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Cia de Foto

Itaú Cultural
Pags. 6 e 7
PRÊMIO SHELL
investe em
pesquisa e Rio e São Paulo consagram
Sonia Sobral,
gerente de Núcleo
do Instituto mapeamento Pag. 16
os seus vencedores
Marco Issa / Argosfoto

Sérgio Brito:
premiado no Rio
Uma publicação da Aver Editora - Abril de 2009 - Ano I Nº 1 R$ 5,00

Festivais: celeiro de oportunidades


Mesmo com dificuldades, companhias de teatro aproveitam visibilidade dos festivais
para buscar o reconhecimento no concorrido palco teatral brasileiro Pags. 10 e 11
Diego Pisante

Perucaria:
uma arte
fundamental
Pag. 4

Sated-SP
busca recursos
para abrir um
retiro de artistas
Pag. 18

Grupo Dimenti
transita entre
dança e teatro
Pag. 9
O grupo Luna Lunera até hoje participa dos principais festivais de teatro no Brasil e até no exterior.

Bastidores: as
notícias por
Arquivo Pessoal

detrás do palco
Pags. 4 e 5
ENTREVISTA VIDA & OBRA
Zezé Motta, uma Ida Gomes, a EAD terá livro
ília
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incansável: no teatro, estrela que não para festejar


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Arq

na política e na vida deixa de brilhar seus 61 anos


Pags. 12 a 14 Pag. 21 Pag. 19
2 Abril de 2009 Jornal de Teatro
Jornal de Teatro Abril de 2009
3
Editorial
Uma estreia que tem a
prossionalização da carreira
como protagonista
O teatro brasileiro está tendo um reencontro com a sua história. No século
passado, várias gerações viveram desta atividade. Criaram os seus lhos, constru-
íram seu patrimônio. Nos anos 30, 40 e 50 o setor se prossionalizou a extremos.
As grandes companhias chegavam a realizar dez sessões por semana. A bilheteria
Reportagem era a fonte maior de receita.
O negócio teatro repetia nos trópicos as matrizes seculares que zeram
Apesar das dificuldades, companhias fortunas na Europa e na América do Norte. A prossionalização teve o seu
de teatro apostam nesse tipo de evento divisor de águas com a chegada do mecenato das verbas das leis de incentivo
nos anos 90 e agora no novo século. Não se pode deixar de registrar o impac-
em busca de mais visibilidade to da dramaturgia eletrônica, especialmente as telenovelas, que criaram astros
capazes de encher as salas.
Pág.: 10 e 11 Hoje, em um período de espetáculos que se realizam de sexta a domingo,
em que teatros fecham e se transformam em igrejas, em que espetáculos são
montados só para cumprir a temporada mínima para receber as verbas da lei de
Índice incentivo scal, sem preocupação com a bilheteria, e até em que o público ca
assustado em sair tarde das sessões por causa da violência, encontramos alguns
sinais que são animadores.
O primeiro deles é uma nova geração de talentos. São atores, diretores,
PRÊMIO............................................................ 6 e 7 autores, técnicos e produtores empenhados em uma prossionalização ímpar.
A renovação de talentos tem sido acompanhada de uma elevada capacidade de
Shell abraçar a carreira como prossão de vida.
Troféu mais concorrido do teatro brasileiro consagra Um exemplo é o que ocorre no teatro musical. O Brasil é hoje referência inter-
os melhores de 2008 no Rio e em São Paulo nacional. Até os espetáculos que vêm de fora do País e são montados aqui recebem
elogios dos produtores pelo elevado grau de prossionalismo dos brasileiros.
O Jornal de Teatro surge para ajudar neste processo de capacitação pro-
ssional. É um jornal para quem vive do teatro e para o teatro. Abordaremos
DANÇA...................................................................... 9 aspectos da prossão raramente enfocados em outras mídias.
Não se trata de mais uma publicação de roteiro e para o público nal.
Grupo Dimenti Nem uma publicação para discussão acadêmica do setor. Trata-se de uma
Companhia baiana transita livremente entre teatro e publicação especializada para prossionais, a exemplo de outras do portfólio
dança, em produções como “Chuá” da Aver Editora.
Trata-se de ocupar uma lacuna que existe a partir da prossionalização. As
pautas e editorias visarão sempre colocar em foco o teatro como prossão,
carreira, negócio e arte que precisa ser respeitada por suas raízes milenares.
ENTREVISTA..............................................12 a 14 Estaremos também democratizando a informação, hoje privilégio de quem
vive no eixo Rio-São Paulo. Estaremos utilizando a estrutura jornalística da
Zezé Motta Aver Editora, com suas redações regionais em Brasília, Porto Alegre, Florianó-
polis e em breve Salvador, Curitiba e Belo Horizonte, além é claro do Rio de
Em conversa com o Jornal de Teatro, a atriz conta sua Janeiro e de São Paulo, que funcionam como matrizes.
trajetória de vida e toda a sua luta em prol da arte no Brasil O nosso conteúdo estará disponível em site aberto, o www.jornaldeteatro.com.br,
permitindo o acesso daqueles que, estando fora dos grandes centros, queiram
fazer da atividade a sua prossão.
Nascemos também com a missão de promover a integração regional com
TÉCNICA.................................................................18 os nossos países vizinhos. Realidades muito próximas a nós. Ao mesmo tempo
tão perto e tão longe! O primeiro passo foi dado com a troca de conteúdo
Instituto Brasileiro de Tecnologia Teatral com a argentina Multis x El Foro – Revista de Teatro, editada em Buenos Aires,
Criado no final de 2008, o IBTT investe na pesquisa com quem estabelecemos um convênio de troca de conteúdo que já poderá ser
para formar novos profissionais visto a partir da próxima edição.
O Jornal de Teatro nasce com uma missão. Nasce com propósitos nobres
e para ser um espaço da classe e para a classe.
A partir de agora, este jornal é seu. Pertence àqueles que querem a pros-
HISTÓRIA............................................................... 22 sionalização de um setor, que no século passado foi a razão de viver de várias
gerações. O nosso setor, que sempre viveu de ciclos, tem agora uma retomada
Liberdade, liberdade pela prossionalização e a nossa publicação fará a sua parte.
O espetáculo teatral escrito por Millôr Fernandes e que
abalou a estrutura do regime militar na década de 60
Cláudio Magnavita
Presidente da Aver Editora

Email Redação: Redação Rio de Janeiro: Rua General


redacao@jornaldeteatro.com.br Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ).
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de Freitas e Keila Casarin.
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4 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores
Comédia

Alexandre Caetano / Divulgação


“Os difamantes”
ganha sala maior
A comédia “Os Difamantes”,
estrelada por Maria Clara Guei-
ros e Emilio Orciollo Netto e
dirigida por Ernesto Piccolo, es-
treou no início de novembro de
2008 no Teatro do Leblon – Sala
Tônia Carrero, para uma tempo-
rada inicial de dois meses. Com
o sucesso de crítica e público, a
peça prorrogou sua temporada e
migra para uma sala maior, a sala
Fernanda Montenegro, no mes-
mo teatro. O texto é dos jorna-
listas Martha Mendonça e Nelito
Fernandes e o texto brinca com
o atual e insistente fenômeno do
culto às celebridades, e o desejo,
cada vez mais comum, de se tor-
Projeto Vitrine Cultural apresenta 12 peças escolhidas entre as 400 propostas recebidas. À esquerda, Bartleby e à direita Eldorado: preços populares nar uma elas.

Vitrine Cultural abre 2009 com quatro peças no Teatro Imprensa

Divulgação
Depois de selecionados os para a Sala Imprensa. O projeto
12 espetáculos entre as mais de tem como propostas incentivar PROJETOS SELECIONADOS
400 propostas recebidas pelos grupos com pesquisas teatrais
curadores Valmir Santos e Kil inovadoras, formar plateias por Espaço Vitrine Ensaio sobre Carolina – Gal Qua-
Abreu, o projeto de formação meio de ingressos oferecidos 1º trimestre resma
de público que envolve, ain- a preços populares (R$ 10,00 e Comunicação a uma academia – Henfil já! – Nena Inoue
da, uma parcela signicativa da R$ 5,00) e realizar ação social ba- Roberto Alvim
produção mais experimental do seada na troca de ingressos por Cachorro morto – Leonardo Faria Sala Imprensa
teatro brasileiro, entra em nova doações - sempre no primeiro Moreira 1º trimestre
fase. O Projeto Vitrine Cultural mês das temporadas. Trata-se de Bartleby – Cácia Goulart Eldorado – Eduardo Okamoto Peça de Hilda Hilst em São Paulo
2009 do Centro Cultural Grupo um projeto de incentivo cultural
Sílvio Santos apresenta os es-
petáculos que ocuparão a Sala
que une ação social e oferece aos
grupos e às produções estrutura
2º trimestre
Quase nada – Alain Brum
2º trimestre
Amanhã é natal – Cinthia Maria Mulher animal
Vitrine e a Sala Imprensa, de de espaço e subsídio nanceiro. Frozen – Rachel Ripani Zaccariotto Ferreira Espelhos Partidos, espe-
terça a domingo: Comunicação Os 12 espetáculos selecio- Music-Hall – Gabriela Flores táculo livremente inspirado
a uma Academia, Eldorado, Ca- nados receberão apoio para 3º trimestre na narrativa poética “O Uni-
chorro Morto e Bartleby. apresentar suas produções, 3º trimestre O livro dos monstros guardados – córnio” de Hilda Hilst, apre-
A curadoria do projeto se- que carão três meses em Festa de separação – Janaina Leite Zé Henrique de Paula senta a transmutação de uma
lecionou oito peças inéditas e cartaz, cada uma, a partir de mulher em um animal. Essa
quatro reestreias para a tempo- 4 de março. O Vitrine Cultu- quintas e sextas e ainda mais às quartas e quintas-feiras. O mulher vai se cansando de
rada. Ao longo de 2009, serão ral funcionará com peças no uma aos sábados e domingos; Projeto Vitrine Cultural con- sua impossibilidade de com-
subsidiadas nove produções tea- Espaço Vitrine (48 lugares), e também uma produção na templa quatro espetáculos em preensão nesse mundo como
trais para o Espaço Vitrine e três às terças e quartas, outras às Sala Imprensa (452 lugares), cartaz simultaneamente. ser humano e aos poucos vai
se transformando em um uni-

“Meu Caro Amigo” em temporada carioca Curso de iluminação córnio para que possa alcançar
a liberdade dos seus desejos. A
cênica em Pernambuco dramaturgia é de Flávia Couto
A atriz Kelzy Ecard, recen- como retrato da história recente e a direção de Edú Reis. O es-
Divulgação

te vencedora do Prêmio APTR do país. “Meu Caro Amigo” não Turma completa no Curso petáculo permanece em cartaz
(Associação dos Produtores de é um espetáculo biográco sobre de Formação de Técnicos em no Centro Cultural Rio Verde
Teatro do Rio de Janeiro) de Me- o compositor, mas uma cção Iluminação Cênica, realizado pela em São Paulo.
lhor Atriz Coadjuvante por seu que busca, através da história da 9 Produções Artísticas. O curso,
trabalho em “Rasga Coração”, fã Norma, estabelecer um diálo-
está em cartaz com o espetáculo go entre memória individual e
com incentivo do Fundo Pernam-
bucano de Incentivo à Cultura - Em breve: obras
solo musical “Meu Caro Ami- memória nacional. Entendendo Funcultura, é gratuito e conta com O projeto desenvolvido
go”, inspirado na obra de Chico a música como poderoso veícu- 25 vagas, sendo 20 para alunos pela arquiteta Jacqueline Moura
Buarque de Hollanda. O texto lo de compartilhamento de me- regulares/integrais e 5 para ouvin- prevê a criação de um cenário
é de Felipe Barenco; a direção mória, o objetivo é despertar no tes. As inscrições para a turma de propício para o desenvolvimen-
de Joana Lebreiro (diretora dos espectador a lembrança de sua março já estão encerradas, mas ou- to e a fomentação da cultura no
bem sucedidos musicais sobre própria história ao mergulhar na tra turma deve iniciar na segunda Estado. A proposta é de que
Antonio Maria, Mario Lago e saga desta mulher embalada pe- metade do ano. Acompanhe pelo sejam reunidos no Centro de
Ary Barroso); e a direção mu- las canções de Chico. site www.9producoes.com.br. Belas Artes diversas atividades
sical de Marcelo Alonso Neves. “O tema da memória me O objetivo do curso é inserir artísticas, como um museu,
A música ao vivo é executada acompanha desde o meu espe- prossionais no mercado da cena uma biblioteca, salas para balé,
pelo pianista João Bittencourt. táculo de formatura na UFRJ, artística de Pernambuco. As 215 teatro, música, além de uma pi-
A peça é apresentada no Centro principalmente este diálogo Chico Buarque inspira musical nacoteca e da reforma do Tea-
horas de aulas aliam teoria e prá-
Cultural dos Correios, no cen- entre a memória coletiva e in- que é uma pessoa comum, ‘gen- tica. Para Dado Sodi, coordenador tro de Bolso Lima Filho. A obra
tro do Rio. dividual, a relação entre histó- te como a gente’. A gente quer do projeto, “é nesse campo onde deve ser entregue para a popu-
A ideia deste musical surgiu rias de vida pessoais dentro da que o público se identique com mais falta um aprofundamento na lação alagoana no ano de 2010.
da paixão dos criadores do espe- perspectiva histórica do Rio de a Norma. A história da Norma área técnica local. Por isso, elabora- O projeto ainda contempla uma
táculo pela obra de Chico e sua Janeiro e do Brasil. Apesar de a é toda permeada com as nossas mos um curso que tem uma forte reforma no Teatro de Bolso
onipresença nas vidas dos bra- peça ser inspirada no Chico Bu- próprias memórias e histórias carga teórica e que propõe a dis- Lima Filho, que passa a ter uma
sileiros, ora como trilha sonora arque, ela reconstrói a memória de pessoas da família e amigos”, cussão sobre o tema e a atual situa- capacidade para 161 pessoas,
de nossas histórias pessoais, ora de um personagem de cção diz Joana Lebreiro. ção da classe em Pernambuco”. sendo nove cadeirantes.
Jornal de Teatro Abril de 2009
5
Bastidores
Tuca Andrada protagoniza “O Processo” em São Paulo “Doido” estreia em Curitiba
Estreou no dia 21 de março, O espetáculo “Doido”, com

Fotos: Divulgação
no Teatro do Sesc Santana, o Elias Andreato, estrou dia 23 de
espetáculo “O Processo”, base- março durante o Festival de Curi-
ado na tradução do original de tiba. Segundo o próprio ator de-
Modesto Carone (Prêmio Jabu- ne, “o espetáculo fala de amor,
ti) para o texto de Franz Kafka, loucura e arte, mostrando ao es-
com direção e adaptação de pectador o que essa viagem apai-
José Henrique e cenário de Hé- xonante pode despertar no artista
lio Eichbauer. Em cena, Tuca e no cidadão comum”. Na peça,
Andrada interpreta o protago- um homem narra e vive persona-
nista Josef K. e contracena com gens da dramaturgia universal.
mais oito atores - Sílvia Monte, A montagem não utiliza
Roberto Lobo, Mariana Olivei- um gestual teatral formal para
ra, Alexandre Mofati, Antonio que, através apenas da palavra,
Alves, Paula Valente, Rogério o público seja encantado e ar-
Freitas, Thaís Tedesco. rebatado pelo pensamento de
O Processo é a história de grandes lósofos, pensadores,
um cidadão comum, que ao poetas e dramaturgos. Doido: amor, loucura, arte mundial
acordar em seu trigésimo ani-
versário está detido sem moti-
vo aparente. Durante um ano, “Tampinha Tira os Óculos” volta a SP
Josef K. procura obsessiva-
mente compreender os moti- Depois de apresentações
vos de sua detenção, mas suas no interior do Estado de São
buscas não encontram respos- Paulo pelo “Circuito SESC de
tas diante de um “tribunal” to- Artes 2008”; na “Virada Cul-
talmente inacessível, irracional tural” da Prefeitura da Cida-
e absoluto. de de São Paulo; e no evento
Tuca Andrada conta que “Planeta Sustentável”, realiza-
construir o personagem Josef do no Parque Ibirapuera, re-
K. foi um desao e que, para o estreia no Teatro Ruth Esco-
ator, ainda se trata de um per- bar, São Paulo, a peça infantil
sonagem em construção. “Jo- “Tampinha Tira os Óculos” da
sef K. é um quebra-cabeças, Cia. Teatral Bangues e Pingue- Realidade contada com bom humor
Para o ator Tuca Andrada, construir o personagem Josef K. foi um desao
um caminho com muitas ver- Pongues, fundada pelos atores uma menina que se acha feia
tentes, muito fácil de um ator racional que se perde dentro ver. Não aceita e não entende Carlos Baldim, César Figueire- porque usa óculos. Com lin-
se perder. Ele pode ser lido de dos labirintos daquele tribunal as regras daquele tribunal pois do e Camilo Brunelli. guagem circense, músicas e
inúmeras maneiras dependen- e vê sua racionalidade ser joga- sempre cumpriu todas as re- O texto escrito por Car- humor, Chicabom e Tange-
do do que a direção propõe, da no lixo. Desde o início um gras a que foi submetido, mas los Baldim e Camilo Brunelli rina, interpretados por César
e o José Henrique me deixou homem condenado, um ani- agora está a dois passos do ca- traz ao palco dois palha- Figueiredo e Fábio Oliveira,
livre para escolher o meu ca- mal pego numa arapuca e que dafalso e só lhe resta cumprir ços responsáveis por contar revezam-se nos diversos per-
minho. Josef K. é um homem luta inutilmente para sobrevi- seu destino”, diz ele. a história de “Tampinha”, sonagens da história.

