentavam os espaços públicos,
principalmente a Igreja. Era necessário utilizar de exemplos errôneos para então padronizar e
reforçar o padrão aceito socialmente, procurando, assim, evitar que o comportamento social
em público fosse diferente do desejado e mesmo que se criasse um outro. Aliás, neste artigo, o
que se observa é exatamente a transição dos costumes com grande participação feminina. Mais
adiante isto será melhor discutido.
Um decote exagerado
São as mangas curtas, largas...
Que o progresso avantajado,
Previsões tristes amargas!” (Pão de Santo Antônio, 26/09/1920, n 3, ano XIV)
Não cabia às mulheres se apresentar no espaço público de “pernas nuas”, com “braços
de presunto”, “vestes colantes”, “lábios a lacre excitando a sensualidade”. (Pão de Santo
Antônio, 13/05/1934, n 32, ano XXVIII).
Com relação ao corpo feminino, este era entendido como um “corpo público”, no
sentido de que a “ele” era devotado normas comportamentais, não abrindo espaço para a
individualização feminina nos espaços de sociabilidade ou no ambiente privado. Ou seja, à
mulher era rechaçado o direito à liberdade sobre seu próprio corpo, seja através do
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comportamento “adequado” – aquele moralmente aceito -, seja através da moda. A liberdade
era, por fim, temida, pois significava colocar em xeque a padronização/publicização feita até o
momento, além de provocar conseqüências mais sérias, como – o que inevitavelmente
aconteceu – a transição dos costumes.
O que se deve discutir, enfim, é que o padrão privado de comportamento feminino,
transbordava para o espaço público, criando uma rede de relacionamentos que insistiam em
compreender a função social da mulher tal qual aquela que regia os padrões do espaço
privado. A partir do momento em que este discurso moral impõe-se através dos jornais, das
pregações religiosas e das autoridades civis e religiosas, o corpo social feminino passava por
um processo de padronização dos comportamentos individuais, no qual a “mulher moderna
tentava o impossível: querer ser homem, quando devia contentar-se com as suas funções...”.
(Pão de Santo Antônio, 27/05/1934, n 34, XXVIII). A década de 30 e 40 apontava para a
insatisfação feminina diante dos padrões morais vigentes, pelo menos no discurso jornalístico
que circulou em Diamantina.
Nos bastidores deste discurso opera-se a “homogeneização e publicização” do
comportamento feminino, tanto no espaço público, quanto no privado. Em conseqüência disto,
a mulher perde o controle de seu próprio corpo e de seus desejos.
A “publicização” e a “homogeneização”
Partindo deste pressuposto, é preciso indagar até que ponto houve realmente a
“privatização” do comportamento feminino nesta sociedade. Ou melhor, postula-se que, para a
mulher ocorreu um movimento inverso à tendência de intimização da sociedade: “ ela” assistiu
a uma publicização de seu comportamento, através de uma padronização no vestuário, nas
reações contra a maquiagem, na sua função de mãe de família que ultrapassava o âmbito
familiar, enfim, no comportamento nos espaços de sociabilidade e da intimidade. Apesar disto,
concorda-se com SENNET, que houve sim uma intimização da sociedade em aspectos gerais,
mas deve-se ressaltar que, em termos do discurso veiculado nos jornais de Diamantina, parece
que houve uma modificação da relação entre o público e o privado, no que tange os padrões
comportamentais femininos, que tanto incomodaram os moralistas no início do século XX,
pois, as mulheres continuaram ”fugindo” às regras impostas e defendidas socialmente nos
jornais.
O discurso moral impresso e imposto na sociedade diamantinense, chegou ao ápice nas
décadas de 20 e 30, período em que o processo de publicização se acentuou e promoveu a
retirada do direito mais privado da mulher, que é a liberdade sobre seu próprio corpo e sua
atuação no meio social. Assim, assistiu-se à publicização do corpo feminino no momento em
que percebeu-se a padronização da moda feminina através da indicação dos trajes permitidos e
à crítica aos trajes indecorosos, segundo a moral vigente. Tudo isto levou a diversas
reclamações nos jornais de um processo que se operava na sociedade: a transição dos
costumes”.
