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10/06/2009

ever more
agradeço ao para sempre poe, com beardsley e tudo!

uma hora, só por curiosidade, vou dar uma olhada nas quinze ou mais traduções/
adaptações de o gato preto no brasil.

imagem: o gato preto

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08/06/2009
o gato preto
edgar allan poe nasceu em 1809 e morreu em 1849. este ano, portanto, comemora-se o
200o. aniversário de seu nascimento.

dentre suas dezenas de contos, escolhi o gato preto para um breve cotejo entre a
tradução de brenno silveira (civilização brasileira, 1959) e a cópia de pietro
nassetti, com ligeiras adulterações (martin claret, 1999).

além do cotejo propriamente dito, gostaria de exemplificar o que é o lavor da


tradução - as marcas distintivas, as soluções próprias, o partido adotado por cada
tradutor. para isso, apresento ainda os respectivos excertos no original, na
clássica tradução de oscar mendes e milton amado (globo, 1944) e na recente
tradução de guilherme braga (hedra, 2008). isso também permite ilustrar com maior
clareza o tipo de apropriação praticada pela editora martin claret.

I.
I am above the weakness of seeking to establish a sequence of cause and effect,
between the disaster and the atrocity. But I am detailing a chain of facts — and
wish not to leave even a possible link imperfect. On the day succeeding the fire,
I visited the ruins. The walls, with one exception, had fallen in. This exception
was found in a compartment wall, not very thick, which stood about the middle of
the house, and against which had rested the head of my bed. The plastering had
here, in great measure, resisted the action of the fire — a fact which I
attributed to its having been recently spread. About this wall a dense crowd were
collected, and many persons seemed to be examining a particular portion of it with
very minute and eager attention. The words "strange!" "singular!" and other
similar expressions, excited my curiosity. I approached and saw, as if graven in
bas relief upon the white surface, the figure of a gigantic cat. The impression
was given with an accuracy truly marvellous. There had been a rope about the
animal's neck.

1. oscar mendes com milton amado


Não tenho a fraqueza de buscar estabelecer uma relação de causa e efeito entre o
desastre e a atrocidade, mas estou relatando um encadeamento de fatos e não desejo
que nem mesmo um possível elo seja negligenciado. Visitei os escombros no dia
seguinte ao incêndio. Todas as paredes tinham caído, exceto uma, e esta era de um
aposento interno, não muito grossa, que se situava mais ou menos no meio da casa e
contra a qual permanecera a cabeceira de minha cama. O estuque havia, em grande
parte, resistido ali à ação do fogo, fato que atribuí a ter sido ele recentemente
colocado. Em torno dessa parede reuniu-se compacta multidão e muitas pessoas
pareciam estar examinando certa parte especial dela, com uma atenção muito ávida e
minuciosa. As palavras "estranho, singular!" e expressões semelhantes excitaram
minha curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a
superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem fora reproduzida com
uma nitidez verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em redor do pescoço do
animal.
2. guilherme braga
Creio estar acima da fraqueza que tenta estabelecer uma relação de causa e efeito
entre a minha atrocidade e o desastre. Nada mais faço além de detalhar uma
corrente de acontecimentos – e não desejo que lhe falte nenhum elo. No dia
seguinte ao incêndio, fui visitar as ruínas. As paredes todas, à exceção de uma,
haviam desabado. Era uma parede interna, não muito espessa, próxima ao meio da
casa, e contra a qual a cabeceira de minha cama ficava encostada. Lá, o estuque
havia, em grande parte, resistido à ação do fogo – o que atribuí ao fato de que
fora aplicado havia pouco tempo. Ao redor dessa parede havia uma aglomeração de
pessoas, e muitas pareciam examinar-lhe uma certa parte com grande interesse e
atenção. As palavras “estranho!”, “esquisito!” e outras exclamações similares
despertaram-me a curiosidade. Ao aproximar-me, vi, como que gravada em baixo-
relevo sobre a superfície branca, a silhueta de um enorme gato. A representação
era de uma acuidade realmente impressionante. Ao redor do pescoço do animal, via-
se uma forca.

3. brenno silveira
Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e
a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não
desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao
do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham
desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior,
situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O
reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo — coisa que atribuí ao
fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno
dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade,
uma parte dela. As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões
semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em
baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem
era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em torno do
pescoço do animal.

4. pietro nassetti
Não pretendo estabelecer relação nenhuma entre causa e efeito - entre o desastre e
a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não
desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao
do incêndio, fui ver as ruínas. Com exceção de uma, todas as paredes tinham
desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior,
localizado no meio da casa, junto ao qual estava a cabeceira de minha cama. O
reboco havia aí, em grande parte, resistido à ação do fogo — coisa que supus
relacionar-se ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se
reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas observavam, com especial atenção e
minuciosidade, uma parte dela. As palavras "estranho!", "singular!", e outras
expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se
gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco.
A imagem era de uma exatidão verdadeiramente assombrosa. Havia uma corda em torno
do pescoço do animal.

II.
Although I thus readily accounted to my reason, if not altogether to my
conscience, for the startling fact just detailed, it did not the less fail to make
a deep impression upon my fancy. For months I could not rid myself of the phantasm
of the cat; and, during this period, there came back into my spirit a half-
sentiment that seemed, but was not, remorse. I went so far as to regret the loss
of the animal, and to look about me, among the vile haunts which I now habitually
frequented, for another pet of the same species, and of somewhat similar
appearance, with which to supply its place.
1. oscar mendes com milton amado
Embora assim prontamente procurasse satisfazer a minha razão, senão de todo a
minha consciência, a respeito do surpreendente fato que acabo de narrar, nem por
isso deixou ele de causar profunda impressão na minha imaginação. Durante meses,
eu não me pude libertar do fantasma do gato e, nesse período, voltava-me ao
espírito um vago sentimento que parecia remorso, mas não era. Cheguei a ponto de
lamentar a perda do animal e de procurar, entre as tascas ordinárias que eu agora
habitualmente freqüentava, outro bicho da mesma espécie e de aparência um tanto
semelhante com que substituí-lo.