Nova montagem de Maria Stuart chega ao Rio OPINIÃO


O Rio de Janeiro recebe a
mais nova montagem do clás-
sico de Schiller: “Maria Stuart”,
com Julia Lemmertz no papel- O TEATRO BRASILEIRO EXPLORA BEM
título e Clarice Niskier como a OS RECURSOS DA INTERNET?
Rainha Elizabeth, sob a direção
de Antonio Gilberto, idealiza- A internet vem se revelando como um instrumento muito forte para
dor do projeto ao lado das duas o teatro brasileiro, especialmente como veículo de divulgação de espe-
atrizes. A tradução utilizada é a táculos, pois além de um grande alcance de público, é, entre as mídias,
de Manuel Bandeira, e comple- o meio mais barato de propagação das produções. No entanto, para
tam o elenco Mário Borges, An- além da propaganda, a internet oferece recursos que, acredito, o teatro
dré Correa, Henri Pagnoncelli, brasileiro tem sabido aproveitar para outros fins: especialmente grupos
Clemente Viscaino, Amélia Bit- e companhias se utilizam do meio virtual para “debater” sobre suas
tencourt, Pedro Osório, Renato propostas artísticas e políticas, fortalecendo, a partir de seu público,
Linhares, Maurício Souza Lima, discussões importantes para o avanço de suas obras.
Silvio Kaviski, Thiago Hausen, Existe aí uma democratização no sentido da possibilidade de ex-
Maurício Silveira, Guilherme posição de ideias e pensamentos, que permite a “qualquer pessoa”
Bernardy e Ednei Giovenazzi (qualquer pessoa que tenha acesso ao meio e à obra) comentar sobre
o trabalho de determinados grupos. E isso é bom!
em participação especial. O es-
No caso do Grupo Clariô de Teatro, que desenvolve um trabalho
petáculo acontece no Centro específico na periferia de São Paulo, a internet se faz necessária e
Cultural Banco do Brasil, no quase que imprescindível. Ela está à serviço, além da promoção, da
centro do Rio de Janeiro. criação de uma grande rede de coletivos artísticos que atuam também
A peça fala do histórico nos arrabaldes. Blogs, comunidades, sites, e-mails etc, se interagem
conito entre as rainhas, pri- num grande fórum que possibilita aos coletivos uma troca efetiva para
mas e rivais Elizabeth, da In- o fortalecimento do movimento artístico voltado às margens das gran-
glaterra, e Mary Stuart, da Es- História de Maria Stuart traz temas contemporâneos aos palcos cariocas des metrópoles.
cócia. A motivação do diretor Esse caminho ainda é muito tímido, mas aponta lugares interes-
Antonio Gilberto para trazer ser um clássico será sempre gens que giram em torno das santes de preservação, intercâmbio e discussão permanente sobre os
ao público brasileiro deste iní- oportuna e interessante uma mesmas. A montagem não rumos dos grupos e do teatro brasileiro.
cio de século XXI a tragédia de nova montagem de ‘Maria Stu- pretende julgar essa “luta” en-
Schiller escrita em 1800 à sua art’”, arma o diretor. tre essas duas mulheres, mas Naruna Costa
atualidade: “Por falar de senti- A encenação de Antonio sim apresentar os conitos Atriz do Grupo Clariô de Teatro
mentos e conitos tão comuns Gilberto concentra seu foco que zeram parte da relação e editora do blog: www.espacoclario.blogspot.com
a nós seres humanos, essa obra na relação humana dessas das duas e que culminaram
de Schiller é um clássico. Por duas rainhas e dos persona- com a morte de Mary Stuart.
6 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Prêmio

Fotos: Marcos Issa / Agorsfoto


LISTA DE
VENCEDORES DO
21º PRÊMIO SHELL
DE TEATRO DO
RIO DE JANEIRO

Iluminação:
Beto Bruel, por “Não Sobre
o Amor”

Cenário:
Daniela Thomas, por “Não
Sobre o Amor”

Figurino:
Inês Salgado, por “O Jardim
das Cerejeiras”

Música:
Delia Fisher e Jules Vandys-
Patrícia Selonk e Sérgio BriĴo ganham o prêmio por atuações Felipe Wagner e Débora Olivieri recebem homenagem à Ida Gomes
tadt, pelos arranjos (vocal e
instrumental) de “Beatles
num Céu de Diamantes”
Fábio Nin, por “É Samba na
Veia, é Candeia”

Categoria especial:
Charles Möeller e Claudio
Botelho, pela expressiva
contribuição ao gênero mu-
sical no cenário carioca

Autor:
Maurício Arruda Mendonça
Ary Coslov: prêmio por direção Jandira, Sérgio BriĴo e Eva Todor Daniela Thomas é premiada Inês Salgado leva por gurino e Paulo de Moraes, por “In-
veja dos Anjos”

Prêmio Shell: dia de homenagens


Diretor:
Ary Coslov, por “Traição”

Ator:

e reconhecimento ao teatro
Sérgio Britto, por “A última
Gravação de Krapp e Ato
Sem Palavras I”

Atriz:
Patrícia Selonk, por “Inveja
Por Adoniran Peres rães Jr., com o qual Ida ganhou ca Moraes, cou com Patrícia instrumentista e compositor de dos Anjos”
seu primeiro prêmio em 1937 e Selonk, pela interpretação em músicas para teatro. Os dois úl-
A celebração dos melhores um contrato com a Rádio Na- “Inveja dos Anjos”. O mesmo timos despedem-se do júri este Homenagem:
da temporada dos espetáculos cional: “Uma ilusão gemia em espetáculo também ganhou o ano, sendo substituídos pelo Ida Gomes, pela contribui-
teatrais de 2008 foi realizada no cada canto/Chorava em cada troféu no quesito autor, pelo iluminador Jorginho de Car- ção ao teatro brasileiro
último dia 10 de março com a canto uma saudade”. texto de Maurício Arruda e valho e por João Madeira, que
entrega do 21º Prêmio Shell de Paulo de Moraes. Ary Coslov foi participante ativo na histó-
Teatro, no Oi Casa Grande, no PREMIADOS foi escolhido o melhor diretor ria do Prêmio Shell de Teatro e
Rio de Janeiro (RJ). O evento Concorrendo como melhor por “Traição”. atualmente está na direção do táculos no Rio de Janeiro e em
contou com momentos de ho- ator, ao lado de nomes como Nas categorias técnicas, des- grupo AfroReggae. São Paulo entre 1º de janeiro e
menagem, consagração e con- Marcelo Faria e Fernando Eiras, taque para a peça “Não Sobre o As comissões julgadoras 31 de dezembro. As peças que
fraternização. Com a casa lo- Sérgio Britto foi ovacionado de Amor”, premiada por melhor - uma para o Rio e outra para estreiam entre 1º de janeiro e
tada, foi apresentado pela atriz pé pela plateia ao receber o prê- iluminação, de Beto Bruel, e ce- São Paulo – geralmente são 30 de junho concorrem às in-
Beth Goulart, premiada em mio pelo trabalho na peça “A úl- nário, de Daniela Thomas. No compostas de cinco pessoas em dicações do primeiro semestre
2001 pela melhor interpretação. tima Gravação de Krapp e Ato quesito música, excepcional- cada cidade, convidadas pela e as peças que estreiam entre
Um dos momentos mais Sem Palavras I”. Aos 85 anos, mente, os jurados optaram por Shell entre artistas, personalida- 1º de julho e 31 de dezembro
marcantes cou por conta da com 63 deles voltados para o dividir o prêmio entre Delia des ligadas ao teatro e ao mundo concorrem às indicações do se-
homenagem especial a Ida Go- trabalho com teatro, ele dedicou Fisher e Jules Vandystadt, pelos cultural brasileiro, críticos etc. gundo semestre.
mes. A atriz que morreu no a premiação à Isabel Cavalcanti, arranjos, vocal e instrumental, Os vencedores recebem
dia 22 de fevereiro de 2009, diretora de sua peça. de “Beatles num Céu de Dia- O PRÊMIO premiação individual de R$
aos 85 anos, recebeu um lon- Britto, quem em 2003 já foi mantes” e Fábio Nin, por “É Criado em 1988, o Prêmio 8 mil e um troféu do escultor
go aplauso da plateia por sua também homenageado na 16ª Samba na Veia, é Candeia”. Shell de Teatro é ponto de refe- Domenico Calabroni. A festa
grande contribuição ao teatro edição, avalia que os prêmios de rência nos palcos. A premiação de entrega dos prêmios acon-
brasileiro. Seu irmão, o ator Fe- teatro ao longo do tempo estão JÚRI é oferecida aos maiores desta- tece alternadamente em cada
lipe Wagner lembrou a alegria diminuindo. “A Shell foi aquela Nesta edição, zeram parte ques da temporada teatral, no uma das cidades.
da atriz ao saber que receberia que manteve, no decorrer dos do júri do Rio de Janeiro Sér- Rio de Janeiro e em São Paulo, O número mínimo de apre-
o Prêmio Shell. “Estou muito anos, ligação contínua com o gio Fonta, dramaturgo, diretor separadamente, em nove cate- sentações, não necessariamente
emocionado de estarmos divi- teatro brasileiro. Particularmen- e ator; Tania Brandão, pesqui- gorias: autor, diretor, ator, atriz, consecutivas, para que o espetá-
dindo o orgulho e a saudade te, quei muito feliz com a ho- sadora e professora de História cenograa, iluminação, música, culo concorra aos prêmios em
que sentimos dela”. A atriz Dé- menagem que recebi há alguns do Teatro Brasileiro; Fabiana gurino e categoria especial. São Paulo são 24, e o Rio de Ja-
bora Olivieri homenageou a tia anos na premiação”, destaca. Valor, atriz e bailarina; além de O prêmio é destinado aos neiro 25. No caso de espetáculos
com versos do soneto “Visita à O prêmio de melhor atriz, Bernardo Jablonski, professor prossionais do teatro brasilei- em dias alternativos, o número
casa paterna”, de Luiz Guima- concorrendo ao lado de Dri- e roteirista; e Caique Botkay, ro que tenham estreado espe- mínimo é de 12 apresentações.
Jornal de Teatro Abril de 2009
7
Prêmio
Shell premia os melhores do teatro em São Paulo
A 21ª edição do Prêmio Shell de Teatro aconteceu no dia 17 de março no Estação São Paulo. Nenhum espetáculo levou mais de um troféu

Por Rodrigoh Bueno


Fotos: Marcos Issa/Argosfoto

A chuva que caiu na noite da pre-


miação e bloqueou o trânsito da cidade
foi o motivo do atraso de mais de uma
hora no início do evento. Sob a apresen-
tação de Beth Goulart, a estatueta dou-
rada em forma de concha e o cheque no
valor de oito mil reais foram entregues
aos destaques do teatro de 2008, esco-
lhidos pela comissão julgadora formada
por Kil Abreu, Marici Salomão, Mário
Bolognese, Noemi Marinho e Valmir
Santos.
Grande parte dos presentes concor-
dou com a escolha do júri nas princi-
pais categorias. A novidade cou por
conta do prêmio dividido em Melhor
Ator. Domingos Montagner e Fernan-
do Sampaio, da companhia La Mínima,
concorriam juntos na categoria, ambos
pelo espetáculo “A noite dos palhaços
mudos” (uma adaptação da história em
quadrinhos do cartunista Laerte), mas O Centro de Pesquisa Teatral do Sesc levou o prêmio pelos 10 anos do projeto Prêt-à-Porter Isabel Teixeira, melhor atriz por “Rainha[(s)]”
os jurados consideraram que “a inter-
pretação dos atores se completava, sen-
do assim, merecem juntos o troféu”.
A melhor atriz foi Isabel Teixeira,
pelo espetáculo “Rainha(s) - duas atrizes
em busca de um coração”. A revelação
foi uma das mais aplaudidas da noite e
no discurso de agradecimento, Isabel
disse que teatro é resistência e citou a
recente alteração da lei que descaracte-
riza algumas produtoras e aumenta o
valor dos impostos pagos pelos artistas.
O espetáculo com maior número de
indicações foi “A Alma Boa de Setsuan”
que levou o prêmio de Melhor Direção
para Marco Antonio Braz. Prêmio que
o diretor ofereceu aos atores Maurício
Marques e Denise Fraga, que estrelam a
história de Bertolt Brecht. Marília Toledo por “Amor de Servidão” Jacó Guinsberg: pensamento crítico do teatro Bráz, melhor diretor: “A Alma Boa de Setsuan”
O Prêt-à-Porter, projeto do CPT
(Centro de Pesquisa Teatral), sob coor-
denação do encenador Antunes Filho,
ganhou na Categoria Especial. O home-
nageado da noite foi Jacó Guinsburg,
pela contribuição ao pensamento crítico
do teatro no Brasil.
Criado em 1988, o Prêmio Shell de
Teatro é referência para os palcos bra-
sileiros. Em cada edição são divulgadas
duas listas de indicados A premiação
é oferecida aos maiores destaques da
temporada teatral, no Rio de Janeiro e
em São Paulo, separadamente, em nove
categorias: Autor, Diretor, Ator, Atriz,
Cenograa, Iluminação, Música, Figuri-
no e Categoria Especial. Melhor Iluminação Felipe Cosse e Juliano Coelho por “Aqueles Dois” Beth Goulart entrega prêmio a Renato Bolelli por Melhor Cenário

CONFIRA A LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DO 21º PRÊMIO SHELL DE TEATRO DE SÃO PAULO
Autor - Marçal Aquino e Marília Toledo, por “Amor de servidão” Categoria especial - Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, pelos 10 anos do projeto
Prêt-à-Porter
Cenário - Renato Bolelli Rebouças, por “Arrufos”
Diretor - Marco Antônio Braz, por “A alma boa de Setsuan”
Figurino - Silvana Marcondes, Fernando Sato e Júlio Dojcsar, por “O santo guerrei-
ro e o herói desajustado”
Ator - Domingos Montagner e Fernando Sampaio, por “A noite dos palhaços mudos”
Iluminação - Felipe Cosse e Juliano Coelho, por “Aqueles dois”
Atriz - Isabel Teixeira, por “Rainha[(s)] – duas atrizes em busca de um coração”
Música - Josimar Carneiro, pela direção musical de “Divina Elizeth” Reconhecimento e tradição
8 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Editais
Bahia abre inscrições para cinco editais de Cultura
Por Dominique Belbenoit Já o edital “Salões Regionais de Os selecionados de música e

Reprodução
Artes Visuais da Bahia” abre ins- dança farão uma apresentação única,
Estão abertas as inscrições crição para trabalhos de temática a preços populares, na Sala do Coro
para os primeiros editais da Se- livre em diversas modalidades, en- do Teatro Castro Alves. Os grupos
cretaria de Cultura da Bahia lan- tre elas arte e tecnologia, cerâmica, e artistas teatrais, prossionais e
çados em 2009 por intermédio da colagem, escultura, fotograa, gra- amadores, por sua vez, podem par-
Fundação Cultural do Estado da te, instalação e pintura. Os Salões ticipar da seleção para o “Quintas
Bahia (Funceb). São cinco editais 2009 terão três edições com expo- do Teatro”, que este ano seleciona
nas áreas de Artes Visuais, Dança, sições abertas à visitação pública 20 espetáculos, o dobro em relação
Teatro e Música, que irão selecio- nos centros de cultura de Valença, à edição de estreia, totalizando R$
nar artistas para apresentações e Juazeiro e Porto Seguro. Ao todo R$ 100 mil em premiação. Também
exposições em espaços culturais serão premiados nove artistas, três a preços populares, o projeto prevê
da Funceb, na capital e no inte- em cada salão, sendo dois prêmios a realização de apresentações no
rior. Com o sucesso da estreia dos de R$ 6 mil e um prêmio estímulo Cine-Teatro Solar Boa Vista e no
projetos “Segundas Musicais” e de R$ 3 mil, exclusivo para artistas Espaço Xisto Bahia.
“Quintas do Teatro”, criados em do território de identidade onde o Os interessados podem inscrever
2008, este ano os respectivos edi- Salão será realizado, somando R$ seus projetos gratuitamente até os
tais ampliam signicativamente o 45 mil em premiação. dias 7 ou 8 de abril de 2009 (de acor-
número de projetos selecionados. Com seleção prevista de 17 do com o prazo estipulado em cada
Para os artistas visuais, o “Por- propostas (sete a mais em relação um dos editais), na sede da Funceb,
tas Abertas para as Artes Visuais” ao ano passado) de shows de can- pelo correio ou ainda pela internet,
irá selecionar 24 propostas de tores, instrumentistas e grupos, o no formulário de inscrição online.
exposições, individuais ou cole- “Segundas Musicais” retorna em Os editais completos, formulários e
2009 com premiação no valor de o manual de elaboração de projetos A Funceb abriu cinco editais para artes visuais, dança, teatro e música
tivas, para ocuparem galerias em
Salvador e centros culturais dos R$ 5 mil para cada apresentação, culturais encontram-se disponíveis dem ser apresentados até o dia 3 de ras ou das 14h às 17 horas, na sede
municípios de Alagoinhas, Feira sendo o valor total do investimento no site www.funceb.ba.gov.br. abril, na Fundação de Cultura Gari- da Fundação Municipal de Cultura
de Santana, Jequié, Juazeiro, Porto de R$ 85 mil. No edital “Quarta que baldi Brasil (FGB). Serão disponibi- Garibaldi Brasil. O formulário pode
Seguro, Valença e Vitória da Con- Dança”, serão eleitas 19 propostas PROJETO NO ACRE lizados R$ 780 mil para a realização ser acessado no site da prefeitura
quista. Serão escolhidas duas pro- entre espetáculos, intervenções ur- A Prefeitura de Rio Branco, no de projetos, sendo R$15 mil para de Rio Branco www.pmrb.ac.gov.
postas por espaço, com duração banas, dança de rua e trabalhos em Acre, por meio da Fundação Gari- pessoa física, R$ 20 mil para pessoa br. Para apresentar projetos é ne-
de trinta dias cada uma, a serem processo de criação de companhias baldi Brasil, lançou o edital 2009 da jurídica e R$ 25 mil para entidades cessário ser inscrito no Cadastro
realizadas entre julho de 2009 a ju- ou artistas independentes. Todos Lei de Incentivo à Cultura no dia 3 representativas de classe. Os proje- Cultural do Município de Rio
nho de 2010 com verba de apoio concorrem a prêmios que variam de março. Projetos das áreas de arte, tos devem ser entregues até o dia 3 Branco, mecanismo do Sistema
no valor líquido de R$ 1,5 mil. de R$ 3 mil a R$ 5 mil. patrimônio cultural e esporte po- de abril, no período das 8h às 12 ho- Municipal de Cultura.

