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Ilustração: Aliedo

18 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


POLITIZANDO A “SOCIEDADE DO CONHECIMENTO”
SOB A ÓTICA DO PENSAMENTO DE GRAMSCI
Vânia Cardoso da Motta*

Abstract
This article seeks to introduce the debate on the announced “knowledge society”
and to reflect on the origin of its contradictions, taking as theoretical and metho-
dological references the categories of Italian Marxist thinker, Antonio Gramsci.
It is founded on the basic economic, political, and ideological contradictions
of the globalized world. It is understood that in the condition of a dependent
country, it is fundamental to reflect on the contradictions of this globalized
world and their impacts on the historical specificity of Brazilian society in order
to find elements for an effective action to overcome those contradictions.
Keywords: Knowledge Society, Human Capital, Gramsci.

“...a observação mais importante a ser de telecomunicações, microeletrônica, a “cibercultura” (cultura digital e
feita sobre qualquer análise concreta biotecnologia, informática e robótica, tecnologias inteligentes) e vislumbra
das relações de força é a seguinte: tais entre outros, transformou as matrizes a possibilidade de se elaborar um
análises não podem e não devem ser produtivas básicas e ampliou as projeto de “inteligência coletiva”,
fins em si mesmas (...), mas só adquirem possibilidades de produzir bens e global.
um significado se servem para justificar serviços. Ampliaram-se, também, os Já Frigotto (2001)2 alerta sobre
uma atividade prática, uma iniciativa da sistemas de base democrática e o o ideário conservador que vem
vontade” (Gramsci). movimento em direção à constituição sendo difundido frente às poderosas
de formas novas e mais ativas de redes de informação: “o de que
INTRODUÇÃO organização da sociedade civil. Por estamos iniciando um novo tempo
outro, constatam-se o aumento da para o qual devemos nos ajustar
No cenário mundial do final do desigualdade entre países e regiões irreversivelmente – o tempo da
século XX, constata-se, de um lado, e da pobreza mundial, taxas elevadas globalização, da moder nidade
os enormes progressos alcançados de desemprego e a precarização do competitiva, de reestruturação
nos campos do conhecimento trabalho, com perdas substantivas dos produtiva e de reengenharia –, do
e tecnológico. A expansão sem diretos sociais conquistados. qual estamos defasados e devemos
precedentes das inovações nas áreas Em relação às novas tecnologias nos ajustar”.
da comunicação e informação, alguns Trata-se, segundo Nogueira
* Professora Assistente da Universidade Santa “otimistas” enfatizam a capacidade de (2002)3, das contradições existentes
Úrsula. Doutoranda em Serviço Social – Po- produção e difusão do conhecimento na “cibercultura” ou na “sociedade
líticas Sociais, pela Universidade Federal do que essas “ferramentas” possibilitam. do conhecimento”. Para o autor:
Rio de Janeiro - UFRJ. Mestre em Educação Pierre Lévy (1998)1, por exemplo, “Ainda que seja evidente, hoje, o
– Movimentos Sociais e Políticas Públicas,
pela Universidade Federal Fluminense – UFF.
anuncia uma mutação nos modos crescimento das possibilidades de uma
E-mail: vcmotta@superig.com.br. de comunicação, de acesso ao saber, maior comunicação entre povos e
de pensamento e de trabalho com indivíduos graças à rápida difusão da
Recebido para publicação em: 04/04/06.

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internet, o mundo está cada vez mais abarca a anunciada “sociedade do mas uma utopia concreta, como “um
condicionado pela ação de poucos e conhecimento” atrelada à “teoria do conjunto de representações fundadas
poderosos conglomerados”. capital humano”, para, por último, numa esperança objetiva instruídas
As contradições que atravessam tentar compreender a dinâmica das por tendências já presentes no real
o novo milênio, cada vez mais relações de poder numa sociedade (...) e não uma simples fantasmagoria
intensas, impõem novos desafios, de classes, fundando-se em conceitos subjetiva”.
especialmente, no campo educacional, de Gramsci que possam colaborar no E ao traçar seu ponto de vista em
uma vez que é o campo da produção entendimento e na intervenção para a relação ao conceito de “sociedade
e reprodução do conhecimento, da superação dessas contradições. do conhecimento”, o autor disserta
formação e da difusão de cultura, que:
atravessado pela questão do poder SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
que insere os âmbitos econômicos, E AS CONTRADIÇÕES DA (...) uma verdadeira sociedade do
políticos e ideológicos. MODERNIDADE conhecimento seria aquela em que
Enfrentar esses desafios requer o conhecimento, considerado em
refletir sobre as contradições do Para compreender o significado seu sentido integral, abrangendo
não somente as disciplinas técnico-
mundo globalizado e seus reflexos na que insere a expressão “sociedade
científicas, mas, também, a filosofia
especificidade histórica da sociedade do conhecimento”, tão difundida e as humanidades, fosse o principal
brasileira, buscando fundamentos para no campo educacional nas últimas determinante da organização social, e
uma ação efetiva de superação dessas décadas, partir-se-á da definição de em que todas as camadas sociais, em
contradições. Nessa perspectiva, este Rouanet (2002). todos os países do mundo, tivessem
artigo procura introduzir o debate O autor5, ao colocar em questão chances simétricas, asseguradas por
sobre a anunciada “sociedade do do que se trata a “sociedade do processos democráticos, de âmbito tanto
conhecimento” e refletir sobre as conhecimento”, um fato, uma nacional quanto global, de participar da
bases de suas contradições fundada ideologia ou uma utopia, conclui geração, processamento, transmissão
nas categorias do pensador italiano que ela é um pouco das três e apropriação do conhecimento e
das informações necessárias a esse
marxista Antônio Gramsci4. coisas: o conceito de “sociedade do
conhecimento6.
Assim, num primeiro momento, conhecimento” baseia-se no fato
discutir-se-á o significado de “sociedade de que o conhecimento científico-
do conhecimento” em Rouanet, tecnológico, hoje, com o grau de Para Rouanet, “não é nem como
traçando algumas contradições que sofisticação alcançado pela ciência, descrição neutra nem como ideologia
tal sociedade incorpora do moderno a complexidade das tecnologias que o conceito de sociedade do
mundo globalizado. Num segundo geradas e a importância central conhecimento pode ser considerado
momento, a partir de exemplos de desse conhecimento no aparelho realista, e sim como utopia”7 - uma
diferentes visões sobre os desafios produtivo, na reprodução material utopia fundada na “esperança” que
da educação brasileira no século XXI da sociedade e numa vida cotidiana um dia será objetivada para todos.
ou no contexto da “Era do Mercado”, atravessada pela mídia, configuram Conforme seu ponto de vista, então,
é discutido o caráter ideológico que “um salto qualitativo na antiqüíssima tal “sociedade do conhecimento”
história entre conhecimento e inexiste, uma vez que ela ainda não
sociedade”, e desempenha se configurou como “o principal
“um papel decisivo na determinante da organização social”,
economia e, por meio dela, isto é, não houve, até então, a
na sociedade”. Apresenta- participação, tanto em âmbito
se como ideologia, “em seu nacional como no âmbito global, “da
sentido mais clássico, o de conjunto geração, processamento, transmissão
de idéias destinadas a mistificar e apropriação do conhecimento e
relações reais, a serviço de um das informações necessárias a esse
sistema de dominação” (fazendo conhecimento”.
referência ao “capitalismo global”), A “sociedade do conhecimento”,
uma vez que o conceito de “sociedade associada às novas tecnologias, uma
do conhecimento” se apresenta vez que elas, “de fato”, ampliam
dissimulado ao atribuir o mesmo as possibilidades de acesso à
significado ao termo conhecimento informação, de todo tipo, em qualquer
e informação, pois considera que lugar do planeta e em tempo quase
a informação dispensa a reflexão real, e, com isso, ampliam, também,
necessária para transformar os as possibilidades de produção e
conteúdos do mundo exterior em socialização de conhecimentos, é
conhecimento. E ela é uma utopia, contraditória e insere relações de
poder, uma vez que tais possibilidades