2. guilherme braga
Conquanto eu pudesse, assim, esclarecer a meu juízo, se não de todo à minha
consciência, o estranho fato detalhado, este não deixou de causar uma impressão
profunda em minha imaginação. Por meses o fantasma do gato me assombrou; e,
durante esse período, insinuou-se em meu espírito um sentimento difuso que
parecia, mas não era, remorso. Cheguei ao ponto de lamentar a perda do animal e
pus-me a procurar, nos estabelecimentos infames que eu então frequentava, um outro
da mesma espécie e de aparência semelhante, para que assumisse o seu lugar.

3. brenno silveira
Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de
maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de
descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante
meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em
meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse.
Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares
que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante
que pudesse substituí-lo.

4. pietro nassetti
se bem que isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo,
de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente acontecimento que
acabo de narrar não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão.
Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse intervalo de tempo,
nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o
fosse. Cheguei realmente a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos
lugares que então freqüentava, outro gato da mesma espécie e de aparência
semelhante que pudesse substituí-lo.

III.
Finally, I hit upon what I considered a far better expedient than either of these.
I determined to wall it up in the cellar — as the monks of the middle ages are
recorded to have walled up their victims.
For a purpose such as this the cellar was admirably adapted. Its walls were
loosely constructed, and had lately been plastered throughout with a rough
plaster, which the dampness of the atmosphere had prevented from hardening.
Moreover, in one of the walls was a projection, caused by a false chimney, or
fire-place, that had been filled, or walled up, and made to resemble the rest of
the cellar. I made no doubt that I could readily displace the bricks at this
point, insert the corpse, and wall the whole up as before, so that no eye could
detect any thing suspicious.

1. oscar mendes com milton amado


Finalmente, detive-me no que considerei um expediente bem melhor que qualquer um
destes. Decidi emparedá-lo na adega, como se diz que os monges da Idade Média
emparedavam suas vítimas.
Para um objetivo semelhante estava a adega bem adaptada. Suas paredes eram de
construção descuidada e tinham sido ultimamente recobertas, por completo, de um
reboco grosseiro, cujo endurecimento a umidade da atmosfera impedira. Além disso,
em uma das paredes havia uma saliência causada por uma falsa chaminé ou lareira
que fora tapada para não se diferençar do resto da adega. Não tive dúvidas de que
poderia prontamente retirar os tijolos naquele ponto, introduzir o cadáver e
emparedar tudo como antes, de modo que olhar algum pudesse descobrir qualquer
coisa suspeita.

2. guilherme braga
Por fim, decidi valer-me de um expediente que julguei muito mais apropriado que
qualquer um desses. Resolvi emparedar o corpo no porão – como os monges da Idade
Média emparedavam suas vítimas, segundo atestam documentos.
O porão prestava-se bem a esse fim. As paredes não eram muito sólidas e
recentemente haviam sido recobertas com um reboco grosseiro, que a umidade das
paredes não deixara secar. Ademais, em uma das paredes via-se uma projeção,
motivada por uma falsa chaminé, ou lareira, que fora fechada de modo a confundir-
se com o restante da estrutura. Não tive dúvidas de que poderia deslocar os
tijolos da projeção, depositar o corpo lá dentro e cimentar tudo outra vez, de
modo que ninguém detectasse nenhum elemento suspeito.

3. brenno silveira
Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo
na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido
construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua
extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma
saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora
tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia
facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do
mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.

4. pietro nassetti
Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo
na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido
construídas com muito esmero e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua
extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. De resto, havia uma
saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora
tampada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia sem
nenhuma dificuldade retirar os tijolos naquele lugar, colocar o corpo e deixá-los
do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse avistar nada que despertasse suspeita.

imagem: http://copycat.lidonet.com

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07/06/2009
toy baby grand

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06/06/2009
mutatis mutandis
anos atrás, a editora rideel moveu um processo contra a w. brasil publicidade.
motivo: a w. brasil, em uma campanha publicitária de aproximação cultural entre o
brasil e o chile, utilizou uma parte de um mapa político da américa do sul que
fazia parte de um atlas publicado pela rideel, sem mencionar de quem era a autoria
do mapa.
o juiz deu ganho de causa à rideel como vítima de contrafação e aos dois autores
do mapa como vítimas de lesão a seus direitos morais.

fico imaginando: se a rideel, como detentora dos direitos de tradução das obras de
seu catálogo, descobrisse que alguma delas foi integralmente copiada e publicada
por outra editora, mas com a autoria da tradução atribuída a outrem, o que será
que ela faria?

imagem: o globo de behaim, 1492

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05/06/2009
cachimbos lusitanos
achei muito cômica a história do blaze que virou star na versão rideel-burattiana
do conto do sherlock holmes.

também achei muito engraçada a nota de tradução que aparece no mesmo conto:

cachimbo bryer, "geralmente conhecido em portugal pela designação francesa de


'bruyère': raiz de roseira brava".
ah, ok - e no brasil, se mal lhe pergunte?

referência: conan doyle, o silver star, in a face amarela e outras histórias,


trad. heloísa da graça buratti. são paulo, editora rideel, 2002, p. 16.
imagem: magritte

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ahn?
heloísa da graça buratti, ao traduzir silver blaze de conan doyle, na coleção
sherlock holmes da editora rideel, batizou essa aventura sherlockiana de o silver
star.

vá lá que outros tradutores (hamílcar de garcia, joaquim machado) tenham escolhido


chamar o cavalo - e o conto - de estrela de prata.

agora, o silver blaze do original virar silver star em português é algo que
ultrapassa meu entendimento.

imagem: capa

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04/06/2009
a luta pelo direito, pillares
prosseguindo na luta pelo direito, de rudolf von ihering, veja um breve apanhado
das traduções, uma canja e o cotejo tavares bastos x heloísa da graça burati
(rideel). agora em 2009 a editora pillares decidiu lançar sua edição dessa obra,
com tradução em nome de ivo de paula e o famoso prefácio de clóvis beviláqua.

no brasil, uma obra passa a fazer parte do patrimônio cultural da sociedade apenas
setenta anos após a morte de seu autor. acho uma barbaridade de tempo, mas é assim
que é. com isso, o famoso prefácio de clóvis beviláqua (1859-1944) a a luta pelo
direito ainda não está em domínio público, e só é possível reproduzi-lo para fins
comerciais com a autorização de seus sucessores.

