DISTRITO FEDERAL, DOMINGO, 26/7/2009 HOJE EM DIA - brasilia@hojeemdia.com.
br
De empresários a
empreendedores
Donos de micro e pequenos negócios que inovam se perpetuam no mercado
Um dos grandes desafios
das instituições que apoiam as
micro e pequenas empresas é a
transformação de empresários
em empreendedores. “Há muita
confusão entre os dois concei-
tos. O empresário imita o que o
mercado está fazendo, já o em-
preendedor está sempre buscan-
do um diferencial para a empre-
sa”, explica Kellen Ferrano, ge-
rente de empreendedorismo do
Centro de Apoio ao Desenvolvi-
mento Tecnológico (CDT/UNB).
“O empreendedor é o empresário
que inova”, resume o consultor
José Miguel Chaddad, que auxi-
lia os proprietários de micro e pe-
quenos negócios que buscam o
auxílio do Sebrae.
A empresária Joelma Al-
buquerque, de 39 anos, viven-
ciou a experiência de transfor-
mar-se em empreendedora.
A moradora de Ceilândia é
ISABELA AZEVEDO
NEGÓCIOS
proprietária do salão de bele-
za Joelma Coiffeur, inaugura-
do há seis anos. “Antes, eu
atendia na garagem de casa e
não tinha orientação de co-
mo lidar com funcionários”,
lembra. Aos poucos, ela come-
çou a vender roupas, sapatos
e acessórios femininos no
mesmo estabelecimento.
Entretanto, o lucro conti-
nuava baixo porque Joelma
ainda não sabia administrar
as contas da empresa. “Eu
aceitava nota promissória e
só de vez em quando anotava
o dinheiro que entrava e
saía”, conta. Ela recebeu, en-
tão, a visita da colaboradora
do Sebrae/DF, Bianca Soff,
que participa do projeto Agen-
tes Locais de Inovação. A fun-
cionária orientou a empresá-
ria a organizar o fluxo de cai-
xa e a aconselhou a buscar cur-
sos de capacitação. “De cabe-
leireira, Joelma se transfor-
mou em empreendedora”, or-
gulha-se.
O especialista José Mi-
guel Chaddad detalha a dife-
rença entre inovação e inven-
ção. “Inovar para o mercado
significa inventar um produ-
to completamente original
que se torne sucesso de ven-
das. Isso é uma inovação e
uma invenção. Em contrapar-
tida, quem inova para a em-
presa adota mudanças já apli-
cadas em outros negócios,
mas que também geram lu-
cro para o empreendimento.
Isso também é inovação, mas
não é invenção”, esclarece. Se-
gundo o consultor, a maioria
dos micro e pequenos negó-
cios inovam dentro da realida-
de da própria empresa por-
que a inovação para o merca-
do costuma exigir mais inves-
timento.
O físico Tiago Melo con-
trariou essa tendência e bus-
cou um nicho ainda pouco ex-
plorado no Brasil: a criogenia,
conhecida como a ciência do
frio. Em 2004, o pesquisador
desenvolveu um método de
resfriamento que prolonga
em 80% o tempo de vida útil
dos motores. Ao perceber que
a criação teria espaço no mer-
cado, ele decidiu abrir um ne-
gócio dentro da incubadora
de empresas do CDT/UnB. O
empreendimento, batizado
de Kryos, está incubado há
quatro anos e possui um pro-
duto em comercialização: o
Cryd Speed, destinado a au-
mentar a potência e o tempo
de uso de motores de kart.
A Kryos é uma das 18 em-
presas incubadas no CDT/
UnB. A instituição disponibi-
liza uma sala para cada em-
presário, além de consulto-
Brasília 9.
A
cabeleireira
Joelma
Albuquer-
que (esq)
controla
melhor as
contas e o
físico Tiago
Melo (dir) se
destacou
pelo método
de resfriar
motores
rias em marketing, gestão e
acesso a laboratórios da uni-
versidade. “A incubadora dá
o caminho das pedras, ou me-
lhor, ela tira as pedras do ca-
minho. As empresas ficam
em média três anos incuba-
das e depois enfrentam o mer-
cado sozinhas”, afirma o dire-
tor do CDT, Luís Bermúdez .
“Gastamos muito dinheiro
para desenvolver tecnologia
e o produto demora a ficar
pronto. Aqui temos ajuda pa-
ra obter financiamentos jun-
to a entidades de apoio a pes-
quisa”, conta Tiago Melo.
No segundo semestre des-
te ano, o CDT/UnB passará a
ofertar a disciplina Empreen-
dedorismo e Inovação para
alunos de pós-graduação. A
matéria, já oferecida para a
graduação, visa ensinar os fu-
turos empresários a enfren-
tar a concorrência. “Vamos
desmistificar que inovação é
um processo caro e mostrar
que quem não inova dificil-
mente se mantém no merca-
do”, adianta Kellen Serrano,
gerente do curso. (I.A.) i
“De cabeleireira,
Joelma se
transformou em
empreendedora ”
Bianca Soff, agente local de inovação do
Sebrae