Sunteți pe pagina 1din 9

F ÍF SÍ S

I CI A
C A

A energia nuclear

Toda tecnologia avançada pode ser usada para fins


pacíficos ou bélicos. Isso ocorre com a eletrônica, a
nanotecnologia, a biologia, a engenharia genética e
também com a energia nuclear. Os conhecimentos
podem ser aplicados – e são – na guerra, mas também
podem contribuir para melhorar a qualidade de vida da população.
A energia nuclear – conhecida pelas bombas lançadas em 1945 sobre
as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, bem como pelos
acidentes ocorridos com reatores nos Estados Unidos e na Ucrânia –
ganhou um estigma que até hoje prejudica uma discussão ponderada
sobre os riscos e benefícios advindos dessa tecnologia.
No entanto, inúmeras atividades presentes em nosso dia-a-dia em-
pregam, direta ou indiretamente e de modo seguro, as radiações
nucleares. Por exemplo, as técnicas nucleares têm sido anualmente
responsáveis pela cura ou prevenção do câncer em milhões de pes-
soas. A energia elétrica produzida em reatores gera quase 20% desse
tipo de energia no mundo e é uma das áreas que mais se preocupam
com a segurança, o que levou, nos últimos anos, vários países a optar
por essa tecnologia. A energia nuclear também tem sido amplamente
empregada no ambiente, na indústria e na pesquisa.

Odair Dias Gonçalves e Ivan Pedro Salati de Almeida


Comissão Nacional de Energia Nuclear (RJ)

36 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 7 • n º 2 2 0
F FÍ S
Í SI CI CA A

e seus usos na sociedade

Todos os materiais são formados por um número limitado de áto-


mos, que, por sua vez, são caracterizados pela carga Tipos de radiação
elétrica de seu núcleo e simbolizados pela letra Z.
Em física, a descrição adequada do átomo para a Na natureza, existem 92 elementos. Cada elemen-
compreensão de um determinado fenômeno de- to pode ter quantidades diferentes de nêutrons. Os
pende do contexto considerado. Para os objetivos núcleos com mesmo número de prótons, mas que
deste artigo, restritos às aplicações da energia nu- diferem no número de nêutrons, são denominados
clear, podemos considerar o núcleo como compos- isótopos de um mesmo elemento. Para determina-
to de prótons, com carga elétrica positiva, e nêu- das combinações de nêutrons e prótons, o núcleo
trons, sem carga. Ambos são denominados generi- é estável – nesse caso, são denominados isótopos
camente núcleons. A letra Z que caracteriza cada estáveis. Para outras combinações, o núcleo é ins-
um dos átomos, naturais ou artificiais, representa tável (isótopos radioativos ou radioisótopos) e emi-
o número de prótons no núcleo. tirá energia na forma de ondas eletromagnéticas
A maior parte da massa do átomo está concen- ou de partículas, até atingir a estabilidade.
trada em seu núcleo, que é muito pequeno (10-12 Dá-se o nome genérico de radiação nuclear à ener-
cm a 10-13 cm). Prótons e nêutrons têm massa gia emitida pelo núcleo. As principais formas de
aproximadamente igual, da ordem de 1,67 x 10-24 radiação são: i) emissão de nêutrons; ii) radiações
gramas, e são caracterizados por parâmetros espe- gama, ou seja, radiação eletromagnética, da mesma
cíficos (números quânticos) definidos pela mecâ- natureza que a luz visível, as microondas ou os rai-
nica quântica, teoria que lida com os fenômenos os X, porém mais energética; iii) radiação alfa (nú-
na escala atômica e molecular. cleos de hélio, formados por dois prótons e dois nêu-
Os prótons, por terem a mesma carga, se repe- trons); iv) radiação beta (elétrons ou suas antipar-
lem fortemente devido à força eletrostática. Isso tículas, os pósitrons, cuja carga elétrica é positiva).
tenderia a fazer com que essas partículas se afas- Nas ciências nucleares, a unidade de energia
tassem umas das outras, o que inviabilizaria o geralmente utilizada é o elétron-volt (eV). As ener-
modelo. Mas, como os núcleos existem, podemos gias emitidas pelo núcleo são acima de 10 mil eV,
concluir que deve existir uma força de natureza valor que é cerca de bilhões de vezes menor que
diferente da força eletromagnética ou da força o das energias com que lidamos no dia-a-dia. Esse
gravitacional – e muito mais intensa que estas – valor se torna significativo quando lembramos que
que mantém os núcleos coesos. em cerca de 100 gramas de urânio existem em
Quanto maior a energia de ligação média (soma torno de 1023 átomos. Uma bomba como a de Hi-
de todos os valores das energias de ligação dividi- roshima contém apenas 20 kg de matéria-prima,
da pelo número de partículas), maior a força de aproximadamente.
coesão do núcleo. Este artigo irá tratar da energia A liberação de energia do núcleo se dá através
nuclear, que está relacionada a essa força, bem de dois processos principais: decaimento radioati-
como de seus usos na sociedade. vo (também chamado desintegração) e fissão. 

