Vara Cível Comarca de Barbacena Processo nº. 0056.02.032908-4 Exeqüente: MUNICÍPIO DE BARBACENA Executado: CARLOS ROBERTO MARTINS Execução Fiscal
Vistos, etc.
1. O MUNICÍPIO DE BARBACENA propôs a presente
Execução Fiscal em face de CARLOS ROBERTO MARTINS, cujas CDA’s (f. 03/07) têm origem no ISSQN dos anos de 1997 a 2001, na importância de R$ 355,12.
Inicialmente, é importante lembrar que a natureza do
crédito tributário é eminentemente obrigacional e, como tal, não escapa do princípio da prescritibilidade das obrigações, pois, caso contrário, teríamos que enfrentar pendências eternas, ferindo um outro princípio, igualmente relevante, que é o da segurança jurídica.
Por outro lado, é inaceitável que um processo, que
deveria ter um andamento célere, tal a sua natureza, permaneça indefinidamente sem solução com prejuízo para todos e com respingos na alegada morosidade do judiciário em não resolver as pendências postas a seu julgamento, apesar de que tal conceito nem sempre seja o correto.
Até bem recentemente, mesmo em contrariedade ao
que dispunha o art. 219 do CPC, o § 4º do art. 40 da LEF era a única Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena disposição que possibilitava a decretação de ofício da prescrição tributária, exigindo-se, para tanto, que o processo estivesse arquivado por mais de 5 (cinco) anos, findos os quais o Juiz deveria ouvir a Fazenda Pública, não propriamente para obter sua concordância, mas para lhe possibilitar uma última chance de argüir eventuais causas suspensivas ou interruptivas do prazo prescricional ou, em condições reais, de dar prosseguimento ao feito.
Hoje, com o advento da Lei 11.280/06, a decretação de
ofício se faz norma processual geral, pois o art. 11 da referida lei, revogando disposição contida no art. 194 do CC, que até então vedava ao Juiz a possibilidade de suprir de ofício a alegação de prescrição, salvo se favorável a absolutamente incapaz, também alterou, por seu art. 3º, a redação do § 5º, art. 219 do CPC, dispondo explicitamente que “o Juiz pronunciará de ofício a prescrição”.
E se assim é, coloca-se secundária a disposição do
citado § 4º do art. 40 da LEF, preso a condições temporais e procedimentos, já não mais exigidas pela nova sistemática legal.
É de se salientar que a alteração não ocorreu apenas no
texto do Código de Processo Civil, mas também no texto do Código Civil (enquanto direito material), alterando, assim, a própria concepção jurídica do instituto da prescrição, erigindo-a, em qualquer contexto, à matéria de ordem pública, a ser reconhecida pelo Juiz de ofício, surtindo efeitos práticos idênticos aos da decadência. Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena Compulsando detidamente os autos, verifico que não há nos autos elementos que permitam inferir a data precisa da constituição definitiva do crédito tributário que, conforme versado no art. 174 do CTN, corresponde ao termo inicial da contagem do prazo prescricional. Consta, todavia, das certidões de dívida ativa a data do início da correção monetária, cuja incidência só se justifica após o vencimento do tributo, o que só ocorre após estar devidamente constituído.
Assim, a data da incidência da correção monetária pode
ser utilizada como baliza no caso concreto.
Se decorridos mais de cinco anos desde a data em que
o débito venceu, dando ensejo ao início da correção monetária, o lapso temporal existente desde a constituição definitiva do débito será ainda superior, podendo-se inferir, dessa forma, a ocorrência da prescrição qüinqüenal.
Ao exame dos autos, constato que as correções
monetárias tiveram início em 29/08/1997; 15/07/1998; 10/09/1999; 10/08/2000 e 20/09/2001, respectivamente, enfatizando que quando se efetivou a citação válida do executado em 29/08/2005 (f. 23), já havia transcorrido mais de cinco (5) anos desde as constituições dos créditos tributários das CDA’s das competências de 1997, 1998 e 2000.
Ademais, as CDA's nº. 123.817, 56.127 e 56.126, já se
encontravam prescritas, antes mesmo do ajuizamento da ação. Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena No mesmo sentido colaciono jurisprudência do TJMG:
Analisando os autos, verifica-se que até o presente
momento não houve a citação do executado para manifestar-se sobre o débito fiscal de ISS-autônomo, referente aos exercícios de 1994, 1995 e 1996. É importante ressaltar que o AR de f. 11, apresenta assinatura de pessoa diversa do executado, sendo que a tentativa de citação demonstra-se ineficaz, não tendo o condão de interromper a prescrição dos créditos tributários. Sendo assim, não há falar em hipótese de prescrição na modalidade intercorrente, mas em prescrição da própria pretensão (art. 219, § 5º do CPC), estando correta a decretação da prescrição, de ofício pelo i. Juiz, porque decorridos mais de cinco anos da data de constituição definitiva dos créditos até a prolação da sentença. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.98.053337-6/001; Relator do Acordão: EDGARD PENNA AMORIM; Data do Julgamento: 17/01/2008; Data da Publicação: 31/01/2008. Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO e FERNANDO BOTELHO)
Necessário frisar que a prescrição intercorrente é
aquela que se verifica após o início do processo, tendo por pressuposto a propositura da demanda antes do termo final dos cinco anos contados a partir da constituição definitiva do crédito tributário. Mesmo após a propositura da ação, o prazo qüinqüenal continua a Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena correr até a realização da citação, e, após esse ato de cientificação do devedor, retoma-se a contagem do prazo por inteiro.
Embora sejam relevantes a preservação do crédito da
Fazenda e a concessão de meios hábeis ao seu efetivo recebimento, a segurança jurídica também merece proteção, não se admitindo que o contribuinte, ainda que inadimplente, se sujeite eternamente à responsabilidade tributária.
