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1\ UNIDADE mento oferecia, é que setores regionais, nacionais e internacionais come-
çaram a dedicar especial atenção à extração do látex. Daí ser incentiva-
do o processo migratório de nordestinos para a região, objetivando a
concretização desses interesses.
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A EXTRAÇAO LUCRATIVA DO LATEX
EXIGE FORÇA DE TRABALHO:
a i migraçãonordestina
1. Noções Iniciais
verdade, não acontecia, pela própria carência de recursos, contribuindo Segundo ARTHUR CEZAR FERREIRA REIS data de 1852 a
para que os mesmos se revoltassem, chegando ao ponto de ameaçarem a ~rimeira colonização no Purus, feita por iViANOEL NICOLAU DE
dissolução de uma Assembléia Legislativa Provincial. IvlELO. Lembramos também JOÃO GABRI EL DE CARVALHO E
A maior parte foi direto para o trabalho da extração do látex, MELLO que, em 1857, estabeleceu-se perto da foz do Purus com qua-
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A faca de cortar seringa é um dos principais instrumentos de trabalho
do seringueiro.
ciam com a borracha acompanhados de um seringalista ou de seu emis- Até 1942, portanto, não houve participação direta do governo
sário (o Agenciador) com o objetivo de recrutar novos trabalhadores central, quer monárquico, quer republicano, nos assuntos pertinentes à
no Nordeste. imigração nordestina para a Amazônia. A iniciativa coube, principal-
Ilustra bem este quadro CRAVEIRO COSTA: "Todos os anos, mente: 1.0 - a alguns seringalistas abastados que enviavam emissários
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em busca de trabalhadores;2.0 - às casasaviadoras,interessadasque es-
tavam no aumento da produção da borracha; 3.0 - aos Governos Pro-
vinciais do Pará e do Amazonasque estimularam e facilitaram o corre-
dor imigrat6rio, pois muito haveriamde lucrar com a cobrança de taxas
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LEITURA COMPLEMENTAR
alfandegáriasde exportaç'ão;e 4.0 - às Companhiasde Navegaçãoe Ca-
sas Exportadoras Estrangeiras,elos importantes, como veremos na ca-
deia do Aviamento.
COMO SE DEU O POVOAMENTO
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o povoamento do Acre é um caso histórico inteiramente fortuito,
fora da diretriz do nosso progresso.
Tem um reverso tormentoso que ninguém ignora: as secas periódi-
1 cas dos nossos sertões do Norte, ocasionando o êxodo em massa das
multidões flageladas. Não o determinou uma crise de crescimento, ou
excesso de vida desbordante, capaz de reanimar outras paragens, dila-
tando-se em itinerários que são o diagrama visfvel da marcha triunfante
das raças; mas a escassez da vida e a derrota completa ante as calamida-
des naturais. As suas linhas baralham-se nos traçados revoltos de uma
fuga. Agravou-o sempre uma seleção natural invertida: todos os fracos,
todos os inúteis, todos os doentes e todos os sacrificados expedidos a
esmo, como o rebotalho das gentes, para o deserto. Quando as grandes
secas de 1879-1880, 1889-1890, 1900-1901 flamejavam sobre os ser-
tões adustos, e as cidades do litoral se enchiam em poucas semanas de
uma população adventfcia de famintos assombrosos, devorados das fe-
bres e das bexigas - a preocupação exclusiva dos poderes públicos con-
sistia no libertá-Ias quanto antes daquelas invasões de bárbaros moribun-
dos que infestavam o Brasil. Abarrotavam-se, às carreiras, os vapores,
com aqueles fardos agitantes consignados à morte. Mandavam-nos para
a Amazônia - vastfssima, despovoada, quase ignota - o que equivalia a
expatriá-Ios dentro da própria pátria. A multidão martirizada, perdidos
todos os direitos, rotos os laços de famllia, que se fracionava no tumul-
to dos embarques acelerados, partia para aquelas bandas levando uma
carta de prego para o desconhecido; e ia, com os seus famintos, os seus
febrentos e os seus variolosos, em condições de malignar e corromper as
I~alidades mais salubres do mundo. {...tasfeita a tarefa expurgatória,
nao se curava mais dela. Cessava a intervenção governamental. Nunca,
até aos .nossos dias, a acompanhou um só agente oficial, ou um médico.
Os bamdos levavam a missão dolorosrssima e única de desaparecerem...
. ... . . " .. .. . .. . . . . .. .. .. . . . . ., .. .. ... .., .. .. ., .,. ..,
(Cunha, Euclides da. À Margem da História. São Paulo, Lello Brasileira
S.A., 1967. pp. 48-49.) 53
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LEITURA COMPLEMENTAR
LEITURA COMPLEMENTAR
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III Unidade'
ção do poder do patrão seringalista. Esse sistema, conhecido como avia-
mento, compunha-se dos seguintes elementos interdependentes: capital
industrial-financeiro, casas aviadoras ou comerciais, seringalistas e se-
ringueiros.
