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Março de 2004
RESUMO
ABSTRACT
The civilization expansion over tropical forest lands is inevtable and happens
through different ways, in tehe sense that can be a ‘ spontaneous’ move or
organized; official or unofficial; held by enterprises or individuals; or even as
a governmental decision.
The planning in all situations of this mentioned territory is, at leas,
precarious.The occupation occurs without basic organization, lacking precoutions
procedures and with no proper knowledge of the environment in which people will be
exposed to.
This work aims not only to do means to aware the Society for this
individual/forest interaction become a potential problem, hence bring useful
questions for Conservation Units planning.
ÍNDICE.
Introdução
..................................................................................
........... 1
Objetivos
..................................................................................
............. 4
Justificativas
..................................................................................
........ 5
Metodologia
..................................................................................
......... 6
I.A exceção e as espécies
..................................................................... 7
II. Histórico de doenças, cidades e migrações
...................................... 10
III. Mudanças globais
............................................................................. 12
IV. Invadindo a floresta: a colonização
................................................... 17
V. As doenças e as alterações: informações e exemplos ....................... 31
VI. Gestão, risco e prevenção
.................................................................. 43
Considerações Finais
.............................................................................. 47
Bibliografia
..................................................................................
............. 51
Anexos
Introdução.
• O primeiro se refere a uma crítica quanto à forma como se tem dado o contato
entre as populações humanas e os ambientes de floresta tropical, em especial a
Amazônia.
• O segundo espera levantar a questão de como tem sido feita a gestão destas
florestas em termos da prevenção e da análise de risco do surgimento de novas
doenças e ao re surgimento de surtos de doenças já conhecidas.
Justificativa.
Metodologia.
I
A exceção e as espécies
II
III
Mudanças Globais
Os seres humanos tem sido bem sucedidos em desenvolver sociedades industriais
o que, por sua vez, tem aumentando os desafios que enfrentam e tornou a Humanidade
uma força global.
O que costumamos chamar de “mudanças globais “ inclui mais que mudanças no
balanço dos gases da atmosfera. O crescimento populacional é, em si, uma mudança
global, acarretando a virtual modificação de cada centímetro da superfície
terrestre por meio de suas atividades.
A abertura de clareiras nas florestas é o mais comum dos usos da terra
causador de modificações, geralmente ocorrendo em conexão com a agricultura, o que
pode exercer efeitos positivos ou negativos no meio ambiente epidemiológico.
Os efeitos positivos estão em reduzir o contato humano com fontes e
reservatórios de doenças que pertençam / habitem a floresta, incluindo primatas
que constituem os mais prováveis reservatórios naturais de doenças emergentes.
Isto é especialmente verdade no caso de desmatamentos intensos ou homogêneos, que
realmente afastam a área de floresta do contato com humanos.
Os efeitos negativos estão justamente no caso oposto, quando este contato é
facilitado. Este é o caso da febre amarela quando o mosquito haemagogus é levado
ao convívio humano, o que pode levar ao início de epidemias de febre amarela, com
a doença sendo propagada pelo mosquito vetor doméstico Aedes aegypti. No Brasil, o
mais efetivo vetor amazônico da malária é o Anopheles darling uma espécie da
floresta e das bordas florestais.
Pequenos bolsões isolados de vegetação densa (ilhas ou fragmentos florestais)
cercados por áreas de meio ambiente alterado não conseguem sustentar grande
biodiversidade. Na Amazônia, muitas áreas apresentam uma configuração semelhante a
um tabuleiro de xadrez, com cortes nas áreas florestadas e ilhas de vegetação
estreitas, margeadas por faixas desertas ou com algum tipo/grau de ocupação
humana.
A espécie humana não se limita a ocupar o entorno, mas recorta a floresta com
estradas e vias secundárias que mergulham fundo nas áreas florestadas .
Quando as ecosferas são submetidas a grandes tensões, ocorre predominância de
espécies de flora e fauna que são capazes de se adaptar às condições transformadas
e, conseqüentemente, as espécies menos flexíveis tendem a ser preteridas. O
resultado é a perda da biodiversidade.
Se a área for devastada ou ecologicamente desequilibrada, e as espécies
substitutas eventuais tiverem uma diversidade inadequada para assegurar um
equilíbrio apropriado entre flora, fauna e micróbios, podem surgir novos fenômenos
de doenças. Assim, o desflorestamento bem como o reflorestamento podem levar a
emergência microbiana a aumentar.
A intervenção humana cria novas ecologias, que apenas parcialmente podem ser
controladas pelos desígnios humanos. Um exemplo típico foi a emergência da doença
de Lyme, nos EUA. Neste caso, colonos britânicos abriram clareiras nas florestas
de Massachusetts e, no final do século XVIII, as florestas remanescentes foram
destruídas para abastecer as fundições locais. No século XIX a maioria das
florestas de todo o nordeste já fora devastada, levando à importação de madeira de
outras áreas para a construção de habitações. A nova ecologia criada substituiu
carvalhos, lariços e animais carnívoros grandes por uma paisagem de capoeiras,
bétulas, campinas e uma fauna de gambás, cervos, esquilos, roedores e pássaros.
Sem a ameaça de predadores, estes animais se estabeleceram e, com eles, o
carrapato vetor da doença de Lyme (a bactéria Borrelia burgdorferi). Este vetor
explorava bem a nova fauna local, podendo instalar-se em cervos e em camundongos.