o u t u b r o d e 2 0 0 5 • C I Ê N C I A H O J E • 37
F Í S I C A

IMAGENS CEDIDAS PELOS AUTORES


do decaimento. Assim, os radioisótopos podem ser
Energia
caracterizados pelas emissões produzidas no decai-
cinética
mento, que servem como uma ‘assinatura’ para ca-
da um deles.
Elemento 1
instável devido A desintegração pelo decaimento pode ocorrer
ao excesso de espontaneamente ou ser provocada pela instabili-
energia dade criada em núcleos estáveis, pelo bombardeio
Radiação gama
(radiação com partículas ou com radiação eletromagnética.
eletromagnética,
Elétrons
Na natureza, os elementos apresentam-se geral-
de mesma
natureza mente como uma mistura de diferentes isótopos,
Elemento 2
que a luz) estáveis ou radioativos. Por exemplo, o urânio, que
tem 92 prótons (Z = 92), é encontrado como uma
mistura de 99,3% de urânio-238 (238U, com 146
nêutrons) e 0,7% de urânio-235 (235U, 143 nêu-
Figura 1. trons), além de frações muito pequenas de outros
Processo de
desintegração isótopos – o número que segue o nome do elemen-
nuclear to químico ou antecede sua sigla é o chamado
número de massa (A), ou seja, a soma de seus
prótons e nêutrons.
Cada isótopo instável tem sua meia-vida ca-
Decaimento nuclear racterística. A meia-vida do 238U é de 4,47 x 109
anos, o que significa que são necessários 4,47 bi-
O decaimento radioativo ocorre segundo as leis da lhões de anos para reduzir à metade sua quanti-
probabilidade. O processo é complexo e explicá-lo dade inicial. Ao decair, o 238U produz outro ele-
aqui fugiria ao escopo deste artigo. Assim, basta mento instável, o tório-234, cuja meia-vida é de
saber que nele o núcleo se transforma no de um 24,1 dias. Este, por sua vez, também decai, produ-
outro elemento ao ter sua carga elétrica mudada zindo outro isótopo instável (protactínio-234) e
pela emissão de radiação, mudando o número de assim por diante, até que a estabilidade seja
prótons e/ou nêutrons (figura 1). alcançada com a formação do chumbo com 206
O decaimento pode ocorrer sucessivamente, núcleons (206Pb).
causando uma cadeia de desintegrações, até que
resulte um elemento estável. O tempo que um
certo número de núcleos de um radioisótopo leva
para que metade de sua população decaia para
outro elemento por desintegração é denominado
Fissão nuclear
meia-vida do radioisótopo. Na fissão nuclear, a energia é liberada pela divisão
A radiação emitida no decaimento é composta do núcleo normalmente em dois pedaços menores
de partículas e/ou radiação gama e é característica e de massas comparáveis – para núcleos pesados,
existe a fissão em mais de dois
pedaços, mas é muito rara, uma
Radiação em 1 milhão para urânio. Pela
lei de conservação de energia, a
soma das energias dos novos nú-
Núcleo de cleos mais a energia liberada
urânio-235
para o ambiente em forma de
energia cinética dos produtos de
fissão e dos nêutrons liberados
Nêutrons rápidos deve ser igual à energia total do
Produtos (de dois a três)
da fissão núcleo original.
A fissão do núcleo raramente
ocorre de forma espontânea na
natureza, mas pode ser induzida
se bombardearmos núcleos pe-
sados com um nêutron, que, ao
Figura 2.
Processo de ser absorvido, torna o núcleo
fissão nuclear instável.