é o que imagino que a pillares tenha feito - isto é, obtido a licença da família
de beviláqua para publicar seu prefácio. o difícil de entender é a razão pela qual
a tradução pela pillares, sendo idêntica à de josé tavares bastos, aparece em nome
do jurista ivo de paula, mestre em leis e autor de várias obras jurídicas.
1. josé tavares bastos
CAPÍTULO I
Introdução
O direito é uma idéia prática, isto é, designa um fim, e, como toda a idéia de
tendência, é essencialmente dupla, porque contém em si uma antítese, o fim e o
meio.
Não é suficiente investigar o fim, deve-se também saber o caminho que a ele
conduz.
Eis duas questões para as quais o direito deve sempre procurar uma solução,
podendo-se dizer que o direito não é, no seu conjunto e em cada uma das suas
divisões, mais que uma resposta constante a essa dupla questão.
Não há um só título, por exemplo o da propriedade ou o das obrigações, em que a
definição não seja imprescindivelmente dupla e nos diga o fim que propõe e os
meios para atingi-lo. Mas o meio, por mais variado que seja, reduz-se sempre à
luta contra a injustiça.
A idéia do direito encerra uma antítese que se origina nesta idéia, da qual jamais
se pode, absolutamente, separar: a luta e a paz; a paz é o termo do direito, a
luta é o meio de obtê-lo.

2. ivo de paula
CAPÍTULO I
Introdução
O Direito é uma idéia prática, isto é, designa um fim, e, como toda a idéia de
tendência, é essencialmente dupla, porque contém em si uma antítese, o fim e o
meio.
Não é suficiente investigar o fim, deve-se também saber o caminho que a ele
conduz.
Eis duas questões para as quais o Direito deve sempre procurar uma solução,
podendo-se dizer que o direito não é, no seu conjunto e em cada uma das suas
divisões, mais que uma resposta constante a essa dupla questão.
Não há um só título, por exemplo o da propriedade ou o das obrigações, em que a
definição [] seja imprescindivelmente dupla e nos diga o fim que propõe e os meios
para atingi-lo. Mas o meio, por mais variado que seja, reduz-se sempre a uma luta
contra a injustiça.
A ideia do Direito encerra uma antítese que se origina desta ideia, da qual jamais
se pode, absolutamente, separar: a luta e a paz; a paz é o termo do direito, a
luta é o meio de obtê-lo.

1. josé tavares bastos


Poder-se-á objetar que a luta e a discórdia são precisamente o que o direito se
propõe evitar, porquanto semelhante estado de coisas implica uma perturbação, uma
negação da ordem legal, e não uma condição necessária da sua existência.
A objeção seria procedente se se tratasse da luta da injustiça contra o direito;
ao contrário, trata-se aqui da luta do direito contra a injustiça.
Se, neste caso, o direito não lutasse, isto é, se não resistisse vigorosamente
contra ela, renegar-se-ia a si mesmo.
Esta luta perdurará tanto como o mundo, porque o direito terá de precaver-se
sempre contra os ataques da injustiça.
A luta não é, pois, um elemento estranho ao direito, mas sim uma parte integrante
de sua natureza e uma condição de sua idéia.
Todo direito no mundo foi adquirido pela luta; esses princípios de direito que
estão hoje em vigor foi indispensável impô-los pela luta àqueles que não os
aceitavam; assim, todo o direito, tanto o de um povo, como o de um indivíduo,
pressupõe que estão o indivíduo e o povo dispostos a defendê-lo.

2. ivo de paula
Poder-se-á objetar que a luta e a discórdia são precisamente o que o Direito se
propõe a evitar, porquanto semelhante estado de coisas implica uma perturbação,
uma negação da ordem legal, e não uma condição necessária de sua existência.
A objeção seria procedente se se tratasse da luta da injustiça contra o Direito;
ao contrário, trata-se aqui da luta do Direito contra a injustiça. Se, neste caso,
o Direito não lutasse, isto é, se não resistisse vigorosamente contra ela,
renegar-se-ia a si mesmo.
Esta luta perdurará tanto quanto o mundo, porque o Direito terá de precaver-se
sempre contra os ataques da injustiça.
A luta não é, pois, um elemento estranho ao Direito, mas sim uma parte integrante
de sua natureza e uma condição de sua idéia.
Todo direito no mundo foi adquirido pela luta; esses princípios de Direito que
estão hoje em vigor têm sido indispensáveis na [sic] luta contra aqueles que não
os aceitavam; assim, todo o direito, tanto o de um povo, como o de um indivíduo,
pressupõe que estão o indivíduo e o povo dispostos a defendê-lo.

1. josé tavares bastos


O direito não é uma idéia lógica, porém idéia de força; é a razão porque a
justiça, que sustenta em uma das mãos a balança em que pesa o direito, empunha na
outra a espada que serve para fazê-lo valer.
A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é o direito
impotente; completam-se mutuamente: e, na realidade, o direito só reina quando a
força dispendida pela justiça para empunhar a espada corresponde à habilidade que
emprega em manejar a balança.

2. ivo de paula
O Direito não é uma ideia lógica, porém uma ideia de força; é a razão porque a
justiça, que sustenta em uma das mãos a balança em que pesa o Direito, sustenta na
outra a espada que serve para fazê-lo valer.
A espada sem a balança é a força bruta, e a balança sem a espada é o direito
impotente; completam-se mutuamente; e, na realidade, o direito só reina quando a
força despendida pela justiça para empunhar a espada corresponde à habilidade que
emprega em manejar a balança.

1. josé tavares bastos


Observa-se facilmente que a nossa teoria se ocupa muito mais com a balança do que
com a espada da justiça.
A estreiteza do ponto de vista puramente científico com que se encara o direito e
que é onde se ostenta menos o seu lado real, como idéia de força, do que pelo seu
lado racional, como um conjunto de princípios abstratos, tem dado, julgamos, a
todo esse modo de encarar a questão, uma feição que não está muito em harmonia com
a amarga realidade. A defesa da nossa tese o provará.
O direito contém, como é sabido, um duplo sentido; — o sentido objetivo que nos
oferece o conjunto de princípios de direito em vigor; a ordem legal da vida, e o
sentido subjetivo, que é, por assim dizer, — o precipitado da regra abstrata no
direito concreto da pessoa.
Nessas duas direções o direito depara com uma resistência que deve vencer, e, em
ambos os casos, deve triunfar ou manter a luta.