A mudança climática apresenta um amplo e potencialmente sério efeito sobre
as questões da saúde humana, bem como sobre o perigo de desequilíbrio de zoonoses.
E isto é válido não apenas em termos de mudanças globais mas também em termos de
mudanças regionais, locais e até pontuais (microclimas). Alguns impactos na saúde
resultam de efeitos diretos (mortes relacionadas a ondas de calor, desastres
metrológicos, etc.) outros são resultantes de distúrbios dos complexos processos
ecológicos com mudanças nos padrões de doenças infecciosas.
As principais zonas de vulnerabilidade às doenças cujos vetores de
transmissão são insetos localizam-se nas áreas tropicais da América e da Ásia.
Os organismos envolvidos são sensíveis à temperatura, umidade, padrões de ventos e
chuva, e são, provavelmente, potencialmente sensíveis à alteração climática,
especialmente dos microclimas.
Doenças como a malária e o dengue são candidatas potenciais a sofrerem
mudanças em seus padrões de dispersão devido a este tipo de alteração. Os mais
recentes modelos de mudança climática sobre o efeito da variação de temperatura
sobre a malária indicam que a população global em risco aumentará em 260-320
milhões, em 2080. O maior risco está nas áreas onde a doença não incide devido às
baixas temperaturas. Pesquisas realizadas na escola de Medicina de Harvard, EUA,
indicam que haveria um acréscimo de 80 milhões de casos anuais; a doença
duplicaria na Amazônia e na África tropical, espalhando-se pelo sul dos EUA e
norte da Rússia. Porém não há consenso sobre estes números.
Em Yale, EUA, no laboratório de Arbovírus, o cientista Robert Shope realizou
pesquisas que o levaram a acreditar que apenas um aumento mínimo da temperatura
global poderia expandir o território de duas espécies de mosquitos: aedes aegypti
e aedes albopictus. Ambas as espécies eram limitadas geograficamente, nos anos 90,
pelo clima. A primeira não conseguia suportar uma exposição prolongada a
temperaturas inferiores a 9°C . A segunda também resistia mal ao ambiente de
temperatura baixa. Alexandre Adler, da UFRJ, afirma que o calor exagerado
prejudica o aedes aegypti e o anopheles (transmissor da malária) pois temperaturas
superiores a 38°C deixam o mosquito letárgico, incapaz de se reproduzir e de
picar. O ideal para o inseto é a temperatura de 30°a 32°C . Da mesma forma,
temperaturas menores que 16°C e maiores que 38°C prejudicam a transmissão do
dengue. Para a malária, o ideal é de 30°C, sendo que com menos de 20°C e mais de
33°C o mosquito não transmite com a mesma eficiência.
Em nota publicada em 2001 pelo Comitê para o Clima, Ecossistemas, Doenças
Infecciosas e Saúde Humana, dos EUA, foram estabelecidas as relações entre clima e
doenças infecciosas. A distribuição geográfica característica e a variação
sazonal de muitas doenças são evidência de que sua ocorrência está ligada com o
clima local e global.
Estudos tem mostrado que fatores como temperatura, umidade e precipitação
afetam o ciclo de vida de muitos vetores, tanto direta como indiretamente por meio
de mudanças ecológicas, e podem potencialmente, afetar o ritmo e a intensidade dos
surtos.
É preciso diferençar e não confundir a questão dos impactos dos ecossistemas
na saúde com a chamada saúde de ecossistemas. Saúde de ecossistemas é ecologia, o
que difere do impacto na saúde quando há um desarranjo dos ecossistemas.
Assim, nas palavras de Rapport citado por Confalonieri “a elevada prevalência
de doenças é um dos indicadores-chave da patologia dos ecossistemas, e os sistemas
ecológicos doentes aumentam os riscos para a saúde de seus componentes.” (1999 : 6
)
A perda de biodiversidade pode se dar em vários níveis ou aspectos. Pode se
referir à perda intraespecífica (genética) de espécies ou de ecossistemas, o que
inclui habitats e processos. Em todos os casos há impacto sobre a saúde dos
ecossistemas.
As causas de perda da biodiversidade podem ser a fragmentação, degradação e
perda dos habitats causados por pressão antrópica, como agropecuária; expansão
urbana; exploração de madeira; abertura de estradas; construção de represas;
incêndios florestais; fenômenos climáticos e exploração mineral. Podem também se
dar pelo excesso de exploração extrativista; mudanças climáticas globais e
poluição.
No que diz respeito aos habitats, são as diferentes formas de uso da terra
que sempre implicam alguma forma de impacto ambiental e sobre os sistemas
ecológicos.