38 • CIÊNCIA HOJE • vol. 37 • nº 220


F Í S I C A

Alguns
eventos
importantes
no uso da
Núcleo de energia nuclear
urânio-235

Nêutron 1896 Descoberta


a radioatividade

1898 Isolados o polônio


e o rádio. Descoberta
a radiação gama

1902 Confirmada
a desintegração
radioativa espontânea

1910 Uso ingênuo


Figura 3. a de materiais
Reação em cadeia 1920 radioativos na
medicina e indústria

1911 Concebida a idéia


O 235U, por exemplo, ao ser bombardeado com Na medicina nuclear, os ra- de usar traçadores
radioativos
um nêutron, fissiona em dois pedaços menores, diofármacos são injetados no pa-
emitindo normalmente dois ou três nêutrons (figu- ciente, concentrando-se no local 1926 Uso de radiação para o
ra 2). Se houver outros núcleos de 235U próximos, a ser examinado e emitindo ra- tratamento de câncer
eles têm uma certa chance de ser atingidos pelos diação, que, por sua vez, é de-
1934 Primeiro radionuclídeo
nêutrons produzidos na fissão. Se houver um gran- tectada no exterior do corpo por artificial.
de número disponível de núcleos de urânio-235, a um detector apropriado, que po- Primeira fissão do
probabilidade de ocorrerem novas fissões será alta, de transformar essa informação urânio com nêutrons
gerando novos nêutrons, que irão gerar novas fis- em imagens, permitindo ao mé- 1936 Uso em terapia
sões. Esse processo sucessivo é chamado reação em dico observar o funcionamento de radioisótopos
cadeia (figura 3). daqueles órgãos. produzidos em
Controlando-se o número de nêutrons produzi- Os radiofármacos são utiliza- ciclotron
dos e a quantidade de 235U, pode-se controlar a dos no diagnóstico de diversas 1939 Carta de Einstein sobre
taxa de fissão ao longo do tempo. Essa reação em patologias (figura 4). Têm meia- a possibilidade de os
cadeia, denominada controlada, é o processo utili- vida curta – da ordem de dias ou alemães construírem
zado em um reator nuclear. Já em uma bomba horas – e, em um curto período a bomba atômica
atômica, as fissões ocorrem todas em um intervalo de tempo, diminuem sua ativi- 1941 Início do programa
de tempo muito curto, gerando uma enorme quan- dade para níveis desprezíveis, nuclear
tidade de energia e provocando a explosão. minimizando a possibilidade de norte-americano
O que torna o urânio conveniente para uso como dano ao paciente.
1942 Início da construção
combustível é a grande quantidade de energia libe- O principal material empre- de um reator
rada por esse elemento ao se fissionar. gado em medicina nuclear é o nos Estados Unidos
tecnécio-99m, que tem meia-vi-
1945 Lançamento das
da de seis horas, ou seja, a cada
bombas atômicas
seis horas a radiação emitida cai sobre Hiroshima
Na saúde pela metade. Outros radiofárma-
cos são o tálio-201 (meia-vida
e Nagasaki

Uma ferramenta importante no tratamento e di- de três dias), gálio-67 (meia-vida


agnóstico de doenças são os radiofármacos, que de três dias), iodo-131 (meia-
são obtidos a partir de radioisótopos produzidos vida de oito dias) e flúor-18
em reatores nucleares ou em aceleradores de par- (meia-vida de duas horas).
tículas. Esses radioisótopos são, em geral, asso- Uma técnica nova e impor-
ciados a substâncias químicas (fármacos) que se tante na medicina nuclear é a
associam a órgãos ou tecidos específicos do corpo PET (sigla, em inglês, para tomo-
humano. grafia por emissão de pósitrons 

outubro de 2005 • CIÊNCIA HOJE • 39


F Í S I C A

Figura 4. Radiofármacos produzidos


pela CNEN. Entre parênteses,
ECD (tecnécio-99m) Pertecnetato (tecnécio-99m) está o nome do radioisótopo
em cada radiofármaco

Fio de irídio (irídio-192)

NaI (iodo-123 e iodo-131)