III
A resistência feminina:
a privatização, a moda e o temor da inversão dos papéis sociais.
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Como um movimento paralelo e ao mesmo tempo demonstrando a reação feminina ao
domínio dos padrões morais relacionados à atuação feminina, a década de 20, 30 e 40 assistiu
a um lento processo de modificação dos costumes locais, que significava o desejo de
“privatizar”, segundo a ótica feminina, a sua ação social. Para tanto, era necessário abrir
possibilidades de livre escolha do tipo de moda à qual iriam seguir, do local que iriam
freqüentar ou qual seria a sua companhia. Foi desta maneira que se instaurou, de forma mais
plausível a resistência feminina à padronização de seu comportamento social. Essa
padronização, pelo menos no discurso, fez suscitar reações nos moralistas da “teimosia
feminina” em aderir-se a toda e “qualquer moda” que estivesse em vigor.
Os jornais indicam as dificuldades e as possíveis soluções que os moralistas apontavam
para a sociedade, naquele momento de resistência feminina à publicização dos padrões morais,
na qual estas reivindicavam, segundo esse discurso, maior privatização dos padrões.
Ao avançar os anos 30 e 40, de forma mais acentuada, o discurso jornalístico, através
da ironia, mostrava claros sinais de rendição ao processo de resistência feminina à preservação
dos bons costumes, pois,
O único espaço público que deveria ser freqüentado, nesta ótica, era o local da
pregação cristã, que funcionava como forma de canalização da ideologia veiculada na
sociedade. O jornal se presta, nesta análise, como mecanismo de discussão da própria
sociedade, na qual ela se “olha no espelho”, procurando enxergar possibilidades de cristalizar
ou de renovar certos costumes vigentes. A sociedade estudada, ao que tudo indica, optou por
renovar estes costumes. Neste sentido, deve-se ressaltar que a “liberdade se tornava uma
questão de não se comportar nem ter a aparência das outras pessoas; a liberdade se tornava
idiossincrática”. (SENNET, 1998:237)
O discurso jornalístico empreendido pelos moralistas sugere a possibilidade de
entender a expressão de liberdade feminina sempre associada à dissolução dos bons costumes
ou padrões morais instituídos, pois a forma encontrada pelas mulheres de privatizar seu corpo
e seu comportamento, pelo menos em termos do discurso, só teria possibilidade se pensado
através da quebra dos padrões veiculados na sociedade. Desta maneira, assiste-se ao
desenvolvimento de um lento processo de modificação nos costumes sociais, que deve ser
estudado associado à resistência feminina.
As décadas de 1930 e 40 assistiram a uma incrementação do processo de privatização
comportamento feminino. Este processo pode ser entendido, a partir do momento em que a
mulher reagiu à padronização, via discurso nos jornais, de seu comportamento social tanto no
espaço público quanto no privado, com o intuito de alcançar maior liberdade. Essa liberdade,
segundo os jornais, era sinônimo da decadência dos padrões sociais. Já na ótica da construção
do discurso feminino, a privatização pode ser entendida como a busca de padrões sociais
capazes de possibilitar, à mulher, uma atuação mais individualizada na sociedade.
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O discurso nos jornais evidencia os mecanismos que as mulheres utilizaram em busca
da privatização do seu corpo e da sua atuação social. Neste sentido, a relação feminina com a
moda, a maquiagem e o baile – o baile deve ser entendido como o espaço de sociabilidade
onde a mulher se enxerga através do que foi padronizado no espaço privado – figura como
ferramenta de destruição dos costumes, pois o desejo feminino incide em movimentar-se
livremente nestes espaços.
Desta maneira, era necessário resgatar aspectos que deveriam pertencer à intimidade,
ao espaço privado, como por exemplo, a livre escolha da moda a seguir e o uso da maquiagem.
Isto fornecia subsídio à realização feminina em busca do controle, da intimização, do seu
próprio corpo e dos seus desejos.