Festivais
Eventos prometem animar amantes da arte teatral
Por Felipe Sil cutindo questões que tocam a
Jornal de Teatro

cultura e, também, a sociedade,


No universo de atores e já que esta não pode estar com-
atrizes amadoras em todo o pletamente dissociada de qual-
País, os festivais de teatro são quer tipo de arte. As inscrições
ótimas chances de apresenta- para o Filo ainda estão bertas.
rem seus trabalhos para plateias Existente já há 40 anos e
diversas de suas cidades natais organizado pela Amen (Asso-
e, principalmente, mostrar seus ciação dos Amigos da Educa-
talentos para prossionais ex- ção e Cultura Norte do Paraná)
perientes que abarrotam even- e pela UEL (Universidade Es-
tos do tipo. Os amantes da tadual de Londrina), o festival
arte, por sua vez, já podem se é respeitado por, durante todo
preparar para curtir, pelo me- o período, ter valorizado prin-
nos, duas festas da interpreta- cípios como a democratização
ção que irão ocorrer no Brasil da cultura, a valorização do ar-
nos próximos meses. tista e a construção da cidada-
De 27 de março a 5 de abril, nia. Por tais motivos, e por ter
a cidade de Pirassununga, em conseguido se manter ativo du-
São Paulo, dá início ao IX Fes- rante quase meio século, é con-
tival Nacional de Teatro Cacilda siderada uma festa visionária.
Becker 2009. O evento, que faz Para se ter uma ideia da sua
homenagem no nome à atriz importância, a amplitude do
que nasceu no município, tem Filo, a Unesco (Organização das
A cidade paranaense organiza em julho o Festival Internacional de Londrina, um dos mais importantes do País
como objetivo incentivar cada Nações Unidas para a Educação,
vez mais as produções das artes da Becker pela Prefeitura Mu- grupos de diversas cidades pe- que ocorre entre os dias 5 e 20, a Ciência e a Cultura), com base
cênicas, entre amadores e pro- nicipal de Pirassununga, sob a las orientações de como se ins- caracteriza-se por seu forte ape- na atuação do festival na cons-
ssionais, além de promover responsabilidade da Secretaria crever no evento, um dos mais lo pluralista. Apesar de pessoas trução de uma cidadania através
intercâmbio de ideias, o pensa- Municipal de Cultura e Turis- esperados da cidade. e culturas tão diferentes, porém, da cultura, reconheceu o evento.
mento crítico e o debate; esti- mo. A coordenação geral é de Em julho, é a vez do famoso todas parecem unidas pelo amor No ano 2000, a festa ganhou a
mular a formação de grupos e Israel Foguel. Atualmente, o Filo (Festival Internacional de de estar no palco. É no evento inclusão da chancela, sob a for-
novas propostas de encenação; festival é nacional, com a parti- Londrina), um dos mais impor- que se reúnem alguns nomes ma de apoio institucional. O fes-
e oferecer arte à comunidade. cipação grupos de outros esta- tantes do País. Lugar de encon- não apenas do teatro nacional, tival também é considerado um
É realizado nas dependên- dos, a exemplo do ano passado. tro de diferentes escolas teatrais mas também do internacional, patrimônio cultural de Londrina
cias do Teatro Municipal Cacil- Isso leva à procura de variados e de variadas linguagens, a festa, apresentando espetáculos e dis- e do estado do Paraná.
Jornal de Teatro Abril de 2009
9
Dança

Polêmicas e outras mídias no palco


Impossibilidade de classificação imediata de sua produção faz do Dimenti, na Bahia, um grupo que transita livremente entre o teatro e a dança

Por Adriana Machado


Divulgação

Imagem drag sinhá moça da


pós-modernidade, enveredar por
uma lombra catártica ou perver-
são fragmentada, não-linear e
entupida de lacunas. Entendeu?
Não se preocupe, pois poucas
pessoas seriam capazes de deci-
frar o verdadeiro signicado das
palavras ou a forma como elas
são empregadas para denir a
arte desenvolvida pelo Dimen-
ti, da Bahia. Talvez venha daí a
sensação de polêmica causada
pelo grupo e a impossibilidade
de classicação imediata de sua
produção.
“Existe uma ansiedade mui-
to grande em localizar os nossos
trabalhos como teatro ou dança
e ainda como adulto ou infanto-
juvenil”, comenta Jorge Alencar,
diretor-artístico do Dimenti. Ou-
tro argumento é o fato da forma-
ção dos integrantes ser bastante
híbrida. “Isso causa desconfor-
tos numa percepção mais fun-
damentalista”, diz. “Não acredi- Grupo Dimenti encena o espetáculo “Chuá”, uma releitura de “O Lago dos Cisnes”, um dos destaques segundo o diretor Jorge Alencar
tamos em delidade, origem ou
essência de uma obra, somente
em possíveis e amplíssimas rela- EVOLUÇÃO algum processo de criação em Mulher e o Bambu”, “Batata!” acrescenta o diretor.
ções criativas”. Com o passar dos anos, o diferentes funções. e “Sensações Contrárias”. Em abril de 2009, o Dimenti
Desde a sua criação, em 1998, Dimenti rmou a sua atuação Como as atividades artísti- Segundo o próprio diretor, vai apresentar três diferentes tra-
o Dimenti vem utilizando diver- tanto como grupo de pesquisa cas e da produtora estão conec- dois deles podem ser destacados balhos em Berlim, na Alemanha,
sas linguagens cênicas e audiovi- artística quanto como produto- tadas, todo o apoio recebido pelas diferentes, às vezes, con- e realizará a terceira edição de
suais. A escolha pela mescla re- ra cultural, realizando circuitos (das verbas obtidas em editais troversas recepções que tiveram, um encontro chamado “Intera-
monta ao surgimento do grupo, de repertório, ocinas, deba- públicos à circulação dos espe- tais como “Chuá”, uma releitura ção e Conectividade”, que reúne
feito de prossionais de diferen- tes, intercâmbios, publicações táculos) vão para uma espécie de “O Lago dos Cisnes” para artistas de diferentes partes do
tes áreas (teatro, dança, música, e audiovisuais (CDs, DVDs, de “fundo nanceiro” que pro- crianças e “Batata!” – uma li- País com mostras, ocinas e de-
letras, comunicação, psicologia) videoclipes, documentários e cura garantir ao grupo a autos- vre tradução de autores baianos bates. “Queremos cada vez mais
em nível de graduação e de pós- curta-metragem). Hoje, reside sustentabilidade. Atualmente, o contemporâneos do universo de nos estruturar para garantir uma
graduação. “Estabelecemos inter- num espaço em Salvador cha- grupo mantém todos os espe- Nelson Rodrigues. “Todos os maior autonomia do grupo e de
faces com outras mídias, a exem- mado Palco 4 – Atelier de Arte táculos do repertório em ativi- nossos trabalhos já foram se- seus integrantes em relação às
plo de traduções cênicas de obras e Cultura e conta com oito in- dade, entre eles “O Alienista”, lecionados para projetos e festi- suas demandas e projetos para
literárias. Atualizamos discussões tegrantes permanentes e ou- “Chá de Cogumelo”, “A Nove- vais por todo o País e o “Sensa- assegurar nossa liberdade cria-
que instiguem questões contem- tros vários colaboradores que la do Murro”, “Tombé”, “Pool ções Contrárias” foi exibido no tiva, controversa, mas, para nós,
porâneas”, revela Alencar. atuam nos espetáculos ou em Ball”, “Chuá”, “O Poste”, “A Brasil, na França e no Uruguai”, sempre produtiva”, naliza.

ATOS & CENAS ACERVO

Quem é: Companhia Dimenti Trabalhos realizados por Jorge Alencar


Onde está situada: em Salvador, no espaço chamado Palco 4 – Atelier de Arte e Cultura Como performer, o ator, atual diretor artístico do Dimenti,
Integrantes: Oito permanentes e outros colaboradores colaborou em trabalhos como “Casa de Nina”, “Prisão
Espetáculos que fizeram história: “O Alienista” (1998), “Chá de Cogumelo” (1999), “A do Ventre” e “O Mistério do Chiclete Grudado”. Foi in-
Novela do Murro” (2001), “Tombé” (2002) e “Batata!” (2008) dicado ao The Rolex Mentor And Protégé Arts Initiative
Participação em festivais: II Fenateg (Paraíba), Enartci (Minas Gerais), Festival do Teatro (Suíça). Como dançarino, atuou em peças do repertório
Brasileiro VII Edição – Cena Baiana em Pernambuco (Pernambuco), Festival Nordestino clássico como “O Lago dos Cisnes” (2001) ao lado de
de Teatro de Guaramiranga (Ceará), Mostra Sesc de Artes (Bahia), Festival Internacional Ana Botafogo e Cecíllia Kerche e em trabalhos de Dança
de Artes Cênicas (Bahia), Panorama de Dança (Rio de Janeiro), Sensações Contrárias: Contemporânea como “Pele” (2002) de Ivani Santana e
Rio Cena Contemporânea (Rio de Janeiro), Play Rec - Festival Internacional de Videodan- “O Carvalho” (2008) de Fátima Suarez. Como diretor, es-
ça do Recife (Pernambuco), Mostra "Brazil Knows What Videoart Is" – Centro Cultural Le trelou duas obras no Ateliê de Coreógrafos Brasileiros.
Cube (França) e Fivu (Festival Internacional de Videodança de Montevideo), além de ter Em 2005, compôs o espetáculo “A Lupa” e foi convidado
sido premiado como “Melhor Vídeo Experimental do Festival de Gramado Cine-Vídeo”, para elaborar uma nova obra no Ateliê de Coreógrafos
em 2007, e prêmio Porta Curtas no XI Festival Nacional de Vídeo – imagem em cinco Brasileiros Ano V em sua edição comemorativa, criando
minutos (Bahia) “A Mulher-Gorila” (2006).
10 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem
Vale a pena participar de festivais?
Pela experiência de algumas companhias de teatro, a resposta é ‘sim’, mesmo com as dificuldades financeiras e de incentivo enfrentadas