que irão interagir com o tecido.
MAA (tecnécio-99m e iodo-131) Outra forma de aplicação consis-
te em se colocar pequenas fontes em
contato direto com a área do tecido
Estanho coloidal MIBG-123
(tecnécio-99m) TI (Itálio-201) a ser irradiada (braquiterapia). Es-
Fitato (tecnécio-99m) sas fontes podem ser aplicadas por
MIAA (tecnécio-99m) um determinado período de tempo
Pertecnetato (tecnécio-99m)
e depois retiradas – como é feito,
DMSA (tecnécio-99m) por exemplo, em tratamentos de cân-
SAH (cromo-51)
Hippuran (iodo-123 e iodo-131) cer de útero – ou ser implantadas no
EDTA (cromo-51)
GHA (tecnécio-99m) corpo do paciente, como no trata-
Citrato de gálio (gálio-67) DTPA (tecnécio-99m) mento de câncer de próstata.
Outro uso da radiação em medici-
na é a irradiação de sangue com raios
EDTPM (samário-153) Semente de iodo (iodo-125)
MDP (tecnécio-99m) gama. Esse método é usado no sangue
PIRO (tecnécio-99m) a ser ministrado em pacientes que
Dextram 500 (tecnécio-99m) têm deficiência imunológica. Entre
outras coisas, o tratamento com a ra-
diação diminui a quantidade de
linfócitos T (células de defesa) no san-
e elétrons), que utiliza radioisótopos de meia-vida gue doado, o que reduz em muito no paciente o risco
muito curta e que têm como característica o de rejeição do órgão ou do tecido transplantados.
decaimento com a liberação de pósitrons, sendo
considerada por muitos especialistas a melhor e
mais precisa forma de radiodiagnóstico por ima-
gem disponível hoje. Esses radioisótopos são pro-
duzidos em aceleradores de partículas específicos
Usos na indústria
(ciclotrons), sendo o principal produto o flúor-18, A indústria é uma das maiores usuárias das técni-
injetado no sangue do paciente na forma de cas nucleares no Brasil, respondendo por cerca de
fluorodeoxiglicose (FDG). 30% das licenças para utilização de fontes radioati-
O Brasil produz esses radioisótopos no Instituto vas. Elas são empregadas principalmente para a
de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em melhoria da qualidade dos processos nos mais
São Paulo, e no Instituto de Engenharia Nuclear diversos setores industriais. As principais aplica-
(IEN), no Rio de Janeiro, ambos da Comissão Na- ções são na medição de espessuras e de vazões de
cional de Energia Nuclear (CNEN). Devido à meia- líquidos, bem como no controle da qualidade de
vida muito curta, os radiofármacos para PET de- junções de peças metálicas.
vem ser produzidos próximos ao local de uso. As fontes mais utilizadas são o cobalto-60, o
As radiações nucleares são utilizadas também irídio-192, o césio-137 e o amerício-241. A faci-
em diversas terapias, principalmente no tratamen- lidade de penetração da radiação em diversos ma-
to de câncer. Nesse caso, a irradiação das células teriais, bem como a variação de sua atenuação
cancerosas tem o objetivo de matá-las e impedir com a densidade do meio que atravessa, tornam
sua multiplicação. Uma das formas de aplicação seu uso conveniente em medidores de nível, espes-
da radiação consiste em se colocar uma fonte ex- sura e umidade. Na indústria de papel, esses medi-
terna ao paciente, a uma certa distância do tumor dores são utilizados para garantir que todas as
a ser tratado (teleterapia). Tradicionalmente, utili- folhas tenham a mesma espessura (padrão de gra-
za-se uma fonte de cobalto-60 nesse tratamento, matura), para atender às exigências de qualidade
mas esse processo vem sendo substituído por ace- do mercado mundial, enquanto, na indústria de
leradores lineares, que produzem feixes de elé- bebidas, a radiação é usada para controle de en-
trons que, ao incidir em um alvo, geram fótons, chimento de vasilhames.