A moda tem a capacidade de possibilitar o estudo da resistência feminina em relação
aos padrões vigentes. A respeito da evolução da moda, deve-se entender que diversas foram as
críticas sofridas pelas mulheres que seguiam “o rigor da moda” parisiense. Dentre elas,
destacou-se a masculinização dos trajes femininos, que evidenciava a rejeição feminina ao
comportamento vigente padronizado e o desenvolvimento da concepção do corpo da mulher
como algo distante de si mesma. Segundo SENNET, “essas mulheres queriam ficar livres da
idéia de que seus corpos existiam com o propósito de atrair homens; queriam que suas roupas
fossem independentes das imagens sexuais. O vestuário que escolheram para expressar essa
liberdade, no entanto, era o vestuário masculino.” (1998:237)
Em 1913, entra em moda o vestido com o decote V, sofrendo sérias críticas por parte
dos moralistas, pois era indecente demais. Ainda nesta década, era comum a saia longa justa
nos tornozelos (LAVER, 1996). Isto também levou a uma forte reação no discurso tradicional,
que acusava as mulheres de “mostrar as formas plásticas do corpo” aderindo a estas modas
indecentes. No início dos anos 20, esta reação é ainda maior, pois agora a saia encurtou mais,
mas em compensação, é o estilo andrógino que passa a vigorar. A década de 30 assiste a uma
tendência na moda que é no mínimo interessante, pois volta-se a usar a roupa acinturada,
mostrando as formas plásticas da mulher, e em contrapartida, a roupa “feminina
masculinizada” perde espaço. (SENNET, 1988:236-37)
Em Diamantina, o discurso veiculado nos jornais demonstraram a preocupação contra
este movimento sempre renovador da moda parisiense que influenciava o Rio de Janeiro e em
conseqüência Diamantina, procurando estabelecer uma crítica à moda e assim, procurar
moldar o vestuário feminino, como também o comportamento da mulher no espaço ,público.
“Os casos reais” que eram imprimidos nos jornais, entendiam a moda como
“A mulher, não contente com seus direitos femininos, já quase identicos aos dos
homens, tornando-se por assim dizer <super-homem>, forceja, por intermédio,
primeiro de uma, e depois, de outras, adquirir, perante a própria natureza, as mesmas
prerrogativas de nós homens. Agora falta que nós homens – já não existem mais as
expressões sexo forte, nem fraco – vistamos saia em vez de calças e ficar em casa
fazendo quitutes.” (Pão de Santo Antônio, 09/07/1933, n 40, ano XXVII)
Todo cuidado!
- Senhorita, é preciso tomar juízo. Sabe quem é Satanás?
- Sei, é o demônio.
- Muito bom. E as pompas e obras do demônio?
- Não sei.
- Pois que fique sabendo:
São as mulheres que andam pintadas no rosto, nos lábios, nas unhas, das mãos e dos
pés, enfeitadas, enfim, com vestidos colantes, mostrando as formas plásticas do corpo.
Olha, menina, essa fogueira, essa junção, às escuras, nos cantinhos da cidade, com os
peixes fritos...
Quando chorar e vier a desilusão, é tarde demais!
(Voz de Diamantina, 13/09/1942, n 6, ano VI)
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A transição dos costumes que os diversos jornais utilizados neste trabalho chamam
atenção, é para a modificação promovida na sociedade através da atuação feminina. A partir –
mais significativamente – da década de 1930 / 40, assiste-se a uma crise geral nos padrões
morais vigentes. A família e a pregação religiosa precisavam ser repensadas, a partir do
momento em que as mulheres iniciaram o processo de se enxergarem ativas e socialmente
inseridas numa sociedade, que por sua vez era passível de mudanças pela via feminina. Assim,
promoveu-se nas instituições, o repensar dos antigos padrões sociais – descritos no início deste
trabalho – para melhor conviver com os novos padrões morais, refletindo ações femininas no
meio social, como por exemplo, a busca de maior liberdade – privada – no espaço de
sociabilidade, refletindo diretamente no espaço privado.