Os grandes incêndios, como o do começo do ano de 1998, no Estado de Roraima,
que queimou 14 mil Km² de floresta natural exemplifica bem um tipo de impacto em
que há a conjugação de pressão antrópica, tecnologias tradicionais e fenômenos
climáticos naturais. A estação chuvosa, que normalmente vai de abril a setembro,
registrou uma queda pluviométrica muito abaixo da média anual, iniciando-se o
período seco praticamente no mês de julho de 1997, muito antes da época habitual
que vai de outubro a março. Com o início prematuro da época seca, tiveram início
os primeiros incêndios em áreas de vegetação do tipo savana, afetando a zona
centro-norte do Estado de Roraima. Estes incêndios estenderam-se posteriormente
até as zonas de floresta aberta e, no fim de março, atingiram a floresta densa em
zonas adjacentes à reserva indígena Yanomami. A prática tradicional de corte de
vegetação e conseqüentes queimadas para o preparo do solo para a agricultura, às
quais se deve associar o processo de desmatamento nas áreas de floresta aberta e
virgem, bem como as condições climáticas adversas causadas pelo fenômeno El Niño,
estiveram na base deste incêndio, que ganhou proporções preocupantes nos meses de
fevereiro e março. As conseqüências diretas no ecossistema da região não foram
ainda avaliadas, mas estima-se que uma área de aproximadamente 33.000Km² tenha
sido queimada, dos quais aproximadamente 10.000Km² de floresta. Os impactos sobre
a saúde podem ser assim resumidos: alguns tributários de rios importantes da
região, como o Rio Branco, diminuíram muito a sua vazão, o que provocou o
surgimento de pequenas poças, ambientes ideais para o desenvolvimento de vetores
de doenças como a malária e o dengue. Além disso, a construção de reservatórios de
água por parte da população, que ao serem abandonados se converteram em eventuais
focos de proliferação de doenças.
Quando pensamos na questão da saúde humana relacionada à conservação dos
ecossistemas naturais, é importante levar em conta as áreas de convergência entre
ecossistemas e saúde. Isto é: os serviços dos ecossistemas essenciais à vida
humana e que dependem da integridade, diversidade e estabilidade dos ecossistemas
naturais; a questão da bioacumulação de poluentes persistentes na cadeia alimentar
(ecotoxicologia) e o problema das doenças infecciosas com focos naturais,
especialmente nos sistemas ecológicos sob pressão antrópica, isto é, aqueles que
estão sendo fragmentados, destruídos ou simplesmente invadidos.
Há um risco associado às atividades humanas praticadas em um sistema
ecológico no qual circulam agentes de doenças humanas.
DOENÇAS FOCAIS
IV
Invadindo a floresta: a colonização
Trinta e quatro arbovírus dentre 183 isolados, até o momento, na Amazônia têm
sido relacionados com doenças humanas. O dengue e o oropuche são associados à
doença humana epidêmica em áreas urbanas, enquanto o mayaro e a febre amarela são
em áreas rurais. O oropuche determina um quadro febril algumas vezes acompanhado
com meningite asséptica; o mayaro e o dengue apresentam quadro febril
exantemático, e a febre amarela é uma febre do tipo hemorrágica.
Com exceção do dengue, todos os arbovírus envolvidos em doenças humanas na
Amazônia são mantidos por meio de ciclo silvestre onde diversas espécies de
insetos hematófagos e vertebrados silvestres atuam como vetor e hospedeiro,
respectivamente.
No Brasil os arbovírus estão espalhados por muitas regiões. Entretanto, o
número de tipos que causam doenças humanas é pequeno. Dos mais de 200 sorotipos
diferentes isolados no Brasil, menos de 30 levam a doenças humanas. Entretanto, os
impactos sociais e econômicos dos poucos surtos é significativo.
De 183 dos tipos isolados, com 34 associados à doenças humanas, 27 deles
pertencem a 3 gêneros: Alphavirus, Bunyavirus e Flavivirus e apenas 7 pertencem a
outros gêneros. Com poucas exceções todos os isolamentos de vírus foram obtidos de
indivíduos infectados na natureza.
Apenas 4 doenças arbovirais, porém, foram consideradas de importância para a
saúde pública na Amazônia. Todos os quatro tipos respondem por 90% de todos os
casos de doenças arbovirais na Amazônia.
Oropuche.
Trata-se de um vírus do gênero Bunyavirus, da família dos Bunyaviridae,
serologicamente relacionado ao grupo simbu. Os surtos de febre oropuche causam
impacto socioeconômico devido à sua natureza explosiva, de modo que centenas de
pacientes são acometidos simultaneamente. Tais pacientes, algumas vezes,
apresentam doença severa, incluindo comprometimento neurológico, embora não haja
registro de mortes.
Quando o equilíbrio ambiental (ecológico) é rompido e as condições
epidemiológicas (suscetibilidade, circulação viral e de vetores ) são propícias, o
surto tem início.
Sua ocorrência cíclica tem início na estação chuvosa (geralmente de janeiro a
junho). Foram registrados 3 surtos em Belém nos últimos 30 anos: em 1961, em
1968/1969 e 1979/1980 sendo que este último envolveu outras localidades. Até 1980
todos os surtos ocorreram no Pará. Do final de 1980 até o primeiro quarto de 1981,
uma grande epidemia foi assinalada em Manaus, no Estado do Amazonas e se espalhou
até Barcelos.
Em 1988 novas áreas afetadas por surtos de febre oropuche: Porto Franco e
Tocantinópolis nos Estados do Maranhão e Goiás respectivamente. Em 1991 uma grande
epidemia foi relatada no Estado de Rondônia, nas cidades de Ariquemes e de Ouro
Preto do Oeste.
Acredita-se que ao menos 500.000 pessoas foram provavelmente infectadas pelo
oropuche nos últimos 30 anos (1961-1991) na bacia amazônica brasileira.