40 • CIÊNCIA HOJE • vol. 37 • nº 220


F Í S I C A

Outro uso importante das radiações nucleares No Brasil, está em implantação 1949 União Soviética
está na aplicação de traçadores radioativos. Nesse um projeto semelhante no Nor- explode sua primeira
método, uma substância com material radioativo é deste, na região de produção de bomba nuclear
injetada em um meio, e é feito um acompanha- mangas e uvas, com patrocínio
1951 Criação do Conselho
mento de seu comportamento nos processos que se de prefeituras, governos estadual Nacional de Pesquisas
deseja observar. Traçadores radioativos também e federal, contando com auxílio (CNPq), motivada
têm sido cada vez mais utilizados para detectar da Agência Internacional de pela era nuclear
problemas de vazamentos e mau funcionamento Energia Atômica (AIEA). 1952 Estados Unidos
em grandes plantas da indústria química, permi- explodem a primeira
tindo economia de tempo e de dinheiro. bomba de hidrogênio
Na exploração de petróleo, fontes de nêutrons
1952 Criação do Instituto de
são utilizadas em processos para determinar o
perfil do solo, enquanto outras podem auxiliar a
Na pesquisa Pesquisas Radioativas
(IPR), mais tarde
distinguir, nesse processo, a quantidade de água,
gás e óleo existentes no material extraído, facili-
e no ambiente Centro de
Desenvolvimento
de Tecnologia Nuclear
tando e barateando o processo de exploração. A utilização de radioisótopos na
(CDTN/CNEN),
Cada vez mais utilizados, os irradiadores indus- pesquisa permite obter dados em Belo Horizonte
triais são instalações com compartimentos onde o que seriam inviáveis por outros
material a ser tratado é exposto à radiação que irá processos. Um grande número de 1953 União Soviética
explode sua bomba
matar bactérias e microrganismos, podendo ser processos físicos e biológicos in-
de hidrogênio
usado como um processo de esterilização. Existem vestigativos emprega material
no mundo hoje cerca de 160 irradiadores indus- radioativo. Na alimentação ani- 1954 Estados Unidos
triais funcionando, sendo seis no Brasil. Essas ins- mal, por exemplo, é possível ve- dificultam entrega de
três ultracentrífugas
talações são utilizadas para irradiar e esterilizar rificar e acompanhar o metabo-
compradas pelo Brasil
materiais cirúrgicos, remédios, alimentos, mate- lismo de rações e outros alimen- da Alemanha
riais de valor histórico etc. tos utilizando radioisótopos que
O cobalto-60 é o material mais utilizado como emitem radiação ao longo do 1955 Início do
abastecimento urbano
fonte de radiação. A exposição à radiação gama processo metabólico.
de energia elétrica
não contamina os materiais irradiados nem os trans- Na pesquisa de plantas, os ra- de origem nuclear
forma em materiais radioativos. Portanto, ao ces- dioisótopos permitem verificar a
sar o processo, não existe mais radiação nos ma- absorção de nutrientes e o efeito 1956 Instalado o primeiro
reator de pesquisa
teriais. Leva grande vantagem sobre substâncias de microrganismos, enquanto, no do hemisfério Sul,
químicas que são, às vezes, usadas para o mesmo estudo de solos, possibilita ob- no Instituto de
fim e que deixam resíduos tóxicos. Também leva servar os processos de infiltra- Energia Atômica (SP).
vantagem sobre a esterilização com calor – na qual ção de água no solo (lixiviação), Criação da Comissão
os materiais são submetidos a altas temperaturas bem como o processo de filtra- Nacional de Energia
Nuclear (CNEN)
–, uma vez que a técnica permite a irradiação de gem (percolação), possibilitando
materiais plásticos, como seringas e fios cirúrgi- a verificação da qualidade do 1957 Criada a Agência
cos, sem afetar sua integridade. terreno estudado e das formas de Internacional de
Energia Atômica (AIEA)
Nos alimentos para consumo humano, a radi- melhorar sua produtividade.
ação gama elimina microrganismos patogênicos, Vale comentar, ainda que bre- 1962 Criação do Instituto
como a Salmonella typhimurium. A irradiação de vemente, mais três aplicações de de Engenharia Nuclear,
frutas, além de suprimir infestações indesejadas, técnicas nucleares no meio am- no Rio de Janeiro (RJ)
eleva a vida útil do produto e aumenta o tempo biente: i) a análise por irradia- 1963 Início da produção
para seu consumo, ao contrário da desinfecção ção com nêutrons, que permite rotineira
com calor, que acelera o processo de amadureci- medir quantidades extremamen- de radioisótopos
mento. te pequenas de poluentes; ii) o e radiofármacos
no Brasil
Outra aplicação na agroindústria é o uso da uso de traçadores radioativos pa-
IPEN

técnica de ‘macho estéril’ para o combate a pra- ra mapear a origem de vazões da


gas na lavoura. Nessa técnica, são produzidos ma- água e de contaminantes, o que
chos esterilizados da praga a ser combatida e que possibilita obter, entre outras
depois são soltos na região infestada, diminuindo características, o tempo de recar-
a população ao afetar sua capacidade de repro- ga de aqüíferos, facilitando seu
dução. Esse processo é usado por países como manejo e uso racional; iii) a este-
Estados Unidos, México, Guatemala e Argentina rilização de lixo e dejetos orgâ-
no combate à mosca-da-fruta (Ceratitis capitata). nicos, de forma a garantir que 

