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RESUMO
Para os que trabalham com o ensino da Geografia é praticamente consensual considerar a grande
relevância do uso do Atlas geográfico no processo ensino-aprendizagem dos alunos do ensino
Fundamental e Médio. Embora sua importância como recurso didático na construção de conhecimentos
geográficos seja reconhecida pelos professores e pesquisadores, seu potencial didático permanece muitas
vezes subutilizada ou ignorada nas salas de aulas.
Considerando o papel fundamental da cartografia, ou seja, localizar, representar, evidenciar relações
lógicas e possibilitar explicações, conclui-se, nesse sentido, que a cartografia possibilita a estruturação do
pensamento científico e do conhecimento espacial. A elaboração de um mapa implica o desenvolvimento
de aptidões diversas, formadores do raciocínio lógico-científico.
Simielli (1999) defende que os mapas devem ser elaborados segundo os objetivos de sua utilização,
assim como e principalmente de acordo com o nível de preparação do leitor e de seu desenvolvimento
cognitivo. O mapa apresenta um potencial muito mais abrangente que o papel tradicional que lhe é
reservado. Com efeito, trata-se de um instrumento privilegiado para a elaboração e a construção do
conhecimento que vai muito além da alfabetização gráfica do aluno: para se construir um mapa é
necessário uma alfabetização científica. A linguagem cartográfica substitui com grande vantagem até
mesmo a linguagem escrita ao expressar a percepção do espaço e o tratamento de seus dados.
Concordando com Simielli, o papel do mapa não é mais considerado um simples suporte visual
usado para localizar lugares e fenômenos, mas sim como um meio de expressão capaz de desenvolver o
pensar geográfico nos estudantes. Ler, interpretar, construir mapas são habilidades essenciais para a
educação geográfica e à aquisição de conhecimentos geográficos. Trata-se, portanto de guiar o aluno num
processo cognitivo que visa à descrição, a explicação e a generalização com base na analise e síntese.
Chevallier (1995) discute o papel do mapa no desenvolvimento da conceituação pelo estudante,
afirmando que "o exercício cartográfico tem um valor estruturante quando faz passar de uma lógica de
identificação de objetos singulares a unidades conceituais agrupando em uma mesma classe tudo o que é
concebido como semelhante de um certo ponto de vista.”.
Assim, observar um mapa permite ao aluno realizar um processo de vai e vem entre sua visão e seu
pensamento, que subtende que as ações de ver e pensar estão intimamente ligadas umas às outras na
construção do conhecimento geográfico. A simples percepção visual do estudante leva a um pensamento
global, através da identificação, classificação, e generalização.
No momento da descrição, as questões pertinentes permitem ao aluno descobrir as características
do fenômeno estudado no mapa. Quanto à explicação, o aluno deve interpretar a distribuição do fenômeno
estabelecendo as ligações significativas com outros fenômenos. Da mesma forma, ao nível de
generalização, a questão é elaborar um principio que pode ser aplicável a outros espaços, onde se encontre
as mesmas ligações explicativas em relação ao fenômeno estudado.
Sem dúvida, ao ler um mapa, o aluno deve fazer perguntas e tentar responde-las, o que lhe
engendrará num processo de interpretação contribuindo para a produção de um novo saber (Gregg, 1997).
A elaboração do Atlas Geográfico e sócio ambiental do município de Vitória teve como diretriz o
entendimento da ciência geográfica como catalisadora dos conhecimentos das ciências naturais e sociais.
A proposta foi estruturada com o propósito de levar o aluno à construção e compreensão dos conceitos e
concepções geográficas, respeitando o estágio cognitivo de cada faixa etária.
Teve como objetivo desenvolver um recurso pedagógico que proporcione ao aluno a capacidade
de leitura do espaço geográfico através da sua relação de pertencimento com o lugar e que ainda suprisse a
carência de conceitos e conteúdos de educação para o meio ambiente nos livros didáticos.
A metodologia seguida foi a da abordagem sistêmica que envolve uma nova maneira de ver o
mundo e uma nova forma de pensar, conhecida como o pensamento sistêmico - significa pensar em termos
de relações, padrões e contextos.
A teoria geral dos sistemas, cujo termo representa uma construção solidária; formado de partes
solidárias articuladas entre si, junto e associado, convoca as disciplinas para se reunirem em busca de
soluções para os problemas, sendo impossível uma visão disciplinar para compreender e correlacionar
todos os fatores e processos que envolvem as dinâmicas da problemática ambiental.
Esses sistemas vivos são todos cujas estruturas específicas resultam das interações e
interdependência de suas partes. A teoria dos sistemas ensina que todos os sistemas vivos compartilham
de propriedades e princípios de organização comuns. Isto significa que o pensamento sistêmico pode ser
usado para integrar disciplinas e descobrir semelhanças entre diferentes fenômenos dentro da ampla gama
de sistemas vivos. (Capra, F, 2003)
A compreensão das temáticas relativas ao meio ambiente, suas potencialidades, seus problemas
abordados nos livros didáticos do ensino fundamental e médio surgem como uma problemática na
formação ambiental do cidadão. Normalmente os temas são descritos e analisados individualmente ou
isoladamente, sendo raramente inter-relacionados ou conjugado aos seus condicionantes, e quando o são,
normalmente surgem de forma linear, desconsiderando a complexidade do ambiente onde estão inseridos.
O estudo do espaço local, associado às questões ecológicas, ou ao meio-ambiente, coloca-se
diretamente relacionado aos diversos “temas transversais”, ou temas sociais. A Geografia, ao pretender o
estudo dos lugares, suas paisagens e território, tem buscado um trabalho interdisciplinar, lançando mão de
outras fontes de informação. Os Parâmetros Curriculares Nacionais nos ajudam a reconhecer, na paisagem
local e no lugar onde se encontram inserida, as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e
transformação dela pela ação de sua coletividade, de seu grupo social. (BRASIL, 1997).