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Banco Mundial, essa diferença industrializados9.
vem se tornando maior nas últimas Esses dados mostram que

O décadas.
Sobre o acesso à internet:
- os 20% mais ricos da população
ultimamente vem se configurando
uma forte exclusão dos países
mais pobres ao acesso a pesquisa -
conhecimento mundial possuem 93,3% dos acessos à “geração, processamento, transmissão
internet, os 20% mais pobres, apenas e apropriação do conhecimento
mais elevado 0,2% e os 60% intermediários, apenas e das informações necessárias a
6,5%. esse conhecimento”, colocado por
é privilégio de Sobre a apropriação de redes Rouanet - e à condição de influir nas
telefônicas: linhas de pesquisa que atentam as
poucos, de uma - 20% da população mundial que suas necessidades básicas.
vive nos países mais ricos possui 74% Há profundas disparidades
pequena parcela, das linhas telefônicas do mundo, existentes entre os avanços
enquanto os 20% mais pobres têm tecnológicos e as condições de vida
e a produção do apenas 1,5%. da maioria da humanidade. Conforme
Considerando que a concepção dados do Banco Mundial (1998):10
conhecimento é da “sociedade do conhecimento” está - quase 1,3 bilhão de pessoas
privilégio de um diretamente relacionada ao contexto
da globalização da economia e que
ganham menos de um dólar por dia,
vivendo na pobreza extrema;
grupo restrito, a base dos avanços tecnológicos é a
pesquisa e o desenvolvimento para o
- 3 bilhões de pessoas, metade
da população mundial, recebe uma
cada vez mais aumento da produtividade, verifica-se
que há também uma enorme distância
renda que não excede os dois dólares
diários, encontrando-se em situação
restrito. nas oportunidades tecnológicas entre
países centrais e periféricos, uma
de pobreza;
- 3 bilhões de pessoas não possuem
vez que os gastos ou investimentos serviços de saneamento básico;
em pesquisa estão concentrados nos - 2 bilhões carecem de eletri-
países ricos: cidade;
- em 1993, 84% do gasto mundial - 1,4 bilhão de pessoas não tem
de apropriação do conhecimento, em pesquisa e desenvolvimento água potável.
até então, não são para todos. era realizado em apenas dez países As condições extremas de pobreza
No Brasil, assim como na maioria que, com isso, eram os principais e as carências de condições mínimas
dos países periféricos, os veículos orientadores de prioridades e das na prevenção em saúde afetam outro
de comunicação e de informação agendas de pesquisa. campo fundamental, a nutrição.
permanecem na direção de uma - 95% das patentes eram Segundo dados da Organização
minoria. O conhecimento mais controladas por esses países. E 80% Mundial da Saúde (1998)11:
elevado é privilégio de poucos, de das patentes outorgadas em países - 828 milhões de pessoas dos
uma pequena parcela, e a produção em desenvolvimento foram dadas países em desenvolvimento padecem
do conhecimento é privilégio de a residentes
um grupo restrito, cada vez mais de países
restrito.
Ao tentar compreender a “sociedade
do conhecimento” enquanto utopia,
Rouanet nos instiga a observar as
condições concretas para a realização
desta utopia, principalmente nos
países dependentes.
Analisando alguns dados em
relação ao acesso aos veículos de
comunicação e de informação no
âmbito global, segundo os dados
levantados pelo Informe sobre
Desenvolvimento Humano do PNUD
(1999)8, constata-se que há uma
brecha enorme entre países ricos e
pobres, e que, segundo o próprio