Quando da última ocorrência em Belém, foi observado envolvimento neurológico,
caracterizado por meningite. Não foram registrados casos de segunda infecção.
O mosquito culicoides paraensis é o vetor urbano do oropuche durante as
epidemias. Os pacientes infectados transmitem o vírus para o c. paraensis durante
os 2 primeiros dias de doença (período da viremia).
Tem sido sugerido que o oropuche apresenta 2 ciclos distintos: um urbano
(epidêmico) no qual o ser humano é o principal hospedeiro, sendo o c. paraensis o
vetor; e um ciclo silvestre responsável pela manutenção do oropuche na natureza.
Trata-se de um ciclo no qual preguiças, primatas e pássaros são os hospedeiros
vertebrados, sendo o vetor desconhecido.
Dengue.
Trata-se de um vírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae. Os serotipos
1 e 4 são membros do grupo B dos arbovírus.
Duas grande epidemias de dengue foram relatadas na região amazônica: em Boa
Vista, Roraima em 1982 e em Araguaína, Tocantins em 1991, sendo a primeira
pertencente aos serotipos 1 e 4 e o segundo do tipo 2. O dengue 2 foi pela
primeira vez isolado no Brasil em um paciente chegado a Belém, provindo de Luanda,
Angola, em fevereiro de 1989. Mortes causadas pelo dengue, na Amazônia brasileira,
não foram relatadas.
O Aedes aegypti foi reintroduzido no Estado do Pará em 1992 e já, em 1995,
foram registrados casos de dengue em Rondon e Redenção. Em 1996, oito casos foram
registrados em Belém, cidade localizada na confluência do Rio Amazonas com o
Oceano Atlântico. Em 1997 os tipos 1 e 2 foram identificados e, desde então, têm
sido relatados. O surto de 1997 foi o primeiro, nos últimos 70 anos, em Belém, e o
terceiro da doença ocorrido na região amazônica. Surtos prévios foram relatados em
1981-82 em Boa Vista (Roraima) e em 1991 em Araguína (Tocantins).
A distribuição epidêmica foi acompanhada em 1997 por uma intensificação da
estação chuvosa típica da Amazônia brasileira.
O dengue é uma doença de origem africana. A doença era provocada por quatro
diferentes subtipos do vírus, afins com o da febre amarela.
À medida que se conduziam campanhas para a erradicação do Aedes aegypti, durante o
início do século XX, para combater a febre amarela, os surtos de dengue
praticamente cessaram. Em 1953, em Manila, houve um surto de um tipo aparentemente
novo da doença, que provocava o aparecimento de petéquias e febre elevada. A
doença parecia ser mais grave do que os surtos precedentes do vírus do tipo 2.
Cinco anos depois, esta forma hemorrágica atingiu Bangcoc e infectouu 2297
pessoas, causando 240 mortes. Médicos americanos determinaram que ocorrera o
mesmo que acontecera com a febre amarela: o mosquito tornara-se inteiramente
urbanizado. Uma infecção anterior, razoavelmente benigna, tornava o indivíduo
suscetível à forma hemorrágica da doença.
O novo padrão do dengue espalhou-se pelo leste da Ásia, transmitido por ondas
sempre crescentes de Aedes aegypti e Aedes albopictus. Este último era um inseto
resistente e adaptado para coexistir não apenas com seres humanos mas com uma
grande variedade de animais de sangue quente. Durante os anos 50 e 60, os tipos 1,
2 e 3 do dengue apareceram esporadicamente nas Américas.
Um fator decisivo para a expansão do dengue nas Américas foi a chegada ao
continente do A. albopictus, em 1985. Transportados em um carregamento
de pneus usados, cheios de água estagnada, enviados do Japão para serem
recauchutados em Houston, esses mosquitos agressivos e portadores também do
vírus da febre amarela, dominaram as espécies menos agressivas que encontraram.
Quando o cientista americano Tom Monath procurou entender os acontecimentos
que levaram à emergência global da febre hemorrágica do dengue, percebeu que
estava ligada às atividades humanas. Examinando registros históricos e evidências
laboratoriais concluiu que a Segunda Guerra Mundial era responsável pelo
aparecimento do dengue transmitido pelo A. aegypti na Ásia. Migrações humanas
maciças, bombardeios aéreos, campos de refugiados densamente ocupados e a redução
de todas as campanhas de controle permitiram o aumento sem precedentes da
população do vetor. A movimentação rápida de tropas, por via aérea, associada a
migrações maciças de refugiados, permitiu aos vários tipos de dengue a entrada em
novas ecosferas.
Ao tempo em que o dengue chegou à América Latina, nos anos 60, as ecologias
favoráveis ao Aedes aegypti na Ásia também o eram no hemisfério ocidental, como
resultado das ondas de migração das maiores cidades. Nestas cidades pôde ser
estabelecido o ciclo urbano da doença.
Mayaro.
O vírus da febre mayaro é um Alphavirus da família Togaviridae
serologicamente relacionado ao grupo A dos arbovírus.
É endêmico na Amazônia, e as taxas de anticorpos são diretamente
proporcionais às populações que mantêm contato com a floresta devido a algum tipo
de trabalho nestas áreas.
