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¾ Da cultura e do mito.
A revisão histórica favorece que seja ampliada a compreensão dos significados que foram atribuídos
às experiências.
No século XV, a família existia como realidade vivida e não como sentimento ou valor. Não havia
espaço para a intimidade e para o desenvolvimento de uma vida privada. Era importante a realidade
moral e social e não a vida sentimental. Esse momento histórico propiciou o desenvolvimento do
chamado Mito da Propriedade (Nossa vida é a terra. A gente vive pela terra), devido a sua
confusão com a propriedade do patrimônio e a preocupação com a honra do nome.
No Brasil, além desses aspectos, constatava-se na época das Colônias a situação de que os
indivíduos se apropriavam e se deixam apropriar. A sociedade estava dividida entre senhores e
escravos e a luta pela propriedade era o que dava a família a garantia de sua existência. Como a
grande maioria das famílias era de aventureiros e exploradores e conquistadores, deu-se o
surgimento do chamado Mito da Conquista.
Nessa época, as famílias tratavam de suas crianças por meio de amas-de-leite, escravas totalmente
despreparadas e desmotivadas que tinham o papel de cuidar, tratar, distrair as crianças. Hoje, talvez,
não seja diferente, pois as entregamos às babas eletrônicas: TV, Internet....
Por questões médicas e sanitárias a taxa de mortalidade infantil era muito alta. As técnicas
contracepitivas utilizadas eram muito falhas e a taxa de nascimento, exageradamente alta e
descontrolada. As crianças não eram valorizadas.
Lentamente, no entanto, isso começou a mudar talvez por conta de profissionais sanitaristas e
autoridades pedagógicas devido a instituição das escolas. Isso promoveu a configuração do sentido
de união associado à própria idéia de família.
Trata-se do capítulo 5, Um Olhar Mítico Sobre Família E O Casamento, do livro Família e mitos - prevenção e terapia:
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resgatando histórias de Marilene Krom, editora Summus Editorial, São Paulo, 2000.
Outro aspecto importante foi a chamada revolução da afetividade que se estendia sobre jujeitos
materiais e sobrenaturais: Deus, santos, pais, filhos, cavalos, pomares, jardins.
Da industrialização, surge o burguês que passou a valorizar o ambiente familiar com seu espaço
mais íntimo.
Surge o romantismo e a declaração poética dando valor ao amor, que era visto como algo de frouxos
e ao sexo, que era mais visto mais como para procriação. E na medida que o tempo vai avançando
rumo ao século XX, vai havendo um reconhecimento maior do amor e com isso maior valorização da
família.
Um dos mitos que surge então é o Mito da Busca da Unidade Perdida que atribuiu ao amor e a
realização amorosa uma nova concepção ao casamento. Surge então a valorização de cada papel
dos cônjuges, tanto o feminino quanto do masculino apontando para uma necessidade de coesão e
de continuidade da família.
Outro mito conhecido nesse trabalho é o Mito da União que que favorecia o pertencimento e a
manutenção de padrões afetivos garantido a perpetuação da família. Este mito tomou, facilmente, o
lugar do Mito Espinha Dorsal e ainda funcionou como “auxiliar” de outras malhas míticas.
O Mito da Religião aparece mais ligado a uma determinada religião recebendo significados e
conotações especiais, como por exemplo, a reunião de toda a família no natal ou na páscoa, com a
presença obrigatória de todos os familiares.
Os mitos mais frequentes encontrados nas famílias, segundo os pesquisadores, são: o Mito da
Conquista, mais presente nos imigrantes que vinham ao Brasil para serem conquistadores de bens,
de coisas e de pessoas e o Mito do Sucesso que determinavam nas famílias a idéia de que todos
tem que ter sucesso em alguma coisa e não só isso, mas com destaque.
Também há o Mito da Autoridade que é aquele que distribui a família em uma hierarquia de poder
em que as pessoas exercem determinadas funções e o Mito do Poder mais encontrado nas famílias
nas quais ocorre o abuso da autoridade, devido, principalmente, o patriacardo e o autoritarismo.