Por Rodrigoh Bueno to pessoas e artistas”, conta. PERSEVERANÇA produção, mesmo sem co- e Melhor Iluminação (Felipe
O Cênicas já era um grupo O Cênicas surgiu em 2001, nhecer pessoalmente o gru- Cosse e Juliano Coelho) - levan-
Um grupo de jovens ato- apaixonado por festivais antes como fruto da iniciativa de po” conta Cláudio, outro ator do para casa o troféu de melhor
res pernambucanos cruza o desta experiência em Curitiba atores de Garanhuns, interior que tem uma história íntima iluminação de espetáculo em São
país de ônibus para apresentar e o episódio não abalou a pai- de Pernambuco, que viviam com os festivais de teatro. Paulo no ano de 2008.
seu trabalho e, sem verba para xão de cada um dos integrantes em Recife. Para marcar a es- “Minha formação de ator “Na primeira vez que parti-
voltar para casa, se vê em uma pelas viagens. O motivo que treia, escolheram (ou melhor, está bastante relacionada com cipamos do FIT tivemos con-
difícil questão: como retornar leva esses atores a se lançarem, foram escolhidos para) partici- os festivais, pois acompanhei tato com a comissão que es-
para sua cidade sem dinheiro, mesmo quando as condições par de seu primeiro Festival, o de perto os espetáculos e as colhia os espetáculos e com a
e como seguir com o sonho de são adversas, é a possibilidade FIG – Festival de Inverno de discussões que aconteciam curadoria de outros festivais, o
divulgar o trabalho mesmo com de mostrar o trabalho para o Garanhuns. ”Umas das coisas na cidade, como o FIT – que ajudou a fechar novas tem-
tantas diculdades? O que pare- maior número de pessoas pos- mais ricas que os festivais pro- Festival Internacional de Te- poradas em outras cidades e, a
ce um texto de algum espetácu- sível. “O mercado de trabalho é porcionam aos grupos e com- atro Palco e Rua, e o ECUM partir daí, vieram convites para
lo é parte da história da Cênicas difícil e competitivo, mas temos panhias, são as possíveis trocas - Encontro Mundial de Artes novos festivais. Foi uma ótima
Companhia de Repertório, e um que buscar soluções para que a estéticas e de referências que Cênicas. Lá tive contato com vitrine. Aproveitamos a reper-
momento considerado mágico peça seja vista por um número possam vir a partir do contato referências mundiais e com cussão”, garante Cláudio.
para os membros da trupe. maior de pessoas, pois como desse coletivo de artistas. As- pensadores de teatro que es- Desde então, não pararam de
O episódio aconteceu no teatro é efêmero, nenhum re- sistir espetáculos de estéticas timularam o meu trabalho e a surgir convites. O Luna Lunera
Festival de Teatro de Curitiba gistro de vídeo ou fotograa e regiões diferentes, conversar minha pesquisa” conta. já representou o Brasil no XII
em 2002 e para Antônio Rodri- reete o que acontece de fato mesmo que informalmente Naturalmente se deu a pas- Temporales Internacionales de
gues, diretor do grupo, signi- entre artista e espectador. É com esses artistas e buscar fa- sagem de espectador para parte Teatro de Puerto Montt, Valdí-
cou “uma das histórias ines- um momento único e que por zer avaliação sistematizada das do FIT, já com a companhia. via e Santiago, no Chile; e esteve
quecíveis da carreira”. mais que seja tecnicamente informações pode ser muito Em 2001 o Luna Lunera foi presente no Riocenacontempo-
“Fomos com dois espetácu- impecável, acredito que uma valioso na pesquisa dos gru- selecionado para apresentar rânea/RJ, Porto Alegre EnCe-
los, “Um Gesto Por Outro” de apresentação nunca será igual a pos”, acredita Rodrigues. “Perdoa-me por me traíres”, na/RS, Mostra da Cena Teatral
Jean Tardieu e “Transe” de Ro- outra”, revela Rodrigues. Em outros casos esta tro- de Nelson Rodrigues com dire- Mineira, Festival de Teatro de
nald Radde. A empreitada foi A diculdade que um grupo ca pode nem ser presencial, ção de Kalluh Araújo. O grupo Curitiba/PR, Festival Internacio-
bastante arriscada, fomos com formado fora do grande eixo te- ou melhor, primeiro se dar voltou ao palco do festival com nal de Teatro de São José do Rio
a cara e a coragem numa pro- atral brasileiro encontra também em uma esfera virtual para outros dois espetáculos, “Não Preto/SP, Festival Internacional
dução coletiva, sem verbas su- pode ser resolvida com essas via- depois acontecer pessoal- desperdice sua única vida, ou..” de Artes Cênicas da Bahia; além
cientes pra a viagem. Tivemos gens. A visibilidade é um fato e mente. Este é caso de Antô- e “Aqueles Dois” – premiado no dos já citados FIT e ECUM.
uma boa recepção do público e uma maneira de trocar experiên- nio e Cláudio Dias, da com- 13º Prêmio Sesc-Sated MG nas
dos poucos jornalistas que as- cias com outros grupos e críticos. panhia mineira Luna Lunera. categorias Melhor Espetáculo e NÚCLEO DE FESTIVAIS
sistiram aos espetáculos, porém “Há no Brasil festivais muito im- Acompanhando o trabalho Melhor Direção (Cláudio Dias, Alguns destes eventos estão
passamos por momentos muito portantes e, com certeza, Curiti- do grupo, que na época via- Marcelo Souza e Silva, Odilon relacionados. É o caso do Fes-
difíceis e de superação, mas essas ba é um deles, pois os olhos do java o país com o espetáculo Esteves, Rômulo Braga e Zé tival Internacional de Teatro de
diculdades nos fortaleceram país se voltam para o que está “Aqueles Dois”, de Caio Fer- Walter Albinati); no 5º Prêmio São José do Rio Preto, Porto
ainda mais e a viagem ajudou no acontecendo por lá. Os festivais nando Abreu, Antônio bus- Usiminas-Sinparc nas categorias Alegre EnCena, Festival Inter-
nosso amadurecimento enquan- em sua maioria aglutinam as cou o contato de Cláudio em Melhor Espetáculo, Melhor Di- nacional de Teatro Palco e Rua
pessoas que são formadoras de comunidades virtuais e assim reção e Melhor Ator (Rômulo de Belo Horizonte, Riocenacon-
opinião e isso pode levar a uma começou uma parceria Reci- Braga); e foi indicado ao Prêmio temporânea; e mais os Festival
projeção nacional. No caso de fe–Belo Horizonte. Shell São Paulo 2008 nas catego- Internacional de Londrina/PR e
Curitiba diversos grupos come- Parceria que surgiu a partir rias de Melhor Direção, cenário Cena Contempoânea – Festival
çaram a sua projeção depois de do interesse pelo autor e que Internacional de Teatro de Brasí-
participarem da mostra para- se concretizou quando o Luna lia/DF, pertencentes ao Núcleo
lela, o Fringe. Dentre eles o Lunera viajou para Recife, no dos Festivais Internacionais de
Espanca (MG), Grupo XIX nal de 2008. “Estávamos em Artes Cênicas do Brasil.
de Teatro (SP), Luna Lu- cartaz com o espetáculo em O grupo de festivais foi
nera (MG) e Coletivo São Paulo, no Sesc Paulista, criado em 2003 com a pro-
Angu de Teatro e a apresentação de Recife posta de fortalecer e estimu-
(PE)”. precisava de um apoio por lá. lar as artes cênicas no Brasil,
Toni se pronticou e ajudou além de ser uma importante
com detalhes de ferramenta para difundir os
espetáculos brasileiros no ex-
terior. Segundo a divulgação
do núcleo, “os festivais partici-
pantes do Núcleo têm algumas
especicidades: além de serem
internacionais e voltados às ar-
tes cênicas, todos têm caráter
público (são realizados pelo
poder público ou entidades
sem ns lucrativos), praticam
preços populares, realizam
uma programação de ativi-
dades formativas e apresen-
Antônio e Cláudio Dias atuam em tam um painel da produção
“Aqueles dois”, de Caio Fernando Abreu mundial das artes cênicas.
O Núcleo dos Festivais ob-
jetiva contribuir com a po-
lítica de acesso à criação e à
produção artística nacional,
além de incentivar a circu-
lação de espetáculos pelas
Diego Pisante / Divulgação cidades brasileiras.”
Jornal de Teatro Abril de 2009
11
Reportagem
Fotos: Divulgação Divulgação
POR QUE PARTICIPAR? retamente na assimilação
“Pela troca de informação, e na relação do público
novas referências, intercâmbio de com a obra”.
idéias, visibilidade e, claro, retorno Segundo ele, um dos
nanceiro” diz Cláudio Dias. espetáculos do grupo,
Segundo ele, o espetáculo “Beckett”, foi convi-
“Aqueles Dois”, por exemplo, dado a uma turnê por
ainda sofre adaptações a partir Irlanda, Escócia e Es-
das opiniões colhidas ao nal da panha. “Receando que
peça em cada cidade. Quanto à a ideia de um grupo
referência de outras companhias, brasileiro encenando
Dias cita a construção utilizada um autor irlandês – com
em algumas cenas da peça – fruto bonecos, ainda mais –
de uma ocina que o grupo fez fosse criar algum tipo de
com a Cia dos Atores, do Rio de rejeição, surpreendemo-
Janeiro. “No FIT de 2002, am- nos com um êxito muito
bos apresentávamos espetáculos grande – público eufóri-
de Nelson Rodrigues e a apro- co, briga na porta por
ximação foi quase inevitável. ingressos, espectadores
Um dos atores participava da nos pedindo convites.
produção do Riocenacontem- Ao chegar a Glasgow,
porânea e estivemos juntos por na Escócia, a poucos
lá também. Depois veio o FIT quilômetros dali, o es- Festa do teatro atrai bom público e traz novidades para a 18ª edição
em Belo Horizonte e passamos petáculo simplesmente
a manter um contato freqüente
desde então”, conta.
Além das verbas destinadas
não funcionou: depara-
mo-nos com um público
seco, que reagia de formaa
Festival de Curitiba
por alguns festivais para que as
produções apresentem os espetá-
culos, as críticas e matérias publi-
completamente diferentee
aos diferentes momentoss
do espetáculo”.
alcança maioridade
cadas na imprensa podem ajudar A lista de festivais e Evento é considerado um dos mais respeitados do País
as companhias na captação de re- mostras em que o grupo po
cursos para novas montagens. esteve presente é grande, de, A estreia do Festival de Te- festa na cidade! As pessoas
Para Luiz André Cherubini, algumas cidades são Nova va atro de Curitiba aconteceu em saem de casa e vão para os ba-
do Grupo Sobrevento, participar Friburgo/RJ, Campinas// 1992 e desde então coleciona res, ruas, cinemas, restaurantes
é importante “porque os Festivais SP, Santos/SP, Canela/ a/ números grandiosos. Foram e se sentem diferentes. Muda
são a melhor e mais segura ma- RS, Ribeirão Preto/SP, P, cerca de 1,3 milhões de pesso- a intensidade do local, melho-
neira de circular com um espetá- Rio de Janeiro/RJ, São o as nas mais diferentes platéias, ra a estima e tem impacto di-
culo. E porque navegar é preciso. Paulo/SP, Curitiba/PR, R, 1890 espetáculos que ocupa- reto na economia, no turismo
Inclusive mais do que viver”. Porto Alegre/RS, Ouro o ram ruas, praças, banheiros, etc.”,disse Leandro Knopfholz,
Preto/MG, São João Dell bares e, enm, teatros. diretor artístico do Festival de
ESPAÇO PARA TODOS Rei/MG, São José do Rio o O número de 2009 é 18, a Curitiba e um dos idealizadores
O Sobrevento é um grupo Preto/SP, Mariana/MG,, idade que marca a maioridade do evento.
de teatro que se dedica desde São Carlos/SP, Olinda// ddo evento que mesmo entre Os espetáculos mais co-
1986 à pesquisa da linguagem PE, Belo Horizonte/ te/ ccontradições ainda é um dos mentados continuam na cha-
teatral, principalmente na arte MG, Bonito/MS, Ja-- mmais respeitados pela crítica mada Mostra Contemporânea,
dos bonecos e da animação. raguá do Sul/SC, São o e pelas companhias de todo que na 18ª. edição traz 25 espe-
Além de ter participado de fes- Bernardo do Campo// o Brasil. Para comemorar, a táculos, sendo um deles o chi-
tivais em muitos países, o gru- SP, Santo André/SP, P, pprodução apresenta uma lista leno “Sin Sangre”. A curadoria
po realizou, dirigiu e foi cura- Garanhuns/PE, For- r- dde mais de 300 espetáculos à para esta mostra é de Tânia
dor de festivais em quase todos taleza/CE, Nova Igua- a- ddisposição do público – fora Brandão, Celso Curi e Lúcia
os estados do Brasil. “Ao nal çu/RJ, F,
Brasília/DF, aas cada vez mais variadas ativi- Camargo.
de cada Festival que realizou, o Campos de Goytaca- a- ddades de cultura, talvez um re- A grande quantidade de
grupo disse que seria o último zes/RJ, Rio do Sul/SC, C, exo da mudança de nome que espetáculos ainda se reúne no
e se arrependeu logo depois”, Corumbá/MS, Suzano/ o/ aaconteceu em 2008, de Festival Fringe, espaço para as peças se
garante, mostrando logo que se SP e Juazeiro do Norte/te/ dde Teatro de Curitiba para Fes- lançarem nacionalmente e bus-
trata de outra companhia que CE. Além de espetáculos los ttival de Curitiba. carem a atenção de curadores
vive com as malas prontas. no Chile, Espanha, Co- O Risorama, espaço para de outras mostras e festivais.
O que move o grupo para ócia
lômbia, Irlanda, Escócia hhumor à stand-up comedy, já
os eventos é novamente o in- e Argentina. uum dos eventos paralelos mais HISTÓRIA
tercâmbio, “a possibilidade de A pernambucana ana aaguardados do ano na cidade, A criação do Festival de
viver outras experiências, co- Cênicas pode não terr se rmou-se ocialmente junto a Curitiba é uma história contada
nhecer coisas novas acerca de apresentado (ainda) na programação ocial. O Mish anualmente com muito orgu-
nossa arte e nosso ofício”. Europa, mas tem motivos Mash ainda é novidade e reúne lho por seus idealizadores. Em
Luiz destaca as diferenças que de sobra para comemorar. artes circenses como a dança, uma mesa de bar, um grupo de
o grupo percebeu entre as apre- No ano de 2003 o grupo mágica e malabarismo. A no- jovens amigos tinha acabado de
sentações xas, quando o espetá- voltou ao Festival de Curi- vidade de 2009 é o Gastrono- ver uma peça no Teatro Guaí-
culo está em cartaz, e as de fes- tiba com o patrocínio da mix, um projeto que promete ra, o maior da cidade na época,
tivais: “A diferença de públicos e cidade de Garanhuns. No unir gastronomia à música. quando lamentaram o pequeno
de estrutura cênica marca profun- retorno para Recife, novas Chefs convidados preparam número de peças de teatro em
damente o desenrolar da apresen- referências, novos convi- seus pratos embalados por cartaz na cidade. Surgiu então
tação e o estabelecimento da co- tes para participação em música especialmente escolhi- a idéia de , ao invés de apenas
municação teatral. Determinados festivais e prêmios como da para a ocasião. Enquanto lamentar, organizar um festival
espetáculos sofrem mais do que Melhor Espetáculo, Me- preparam os pratos explicam na cidade.
outros com isto: montagens mais lhor Ator (Jorge de Pau- por que tal música combina Em dezembro de 1991
delicadas ou com características la), Melhor Iluminação e com tal prato. acontecia a festa de lançamen-
mais interativas, para dar apenas Melhor Sonoplastia como “O Festival cresce em todos to do Festival, que iria estrear
dois exemplos. Espetáculos mais espetáculo “As Criadas”, os aspectos. Eventos, espetácu- no dia 19 de março do ano se-
fechados e mais técnicos tendem de Jean Genet, no Janeiro los da Mostra, espetáculos do guinte. Logo na primeira edi-
a dicultar a percepção, pelos ar- de Grandes Espetáculos. Fringe, além da quantidade de ção, o Festival levou ao Paraná
tistas, do sucesso do jogo teatral Uma prova de que, mes- gente que podemos receber. grandes nomes do teatro bra-
no momento em que se dá. Po- mo com as adversidades Entendemos que ele se rma sileiro, como Antunes Filho,
rém, independentemente disto, enfrentadas no início, va- como uma grande vitrine das José Celso Martinez Correia e
diferenças culturais interferem di- leu a pena perseverar. Artes Cênicas do Brasil. É uma Gabriel Vilella.
12 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista
Zezé Motta atriz

“Quem desiste,
não pode
ser feliz”
Por Douglas de Barros Jornal de Teatro - Como Bocas” pela Rede Globo, nove-
foi difícil te encontrar. A- la de Walcyr Carrasco e direção
Do seleto grupo nal, o que você está fazendo do Jorge Fernando. Vou entrar
de artistas brasilei- em Brasília? na segunda fase da novela, a
ros que se tornaram Zezé Motta - Minha vida partir do capítulo 60. Teve um
referência no ce- é muito louca, muito corri- boato sobre minha participa-
nário artístico na- da. Vou gravar um comercial ção em “Paraíso”, mas foi só
cional, Maria José amanhã (dia 17 de março), especulação. Ontem (dia 15)
Motta de Oliveira, uma campanha incentivando comecei a gravar o novo lme
se destaca como as pessoas a pagarem o IPTU da Xuxa, chamado “O Fantás-
uma das poucas ar- e que vai ao ar a partir de ju- tico Mistério de Feiurinha”. As
tistas negras que atua- nho. Mas na semana passada lmagens começam em julho
vam em papéis de destaque estive aqui para participar da ou agosto, mas nós lmamos
na dramaturgia nacional desde que se abertura de uma conferência porque tínhamos que aprovei-
tornou Xica da Silva, no lme de mesmo nome do sobre igualdade racial. Inclu- tar o navio italiano que estava
diretor Cacá Diegues. sive, antes de nossa conversa, atracado no Rio de Janeiro. No
Mas antes mesmo do sucesso nas telonas ou na te- recebi outra ligação para tratar lme, eu faço o papel da Geru-
levisão, Zezé já havia marcado presença no teatro bra- de assuntos referentes ao meu sa, que conta a história da Feiu-
sileiro na fervilhante década de 1960. A atriz estreou no trabalho na luta pela defesa rinha. Essa história na verdade
espetáculo “Roda Viva”, de Chico Buarque de Holanda, dos direitos autorais, vou car é um livro do Pedro Bandeira
logo após se formar em teatro no tradicional Tablado, mais um tempo aqui para tra- que faz muito sucesso nas es-
de Maria Clara Machado. Além disso, já gravou oito tar mais desse assunto. Eu não colas e é muito interessante. O
álbuns musicais e está prestes a lançar mais um. paro nunca. enredo é um encontro de várias
Mesmo tendo que se dividir em muitas para princesas de contos infantis e
dar conta de suas atividades prossionais, Zezé JT - Você está em cartaz as mostra já casadas com seus
também se notabiliza por sua luta pelos di- com alguma peça no mo- príncipes cheias de lhos e tal
reitos dos artistas negros e sua militância mento? um barato. Parece que foi um
frente aos direitos da classe artística no ZM - Em abril vou estre- achado da própria Sasha.
Brasil. ar “7 – O Musical”, do Cláu-
Entre gravações, conferências, reuni- dio Botelho e Charles Möeller, JT - Sua estreia no pal-
ões e vida familiar, a atriz ocupa ainda, com músicas de Ed Motta. co foi em “Roda Viva”, um
a convite do governador Sérgio Cabral, Vamos estrear no teatro Sérgio clássico do teatro nacional.
um cargo na recém-criada Superinten- Cardoso, em São Paulo, com Como foi esse início?
dência da Igualdade Racial do Governo duração de três meses. Faço ZM - Vim muito pequena
do Estado do Rio de Janeiro, em que papel de má em “7”. É a pri- para o Rio (Zezé nasceu em
cuida dos interesses de negros, índios, meira vez que faço uma vilã Campos, no norte-uminen-
ciganos e todo tipo de ser humano que e estou me divertindo muito. se), sinto-me carioca. Eu es-
se sente discriminado. O nome dela é Carmem, uma tudava em um colégio na Cru-
Apesar da agenda corrida, a atriz, cartomante muito má que, para zada São Sebastião, no bairro
cantora e até mesmo diretora Zezé proteger uma cliente, persegue do Leblon, embora não tivesse
Motta conversou com o Jornal de outra pessoa. Estou adorando. direito porque não era mora-
Teatro por telefone em um hotel de dora de lá, mas na época eu
Brasília, num dos poucos momentos JT - E fora dos palcos? dei um jeitinho. Fiz o ginásio
que a atriz tem de descanso entre um ZM - Daqui a dois meses e ganhei uma bolsa para fazer
trabalho e outro. vou começar a gravar “Caras e o Tablado porque eu era muito
Jornal de Teatro Abril de 2009
13
Entrevista
dedicada, passava meus ns de ZM - Estou sem gravar há

Fotos: divulgação
semana estudando e não per- uns seis anos, mas nesse ano de
dia nenhum passeio ao teatro, 2009 eu também vou gravar um
ópera ou qualquer outro pro- CD e um DVD. Viu só quanta
grama cultural que a escola fa- coisa? Tenho esse projeto que
zia. Gostava de teatro, mas não estava na la da gravadora Bis-
tinha pretensão, só depois des- coito Fino e quando vi que não
cobri que queria isso. Quando ia rolar, resolvi mostrar para a
terminei, a gente apresentou Robby Digital e eles gostaram
uma peça, o Flávio Santiago da ideia. Vão lançar no segun-
veio falar comigo, perguntou do semestre desse ano. O CD
se eu queria seguir carreia e vai se chamar “O Samba Man-
me falou do teste para o “Roda dou Me Chamar” e vai ter mui-
Viva”. Na semana seguinte z ta coisa inédita. Tinha até pen-
o teste e passei. Foi muito ba- sado em fazer releituras, mas
cana. Em um mês já estava en- como recebi tanto material
saiando. Depois de fazer muito bom e muita gente boa, acabei
teatro começaram a surgir as me empolgando.
oportunidades. Primeiro para o
cinema e em seguida televisão, JT - E os compositores?
quando a Marília Pêra me apre- Já conhecidos ou pretende
sentou para o Bráulio Pereira, gravar canções de novos ar-
que me chamou para fazer a tistas?
Zezé de Beto Rockfeller. ZM - Tem Luiz Ayrão, Pau-
lo César Pinheiro, Feital (Paulo
JT - E a música? Você César), Altay Veloso, Marqui-
gravou vários discos, inter- nho PQP, Serginho Procópio,
pretou canções de grandes entre outros. Um pessoal de
compositores e costuma di- primeira, além de composito-
zer que é ‘cantriz’, não é ver- res mais novos.
dade? Que espaço a música
tem na sua vida? JT - Você também dirige
ZM - Já gravei oito álbuns espetáculos, não é verdade?
e as pessoas sempre me per- ZM - Como diretora já ti-
guntam se eu prero cantar ou nha experiência com cantores
representar. Eu respondo que como Jamelão, Leci Brandão
me sinto em estado de graça e Ana Carolina ainda em Juiz
dos dois jeitos. Quando tenho de Fora. Inclusive, dei muita
a oportunidade de juntar as força para ela vir para o Rio.
duas coisas é perfeito. Canto Recentemente, participei da
muitas músicas nesse musical supervisão de uma peça que
“7”. Levo minha experiência estreou no porão da (Casa de
de atriz para a música, já que Cultura) Laura Alvim, “Todo
para cantar também é preciso Amor Que Houver Nessa
interpretar. Vida” com Rogério Garcia e
Felippo Leandro. Na verda-
JT - Então ainda preten- de, eu dei alguns palpites.
de lançar outros discos? JT - Você é conhecida por

Sempre
recebo cartas
de jovens me
pedindo
opinião.
Digo para
terem
perseverança
e não desistir
dos sonhos
pois quem
desiste não
pode ser feliz
Zezé foi elogiada por sua atuação como Carmem no musical “7”. Sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro, peça chega a São Paulo em abril
14 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista
uma postura combativa e en-
gajada em projetos sociais e
na luta por diversas causas.
Como surgiu esse lado?
ZM - Foi uma coisa es-
pontânea. Recentemente, fui
convidada para fazer parte da
Superintendência da Igualda-
de Racial do Estado do Rio
de Janeiro, um trabalho muito
amplo e que cuida dos ciga-
nos, índios, quilombolas e da
saúde da população negra.
Quando fui convidada pelo
governador Sérgio Cabral,
achei até que era um exagero.
Achava que saúde devia ser
para todos, o que é verdade.
Mas depois me explicaram
que existem algumas doenças
que são exclusivamente de
negros como a Anemia Falci-
forme, uma doença que causa
problemas nos glóbulos ver-
melhos e pode levar a óbito.
Estamos conversando com
o ministro (da Saúde) Tem-
porão para realizarmos uma
campanha explicativa. Hoje
em dia, com o teste do pezi-
nho, já se acusa, mas há pes-
soas adultas que podem ter e
nem sabem.