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de fome crônica; comercial concentrado, como bases para essas partes do mundo, a década de
- 2 bilhões apresentam deficiências de terceirização deslocalizada a custos 1980 foi de severa depressão (...).
de micronutrientes como vitaminas salariais muito baixos. Mais uns Quanto à pobreza e miséria, na década
e minerais. poucos países, por fim, são atrativos de 1980 muitos dos países mais ricos
devido a seu enorme mercado interno e desenvolvidos se viram outra vez
Esse quadro reforça a colocação
potencial (...). Mas, fora esses casos, acostumando-se com a visão diária
de Frigotto e de outros críticos, em as companhias da tríade precisam de de mendigos nas ruas, e mesmo
relação ao ideário excludente, que mercados e, sobretudo, não precisam com o espetáculo mais chocante de
permeia o discurso da “sociedade de concorrentes industriais de primeira desabrigados protegendo-se em vãos
do conhecimento”. No âmbito da linha (...). Foi assim que houve um de portas e caixas de papelão, quando
produção científica, é uma exclusão estancamento do IED (Investimento não eram recolhidos pela polícia. (....) O
silenciosa. No âmbito do trabalho, Estrangeiro Direto) para muitíssimos reaparecimento de miseráveis sem teto
é alardeado que para combater a países, e que o tema da administração da era parte do impressionante aumento
exclusão é necessário realizar uma pobreza foi assumindo espaço cada vez da desigualdade social e econômica na
adaptação ao “novo tempo”; é preciso maior nos relatórios do Banco Mundial, nova era.18
enquanto o tema do desenvolvimento
formar um novo tipo de trabalhador,
foi colocado em surdina (Chesnais, Como pode ser visto, a concepção
requalificar os profissionais de
1996).16 de “sociedade do conhecimento”
educação para atender as necessidades
dos modernos meios de produção, da insere contradições que estão
Explica Hobsbawm (1995)17 que, diretamente relacionadas à gênese
nova configuração da organização do
no final do século XX, os países do da sociedade capitalista: a grande
trabalho, da complexidade produtiva,
mundo capitalista desenvolvido se capacidade de desenvolvimento
enfim, do mercado.
achavam mais ricos e mais produtivos tecnológico e científico está atrelada
Tal retórica é difundida num
do que no início da década de 1970, e a à degradação social da maioria.
contexto em que a situação de
economia global estava imensamente Analisando os primórdios da
pobreza se agrava mundialmente,
mais dinâmica. No entanto, “a formação da sociedade capitalista,
formando um novo mapa mundial
situação em regiões particulares do as contradições entre o avanço das
com “zonas de pobreza”12 tanto em
países centrais como periféricos. industrias e a “profunda degradação
Amplia-se a desigualdade entre países moral”19 dos trabalhadores da, então
e regiões, polarizando domínios.13 em formação, organização do trabalho
Chesnais (1996) explica que “liberado”, Paulo Netto (2001) iden-
por várias décadas prevaleceu tifica que: “Pela primeira vez na
a idéia de que o modelo história registrada, a pobreza
ocidental capitalista de crescia na razão direta em que
desenvolvimento poderia aumentava a capacidade social
ser conquistado por todos de produzir riquezas”.20
os países e regiões, uma vez
que superassem as “etapas” Para Iamamoto (2003):
necessárias para tal, como
“degraus de uma escada que Essa contradição fundamental da
sociedade capitalista – entre o trabalho
todo país podia galgar”.14
coletivo e a apropriação privada da
E que: atividade, das condições e frutos do
trabalho – está na origem do fato de
Após o formidável salto que o desenvolvimento nesta sociedade
de produtividade do trabalho na redunda, de um lado, em uma enorme
indústria, que acompanhou a difusão possibilidade de o homem ter acesso
das tecnologias de informática, do à natureza, à cultura, à ciência, enfim,
estabelecimento de novas formas globo era consideravelmente menos desenvolver as forças produtivas do
toyotistas de organização da produção cor-de-rosa”. Na década de 1980, trabalho social; porém, de outro lado e
industrial e da intensificação da houve a estagnação do crescimento do na sua contraface, faz crescer a distância
concorrência entre as companhias e PIB per capita na África, Ásia ocidental entre a concentração/ acumulação
os países da Tríade15, estes passaram a e América Latina e o empobrecimento de capital e a produção crescente da
se interessar unicamente por relações da maioria das pessoas. Segundo o miséria, da pauperização que atinge
seletivas, que abrangem apenas a maioria da população nos vários
autor:.
um número limitado de países do países, inclusive naqueles considerados
Terceiro Mundo. Certos países ainda ‘primeiro mundo’.21
A produção caiu durante a maior parte
podem ser requeridos como fontes
dos anos da década nas duas primeiras
de matérias-primas (porém cada vez
regiões, e por alguns anos na última (...).
menos, observa o autor). Outros são
Ninguém duvidou seriamente de que,
procurados, sobretudo pelo capital

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A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO de Ensino Superior - ABMES 25,
CONTEXTO DA CONTRADITÓRIA Divonzir A. Gusso 26 apresentou
"SOCIEDADE DO CONHECIMEN- algumas evidências para ajudar ... a concepção
TO" a avaliar as possibilidades da
demanda para os cursos de graduação de “sociedade do
Na I Conferência Nacional de superior:
Educação, Cultura e Desportos, - em 1990, as IES27 públicas conhecimento”
realizada em Brasília, Saviani (2001), apresentaram 37,6% de matrículas e
ao discutir o tema da conferência, as IES privadas, 62,4%; insere contradições
Desafios para o século XXI, colocou - em 2000, as IES públicas
a seguinte questão: “como enfrentar apresentaram 32,9% contra 67,1% das que estão
este desafio do século XXI quando o IES privadas;
nosso desafio ainda está situado no - entre 1985/1990, as IES públicas diretamente
século XIX, que é o da universalização tiveram uma taxa de crescimento de
do ensino fundamental e o da
erradicação de analfabetismo?”.22
0,8% ao ano e as IES privadas, de
3,5% ao ano;
relacionadas
De fato, o quadro educacional
brasileiro se apresenta com grandes
- entre 1995/2000, as IES públicas
cresceram 4,8% ao ano, enquanto as
à gênese da
distorções. Com isso, cria-se um
abismo entre a disseminada
IES privadas, 11,3% ao ano.
Observa-se nesse quadro, com
sociedade
“sociedade do conhecimento” e a
sociedade brasileira. Ele se apresenta
dados que indicam um crescimento
do número de matrículas nas IES
capitalista: a grande
distante da “verdadeira sociedade do particulares e uma explosão de
conhecimento” colocada por Rouanet. IES privadas nas últimas décadas, capacidade de
No entanto, os empresários da o entusiasmo dos empresários de
educação não desanimam diante do educação em relação aos déficits de desenvolvimento
quadro; ao contrário, o consideram escolarização no Brasil. Para esses
bastante oportuno para aumentar suas empresários da educação, os déficits tecnológico
possibilidades de lucros. na educação escolar vislumbram
Para os empresários do ensino, o somente as possibilidades de e científico
quadro das estatísticas da educação investimento no mercado educacional
brasileira no contexto da “sociedade brasileiro que, para se adaptar ao está atrelada à
do conhecimento”, embora precise “novo tempo”, tende a expandir.
“dar um salto gigantesco no que diz Há uma estimativa que, entre degradação social
respeito à formação das pessoas”, gastos públicos e privados, o setor
aponta um mercado promissor para educacional movimenta cerca de da maioria.
expansão de seus negócios e para o dois trilhões de dólares. Esse
aumento de seus lucros, já que: volume expressivo de recursos
tem atraído o interesse crescente
(...) aqui, os 2,7 milhões de universitários de diversos grupos, principalmente
representam 1,6% da população, contra empresariais,28 sobretudo no setor empresariais por novos mercados.
cerca de 3,4% de chilenos e argentinos. de ensino superior. Contudo, pelo fato de a educação
Fatos como esses podem ser um entrave ter se constituído, na maioria dos
na corrida por competitividade na países, como um dos direitos sociais, a
sociedade do conhecimento e um nó Segundo Siqueira (2004):
presença/oferta e o controle da mesma
para a expansão da indústria do ensino pelo Estado apresentam várias limitações
no país – ou uma enorme oportunidade. Os países mais ricos, com a maioria de
à expansão comercial/mercadológica
Na verdade são as duas coisas ao mesmo sua população escolarizada, uma taxa
dos negociadores da educação, tratadas
de natalidade decrescente e amplos
tempo.23 agora como ‘barreiras’ que devem ser
sistemas educacionais funcionando,
derrubadas.29
estão se apresentando como um
Para o americano Franklin mercado restrito para a atuação de
Schargel24, especialista na aplicação empresas no setor educacional. Por outro Nessa ótica, há uma pressão para
da gestão da qualidade total em lado, os países em desenvolvimento que a educação seja vista como uma
escolas: “A boa notícia é que há sinais – onde hoje se encontra a maior parte da mercadoria, e não como direito social,
de que a largada por aqui (no Brasil) população em idade escolar e, portanto, de forma a ser regulada pelas normas
já foi dada”. onde há uma grande demanda potencial do mercado,30 sem a interferência das
Em palestra organizada pela para a oferta de ensino (....) – são alvos regulamentações governamentais.
Associação Brasileira de Mantenedoras privilegiados dessa busca dos grupos Conforme foi colocado, o fato
de se ter no Brasil um baixo índice