FINANCIAMENTO DA PRODUÇÃO: Vamos analisar, primeiramente, o mais divulgado, porém não tão
a quem interessava? cial. conhecido elemento do sistema: a Casa Aviadora ou Casa Comer-
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produtos gum(feros, que, por volta de 1906, encontravam-se instaladas, '"
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SÓ na capital do Estado do Amazonas, as seguintes Casas Aviadoras: I-
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B. Anttunes & Cia., Montenegro & Cia., J.G. de Araújo, MeIo & Cia., - W~ ::>
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Freitas Ferreira & Cia., B. Levi & Cia., J.C. & Hermanos, Tavares Gomes z '"
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& Cia., Gomes BcPereira,A.C. de Araújo, M. Vicente Carioca, Antônio N .. '"
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Cruz &Cia., S. Garcia &Cia., Armindo R. da Fonseca, Carvalho &Barros, -' "
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Caetano Monteiro, Fernandes & Cia., Gaspar Almeida & Cia., Luís de < I- '"
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Mendonça & Cia., João Martins & Cia., Neves Castro & Cia., João Alves < " '"
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de Freitas, Ribas & Cia., J.C. dei Arguila. Outras surgiram nos ano~ sub-
seqüentes, cujos nomes seria por demais extenso citar. Entretanto, não <
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se pode esquecer da Braga Sobrinho & Cia., que por muito tempo mo- I/)
nopolizou os seringais do Rio Acre e, ainda, Elias José Nunes da Silva -
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(Visconde de Santo Elias), por ter sido um dos pioneiros do ramo. Foi <
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ele o financiador dos primeiros seringalistas do Acre. o:
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O AVIAMENTO consistia no fornecimento de mercadorias (bens 111 ,;
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materiais de uso, consumo e instrumento de trabalho) - d iversificadas "
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em quantidade e qualidade - das CasasAviadoras para os seringais que, -
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por sua vez, tinham 100 por cento do custo da produção garantidos e, o ~
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ao mesmo tempo, comprometidos, porque o pagamento da mercadoria .< o
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importada era feito mediante entrega de toda a produção alcançada no z w
decorrer do ano. O pedido do seringal era feito de modo que suprisse as <
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necessidades de abastecimento no período do "corte" da seringueira )(
(maio a outubro), como também suficiente tinha que ser a produção de 111
Um balanço desse perlodo permite captar quatro características Até meados do século XVIII não se usava moeda metálica no Pará;
que ainda hoje marcam a região. serviam de dinheiro os novelos de algodão e os produtos da terra. So-
A primeira caracterlstica é o chamado "sistema de aviamen to ", mente em 1749 entrou em circulação a moeda sem caráter de mercado-
que se desenvolveu na Amazônia. A atividade econômica extrativo-pre- ria, na importância total de apenas 55 contos de réis. O povo a recusava,
datória no interior das matas; a distância entre as seringueiras, o que
exigia longas caminhadas; as condições impostas pelo proprietário, não sendo o governo levado a cominar açoite e degredo para quem a rejeitas-
permitindo roçado (geralmente, mandioca); a necessidade de mão-de- se. Um século mais tarde o uso do dinheiro se havia difundido deveras,
-obra para aumentar a produção; o pagamento obrigatório dos trabalha- mas a exist&ncia do trabalho escravo, sem salário, e o isolamento da po-
dores aos patrões do custo da viagem do nordeste à Amazônia, dos ins- pulação livre no interior determinavam ainda uma fraca participação da
moeda nas trocas.
trumentos de trabalho, das provisões, enfim, o regime de trabalho e o
padrão de vida dos seringueiros baseavam-se no endividamento prévio e Desde os tempos da Colônia, porém, um regime de crédito infor-
posterior, isto é, no endividamento reiterado, o que colocou o trabalha- mal vinha se esboçando. Naquela époc,(J,o negociante sediado em Belém
dor nas mãos do proprietário comerciante. Por sua vez, este dependia supria de mantimentos a empresa coletora das "drogas do sertão", para
dos fornecimentos e da compra das bolas de borracha feitas por um co- receber em pagamento, ao fim da expedição, o produto físico recolhi-
merciante maior. Formava-se, assim, uma cadeia que atingia as grandes do. Essa modalidade de financiamento ficou conhecida com o nome de
casas exportadoras de Manaus e Belém. Este esquema de funcionamento aviamento, uma espécie de crédito sem dinheiro. Ela será o embrião de
da economia é que se denomina aviamento. Em outras palavras, o forne- um grande mecanismo que pôs a funcionar toda a economia amazônica
cimento de mercadorias (instrumentos de trabalho e bens de consumo)
a crédito e o bombeamento da borracha para Manaus mas, principal- da fase da borracha e que persiste ainda em nossos dias, se bem que mo-
dificado e com importância atenuada.
mente, para Belém, e dal para o mercado internacional, geraram uma re-
de complexa e extensa de canais através dos quais respirava a economia.
Tão logo a borracha se mostrou um empreendimento rendoso, capitais (Roberto Santos. História Econômica da Amazônia: 1800 - 1920. São
estrangeiros surgiram na boca do cofre, i.e., instalaram-se nas duas Capi- Paulo, T.A. Queiroz, 1980. p. 156.)
tais. A Amazônia participou da intermediação comercial e financeira ex-
terna, o que reiterou, durante o ciclo, a vocação extrativa predatória de
uma camada de seringalistas comerciantes, cujos ganhos se esvaneceram
num consumo conspícuo e improdutivo. A dinâmica dessa economia,
em terras amazônicas, se operava pelo aviamento, mecanismo cuja im-
portância ultrapassou o ciclo e; ainda hoje, pesa bastante no conjunto
da economia.
(Fernando H. Cardo5o e G. Muller. Amazônia: Expansão do Capitalis-
mo. São Paulo, Brasiliense, 1977. pp. 31-32.)
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LEITURA COMPLEMENTAR EXERcrCIO
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