JT – Neste tempo, você


percebeu alguma melhora?
Sua luta tem valido a pena?
ZM - Acho que sim. Se -
carmos só reclamando e não
arregaçar as mangas não va-
mos avançar. Tive a ilumina-
ção de participar da criação do
Cidan (Centro de Informação
e Documentação do Artista
Negro) e isso ajudou muito.
Quando a gente cobrava essa
quase invisibilidade na mí-
dia e nas artes, cada um dava
uma desculpa. Diziam que os
negros eram inseguros, que
conheciam poucos artistas de
qualidade. Daí surgiu o Cidan,
que tem a nalidade de divul-
gar. Já temos 21 anos e esta-
mos muito felizes por termos
feito a coisa certa. Hoje não se
faz cinema, teatro ou televisão
sem que sejamos consultados. Zezé MoĴa admite que sua vida é corrida, mas garante arrumar tempo para os seus lhos e família. Acordar cedo é uma tática para fazer o dia render
Hoje esse contato se tornou
mais fácil porque podemos uma boa equipe e ter discipli- JT - E a nova geração?
dizer quem somos e onde es- na. Acordo muito cedo, por Você tem acompanhado os PRINCIPAIS
tamos. isso o meu dia rende muito. novos talentos? Quem você
Aos sábados faço pilates e, destaca? TRABALHOS
JT - O que você está como moro na Lagoa (Ro- ZM - Tem muita gente jo- DE ZEZÉ MOTTA
achando da atuação da Jan- drigo de Freitas), caminho vem pintando e é difícil pre-
dira Feghalli à frente da Se- na orla sempre que posso. ver. Tento fugir do óbvio mas
NO TEATRO
cretaria de Cultura do Rio? Já minha família me visita tenho acompanhando o ama- • Roda-viva, de Chico Buarque, direção
ZM - Ainda é muito cedo. mais do que eu a ela. Passei o durecimento da Taís (Araú- de José Celso Martinez Corrêa – 1967
A nomeação dela assustou um Carnaval com a minha mãe e jo), Claudinha Abreu, que já
pouco, mas acho que devagar aos domingos faço uma reu- está virando veterana, Wagner • Fígaro, Fígaro
as coisas vão se ajeitar. A Jan- nião com minhas seis lhas Moura e o Lázaro (Ramos).
dira tem se mostrado disposta de coração. A gente conversa, • Arena conta Zumbi
a conversar com a classe artís- come pipoca e assiste a vários JT - E aqueles famosos
tica. Vamos torcer para que ela lmes. conselhos para quem quer • A vida escrachada de Joana Martine e Baby Stompanato – 1969
faça um bom trabalho. ingressar na carreira, você
JT - Essa onda de papa- também tem para oferecer? • Orfeu negro – 1972
JT - E sua vida hoje? É razzo tem te atrapalhado? ZM - Sempre recebo cartas
mesmo todo esse corre-corre Como conviver com isso? de jovens me pedindo opinião. • Godspell - 1974
ou você tem tido mais tempo ZM - Não tem me atrapa- O que digo é para ter perse-
para você e sua família? lhado. Não estou em um mo- verança e termino as cartas • Abre Alas, de Maria Adelaide Amaral – 1999
ZM - É muito corrida, mento diferente, não sou mais dizendo que não desistam do
mas tenho tempo para mim novidade e não desperto a sonho, pois quem desiste não • Atualmente estrela Sete, O musical, de Cláudio Botelho e
sim. O segredo é contar com Charles Möeller
atenção deles. pode ser feliz.
Jornal de Teatro Abril de 2009
15
Política Cultural

MinC lança lei que reduz


tributo de produtores culturais
Por Ana Paula Bessa governo e da sociedade, adotará (IDH). A respeito disso o de-

Jornal de Teatro
critérios para o uso dos impos- putado Paulo Rubem Santiago
O principal medo dos pro- tos. Ele será denido, anualmen- (PDT-PE) encaminhou um re-
dutores culturais de perderem te, por meio de portaria, onde querimento pedindo acesso ao
patrocínios já pode ser perdido. serão relacionados cada critério texto da nova lei para que, no
O MinC (Ministério da Cultura) com cada faixa de renúncia. âmbito da Comissão de Educa-
lançou uma nova legislação de es- Projeto cultural que não te- ção e Cultura (CEC) da Câmara
tímulo à cultura que estará dispo- nha integrado em seu espaço dos Deputados, seja criada uma
nível para consulta pública no site um projeto de acessibilidade relatoria para debater o projeto.
do ministério (www.cultura.gov.br). terá dificuldade de ser aprovado. O deputado também defende a
A legislação foi liberada esta Foi o que disse o ministro Juca ideia de realizar-se um audiên-
semana pelo setor jurídico da Ferreira, em entrevista ao jornal cia pública a respeito das modi-
Casa Civil, e promete acalmar “Folha de São Paulo”. “Toda ficações, para que a população
os ânimos de quem achava que vez que tiver dinheiro público, e a sociedade artística, cultural,
seria extinto o mecanismo de tem que ter benefício público, possa compartilhar das mudan-
renúncia fiscal. A nova legisla- ou não se justifica”, informou o ças e assim cooperar para que a
ção é uma alteração da Lei Rou- ministro ao jornal. atuação dela seja eficiente.
anet – lançada em 1991 e prevê
incentivo a empresas e indiví- OUTRAS RELEMBRANDO
duos que desejam financiar pro- MODIFICAÇÕES Em dezembro do ano pas-
jetos culturais – que estabelece Uma das maiores novidades sado, o presidente Luiz Inácio
mais quatro faixas de renúncia da recente legislação é a cria- Lula da Silva sancionou a Lei
fiscal. Atualmente existem ape- ção de cinco novos fundos de Complementar 128 que exclui
nas duas, de 30% e 100%, com a financiamento direto à cultura. as produtoras culturais do Sim-
alteração serão acrescidas as de São eles o fundo de audiovisual, ples Nacional. Segundo Lula, tal
60%, 70%, 80% e 90%. de memória e patrimônio, de ci- atitude foi uma “medida emer-
Segundo o MinC, essa mu- dadania e diversidade, de arte e gencial para conter os efeitos da
dança visa evitar que empresas de equalização. Todos eles com crise econômica”, e como solu-
continuem deduzindo do Im- o objetivo de ampliar o leque de ção aumentou a carga tributária
posto de Renda 100% do valor áreas culturais para incentivo. das produtoras culturais, que
destinado a projetos culturais. Outro fato de extrema im- devem pagar entre 16% e 22%
O ministro da Cultura, Juca portância é a manutenção do sobre o valor dos projetos. Com
Ferreira, disse que a abertura Fundo Nacional de Cultura que o Simples Nacional, ou Super-
da consulta pública do texto contará com recurso do Tesou- simples, a carga tributária era
da lei permitirá que entidades ro Nacional e também do Fi- entre 4,5% e 16%, um aumento
do setor, produtores culturais, cart, um fundo de capitalização. considerável.
empresas e artistas façam su- Com a renúncia fiscal, esses ou- Como era de se esperar, hou- Para Juca Ferreira, projetos não serão aprovados sem ações de acessibilidade
gestões ao projeto durante um tros mecanismos de incentivo ve uma forte manifestação dos
período de 45 dias. O ministro ficaram debilitados. produtores que chegaram a cha- Governo, os agentes culturais en- ip9s1234/petition.html) com
ainda irá viajar pelo Brasil para Segundo o ministério, a Lei mar a lei de “pacote bigorna”, viaram à Funarte um abaixo-assi- quase 4 mil assinaturas.
debater essas modificações. Rouanet precisava de meca- e fez com que o presidente da nado, este ano, com mais de 200 A Funarte começou a agir
Quem irá decidir quais as mi- nismos que pudessem acabar Funarte (Fundação Nacional de nomes, questionando a medida e nos bastidores do MinC na
croempresas e agência culturais com a concentração regional Artes), Sérgio Mamberti tomas- chamando a atenção para um di- busca de uma solução que re-
que poderão ter direito às dis- do financiamento e o baixo se um susto. “O impacto na nos- álogo urgente. Outro abaixo-assi- vertesse os efeitos negativos da
tintas faixas de renúncia será a apoio à atividades culturais em sa área não foi previsto e, para nado endereçado ao Congresso e lei complementar. A instituição
Cnic (Comissão Nacional de In- áreas isoladas que, por exem- nós, foi mesmo uma surpresa”, realizado pelo Instituto Pensarte, também participou de algumas
centivo a Cultura). O conselho, plo, contenham baixos Índices disse o presidente à época. ainda está circulando na internet reuniões que cooperaram para a
formado por representações do de Desenvolvimento Humano Em represália à atitude do (http://www.petitionline.com/ modificação na Lei Rouanet.
16 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Marketing Cultural
Instituto Itaú Cultural investe em pesquisa e mapeamento
Foco da instituição é incentivar a cultura e a arte brasileira ajudando a desenvolver trabalhos de diversas áreas como música, dança e teatro

Por Ive Andrade do instituto, lançada em 2004, com

Fotos: Ive Andrade / JT


os conselheiros Johana Albuquer-
Criado há 22 anos, o Institu- que, João Roberto Farias e Fatima
to Itaú Cultural busca encorajar Saadi. No início, apenas São Paulo
ações ligadas à cultura brasileira. e Rio de Janeiro estavam incluídos
Com sede construída em São Pau- nos resultados. Hoje, as referên-
lo nos anos 90, mas ativo em pro- cias da enciclopédia se expandi-
gramas distribuídos em todo País, ram geogracamente e incluem
os investimentos em pesquisa e obras, artistas, diretores, grupos,
mapeamento se destacam dentro espetáculos, cenógrafos, autores
da instituição que guarda espaço e conceitos de Minas Gerais, Per-
para diversas áreas como música, nambuco e Rio Grande do Sul em
arte, cinema, dança e teatro. Os seus quase 800 verbetes, imagens
dois últimos fazem parte de um e maquetes. “É um trabalho contí-
núcleo especíco chamado “Cêni- nuo, diário, com as atualizações no
cas”, criado oito anos atrás. nosso acervo digital. Fazemos um
Diferentemente do que mui- lançamento dos novos verbetes
tos possam pensar, o espaço de- por ano. Os dois últimos tiveram
dicado às artes teatrais dentro da peças que caram em cartaz du-
sede não pretende estrear peças rante duas semanas, com grande
para mantê-las em cartaz durante sucesso”, explica Sônia Sobral.
longos períodos de tempo. A ge- As últimas peças apresentadas
rente do núcleo “Cênicas”, Sônia na sede da instituição em São Pau-
Sobral, explica que a verba dos lo aconteceram justamente para
programas do instituto tem cará- lançar os novos verbetes da enci-
ter nacional e por isso lançar peças clopédia. Em 2008, a companhia
não é a prioridade. “O que temos Os Satyros encenaram “Vestido Logo na entrada o visitante se informa sobre as atrações. Peças teatrais são atrações constantes
na sede da avenida Paulista é um de Noiva”, do nordestino Nelson
teatro com capacidade para 250 Rodrigues, com Norma Bengell.
pessoas, que dividimos com todas Em fevereiro desse ano, para
as outras áreas da instituição. Nos- promover a presença dos minei-
sa missão é, na realidade, organi- ros, pernambucanos e gaúchos
zar e difundir informações sobre na enciclopédia, peças que faziam
o teatro brasileiro, articulando re- referência a Nelson Rodrigues e
lações nacionalmente”. Gilberto Freire e ao autor gaúcho
As peças apresentadas não - Qorpo Santo foram apresentados
cam em cartaz por muito tempo, pelos grupos Os Fofos Encenam
geralmente funcionam como uma e Giramundo, respectivamente.
forma de divulgação e incentivo O processo de criação da peça
para outros programas. “Não so- “Memória da Cana”, baseado em
mos um teatro de pauta. Tudo que textos de Rodrigues e Freire, e
é apresentado precisa estar ligado “As Relações Naturais”, texto de
a um projeto maior e isso nos faz Qorpo Santo, montado em um es-
diferente de qualquer outro espa- petáculo de bonecos dos mineiros
ço da cidade”, completa Sônia. do Giramundo, foram sucesso de
São dois grandes programas público e deram visibilidade aos
que guiam o seguimento teatral do novos verbetes da enciclopédia,
“Cênicas” na maioria de suas ações: apesar de terem permanecido ape-
a Enciclopédia Itaú Cultural de Te- nas duas semanas “em cartaz”.
atro e o Próximo Ato – Encontro
Internacional de Teatro. Ambos FOCO NACIONAL
abrangem a visão nacional do ins- Buscando descentralizar a pro-
tituto e são trabalhos constantes dução cultural no Brasil, o Institu-
para o núcleo de teatro e dança. to Itaú Cultural criou há 12 anos o
programa Rumos. É uma iniciati-
VERBETES ON-LINE va que pretende nanciar, desen- “ Rumos Artes Visuais - Trilhas do Desejo”: 72 trabalhos expostos até o dia 10 de maio no Itaú Cultural
Uma das ações mais importan- volver e identicar os trabalhos
tes do Instituto Itaú Cultural é a artísticos de diversas áreas como LONGE DO MAINSTREAM o mainstream ou companhias cas de comunicação para grupos
Enciclopédia. São cinco delas que cinema, educação, jornalismo cul- O “Próximo Ato – Encontro grandes”, explica a gerente do grandes (open space)”.
reúnem verbetes de diversas for- tural, literatura, música e dança. Internacional de Teatro” chega a núcleo “Cênicas”. Os encontros de troca de ex-
mas de expressão artística, como Já são mais de 700 projetos sua sétima edição neste ano. As Até o nal do ano, o “Próxi- periências acontecem ainda em
artes visuais, literatura e teatro. apoiados e mais de 18 mil traba- reuniões de três dias que incluem mo Ato” terá reunido grupos tea- 2009 em três capitais brasileiras.
Todas são obras on-line, disponí- lhos inscritos. Todo o conteúdo palestras, seminários e fóruns de trais em todas as regiões do Brasil, Brasília, representante da região
veis gratuitamente no site da ins- produzido e nanciado pelo Ru- discussão já foram registradas no com a ajuda de coordenadores em Centro-Oeste, e Belém, represen-
tituição (www.itaucultural.com.br) mos é distribuído gratuitamente Sul, Sudeste e Nordeste do País. cada uma delas que pesquisam e tando os Estados do Norte, rece-
e são constantemente atualizadas para emissoras de televisão e ou- São espaços para trocar experiên- mapeiam os possíveis participan- bem pela primeira vez a reunião
sobre artistas, conceitos e obras. tras instituições. cias entre os prossionais da área, tes para depois fazer o convite e de palestras e seminários em agos-
Além do acesso às enciclopé- Apesar do cenário teatral não articulando o teatro de grupo no organizar o encontro, os conse- to e setembro, respectivamente.
dias, o site da instituição guarda o ter ainda um programa particular Brasil. “Já discutimos muito aqui lheiros são Antônio Araújo, José Em novembro, a capital paulista
maior acervo de artes visuais do no Rumos, Sônia Sobral arma o que seriam esses teatros de gru- Fernando Azevedo e Maria Ten- hospeda o encontro de todos os
Brasil, com quase 30 mil imagens que “o programa ‘Próximo Ato – po brasileiros convidados a parti- dlau. “Uma equipe grande traba- grupos convidados do País para
na Enciclopédia Itaú Cultural de Encontro Internacional de Teatro’ cipar do programa. O que busca- lha conosco para que nenhuma um grande encontro nacional. “É
Artes Visuais e 3,3 mil verbetes caminha para se tornar um Rumos mos é articular relações com os região que sem representação”, uma oportunidade para trocar ex-
entre todas as enciclopédias. em breve, já que começa a ser um grupos engajados, investigativos, garante Sobral. “Durante os en- periências entre grupos grandes
A Enciclopédia Itaú Cultural encontro de caráter nacional, em teatros de pesquisa mesmo. Não contros, como são muitas pessoas que trabalham com o teatro”, -
de Teatro é uma das mais antigas todas as regiões do País”. são encontros direcionados para no mesmo espaço, usamos técni- naliza Sônia Sobral.
Jornal de Teatro Abril de 2009
17
Técnica
Perucas: saiba onde elas sempre são moda
Desconhecido por muitos, o setor de perucaria mostra-se um componente fundamental às produções teatrais, principalmente às líricas