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Do ponto de vista da O que se discute é apenas se esse
desigualdade social, vínculo (econômico) se dá mais ao
a teoria do capital nível do aprendizado de habilidades, do
humano vai permitir aos desenvolvimento de ‘atitudes’ funcionais
formuladores e executores ao processo produtivo. A partir dessa
do modelo concentrador concepção linear deriva-se (....) a
de desenvolvimento ideologia burguesa do papel econômico
justificar o processo de da educação. A educação e a qualificação
concentração do capital aparecem como panacéia para superar as
de escolarização, e com isso, ser um mediante o desenvolvimento da desigualdades entre nações, regiões ou
entrave na expansão econômica e crença de que há dupla forma de indivíduos. O problema da desigualdade
na corrida por competitividade na ser ‘proprietário’: proprietário dos tende a reduzir-se a um problema de
“sociedade do conhecimento”, não meios e instrumentos de produção ou não-qualificação.35
é de todo ruim uma vez que essa proprietário do ‘capital humano’.34
distorção educacional abre uma No âmbito ideológico, acortina-se
enorme possibilidade de mercado. No âmbito das políticas o antagonismo de classe, definido
Se por um lado, conforme educacionais, dissemina-se a idéia pelos interesses do capital de
colocação de Saviani, tem-se o de democratização do acesso à escola expropriar o trabalhador e pelos
desafio da universalização do ensino e enseja-se um intervencionismo interesses dos trabalhadores de
fundamental e o da erradicação do Estado, de caráter técnico, se apropriar do conhecimento
de analfabetismo, por outro, abre- no planejamento dos sistemas historicamente acumulado, e busca-se
se a possibilidade de inclusão nas educacionais formais e nos processos cimentar a idéia de que a mobilidade
“relações seletivas”, tendo em vista educativos embutidos em planos social depende exclusivamente do
o enorme mercado interno potencial específicos de desenvolvimento esforço e mérito do indivíduo em
brasileiro.31 regional. Neste sentido: promover o investimento no bem
É sob a perspectiva de mercado educacional.
que vem sendo disseminada a O mascaramento fundamental
idéia de “valorização humana do decorre da visão de que cada
trabalhador”, que insere a defesa de indivíduo é, de uma forma ou de outra,
uma sólida educação básica geral para ... não se trata proprietário e, enquanto tal, depende
a formação do cidadão e do novo dele – e não das relações sociais, das
tipo de trabalhador ("cognitariado"32, de ter uma relações de poder e dominação – o
polivalente, participativo, flexível seu modo de produção da existência
e com uma elevada capacidade de qualificação (Frigotto, 1986).36
abstração e decisão) integrado à
“sociedade do conhecimento”.33 profissional para Ao longo de décadas de
disseminação da “teoria do capital
Veiculam-se as idéias de que o
progresso técnico, além de gerar
o trabalho, pois humano”, o que se averigua é que,
“ao contrário da distribuição de
emprego, exige uma qualificação cada
vez mais específica e permanente por
não há trabalho, renda, a concentração se acentuou;
ao contrário de mais empregos
parte do trabalhador, isto é, exige mas assegurar para egressos de ensino superior,
que ele invista naquilo de que é tem-se cada vez mais um exército
proprietário, o capital humano. às camadas de ‘ilustrados’ desempregados ou
Investir no “capital humano”, via subempregados” (Frigotto:1986)37.
escolarização ou treinamento e através mais pobres o Hoje, pode-se questionar se esse
de acesso aos graus mais elevados de
ensino, constitui-se em garantia de desenvolvimento de exército é de reserva ou um exército
de “ilustrados” que jamais serão
ascensão a um trabalho qualificado
e, conseqüentemente, a garantia
suas “capacidades inseridos ou incluídos no mercado
formal.38 E, ainda, de que tipo de
de níveis de renda cada vez mais
elevados. Qualificado para o mercado
básicas de “ilustração” este “exército” vem se
apropriando.
e ascendendo profissionalmente, realização”, para Conforme Frigotto (2000), “o
o indivíduo garante o seu bem- caráter explícito desta subordinação
estar social e econômico e de seus sobrevida na nova é de uma clara diferenciação da
familiares.
Era. educação ou formação para as classes
dirigentes e a classe trabalhadora”39.
Esse caráter dual da educação escolar
Segundo Frigotto (1986):