A imunidade ao mayaro cresce com a idade e de acordo com a área das
comunidades rurais (variando entre 10% a 60%). Algumas tribos indígenas
apresentam imunidade. Atualmente, pelo menos 3 epidemias do mayaro ocorreram na
Amazônia, duas das quais em associação com a febre amarela. Os surtos de mayaro
geralmente se limitam a áreas rurais próximas ou dentro da floresta onde o
Haemagogus janthinomys é o principal vetor, e é encontrado em abundância.
O contato com a floresta parece ser o grande fator de risco para a infecção
pelo vírus. Os hospedeiros vertebrados naturais do mayaro são primatas não
humanos, pássaros atuam como hospedeiros secundários.
Febre amarela.
O vírus da febre amarela é o protótipo do gênero Flavivirus da família
Flaviviridae. Trata-se de uma febre hemorrágica.
Todos os primatas não humanos são altamente suscetíveis à infecção, sendo que
muitas espécies desenvolvem uma forma fatal da doença. Por outro lado, pássaros,
roedores, marsupiais, morcegos, anfíbios e répteis são altamente resistentes.
Todo ano, no Brasil, são relatados casos humanos em áreas endêmicas e/ou
epizooticas por meio de transmissão silvestre. Em muitos casos, humanos
desempenham importante papel na disseminação do vírus em áreas onde não existia
antes mas onde há abundância de vetores.
Modificações nas proximidades da floresta por meio de atividade madeireira,
agricultura, criação de gado, instalação de rodovias e demais atividades que
aumentam o contato de população não imune e vetores silvestres.
Foi erradicada no ciclo urbano mas representa perigo onde haja abundância de
Aedes aegypti, pois este pode ser vetor do vírus da febre amarela.
Malária.
A malária pode ser considerada como uma das mais ubíquas e complexas doenças.
O ciclo vital do parasita malárico é bastante complexo. Diversas cepas do
mosquito Anopheles podem ser portadoras dos parasitas. A rapidez e a gravidade dos
eventos vão depender de qual das quatro principais espécies de parasita malárico
foi injetada pelo mosquito, sendo as mais perigosas o Plasmodium vivax e o P.
falciparum. Diversos tipos de macacos servem de reservatório para o parasita.
Deste modo, a doença é capaz de ficar por longos períodos escondida no habitat
destes macacos. O Anopheles pode alimentar-se tanto do sangue destes macacos como
do de seres humanos que estejam presentes em sua ecosfera. O tamanho das
populações de Anopheles pode variar drasticamente em uma determinada área,
dependendo de precipitações atmosféricas, práticas agrícolas, natureza das
comunidades e das habitações humanas, altitude, proximidade das florestas ou
matagais, desenvolvimento econômico, estado nutricional dos habitantes e numerosos
outros fatores que podem afetar os locais de reprodução do mosquito e a
suscetibilidade de populações humanas do lugar.
A interrupção brusca de programas de controle tende a garantir taxas mais
altas de letalidade por malária, especialmente em países pobres que não possuem
sua própria infra-estrutura de controle da doença.
Depois de 1963 a incidência da malária voltou a crescer em países em
desenvolvimento, de modo que se viram forçados a alocar maiores recursos em
orçamentos de saúde pública.
A Revolução Verde – projeto financiado pelo Banco Mundial para melhorar a
situação do Terceiro Mundo pelo cultivo comercial em grande escala – estava em
andamento. Mas a conversão de milhares de acres de terra onde anteriormente a
lavoura era diversificada ou de glebas incultas em monoculturas de café, arroz,
sorgo, trigo, abacaxi e outros, com fim de exportação, fez aumentar ainda mais o
uso de pesticidas. Quando em uma área havia espécies vegetais diversificadas, a
população de inseto também era muito variada, de modo que uma só espécie nociva
não tinha oportunidade de dominar tanto a ponto de destruir a plantação. Um quadro
de desequilíbrio ecológico começa a se instalar, não apenas pela derrubada de
florestas nativas mas também pela alteração das populações locais de insetos,
propiciando a colonização destes espaços por novas espécies adaptadas a esse meio
alterado.
O governo brasileiro e a PHAO conseguiram reduzir os casos de malária no
Brasil a quase zero em 1960. Porém, em 1983, o país teve 297.000 hospitalizações
devido a esta doença; número que chegou a dobrar em 1988. Apesar do grande uso do
DDT e de outros pesticidas, o Anopheles darling proliferou na Amazônia
contaminando indivíduos não imunes que invadiam a região em busca de ouro e pedras
preciosas. Em 1989 o Brasil foi responsável por 11% dos casos não africanos de
malária no mundo.
Em 1987 uma pesquisa revelou que 84% dos casos amazônicos era de malária
resistente à cloroquina, 73% resistiam à amidiaquina e quase todos revelaram algum
tipo de resistência ao Fansidar, apenas a mefloquina permanecia eficaz.
Dez por cento da região sudoeste da Ásia é coberta de florestas tropicais, o
que inclui dezesseis tipos de florestas ecologicamente diferentes. A malária desta
região é do tipo “ de floresta” o que significa que seu controle pelos meios
padronizados de controle de mosquitos é ineficaz, se isso significar espalhar DDT
em toda floresta tropical úmida. A situação asiática oferece um exemplo
interessante para a questão do equilíbrio ecológico homem/floresta na questão das
doenças infecciosas transmitidas por vetores artrópodes (mosquitos).