Por Bruno Pacheco

Claudia Meyer

Bruno Pacheco
As perucas, apliques e
acessórios para os cabelos es-
tão presentes em quase toda
produção teatral. Seja ela de
grande ou pequeno porte,
com orçamento limitado ou
não, é praticamente indispen-
sável a utilização desses obje-
tos de indumentária no pro-
cesso de caracterização dos
personagens e na ambientação
do espetáculo. No teatro líri-
co, por exemplo, existe um se-
tor especialmente para cuidar
deste importante item: a peru-
caria. E o prossional respon-
sável por esta área, conhecido
como peruqueiro, precisa es-
tar atento às novidades para se
Divina: 30 anos dedicados às perucas do Teatro Municipal do Rio
adequar aos orçamentos sem
prejudicar a qualidade da apre-
sentação. Por conta disso, ele NO CURRÍCULO “LA TRAVIATA” COM ZEFIRELLI
estuda o roteiro, faz pesquisas
e, em parceria com o guri- Dos 100 anos que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro completa agora
nista, confecciona as perucas em 2009, a peruqueira argentina Divina Lujan Soares participou ativamente
deles nos últimos 30. Sem perder o sotaque portenho, nestas três décadas
de acordo com o que está sen- Perucas de época: é preciso pesquisa e estudo para confeccioná-las à frente do setor de perucaria no teatro carioca, Divina acumula muitas
do produzido. Um trabalho histórias. Nesta conversa com o Jornal de Teatro, ela fala da importância do
técnico e dispendioso, mas es- já produziu, mas não a paixão produções de fora também teatro e das perucas em sua vida e da experiência única de ter trabalhado
sencial a qualquer ópera, balé por confeccioná-las e a ne- contribuiu para aprendermos com o italiano Franco Zefirelli no Brasil.
e musical de sucesso. cessidade de estar envolvida mais sobre o universo das pe-
O uso moderno de perucas no processo de evolução da rucas”, acredita. Quando o teatro entrou na sua vida? E as perucas?
começou na França de Luiz indumentária. “Já z peru- Divina explica que há uma Eles entraram praticamente juntos. Eu trabalhava como cabeleireira na
XIII, mas a origem do artefato cas até com botões”, garante. grande diferença entre uma pe- Argentina e sempre gostei muito de cabelos. Estudava e pesquisava sobre
se deu em civilizações mais an- Formada pelo Instituto do ruca para teatro e as chamadas eles. Eu queria mais e decidi me preparar para entrar no Instituto do Teatro
tigas. No século IV a.C, mulhe- famoso Teatro Cólon de Bue- perucas sociais, usadas fora dos Colón, que é um teatro lírico muito conhecido. Fui aprovada e estudei histó-
res gregas já usavam apliques de nos Aires, fundado em 1908 e palcos. “São completamente ria da arte e várias áreas dos bastidores como caracterização, iluminação,
cabelos articiais. E no teatro? o primeiro do gênero na Amé- diferentes. As perucas sociais indumentária e, é claro, perucaria. Foi quando eu aprendi a diferenciar os
“Se consideramos as cerimônias rica do Sul, Divina “fez a cabe- são feitas com elástico para se tipos de peruca, as formas de costurar, pentear, arrumar. Também dei aulas
religiosas como formas embrio- ça” de célebres personagens das adequarem a qualquer pessoa e e trabalhei em publicidade.
nárias da atividade teatral, en- mais importantes óperas e ba- a peruca teatral é confecciona-
contramos a peruca na cabeça lés apresentados no Municipal da sob medida, exclusivamente Como chegou ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro?
de reis e sacerdotes egípcios na nas últimas três décadas como para determinado ator, consi- Eu tive a sorte de ficar trabalhando no Teatro Colón depois de formada.
execução de ritos sagrados e, na “Turando”, “Aida” e “La Tra- derando as suas características Foram dois anos adquirindo experiência e contatos. Em 78, surgiu o convite
Grécia, em procissões ao Deus viata” (dirigido pelo cineasta e de acordo com a maquiagem e do Hugo de Ana, que na época era o diretor artístico do Teatro Municipal,
Dioniso (não confundir com os cenógrafo italiano Franco Ze- o gurino. Tudo tem que estar para que eu e mais outros profissionais argentinos viéssemos para o Brasil
históricos Dionísios)”, explica relli). Ainda estão no currículo combinando”, ressalta. fazer parte da chamada Central Técnica de Produção. O Municipal estava
Maria Sutter, professora e coor- sendo reaberto depois de três anos em reformas de modernização. Vieram
de Divina alguns trabalhos em Com orçamentos muitas
ótimos profissionais para cada setor do teatro e o objetivo era formar uma
denadora da área de letras clás- produções importantes do ci- vezes apertados e em tempos escola de teatro aqui. De acordo com o contrato, ficaríamos por seis meses
sicas da PUC - Rio. nema nacional como “Carlota de responsabilidade ambiental apenas. Sou a única daquele grupo que está até hoje.
No Brasil, as perucas che- Joaquina”, de Carla Camuratti, e econômica, é natural que o
garam à sociedade com a e da televisão, na minissérie “Os reaproveitamento dos ma- Qual era a realidade do Municipal quando vocês chegaram?
corte portuguesa e no teatro Maias”, da Rede Globo. Tam- teriais seja necessário. “Atu- Não havia muita coisa. Até a nossa chegada existia muito pouco conhe-
com as primeiras companhias bém integra a equipe da carna- almente temos cerca de 30 cimento nessas áreas. Começou conosco. O teatro ficou fechado pois es-
europeias, que se apresenta- valesca Rosa Magalhães, sendo dias para deixar tudo pronto. tava degradado. Eram feitos apenas shows e bailes de carnaval. Iniciamos
vam no País como a Comedy responsável por inovações na Tudo depende do material muitos profissionais aqui.
Francese. Na década de 1970, a maneira de produzir perucas disponível, da matéria-prima
peruca viveu o seu momento para o carnaval carioca. que será usada, do orçamento. Quantas perucas chega a fazer numa produção?
de maior popularidade. Era a Segundo Divina, quando Gosto de inovar, usar mate- Varia muito. Já fiz mais de 500.
moda do momento e a maio- ela chegou ao Brasil, a peruca- riais diferentes. Já z perucas
ria das mulheres queria ter a ria não existia no Teatro Mu- com botões, borracha...”, diz. Já presenciou atores confundirem e trocarem de peruca em plena apre-
sua. Nos anos 1980, caiu em nicipal. “Eu montei o setor Segundo Divina, todas as pe- sentação?
declínio e, atualmente, passa e ensinei durante esses anos rucas se reaproveitam. “Elas Acontece muito deles colocarem de trás para frente. É muito difícil ter um
por uma fase de revitalização. vários assistentes. Muitos tra- duram bastante, dependendo solista que goste de usar peruca. Eles reclamam, dizem que esquentam demais.
Seja de bras vegetais, crinas balham hoje em televisão, no de como são guardadas e os Eles preferem deixar o cabelo de acordo com o personagem. O bailarino até
de cavalos, os de lã, cabelos carnaval e no teatro”, diz. Nes- cuidados que se tem na utili- gosta de usar, mas por dançar muito ele perde a peruca. Já vi uma peruca voar
naturais ou os sintéticos, elas te tempo também, houve uma zação. O suor, por exemplo, em pleno balé e o ator era careca. Não teve jeito, a platéia disparou a rir.
sempre ressurgem como um evolução desta técnica no Bra- queima o brilho natural do ca-
recurso válido tanto na vida sil. “Quando cheguei ao Mu- belo. Eu preservo muito bem Com tantas produções e trabalhos no currículo, quais você classifica como
particular como no palco. inesquecíveis?
nicipal já havia trazido muita as perucas do Municipal. Lavo,
Trabalhar com Franco Zefirelli foi um momento único. Por tudo que ele
A argentina Divina Lujan coisa, mas tinha a diculdade embalo e guardo para outras representa e me ensinou. Ele é uma pessoa ótima e simpática, porém muito
Soares é peruqueira do Teatro para se achar boa matéria-pri- produções. Mas é importante severa. Conhece muito sobre cabelos. E ele nos ajudava pessoalmente e
Municipal do Rio de Janeiro ma. Hoje conseguimos cabe- comprar cabelo de qualidade deu muitas dicas. Passamos 20 dias dentro do teatro montando o espetá-
há 31 anos. Diz que perdeu los de qualidade aqui no País. para as perucas. Isso ajuda culo “Traviata” e convivendo com ele.
as contas de quantas perucas A troca de experiências com muito”, naliza.
18 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Técnica
IBTT visa aprimorar conhecimento especíco
Criado no final de 2008, o Instituto Brasileiro de Tecnologia Teatral propõe o debate, a pesquisa e a formação em detalhes técnicos

Por Felipe Prestes capital paulista, será oferecido


Sxc

um seminário sobre iluminação


Facilitar o acesso ao conhe- e trilha sonora para espetáculos,
cimento especíco da área que com a participação de Beto Bruel
envolve iluminação, sonoplastia, e Guto Gevaerd. Os dois foram
cenograa e gurino. Esse é o responsáveis, respectivamente,
objetivo do IBTT (Instituto Bra- pela iluminação e trilha sonora
sileiro de Tecnologia Teatral), dos espetáculos “Av. Dropsie” e
conhecido como tal a partir do “Não Sobre o Amor”, ambos da
nal de 2008. Fundador da ins- Sutil Companhia de Teatro, diri-
tituição, Milton Bonfante conta gida por Felipe Hirsch.
que tudo começou há cerca de
cinco anos, quando iluminadores Milton Bonfante começou a
criaram um grupo para debater O Instituto Brasileiro de Tecnologia Teatral existe há cinco anos e foi idealizado por iluminadores trabalhar com iluminação na dé-
e trocar ideias sobre a prossão. cada de 60 com um dos pionei-
“Ao grupo foram se somando ras. “Já estamos trabalhando para rio da Educação. “Hoje, o que há busca mapear essas peculiarida- ros no País, Giancarlo Bortolotti.
outros prossionais, como ce- digitalizar, mas há entraves e ain- são cursos técnicos de cada uma des am de buscar um diálogo Há 25 anos, com o mercado
nógrafos e gurinistas, até que da deve demorar um pouco para dessas áreas separadamente. Os possível entre a classe em todo o brasileiro já mais amadurecido,
chegamos ao Instituto”. ocorrer”, explica Bonfante. cursos superiores de artes cênicas País. “Em São Paulo, você pode abriu empresa própria, tendo
Visando o aprimoramento, o Além dessa atividade, o gru- oferecem poucas opções também oferecer um curso para utiliza- trabalhado em eventos como
po conta com 800 pessoas ca- nesse tipo de conhecimento”, re- ção de equipamentos de última a Bienal de Dança de Santos e
IBTT criou um acervo de livros
dastradas para discutir a área via lata Bonfante, que atualmente dá geração. Em Tocantins, você vai em espetáculos como “A Bela e
e teses sobre a área, que já serviu
a Fera” e “Fantasma da Ópera”.
de suporte para pesquisadores de internet. A busca por conheci- aulas no Senac-SP. se deparar com outros desaos”,
É docente há mais de 15 anos,
algumas localidades do País. En- mento não cará restrita a essas Para levar por todo o Brasil exemplica.
tem dois títulos publicados e es-
tretanto, o acervo ainda não pode iniciativas. O instituto pretende o aprimoramento é necessário No dia 6 de abril, às 19h, irá creve regularmente para sites,
ser digitalizado devido a questões agrupar a tecnologia teatral como vencer entraves que dizem res- ocorrer o primeiro evento públi- blogs e periódicos que tratam de
burocráticas que dizem respeito à um todo em um curso e levar a peito às diferenças regionais. co do instituto. No Teatro do sua especialidade.
autorização dos autores ou edito- proposta inclusive até o Ministé- Bonfante conta que o IBTT Ator (praça Roosvelt, 172), na

Sindicatos
Sated-SP apoia categoria artística e busca melhorias
Entidade tem sua história marcada por lutas e visa benefícios aos profissionais, como a criação de um retiro e promoção com a Copa de 2014

Por Fábio Luís de Paula nossa categoria”. ticipado e promovido. Esta luta
Divulgação

O Sated foi criado em 18 de nunca acaba”.


Toda categoria trabalhadora dezembro de 1934, numa época Hoje dois pontos importan-
precisa de uma representação onde havia uma grande movi- tes encabeçam a lista de priori-
forte para lutar por seus direitos mentação por conta do cenário dades: ajudar associados com
e criar um espaço de encontro político do Brasil. E o surgimen- a questão da moradia e tocar o
comum entre os prossionais to do sindicato foi uma proposta projeto da “Casa do Sated”, que
da mesma área. É por isso que de atores, como Procópio Fer- vai ser uma espécie de retiro
existem os sindicatos. Eles são reira e outros, para que a pro- para abrigar aposentados sem
entidades sem ns lucrativos que ssão fosse ocializada. “Claro condições de trabalho e susten-
defendem os seus associados. que houveram mudanças que to. Lígia pontuou que está tudo
No mundo do teatro não é dife- acompanharam o tempo e a polí- delimitado para esse plano. Será
rente. Há inúmeros preconceitos tica ao longo desses anos. Temos um condomínio em Mairiporã,
pela classe artística, que às vezes a Lei 6.533, que regulamenta a com serviços médicos e ativi-
ainda é julgada como “à toa”, e é atuação, e sempre buscamos atu- dades que pretendem manter a
contra isso que o Sated-SP (Sin- alizar e reformular nosso estatu- mente e o corpo saudáveis, tudo
dicato dos Artistas e Técnicos to. A última vez que o zemos custeado pela entidade.
em Espetáculos de Diversões do foi em 2004”, destacou Lígia. “É nossa obrigação cuidar
Estado de São Paulo) trabalha. desses prossionais que contri-
Lígia de Paula Souza, presi- CAMPANHAS E PROJETOS buíram com nossa categoria e
dente do Sated-SP desde 1986, A presidente comentou que com o Sated. Eles cam idosos
explica que é uma organização o Sated possui em seu currícu- e as oportunidades de emprego
de representação de todos os lo uma série de projetos. Um cam mais raras. É uma área de Lígia de Paula e Mário Vaz, presidente e diretor do Sadet respectivamente
prossionais com base territorial deles foi a Campanha para a instabilidade e temos de saber
no Estado de São Paulo somen- Prevenção da Aids, que come- contornar isso com destreza”. com palestras e apresentações. “Estamos agora nos preocu-
te. “O sindicato não serve apenas çou em 1987 e perdura até hoje. Pra se associar, basta ir até lá se pando com a Copa, porque no
para direitos trabalhistas, como Eles também lutaram contra o COPA DE 2014 inscrever, munido de documen- período dos jogos muitos turis-
o piso salarial, mas também para problema de tráco de pessoas, O Sated-SP fica na região tação básica, registro profissio- tas estarão no Estado e os espe-
cuidar da saúde, da mente e para onde falsos recrutadores de ar- central da cidade, na avenida nal (DRT) e três fotos sorrindo. táculos serão, com certeza, uma
ser um farol de atenção à evo- tistas levavam prossionais para São João, 1086, no quarto an- É obrigatório ser do Estado de opção para eles. Hoje os teatros
lução e progresso social. Nosso serem literalmente escravos fora dar, de fácil acesso por metrô e São Paulo e tem que contribuir estão lotados graças ao turismo
olhar está sempre em busca de do País. “Foram inúmeras bata- ônibus. Possui uma programa- com a taxa de um salário míni- e a Copa vai ser uma vitrine im-
novos mecanismos e melhorias à lhas que me orgulho de ter par- ção com cursos grátis e sessões mo por ano. portantíssima!”, concluiu.
Jornal de Teatro Abril de 2009
19
Danilo Braga
Cursos e Oficinas

A Escola de Arte Dramática , em São Paulo, ainda busca seu espaço na USP. Processo de seleção é rígido, em quatro partes e o número de candidatos por vaga pode chegar a 25

Mais do que ensinar


Arquivo A. Paschoal
A EAD, escola que revolucionou teatro brasileiro, faz 61 anos
este mês e ganhará, em agosto, livro contando a sua história