2. ivo de paula
Observa-se facilmente que a nossa teoria se ocupa muito mais com a balança do que
com a espada da justiça.
A estreiteza do ponto de vista puramente científico com que se encara o direito, e
que é onde se ostenta menos o seu lado real, como ideia de força, do que pelo seu
lado racional, como um conjunto de princípios abstratos, tem dado, julgamos, a
todo esse modo de encarar a questão, uma feição que não está [] em harmonia com a
amarga realidade. A defesa da nossa tese o provará.
O direito contém, como é sabido, um duplo sentido: o sentido objetivo que nos
oferece o conjunto de princípios de direito em vigor; a ordem legal da vida; e o
sentido subjetivo, que é, por assim dizer, o precipitado da regra abstrata no
direito concreto da pessoa.
Nessas duas direções o direito depara com uma resistência que deve vencer, e, em
ambos os casos, deve triunfar ou manter a luta.

1. josé tavares bastos


E é deste desenvolvimento interno que se derivam todos os princípios de direito,
que os arestos análogos e igualmente motivados interpõem pouco a pouco nas
relações jurídicas, como as abstrações, os corolários, as regras que a ciência
aufere do direito existente, por meio do raciocínio, e põe logo em evidência.
Porém, o poder destes dois agentes, as relações e a ciência, é limitado; pode
dirigir o movimento nos limites fixados pelo direito existente, impeli-lo, mas não
lhes é dado romper os diques que impedem as águas de tomar um novo curso.
Somente a lei, isto é, a ação voluntária e determinada do poder público, é que tem
esta força, e não por acaso, mas em virtude de uma necessidade, que está na
natureza íntima do direito, porquanto todas as reformas introduzidas no processo e
no direito positivo se originam das leis.
Certo que pode acontecer que uma modificação feita pela lei no direito existente,
seja puramente abstrata, que sua influência esteja limitada a esse mesmo direito,
sem se notar no domínio das relações concretas se foram estabelecidas sobre a base
do direito até então em vigor; neste caso, o fato é como uma reparação puramente
mecânica, que consiste em substituir um para¬fuso ou uma roda qualquer usada por
outra melhor. Muitas vezes acontece que uma modificação não se pode operar sem
ferir ou lesar profundamente direitos existentes e interesses privados: porque os
interesses de milhares de indivíduos e de classes inteiras estão de tal modo
identificados com o direito no curso dos tempos, que não é possível modificar
aquele sem sentirem vivamente tais interesses.
Se colocarmos então o princípio do direito ao lado do privilégio, declara-se por
esse fato só a guerra a todos os interesses, tenta-se extirpar um pólipo que
agarra com todos os seus tentáculos.
Está no instinto da conservação pessoal que os interesses ameaçados a mais
violenta resistência oponham a toda a tentativa de tal natureza, dando vida a uma
luta que, como qualquer outra, não será resolvida pelos raciocínios, mas pelas
forças nela empenhadas, produzindo freqüentemente o mesmo resultado que o
paralelograma das forças: o desvio das linhas retas componentes em uma diagonal.

2. ivo de paula
E é deste desenvolvimento interno que [] derivam todos os princípios de direito,
que os arestos análogos e igualmente motivados interpõem pouco a pouco nas
relações jurídicas, como as abstrações, os corolários, as regras que a ciência
aufere do direito existente, por meio do raciocínio, e põe logo em evidência.
Porém, o poder destes dois agentes, as relações e a ciência, é limitado; pode
dirigir o movimento nos limites fixados pelo direito existente, impeli-lo, mas não
lhe[] é dado romper os diques que impedem as águas de tomarem um novo curso.
Somente a lei, isto é, a ação voluntária e determinada do poder público, é que tem
essa força, e não por acaso, mas em virtude de uma necessidade, que está na
natureza íntima do direito, porquanto todas as reformas introduzidas no processo e
no direito positivo se originam das leis.
Certo que pode acontecer que uma modificação feita pela lei no direito existente
seja puramente abstrata, que sua influência esteja limitada a esse mesmo direito,
sem se notar no domínio das relações concretas se foram estabelecidas sobre a base
do direito até então em vigor; neste caso, o fato é como uma reparação puramente
mecânica, que consiste em substituir um para¬fuso ou uma roda qualquer usada por
outra melhor. Muitas vezes acontece que uma modificação não [] pode operar sem
ferir ou lesar profundamente direitos existentes e interesses privados; porque os
interesses de milhares de indivíduos e de classes inteiras estão de tal modo
identificados com o direito no curso dos tempos, que não é possível modificar
aquele sem sentirem vivamente tais interesses.
Se colocarmos, então, o princípio do direito ao lado do privilégio, declara-se por
esse fato só a guerra a todos os interesses, tenta-se extirpar um pólipo que
agarra com todos os seus tentáculos.
Está no instinto da conservação pessoal que os interesses ameaçados a mais
violenta resistência oponham a toda [] tentativa de tal natureza, dando vida a uma
luta que, como qualquer outra, não será resolvida pelos raciocínios, mas pelas
forças nela empenhadas, produzindo frequentemente o mesmo resultado que o
paralelogramo das forças: o desvio das linhas retas componentes em uma diagonal.

obs.: a edição da pillares inicia com "direito" em maiúscula, e depois vai


variando, até na mesma frase.

imagens: capa da ed. pillares; www.e-cartz.biz

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destemperos
raquel do jane austen em português deu um toque, fui lá ver.

a ridicularia do mês (ou do ano?):


Leticia Wierzchowski processa este blog (I)
(milton ribeiro)

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03/06/2009
providências rideelianas
constatei no site da editora rideel que o catálogo de suas obras de filosofia
agora está vazio. se se fizer uma pesquisa, o resultado obtido é "Total: 0". até
poucos dias atrás, podia-se pedir detalhamento de cada obra e até a foto em
destaque de cada capa.

na relação de autores, ainda constam os nomes de platão, descartes, hegel,


nietzsche, hobbes, maquiavel, campanella etc., que compunham o catálogo de obras
filosóficas da rideel - mas a pesquisa em "confira outras obras deste autor"
também resulta em "Total: 0".

isso parece indicar que a editora resolveu dar uma espiada mais atenta nesses seus
títulos.

da lista de obras cadastradas no isbn/fbn com tradução em nome de "heloísa da


graça burati" (com um "t"), o site da editora rideel manteve três obras de
shakespeare, a megera domada, as alegres comadres de windsor e medida por medida.
não conheço esses shakespeares da rideel, mas até fiquei meio curiosa em ver essas
traduções.