outubro de 2005 • CIÊNCIA HOJE • 41


F Í S I C A

não contenham microrganismos nocivos, é parti- tálicos que irão formar os elementos combustíveis
cularmente útil no tratamento de esgotos ou de do núcleo do reator.
lixo hospitalar. Atualmente, no mundo, estão em operação 440
reatores nucleares voltados para a geração de ener-
gia em 31 países. Outros 33 estão em construção.
Cerca de 17% da geração elétrica mundial é de
Geração de energia origem nuclear, a mesma proporção do uso de ener-
gia hidroelétrica e de energia produzida por gás.
Uma das principais utilizações da energia nuclear Alguns países desenvolvidos têm seu abastecimento
é a geração de energia elétrica. Usinas nucleares de energia elétrica com um alto percentual de ge-
são usinas térmicas que usam o calor produzido na ração nuclear. Entre eles, a França tem 78%, a
fissão para movimentar vapor de água, que, por Bélgica 57%, o Japão 39%, a Coréia do Sul 39%, a
sua vez, movimenta as turbinas em que se produz Alemanha 30%, a Suécia 46%, a Suíça 40%. So-
a eletricidade. Em um reator de potência do tipo mente nos Estados Unidos, os 104 reatores em fun-
PWR (termo, em inglês, para reator a água pres- cionamento, que geram 20% da eletricidade daque-
surizada), como os reatores utilizados no Brasil, o le país, produzem mais eletricidade que todo o sis-
combustível é o urânio enriquecido cerca de 3,5%. tema brasileiro de geração elétrica. Além desses
Isso significa que o urânio encontrado na natureza, reatores, funcionam mais 284 reatores de pesquisa
que contém apenas 0,7% do isótopo 235U, deve ser em 56 países, sem contar um número estimado de
processado (‘enriquecido’) para que essa propor- 220 reatores de propulsão em navios e submarinos.
ção chegue a 3,5% (figura 5). Em reatores de pes-
quisa ou de propulsão – estes últimos usados como
fonte de energia de motores em submarinos e na-
vios –, o enriquecimento pode variar bastante. Para
a confecção de bombas nucleares, é necessário um
Confiança e resíduos
enriquecimento superior a 90%. A confiança na utilização de energia nuclear para
O processo completo de obtenção do combus- geração de energia elétrica sofreu bastante em anos
tível nuclear é conhecido como ciclo do combus- recentes devido a dois acidentes. O primeiro foi o
tível e compreende diversas etapas: i) extração do de Three Mile Island (Estados Unidos), que, apesar
minério do solo; ii) beneficiamento para separar o de não ter tido conseqüências radiológicas signifi-
urânio de outros minérios; iii) conversão em gás do cativas, levou os países ocidentais a fazer uma re-
produto do beneficiamento, o chamado yellow cake visão das medidas de segurança nas usinas nuclea-
(ou ‘bolo amarelo’); iv) enriquecimento do gás, no res em funcionamento, aumentando o rigor do li-
qual a proporção de 235U é aumentada até o nível cenciamento nuclear. O segundo foi o de Cherno-
desejado; v) reconversão do gás de urânio enrique-
cido para o estado de pó; vi) fabricação de pasti-
lhas a partir da compactação do pó; vii) e final-
mente a montagem dos elementos combustíveis,
quando se colocam as pastilhas em cilindros me-

Edifício do reator
Pressurizador Gerador elétrico
Turbina
Reator

Contenção
Condensador

Figura 5.
Circuito Circuito Esquema de
primário secundário Água de funcionamento
circulação de um reator
a água
Tanque pressurizada
de água
Gerador de vapor

42 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 7 • n º 2 2 0
F Í S I C A

byl (Ucrânia), que lançou na atmosfera grande zidos pelas áreas médica e in-
quantidade de material radioativo. dustrial. Os rejeitos de alta ati-
Enquanto Three Mile Island fez com que se au- vidade, provenientes dos com-
mentassem os custos das usinas nucleares em fun- bustíveis já utilizados das usinas
cionamento – devido à exigência de investimentos nucleares, são armazenados nas
adicionais nos sistemas de segurança, causando próprias usinas, que contam com
atraso no licenciamento dos projetos em andamento local adequado para armazenar
–, Chernobyl aumentou a desconfiança em relação todo o volume produzido em sua
às centrais nucleares. Não foi devidamente conside- vida útil, até que surja solução
1967 Brasil assina Tratado
rado e divulgado, entretanto, o fato de aquela usina definitiva para o problema. para a Proscrição
ter projeto e dispositivos de segurança totalmente Milhões de dólares vêm sen- de Armas Nucleares
diferentes dos reatores ocidentais. do gastos na busca de uma so- na América Latina
Em parte em função desses fatores, os países lução – de preferência, que tor- e Caribe
ocidentais passaram algum tempo para voltar a ne o resíduo não radioativo e 1968 Estabelecido
investir em centrais nucleares. A exceção foi a inócuo. Em todo o mundo, os pela AIEA o Tratado
França, que reafirmou sua opção pela energia depósitos de rejeitos radioati- de Não-proliferação
nuclear, tornando-se o grande exportador de ener- vos têm que ser gerenciados e
1972 Assinado com
gia elétrica da Europa. Mesmo sem novas usinas, administrados pelo país, sendo os Estados Unidos
entretanto, a geração nuclear elétrica aumentou, controlados pelas respectivas acordo para a
graças à maior eficiência das usinas. agências reguladoras de ativida- construção de Angra 1
Nos Estados Unidos, as empresas nucleares pas- des nucleares, segundo normas
1981 Autorizado
saram a modernizar suas usinas e, através da troca nacionais e internacionais, de funcionamento
de alguns equipamentos, estão prorrogando a vida modo a garantir a segurança dos provisório de Angra 1
útil dos reatores por até mais 20 anos. Já se subme- mesmos.
1982 Brasil passa
teram a esse processo e conseguiram aprovação 32 a produzir bolo
usinas nucleares. Estão sendo analisadas mais 16, e amarelo (yellow cake )
cerca de 30 outras já manifestaram seu interesse
pela prorrogação. A previsão é de que, nos próxi-
mos anos, cerca de 80% das usinas nucleares norte-
Energia 1984 Angra 1 entra em
operação comercial