Por Danilo Braga Nanci, que foi formada um casarão velho na rua Ma-
pela EAD, contextualiza o jor Diogo, bairro da Bela Vis-
Em uma São Paulo que se nascimento da escola na esfera ta, Zampari criou o TBC (Te-
movia pelo ânimo do moder- burguesa do nal dos anos 40, atro Brasileiro de Comédia).
nismo de 1922, o teatro ain- detentora da riqueza de valo- Equipado com 18 camarins,
da era considerado uma “arte res culturais no País. Segundo duas salas de ensaio, oficinas
menor”. O que os paulistas a pesquisadora, o teatro sofreu de montagem de cenário, al-
não esperavam era que a sua um processo de estagnação moxarifado, sala de leitura e
terra da garoa se transforma- até o nal da década de 30, equipamentos modernos de
ria em um pólo teatral de pro- não participando, inclusive, áudio e iluminação, o TBC Aula de Comédia ministrada por Cacilda Becker na EAD
porções internacionais. Era da Semana de Arte Moderna. era voltado especialmente
maio de 1948, em uma sala Um de seus principais auto- para o teatro amador. dessa à aula, às 19h. Logo, Mesquita so tem 700 horas/aula, mais
alugada no Externato Elvira res, Oswald de Andrade, só maneira, o segundo andar do fez um acordo com grandes do que o necessário para um
Brandão, na alameda Jaú. Lá, escreveria teatro em 1936. A prédio passava a ser a nova empresas alimentícias que pas- curso técnico segundo especi-
no segundo dia do mês, nascia tal “arte menor” não decolava casa da EAD. saram a fornecer suprimentos cações do MEC. A professo-
a escola que em alguns anos nem mesmo no Rio de Janeiro É na EAD que alguns tex- para que fosse organizado um ra Nanci acredita que, por não
formaria a primeira frente de dos anos 40, que era o Cen- tos estrangeiros, principalmen- “sopão” para os alunos, sem ser considerado um curso de
atores brasileiros prontos para tro de Produção Cultural no te europeus, foram encenados custo algum. graduação e não fazer parte
trazer para a terra do pau bra- Brasil. No m de 43, a ence- aqui no País. O alemão Bertolt Em 1960, a escola brilhava. da Fuvest (órgão que aplica
sil o novo teatro, que não seria nação de “Vestido de Noiva”, Brecht, o francês Alfred Jarry, o Agregava o uso da cenograa, o vestibular para ingresso na
mais uma arte diminuta e vista de Nélson Rodrigues, foi alvo norte-americano Sam Sheppard também inédita no País, e em universidade), o processo sele-
com maus olhos. de críticas severas, que levou e o espanhol Ramón Maria del 61 incluiu em seu currículo os tivo próprio da EAD benecia
A EAD (Escola de Arte o cenário do teatro brasileiro Valle-Inclán tiveram suas obras cursos de crítica e dramatur- o curso. “São alunos que en-
Dramática) surgiu com a ne- ao desânimo. Mas não Al- representadas no Brasil pelo gia. A escola tinha o desejo e traram pelo talento”.
cessidade e a demanda da bur- fredo Mesquita, que em 1942 palco e equipe da EAD. a capacidade para abraçar toda O processo seletivo é dado
guesia paulista, que sentia falta passou a incorporar a gura Em meados de 1950, o es- a revolução teatral que o País em quatro partes. Em sua
do teatro no Brasil. Na Euro- do diretor, até então inédito paço que o TBC oferecia já estava passando. Isso, porém, primeira fase, o aluno é sub-
pa, principalmente em Paris, no Brasil, na produção dra- era demasiado pequeno para não se realizaria tão cedo. metido a um exame prático,
a arte dramática estava em mática do Grupo de Teatro as necessidades da escola, que O golpe militar de 1964 onde deve escolher uma cena
ascensão, recebendo destaque Experimental. foi obrigada a mudar-se para chegou e afetou a escola, que e apresentá-la a uma banca
mundial. A elite burguesa de Alfredo Mesquita sabia que a sua primeira sede própria começou a ter problemas nan- de professores. Na segunda,
São Paulo, ainda respirando a o modelo parisiense de se en- Foi Alfredo que por muito ceiros. Em 1966, Alfredo Mes- o aluno deve fazer um exame
Semana de 22 e a Revolução sinar teatro não funcionaria tempo custeou a existência da quita não consegue mais manter teórico sobre os textos que
de 30, tinha essa demanda e no Brasil, mas muitas coisas Escola de Arte Dramática. As a EAD e então a vende à USP devem ser lidos previamente e
tinha também alguém para foram aproveitadas do ensinar aulas eram direcionadas não à (Universidade de São Paulo). elaborarem uma redação. No
alimentar esse desejo: dr. Al- europeu. Ele acreditava que burguesia, mas à classe média Até então, a prossão de terceiro, o aluno deve apresen-
fredo Mesquita, formado pela para mudar o teatro brasileiro e baixa. Ministradas à noite, ator não era considerada váli- tar uma cena dentro de uma
Faculdade de Direito do Lar- era preciso mudar o ator. Esse elas tinham o propósito ex- da, o que fazia com que a EAD lista de peças determinada. Na
go São Francisco e fã de Eça não poderia exercer a função clusivo de que personagens, fosse um curso de ensino quarta fase, o candidato reali-
de Queiroz. se não tivesse a cultura e a dis- futuros atores da classe traba- médio, incluindo as matérias za um estágio de quatro dias
Mesquita já tinha envolvi- ciplina necessária para tal. É lhadora, pudessem investir em obrigatórias para tal. No - onde são testadas a voz, corpo
mento prossional com a dra- então que, na sala emprestada futuro como ator e, incons- nal, a carga horária disponível e interpretação. De cerca de
maturgia. De 1933 até 1937 foi pelo Externato Elvira Bran- cientemente, investir na dra- para as matérias especicas de 500 inscrições anuais, são se-
crítico teatral de “O Estado de dão, Alfredo Mesquita plantou maturgia brasileira. Apesar de dramaturgia não era suciente lecionados 20 alunos para in-
S. Paulo”, escreveu e encenou a semente do novo teatro em não ser gratuita, o valor que os para a formação de um ator, o gressar na escola. O candidato
peças, livros e contos, além de São Paulo. Outras personagens alunos pagavam era muito pe- que de certa forma prejudicou deve ser maior de idade.
ter sido o fundador do GTE começam a surgir na história queno. Tivemos acesso a um o curso até 1982, quando foi Em agosto de 2009, Silvana
(Grupo de Teatro Experimen- da EAD, que se confunde com recibo, datado de 18 de junho regulamentado. Garcia publicará um livro pela
tal), que mais tarde origina a história da dramaturgia bra- de 1948, que vinha descrita a Edusp, ainda sem título, sobre
o TBC (Teatro Brasileiro de sileira como um todo. quantia de Cr$ 130. ATUALIDADE a trajetória da EAD. A obra
Comédia). O grã-no queria Ainda em 1948, Franco Nanci contou que muitas Ainda hoje, a Escola de será composta por ensaios e
elevar o nível da dramaturgia Zampari fez uma aposta no vezes os alunos chegavam com Arte Dramática não tem mui- imagens que nos farão voltar
brasileira, como nos conta a teatro que é parte essencial da muita fome, pois não tinham to espaço na USP. Dividindo no tempo na história da escola
professora e pesquisadora da escola. Associado a um grupo tempo (e muitas vezes dinhei- espaço com o curso de gradu- que construiu o teatro no Bra-
EAD, Nanci Fernandes. da elite paulistana e usando ro) para jantar antes de chegar ação em Artes Cênicas, o cur- sil como tal o conhecemos.
20 Abril de 2009 Jornal de Teatro

Oportunidades
Ocina Cultural Oswald de Andrade Oficina Cultural Amácio Mazzaropi
Endereço: Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo - SP Avenida Rangel Pestana, 2401 - Brás - São Paulo/SP
Telefone: 11 3221 5558 | 3222 2662 Tel: (11) 2692-5166 - 2796-2635

FORMAÇÃO DE PÚBLICO - ENSAIO ABERTO DO OFICINA “O AIKIDÔ E O CORPO DO ATOR” - 30 vagas OFICINA DE INTERPRETAÇÃO TEATRAL “BACANTES: UMA FORMAÇÃO DE PÚBLICO – APRESENTAÇÃO DO
ESPETÁCULO “SÓ” E PROCESSO DE CRIAÇÃO - 120 vagas Coordenação: Renata Mazzei ORGIA DO PODER” – 20 vagas ESPETÁCULO “ESTÃO VOLTANDO AS FLORES” E
Coordenação: Rachel Brumana 22/4 a 24/6 - segundas e quartas-feiras - 14h às 17h Coordenação: Rui Madeira AULA ABERTA – 40 vagas
13/4 - segunda-feira Público-alvo: interessados com conhecimento interme- 13 a 28/4 – segunda a sexta-feira – 16h30 às 21h30 Coordenação: Cia. Pompa Cômica
Apresentação: 17h30 às 18h30 - 80 vagas diário na área / Faixa etária: adultos Público alvo: interessados com conhecimento interme- Apresentação
Elenco: João Miguel Seleção: carta de interesse e currículo diário 30/4 – quinta-feira – 17h30 às 18h30
Faixa etária: adultos Inscrições:1 a 14/4 Faixa etária: adultos Público alvo: interessados em geral
Público alvo: interessados em geral Seleção: carta de interesse e currículo Seleção: primeiros inscritos
Processo de Criação - 18h30 às 21h30 - 40 vagas OFICINA DE MAQUIAGEM E CARACTERIZAÇÃO Inscrições: 1/4 a 10/4 Aula aberta
Mediação: Alvise Camozzi TEATRAL - 25 vagas 30/4 – quinta-feira – 18h45 às 21h45
Público alvo: interessados com conhecimento Coordenação: Atílio Beline Vaz OFICINA DE INTERPRETAÇÃO “A POESIA E A CENA” Público alvo: iniciantes na área
intermediário na área 25/4 a 25/7 - sábados - 14h às 18h – 30 vagas Faixa etária: adolescentes e adultos
Faixa etária: adultos Público-alvo: iniciantes na área Coordenação: Cia. Do Tijolo Seleção: primeiros inscritos
Seleção: carta de interesse Faixa etária: adolescentes e adultos 27/4 a 17/6 – segundas e quartas-feiras – 18h30 às Inscrições: 1/4 a 29/4
Inscrições:1 a 12/4 Seleção: carta de interesse 21h30
Inscrições:1 a 17/4 Público alvo: interessados com conhecimento interme- OFICINA DE TEATRO DE RUA –30 vagas
OFICINA DE CLOWN “NÚMEROS TRADICIONAIS diário na área Coordenação: Grupo Buraco D’Oráculo
EUROPEUS” - 25 vagas OFICINA DE JOGOS, CANÇÕES E TEXTOS DE TEATRO Faixa etária: a partir de 16 anos 6/5 a 26/6 – quartas e sextas-feiras – 19h às 21h
Coordenação: Caco Mattos - 30 vagas Seleção: currículo e carta de interesse Público alvo: iniciantes na área
16/4 a 25/6 - terças e quintas-feiras - 18h30 às 21h30 Coordenação: Cibele Troyano Inscrições: 1/4 a 22/4 Faixa etária: adolescentes e adultos
Público alvo: interessados com conhecimento interme- 27/4 a 27/7 - segundas-feiras - 14h às 18h Seleção: carta de interesse
diário na área Público alvo: iniciantes na área FORMAÇÃO DE PÚBLICO – APRESENTAÇÃO DO Inscrições: 1/4 a 30/4
Faixa etária: adultos Faixa etária: adolescentes ESPETÁCULO “CONCERTO DE ISPINHO E FULÔ” E
Seleção: carta de interesse Seleção: aula-teste dia 13/4 - 14h às 18h AULA ABERTA – 60 vagas OFICINA DE INICIAÇÃO TEATRAL – 30 vagas
Inscrições:1 a 13/4 Inscrições:1 a 12/4 Coordenação: Cia. Do Tijolo Coordenação: Gloriete Luz
Apresentação 5/5 a 28/7 – terças-feiras – 14h às 17h
OFICINA DE DRAMATURGIA “INICIAÇÃO AO TEATRO DO OFICINA DE DIREÇÃO TEATRAL - 25 vagas 23 a 26/4 – quinta a sábado – 17h30 às 18h30 e do- Público alvo: iniciantes na área
ABSURDO” - 25 vagas Coordenação: Marcelo Marcus Fonseca mingo – 17h às 18h Faixa etária: adolescentes e adultos
Coordenação: Nicolás Monasterio 27/4 a 30/6 - segundas e terças-feiras - 18h30 às 21h30 Público alvo: interessados em geral Seleção: primeiros inscritos
16/4 a 30/7 - quintas-feiras - 18h30 às 21h30 Público alvo: interessados com conhecimento interme- Seleção: primeiros inscritos Inscrições: 1/4 a 4/5
Público alvo: interessados com conhecimento interme- diário na área / Faixa etária: adultos Aula aberta Local: Unidade Básica de Saúde Doutor Manoel Saldiva
diário na área Seleção: currículo e carta de interesse 23 a 26/4 – quinta a sábado – 18h45 às 21h45 e do- Rua Sampson, 61 – Brás
Faixa etária: adultos Inscrições:1 a 22/4 mingo – 18h15 às 21h15
Seleção: carta de interesse e currículo Público alvo: iniciantes na área OFICINA DE TEATRO PARA INICIANTES – 30 vagas
Inscrições:1 a 12/4 OFICINA DE PREPARAÇÃO VOCAL PARA ATORES - 25 vagas Faixa etária: adultos Coordenação: Fabiana Vasconcelos Barbosa
Coordenação: Paula Carrara Seleção: primeiros inscritos 5/5 a 28/7 – terças – 18h30 às 21h30
OFICINA DE DRAMATURGIA E ATUAÇÃO - 30 vagas 7/5 a 18/6 - segundas e quintas-feiras - 10h às 13h Inscrições: 1/4 a 22/4 Público alvo: iniciantes na área
Coordenação: Raquel Anastásia e Valderez Cardoso Gomes Público-alvo: interessados com conhecimento interme- Faixa etária: adolescentes e adultos
16/4 a 25/6 - terças e quintas-feiras - 18h30 às 21h30 diário e avançado na área / Faixa etária: adultos OFICINA DE TEATRO BASEADA NAS OBRAS DE MURILO Seleção: primeiros inscritos
Público alvo: interessados com conhecimento interme- Seleção: currículo, carta de interesse e entrevista dia RUBIÃO – 30 vagas Inscrições: 1/4 a 4/5
diário na área 4/5 - 10h às 13h Coordenação: Expedito Araújo
Faixa etária: adultos Inscrições:1 a 30/4 29/4 a 16/7 – quartas e quintas-feiras – 18h30 às 21h30 OFICINA DE INICIAÇÃO TEATRAL – 30 vagas
Seleção: entrevista dia 14/4 - 18h30 às 21h30 Público alvo: interessados com conhecimento interme- Coordenação: Dione Leal Pettine
Inscrições: 1 a 13/4 FORMAÇÃO DE PÚBLICO - APRESENTAÇÃO DO diário 9/5 a 25/7 – sábados – 14h às 17h
ESPETÁCULO “BEM LONGE DA TRAÇALÂNDIA” E Faixa etária: adolescentes e adultos Público alvo: iniciantes na área
OFICINA “LABORATÓRIO INTERNACIONAL DE AULA-ABERTA DE JOGOS TEATRAIS - 100 vagas Seleção: carta de interesse e currículo Faixa etária: adolescentes
INTERPRETAÇÃO E DRAMATURGIA” - 15 vagas Coordenação: Aline Valencio Lemes (Cia. Pirilampo de Inscrições: 1/4 a 24/4 Seleção: primeiros inscritos
Coordenação: Alvise Camozzi e Letizia Russo Teatro) Inscrições: 1/4 a 8/5
22 a 30/4 - quarta-feira a sexta-feira - 15h às 21h e 8/5 - sexta-feira - 15h às 19h OFICINA DE TEATRO “MAZZAROPIS” – 30 vagas
sábado - 13h às 18h (primeira semana) e segunda a Apresentação do Espetáculo: 15h às 16h - 60 vagas Coordenação: Arnaldo D’Ávila e Jedsom Kárta OFICINA DE TEATRO – 30 vagas
quinta-feira - 15h às 21h (segunda semana) Público alvo: interessados em geral 11/5 a 27/7 – segundas e terças-feiras – 18h30 às 21h30 Coordenação: Denise Maria Guilherme
Público alvo: interessados com conhecimento intermediário Aula-aberta: 16h às 19h - 40 vagas Público alvo: interessados com conhecimento interme- 9/5 a 25/7 – sábados – 14h às 17h
Faixa etária: adultos Público alvo: iniciantes na área diário na área Público alvo: iniciantes na área
Seleção: carta de interesse e currículo e posterior en- Faixa etária: crianças Faixa etária: adultos Faixa etária: crianças
trevista com pré-selecionados (em data a ser definida) Seleção: primeiros inscritos Seleção: aula teste – 5/5 - 18h30 às 21h30 Seleção: primeiros inscritos
Inscrições: 1 a 17/4 Inscrições:1/4 a 7/5 Inscrições: 1/4 a 27/4 Inscrições: 1/4 a 8/5

Classificados
CHAMA DA ARTE ESPAÇO CULTURAL ESTUDIO DE GRAVAÇÃO
ALUGO AMPLAS SALAS PARA ENSAIO DE DANÇA E TEATRO CHARLES DALLA - COMPOSITOR,
ÓTIMA LOCALIZAÇÃO E ESTACIONAMENTO FÁCIL DIRETOR MUSICAL, SERVIÇOS DE
SEGURANÇA E INFRAESTRUTURA ESTÚDIO
FONES: (11) 3862-0231 7652-2578 (COM JUÇARA) -TRILHA SONORA E TRILHA SONORA ORI-
RUA SALES GUERRA, 199 (ALTURA DO 1.450 GINAL PARA TEATRO/TEATRO MUSICAL
DA RUA AURÉLIA - VILA ROMANA) -ARRANJOS E ORQUESTRAÇÕES
-DIREÇÃO VOCAL E
DIREÇÃO DE CANTORES
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Jornal de Teatro Abril de 2009
21
Vida e Obra