No mínimo, 30 espécies de mosquitos transmitiam a malária na Ásia, muitas das
quais se alimentavam de sangue humano e do de vários outros animais. Estavam
adaptados para se reproduzir e se alimentar em todos os ambientes de floresta
asiática e ocupavam a maior parte das elevações do sul da Ásia, sugando o sangue
humano a qualquer hora do dia e da noite. Muitos eram resistentes a pesticidas, e
a maioria era do tipo silvestre, preferindo o ambiente de mata fechada. Pessoas
que viviam ou entravam para trabalhar nas regiões de floresta eram constantemente
picadas por eles. Isto estabeleceu um duradouro equilíbrio ecológico entre humanos
e parasitas transmitidos pelos mosquitos. Aqueles que sobreviviam a alguma doença
na infância ficavam “vacinados”, vacina essa que era renovada constantemente em
sua novas entradas na floresta. Ironicamente, esforços para erradicar a malária
acabaram por romper esse equilíbrio, pois os programas de controle de mosquitos,
tendo tido sucesso, acabaram com as “vacinações “ diárias , e a imunidade
desapareceu. O uso profilático de antimaláricos evitava a doença, mas também
diminuía a imunidade. Os habitantes dessas regiões asiáticas eram extremamente
nômades, movendo-se constantemente devido a guerras, lutas civis, perseguição
religiosa, necessidades econômicas e calamidades naturais. Isto trazia um grande
contingente de migrantes de regiões onde não havia malária, e não tinham
imunidade, ou estavam transitando entre regiões onde as espécies ou variedades da
doença diferiam nitidamente.
A febre amarela, cujo vetor principal é o Haemagogus janthinomys tem como
hospedeiros macacos e possivelmente marsupiais e é capaz de infectar humanos. O
oropuche, cujo vetor principal é o culicoides parensis, hospeda-se em preguiças,
macacos e pássaros, e é capaz de infectar humanos. O tacaiuma tem como vetor
principal o Haemagogus janthinomys, hospeda-se em macacos e pode infectar o ser
humano. Os arbovírus do grupo guama apresentam com principal vetor o culex
portesi, se hospeda em roedores, marsupiais e pode infectar humanos. O vírus
mayaro tem como vetor o Haemagogus janthinomys e talvez outros tipos de
Haemagogus, hospeda-se em macacos, pássaros e possivelmente outros animais, sendo
capaz de infectar humanos. O mucambo tem como vetor o culex portesi, hospeda-se
em roedores e marsupiais e também pode infectar humanos.
Dos vírus citados alguns claramente causam doenças em humanos. O dengue , o
oropuche e a febre amarela podem causar surtos epidêmicos e estão relacionados
respectivamente com fatores como controle deficiente do mosquito vetor e aumento
da urbanização; desmatamento e colonização humana; falta de imunização em larga
escala, processo de urbanização e desmatamento.
Os vírus do grupo guaroa apresentam como possível fator de emergência a
construção de represas e reservatórios de hidroelétricas e é capaz de causar
esporádicos casos de doença em humanos.
Um exemplo de vírus emergente associado à construção de tais reservatórios é
o dos vírus do grupo gamboa e os vírus a ele associados (gamboa – like) .
O mayaro apresenta como possível fator de emergência o desmatamento e é
responsável por surtos limitados de doenças.
É importante deixar claro que muitos vírus novos e vírus a elas relacionados
foram encontrados na região da floresta Amazônica. Entre estes novos vírus muitos
foram encontrados associados a construções de estradas; práticas de mineração e
construção de reservatórios de hidroelétricas.
Relacionados com a abertura de estradas, na década de 70 , os novos vírus
encontrados incluíam seis membros do serogrupo Phlebotomus; doze membros do
serogrupo changuinola; cinco membros de diversos serogrupos da família
Bunyaviridae além de quatro vírus pertencentes a outras famílias e seis subgrupos
de vírus.
Relacionados com a construção de represas, em 1990, estudos mostraram em
Balbina e Samuel cinco membros do serogrupo Phlebotomus; trinta do serogrupo
changuinola e três do serogrupo Anopheles A; um do serogrupo gamboa, seis vírus
não classificados e um Togaviridae. No caso de Tucuruí, noventa e uma cepas de
vírus relacionados ao tipo gamboa foram encontradas. Durante o mesmo período três
cepas de vírus relacionados ao gamboa foram isolados em várias espécies de aves.
Em relação ao uso do subsolo e atividades de mineração, estudos em Carajás e
em outras áreas como Jari, Porto Trombetas, Cachoeira Porteira e Santana isolaram
vinte e quatro novos vírus, entre eles cinco membros do serogrupo Phlebotomus;
onze do changuinola; seis Rhabdoviridae; um de cada família Arenaviridae,
Bunyaviridae, Flaviridae e Paramyxoviridae, além de cinco pertencentes a viroses
não classificadas.
Num período de 1954 a 1998, um total de 187 diferentes espécies de arbovírus,
além de outros vírus de vertebrados, foram identificados pelo Instituto Evandro
Chagas entre as mais de 10.000 cepas de vírus isolados em seres humanos, insetos
hematófagos e vertebrados-sentinelas e silvestres. Destes, 32 agentes são
patogênicos para o Homem, causando febres, doenças hemorrágicas e encefalites.