22 Publicações encontradas, distribuídas em 1 página


ISBN TÍTULO
85-339-0723-0 ECCE HOME
85-339-0724-9 UTOPIA
85-339-0725-7 O BANQUETE
85-339-0726-5 ALEM DO BEM E DO MAL
85-339-0727-3 A ARTE DA GUERRA
85-339-0728-1 O NASCIMENTO DA TRAGEDIA
85-339-0729-X INTRODUÇÃO A HISTORIA DA FILOSOFIA
85-339-0742-7 A MEGERA DOMADA
85-339-0743-5 AS ALEGRES COMADRES DE WINDSOR
85-339-0744-3 MEDIDA POR MEDIDA
85-339-0730-3 PRINCIPIOS DA FILOSOFIA
85-339-0731-1 HUMANO DEMASIADO HUMANO
85-339-0732-X A CIENCIA GAIA
85-339-0733-8 ASSIM FALAVA ZARATUSTRA
85-339-0734-6 A REPUBLICA
85-339-0720-6 ACERCA DA VERDADE E DA MENTIRA / O ANTICRISTO
85-339-0760-5 LEVIATÃ
85-339-0769-9 A CIDADE ANTIGA
85-339-0773-7 A LUTA PELO DIREITO
85-339-0774-5 METODOLOGIA JURÍDICA
85-339-0776-1 TEORIA SIMPLIFICADA DE POSSE
978-85-339-0938-0 PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA

quanto às obras aqui cotejadas, a luta pelo direito, de rudolf von ihering [veja
aqui] agora consta como esgotada nas principais livrarias com acervo online. isso
parece indicar que o livro não está mais em circulação. por outro lado, o volume
que traz acerca da verdade e da mentira [veja aqui] e o anticristo [veja aqui], de
nietzsche, na pretensa tradução de heloísa da graça burati, ainda continua à venda
aqui e ali, por exemplo na fnac.

que bom a editora rideel se disponha a regularizar rapidamente seu catálogo. fico
aqui torcendo para que consiga normalizar tudo, acabe de retirar os exemplares
irregulares de circulação e dê uma palavrinha de satisfação aos leitores que
confiaram em suas edições.

imagem: forum 0937, google images

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ο proton pseudos

immanuel kant
sobre um suposto direito de mentir
por amor à humanidade

1. floriano de souza fernandes (editora vozes)


o filósofo francês refuta, na página 124, esse princípio da seguinte maneira: "é
um dever dizer a verdade. o conceito de dever é inseparável do conceito do
direito. um dever é aquilo que corresponde em um ser aos direitos de outro. onde
não há nenhum direito, não há deveres. por conseguinte, dizer a verdade é um
dever, mas somente com relação àqueles que têm direito à verdade. nenhum homem
porém tem direito à verdade que prejudica os outros".

o προτον πσευδοσ encontra-se aqui na proposição: "Dizer a verdade é um dever, mas


somente para com aquele que tem direito à verdade".

deve-se observar em primeiro lugar que a expressão "ter direito à verdade" é


desprovida de sentido. deve-se ao contrário dizer que o homem tem direito à sua
própria veracidade (veracitas), isto é, à verdade subjetiva em sua pessoa. pois
objetivamente ter direito a uma verdade significaria o mesmo que dizer que depende
da sua vontade, como em geral nas questões sobre o meu e o teu, que uma dada
proposição deva ser verdadeira ou falsa, o que produziria então uma estranha
lógica. (pp. 118-20)

2. leopoldo holzbach (editora martin claret)


na página 121[sic], o filósofo francês refuta esse princípio da seguinte forma: "é
um dever dizer a verdade. o conceito de dever é inseparável do conceito do
direito. um dever é aquilo que corresponde em um ser aos direitos do outro. onde
não há direito algum, não há deveres. por conseguinte, dizer a verdade é um dever,
mas somente com relação àqueles que possuem o direito à veracidade*. contudo
nenhum homem tem direito à verdade que prejudica os demais".

* na troca de "verdade" por "veracidade", leopoldo holzbach não levou em conta que
kant estabelece logo abaixo a clara distinção entre wahrheit e wahrhaftigkeit.

o προτον πσευδοσ acha-se aqui na proposição: "Dizer a verdade é um dever, mas


somente para com aquele que tem direito à verdade".

deve-se observar, antes de mais nada, que a expressão "ter direito à verdade"
carece de sentido. deve-se, pelo contrário, dizer que o homem tem direito à sua
própria veracidade (veracitas), isto é, à verdade subjetiva em sua pessoa. pois
ter direito objetivamente a uma verdade significaria o mesmo que afirmar a
dependência em relação à sua vontade, como em geral nas questões sobre o meu e o
teu, que uma dada proposição deva ser verdadeira ou falsa, o que resultaria em uma
estranha lógica. (pp. 123-24)

1. floriano de souza fernandes (editora vozes)


define-se, portanto, a mentira como uma declaração intencionalmente não verdadeira
feita a outro homem, e não há necessidade de acrescentar que deva prejudicar outra
pessoa, como exigem os juristas na definição que dela apresentam (mendacium est
falsiloquium in praejudicium alterius). pois ela prejudica sempre uma outra
pessoa, mesmo quando não um outro homem determinado e sim a humanidade em geral,
ao inutilizar a fonte do direito. (p. 120)

2. leopoldo holzbach (editora martin claret)


define-se, pois, a mentira como uma declaração intencionalmente não-verdadeira
feita a outro homem, e não há necessidade de acrescentar que deva prejudicar outra
pessoa, como exigem os juristas na definição que dela apresentam (mendacium est
falsiloquium in praejudicium alterius). pois ela sempre há de prejudicar outra
pessoa, ainda que não especificamente outro homem determinado, mas sim a
humanidade em geral, ao inutilizar a fonte do direito. (p. 124)