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é identificado tanto na existência solidariedade, da igualdade e da e suas contradições constitutivas”,
de duas redes de educação escolar democracia” (grifo nosso). demarca o “ponto de vista da
– pública e privada, quanto na totalidade na análise do real”,49
dualidade de formação – ensino “LER GRAMSCI (E) ENTENDER A evidencia o vínculo entre o social, o
profissionalizante e tradicional. REALIDADE”44 político e o econômico.
Já Leher (1998),40 coloca que na Gramsci indica como elementos
“Era do Mercado” este caráter de Semeraro (2001) 45 aponta a fundamentais da dinâmica de
subordinação se expressa pelo recusa de Gramsci por “qualquer conservação ou transformação de
“apartheid educacional planetário”, determinismo que estabeleça relações um “bloco histórico”, isto é, da
ao reduzir o acesso dos excluídos lineares entre economia e política, organicidade entre a estrutura e a
somente ao ensino fundamental. entre estrutura e superestrutura, superestrutura de uma determinada
Leher identifica no capitalismo forças objetivas e subjetivas”, pois formação histórico-social, o “Estado”,
globalizado a intensificação das ambos entendem que a história é um a “sociedade civil” e o “intelectual”,50
contradições, já que na atual processo dinamizado por diferentes que implicam as formas e os níveis
conjuntura não se trata de ter uma manifestações criativas, geradoras como se dão as correlações de forças
qualificação profissional para o de novas forças sociais. E é nessa sociais.
trabalho, pois não há trabalho, perspectiva que o autor destaca a Na concepção de Gramsci, a
mas assegurar às camadas mais sociedade civil como a categoria de partir da constituição do Estado
pobres o desenvolvimento de suas maior valor para a compreensão da Moderno e da conquista da
“capacidades básicas de realização”,41 dinâmica da sociedade capitalista ampliação da participação política dos
para sobrevida na nova Era. As escolas moderna na ótica de Gramsci, “uma trabalhadores, tornou-se fundamental
públicas, principalmente de ensino esfera cada vez mais complexa e o consenso da sociedade civil nas
fundamental, tendem a ser um espaço contraditória de lutas ideológicas, de idéias e ações da classe dominante,
de assistência e contenção da violência guerra de posição e de intensa disputa de modo a conquistar ou conservar
e dos conflitos, um espaço público pela hegemonia entre diferentes a hegemonia ideológica. As funções
despolitizado. Para Bourguignon grupos sóciopolíticos”.46 de hegemonia são exercidas pela
(economista do Banco Mundial), “os Em suas reflexões, Gramsci atuação da sociedade política, através
ricos dos países em desenvolvimento enfatiza a existência de uma relação do sistema judiciário, do sistema
devem encarar a política de maior orgânica e recíproca estabelecida escolar e da propaganda vinculados
eqüidade com o investimento no entre o estrutural e o superestrutural, à sociedade civil. Como a sociedade
futuro dos seus filhos e netos, uma que adquire características específicas civil é composta de instituições das
garantia de que eles viverão numa em cada formação histórica. Trata- mais diversas concepções de mundo,
sociedade menos violenta”.42 se da relação entre o econômico- por isso elas são denominadas por
Contudo, adverte Frigotto social e o ético-político ou forças Gramsci de “aparelhos privados
(2000)43 que, na contradição entre materiais e ideologias que de hegemonia”, a
a explosão tecnológica e o aumento compõe um determinado estrutura social
das desigualdades, da pobreza e das “blocohistórico”.47 se apresenta
taxas de desemprego, não se trata Ao analisar as relações dinâmica, as
de negar os avanços tecnológicos de forças que compõem
e do conhecimento ocorridos nos um determinado “bloco
últimos tempos ou fixar-se na social”, Gramsci expõe
resistência, nem de considerar as a dinâmica que insere
posturas dos homens de negócios as relações de poder ou
em relação à educação como atitudes relações de hegemonia,
maquiavélicas ou que efetivamente explicitando os
instaurou-se uma preocupação mecanismos de dominação
humanitária neste grupo. Trata-se de e de direção intelectual e
disputar concretamente a hegemonia moral que uma classe social
desses avanços e conduzi-los, utiliza sobre toda sociedade e
submetendo-os à esfera pública e ao enfatiza a função do “intelectual”48
controle democrático para “potenciar neste processo como elemento
a satisfação das necessidades fundamental para se obter e conservar
humanas”. O eixo, coloca o autor, a “hegemonia”.
“não é a supervalorização da Para Simionatto (2004): “Sua
competitividade, da liberdade, da reflexão categorial vai apreendendo
qualidade e da eficiência para poucos a processualidade e a historicidade
e a exclusão das maiorias, mas a do social, o jogo das relações que
permitem desvendar a realidade

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relações sociais são contraditórias e
as instituições sociais são permeadas
por conflitos. Assim, a conquista da
... “sociedade
hegemonia se dá através de “guerra do conhecimento”
de posições”, isto é, da conquista
da direção política e da obtenção sendo um fato, traço de iniciativa autônoma, qualquer
do consenso da sociedade civil em conquista de espaço na direção
relação a um determinado projeto não seria ideologia política, qualquer avanço em direção
societário.
Sendo o sistema educacional, na enquanto ao projeto social e educacional
aspirado pela classe trabalhadora é de
sociedade capitalista moderna, uma
das instituições sociais, ou melhor,
falseamento um valor inestimável. E o intelectual
comprometido organicamente com
um “aparelho privado de hegemonia”,
dominante e principal na difusão
da realidade e a classe dominada exerce um papel
fundamental nesse processo de
cultural e ideológica, entende-se nem uma utopia conquista de uma nova hegemonia.
que em suas relações internas serão
reproduzidos as contradições e “esperançosa”, Para Semeraro (2001c):
os conflitos de idéias da dinâmica
das relações de hegemonia mais mas um projeto de Hoje, de fato, a velocidade vertiginosa
ampla. Nesse sentido, as políticas
educacionais e as ações para a sociedade que deve da globalização, vem demonstrando
que nessa esfera (sociedade civil)
concretização destas são resultados
desses conflitos de idéias e das
ser conquistado, não apenas se multiplicam iniciativas,
são traçados rumos da economia, da
contradições, de forma que pode-
se identificar o espaço escolar e
por meio da política e a da cultura, mas que, com
uma facilidade nunca vista antes, se
educacional como espaço de luta na permanente amalgamam discursos, se entrecruzam
conceitos, se embaralham signos, se
conquista da direção política e na
busca do consenso da sociedade civil luta por uma ocultam desigualdades e se despolitizam
as relações sócio-econômicas. De modo
aos projetos educacionais de classes
antagônicas. sociedade mais que, nem sempre é fácil identificar os
processos históricos reais e os pontos
Nessa perspectiva, entende-se que
a difusão da idéia da necessidade de
justa e igualitária, de aglutinação dos interesses populares.
Daqui, a insistência de Gramsci na
elevar culturalmente os trabalhadores
para o ingresso na “sociedade do
verdadeiramente formação de intelectuais e organizações
populares capazes de perceber, por
conhecimento” vai caminhar para “a democrática. trás da retórica, do jogo de imagens
e simulacros, as forças que sustentam
efetivação de um novo conformismo” o sistema corporativo dominante e os
(Neves, 2000),51 ao mesmo tempo movimentos de ruptura que operam,
em que vai propiciar a crescente local e mundialmente, para a criação
conquista da “autoconsciência da ‘sociedade regulada’.53
mais elevada” dos trabalhadores
(Semeraro, 2001/2).52 Segundo Gramsci,54 pelo exercício
Ao compreender a dinâmica políticas capazes de dar sustentação de funções em todos os campos
e a importância do papel da a um projeto de sociedade e, no das relações sociais, os intelectuais
educação escolar como conquista caso específico, de educação, que modernos desempenham a tarefa
dos trabalhadores, considera-se que vá ao encontro das aspirações da de organizar a economia, a política,
a necessária expansão educacional classe trabalhadora (do braço e da a cultura, divulgar concepções de
difundida no contexto da “sociedade mente). mundo, construir as bases para
do conhecimento”, mesmo que No entanto, Gramsci reconhece a formação do “consentimento”,
permeada pela lógica do mercado e as dificuldades que a “classe viabilizando o exercício da hegemonia.
mesmo nas condições (que não são) subalterna” precisa enfrentar na E é nesse sentido que a função do
dadas, pode indicar possibilidades luta pela hegemonia: sua história intelectual organicamente vinculado
de cisão da hegemonia existente, é “desagregada e episódica”, sua às aspirações da classe subalterna
ao permitir a elevação cultural atividade organizativa e cultural é torna-se fundamental na construção
de pelo menos parte das massas continuamente rompida pela iniciativa de uma “nova cultura”.
trabalhadoras. dos grupos dominantes; só o sucesso
Na abordagem gramsciana, a da ação, a vitória “revolucionária” Na concepção de Coutinho (2000),
luta pelos espaços de poder se rompe, mas não imediatamente, a
faz no sentido de buscar alianças a elaboração e difusão de tal cultura,55
subordinação. Por isso, qualquer
contribuindo para a hegemonia dos