Quatro destes vírus são de relevância para a saúde pública por causarem doenças
sérias e até a morte e epidemias. São eles: dengue; febre amarela; mayaro e
oropuche.
ASPECTOS ECOLÓGICOS
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
Com base nos dados apresentados podemos tecer algumas considerações finais.
Entre estas, podemos comentar brevemente alguns dos principais projetos e ações
que tem sido planejados e executados pelo governo ou por empresas, e que
significam contato estreito com áreas de floresta tropical.
Basicamente, os contatos de maior risco entre população humana e ecossistemas
florestais são aqueles que ocorrem sem maiores estudos ou planejamento prévio.
Enquadram-se especialmente neste caso , as situações que envolvem problemas
fundiários e a atração exercida , sobre as populações, pelos grandes projetos de
infraestrutura . Em todos estes casos, o contato e a invasão da floresta se dá de
forma totalmente desordenada. Esta falta de planejamento cria condições de contato
entre humanos e vetores de possíveis doenças novas que podem ser ainda mais
danosas. Ou seja, um ecossistema ainda bastante desconhecido é contatado/penetrado
por populações desprovidas de defesa imunológica e infraestrutura sanitária
adequada. Por outro lado, qualquer infraestrutura se torna difícil de planejar
quando não se sabe o que esperar, o que combater. A tendência porém é de se
acreditar que tudo o que importa já é conhecido e se sabe tudo o que se pode
esperar. As medidas de combate a vetores ou de assistência médica são, entretanto,
medidas que se toma depois do ocorrido, medidas de remediação de um dano. Mais
estimável é evitar o dano, o custo de sua remediação e o problema. Em saúde sempre
é melhor seguir o ditado segundo o qual é melhor prevenir do que remediar.
Os estudos que aqui foram mencionados como exemplificação, mostram que sem
dúvida há uma estreita relação entre diversas interferências humanas nas regiões
de floresta e modificação dos padrões de reprodução ( no mínimo ) e proliferação
de vetores artrópodes. Da mesma forma ficou clara a grande quantidade de vírus
novos e desconhecidos presentes em regiões que se julgava conhecer bem, e
passíveis de transmissão para humanos por diversos tipos de mosquitos.
O que temos então é uma grande quantidade de perturbações ocorrendo sobre
ecossistemas complexos e razoavelmente desconhecidos causadas por populações
humanas e que quase ao mesmo tempo estão se expondo a um contato mal planejado
( se tanto ) com a fauna artrópode destas mesmas áreas. A incidência de diversas
doenças antes desconhecidas, felizmente e apenas por sorte, benignas e
coincidentes com as datas ou momentos no tempo das perturbações, parece apontar
para um cenário de surgimento de incidência de doenças novas. Como foi visto,
algumas não são tão benignas e pelo uma , o vírus Sabiá, pode levar a morte e tem
seu hospedeiro desconhecido.
O mesmo é válido para o ressurgimento de doenças já conhecidas, devido à
criação de condições e de ambiente propícios à proliferação dos vetores
responsáveis, aliado à falta de medidas profiláticas, ausência de condições
sanitárias adequadas e ao fenômeno mundial da resistência aos medicamentos
disponíveis. Soma-se a isso o fenômeno observado, tanto para as doenças re
emergentes como para algumas das novas, da mudança de vetor responsável pela
transmissão. O caminho que tomará o desenvolvimento de um sistema vivo depende de
acasos internos e externos. Qualquer previsão é muito mais difícil quando se trata
de organismos vivos. Um caso típico do retorno de uma doença já conhecida é o da
malária. Em informe recente, de Manaus, de 16 /01/2004 a Susam Secretaria Estadual
de Saúde detectou aumento nos casos de malária em todo o Estado em 2003. Os casos
aumentaram para 124.708 em 2003 contra os 71.165 de 2002. Dados da mesma
Secretaria demonstram que cerca de 50% dos casos da doença no Amazonas estão em
locais onde houve a ocupação desordenada e desmatamentos.
Pode-se, portanto, especular se o progressivo contato entre humanos e
ambientas de floresta tropical como a Amazonia tem sido conduzido com os devidos
cuidados e as devidas análises do risco envolvido. Se a gestão ambiental que
norteia ou deveria nortear os diversos processos inerentes ao assim chamado
desenvolvimento sócio econômico tem levado em consideração os fatores de risco
representados pelas doenças emergentes.
O homem é o principal ser na natureza capaz de improvisar, modificar e
plasmar o meio ambiente de modo a troná-lo mais adequado ao seu tipo de vida.
Porém, como afirmou René Dubos ( GARRET, 1995 : 23 ) “ Qualquer tentativa de
moldar o mundo e modificar a personalidade do homem, a fim de criar um padrão de
vida por ele escolhido, acarreta muitas conseqüências desconhecidas. O destino
humano está fadado a continuar sendo um jogo, porque, em um momento impossível de
prever e de forma também imprevisível, a natureza revidará.” Ou nas palavras
também muito verdadeiras de Sir MacFarlane Burnet (GARRET,1995:20)
“ è quase um axioma que as ações em benefício do homem, a curto prazo, mais cedo
ou mais tarde causarão problemas ecológicos ou sociais a longo prazo, que acabam
por exigir esforços e despesas inaceitáveis para sua solução.” Ambas as idéias
aqui citadas refletem a problemática que está envolvida quando se procura prever e
diminuir os riscos do progresso, da expansão da raça humana sobre a superfície do
planeta e os próprios meios dos quais ela está se valendo para colonizar, explorar
os recursos disponíveis e mesmo tornar esse processo sustentável e reverter danos
causados ou impedi-los de ocorrer.