Ida Gomes, uma estrela que sempre vai brilhar


Atriz, falecida no último dia 22 de fevereiro, deixa um legado de 65 anos dedicados à interpretação no teatro, na TV e no cinema
Fotos de arquivo de família

Acima, Ida Gomes em “O Avarento”, em parceria com Jorge Dória, e aos lados em outros momentos da carreira

Por Daniel Pinton consagradas como Joan Crawford, sob holofotes diziam que atriz
Bette Davis e Gladys Cooper. não era mulher “direita” na época
Pela arte viveu, com a arte em que começou sua carreira.
se despediu. Assim pode-se re- TALENTO NOS PALCOS
sumir a vida de uma das atrizes A estreia de Ida Gomes nos HOMENAGEM
mais atuantes do cenário artístico palcos foi como integrante do Em sua família, deixa dois
brasileiro. Ida Szafran, atriz que Teatro do Estudante, com Pas- atores: o irmão Felipe Wagner
se tornou conhecida como Ida choal Carlos Magno. A atriz e a sobrinha Débora Olivieri.
Gomes, deixou a vida e os palcos ainda se destacou nas peças “O “Começamos a trocar nossas
no último dia 22 fevereiro, aos 85 Violinista no Telhado”; “No Na- anidades e experiências depois
anos, mas certamente deixou um tal a Gente vem te buscar”, pela que me mudei para o Rio de Ja-
legado de talento e amor, fruto de qual ganhou o Prêmio Apetesp neiro, em 1999, e, nesses 10 anos,
65 anos dedicados à interpreta- de melhor atriz coadjuvante; “O convivemos como mãe e lha.
ção, para todos aqueles que veem Avarento”; “Tio Vânia”; “Super Íamos produzir nosso primeiro
nas artes cênicas um caminho Mãe”; “Lili”; “O Anjo Negro”; espetáculo encomendado: “Idas
para se viver. “Proibido Amar”, onde recebeu e Vindas”. Ela era uma mulher
Conhecida do grande públi- uma indicação como melhor atriz extraordinária, inteligente, inte-
co pela interpretação marcan- do Prêmio Sharp e “7 – O Musi- lectual e moderna. Lia um livro
te da vereadora Dorotéia, uma cal”, com a qual Ida se despediu ou dois por semana, sempre em
das três irmãs Cajazeiras em “O dos palcos e do público mostran- inglês, falava mais de oito línguas,
Bem-Amado”, de Dias Gomes, do uma determinação e pros- assistia a todas às peças teatrais e
Ida nasceu em Krasnik, na Polô- sionalismo raros no meio artísti- lmes”, contou Débora.
nia, e foi criada até os 13 anos na co. Mesmo bastante debilitada, a Ida Gomes receberia no últi-
França. Depois de passar pela In- atriz participou de apresentações mo dia 10 uma grande homena-
glaterra, veio para o Brasil onde e ensaios até não ter mais forças. gem durante o 21º Prêmio Shell
começou sua carreira como atriz “A gente vai sentir uma grande de Teatro. A atriz se mostrava bas-
de rádio passando por diversas falta dela. Ela era uma excelente tante entusiasmada com a honra-
emissoras como as rádios Nacio- atriz, participativa em todos os ria e ansiosa pelo evento. “Pena
nal, Tupi e Educadora. momentos. Até na coxia, a Ida ela não ter estado para agradecer
Sua estreia na televisão foi era uma pessoa divertidíssima. a homenagem ao conjunto de
em 1951 atuando em telepeças Por todos esses motivos vamos trabalhos no Prêmio Shell. Ela só
de “O Grande Teatro Tupi”, na sentir muita falta dela. Ela era de pensava na roupa e nos discurso
TV Tupi, onde também fez “Co- uma força inacreditável. A gente que faria.”, falou a sobrinha. Feli-
ração Delator”. Na TV Globo, tinha a impressão de que ela que pe Wagner recebeu o prêmio em
onde ganhou fama, participou de tinha mais energia do que todos nome da irmã e aproveitou para
um total de 44 produções a partir nós, queria ensaiar à toda hora”, contar aos presentes como surgiu
de 1967, entre elas “Véu de Noi- relatou a atriz Alessandra Maes- a paixão de Ida pela dramaturgia.
va”, “Selva de Pedra”, “Estúpido trini, colega no musical. “Ida, quando jovem, ouviu na
Cupido”, “O Astro”, “Corpo a Ida nunca se casou nem teve Rádio Nacional uma propaganda
Corpo”, “Top Model”, “A Padro- lhos. Como ela mesma dizia, do programa “À procura de Ta-
eira”, “Da Cor do Pecado”, “JK” não era feita para casar, nem café lentos” e resolveu se candidatar.
e “Duas Caras”, sua última nove- sabia fazer, mas nunca deixou de Estávamos há nove meses no
la, em 2007. despertar grandes emoções por Brasil, ela ainda não falava bem
No cinema, Ida Gomes come- toda a sua vida. Apesar de judia, português. Mas foi, declamou um
çou sua carreira em “Bonitinha, Ida era constantemente escalada poema e foi contratada como ra-
mas Ordinária”, em 1963, e ainda para interpretar freiras, madres, dioatriz”, lembrou Wagner, refe-
participou de mais nove lmes mulheres rígidas com os “bons rindo-se ao poema “Visita à casa
como “Amante Latino”, de 1979, costumes” e se divertia com o paterna”, de Luís Guimarães Jr.,
“Copacabana”, de 2001, e “O fato: tinha uma independência que, em seguida, foi lido por Dé-
Amigo Invisível”, seu último pro- intelectual completamente opos- bora Olivieri. “Minha tia saiu de
jeto, em 2006. Sua atividade na te- ta às personagens que usualmen- cena na hora certa. Seu coração
lona, porém, não cou restrita. Ida te emprestava alma. Os mesmos parou, mas sua estrela vai brilhar
também foi dubladora de atrizes “bons costumes” que defendia para sempre”.
22 Abril de 2009 Jornal de Teatro

História

Liberdade, liberdade:
um marco na dramaturgia brasileira
produzindo, no país, bom entre-
Por Rodrigoh Bueno
Reprodução

tenimento e uma nova visão dra-


mática (...) Paulo Autran, o astro
Em um abril de outros tem-
principal entre os quatro intér-
pos, mais precisamente e não por
pretes que representam no palco
acaso no dia 21, estreava no Rio
vazio, pronuncia, sob a luz de um
de Janeiro o musical “Liberdade,
único spotlight, a última palavra
liberdade”, de Millôr Fernandes e
da peça: Resisto! A audiência de
Flávio Rangel.
trezentas pessoas, que tinham
O ano era 1965 e a tensão
pago o equivalente a um dólar e
causada pelo golpe militar do
vinte e cinco centavos por pessoa
ano anterior assombrava a classe
para sentar amontoada, levantou-
artística, que sentia o reexo da
se e aplaudiu vibrantemente. (...)
repressão.
Contudo, o que parecia conquis-
Para demonstrar a insatisfa-
tar a audiência era o fato da irada
ção, dois grupos que já explora-
mensagem da peça vir temperada
vam o gênero chamado “teatro
com humor, música e um otimis-
de protesto”, o paulista Teatro de
mo ansioso com respeito ao futu-
Arena e o carioca Opinião, aca-
ro do Brasil..”
baram produzindo o espetáculo
Terminada a temporada ca-
considerado a obra pioneira do
rioca, apenas Paulo Autran seguiu
teatro de resistência no Brasil. O
no elenco principal, sendo aplau-
texto de “Liberdade, liberdade”
dido principalmente em teatros
é atual em qualquer época, pois
improvisados e universidades.
reúne a visão de pensadores de
No roteiro da turnê estavam
diferentes períodos e contextos,
cidades que dicilmente recebiam
sobre o tal “direito inalienável”.
a visita de grandes produções, o
O elenco que estreou a peça
que causava ansiedade e descon-
era composto por quatro atores,
ança na população.
o já renomado na época Paulo
A cidade gaúcha de Pelotas,
Autran, Oduvaldo Vianna Filho,
por exemplo, viu um jornalista
Nara Leão – que vinha do elogia-
ser proibido de publicar matérias
do espetáculo “Opinião”, e Tere-
de teatro após elogiar a peça. Em
za Rachel, todos revezando os 56
seguida, o mesmo jornal apresen-
papéis existentes na peça. A dire-
tou um editorial sob o título de
ção musical era de Oscar Castro
“Palhaçada, palhaçada”.
Neves e contava com o violão de
A repressão também não deu
Roberto Nascimento, Ico Castro
trégua durante a turnê. O suces-
Neves no contrabaixo, Francisco
so em todo o Brasil chegou aos
Araújo na bateria e Carlos Gui- A peça, com o já consagrado ator Paulo Autran no elenco, estreou em 21 de abril de 1965 no Rio de Janeiro ouvidos do alto escalão gover-
marães na auta.
namental e, no dia 2 de junho
Desde o momento em que o um tome uma posição deni- Aliás, durante todo o tempo em Paulo Autran é impressionan-
de 1965, o presidente Castello
texto chegou à censura causou da. Sem que cada um tome uma que o espetáculo esteve em car- te: em duas horas de espetáculo
Branco enviou uma nota a seu
polêmica, pois apesar de conter posição denida, não é possível taz, as manifestações também es- ele esboça umas dez ou quinze
sucessor, Costa e Silva, arman-
um forte discurso político de continuarmos. É fundamental tiveram presentes, não sendo raro composições diferentes, sempre
do que as ameaças de “Liberdade,
oposição ao regime militar, pos- que cada um tome uma posição, que manifestantes freqüentassem adequadas e inteligentes, sempre
liberdade” eram de aterrorizar a
suía citações de Platão, Sócrates, seja para a esquerda, seja para a o teatro armados, e que a peça livres de quaisquer recursos de
liberdade de opinião.
Abraham Lincoln, Martin Luther direita. Admitimos mesmo que fosse interrompida com gritos gosto fácil”. Tereza Raquel tam-
A partir daí, carros de polícia
King, Shakespeare e até mesmo alguns tomem uma posição neu- de protesto. A situação quase bém foi bastante elogiada, mas a
passaram a intimidar o público
Jesus Cristo. Esse foi apenas o tra, quem de braços cruzados. chegou a um limite quando cer- jornalista considerou que “o char-
que comparecia ao teatro e as ame-
ponto de partida para a série de Mas é preciso que cada um, uma ca de 50 pessoas pertencentes a me e a musicalidade de Nara não
aças de bomba se tornaram ainda
polêmicas que o grupo enfrenta- vez tomada sua posição, que um grupo radical de direita ten- deixam de estar presentes, mas a
maiores. Em 1966, a liberdade foi
ria até o nal da temporada. Aliás, nela. Pois companheiros, as ca- tou depredar o teatro, conforme sua voz frágil e as marcações es-
ocialmente (e nacionalmente)
enfrentados com muito humor. deiras do teatro rangem muito e publicado no jornal Tribuna da téticas que lhe foram reservadas
proibida pela Censura Federal.
No ensaio nal, o ranger das ninguém ouve nada”. Imprensa. Ao mesmo tempo em fazem com que a sua participação
Já no m da apresentação, o
cadeiras da plateia incomodou os que aumentavam os protestos, resulte bastante apagada” – infor-
trecho: “como detalhe pessoal e
produtores e Millôr Fernandes A ESTREIA aumentava a simpatia do público mação contrariada pelos demais
nal, os autores e todos os parti-
encontrou uma forma de resolver Quando os extremistas de di- e crítica pelo espetáculo. críticos da época.
cipantes do espetáculo declaram
a questão, inserindo no texto o reita souberam que o espetáculo Sem dúvida a crítica que cau-
que raras vezes trabalharam com
trecho a seguir. estrearia no dia que representa A CRÍTICA sou maior polêmica foi a do jor-
tanta alegria. Se com as vozes que
“ E aqui, antes de continuar a morte de um dos principais Yan Michalski, do Jornal do nal New York Times, em 25 de
levantaram do silêncio da Histó-
este espetáculo, é necessário que heróis nacionais, Tiradentes, Brasil, dedicou quase metade de abril de 1965. “Os espetáculos
ria conseguiram gravar o som da
façamos uma advertência a todos trataram de preparar suas mani- sua crítica abordando a interpre- teatrais que elevam a voz com
Liberdade num só dos corações
e a cada um. Neste momento, festações – a principal delas foi tação de Paulo Autran e diz que protestos políticos contra o re-
presentes, estão pagos e gratos”.
achamos fundamental que cada a pichação na fachada do teatro. “a versatilidade demonstrada por gime semimilitar do Brasil estão
Jornal de Teatro Abril de 2009
23
Internacional

Releitura do musical criado nos anos 70 por Chico Buarque e Paulo Pontes apresenta abordagem contemporânea e novos arranjos para a estreia em Guimarães, Portugal, dia 1º de maio

Espetáculo “Gota D’Água” fará turnê em Portugal


Por Pablo Ribera a turnê no Teatro das Figuras, à realidade brasileira, dominada batalhadora que vive nos su-
em Faro, no dia 23. pela censura federal e repressão búrbios de uma grande cidade FICHA TÉCNICA
O musical brasileiro “Gota “Gota D’Água” é um espetá- ideológica. A montagem origi- brasileira, a Vila do Meio-Dia,
D’Água”, criado pelo cantor culo com direção-geral de João nal contou com coreograa de e que é abandonada pelo mari- Texto: Chico Buarque e Paulo
e compositor Chico Buarque Fonseca, direção musical de Ro- Luciano Luciani, cenograa e do Jasão, que a troca por uma Pontes
em parceria com o dramaturgo berto Burguel, e com atuações gurino de Walter Bacci e di- mulher muito mais jovem e
da atriz Izabella Bicalho, que reção musical de Dori Caym- Música: Chico Buarque
Paulo Pontes, fará uma turnê rica, lha de Creonte.
vive Joana, e dos atores Cláudio mi, sendo que a direção geral Direção Geral: João Fonseca
em Portugal durante o mês de Enquanto a mulher ca
maio, com espetáculos previstos Lins e Armando Babaioff, que foi de Gianni Ratto. Os atores destroçada pela dor da trai- Direção Musical: Roberto Bür-
para seis cidades do país euro- fazem os papéis de Creonte e principais, que viviam os per- ção, Jasão, o ex-marido, vive guel
peu, sendo que o primeiro deles Jasão, respectivamente. Babaio- sonagens Joana e Jasão, foram dias de felicidade ao lado de Cenário: Nello Marrese
acontecerá em Guimarães. ff entra nesta turnê no lugar de interpretados por Bibi Ferreira Alma, desfrutando do suces- Figurino: Natália Lana
O “Gota D´Água” tem es- André Arteche. e Oswaldo Loureiro. so do samba “Gota D’Água”, Coreografia: Édio Nunes
treia prevista para o dia 1º de “Nossas perspectivas são as Com uma grande carga po- que não pára de passar nas rá-
maio, no Centro Cultural Vila melhores. Estamos todos mui- ética, o espetáculo emocionou dios da cidade. A peça “O que
Flor, em Guimarães. Em segui- to animados com esta turnê a crítica e o público, tornando- Será (À Flor da Pele)”, “Par- ELENCO
da, o grupo segue para a capi- por Portugal. Esperamos que se um grande sucesso do teatro tido Alto”, “Comadre Joana”,
tal portuguesa, Lisboa, onde se seja um grande sucesso”, disse brasileiro, sendo assistido por “Vila do Meio Dia”, “Paó”, Joana: Izabella Bicalho
apresentará no Centro Cultural Izabella Bicalho. “Meus amigos milhares de pessoas. “Virgem Matriaracarum” e o Jasão: Armando Babaioff
de Belém, de 6 a 9 de maio. portugueses que viram o espe- Após 30 anos, o musical principal, “Gota D’Água”, são Creonte: Cláudio Lins
O musical parte depois para táculo no Brasil disseram que apresentou, em nova turnê, alguns dos temas interpreta-
temos tudo pra dar certo lá”. uma abordagem contemporâ- Corina: Cláudia Ventura
o Cine-Teatro de Estarreja, no dos ao vivo neste musical.
dia 15 de maio, depois para o nea, com novos arranjos musi- Egeu: Luca de Castro
O espetáculo “Gota D’Água”
CAE (Centro de Artes e Es- HISTÓRIA cais, e assim, recebeu diversos já tem nova turnê conrmada Alma: Maíra Kestenberg
petáculos) da Figueira da Foz, O musical foi criado em prêmios no País, tendo estrea- em Brasília (DF), em junho des- Zaíra: Sheila Mattos
no dia 16; depois apresentará o 1975, quando Chico Buarque e do no Rio de Janeiro em 2007. te ano. Segundo Izabella, “pro- Xulé: Ronnie Marruda
espetáculo no Coliseu do Por- Paulo Pontes adaptaram a tra- Nesta nova versão, a per- vavelmente haverá novas turnês Cacetão: Lorenzo Martin
to, em 20 de maio; e encerrará gédia “Medeia”, de Eurípedes, sonagem Joana é uma mulher pelo Brasil”.
24 Abril de 2009 Jornal de Teatro

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