Apesar de tudo isto, o discurso formulado nos jornais, em meados da década de 40, não
apontava para soluções possíveis para a resolução do problema – decadência da família,
atuação feminina desregrada, maus comportamentos nos espaços de sociabilidade e o
vestuário e a maquiagem indecorosas -, mas se persistia na utilização de fórmulas-conselhos
que não funcionavam mais. O jornal Voz de Diamantina ilustrou bem a forma pela qual o
discurso reacionário se efetivou. Assim,
Este discurso, aponta sim, para proibições e mais proibições, sem ter fôlego para
indicar saídas diante da situação a que as “mulheres haviam chegado”. Admitia-se o estado
decadente da moral e a transição para novos padrões de comportamento social, mas sem que a
família e a Igreja, propusessem no âmbito do discurso, saídas efetivas para a situação,
repensando-se neste meio e logo impedindo a tão temida transição nos costumes. É importante
ressaltar que a sociedade carioca teve um papel fundamental na organização social na
República Velha, quando “tornou-se o modelo para o desenvolvimento da organização social
desejada, reforçando o objetivo de civilizar o espaço urbano, fosse no aspecto físico e
funcional da cidade, fosse no ideológico, através da restrição às manifestações populares e
controle da atmosfera de crescente permissividade moral. A família, nesse quadro, foi vista
mais do que nunca como o sustentáculo do projeto normatizador cujo desenvolvimento
reequacionou seu papel e sua inserção social na cidade” (ARAÚJO, 1993:30)
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propunha controlar a permissividade moral, mas de outro, descordava da liberdade que a
República potencializava para a sociedade.
(...) O relaxamento dos costumes, que a todos deve preocupar, não é senão uma
conseqüência do relaxamento familiar. (...) O desejo de uma vida livre e de prazeres,
tão apregoada pelos costumes modernos, vai convencendo a mulher de que ela deve
obedecer e acompanhar, à risca, a moda do semvergonhismo, da bandalheira já
desclassificada. Já não se contenta com o saiote indiano, quer exibir mais, quer
mostrar as pernas, abolindo o uso das meias, até se chegando neste estado, ao ato
mais sério e respeitoso da nossa vida, - a Santa Mesa da Comunhão! A família
caminha para o abismo, não se contenta com a pintura exagerada das faces e dos
lábios lacrosos profanadores até da hóstia consagrada!
(Voz de Diamantina, 28/03;1945, n 19, ano VIII)
Esta atuação feminina pôde contar com a contribuição das transformações econômicas
e urbanas em Diamantina, representando um incentivo a mais para a remodelação dos padrões
de comportamento feminino nos espaços público e privado. Até os anos 40, a cidade assistiu a
modificações urbanas e econômicas essenciais, como a chegada do ramal ferroviário, ligando
Diamantina e Curralinho (atual Corinto) aos centros de comércio do país. Além disso
Diamantina funcionava como um pólo dinamizador do comércio no nordeste mineiro, sendo
tratado, nos jornais como a “Atenas do Norte”. Tudo isto levou a uma nova concepção do
espaço urbano que foi se reestruturando e adequando a esta demanda. Iniciou-se o calçamento
das ruas do centro da cidade na última década do século XIX, bem como diversos
melhoramentos na rede de água e esgoto, entre outras modificações.
Os anos 30 e 40 assistiram a uma necessidade de adequação às modificações familiares
promovidas pela atuação feminina, através da privatização do corpo feminino, ou seja, a partir
do momento em que a mulher passou a se enxergar e reivindicar um novo espaço no âmbito
social, dando lugar a um processo denominado, segundo os moralistas, de “destruição dos
costumes tradicionais”. ARAÚJO, ao estudar a sociedade carioca na Belle Époque, afirma que
“no Rio de Janeiro de então, predominava os princípios de moral conservadora, definidos pela
família tradicional. Entretanto, a prática social era liberal e permissiva, infringindo as regras
estabelecidas na teoria e reguladas pela legislação republicana. Essas regras impunham
padrões rígidos de comportamento sexual tanto para o homem quanto para a mulher, de forma
implícita para aquele e explícita para esta. Imperava um duplo padrão de moralidade”
( 1993:88).
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Ao buscar entender o discurso jornalístico veiculado na sociedade diamantinense,
pondera-se que o teor conservador da cidade de Diamantina prevaleceu sobre estas lentas
transformações, mas que foram capazes de, com o passar do tempo, evidenciar este processo
de forma mais clara, onde a mulher chama a atenção como corpo ativo na sociedade e que
reivindica maior privatização/individualização dos padrões sociais para realizar-se no espaço
público e privado.
Considerações finais
Referência Bibliográfica
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