Na opinião do autor:
“As pessoas quando se casam trazem de suas famílias de origem as suas mitologias que, ora
se assemelham, ora se diferenciam das da família do cônjuge. A maneira como o casal vai
construir o seu casamento ocorre dentro e de acordo com essas mitologias.”
"A maneira como eu arrumo o café da manhã é igualzinha à da minha mãe. Não posso
esquecer os guardanapos".
Ve-se na citação acima o quão é importante estudar e analisar determinados eixos para nortear a
organização dos relacionamentos. Essas influências são trazidas à nova família e no trabalho de
pesquisa, foi feito acompanhamento de quatro casais por, aproximadamente três anos, que permitiu
ao autor a construção do que denominou de “Leitura Instrumental Mítica”.
¾ A análise da construção das relações no casamento.
As análises que foram desenvolvidas com os quatro casais convidados e não-clínicos segui uma
metodologia aplicada que incluiu instrumentos tais como: a entrevista trigeracional, a elaboração do
genograma e a criação do ciclograma. O objetivo principal foi mostrar a possibilidade e a riqueza da
análise da construção das relações no casamento, com base nos mitos presentes.
¾ Os modelos de leitura do casamento:
• Murray Bowen,
É o modelo de casamento construido “por Bowen em Family therapy in clinicaipractice e outros conceitos
acrescentados por seus seguidores foram necessários, ao verificar a construção do casamento na óptica
transgeracional.”
Na família, o que vai garantir o ciclo de vida, o desenvolvimento e a diferenciação dos seus
membros é considerado, nessa teoria, o que Bowen chama de arnarca familiap, ou
seja/um fator determinante para a autonomia familiar, pois o curso da história futura do
indivíduo pode ser previsto segundo a diferenciação dos pais e do clima emocional
predominante na família de origem. Quanto mais diferenciados os pais, supõe-se, melhores
são as condições para os filhos.
A triangulação é muito usada nessas famílias onde um terceiro real ou imaginário desempenha um
papel de equilíbrio nas relações diminuindo as tensões existentes isso porque o casal não consegue se
relacionar a dois.
• Epigenético,
É o modelo que está relacionado à qualidade do apego às questões atinentes à comunicação, à união e
à mutualidade que parte da ótica intrapsíquica para a relacional, possibilitando se averiguar a qualidade
do vínculo que se estabelece no casal.
Esse modelo surgiu da preocupação dos pesquisadores com a qualidade dos relacionamentos. Seu
pressuposto básico é que todo dilema emerge por causa do esforço natural primário de se relacionar
com outros seres humanos e do esforço simultâneo para desenvolver uma sensação de identidade.
Trata-se do capítulo 6, Modelos de Casamento Importantes para os Mitos, do livro Família e mitos - prevenção e terapia:
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resgatando histórias de Marilene Krom, editora Summus Editorial, São Paulo, 2000.
Nesse modelo, o motor que impulsiona é o de ir ao encontro da mais completa unidade. “Ele diz que
existe polaridade na complementaridade dos relacionamentos, delineia um modelo de casamento e sugere
benefícios internos nesses esforços inerentes.” Nesse enfoque, o casamento é visto como uma escola para a
vida.
Nesse modelo, distingui-se 3 fases:
Fase 1: da fusão. Os dois estão tão envolvidos um com o outro que não veem mais nada.
Fase 2: da individualização. Assustados com a perda da individualidade, tentam restaurá-la e ai pode ocorrer
três coisas: a) separação; b) institucionalização das diferenças; 3) passar para a terceira fase.
Fase 3: da compreensão. As pessoas tendem a se tornar dois selfs suficientes, percebendo tanto as áresade
amor e satisfação quanto das incompatiblidades. Isso acaba gerando um novo senso de esperança,
generosidade, respeito e entendimento.
Essas três fases podem se mover no tempo em fases distintas ou nas três de forma simultânea.
De acordo com esse modelo, os relacionamentos podem mover-se no tempo, em fases
distintas ou nas três fases simultaneamente.