americanas tenham sua vida útil prolongada.


Na Ásia, não houve paralisação na construção
nuclear no país 1987 Brasil inicia produção
de urânio enriquecido.
Acidente em Goiânia
de usinas nucleares. No Ocidente, outros países O Brasil tem um programa am-
com césio-137
estão revendo sua posição. O que se observa é uma plo de uso de energia nuclear pa-
grande mudança, com vários países voltando a ra fins pacíficos. Cerca de 3 mil 1988 Inaugurado o reator
considerar a energia nuclear como opção viável, instalações estão em funciona- MB/01 concebido e
construído no Brasil
principalmente após a verificação do efeito crítico mento, utilizando material ou
dos poluentes emitidos por outras formas de gera- fontes radioativas para inúme- 1991 Brasil e Argentina
ção de energia elétrica. A Finlândia está começan- ras aplicações na indústria, saú- assinam acordo para
do a construir o que seria a primeira usina na Eu- de e pesquisa. No ano passado, uso pacífico da energia
nuclear
ropa ocidental fora da França em muitos anos. A o número de pacientes utilizan-
Suécia e a Suíça se recusaram a rejeitar a opção do radiofármacos foi superior 1994 Entra em vigor
nuclear, deixando em aberto essa possibilidade. A a 2,3 milhões, em mais de 300 o Tratado para a
Alemanha e a Itália, apesar de terem feito no pas- hospitais e clínicas em todo o Proscrição de Armas
Nucleares na América
sado uma opção por deixar de utilizar a energia país, com um crescimento anual Latina e Caribe
nuclear na geração elétrica, hoje utilizam energia da ordem de 10% nos últimos
de origem nuclear importada da França. A Itália, 10 anos. 1995 Brasil passa a produzir
o radiofármaco
em particular, já está reavaliando a questão. Novos ciclotrons, que permi-
tálio-201
Vale ressaltar que, entre as formas de geração tem a produção de radioisótopos
de energia, a nuclear é uma das que produzem para o uso de técnicas nucleares 2000 Início de operação
menor volume de rejeitos e a que tem maior cui- avançadas, foram instalados em de Angra 2
dado com o acondicionamento e guarda deles. A São Paulo e no Rio de Janeiro – 2004 Entra em
dificuldade com essas ações é que os rejeitos ra- a CNEN irá instalar, nos próxi- operação a usina
dioativos podem durar até milhares de anos e, por mos anos, ciclotrons em Belo de enriquecimento
isso, devem ficar isolados e protegidos. Horizonte e Recife, para tornar nuclear em
Resende (RJ)
O maior volume dos rejeitos corresponde àque- disponível essa tecnologia à po-
les de baixa e média atividade, que são os produ- pulação dessas regiões. 

outubro de 2005 • CIÊNCIA HOJE • 43


F Í S I C A

ELETROBRAS
As reservas 10 reatores equivalentes aos existentes – Angra 1
brasileiras de e Angra 2 – por cerca de 100 anos. O funciona-
urânio – 300 mil
mento dessas duas usinas foi importante no perío-
toneladas – são
suficientes para do de falta de energia no Brasil.
manter em O Ministério da Ciência e Tecnologia coorde-
funcionamento nou um grupo de trabalho encarregado de rever o
10 reatores programa nuclear e formular planos de médio
equivalentes
prazo. O grupo apresentou um plano realista para
aos existentes
(Angra 1 e ser executado em 18 anos e que objetiva o forta-
Angra 2, na foto) lecimento de todas as atividades, inclusive a aqui-
por 100 anos sição de novos reatores para chegar em 2022 com,
pelo menos, a mesma participação nuclear (4%)
na matriz energética brasileira. A proposta encon-
tra-se em análise na presidência da República.