26 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


trabalhadores (do braço e da mente) necessidade de elevar culturalmente a O que se pode concluir que as lutas
na vida nacional, é por seu turno um massa de trabalhadores para ingressar pelos espaços decisórios, os embates
momento ineliminável na conquista, na competitividade internacional, entre as diferentes concepções
consolidação e aprofundamento da implícita nessa idéia dos “novos de sociedade e de educação, as
democracia, de uma democracia de
tempos”, propicia, também, a correlações de forças são, em si,
massas que seja parte integrante da
luta e da construção de uma sociedade
formação de um tipo de intelectual processos pedagógicos, que podem
socialista em nosso país (...) e para organicamente vinculado às aspirações levar a superação de um senso comum
que possamos chegar a isso, a luta da classe dominada e, com ele, pedagógico e à construção de uma
pela democratização da cultura pode e pode desencadear um processo nova cultura. Enfim, as correlações
deve obter ganhos parciais de grande de “correlações de forças” que vise de forças podem levar à elaboração,
importância e significação.56 ampliar o acesso das classes populares coletiva, de um projeto de sociedade
aos “instrumentos e os fundamentos mais justa e humana, à construção
Retoma-se, com isso, o eixo do conhecimento, superar seu saber de um “vir a ser”, de “baixo” para o
apontado por Frigotto (2000),57 de que disperso e aproximativo, adquirir “alto”. No entanto, esse processo de
se deve disputar hegemonicamente as confiança em suas capacidades” disputas deve inserir o “pessimismo da
conquistas propiciadas pelos avanços (Semeraro, 2001b).59 razão”,, isto é, a consciência de que
tecnológicos, submetendo-as à esfera Entende-se como fio condutor para há um longo caminho a percorrer
pública e ao controle democrático. a compreensão dessas contradições no processo de apropriação,
Acredita-se que nessa ótica a relação que Gramsci estabelece pelas camadas populares, dos
a “sociedade do conhecimento” entre filosofia, história e cultura, instrumentos fundamentais do
sendo um fato, não seria ideologia isto é, entre o modo de pensar o conhecimento e de superação do
enquanto falseamento da realidade mundo e o modo de sentir e agir no senso comum, principalmente
e nem uma utopia “esperançosa”, mundo como produto do processo nas condições que estão dadas,
mas um projeto de sociedade histórico. A filosofia, que pode ser mas deve inserir, também, o
que deve ser conquistado, por compreendida também como uma “otimismo da vontade” de se
meio da permanente luta por uma determinada concepção de mundo, lutar por uma sociedade para
sociedade mais justa e igualitária, está diretamente associada a uma todos.
verdadeiramente democrática. ação, sendo que para o autor toda ação
é uma ação política. Daí a necessária NOTAS:
CONCLUSÃO politização da difundida “sociedade
do conhecimento”. 1 LEVY, Pierre. A inteligência
Ao contrário do que vem sendo coletiva:: por uma antropologia
(...) cada um transforma a si mesmo, se do ciberespaço. São Paulo: Loy-
difundido, não se está vivendo ola, 1998.
na “sociedade do conhecimento”, modifica na medida em que transforma
pois a “verdadeira sociedade do e modifica todo o conjunto de relações 2 FRIGOTTO, Gaudêncio; CIA-
do qual ele é o ponto central. Neste
conhecimento” não será dada, mas VATTA, M. (Org). Teoria e edu-
sentido, o verdadeiro filósofo é – e cação no labirinto do capital.
conquistada pelas classes dominadas, não pode deixar de ser – nada mais do 2 ed. Petrópolis, RJ :Vozes, 2001.
pois insere relações de poder e, que o político, isto é, o homem ativo p. 27.
dessa forma, insere contradições que que modifica o ambiente, entendido
precisam ser superadas. por ambiente o conjunto das relações 3NOGUEIRA, Marco Aurélio. Ris-
Como foi constatado, nas últimas de que o indivíduo faz parte (Gramsci, cos e virtudes da cibernética.
décadas a contradição tem se 1989).60 Disponível em: <http://www.
acessa.com/gramsci/>. Acesso
intensificado. Parafraseando Paulo em 03 maio, 2002. Site: Gramsci
Netto (2001), 58 a pobreza e a É na relação entre a teoria e a e o Brasil.
desigualdade social vêm crescendo prática; entre o pensar, o sentir e o
4As
na razão direta em que aumenta a agir, que Gramsci procura demonstrar referências ao pensamento
expansão das inovações tecnológicas a complexa dinâmica que insere as de Gramsci são pautadas na
coleção editada por Carlos
e a capacidade social de produzir relações de poder ou relações de Nelson Coutinho com Marco
riquezas. hegemonia (o processo de obtenção e Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio
A partir da perspectiva do conservação da hegemonia no modo Henriques – “Antonio Gram-
pensamento de Gramsci, pode- de produção capitalista em seu estágio sci: cadernos do cárcere”
se compreender que, por mais mais avançado). Suas categorias -, mais especificamente os
volumes 2 e 3. Para indicar as
que seja claramente identificada a ajudam a identificar as contradições citações serão utilizadas as
ideologia conservadora que permeia do atual movimento de reestruturação abreviações V, para indicar
a “sociedade do conhecimento”, “a do capitalismo global e a apontar o volume, CC para indicar
efetivação de um novo conformismo algumas brechas para a realização de o número do caderno, seg-
às novas dimensões da sociedade ações contra-hegemônicas. uido da indicação da página.
COUTINHO, Carlos Nelson;
instrumental capitalista”, a retórica da