O ensino voltado para o meio ambiente mostra ao individuo que este é parte integrante do
local em que vive apontando as relações que este possui com o meio ambiente. Uma aproximação
mais estreita com o seu lugar de vida poderá ser vivenciada pelo educando, incentivando-o a
utilizar-se dos diferentes saberes e integrar-se à comunidade escolar. Para DUBOS (1981) “os
ambientes adquirem os atributos de lugar, pela fusão da ordem natural e humana e a identificação
com o lugar é conseguida quando se identificam e se experimentam satisfações sensoriais,
emocionais e espirituais com o ambiente”.
Assim, a análise orientada do espaço municipal permite aos nossos alunos construírem
inúmeros conceitos, como, por exemplo, de espaço (noções topológicas e de localização), de
tempo como um conceito complementar ao de espaço. Permite ainda, de forma contextualizada
no tempo e no espaço, tratar das necessidades básicas da população, desenvolver, entre outros, o
tema do meio ambiente, das atividades econômicas, das situações de vizinhança (relações
administrativas e funcionais entre os bairros, entre o campo e a cidade), além de outros conceitos
como desenvolvimento, crescimento, produção, etc.
Segundo Dantas (2006), um Atlas escolar municipal é diferente dos Atlas escolares gerais, pois
permite um entendimento da organização espacial ao propiciar condições para o trabalho com conceitos
específicos, vinculados à realidade local, os que fazem com que os alunos adquiram conhecimentos a
respeito do lugar, podendo agir sobre ele conscientemente.
Para LE SANN (1995), a elaboração de um Atlas Escolar Municipal objetiva a organização de um
conjunto de informações sobre determinado município, em função dos conceitos geográficos básicos.
Trata-se de uma sistematização gradativa, segundo árvores lógicas de construção do conhecimento, que
possibilita a formação dos conceitos básicos pelos alunos. Considerando que todo conhecimento é
adquirido a partir da ação efetiva do sujeito em fase de aprendizagem, a estrutura do Atlas, propondo
atividades específicas, possibilita a participação ativa do aluno na elaboração das noções e conceitos
geográficos.
O município como um lugar de vivência pode ser considerado o objeto de estudo, a fonte de
informações e o campo a ser trabalhado. Assim, ao estudar o município de Vitória considerou-se o espaço
local e a sua posição no espaço maior, melhor dizendo, no interior do Estado e do Brasil.
Nessa orientação, entendemos o Atlas geográfico e sócio ambiental como um instrumento de
indução da inter e transdisciplinaridade pelo fato de possibilitar a relação de uma disciplina com a outra e
sistematicamente associa-las. Partindo dessa idéia o meio ambiente não deve dar lugar a uma nova
disciplina, mas sim penetrar em todas elas.
Desta forma evidenciar o componente ambiental inscrito nos conteúdos geográficos dos Atlas
escolares pode favorecer ao aluno entender a importância que o meio ambiente possui para a manutenção
do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas, e construir seus próprios conhecimentos a partir de suas
vivências e pelas suas reflexões, despertar para a necessidade de agir no seu ambiente, no sentido de
conservá-lo.
Portanto, o Atlas geográfico ambiental local se caracteriza como uma ferramenta fundamental
para o aluno, fazendo com que este tenha um maior conhecimento das questões ambientais que estão ao
seu redor, contribuindo para que desenvolva uma compreensão integrada do meio ambiente em suas
múltiplas e complexas relações. Em outras palavras, construir o conhecimento a partir da realidade, sobre
a realidade e para então transformar esta realidade.
RECOMENDAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rosângela Doin de, Atlas Municipal Escolar de Limeira. Sociedade Pró Memória de
Limeira. Limeira: UNIGRÀFICA. 2000.
ALMEIDA, Rosângela Doin de & PASSINI, Elza Yasuko, O espaço geográfico – ensino e
representação. São Paulo: Contexto, 1994.
BERTALANFFY. V. L. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1975.
BRASIL, “Parâmetros Curriculares Nacionais – História/Geografia”. Secretaria de Educação
Fundamental, Ministério da Educação e do Desporto. Brasília, 1997.
CAPRA, F,2003, Alfabetização Ecológica, in Meio
Ambiente no Século 21, Rio de Janeiro: Sextante.CHEVALLIER, Jean-Pierre (1995) Les écoliers, les
cartes, les territoires, diversité et
complémentarité des regards disciplinaires. MappeMonde, 4: 1-5
GREGG, Madeleine (1997) Problem Posing From Maps: Utilizing Understanding. Journal
of Geography, 96 (5): 250-256
LACOSTE, Yves. Geografia: isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra, trad. Maria Cecília
França, 2ª Ed., Campinas – São Paulo: Papirus, 1989.
LE SANN, J. G. Atlas escolares municipais. Revista Presença Pedagógica. BH: Editora Lê 1995.
MARTINELLI, Marcelo (1998). Gráficos e Mapas: construa-os você mesmo. São Paulo, Moderna.
OLIVEIRA, Adriano Rodrigo & ALMEIDA, Rosângela Doin de, “O estudo da localidade através de
atividades com mapas municipais no ensino de Geografia”. Revista de Iniciação Científica, vol. 1,
Fundação Editora da UNESP, São Paulo, 2000.
PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e o livro didático: uma análise crítica. Belo
Horizonte: Editora Lê 1994.
SIMIELLI, M. Elena Ramos. Cartografia no Ensino Fundamental e Médio. In: CARLOS, Ana Fani A.
(Org.). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 92-108.