A segurança
A geração de eletricidade por reatores nucleares é
uma das áreas tecnológicas que mais se preocupam
SUGESTÕES com a segurança. Prova dessa segurança é que, entre
PARA LEITURA todos os reatores em funcionamento, o único aci-
MARTINS, J. B. A
A produção de radioisótopos por reatores tam- dente com vítimas foi o de Chernobyl, onde as con-
história do átomo bém tem aumentado, graças à modernização dos dições de segurança eram notadamente insipientes.
– de Demócrito equipamentos e da melhoria dos métodos de pro- A segurança nuclear é constantemente aperfei-
aos quarks
(Ciência Moderna, dução. Novas técnicas de combate ao câncer, com çoada, sendo fruto de um esforço internacional,
Rio de Janeiro, maior eficácia e menos efeitos colaterais, têm sur- com projetos e sistemas cada vez mais seguros e
2001).
CAULLIRAUX, H. gido, fazendo aumentar a procura pelos radiofár- confiáveis, procurando reduzir as possibilidades
Hiroshima 45, macos, de forma que a demanda sempre supera a de falhas e acidentes com conseqüências. Os novos
o grande golpe:
produção brasileira. aperfeiçoamentos são introduzidos nos reatores
da concepção do
átomo à tragédia O uso de técnicas com materiais radioativos na mais antigos, atualizando sempre a condição de
de Hiroshima indústria tem aumentado com a modernização dos segurança. A garantia de que as experiências e no-
(Lucerna,
Rio de Janeiro, equipamentos importados e com a sofisticação das vas exigências sejam estendidas a todos os países
2005). técnicas de controle de processos e de qualidade. é dada pelos acordos internacionais, geridos pela
NA INTERNET
A demanda por controle de qualidade leva a indús- AIEA. Outros acordos, destacando-se o Tratado de
http://www.cnen. tria a utilizar cada vez mais os processos de aná- Não-proliferação (TNP), garantem um amplo con-
gov.br (apostilas lise não destrutiva com radiações. trole que inibe a proliferação das armas nucleares
e informações
gerais) Na área de geração de energia, o Brasil é um e que busca a redução dos arsenais existentes.
http://www.iaea.org dos poucos países do mundo a dominar todo o No Brasil, esse controle é responsabilidade da
(estatísticas,
história e dados
processo de fabricação de combustível para usinas CNEN, que licencia e inspeciona as instalações que
completos sobre nucleares. O processo de enriquecimento isotópico utilizam material nuclear em todas as áreas, inclu-
a área nuclear, do urânio por ultracentrifugação, peça estratégica sive instalações médicas e industriais, para garantir
em inglês)
http://www.inb.gov.br dentro do chamado ciclo do combustível nuclear, que esse uso seja feito dentro das mais modernas
(ciclo do é totalmente de domínio brasileiro. normas de segurança. Além disso, a CNEN credencia
combustível)
http:// Hoje, o combustível utilizado nos reatores de os profissionais responsáveis pela segurança, que,
www.uic.com.au/ pesquisa brasileiros pode ser totalmente produ- por lei, devem ter um vínculo formal ou fazer parte
nip22.htm
zido no país. Entretanto, comercialmente ainda do corpo de funcionários da instalação.
(informações
sobre o acidente fazemos a conversão e o enriquecimento no exte- Como já mencionado, toda tecnologia carrega
em Chernobyl, rior. As reservas brasileiras de urânio já confirma- algum risco, e acidentes podem acontecer, mas
em inglês)
http://www.world- das são de 300 mil toneladas e estão entre as seis cabe à humanidade criar condições para que as
nuclear.org maiores do mundo. Em termos energéticos, mesmo vantagens superem de forma ampla e compensa-
(informações
sobre a área
com apenas uma terça parte do país prospectado, dora os riscos existentes. Isso é o que tem sido fei-
nuclear, essas reservas são da mesma ordem de grandeza to com a energia nuclear, cada vez mais segura e
em inglês) daquelas atualmente existentes em petróleo e se- cada vez mais presente e indispensável em nosso
riam suficientes para manter em funcionamento cotidiano. ■

44 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 7 • n º 2 2 0

S-ar putea să vă placă și