B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006. 27


NOGUEIRA, Marco Aurélio; HENRIQUES, e os países da periferia” CHESNAIS, F. A In: CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDU-
Luiz Sérgio. Antonio Gramsci: Cadernos mundialização do capital. São Paulo: CAÇÃO, CULTURA E DESPORTO, 1. 2000.
do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Bra- Xamã,1996. p. 37. Brasília, DF. Desafios para o século XXI:
sileira, 2000. v. 2, 3. coletânea de textos. Brasília, DF: Câmara
16Chesnais cita W.W.Rostow como o teóri- dos Deputados, Centro de Documentação
5ROUANET, Sérgio Paulo. Fato, ideologia, co mais conhecido dessa abordagem, e Informação, Coordenação de Publicações,
utopia. Folha de São Paulo, São Paulo, 24, desenvolvida em seu livro “As etapas do 2001. p. 35-42.
mar., 2002. Cad. Mais. crescimento”, e chama a atenção para o
subtítulo “revelador”da obra “Manifesto 25HERZOG, Ana Luíza. A Universidade do
6Id. ibid., p. 14-15. não-comunista”. ROSTOW, Walt Whitman. séc.XXI: competitividade na sociedade do
Etapas do desenvolvimento econômico: conhecimento. Revista Exame, São Paulo,
7Id. ibid., p. 15. um manifesto não-comunista. 4. ed. Rio de n.7, 3, abr. 2002. p. 37.
Janeiro : Zahar 1971. 312 p.
8Id. ibid., p. 15. 26Id. ibid., p.37.
17Estados Unidos, União Européia e Japão.
9Id. ibid 27Economista do IPEA – Instituto de Pesquisa
18CHESNAIS, F. (1996) op. cit., p. 313. Econômica Aplicada: Diretoria de Planeja-
10PNUD. Informe sobre Desenvolvimento Hu- mento e Políticas Públicas. GUSSO, Divonzir
19HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o
mano. Apud. KLIKSBERG, B. Desigualdade A. Contextos e desafios: pistas para per-
breve século XX 1914-1991. São Paulo: Cia
na América Latina : o debate adiado. 3. ed. scrutar as possibilidades no futuro próximo.
das Letras, 1995.
São Paulo: Cortez, 2002. p. 76-78. [s.l. : s. n.] 2002. Palestra proferida na ABMES,
20Id. em abril de 2002.
11Id. ibid., p. 395.
ibid.,
28Instituições de Ensino Superior.
21Augusto Comte (por volta de 1830) Apud.
12 Banco Mundial (1998) Informe. Apud.
In: CASTEL, Robert. As metamorfoses da 29Por
KLIKSBERG, B. Desigualdade na América exemplo: General Eletric, Motorola, Mc
questão social: uma crônica do salário. 4.
Latina: o debate adiado. 3. ed. São Paulo: Donald’s, Fordstar, Microsoft, Universitas 21,
ed. Petrópolis, RJ :Vozes, 2003.
Cortez, 2002. p. 72-73 U21 & Thompson Learning, entre muitos
22PAULO NETTO, José Capitalismo monopo- outros (ROSENBURG, C. O meganegócio
13Organização Mundial da Saúde (1998) La da educação.Revista Exame, São Paulo,
lista e serviço social. 3. ed. ampl., São
salud para todos em el siglo XXI. Apud. v. 36, nº 7, 3, abr., 2002.; SAUVÉ, P. (2002).
Paulo: Cortez, 2001. p. 61.
KLIKSBERG, B. Desigualdade na América Trade, education and the GATS: what’s in,
Latina: o debate adiado. 3. ed. São Paulo: 23IAMAMOTO, what’s out, what’s all the fuss about. Higher
Marilda V. O serviço social
Cortez, 2002. Education Management and Policy, v. 14,
na contemporaneidade: trabalho e for-
nº 3, 2002. Disponível em: <http://www.
14Atualmente, mação profissional. 6. ed. São Paulo: Cortez,
a criação da temática ‘zonas de oecd.org/pedf/M00029000/M00029612.
2003. p. 27.
pobreza’ remete a uma situação em que pdf>. Acesso em: 20 jun.,2003; WORLD
regiões e segmentos sociais são excluídos 24SAVIANI, EDUCATION MARKET CONFERENCE : pro-
Dermeval. Educação no Brasil:
da expansão do capital. Neste caso, a gram presentation..2002. Lisboa, Portugal.
concepção e desafios para o século XXI.
temática do ‘desenvolvimento’ tenderia mais Disponível em: <www.wemex.com> Acesso
a evidenciar essa exclusão, o que poderia em: 2 jun.2002. Apud. SIQUEIRA, Angela C.
demandar algum entendimento do processo A regulamentação do enfoque comercial no
que a cria. Assim, este tema privilegiaria a setor educacional via OMC/GATS. Revista
análise do processo histórico, até porque Brasileira de Educação, n. 26, maio/ago.,
está em pauta uma mudança de rota – da 2004. p. 145.
inclusão desenvolvimentista para a exclusão
produzida pelo capital rentista. Ao passo 30SIQUEIRA, Angela C. (2004) op. cit.,
que a temática da ‘pobreza’ tende a desviar p.145-156
a atenção para os chocantes ‘dados’ da
miséria e da indigência, privilegiando a 31Pela
Organização Mundial do Comercio
análise do empírico imediato e a descrição (OMC).
mais espacial do que temporal. LIMOEIRO-
CARDOSO, M. Ideologia da globalização e 32Conforme colocado anteriormente por
(des) caminhos da ciência social. In: GEN- CHESNAIS, F. (1996) op. cit., p. 313.
TILI, P.(Org.).Globalização excludente:
desigualdade, exclusão e democracia na 33No sentido colocado por Toffler, como
nova ordem mundial. 3.ed. Petrópolis, RJ: um novo tipo de trabalhador que se ocupa
Vozes, 2001. p. 113. mais com a cabeça do que com os braços
e a força muscular.
15Chesnais (1996) coloca que a disseminação
indiscriminada e ideológica do termo 34FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a
“globalização” acaba por ocultar uma crise do capitalismo real. 4. ed. São Paulo:
das características essenciais da mundi- Cortez. 2000. p. 55.
alização, que é “um duplo movimento de
polarização”: a polarização interna a cada 35Id.A produtividade da escola improdu-
país, pelos efeitos do desemprego, e a tiva. 2.ed. São Paulo : Cortez; Autores Asso-
polarização internacional, “aprofundando ciados, 1986. p.128-129. (Coleção Educação
abruptamente a distância entre os países Contemporânea)
situados no âmago do oligopólio mundial