1. floriano de souza fernandes (editora vozes)


o "filósofo alemão" não deverá portanto admitir como seu princípio a proposição
(página 124): "dizer a verdade é um dever, mas somente com relação a quem tem o
direito à verdade". em primeiro lugar, por motivo da fórmula pouco clara do
princípio, uma vez que a verdade não é uma propriedade à qual um indivíduo tivesse
direito e pudesse ser recusada a outro. em seguida, porém, principalmente porque o
dever de veracidade (do qual unicamente aqui se trata) não faz qualquer distinção
entre pessoas, umas em relação às quais tenhamos este dever, outras para com as
quais nos possamos desvencilhar dele, porque é um dever incondicionado, válido em
quaisquer condições. (pp. 124-26)

2. leopoldo holzbach (editora martin claret)


o "filósofo alemão" não deverá, pois, admitir como seu princípio a proposição
(página 124): "dizer a verdade é um dever, mas só relativamente a quem tem o
direito à verdade". em primeiro lugar, devido à fórmula pouco nítida do princípio,
uma vez que a verdade não é uma propriedade à qual um indivíduo tivesse direito e
pudesse ser recusada a outro. em seguida, porém, sobretudo porque o dever de
veracidade (esse o nosso único tema aqui) não faz qualquer distinção entre
pessoas, umas em relação às quais tenhamos este dever, outras para com as quais
possamos dele nos desvencilhar, porque é um dever incondicionado, válido em
quaisquer condições. (p. 126)

imagem: www.haznos.org

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02/06/2009
a luta pelo direito, rideel
em a luta pelo direito, apresentei um rápido quadro das traduções desta obra de
rudolf von ihering em português, sobretudo no brasil.

em por quê? e até quando? deplorei o caminho tomado pela editora rideel, ao
publicar em 2005 uma cópia praticamente idêntica da vetusta tradução de josé
tavares bastos (c. 1909), atribuindo-a, porém, a heloísa da graça buratti.

seguem-se alguns trechos de cada capítulo a título de exemplo.

1. josé tavares bastos

CAPÍTULO I
Introdução
[...] O direito é o trabalho sem tréguas, e não somente o trabalho dos poderes
públicos, mas sim o de todo o povo. Se passarmos um golpe de vista em toda a sua
história, esta nos apresenta nada menos que o espetáculo de uma nação inteira
despendendo ininterruptamente para defender o seu direito penosos esforços, como
os que ela emprega para o desenvolvimento de sua atividade na esfera da produção
econômica e intelectual.
Todo aquele que tem em si a obrigação de manter o seu direito, participa neste
trabalho nacional e contribui na medida de suas forças para a realização do
direito sobre a terra.

2. heloísa da graça buratti

I - Introdução
[...] O direito é um trabalho sem tréguas, não somente [] dos poderes públicos,
mas sim de todo o povo. Se passarmos um golpe de vista em toda a sua história,
esta nos apresenta nada menos que o espetáculo de uma nação inteira despendendo
ininterruptamente penosos esforços para defender o seu direito, como os que ela
emprega para o desenvolvimento de sua atividade na esfera da produção econômica e
intelectual. Todo aquele que tem em si a obrigação de manter o seu direito,
participa desse trabalho nacional e contribui, na medida de suas forças, para a
realização do direito sobre a terra.

1. josé tavares bastos

CAPÍTULO II
O interesse na luta pelo direito
E assim como não é somente para defender um pedaço de terra, mas sim sobretudo a
sua existência, sua independência e honra - que um povo lança mão das armas; de
modo semelhante nas ações e nos pleitos judiciais, em que existe uma grande
desproporção entre o valor do objeto e os sacrifícios de qualquer natureza que
neles é mister despender, não se vai demandar, não se litiga pelo valor
insignificante talvez do objeto, mas sim por um motivo ideal, a defesa da pessoa e
do seu sentimento pelo direito.
Quando o que litiga se propõe semelhante fim e vai guiado por tais sentimentos,
não há sacrifício nem esforço que tenha para si peso algum, porquanto vê no fim
que quer atingir a recompensa de todos os meios que emprega.
Não é o interesse material vulnerado que impele o indivíduo que sofre tal lesão a
exigir uma satisfação, mas sim a dor moral que lhe causa a injustiça de que é
vítima.
A grande questão para ele não é a restituição do objeto, que muitas vezes é doado
a uma instituição de beneficência, a que o pode impelir a litigar; o que mais
deseja é que se lhe reconheça o seu direito. [...]
Resistir à injustiça é um dever do indivíduo para consigo mesmo, porque é um
preceito da existência moral; é um dever para com a sociedade, porque esta
resistência não pode ser coroada com o triunfo, senão quando for geral.

2. heloísa da graça buratti

II - O interesse na luta pelo direito


E assim como não é somente para defender um pedaço de terra, mas sim sobretudo a
sua existência, sua independência e honra que um povo lança mão das armas; de modo
semelhante nas ações e nos pleitos judiciais, em que existe uma grande
desproporção entre o valor do objeto e os sacrifícios de qualquer natureza que
neles é mister despender, não se vai demandar, não se litiga pelo valor
insignificante talvez do objeto, mas sim por um motivo ideal, a defesa da pessoa e
do seu sentimento pelo direito.
Quando o que litiga se propõe semelhante fim e vai guiado por tais sentimentos,
não há sacrifício nem esforço que tenha para si peso algum, porquanto vê no fim
que quer atingir a recompensa de todos os meios que emprega.
Não é o interesse material vulnerado, que impele o indivíduo que sofre tal lesão a
exigir uma satisfação, mas sim a dor moral que lhe causa a injustiça de que é
vítima.
A grande questão para ele não é a restituição do objeto, que muitas vezes é doado
a uma instituição de beneficência, a que o pode impelir a litigar; o que mais
deseja é que se lhe reconheça o seu direito. [...]
Resistir à injustiça é um dever do indivíduo para consigo mesmo, porque é um
preceito da existência moral; — é um dever para com a sociedade, porque essa
resistência não pode ser coroada com o triunfo, senão quando for geral.