Destarte, tem-se que a pretensão executória das
CDA’s de nº. 123.817, 56.127 e 56.126 encontra-se, de fato, fulminada pela prescrição, devendo ser extinto o próprio crédito tributário.
No mesmo norte, colaciono jurisprudência do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e do Colendo Superior Tribunal de Justiça:
"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO. DECRETAÇÃO DE OFÍCIO. ART. 219, § 5º, DO CPC (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.280/2006). DIREITO SUPERVENIENTE E INTERTEMPORAL. 1. (...). A exordial requereu: a) o chamamento do responsável tributário devidamente indicado na CDA anexa para pagar o valor dos créditos da Fazenda Municipal. A sentença declarou a prescrição do crédito tributário e julgou extinto o feito nos termos do art. 269, IV, do Código de Processo Civil uma vez que transcorridos mais de cinco anos entre a constituição do crédito e a citação Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena válida do executado que ocorreu em 29.01.2003. Interposta apelação pelo Município, o Tribunal a quo negou-lhe provimento por entender que: a) a prescrição no direito tributário pode ser decretada de ofício, porquanto extingue o próprio crédito (art. 156, V, do CTN); b) o direito positivo vigente determina tal possibilidade. Inteligência do art. 40, § 4°, da LEF acrescentado pela Lei 11.051 de 29/12/2004. (...). 2. (...). 3. (...). 4. (...). 5. Porém, com o advento da Lei nº 11.280, de 16/02/06, com vigência a partir de 17/05/06, o art. 219, § 5º, do CPC, alterando, de modo incisivo e substancial, os comandos normativos supra, passou a viger com a seguinte redação: "O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição". 6. Id est, para ser decretada a prescrição de ofício pelo juiz, basta que se verifique a sua ocorrência, não mais importando se refere-se a direitos patrimoniais ou não, e desprezando-se a oitiva da Fazenda Pública. Concedeu-se ao magistrado, portanto, a possibilidade de, ao se deparar com o decurso do lapso temporal prescricional, declarar, ipso fato, a inexigibilidade do direito trazido à sua cognição. 7. Por ser matéria de ordem pública, a prescrição há ser decretada de imediato, mesmo que não tenha sido debatida nas instâncias ordinárias. In casu, tem-se direito superveniente que não se prende a direito substancial, devendo-se aplicar, imediatamente, a nova lei processual. 8. Tratando-se de norma de natureza processual, tem aplicação imediata, alcançando inclusive os processos em curso, cabendo ao juiz da execução decidir a respeito da sua incidência, por analogia, à hipótese dos autos" (REsp nº 814696/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 10/04/2006). Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena 9. (...).10. Recurso não-provido. (Recurso Especial n. 843557/RS, Primeira Turma, DJ. 20.11.06)
EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO. LANÇAMENTO POR
HOMOLOGAÇÃO. TERMO INICIAL. DECLARAÇÃO DO CONTRIBUINTE. ISSQN. - A prescrição do crédito tributário ocorre após o decurso de cinco anos desde sua constituição definitiva. No caso do lançamento por homologação a obrigação declarada torna-se exigível desde o vencimento, e a decorrente do ato administrativo posterior que apura eventuais incorreções, a partir da notificação do lançamento. De qualquer forma, a data da incidência da correção monetária, serve como baliza, pois, esse encargo só pode ser implementado depois de definitivamente constituído o crédito e vencida a data para o seu pagamento. - O despacho que determina a citação do executado não tem o condão de interromper o prazo da prescrição do débito tributário, somente ocorrendo essa conseqüência com a efetiva cientificação do contribuinte. O art. 8º, § 2º da LEF deve ser interpretado de forma a se harmonizar com o art. 219, §4º do CPC e art. 174, parágrafo único, I, do CTN. - Antes da edição da Lei Complementar 118/2005, a suspensão da execução fiscal somente impedia a contagem do prazo prescricional após a citação do devedor, não tendo o condão de tornar imprescritível o direito ao crédito. (Número do processo: 1.0024.03.954156-0/001; Relatora: HELOISA COMBAT; Relatora do Acordão: HELOISA COMBAT; Data do Julgamento: 06/03/2007; Data da Publicação: 11/05/2007; Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): ALVIM SOARES e EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS) Juízo de Direito da Primeira Vara Cível Comarca de Barbacena APELAÇÃO. EXECUÇÃO FISCAL. ISSQN. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. TERMO INICIAL. DECLARAÇÃO DO CONTRIBUINTE. PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. 1. Decorrido o prazo de cinco anos da constituição definitiva do crédito tributário, sem que o apelado tenha sido citado para a ação de execução fiscal, na redação original do art. 174, I do CTN, o reconhecimento da prescrição é medida que se impõe. 2. Nega-se provimento ao recurso. (Número do processo: 1.0024.98.025465-0/001; Relator: CÉLIO CÉSAR PADUANI; Relator do Acordão: CÉLIO CÉSAR PADUANI; Data do Julgamento: 13/03/2008; Data da Publicação: 03/04/2008; Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): AUDEBERT DELAGE e DÁRCIO LOPARDI MENDES.)
2. Posto isto, RECONHEÇO DE OFÍCIO A PRESCRIÇÃO
DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS das CDA’s de nº. 123.817, 56.127 e 56.126, e, em conseqüência, JULGO EXTINTA A EXECUÇÃO contra estas, com fundamento no artigo 269, IV do Código de Processo Civil.
3. INTIME-SE o exeqüente para atualizar o crédito
tributário representado pela CDA de nº 157.603 relativa ao ISSQN da competência de 2001 e requerer o que entender de direito.