28 B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006.


36Id. Cadernos do Cárcere, 13. p. 26), e permite a 58FRIGOTTO (2000) op. cit.
ibid., p. 136.
visualização, no conjunto das relações sociais
37Id., de força, o movimento histórico que insere 59PAULO NETTO, José (2001) op. cit.
ibid., p. 135.
uma determinada formação histórica.
38Id., 60SEMERARO, Giovanni. Giovanni. (2001) op.
ibid., p. 27.
50Cabe ressaltar que a concepção de “intelectu- cit., p. 3.
39Oliveira (2003), em sua obra Crítica à razão al” em Gramsci é complexa e, não necessari-
amente, tem o sentido de uma determinada 61GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organiza-
dualista: o Ornitorrinco, identifica que a
“tendência à formalização das relações personalidade. Nesta perspectiva, cabem ção da cultura. Rio de Janeiro : Civilização
sociais estancou nos anos 1980, e expan- as afirmações de Gramsci de que “todos os Brasileira, 1989. p. 7.
diu-se (...) o trabalho informal”, o que leva homens são intelectuais, mas nem todos
à tendência de “não mais emprego”, mas os homens exercem a função intelectual”
“ocupação” ou “trabalho abstrato virtual”. COUTINHO, Carlos Nelson; NOGUEIRA,
OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão du- Marco Aurélio; HENRIQUES, Luiz Sérgio. RESUMEN
alista : o Ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, (2000) op. cit., v.2. Cadernos do Cárcere,
2003. p.142-143. 12.p. 24), que é a de influir na concepção de
uma determinada visão de mundo, e de que Vânia Cardoso da Motta.
40FRIGOTTO (2000) op. cit., p.33. todos os membros de um partido político são Politizar la “sociedad del
intelectuais, uma vez que exercem a função
diretiva e organizativa de uma vontade conocimiento” desde la
41LEHER, R. Da ideologia do desenvolvimento à política, que é educativa, que é intelectual. óptica del pensamiento
ideologia da globalização: a educação como É nesse sentido em que ele enfatiza o vínculo
estratégia do Banco Mundial para o “alívio da do intelectual com a massa. Para Gramsci, de Gramsci.
pobreza”. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado). esta relação é imprescindível enquanto es-
Universidade de São Paulo, 1998. tratégia de poder, uma vez que as grandes
massas necessitam do partido político e dos
Este artículo introduce el
42Definido por Amartya Sen (1998) como: intelectuais, dos organizadores da hegemo- debate sobre la anunciada
“Capacidades necessárias para alcançar nia, dos elaboradores e dos divulgadores de
“sociedad del conocimiento”
os estados nutricionais apropriados, bons ideologias, dos educadores e dos dirigentes,
padrões de saúde e conquistas educacionais”. para promoverem a “elevação cultural” dessa y reflexiona acerca de la
SEN, A. Mortality as an indicator of economic massa e as converterem em poder real. Elevar base de sus contradicciones
success an failure. The Economic Journal, culturalmente as massas tem, para Gramsci,
jan.,1998. In: KLIKSBERG, B. Falácias e o sentido de conquistar uma consciência teniendo por referencia
mitos do desenvolvimento social. 2. ed. superior, consciência crítica do mundo, da teórica y metodológica a An-
São Paulo : Cortez. 2003. p. 27. própria historicidade, de que faz parte de
uma força social (consciência política). tonio Gramsci, el pensador
43ENTREVISTA. O Globo, Rio de Janeiro, 21,
51SIMIONATTO, Ivete. O social e o político no
marxista italiano. Se parte
set., 2005.Cad. Boa Chance. Entrevistado:
Bourguignon. pensamento de Gramsci. Disponível em: de las contradicciones econó-
<http://www.acessa.com/gramsci/>. Acesso micas, políticas e ideológicas
44FRIGOTTO (2000) op. cit., p. 139. em 2004. Site : Gramsci e o Brasil. p. 2.
que fundamentan el mundo
45Id. ibid. 52As expressões Estado, sociedade civil e globalizado. Se entiende
intelectual estão entre aspas porque o au-
46Seminário tor discorre seu pensamento e sua análise
que, dada la condición de
Internacional “Ler Gramsci, en-
tender a realidade”, realizado em setembro sobre o Estado moderno introduzindo esses país dependiente, es funda-
de 2001, que resultou na obra : COUTINHO, elementos sob uma nova ótica.
mental pensar sobre las con-
Carlos Nelson; TEIXEIRA, Andréa de Paula
(Orgs.). Ler Gramsci, entender a reali- 53NEVES, Lúcia W.(Org) Educação e política tradicciones de este mundo
dade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, no limiar do século XXI. Campinas, São globalizado y sus reflejos en
2003. 293p. Paulo: Autores Associados, 2000. Educação
Contemporânea. la especificidad histórica de
47SEMERARO, Giovanni. Anotações para uma
54SEMERARO,
la sociedad brasileña, para
teoria do conhecimento em Gramsci. Revista Giovanni. (2001a) op. cit.
de Educação Brasileira, Caxambu, Anped, buscar elementos que lleven
55Id.. Tornar-se “dirigentes”: o projeto de
2001, n.16. p.3. a una efectiva acción para
Gramsci no mundo globalizado. (2001b).
48Id. ibid. In: COUTINHO, Carlos Nelson; TEIXEIRA, superarlas.cias acerca de
Andréa de Paula (Orgs.). Ler Gramsci, determinado tema.
49O conceito de “bloco histórico” em Gramsci entender a realidade. Rio de Janeiro:
expressa a organicidade que imprime as Civilização Brasileira, 2003. p. 283.
relações de produção, sociais e de poder em Palabras clave: Sociedad
56Coutinho faz referência à cultura nacional-
uma determinada formação social e histórica, del conocimiento; Capital
enquanto “unidade entre a natureza e o es- popular.
pírito (estrutura e superestrutura), unidade humano; Gramsci.
57COUTINHO, Carlos Nelson. (2000) op. cit.,
dos contrários e dos distintos” . COUTINHO,
Carlos Nelson; NOGUEIRA, Marco Aurélio; p. 33-36.
HENRIQUES, Luiz Sérgio. (2000) op. cit., v. 3.

B. TÉC. SENAC, RIO DE JANEIRO, V. 32, N. 1, jan./abr., 2006. 29

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