1. josé tavares bastos

CAPÍTULO III
A luta pelo direito na esfera individual
Aquele que for atacado em seu direito deve resistir; — é um dever para consigo
mesmo.
A conservação da existência é a suprema lei da criação animada, por quanto ela se
manifesta instintivamente em todas as criaturas; porém a vida material não
constitui toda a vida do homem; tem ainda que defender sua existência moral que
tem por condição necessária o direito: é, pois, a condição de tal existência que
ele possui e defende com o direito.
O homem sem direito desce ao nível dos brutos, assim os Romanos não faziam mais do
que deduzir uma lógica conseqüência desta idéia, quando colocavam os escravos,
considerados sob o ponto de vista do direito abstrato, ao nível do animal.
Temos, pois, o dever de defender nosso direito, porque nossa existência moral está
direta e essencialmente ligada à sua conservação; desistir completamente da
defesa, o que atualmente não é muito prático, porém que poderia ter lugar,
equivaleria a um suicídio moral.

2. heloísa da graça buratti

III - A luta pelo direito na esfera individual


Aquele que for atacado em seu direito deve resistir; é um dever para consigo
mesmo.
A conservação da existência é a suprema lei da criação animada, porquanto ela se
manifesta instintivamente em todas as criaturas; porém, a vida material não
constitui toda a vida do homem; este tem ainda de defender sua existência moral,
que tem por condição necessária o direito: é, pois, a condição de tal existência
que ele possui e defende com o direito.
O homem sem direito desce ao nível dos brutos; assim, os Romanos não faziam mais
que deduzir uma lógica conseqüência dessa idéia, quando colocavam os escravos,
considerados sob o ponto de vista do direito abstrato, no nível do animal.
Temos, pois, o dever de defender nosso direito, porque nossa existência moral está
direta e essencialmente ligada à sua conservação; desistir completamente da
defesa, o que atualmente não é muito prático, porém que poderia ter lugar,
equivaleria a um suicídio moral.

1. josé tavares bastos

CAPÍTULO IV
A luta pelo direito na esfera social
[...] Enquanto a realização prática do direito público e do penal está assegurada,
porque está imposta como um dever aos funcionários públicos, a do direito privado
apresenta-se aos particulares sob a forma de direito, isto é, por completo
abandonada a sua prática à sua livre iniciativa e à sua própria atividade.
O direito não será letra morta e realizar-se-á no primeiro caso se as autoridades
e os funcionários do Estado cumprirem com o seu dever, no segundo, se os
indivíduos fizerem valer os seus direitos.
Mas, se por qualquer circunstância, por comodidade, por ignorância ou por medo,
estes últimos ficarem longo tempo inativos, o princípio legal perderá por esse
fato o seu valor.
As disposições do direito privado podemos, pois, dizer, não existem na realidade e
não têm força prática, senão na medida em que se fazem valer os direitos
concretos; e, se é certo que estes devem sua existência à lei, não é menos certo
que por outra parte eles lha restituem.
A relação que existe entre o direito objetivo e o subjetivo ou abstrato e concreto
assemelha-se à circulação do sangue, que partindo do coração aí de novo volta.

2. heloísa da graça buratti

IV - A luta pelo direito na esfera social


[...] Enquanto a realização prática do Direito Público e do penal está assegurada,
porque está imposta como um dever aos funcionários públicos, a do Direito Privado
apresenta-se aos particulares sob a forma de direito, isto é, por completo
abandonada a sua prática à sua livre iniciativa e à sua própria atividade.
O direito não será letra morta e realizar-se-á, no primeiro caso, se as
autoridades e os funcionários do Estado cumprirem com o seu dever; no segundo, se
os indivíduos fizerem valer os seus direitos.
Mas, se por qualquer circunstância, por comodidade, por ignorância ou por medo,
estes últimos ficarem longo tempo inativos, o princípio legal perderá por esse
fato o seu valor.
As disposições do Direito Privado, podemos, pois, dizer, não existem na realidade
e não têm força prática, senão quando se fazem valer os direitos concretos; e, se
é certo que estes devem sua existência à norma, não é menos certo que por outra
parte eles lha restituem.
A relação que existe entre o direito objetivo ou abstrato, e o subjetivo ou
concreto, assemelha-se à circulação do sangue, que partindo do coração aí de novo
volta.

1. josé tavares bastos

CAPÍTULO V
O direito alemão e a luta pelo direito
[...] A luta é o trabalho eterno do direito.
Se é uma verdade dizer: — Comerás o teu pão com o suor da tua fronte, — não o é
menos acrescentar também: — É somente lutando que obterás o teu direito.
Desde o momento em que o direito não está disposto a lutar sacrifica-se, e assim
podemos aplicar-lhe a sentença do poeta:
É a última palavra da sabedoria
Que só merece a liberdade e vida
Aquele que cada dia sabe ganhá-las.

2. heloísa da graça buratti

V - O direito alemão e a luta pelo direito


[...] A luta é o trabalho eterno do direito.
Se é uma verdade dizer: Comerás o teu pão com o suor da tua fronte, não o é menos
acrescentar também: É somente lutando que obterás o teu direito.
Desde o momento em que o direito não está disposto a lutar, sacrifica-se, e assim
podemos aplicar-lhe a sentença do poeta:
É a última palavra da sabedoria
Que só merece a liberdade e a vida
Aquele que cada dia sabe ganhá-las.

imagens: h. antunes; rideel

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01/06/2009
por quê? e até quando?
a pergunta que nunca se cala é: por quê? por que tanto plágio, tanta cópia, tanta
apropriação indevida do trabalho alheio, tanta falsa identificação?

quando saiu numa comunidade do orkut uma notícia de plágio de ivanhoé, quando
saíram aquelas famosas matérias do jornal opção e da folha de s.paulo, e então
comecei a pesquisar o tema, não fazia ideia da extensão que o plagiato de
traduções no brasil tinha adquirido nos últimos quinze anos. eu sabia de alguns
casos avulsos, como a editora germinal; quanto à nova cultural, foi um choque
descobrir o que vinha ocorrendo desde 1995, e que adquiriu uma dimensão fantástica
em 2002/2003 com o patrocínio da suzano celulose e da ong ecofuturo; sobre a
martin claret, já corriam vários boatos e em abril ou maio do ano passado comecei
a pesquisar um pouco suas edições. até o começo de 2009 eu achava que esse
fenômeno em escala industrial estava restrito à editora nova cultural e à editora
martin claret - que, juntas, respondem por milhões e milhões de exemplares
fraudados presentes em lares, escolas, bibliotecas, instituições públicas e
privadas de norte a sul do país.