É evidente que desde os tempos do regime militar, quando ocorreu um grande
impulso rumo ao tipo de progresso e rumo à uma política de integração nacional,
acarretando a invasão da floresta tropical, muitas modificações ocorreram no
modo de fazer isso. Da lá para cá, se sobreviveu a idéia básica do progresso,
integração e desenvolvimento, a tecnologia e as preocupações com o meio ambiente
se desenvolveram e aumentaram respectivamente. Por outro lado, é de se notar que
permanece uma idéia subjacente de confiança extrema na tecnologia e na capacidade
humana de, com ela, ser capaz de moldar a natureza a seu bel-prazer sem prejuízos
quaisquer. A idéia do “ nós sabemos trabalhar” , “ podemos recompor tudo
igualzinho ou melhor”. Mas a catástrofe adora excesso de confiança. Nas palavras
de Konrad Lorenz (1986 :21 )“ Apesar de o surgimento de novos valores pressupor um
desenvolvimento, não se segue a este como uma conseqüência inelutável. O processo
de um desenvolvimento( tomando-se o termo num sentido lamentavelmente estrito ) já
se transformou na própria concepção do que seja uma criação de valores, no
contexto do ordenamento tecnocrático da sociedade. O desenvolvimento humano é
intrinsecamente um processo simplificador. Por ignorância do nível de detalhamento
necessário, por limitação de recursos, por falha ética, por questões de tempo
necessário e o que é mais perturbador, devido ás necessidades humanas. Estas
necessidades impõe ao homem viver em um ambiente “domado” pois ele não está mais
apto a suportar os rigores da vida natural, quer seja física ou psicologicamente.
O habitat humano é a cidade.
Sobre isso, recorremos mais uma vez a Lorenz quando se de sua oportuna
comparação entre a cidade e o tumor. Segundo Lorenz ( 1974 :38 ) “ a analogia
entre as imagens do subúrbio e do tumor é impressionante. O corte histológico das
células cancerosas , uniformes e de estruturas rudimentares, é assustadoramente
parecido com a vista aérea de um subúrbio moderno, com suas casa todas idênticas.”
Esta incrível simplificação é necessária a vida humana, embora nem sempre se
apresente de forma tão óbvia como no caso do subúrbio, e encontra rebatimento
naquilo que é o pilar do pensamento científico – leis gerais, simples de aplicação
muito ampla, isto é a base da tecnologia – e que é o que permite ao homem
“controlar” a natureza no sentido baconiano.
Na verdade a realidade se compõe de elementos que estão em tensão e conflito,
e é duvidoso que se possa chegar a um conhecimento de todas as variáveis que
determinam seu funcionamento e a direção em que evolui o sistema. Isto não
significa pregar romanticamente o fim de empreendimentos e do desenvolvimento
necessários à espécie, mas alertar para um excesso de confiança e, principalmente,
apelar para o desenvolvimento de estruturas cognitivas como as da geometria
fractal para a criação de sistemas de modelagem e previsão capazes de resolver os
problemas. Igualmente, é o momento de acordar para a necessidade de desenvolver um
aparato de cunho ético aplicável à questão da gestão ambiental.
Com a chegada do século XXI ficou claro, de acordo com inúmeros casos e
observações, que a humanidade subestimou grosseiramente os micróbios: eles nunca
estiveram tão controlados como se pensava. Em geral a ecologia se preocupa com
aspectos e relações macroscópicas dos ambientas naturais e humano. A saúde pública
, com o controle de vetores, a cura e alguma profilaxia. Acreditava-se que as
doenças atuais eram as da fome, da longevidade, das condições sanitárias como
esgoto, água potável, lixo e no máximo alguma vacinação. Os grandes flagelos
infecciosos estavam sob controle.
Não houve jamais uma preocupação ou mesmo uma disciplina voltada para a
ecologia microbiana médica , embora alguns cientistas excepcionais tivessem
tentado ao longo dos anos delimitar problemas ambientais e doenças de modo a
abranger toda a série de eventos de nível microscópico.
Para Ribeiro de Almeida “ A atividade humana agora afeta todas as regiões da
Terra ( nenhum refúgio, nem mesmo no mais profundo abismo oceânico, existe mais em
estado primitivo natural ), assim mais e mais espécies estão suscetíveis à
extinção. Muitas desaparecerão antes mesmo de tornarem-se conhecidas pela ciência.
Algumas carregarão para sua tumba recursos genéticos valiosos e insubstituíveis. “
( 2001:22)
BIBLIOGRAFIA:
LIVROS:
DIAMOND, Jared. Armas, germes e aço. Ed. Record, Rio de Janeiro. 2001
DEAN, Warren, A ferro e fogo. Ed. Cia. das Letras, São Paulo, 1997
GARRET, Laurie. A próxima peste. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1995
REVISTAS E PERIÓDICOS