então foi estarrecedor ver que o recurso ao plágio de traduções andou se


alastrando como um contágio. já apresentei os casos da landmark, da jardim dos
livros (grupo geração), da rideel e da hemus (respingando na ediouro). tirando a
hemus, os outros três enveredaram por tais rumos em data relativamente recente,
isto é, a partir de 2004/2005.

quanto à landmark e à jardim dos livros, embora ainda devam satisfações ao público
e ressarcimento aos leitores lesados, tenho a impressão de que interromperão essa
prática sem maiores traumas, e até por interesse próprio: a landmark trilhou essa
senda escusa em dois títulos, é uma editora pequena, seus donos parecem alimentar
pretensões políticas no mundo do livro, certamente não quererão ter um tal telhado
de vidro. a jardim dos livros, também pequena, agora é selo editorial do grupo
geração, ao lado da editora leitura e da geração editorial, e não creio que seus
novos sócios se interessem em preservar tais práticas.

já o caso da rideel foi totalmente inesperado e me surpreendeu muito: uma editora


de porte médio, sólida, de aparência respeitável, com vasto catálogo de obras
jurídicas, com presença marcante no mundo do livro, haja vista o cargo de
diretoria que ocupa na principal entidade editorial do país, a câmara brasileira
do livro. foi uma revelação muito contristadora e decepcionante. é um deslustro
para todo o mundo do livro - digo isso porque entendo que representantes de uma
categoria deveriam dar o bom exemplo. e digo isso não porque estaria me metendo em
assuntos de uma entidade patronal que não me diriam respeito. digo isso porque o
mundo do livro diz respeito a toda a sociedade, e as políticas de suas principais
entidades editoriais, que naturalmente estão expressas em suas diretorias, afetam
e se refletem em toda a sociedade. a cbl e demais entidades do livro carregam uma
responsabilidade muito grande, que transcende a linha empresarial adotada no
âmbito privado de cada editora. a meu ver, a cbl tem aí um pepino que terá que
resolver de alguma maneira, para proteger sua credibilidade e suas intenções de
legitimidade e transparência.

é com muita tristeza que reservo o próximo post para mais um caso da rideel,
também em nome de "heloísa da graça burati". (para os outros casos da editora
rideel, ver aqui e aqui.)

imagens: www.plagiarius.com; www.travelblog.org

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ao magnífico lorenzo

maquiavel, o príncipe, dedicatória

1. lívio xavier (atena)


ao magnífico lorenzo, filho de piero de medici

as mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um príncipe,
trazer-lhe os objetos que lhe são mais caros, ou com os quais o vêem deleitar-se;
assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro,
pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. desejando eu oferecer
a vossa magnificência um testemunho qualquer da minha obrigação, não achei, entre
os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime, quanto o
conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência das
coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande
diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a vossa magnificência,
reduzidas a um pequeno volume. e conquanto julgue indigna esta obra da presença de
vossa magnificência, não confio menos em que, por humanidade desta, deva ser
aceita, considerado que não lhe posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade
de poder em tempo muito breve aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa
de tantos incômodos e perigos, hei conhecido.

2. pietro nassetti (martin claret)


ao magnífico lorenzo, filho de piero de medici

as mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um príncipe
trazer-lhe os objetos que lhes são mais caros, ou com os quais o vêem deleitar-se;
assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro,
pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. desejando eu oferecer
a vossa magnificência um testemunho qualquer da minha obrigação, não achei, entre
os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime quanto o
conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência das
coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande
diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a vossa magnificência,
reduzidas a um pequeno volume.
e conquanto julgue indigna esta obra da presença de vossa magnificência, não
confio menos em que, por sua humanidade, deva ser aceita, considerado que não lhe
posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade de poder em tempo muito breve
aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa de tantos incômodos e perigos,
hei conhecido.

1. lívio xavier (atena)


não ornei esta obra e nem a enchi de períodos sonoros ou de palavras empoladas e
floreios ou de qualquer outra lisonja ou ornamento extrínsceo com que muitos
costumam descrever ou ornar as próprias obras; porque não quis que coisa alguma
seja seu ornato e a faça agradável senão a variedade da matéria e a gravidade do
assunto. nem quero que se repute presunção o fato de um homem de baixo e ínfimo
estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes; pois os que desenham os
contornos dos países se colocam na planície para considerar a natureza dos montes,
e para considerar a das planícies ascendem aos montes, assim também para conhecer
bem a natureza dos povos é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos
príncipes é necessário ser do povo. tome, pois, vossa magnificência este pequeno
presente com a intenção com que eu o mando. se esta obra for diligentemente
considerada e lida, vossa magnificência conhecerá o meu extremo desejo que alcance
aquela grandeza que a fortuna e outras qualidades lhe prometem. e se vossa
magnificência, do ápice da sua altura, alguma vez volver os olhos para baixo,
saberá quão sem razão suporto uma grande e contínua má sorte.

2. pietro nassetti (martin claret)


não ornei esta obra e nem a enchi de períodos sonoros ou de palavras empoladas e
floreios ou de qualquer outra lisonja ou ornamento extrínsceo com que muitos
costumam descrever ou ornar as próprias obras; porque não quis que coisa alguma
seja seu ornato e a faça agradável senão a variedade da matéria e a gravidade do
assunto. nem quero que se repute presunção o fato de um homem de baixo e ínfimo
estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes, pois tal como os que
desenham os contornos dos países se colocam na planície para considerar a natureza
dos montes, e para considerar a das planícies ascendem aos montes, assim também
para conhecer bem a natureza dos povos é necessário ser príncipe, e para conhecer
a dos príncipes é necessário ser do povo.
tome, pois, vossa magnificência este pequeno presente com a intenção com que eu o
mando. se esta obra for diligentemente considerada e lida, vossa magnificência
conhecerá o meu extremo desejo: que vossa magnificência alcance aquela grandeza
que a fortuna e outras qualidades lhe prometem. e se vossa magnificência, do ápice
da sua altura, alguma vez volver os olhos para baixo, saberá quão sem razão
suporto uma grande e contínua má sorte.

desnecessário comentar a cópia sem rebuços.

imagem: www.defesabr.com

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